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Não leve a vida tão a sério Hugh Prather Pequenas mudanças para você se livrar de grandes problemas

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Não levea vidatão a sério

Hugh Prather

Pequenas mudançaspara você se livrarde grandes problemas

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Sumário

O rio e o leão, 9

Um Primeiros passos rumo ao desprendimento, 11

Deixando para trás os problemasSem medo de ser feliz

Dois Livrando-se do lixo mental, 27

Atitudes provocadoras só atrapalhamPara cada ação, uma reaçãoUsando a crise como motivação

Três Abrindo mão das emoções inúteis, 51

Diga não às preocupaçõesDeixando fluir os sentimentosPalavras não substituem convicçõesAs emoções não são todas iguais

Quatro Colocando a mágoa de lado, 65

Não queira controlar o mundoO medo que impede a felicidadePara compreender os pensamentos D

Cinco Aceitando a vida como ela é, 87

Abrindo mão do eu, do meu e do para mimSem dar importância aos resultados

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Seis Aprendendo a ficar livre do conflito interior, 97

Desvendando as motivações inconscientesA consciência é a maior armaEscapando dos bloqueios que atrapalham os

relacionamentosDizendo não aos “pensamentos-chiclete”Deixando a tristeza para trás

Sete Abrindo mão da “sinceridade”, 115

O uso consciente da projeção mentalA verdade sobre a “verdade”

Oito O desprendimento do ego, 121

Como se forma a primeira menteFicando livre dos pensamentos dispersosLiberdade para o corpoEliminando os pensamentos D

Nove O caminho do conhecimento espiritual, 141

Em nome da paz e da plenitudeEm busca do status quoMomentos de decisãoAbrindo mão da perfeição

Dez Sem levar os problemas tão a sério, 155

Índice de Libertações, 157

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O r io e o leão

D epois de uma grande enchente, o leão viu-se cercado porum rio e ficou sem saber como sair dali. Nadar não era de

sua natureza, mas só lhe restavam duas opções: atravessar o rioou morrer. O leão urrou, mergulhou na água, quase se afogou,mas não conseguiu atravessar. Exausto, deitou para descansar.Foi quando escutou o rio dizer:

— Jamais lute com o que não está presente.Cautelosamente, o animal olhou em volta e perguntou:— O que não está aqui?— O seu inimigo não está aqui — respondeu o rio. — Assim

como você é um leão, eu sou apenas um rio.Ao ouvir isso, o leão, muito sereno, começou a estudar as ca -

racterísticas do rio. Logo identificou um certo ponto em que acorrenteza empurrava para a margem e, entrando na água, con-seguiu boiar até o outro lado.

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Um

Primeiros passos rumo

ao desprendimento

N a natureza humana, todos buscamos a simplicidade e a ver-dade. Mas as mensagens que recebemos nos impelem à guer -

ra: “Fique ressentido com o passado”, “Seja ansioso em rela ção aofuturo”, “Tenha apetite pelo que você não vê”, “Sinta insa tis façãocom o que vê”, “Sinta culpa”, “Seja correto”, “Esquente a cabeça”.

No mundo animal, não há necessidade de conquistar mais doque se tem. A simplicidade da chuva, a luz de uma estrela, a leve -za de um pássaro, a persistência de uma formiga — tudo istosim plesmente é.

Tudo é uma questão de ponto de vista. Afinal, cuecas espalha -das no chão podem acabar com um casamento… mas, aos olhosdos cachorros, elas não seriam motivo para briga, e sim para brin-cadeiras. A maioria dos animais desfruta uma enorme liberdade epureza, características que, acredito, nós também podemos ex pe -rimentar. Basta relaxar a mente e, aos poucos, reaprender a des-frutar a integridade, felicidade e simplicidade perdidas.

