Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente

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  • 1APRESENTAO

    NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

  • 2PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

  • 3APRESENTAO

    So Paulo

    Nanotecnologia, sociedade emeio ambiente

    2006

    Paulo Roberto Martins (org.)

    Segundo Seminrio Internacional2005

    Allan Schnaiberg Edmilson Lopes Jnior Eliane Cristina P. Moreira Eronides F. da Silva Jnior Frei Srgio Gorgen Henrique Rattner

    Igncio Lerma Jos Manoel Rodrguez Victoriano Jos Manuel Cozar Escalante Juergen Altmann Pat Roy Mooney

    Paulo Estevo Cruvinel Renzo Tomellini Ricardo Toledo Neder Ricardo Timm de Souza Richard Domingues Dulley Slvia Ribeiro

    Slvio Valle Snia Maria Dalcomuni Stephen J. Wood

  • 4PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    Xam VM Editora e Grfica Ltda.Rua Loefgreen, 943 - Vila Mariana

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    2005 by Paulo Roberto Martins

    Direitos desta edio reservados Xam VM Editora e Grfica Ltda.Proibida a reproduo total ou parcial, por quaisquer meios,

    sem autorizao expressa da editora.

    Edio e capa: Expedito CorreiaReviso: Estela Carvalho

    Editorao eletrnica: Xam Editora

    Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP)

    N186 Nanotecnologia, sociedade e meio ambiente / Paulo Ro- berto Martins (org.). ? So Paulo : Xam, 2006. 344 p. ; 23 cm.

    Trabalhos apresentados no Segundo Seminrio Inter- nacional de Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente, realizado entre 19 e 21 de outubro de 2005, em So Paulo.

    ISBN 85-7587-056-4.

    1. Nanotecnologia. I. Martins, Paulo Roberto. II. Seminrio Internacional de Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (2. : 2005 : So Paulo, SP).

    CDD 620.5

  • 5APRESENTAO

    AGRADECIMENTOSO Segundo Seminrio Internacional de Nanotecnologia, Sociedade e Meio

    Ambiente (II Seminanosoma) foi realizado no perodo de 19 a 21 de outubro de2005 no auditrio da Faculdade de Engenharia Eltrica da Escola Politcnica daUniversidade de So Paulo (dia 19) e no auditrio Cid Vinio do Instituto de Pesqui-sas Tecnolgicas do Estado de So Paulo (dias 20 e 21), em So Paulo, Brasil.

    Este evento, de iniciativa da Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, Socieda-de e Meio Ambiente (Renanosoma), s se concretizou graas contribuio deci-siva de Caio Galvo de Franca, coordenador do Ncleo de Estudos Agrrios e De-senvolvimento Rural do Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (Nead/MDA). Suapercepo acerca da importncia do tema deste seminrio para as Cincias Huma-nas no Brasil e para as diversas atividades relativas ao desenvolvimento agrrio erural que num futuro prximo sero impactadas pela nanotecnologia levou a que oNead nos concedesse apoio financeiro e material, o que nos permitiu dar continui-dade a este seminrio internacional iniciado no ano de 2004. A Caio Galvo deFranca e sua equipe do Nead, bem como ao MDA, nossos agradecimentos.

    Ao colega da Renanosoma, Richard Domingues Dulley, pesquisador do Insti-tuto de Economia Agrcola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Gover-no do Estado de So Paulo (IEA/SAA), agradecemos pelo empenho junto direode sua instituio, tornando-a uma de nossas entidades patrocinadoras. direodo IEA/SAA, aqui representada por Antonio Ambrosio Amaro e Celso L. Vegro, nos-sos agradecimentos pela contribuio financeira e material a este seminrio.

    Tambm contriburam de forma importante para a viabilizao deste eventoo professor Joo Steiner, diretor do Instituto de Estudos Avanados da Universida-de de So Paulo (IEA/USP), e sua equipe, parceiros deste seminrio desde a pri-meira edio.

    professora Sonia Maria Dalcomuni, diretora do Centro de Estudos Jurdicose Econmicos da Universidade Federal do Esprito Santo, e ao professor MarcosAntonio Mattedi, diretor do Instituto de Pesquisas Sociais da Fundao Universida-de Regional de Blumenau, agradecemos pela participao das entidades que diri-gem como promotoras deste seminrio.

    instituio a que perteno, o Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estadode So Paulo (IPT), representada por seu superintendente, professor GuilhermeAry Plonski, devo creditar todo o tempo que dediquei organizao do seminrio,sem o qual ele no teria existido.

  • 6PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    Colegas do IPT contriburam de forma importante para a realizao deste se-minrio: Valria Gonalves F. Minatelli e sua equipe, dedicada aos eventos do IPT,pelos trabalhos de secretaria, divulgao, transporte, item no qual tambm tive-mos a contribuio de Oswaldo Sanchez; Ely Bernardes e sua equipe de informtica,pelo esforo realizado para que este seminrio se tornasse o primeiro evento trans-mitido via internet pelo IPT; Valdir Dantas Cortez, pelo trabalho e habilidade com acmera geradora de imagens para a transmisso do seminrio via internet.

    direo da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo (Poli/USP), daFaculdade de Engenharia Eltrica e de seu Laboratrio de Arquitetura e Redes deComputadores, por proporcionarem suas dependncias, onde se realizaram asvideoconferncias deste seminrio, as quais contaram tambm com o apoio daUniversidade de Dortmund (Alemanha) e da Universidade de Northwestern/Chica-go (Estados Unidos). A estas instituies e a seus tcnicos, responsveis pela reali-zao das videoconferncias, nossos efusivos agradecimentos.

    Igualmente gostaria de registrar que diversos palestrantes brasileiros e inter-nacionais que participaram deste seminrio vieram a So Paulo com as despesasde transporte pagas por suas instituies. Assim, menciono e agradeo contribui-o das redes brasileiras Nanosemimat e Renami, do Centro de Cincias Jurdicase Econmicas da Universidade Federal do Esprito Santo, do Instituto de PesquisasSocais da Fundao Universidade Regional de Blumenau, da Pontifcia Universida-de Catlica do Rio Grande do Sul, da Cmara Federal e Assemblia Legislativa doRio Grande do Sul, da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecurias, das Univer-sidades de Valncia e Las Palmas, ambas da Espanha, da Universidade de Sheffield,Inglaterra, e da Unidade de Nanocincia e Nanotecnologia da Diretoria deTecnologias Industriais da Comisso Europia.

    Aos colegas da Renanosoma Noela Invernizzi e Adriano Premebida, peloempenho em produzir on line o relatrio do seminrio, meus agradecimentos.

    A Pat Roy Mooney e Slvia Ribeiro, da ONG canadense ETC Group; a RenzoTomellini, chefe da unidade de nanocincias e nanotecnologia da Comisso Euro-pia; delegao espanhola, composta por Jos Manoel Rodrguez Victoriano eIgncio Lerma, da Universidade de Valncia, e Jos Manuel Cozar Escalante, daUniversidade de Las Palmas; a Stephen J. Wood, da Universidade de Sheffield, In-glaterra, convidados internacionais que se deslocaram at So Paulo e nos brinda-ram com excelentes conferncias, meus sinceros agradecimentos.

    Tambm quero agradecer a dois outros convidados internacionais que estive-ram conosco via videoconferncia. So os professores Juergen Altmann, deDortmund, e Allan Schnaiberg, de Chicago. Pesquisadores do mais alto quilate, comdiversas obras publicadas que constituem marcos tericos referenciais para nos-sos estudos, tiveram sua primeira conferncia no Brasil em nosso seminrio, o quemuito nos orgulha. Por toda esta contribuio, aqui deixamos expressos nossosagradecimentos a estes professores.

  • 7APRESENTAO

    Aos colegas da Renanosoma que participaram deste seminrio: Eliane CristinaP. Moreira, Edmilson Lopes Jnior, Snia Maria Dalcomuni, Ruy Braga, RichardDomingues Dulley, Ricardo de Toledo Neder, Noela Invernizzi, Marcos AntnioMattedi e Adriano Premebida, que acreditaram na constituio desta rede de pes-quisa e vm dando suas preciosas contribuies para que possamos consolidar apresena das Cincias Humanas nos estudos e seminrios sobre nanotecnologia,meus imensos agradecimentos.

    Agradeo sinceramente tambm aos professores e pesquisadores Eronides F.da Silva Jnior e Petrus DAmorim Santacruz, representantes da Rede Nanosemimate Renami, respectivamente, por suas contribuies ao dilogo entre as cinciasque suas participaes representaram.

    Paulo Roberto MartinsCoordenador do II Seminanosoma. Coordenador da Renanosoma e pesquisador

    da Agncia IPT de Inovao do do Instituto de Pesquisas Tecnolgicas

  • 8PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

  • 9APRESENTAO

    SUMRIO

    APRESENTAO, 11 PARTICIPANTES, 21 ABERTURA, 27

    SESSO 1 NANOTECNOLOGIA, INOVAO E ECONOMIA, 33Juergen Altmann, 35Renzo Tomellini, 42Snia Maria Dalcomuni, 49

    Debate (19/10/2005, manh), 69

    SESSO 2 NANOTECNOLOGIA, INOVAO E MEIO AMBIENTE, 77Allan Schnaiberg,79Jos Manoel Rodrguez Victoriano, 87Igncio Lerma, 110Paulo Roberto Martins, 114

    Debate (19/10/2005, tarde), 133

    SESSO 3 NANOTECNOLOGIA, INOVAO E SOCIEDADE, 145Edmilson Lopes Jnior, 147Stephen J. Wood, 155Pat Roy Mooney, 165Henrique Rattner, 174

    Debate (20/10/2005, manh), 182

    SESSO 4 NANOTECNOLOGIA, INOVAO E AGRICULTURA, 195Slvia Ribeiro, 197Paulo Cruvinel, 205Frei Srgio Gorgen, 214

  • 10PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    Richard Domingues Dulley, 220

    Debate (20/10/2005, tarde), 232

    SESSO 5 NANOTECNOLOGIA, INOVAO E TICA, 257Jos Manuel Cozar Escalante, 259Ricardo de Toledo Neder, 263Ricardo Timm de Souza , 280

    Debate (21/10/2005, manh), 285

    SESSO 6 NANOTECNOLOGIA, INOVAO E REGULAO, 307Eliane Cristina P. Moreira, 309Eronides F. da Silva Jnior, 314Slvio Valle, 321

    Debate (21/10/2005, tarde), 325

  • 11APRESENTAO

    APRESENTAO

    No pode haver dvidas quanto aos impactosde inovaes tecnolgicas na vida social,

    econmica e cultural. Gostaramos de deixarbem claro que no questionamos a necessidadede pesquisa e desenvolvimento nas sociedades

    contemporneas, mas com a condiode que sejam ambientalmente seguros,

    socialmente benficos e eticamente aceitveis.

    Henrique Rattner,A nanotecnologia e a poltica de cincia e tecnologia.

    Foi com o esprito acima explicitado pelo professor Henrique Rattner que aRede de Pesquisa em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma)realizou, durante o perodo de 19 a 21 de outubro de 2005, o Segundo SeminrioInternacional Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (II Seminanosoma), emconjunto com uma srie de instituies promotoras deste evento Instituto de Pes-quisas Tecnolgicas (IPT), Instituto de Estudos Avanados de Universidade de SoPaulo (IEA/USP), Instituto de Economia Agrcola da Secretaria de Agricultura e Abas-tecimento do Governo do Estado de So Paulo (IEA/SAA), Instituto de PesquisasSociais da Fundao Universidade Regional de Blumenau-SC (IPS/Furb), Centro deCincias Jurdicas e Econmicas da Universidade Federal do Esprito Santo (CCJE/Ufes), Renanosoma e graas ao apoio financeiro e material do Ncleo de EstudosAgrrios e Desenvolvimento Rural (Nead) e do Ministrio do Desenvolvimento Agr-rio (MDA), do governo federal.

    A representante desse ministrio em nosso II Seminanosoma, professora dou-tora Magda Zanoni, pde expressar, na abertura do evento, as preocupaes doministrio em relao nanotecnologia, indicando, assim, uma identidade dequestionamentos sobre a questo:

    Em uma abordagem mais geral, as nanotecnologias colocam na ordem do dia variadoselementos de suma importncia, referentes democratizao das escolhas tcnicas ecientficas. Podemos citar alguns: por exemplo, a parte de investimentos considerveisnecessrios a seu desenvolvimento e financiamento pblico; a ausncia em muitos pa-ses, ainda hoje em dia, de um enquadramento legislativo de regulamentao. Ainda no adotado em nvel governamental em um grande nmero de pases, seno em sua mai-oria, um sistema de regulamentao jurdica especfica referente ao Estatuto dasNanopartculas, seus impactos sobre a sade e o meio ambiente. No entanto, j circula no

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    mercado uma srie de produtos que contm nanopartculas. So, porm, insuficientes osestudos e pesquisas sobre sua toxicidade e tambm pouco conhecida a mobilidadedessas partculas no corpo humano, sobretudo na pele, no crebro, na placenta humana,assim como no meio ambiente e seus diversos componentes, solo, ar e gua. Tambmseria desejvel o rastreamento de objetos e de produtos realizados pelo emprego dasnanotecnologias, e o conhecimento de suas conseqncias societais.

    Estas preocupaes devem ser objeto de reflexo das Cincias Humanas noBrasil. E a importncia deste seminrio no campo das humanidades foi destacadapelo professor Joo Steiner, diretor do Instituto de Estudos Avanados da Universi-dade de So Paulo (IEA/USP):

    A nanotecnologia uma dessas tecnologias que est entrando em moda, est prometen-do um enorme impacto sobre nosso cotidiano, sobre nossas vidas, sobre nossa socieda-de. E a preocupao com a nanotecnologia no deve ser assunto apenas para engenhei-ros, para cientistas que promovem as tecnologias; ela deve ser preocupao de toda asociedade. Por isso so muito bem-vindas a reflexo e a preocupao, pela tica dascincias sociais, pela tica das humanidades, pela tica da questo do meio ambiente,porque, certamente, o impacto ambiental ser um dos aspectos com que a sociedadeter de se defrontar no futuro prximo.