Muitas vezes rejeitamos as pessoas que estão em nossas vidas,não sabemos se as queremos ao nosso lado, desejamos estar comoutras pessoas, imaginamos se e até quando esse relacionamentovai durar — e por aí vai. O resultado dessas inquietações é que,

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quando nos preocupamos com o que queremos ou não de alguémou com o que aprovamos ou não nessa pessoa, deixamos de ver suabondade, sua astúcia, sua delicadeza, sua tristeza ou seja lá o quefor que ela tenha a oferecer. Isso complica desne cessariamente asnossas vidas e bloqueia a alegria de viver e a paz de espírito.

J O H N E O C A M I N H Ã O

Nosso filho, John, tinha dois anos quando fomos morar emSanta Fé, Novo México. Um dia, estávamos na calçada, esperan-do o sinal abrir, quando um caminhão enorme começou a virar aesquina bem no instante em que o sinal ficou verde. Tive queaguardar o caminhão passar. Nesse momento, ouvi John dizer:

— Caminhão grande!Olhei para baixo e vi que seus olhinhos estavam brilhando de

prazer. Olhei novamente para aquele enorme caminhão que pas-sava tão perto que poderia tocá-lo se desse um passo à frente. E,finalmente, vi o caminhão em toda sua majestade. Parecia a navede um filme do tipo Guerra nas Estrelas.

Não havia percebido isso antes. Talvez porque estivesse pen-sando que aquele caminhão não deveria estar ali atrapalhandomeu caminho, ou que eu tinha algo bem mais importante a fazerdo que esperá-lo passar. Esses pensamentos impediram que euaproveitasse o prazer daquele momento, de pé, na calçada, aolado de meu filho, segurando sua mãozinha. São o que chamo depensamentos des necessários — o tipo que as criancinhas têmpouquíssimos, se é que têm algum, e, por isso, em geral, são obje-tivas e felizes.

Uma mente tranqüila vê o que está aqui. Uma mente

ocupada vê o que não está aqui. Aquele que está pre-

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sente é nada mais, nada menos, do que aquele que está

presente. Portanto, você pode pensar o que quiser sobre

as pessoas, mas saiba que isso não vai transformá-las.

Nossa vida é cheia de batalhas inúteis exatamente porquenossa mente é cheia de pensamentos inúteis. Sofremos por his -tórias infelizes do passado como se elas ainda estivessem aconte -cendo e temos o hábito de ficar ruminando sobre o que acaba -mos de fazer. É preciso esvaziar a mente. Quando não consegui -mos nos desvencilhar dos pensamentos negativos, eles dimi -nuem nossas chances de ser feliz.

É o caso da sogra que não consegue aceitar seu genro porqueele é do tipo que usa uma porção de brincos, um piercing nonariz e algum escondido em outra parte do corpo. Ela está ape-nas atacando sua própria capacidade de amar. Sua rejeição nãomu dará o genro, nem o amor que sua filha sente por ele — ape-nas a afastará do amor da filha.

C A C H O R R O - Q U E N T E

Há mais ou menos uma hora, nosso filho Jordan me per-guntou se eu poderia “fazer um cachorro-quente do jeito quea mamãe faz?” Parei de escrever e fui até a cozinha onde John,que está com vinte anos, me perguntou se eu poderia dar umaolhadinha numa proposta de negócio que ele esboçara parasua aula de contabilidade. Minha mulher, Gayle, não estavaem casa.

— Assim que eu fizer o cachorro-quente do Jordan — disse eu.— Ah! Ótimo! Não quer fazer um pra mim também? — disse John.— Está bem — respondi, secamente.Aborrecido com a minha própria atitude, levemente hesitante

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entre parar de escrever sobre paz e bondade e praticá-las, colo-quei as salsichas de frango para ferver no molho, enquanto pen-sava no tremendo paradoxo que estava vivendo.