    Em sntese, como afirmou na abertura deste seminrio o professor Guilher-me Ary Plonski, superintendente do IPT, a importncia deste evento est em tratarde um tema que geralmente visto sob uma tica unidimensional, que o avan-o do conhecimento e sua apropriao pelo setor produtivo, em uma perspectivabastante mais ampla, fundada no campo da Cincias Humanas e, em particular, nocampo das Cincias Sociais.

    O seminrio foi dirigido prioritariamente aos profissionais das Cincias Hu-manas, a fim de inform-los sobre o tema e fazer com que a nanotecnologia setorne cada dia mais um objeto desta rea de pesquisa no Brasil. Isto vem aconte-cendo e pode ser constatado por meio do crescimento da Renanosoma que, porocasio de sua fundao, durante o primeiro seminrio em outubro de 2004, conta-va com 12 pesquisadores de 10 instituies, e passou a contar, em outubro de 2005,com 28 pesquisadores de 22 instituies.

    Os objetivos do seminrio foram alcanados, na medida em que essatecnologia foi tratada sob diferentes ngulos, o que proporcionou uma rica qualida-de de informaes presentes neste livro , inclusive sobre as relaes entre tica,agricultura e nanotecnologia, presentes pela primeira vez em nossos seminrios.Alguns conferencistas elaboraram papers especficos para este evento, que aquiso reproduzidos. Outros optaram pela livre apresentao de suas idias, que aquiesto registradas via transcrio das conferncias.

  • 13APRESENTAO

    A primeira parte deste livro corresponde mesa coordenada por Paulo RobertoMartins, pesquisador do IPT e coordenador da Renanosoma, e tem por temaNanotecnologia, Inovao e Economia. Nela, o leitor contemplado com a pa-lestra do professor Jrgen Altmann, do Experimentelle Physik III da Universidadede Dortmund, na Alemanha. Por intermdio de videoconferncia, este pacifista epesquisador das relaes entre nanotecnologia e a questo militar brinda-nos comuma excelente exposio, na qual o tema desvendado mediante a apresentaoda diferena sobre inovao nas reas militar e civil; dos problemas ligados tecnologia militar ; da pesquisa e desenvolvimento na rea militar comnanotecnologia e com as tecnologias convergentes. Altmann termina sua exposi-o com uma avaliao sobre controle de armamentos, fazendo recomendaes ecomentrios concludentes.

    Em seguida, o leitor poder contar com as reflexes de Renzo Tomellini, chefeda Unidade de Nanotecnologia da Diretoria Geral de Pesquisa da Comisso Euro-pia. Em sua palestra, o especialista europeu em polticas pblicas voltadas nanotecnologia apresenta o que a Unio Europia est realizando, o estado da arteem nanotecnlogia e tambm o que vem no futuro. Tudo isto fundamentado em umasrie de dados que indicam a importncia econmica da nanotecnologia. Sem dvi-da, ter acesso a esta exposio detalhada sobre o que a Unio Europia vem desen-volvendo no campo da nanotecnologia um privilegio para todos os leitores.

    Finalizando a primeira mesa, temos a palestra da professora Sonia MariaDalcomuni, diretora do Centro de Cincias Jurdicas e Econmicas da Universida-de Federal do Estado do Esprito Santo e tambm membro da Renanosoma. Emsua interveno, esta pesquisadora trabalha em detalhes a emergncia de um novoparadigma tecnolgico no qual est presente a nanotecnologia influenciadopor outro paradigma, no caso, o paradigma da sustentabilidade. Aborda os prin-cipais desafios apresentados s Cincias Econmicas para fazer face s necessida-des de desenvolvimento de abordagens analticas e de instrumentos e intervenoeconmica para impulsionar os processos de inovao para o desenvolvimentosustentvel em sua acepo ampla, qual seja: ampliao da riqueza material comeqidade social, distribuio espacial das atividades humanas em harmonia como meio ambiente natural, fundamentalmente numa perspectiva poltica e cultural-mente democrtica.

    A segunda parte deste livro refere-se mesa Nanotecnologia, Inovao e MeioAmbiente, coordenada pelo professor Marcos Antonio Mattedi, do Instituto de Pes-quisas Sociais da Fundao Universidade Regional de Blumenau e membro daRenanosoma. Esta mesa teve tambm uma importncia histrica para as CinciasSociais no Brasil, em funo da videoconferncia realizada por Allan Schnaiberg

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    pela primeira vez no Brasil , professor de Sociologia da Universidade de Northwestern,Chicago, Estados Unidos. Allan Schnaiberg um dos autores clssicos da sociologiaambiental estadunidense, com uma extensa produo de livros e trabalhos publica-dos e que tem no seu marco terico, intitulado The treadmill of production (teoria daroda da produo) sua grande contribuio para a compreenso das relaes en-tre sociedade e natureza.

    Em sua interveno, Allan Schnaiberg aborda trs pontos. Em primeiro lugar,analisa no a nanotecnologia, mas como ela estar embutida na produo de mer-cadorias. H muita coisa que no sabemos, especialmente sobre os sistemas nosquais a nanotecnologia estar embutida. A seguir, expe a avaliao dananotecnologia, os resultados socioeconmicos, em um contexto geral, e os moti-vos pelos quais o setor privado no avaliado da mesma forma que o setor pbli-co; finalmente, expe os riscos, tentando prever os resultados socioeconmicos eambientais da nanotecnologia.

    A seguir, o seminrio tem a participao do professor Jos Manoel RodriguezVictoriano, do Departamento de Sociologia e Antropologia Social da Universidadede Valncia. Representante ilustre da terceira gerao da sociologia crtica espa-nhola, em sua palestra aborda as diferentes dimenses da sociedade e o conceitode pesquisa a partir da perspectiva da sociologia crtica espanhola. Concretamen-te, sua interveno centra-se nesta questo, consistindo em apresentar o conceitoterico de pesquisa como fenmeno social total a partir da perspectiva do socilo-go Jess Ibez, um dos cientistas sociais mais relevantes na tradio da sociolo-gia crtica espanhola, para pensar a interseo entre sociologia, ecologia poltica etransformao social. Aborda o nvel de ruptura epistemolgica, as perspectivastericas e a regulao metodolgica na investigao sociolgica dos problemasecolgicos e finaliza apresentando o conceito de Jess Ibnez de pesquisa comofenmeno social total.

    Na seqncia, contamos com a palestra do professor Igncio Lerma, tambmdo Departamento de Sociologia e Antropologia Social da Universidade de Valncia,cuja interveno sobre as relaes entre o processo de produo, as relaestrabalhistas e o meio ambiente seu objeto de pesquisa h vrias dcadas naEspanha , traando um panorama destas inter-relaes no caso europeu e espa-nhol e indicando os desafios postos pela nanotecnologia neste processo.

    Finalizando esta mesa, temos a palestra de Paulo Roberto Martins, que procu-rou estabelecer um debate entre sua proposta terica, sobre a constituio de umasociedade sustentvel, e a contribuio terica de Allan Schnaiberg, materializa-da na teoria treadmill of production, especialmente nos pontos relativos produ-o da escassez de recursos naturais pelo sistema capitalista de produo e pos-

  • 15APRESENTAO

    svel superao disto via a nanotecnologia, em que o domnio da tecnologia queproporciona o rearranjo das conexes entre tomos poder levar extino desteproblema importante para a teoria do professor Schnaiberg. Outra questo levanta-da neste debate foi sobre o quanto o rompimento da barreira entre o que anima-do e inanimado, proporcionado pela nanotecnologia, pode ou no interferir na atu-alidade da proposta terica de Allan Schnaiberg para a interpretao das relaesentre sociedade e natureza nas sociedades capitalistas.

    A terceira parte deste livro diz respeito mesa Nanotecnologia, Inovao eSociedade, coordenada pelo professor Joo Steiner, diretor do Instituto de Estu-dos Avanados da Universidade de So Paulo. O primeiro expositor foi o professorEdmilson Lopes Jnior, do Departamento de Sociologia da Universidade Federaldo Estado do Rio Grande do Norte. Sua palestra tratou dos desafios postos pelananotecnologia s Cincias Sociais. Segundo este professor, um destes desafiosconsiste em que, por estarmos imersos numa prtica cujos temas e produtos sosempre muito auto-referenciais, sentimo-nos, nas cincias sociais, ameaados porrealidades nas quais a complexidade que se avizinha no mais apreendida pormeio dos esquemas mentais aos quais fomos nos conformando pela fora inercialdo habitus acadmico. Assim, quando nos aproximamos do emergente campo dananotecnologia, no raro queremos enfrentar o desafio de produzir narrativas sig-nificativas recorrendo aos velhos instrumentos. Desse modo, produzem-se ques-tes sobre efeitos, impactos e riscos, como se fosse possvel continuar mobilizan-do nosso idioma social para tratar da nanotecnologia. E o que nesse idioma maisproblemtico o quanto est presente nele, como pressuposto no-explicitado,uma separao entre os reinos sociais e fsicos. Como se as inovaes tecnolgicaspudessem ser apreendidas desligadas da constelao de prticas sociais que astornam possveis.

    Stephen J. Wood, professor da Universidade de Sheffield, Inglaterra, o prxi-mo palestrante. Para este autor, A nanotecnologia vista como uma tecnologiaemergente que vai alterar radicalmente as tecnologias em muitas reas, nainformtica, na sade, na rea militar e na energia. Claro que h alegaes de que to fundamental que vai acabar com a escassez de matrias-primas, e que vai atmesmo eliminar a morte, segundo algumas pessoas. Mas a nanotecnologia estsendo vista por pesquisadores, firmas e governos de forma mais prosaica e pareceser a prxima tecnologia, seno a principal nova tecnologia. Ns temos de estudarisso agora. bem possvel que muitas coisas apaream e a rea realmente muitofragmentada. Isso d a oportunidade ideal para ns, cientistas sociais, estudarmosalgo medida que est nascendo. Estamos no incio, temos a oportunidade deestudar desde o incio. A questo : como podemos estudar, como podemos con-

  • 16PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    tribuir para o debate, e no s cincia e tecnologia, no um fim em si mesmo.Temos realmente de ter bons debates.

    Em continuidade a esta mesa, temos a contribuio de suma importncia dePat Roy Mooney, diretor do ETCGroup, organizao no-governamental canadensepioneira nos estudos da nanotecnologia do ponto de vista da sociedade civil. Soinmeras as publicaes desta entidade sobre a questo das tecnologias bio e nano.Sua interveno de riqueza imensa em termos do que est sendo feito em pes-quisas e produtos em nanotecnologia, bem como indica trs reas nas quais oscientistas sociais poderiam contribuir. Para Mooney, uma delas entender o queacontece quando h uma mudana traumtica nas economias, o que significa quan-do, de repente, uma economia cai devido a grandes mudanas. Como que oscientistas sociais podem ajudar a trabalhar com governos para fazer a transio deforma mais segura possvel, se que precisamos de uma transio.

    A outra rea refere-se s implicaes da nanobiotecnologia que so difceisde julgar. papel da sociedade civil e dos cientistas sociais tentar enxergar o futuroe avisar sobre as coisas que podem ou no acontecer , realizando alertas anteci-pados. A terceira rea na qual os cientistas sociais podem contribuir a questo damudana do clima e suas relaes com a nanotecnologia.

    A contribuio final a esta mesa dada pelo professor Henrique Rattner, de-cano brasileiro dos estudos das relaes entre tecnologia e sociedade, que tratadas relaes entre nanotecnologia e a poltica de cincia e tecnologia. Uma desuas concluses que A formao de redes de organizaes da sociedade paramonitorar e avaliar os rumos de desenvolvimento da nanotecnologia indispens-vel para proteger, sobretudo os menos preparados e informados, ante as incertezase riscos associados ao desenvolvimento da nanotecnologia. Cabe ao poder pblicoa tarefa de orientar e regulamentar tanto a pesquisa quanto o desenvolvimento e ouso comercial dos novos processos e produtos. Face preponderncia do setorpblico no financiamento de P&D, cabe perguntar quem aproveita os resultados eabrir as instituies para que a sociedade participe na avaliao e na definio deestratgias de pesquisa e no uso dos conhecimentos gerados.

    A quarta parte deste livro um espelho da mesa Nanotecnologia, Inovao eAgricultura, coordenada pela professora Magda Zanoni, representante do Minist-rio de Desenvolvimento Agrrio. Este um tema novo em nosso seminrio, decor-rente da constituio da linha de pesquisa Nanotecnologia e Agricultura daRenanosoma.

    A primeira palestrante a pesquisadora Slvia Ribeiro, do ETCGroup, mesmainstituio de Pat R. Mooney, referenciado anteriormente. Sua apresentao funda-mentou-se em trabalhos coletivos dessa instituio, intitulados Down on the farm:

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    the impact of nano-scale tecnologies on food and agriculture e The big down: fromgenomes to atoms, ambos disponveis em portugus1.

    A quantidade de informaes apresentadas pela pesquisadora grande eelucidativa, bem como seus questionamentos sobre as conseqncias desta pene-trao da nanotecnologia na alimentao e agricultura. A nanotecnologia j temprofunda influncia no que diz respeito a agricultores, pescadores, pastores e in-dstria de transformao de alimentos. Alerta Slvia Ribeiro que j existem pelomenos cerca de 720 produtos no mercado sem que haja regulamentao para ne-nhum destes produtos e sem que os consumidores tenham informao a respeito.J existem nanopartculas aplicadas nos campos via pesticidas, bem como elas jesto presentes em aditivos alimentares, sem que nenhum governo tenha at ago-ra desenvolvido um regime que regulamente a nanoescala ou os impactos dessasnanopartculas para a sade e o meio ambiente.

    A palestra seguinte a do pesquisador da Empresa Brasileira de PesquisasAgropecurias/Instrumentao Agropecuria de So Carlos, Paulo E. Cruvinel. Emsua interveno, apresenta a metodologia utilizada pela Embrapa para elencar osassuntos crticos para o desenvolvimento regional e suas prioridades, constituindocom isto as denominadas plataformas de desenvolvimento. A partir deste con-junto de plataformas e com uma viso prospectiva da questo nanotecnolgica que esta empresa de pesquisa procura incorporar a nanotecnologia em seus estu-dos para a Rede de Inovao e Prospeco Tecnolgica para o Agronegcio, con-cebida no mbito do Fundo Setorial de Agronegcios e da prpria Embrapa.