Ali estava eu pensando em como não conseguia fazer o quequeria fazer, me perguntando onde Gayle e eu havíamos errado,já que os nossos filhos não conseguiam fazer seus próprios ca -chor ros-quentes. Ao mesmo tempo, eu me sentia satisfeito peladecisão de deixarmos os meninos decidirem se queriam ou nãoser vegetarianos e me questionava se uma galinha criada em con-finamento era mais saudável do que uma galinha caipira…

Num certo sentido, nós temos duas mentes: uma, íntegra etranqüila; a outra, fragmentada e ocupada. Eu, com certeza,tinha acionado a mente ocupada.

Se fosse possível resumir todos os ensinamentos espi -

rituais numa única frase, esta chegaria bem perto: “Faça

com que seu estado mental seja mais importante do que

o que você estiver fazendo.”

Tenho praticado o suficiente para saber que o ato de esvaziara mente e deixar os pensamentos fluírem é bem melhor e maissaudável do que a sensação oposta. Embora já tivesse dadoalguns passos na direção certa, sentia que meu estado de espíri-to ainda não estava completamente em paz. Por que eu tinhaque passar por essa pequena provação? Por que não se pode fazercom alegria meia dúzia de pequenas tarefas?

Meu erro foi ter deixado as circunstâncias serem mais impor-tantes do que o meu estado de espírito. Agora, para reverterisso, era preciso desbloquear minha mente. Para isso, eranecessário cumprir três etapas:

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Primeira: Para elim inar o que im pede a experiência de plenitude e paz,você precisa exam inar o im pedim ento.

Para falar a verdade, eu não estava exatamente irritado por terinterrompido meu trabalho para fazer os cachorros-quentes,apenas me sentia um tanto chateado com a sensação de que esta-va deixando de fazer coisas importantes e, claro, em conflito porestar experimentando todos esses sentimentos.

Quando me aprofundei no que estava sentindo, encontrei opensamento que estava bloqueando tudo: “Eu não deveria ter defazer o que não quero fazer.” Mas, logo me dei conta de que nemmesmo eu acreditava nessa idéia. Faço coisas que não querofazer o tempo todo e, neste caso específico, eu queria fazer acomida dos meus filhos e queria ler a proposta de John.

O.k. Etapa 1 resolvida.Antes de entrar na etapa 2, quero destacar um aspecto essen-

cial dessa dinâmica. Percebi que, na tentativa de entender o queeu realmente queria fazer, eu teria sabotado todo o processo dedesprendimento se houvesse desejado que os meus filhos ou asituação mudassem.

Sempre que desejamos que as pessoas mudem ou que as cir-cunstâncias nos sejam favoráveis, estamos, de alguma forma, noseximindo da responsabilidade por nosso estado mental. É comose assumíssemos o papel de vítimas e ficássemos torcendo parasermos poupados. Com certeza, existem vítimas de verdade,mas, em geral, nos colocamos desnecessariamente neste papel. Efazemos isso todos os dias.

Quando o objetivo é manter o senso de integridade, indepen-dente do que acontecer à nossa volta, não nos tornamos vítimas.Nada fica “fora de controle” se quisermos. Somos nós que deixa -mos as pessoas e as situações serem quem são e o que são. Isto

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não quer dizer que aprovamos a maneira como se comportam etambém não significa que deixamos de nos proteger das pessoasdestrutivas.

Não sei se você já percebeu a freqüência com que os motoris-tas se colocam em risco só para dar uma liçãozinha a um outromoto ris ta. É comum acelerarem para mostrar ao outro que nãoé correto mudar de pista, ou grudarem atrás de quem está indomuito deva gar ou mesmo não deixarem espaço para aquele carroque for çou a entrada bem na sua frente depois de uma ultrapas-sagem perigosa.

Esses “justiceiros do trânsito” são exemplos clássicos de víti-mas. Só ficam satisfeitos se os outros motoristas demonstraremque entenderam o recado. O problema é que pressionar os ou -tros motoristas não muda seus corações. Apenas cria um confli-to, que divide a mente e confunde as nossas emoções. Ninguémem tempo algum se tornou mais sensível ou mais ponderado porser julgado, maltratado ou atemorizado.

Segunda: Para superar o bloqueio, você precisa ter m uita clare za doque quer.

Esta etapa parecia fácil. Afinal, eu queria fazer os cachorros-quentes, atender o pedido de meus filhos e ser capaz de alterarminha agenda de trabalho — tudo isso em paz.

Para falar a verdade, eu ansiava pela paz mais do que o pensa-mento que a estava bloqueando. Refleti sobre minha sinceridadea respeito de tudo isso. Achei que estava bem sólida. O.k. Etapa2 resolvida.

Terceira: Para atingir a plenitude, você deve reagir a partir da m enteíntegra, não da m ente em conflito.

Esta etapa já soava mais difícil. Para começar, era precisodescobrir a plenitude que existe dentro de cada um de nós. Que

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todos nós a possuímos é fato, mas trazê-la à tona é outrahistória. Em geral, nos sentimos em paz quando estabelecemosuma ligação amorosa com as outras pessoas. Mas, se a mentearrisca um pensamento perturbador e se as duas primeiras eta-pas desse processo não forem realizadas com sinceridade, corre-se o risco de escorregar e cair novamente no velho estado men-tal conflitante.

Para evitar esse risco é preciso agir com pureza de alma. Seráque sinceramente desejamos a paz aos que estão à nossa volta?Será que sinceramente desejamos uma mente que conheça aserenidade e que tenha uma profunda ligação com nosso par-ceiro(a), com nossos filhos, pais, irmãos e amigos? Ou seria me -lhor resguardar nosso coração e permanecer em posição de jul-gar e de estar sempre com a razão?

Neste ponto, a terceira etapa pode se tornar um tanto com-plicada, especialmente se surgir a tentação de controlar nossasemoções mais destrutivas e impulsos mais sombrios. Esses sen-timentos de fato exigem controle, mas a verdade é que não seestá em guerra com as circunstâncias ou comportamentos e pen-samentos. É exatamente o contrário. Quando se está numa bata -lha inútil, o melhor a fazer é abandonar o campo de batalha.

Uma boa ilustração de como isto funciona está na maneiracomo sentimos o amor. Todos nós já vimos exemplos desas-trosos de pessoas que decidem ter ou adotar um filho porquedesejam alguém que as ame. A razão pela qual não dá certo é quea criança tem sua individualidade e, por isso, quase sempre agede forma diferente da idealizada — assim começa a guerra.

Quem decide ter um cachorro ou um gato pela mesma razãotermina criando a própria infelicidade. Inevitavelmente, o ani-mal de estimação decepcionará. Nos relacionamentos românti-

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cos, todo mundo deseja encontrar alguém carinhoso, que com-partilhe seus interesses, que satisfaça suas necessidades, que sóte nha olhos para você e o adore até a velhice. Infelizmente, issotambém não funciona, como demonstra a crescente taxa dedivórcios.

A razão pela qual um bicho traz felicidade a seu dono, um filho aseus pais e uma mulher a seu marido, é que sentimos amor. Quandonão se ama, o mais dedicado bichinho, planta, filho ou amante nãotocará o nosso coração. Simplesmente não funciona assim.

Por milhares de anos, nos disseram que o amor é mara -

vilhoso. A maioria das pessoas acredita que ser amado

é uma sensação maravilhosa. E é. Mas, antes de você

conhecer “o amor”, é preciso amar. Quando se ama, você

recebe mais do que a sensação de ser amado. O após-

tolo João disse: “Amai-vos uns aos outros, porque o

amor é Deus. E todos os que amam nasceram de Deus

e conhecem Deus. Os que não amam nada sabem de

Deus, pois Deus é amor.”