    Em continuidade s exposies desta mesa, temos a palestra de frei SrgioGorgen, representante da Via Campesina e deputado estadual pelo PT do Estadodo Rio Grande do Sul. Este palestrante prope realizar o debate a respeito da cin-cia, da tecnologia, das inovaes tecnolgicas a partir do enfoque dos pobres docampo, os camponeses, os ndios, os pescadores, aqueles que normalmente tmmuito pouco espao na cincia, na tecnologia, nas universidades, no debate pbli-co, mas colocam a comida na nossa mesa: a maior parte da comida que todoscomem vem da produo de algum campons. Vem muito pouco do grandeagronegcio. a partir desse enfoque que frei Srgio Gorgen realiza sua exposi-o, indicando a existncia de dois movimentos na sociedade contempornea ex-tremamente danosos para a cincia e para a agricultura, principalmente para aagricultura camponesa, mas para a sociedade como um todo tambm: o primeiro

    1 ETC GROUP. Nanotecnologia: os riscos da tecnologia do futuro. Porto Alegre: L&PM, 2005; ______. Tecnologia

    atmica: a nova frente das multinacionais. So Paulo: Expresso Popular, 2004.

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    deles a privatizao e a mercantilizao da cincia; o segundo, a aplicao cien-tfica e a tecnologia.

    O ltimo expositor desta mesa o pesquisador do Instituto de EconomiaAgrcola da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Governo do Estado deSo Paulo, Richard Domingues Dulley. O principal objetivo de sua interveno proporcionar um primeiro alerta formal aos produtores e consumidores de produ-tos agrcolas sobre a proximidade da ocorrncia de drsticas mudanas tecnolgicasna agricultura e at mesmo em seu papel na economia. A industrializao da agri-cultura poder intensificar profundamente o processo de produo agrcola. Aconcretizao da industrializao quase total da agricultura resultar da conver-gncia dos mais recentes avanos no campo da biotecnologia e nanotecnologiamolecular informtica e microeletrnica. A natureza da nanotecnologia molecularno presente, seu estado das artes e a literatura atual disponvel permitem inferirque esta poder ter a capacidade de, em conjunto com outras tecnologias, alterardrasticamente as histricas caractersticas da agricultura.

    A quinta parte do livro corresponde mesa Nanotecnologia, Inovao e ti-ca, conduzida pelo professor Ruy Braga, do Departamento de Sociologia da Uni-versidade de So Paulo e membro da Renanosoma.

    O primeiro expositor o professor Jos Manuel Cozar Escalante, da Universi-dade de La Laguna, Tenerife, Espanha. Este autor indica a complexidade do assun-to e que ele no deve ser encarado em termos de contra ou a favor: O que significativo e desejvel dar bons motivos para que se apiem ou rejeitem proje-tos e trajetrias especficas da nanotecnologia. Para Cozar, o mais importante se-ria a questo de poder, do ponto de vista da tica, pelo menos. Mas esse conceitoest carregado de valores e, embora faa a tentativa de abordar diretamente asassimetrias na tomada de decises a respeito de novas nanotecnologias, entre osdiferentes grupos que tm interesses no processo [...], essa abordagem pode le-var-nos a uma viso simplista das complexidades ticas que aparecem quando oselementos de uma nano-rede interagem.

    A seguir, o leitor encontrar a palestra do professor Ricardo de Toledo Neder,da Unesp de Rio Claro, que se prope a discutir os contornos de uma pesquisasocial sobre cincia, tecnologia e inovaes (CT&I) em reas estratgicas que pos-sa estabelecer bases sobre como grupos setoriais e coletivos de representao so-cial dos interesses empresariais interpretam e reagem nas universidades pblicaspara dar um sentido de aplicao social ou enraizamento s inovaes chamadasnanotecnologias. Nossa hiptese bsica de que, no interior de processos de esco-lhas e decises, incertezas e conflitos, h um sujeito tecnocientfico que assumeum conjunto de pressupostos normativos e poltico-institucionais lado a lado com

  • 19APRESENTAO

    a base epistemolgica dos processos cognitivos. Os fundamentos que orientamesse sujeito coletivo (pesquisadores) so diferenciados e os discriminei como pro-tocolos de valor.

    O ltimo conferencista desta mesa o professor Ricardo Timm de Souza, doDepartamento de Filosofia da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande doSul. Sua exposio est fundada na questo central de como conciliar a vontade desaber e seu exerccio com o respeito fundamental pelo outro.

    Para este autor, embora os conceitos de cincia e tica sejam oriundos dediferentes fontes, De minha parte, prefiro uma definio contempornea que com-bine estas sutilezas histrico-etimolgicas: tica como sendo o agir, em um lugardeterminado, de forma determinada, com fins determinados e no-neutros, na di-reo da promoo da vida. Por sua vez, cincia, [...] saber, iluminar, invadir a rea-lidade, expor as essncias, descobrir os ncleos da existncia, ir at onde nuncaoutro ser humano tenha ido. Estes sonhos modernos, mas que j repousavam innuce na pr-histria do logos, todos eles tm como preocupao muito secundriao respeito por aquele que o seu objeto, o objeto cientfico. Caso assim no fosse,no poderiam dissec-lo, no poderiam analis-lo. Mas a cincia no analticapor natureza? Este um dos dilemas centrais com os quais temos de conviver hoje[...]: como conciliar a vontade de saber e seu exerccio com o respeito fundamen-tal pelo outro?

    A sexta e ltima parte do livro, correspondente mesa Nanotecnologia, Ino-vao e Regulao, foi coordenada pelo deputado federal Edson Duarte, do Parti-do Verde da Bahia. Este deputado apresentou na Cmara Federal proposta de pro-jeto de Lei visando regulamentar as atividades de nanotecnologia no Brasil. Esta foia razo para que coordenasse a ltima mesa do evento.

    A primeira expositora Eliane Cristina P. Moreira, coordenadora do Ncleo dePropriedade Intelectual do Centro Universitrio do Par, ex-secretria-executiva daCTNbio/MCT e membro da Renanosoma. Sua contribuio ao seminrio foi umareflexo no campo do Direito que, segundo esta pesquisadora, no est estruturadoadequadamente para dar respostas aos desafios propostos pelas novas tecnologias.Identifica a necessidade de mais reflexo em relao era dos direitos exercidosem face dos riscos tecnolgicos, o que implica refletir sobra a questo da regulao.Como razes para esta reflexo, a conferencista indica a forte interao cincia-indstria, o enaltecimento do conhecimento cientfico e uma maior dependnciasocial das cincias naturais.

    Ressalta a pesquisadora que a proximidade da cincia com a indstria temlevado a mudanas em paradigmas cientficos, resultando em presso para resul-tados imediatos, que acabam por valorizar as especialidades e a excluso dos no-

  • 20PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    especialistas e com isto aumenta o fosso entre leigos e especialistas e especialistasem cincias da vida e especialistas em cincias sociais.

    A seguir, a participao do professor Eronides F. da Silva Jnior, do Departa-mento de Fsica da Universidade Federal do Estado de Pernambuco e coordenadorda rede de pesquisa Nanosemimat. Este pesquisador indica a previso realizadapea universidade de Berkeley de que no ano de 2012, por meio das novas tecnolo-gias, em sete ou oito anos o homem ser potencialmente capaz de emular o cre-bro humano. Imaginem que se consegue emular o crebro, que se consegue fa-zer teletransporte e que se consegue decodificar o DNA e fazer a manipulao nosaminocidos, nas cadeias, da maneira que se quiser: no h mais nada para sefazer, j se fez tudo. Diante desta previso, ressalta o conferencista que precisoentender as conseqncias de cada uma dessas coisas e encontrar as melhoresmaneiras de regular o desenvolvimento dessas tecnologias.