Como é fato que, quando as pessoas amam, elas ficam com-pletamente envolvidas na sensação do amor, há pais e mães quese sentem felizes por ser amados por seus filhos problemáticos,seus bichinhos complicados e seus parceiros obesos. Encontra -mos casais muito idosos que, obviamente, não são maisatraentes como eram, mas conseguem enxergar e sentir a belezado amor. Para que isto aconteça, basta acessar sua menteamorosa e tranqüila — não a mente ocupada e fragmentada.

Saiba que ninguém passa diretamente de uma abordagem con-flitante para uma de pura unidade e paz. Para ser realista, fazer

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o melhor possível hoje já é ótimo. Basta um pequeno progressoa cada dia, afinal, é o rumo que importa. Este é, sem dúvida, umobjetivo mais estimulante e mais produtivo do que tentar a reali -zação total e plena.

A história a seguir mostra o que acontece quando usamos amente tranqüila ou a mente conflituosa.

C O R R E R I A N O C O R R E D O R

Gayle e eu estávamos saindo de um ginásio em que havíamosassistido a nosso filho, Jordan, jogar basquete. Seguíamos porum comprido corredor quando três meninas de uns oito anospassaram correndo, conversando e rindo animadamente.Quando cruzaram com o homem que estava à nossa frente, elegritou com aspereza:

— Não corram pelo corredor!O grito fez as meninas andarem devagar, quase parando.

Quando passamos por elas, o sujeito estava quase fora de vista.Gayle, então, falou:

— Ele não disse que vocês não poderiam pular!Imediatamente, as meninas começaram a rir e a pular pelo

corredor. — Não, ele não disse que a gente não poderia saltar e pular!O que Gayle fez? Apenas reagiu com sua mente aberta e fran-

ca, e mirou na essência da inocência e do divertimento das meni-nas. Se ela tivesse criticado o homem, dizendo algo do tipo “Querabugento! Acho que vocês deveriam correr se quiserem!”, elasaté teriam recomeçado a correr, mas de uma forma desafiadoraou amedrontada, não com a naturalidade de antes. Suas mentesestariam em conflito e elas se sentiriam inseguras.

Reagir criativamente mostra que os problemas que são impor-

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tantes para os outros são importantes para nós. Não se deve subes-timar, ou menosprezar, o medo e a perturbação que uma pessoasente. Reagir com desdém ou irritação é uma demonstração deegoísmo. Para reverter isso, o primeiro passo é admitir o fato erefletir sobre ele. Depois, descobrir quais são realmente nossossentimentos e buscar nossa individualidade e felicidade. Só entãopodemos demonstrar que alcançamos a plenitude.

Deixando para trás os problemasUm exame rápido e honesto dos nossos sentimentos muitas

vezes é o que basta para nos lembrarmos que é possível ficar coma mente livre de conflitos e preocupações. Normalmente, é pre-ciso bem mais do que isto, mas ficamos tão presos a nossos sen-timentos de correção, de certeza, de irritação, cinismo e afins,que esquecemos que podemos sentir de modo diferente.

Essa “prisão emocional” que nós mesmos criamos nos leva aperder inteiramente a fé no amor duradouro, no comprometi-mento e na paz. No início, o desprendimento parece uma tarefatemerária, até impossível. A sensação é de que passamos de umproblema para outro, e assim sucessivamente. Preste atenção noseu dia-a-dia: é um problema atrás do outro, do qual obviamentedesejaríamos nos livrar, mas raramente conseguimos.

As dificuldades são tão importantes para a vida das pessoas queacabamos definindo os que nos rodeiam a partir de seus proble-mas. Preste atenção quando estiver conversando com os amigossobre alguém do grupo que não está presente. Quer de modo po -sitivo, quer negativo, os problemas dessa pessoa serão realçados.

Isto também acontece com nossa auto-imagem. Temos a ten -dência a pensar em nós, até mesmo no significado da vida, doponto de vista das dificuldades que encontramos.

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Um bom exemplo de como isso funciona é a história de comofomos adotados por dois gatos de rua. Eles tinham o hábito detrazer um pedaço de cada passarinho, rato ou lagarto que mata -vam como demonstração de sua satisfação e confiança. Paramim, não era um problema limpar esses “presentes”, mas, quan-do eu viajava, virava um fardo para o resto de minha família. Omesmo princípio se aplica quando me ocupo em responder e-mails. Para mim, é o tipo de trabalho que exige enorme con-centração, enquanto para Gayle não exige grandes esforços.

Não tem nada a ver pensar que algumas pessoas têm uma vidarealmente difícil, enquanto outras passam por ela incólumes.Todos nós já ouvimos falar de alguém que enfrentou uma terrí -vel tragédia em relativa paz. No entanto, existem pessoas quemal conseguem lidar com a rotina e se sentem massacradas pelavida. Acontece tanta coisa num dia normal — ou melhor, nocotidiano há tanta matéria-prima para a mente se ocupar — queé difícil achar uma justificativa para a infelicidade.

Os problemas nos atingem na medida da nossa preo -

cupação. A chave para se alcançar a fluidez, o repouso e

a liberdade interior não é a eliminação de todas as difi-

culdades externas, mas sim o desapego ao padrão de

reação a essas dificuldades.

Nos últimos vinte e cinco anos de experiência com terapia defamília, Gayle e eu não cansamos de nos surpreender com a apa -rente felicidade de muitas crianças pequenas que vivem em laresvio lentos. Em geral, são necessários muitos anos de trauma físicoou emo cional para que este sentimento seja realmente destruído.

Pesquisas mostram que, mesmo em zonas de guerra, campos

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de refugiados ou áreas de fome, grande parte das crianças man-tém sua capacidade de brincar e ser feliz em meio a circunstân-cias de horror impensável.

Para perceber a diferença entre a maneira como adultos ecrian ças abordam a vida, não é preciso ir muito longe — bastaobservar uma festa.

F E S TA D E N ATA L

No final dos anos 70, Jerry Jampolsky — o psiquiatra especializa-do em crianças que fundou o Centro de Tratamento pela Atitude —me convidou para a primeira festa de Natal da instituição.

Fiquei chocado com o que vi. Diante de mim estavam cri-anças em cadeiras de rodas e muletas, crianças com distrofiamuscular e doença de Hodgkin, crianças com pernas amputadasou parali sadas, crianças sem cabelo por causa da quimioterapia.

Ao mesmo tempo que olhava para aquela sala de horrores, sentique havia algo diferente no ar. A sala estava cheia de suas gargalhadase risadas, as crianças estavam felizes, conversando umas com as ou -tras. E era exatamente isso — sua atitude — que saía do padrão.

Logo me vi num grupo, conversando com uma adolescentechamada Lisa, cujo sonho era ser modelo. Lisa se apoiava emmuletas de alumínio e metade de seu corpo, inclusive o rosto,estava paralisado por causa de um acidente de automóvel. En -quanto conversávamos, Lisa, de repente, perdeu o equilíbrio ecaiu de costas. Quando conseguimos levantá-la, havia lágrimasde dor em seus olhos. Lisa deu um sorriso encabulado e disse:

— Pelo menos eu estou conseguindo ficar com o bumbumbem durinho…

“Ficar com o bumbum bem durinho” não é exatamente o quese espera ouvir numa situação dessas, mas qual reação seria mais

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adequada? Para mim, foi especialmente instrutivo observar quesuas mentes sadias eram mais reais e mais importantes para elasdo que o peso de seus corpos.

Copiar a abordagem infantil da felicidade não é se comportarcomo uma delas, mas sim ver o mundo como elas vêem. É aban-donar as percepções estreitas e as respostas prontas. É admitirsem restrições que as pessoas à nossa volta são o que são e queestamos ali com elas para o que der e vier.