    O ltimo palestrante desta mesa e do seminrio Slvio Valle, pesquisadortitular e coordenador do curso de biossegurana da Fundao Oswaldo Cruz. Valleabordou o que, para ele, a questo central: nanossegurana, que o conjuntode estudos e procedimentos que visa estabelecer o controle de eventuais proble-mas suscitados pelas pesquisas e por suas aplicaes. Ento, a pesquisa tem de serfeita com qualidade. Ns temos de nos preocupar com a segurana, a minha reade trabalho, e h alguns pontos falhos nos programas do MCT e na poltica pblica,tanto em relao a biotecnologia como para a nanossegurana.O palestrante apontaa inexistncia de discusses sobre o avano tecnolgico e suas relaes com aquesto de segurana, como o caso especfico da nanossegurana.

    Aps cada mesa apresentada, seguiram-se debates com a participao deum pesquisador (key notes) cuja funo foi iniciar os debates mediante formula-o de trs questes e, a seguir, com a participao do pblico presente ao evento.Todos os debates esto aqui reproduzidos.

    Este seminrio mais uma contribuio da Renanosoma para que a nano-tecnologia se torne um objeto cada dia mais estudado pelas Cincias Humanas noBrasil, e pode tambm ser considerado um treino para a grande marcha em dire-o a uma democracia sustentvel na qual as questes de cincia e tecnologiasejam objeto de um processo de engajamento pblico da populao brasileira.

    So Paulo, maro de 2006.

    Paulo Roberto Martins.

  • 21ABERTURA

    PARTICIPANTES DO SEGUNDO SEMINRIO INTERNACIONALNANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    II SEMINANOSOMA

    Conferencistas:

    Allan Schnaiberg Bacharel em Cincias, mestre e PHD em Sociologia, teminmeros livros publicados. Constituiu a disciplina de Sociologia Ambiental nos Es-tados Unidos. Professor da Faculty Associate, Institute for Policy Research da Univer-sidade de Northwestern, Chicago, Estados Unidos. .

    Edmilson Lopes Jnior Socilogo, mestre em Sociologia, doutor em Cin-cias Sociais, professor doutor do Departamento de Cincias Sociais do Centro deCincias Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Nor-te. Membro da Rede de Pesquisas em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambien-te (Renanosoma). .

    Eliane Cristina P. Moreira Advogada, mestre em Direito Ambiental pelaPontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP). Coordenadora do Ncleode Propriedade Intelectual do Centro Universitrio do Par (Nupi/Cesupa), ex-secre-tria-executiva da Comisso Tcnica Nacional de Biosegurana do Ministrio da Ci-ncia e Tecnologia (CTN-Bio/MCT) e membro da Rede de Pesquisas em Nanotec-nologia, Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma). .

    Eronides F. da Silva Jnior Fsico, mestre em Fsica, PHD em EngenhariaEltrica. Professor doutor do Departamento de Fsica da Universidade Federal dePernambuco e ex-coordenador da Rede de Pesquisas NanoSemiMat/Brasil..

    Frei Srgio Gorgen Franciscano, filsofo, ps-graduado em Cooperativismo.Autor de diversos livros, militante e assessor dos movimentos que compem a ViaCampesina-Brasil. Deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores do Estadodo Rio Grande do Sul (PT-RS). .

  • 22PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    Henrique Rattner Socilogo, mestre em Sociologia, doutor em EconomiaPoltica. Consultor do Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo(IPT-SP). Membro da Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Am-biente (Renanosoma). .

    Igncio Lerma Historiador, doutor em Sociologia, professor doutor do De-partamento de Sociologia e Antropologia Social e decano da Faculdade de Cinci-as Sociais da Universidade de Valncia, Espanha. .

    Jos Manoel Rodrguez Victoriano Socilogo, doutor em Sociologia comvrios textos publicados. Professor do Departamento de Sociologia e Antropologiada Universidade de Valncia, Espanha, onde coordena a linha de pesquisa emepistemologia e metodologia qualitativa. .

    Jos Manuel Cozar Escalante Filsofo, mestre e doutor em Filosofia, pro-fessor titular do Departamento de Histria e Filosofia da Cincia da UniversidadeLa Laguna, Tenerife, Espanha. .

    Juergen Altmann Fsico, pacifista, doutor em Fsica, professor doutor doExperimentelle Physik III, Universidade de Dortmund, Alemanha..

    Pat Roy Mooney Diretor-executivo do ETCGroup, autor de vrios livros sobrepolticas de biodiversidade e biotecnologia. Embora no tenha graduao universi-tria, uma das maiores autoridades em biodiversidade agrcola e em impactosdas novas tecnologias nas sociedades. Recebeu diversos prmios honorficos, en-tre os quais The Right Livelihood Award (Premio Nobel Alternativo/1985) e PearsonPeace (1998). .

    Paulo Estevo Cruvinel Engenheiro eletrnico e eletrotcnico, mestre emBioengenharia, doutor em Automao. Pesquisador da Empresa Brasileira de Pes-quisas Agropecurias (Embrapa)/Instrumentao Agropecuria, So Carlos-SP..

    Paulo Roberto Martins Socilogo, mestre em Desenvolvimento Agrcola,doutor em Cincias Sociais, pesquisador da Agncia IPT de Inovao do Institutode Pesquisas Tecnolgicas (IPT), coordenador da Rede de Pesquisa Cooperativaem Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma), coordenador do

  • 23APRESENTAO

    Primeiro e do Segundo Seminrio Internacional Nanotecnologia, Sociedade e MeioAmbiente (Seminanosoma). .

    Renzo Tomellini Qumico, chefe da Unidade de Nanocincia eNanotecnologia da Diretoria-Geral de Investigao da Comisso Europia..

    Ricardo Toledo Neder Socilogo, mestre e doutor em Sociologia, ps-dou-torando em Filosofia e Histria da Cincia no Departamento de Filosofia da USP.Docente e pesquisador doutor convidado no Departamento de PlanejamentoTerritorial do Instituto de Geocincia e Exatas da Universidade Estadual Paulista(Unesp), campus Rio Claro. Membro da Rede de Pesquisa em Nanotecnologia,Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma). .

    Ricardo Timm de Souza Graduado em Estudos Sociais e Filosofia, mestreem Antropologia Filosfica, doutor em Filosofia. Atualmente, professor nos Pro-gramas de Ps-Graduao em Filosofia, Cincias Criminais e Cincias da Sade daPontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e integra comitscientficos, editoriais e de tica nacionais e internacionais..

    Richard Domingues Dulley Engenheiro agrnomo, mestre em Desenvolvi-mento Agrcola, doutor em Cincias Sociais pelo Instituto de Filosofia e Cincias Huma-nas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH -Unicamp), pesquisador cientficonvel VI do Instituto de Economia Agrcola (IEA) da Secretaria de Agricultura e Abas-tecimento de Estado de So Paulo. Membro da Rede de Pesquisa em Nanotecnologia,Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma). .

    Slvia Ribeiro Jornalista, editora e pesquisadora em meio ambiente. Atual-mente, pesquisadora e gerente de programa do ETCGroup, baseada no Mxico.Foi representante da sociedade civil em diversas negociaes de tratados sobremeio ambiente conduzidos pela Organizao das Naes Unidas (ONU)..

    Slvio Valle Mdico veterinrio com especializao em Biossegurana e An-lise de Risco de Alimentos Geneticamente Modificados. Pesquisador titular e coor-denador dos cursos de biossegurana da Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rio deJaneiro. .

  • 24PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    Snia Maria Dalcomuni Economista, mestre em Desenvolvimento, Agricultu-ra e Sociedade, PhD em Economia da Inovao e Meio Ambiente, especialista emSistemas Tecnolgicos. Professora dos cursos de graduao e mestrado em Econo-mia da Universidade Federal do Esprito Santo (Ufes). Diretora do Centro de Cinci-as Jurdicas e Econmicas da Ufes, membro da Rede de Pesquisa em Nanotecno-logia, Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma). .

    Stephen J. Wood Professor doutor do Institute of Work Psychology da Uni-versidade de Sheffield, Inglaterra, onde exerce tambm o cargo de chefe de pes-quisa. Co-diretor do ESRC Center for Organization and Innovation. Pesquisador as-sociado do Centre for Economic Performance, London School of Economics..

    Coordenadores de mesas:

    Edson Duarte Tcnico em Agropecuria e pedagogo, deputado federal pelo Par-tido Verde (BA), legislatura 2003-2006. .

    Guilherme Ary Plonski Engenheiro qumico, mestre e doutor em Engenha-ria da Produo, ps-doutor em Cincia e Tecnologia. Superintendente do Institutode Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo (AS/IPT). .

    Joo Steiner Astrofsico, professor titular do Departamento de Astronomiado Instituto de Astronomia, Geofsica e Cincias Atmosfricas da Universidade deSo Paulo (IAG-USP). Diretor do Instituto de Estudos Avanados da Universidadede So Paulo (IEA/USP). .

    Magda Zanoni Sociloga, mestre e doutora em Cincias Sociais. Pesquisa-dora do Ncleo de Estudos para o Desenvolvimento Rural do Ministrio de Desen-volvimento Agrrio (Nead/MDA). .

    Marcos Antnio Mattedi Doutor em Cincias Sociais pela Universidade Es-tadual de Campinas (Unicamp) e ps-doutor pelo Centre de Sociologie deLnnovation/ENSMP/Paris. Atualmente professor do Programa de Ps-Graduoem Desenvolvimento Regional e Diretor do Instituto de Pesquisas Sociais da Uni-versidade Regional de Blumenau. Membro da Rede de Pesquisa em Nanotecnologia,Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma). .

  • 25APRESENTAO

    Ruy Gomes Braga Neto Socilogo, mestre em Sociologia, doutor em Cin-cias Sociais, com vrios livros publicados. Professor doutor do Departamento deSociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidadede So Paulo (FFLCH-USP). Membro da Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, So-ciedade e Meio Ambiente (Renanosoma). .

    Key notes:

    Jos Manuel Cozar Escalante

    Paulo Roberto Martins

    Petrus DAmorim Santacruz de Oliveira Qumico, doutor em Cincias dosMateriais, professor do Departamento de Qumica Fundamental da UniversidadeFederal de Pernambuco, coordenador do Laboratrio Land-Foton (DQF/UFPE),coordenador de Inovao da Rede Renami (MCT/CNPq), diretor responsvel pelaempresa incubada Ponto Quntico Nanotecnologia. ;.

    Renzo Tomellini

    Ricardo de Toledo Neder

    Slvia Ribeiro

    Relatores:

    Adriano Premebida Historiador, mestre em Desenvolvimento Rural, douto-rando em Sociologia, membro da Rede de Pesquisa em Nanotecnologia, Socieda-de e Meio Ambiente (Renanosoma). .

    Noela Invernizzi Antroploga, mestre e doutora em Poltica Cientfica e Tec-nolgica com ps-doutorado no Center for Science, Policy and Outcomes da Univer-sidade de Columbia, Estados Unidos. Professora-adjunta no Setor de Educao daUniversidade Federal do Paran, em Curitiba. Membro da Rede de Pesquisa em Nano-tecnologia, Sociedade e Meio Ambiente (Renanosoma). .

  • 26PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

  • 27APRESENTAO

    ABERTURA

    Guilherme Ary PlonskiMuito bom dia a cada um, obrigado por terem vindo abertura de um evento

    que, certamente, ser marcante como foi o primeiro, por tratar, em uma perspecti-va bastante mais ampla, de um tema que geralmente visto sob uma ticaunidimensional, que o avano do conhecimento e sua apropriao pelo setorprodutivo. Quero saudar, inicialmente, na ordem em que foram chamados mesa,o professor Joo Steiner, ex-secretrio das instituies de pesquisa vinculadas aoMinistrio da Cincia e Tecnologia e atual diretor do Instituto de Estudos Avana-dos, o qual, pela prpria funo na universidade, aquele espao no qual temasnovos so tratados e modelados para que possam depois permear o restante dauniversidade. Quero saudar a professora Magda, que aqui representa a viso dogoverno federal, parceiro tambm do evento. Obrigado por ter vindo de Braslia epor representar nosso ministro. Quero saudar o caro Paulo Roberto Martins, que um batalhador, eu diria que quase um guerrilheiro, no sentido de, sem muito alar-de, de repente conseguir montar um segundo evento internacional de grande por-te, com videoconferncia. uma pessoa que abriu um espao importante, no IPT ena USP, para essa viso mais ampla da nanotecnologia. A importncia do tema dispensvel de ser realada para quem est aqui, pois quem est aqui j acreditaque o tema importante. Eu queria apenas dar as boas vindas ao doutor RenzoTomellini. Passo agora a palavra doutora Magda e, depois, ao professor Steiner.

    Magda ZanoniBom dia a todos. Em nome do Ncleo de Estudos Agrrios e Desenvolvimen-

    to Rural Nead e do Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (MDA), quero saudar atodos os participantes deste seminrio, nossos colegas pesquisadores que vieramde pases distantes, da Espanha e das Ilhas Canrias, da Inglaterra, do Mxico, doCanad, igualmente aos colegas brasileiros e demais inscritos, a mesa, e fazer umasaudao muito particular a Paulo Roberto Martins, que organizou este seminrio.Gostaria igualmente de fazer algumas breves consideraes que refletem as dis-cusses que o ministro Miguel Rosseto tem fomentado no Ministrio do Desenvol-vimento Agrrio e que se interrogam sobre os usos das novas tecnologias pelosagricultores familiares e pelos assentados da reforma agrria. Essas consideraestm um fundamento e uma histria. Elas provm, em grande parte, da experincia

  • 28PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    que ns tivemos, nestes dois ltimos anos, sobre as questes e os debates embiotecnologia, em particular a questo dos transgnicos. No vou entrar neste mo-mento no mrito desse debate, que, alis, penso no ter sido levado de forma sufi-cientemente democrtica no Brasil. Mas, a partir desta experincia, gostaria de te-cer algumas consideraes gerais sobre a questo das nanotecnologias. So refle-xes que nos conduzem a algumas certezas, mas a muitas interrogaes.