Transformar-se numa “criança” é abrir mão da responsabilidadede julgar e de estar certo em todos os momentos. Isso eli mi na osbloqueios e permite a ampliação de nossa capacidade de apreciarqualquer coisa ou, pelo menos, de estarmos serenos e em paz.

Existem três coisas que você precisa abrir mão: julgar,

controlar e ser o dono da verdade. Livre-se das três, e

você terá a mente íntegra e vibrante de uma criança.

A principal característica das crianças pequenas é sua obje-tividade: elas mostram o que sentem e sabem o que querem.Claramente, elas estão ligadas à sua essência, seu instinto. Masas crianças não são perfeitas ou invulneráveis. Na verdade, elascaptam as lições positivas e as negativas que lhes são ensinadas eparecem escolher, principalmente, os medos inconscientes e asansiedades dos adultos que estiverem a seu redor.

Mesmo que você, quando criança, não gostasse de determina-da opção de vida escolhida por seus pais e tenha até decididoque não cometeria esse erro quando crescesse, certamente se fla-grou, já adulto, dizendo as mesmas palavras ou agindo da manei -ra que queria evitar. Isto mostra como somos vulneráveis quan-do crianças.

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Existem crianças que aprendem a ter suas próprias opiniões eaté a sentir ódio, numa idade surpreendentemente precoce. Sevocê já viu isto acontecer, sabe que elas já perderam contatocom sua felicidade e autoconfiança natural. Elas aprenderam aduvidar dos outros e aplicam essa lição em si mesmas. Se elas nãosão confiáveis, ninguém mais o é.

Só quando crescemos nos tornamos conscientes do que sig-nifica incorporar comportamentos e depois abrir mão deles. É aúnica maneira de assumirmos a responsabilidade pela paz e pelobem-estar de nossas mentes.

Sem medo de ser felizLibertar-se de julgar e controlar não tem contra-indicações. Que

mal poderia vir da simplicidade de não ter que ser outra pessoa ede não exigir que nossos amigos e nossa família sejam di fe ren tesdo que são? Precisamos apenas seguir nossa vocação, agir comnaturalidade e liberdade, sem nenhum status ou atitude especial.

Que necessidade temos de erguer como bandeira da nossaverdade o dinheiro, a educação, a religião ou a raça? Que neces-sidade temos de nos mantermos isolados, fixados em traumas deinfância? Os traumas acumulados são como poeira sobre a pele.

Aqueles que nos deram as contribuições mais significati-

vas e duradouras para sermos quem somos foram os que

ousaram assumir seu lugar como iguais. O mundo olha,

fascinado, para o brilho ofuscante do ego, mas somente

os que caminharem ao nosso lado, com amor e igualdade,

atingirão nossos corações e nos transformarão.

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Liber tação 1Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Da próxima vez em que estiver numa loja, num restaurante,num shopping center, no trabalho ou apenas caminhando numacalçada cheia de gente, escolha uma pessoa e experimente setransformar nela por alguns instantes. Como seria vestir suasroupas, ter aquele tipo de cabelo (ou não ter cabelo), caminharda maneira como ela caminha (ou não poder caminhar)? Comose ria fazer aqueles gestos? É verdade que as pessoas olham delado ou em várias direções, como se estivessem um pouco inse-guras, um tanto vulneráveis? O mundo lá fora é muito grande,imprevisível… Sem análise, sem inferioridade, sem condes cen -dência, sem perspectivas, como seria sentir-se como essas pes-soas e pensar como elas?

Experimente fazer isto hoje e, se gostar, faça essa brincadeiranos próximos dias. Talvez você se surpreenda ao perceber comotu do é banal. Talvez perceba que todos nós somos bastanteparecidos e que estamos juntos nesse barco. Poderá, por outrolado, sentir-se um pouco triste ao avistar alguém que luta para semanter à parte somente para encontrar a solidão e o isolamento.

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I N F O R M A Ç Õ E S S O B R E O S

P R Ó X I M O S L A N Ç A M E N TO S

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