    Em uma abordagem mais geral, as nanotecnologias colocam na ordem dodia variados elementos de suma importncia, referentes democratizao das es-colhas tcnicas e cientficas. Podemos citar alguns: por exemplo, a parte de inves-timentos considerveis necessrios a seu desenvolvimento e financiamento pbli-co; a ausncia em muitos pases, ainda hoje em dia, de um enquadramentolegislativo de regulamentao. Ainda no adotado em nvel governamental emum grande nmero de pases, seno em sua maioria, um sistema de regulamenta-o jurdica especfica referente ao Estatuto das Nanopartculas, seus impactos so-bre a sade e o meio ambiente. No entanto, j circula no mercado uma srie deprodutos que contm nanopartculas. So, porm, insuficientes os estudos e pes-quisas sobre sua toxicidade e tambm pouco conhecida a mobilidade dessaspartculas no corpo humano, sobretudo na pele, no crebro, na placenta humana,assim como no meio ambiente e seus diversos componentes, solo, ar e gua. Tam-bm seria desejvel o rastreamento de objetos e de produtos realizados pelo em-prego das nanotecnologias, e o conhecimento de suas conseqncias societais.

    Alm de um debate sobre os riscos ambientais e sobre a sade humana, exis-tem outras dimenses que podem ser abordadas e que estamos discutindo: osefeitos das cincias e das tcnicas sobre as relaes de trabalho e dominao,sobre a relao do homem com a natureza, sobre a relao com o conhecimento esobre as possibilidades de uma proposta tica. O impacto destas tecnologias emtermos de emprego, de demisses, de reemprego, portanto, de instabilidade, nonvel dos atores locais j est sendo demonstrado: citaria, apenas como exemplo,o caso de empresas da cidade de Grenoble, na Frana, tais como a Hewlett-Packard,a STM, etc. Temos, tambm, de levar em considerao (e esta tambm uma dis-cusso importante para o ministrio) a questo das prioridades das polticas pbli-cas de pesquisa e de tecnologia. Em nossos pases do Sul geralmente h uma gran-de deficincia de polticas e suas respectivas implementaes na maior parte doscampos relacionados ao desenvolvimento sustentvel, sade pblica, toxicologia,ecologia, agricultura sustentvel, agricultura orgnica, energias renovveis, enge-nharia verde. Esses setores necessitam de grandes esforos de pesquisa e investi-mentos para solucionar os desafios postos pelas epidemias e pandemias, pelaspoluies e seus efeitos sobre a sade humana e o meio ambiente, pelo desperd-

  • 29ABERTURA

    cio de energias no-renovveis, pela perda de biodiversidade, pelos endividamentosdos agricultores, pela reciclagem de dejetos, pelo xodo rural, etc.

    Porm, estas reflexes que estamos fazendo neste momento vo muito almdas situaes locais. Elas se ampliam, pelos seus significados, a escalas muito maisabrangentes, nacionais e internacionais. Do mesmo modo, as questes sobre astecnologias, que se limitam freqentemente aos desafios socioeconmicos dodesenvolvimento, inserem-se em uma problemtica mais ampla, de natureza filo-sfica que tambm diz respeito s opes de progresso cientfico e tecnolgicoque uma sociedade pode ter e que muito oportunamente sero abordadas na lti-ma sesso do colquio. Atualmente, constata-se um aumento do posicionamentocrtico por parte de cientistas das cincias humanas e sociais, mas tambm dascincias fsicas e biolgicas e da sociedade civil, da noo de progresso tal qual elafoi admitida no fim do sculo XIX e na primeira metade do sculo XX1. A contesta-o do progresso, de certo progresso, adveio, em grande medida, em funo dosmedos e dos desastres que so tambm fruto de certas tecnologias. E que socilo-gos identificaram em sondagens especiais e enqutes. Na Frana, eu citaria N.Farouki e seus colaboradores2 que identificaram os grandes medos da populaoem relao s nanocincias e s nanotecnologias, cujos temas fundamentais so aperda de controle (experincias mal-sucedidas, com efeitos perversos, uso co-mercial de produtos cuja nocividade pode provocar efeitos negativos irreversveisdeterminando a extino da espcie humana, o desaparecimento do planeta), omau uso das descobertas (um indivduo ou grupo, uma empresa, um Estado, de-tendo um novo produto ou nova tecnologia, pode adquirir um poder de destruioconsidervel) e, finalmente, a transgresso (referindo-se aos aspectos morais,pelos quais o homem pretende ir alm de seus limites e igualar-se a Deus). Nopodemos deixar de incluir nestas contestaes as crticas referentes ao avanotecnolgico e sua incapacidade de resolver os grandes problemas da humanida-de, tais como a fome. Queremos criar um novo mundo, queremos criar um novoplaneta? Ser ele humano ou artificial? Ento, parece-me que tais questes estodiretamente envolvidas no quadro deste seminrio. No Ministrio do Desenvolvi-mento Agrrio e particularmente em suas secretarias (Secretaria de AgriculturaFamiliar, Secretaria de Desenvolvimento Territorial e Secretaria de ReordenamentoAgrrio) nos congratulamos por este seminrio, porque a discusso sobre cin-

    1 (N. Org.). BOURG, D.; BERNIER, J.-M. Peut-on encore croire au progres? Paris: Presses Universitaires de

    France, 2000.2 (N. Org.). FAROUKI, N. e colaboradores. Les progrs de la peur. Paris: Le Pommier, 2001.

  • 30PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    cia, tecnologia e sociedade e, no caso presente, sobre os aspectos societais eambientais das nanocincias e nanotecnologias, ainda incipiente no Brasil. NoFrum Social Mundial tivemos duas grandes oficinas, uma organizada pelaRenanosoma e pela Fondation Science Citoyenne (Fundao Cincia Cidad), daFrana, que conta com mais de mil pesquisadores, sobre as questes da relaoda cincia com a sociedade.

    Parece-nos essencial que esses debates sejam amplamente estabelecidos sobformas que devemos criar ou inovar, com a participao da populao. Vimos muitobem, no caso dos transgnicos, que a populao no participou do debate; ele foicircunscrito oficialmente a audincias pblicas, limitadas aos deputados e senado-res, nas quais os representantes da sociedade civil obtiveram apenas o estatuto deobservadores ou, quando muito, de participantes minoritrios nas mesas redondasdas comisses do Congresso Nacional. A nanotecnologia que revela tambmpercepes ligadas ao domnio do fantstico, do imaginrio que ultrapassam aspercepes somente materiais, mobilizando sobremaneira o universo simblicode uma sociedade , permanece ainda desconhecida do grande pblico. Abordaresses assuntos de maior abrangncia, ou seja, a interrogao central, que eu diriaser acerca de qual a sociedade que queremos construir, a questo de fundo dosdebates que os poderes pblicos devem assumir e proporcionar.

    As ponderaes precedentes levam-nos novamente a ampliar o debate e aintegrar temticas que tenham como foco o modelo atual do desenvolvimento, asteorias que o embasam e as prticas por ele induzidas, suas conseqncias sobre aigualdade de acesso educao, informao, enfim, identificando quais so osverdadeiros problemas e problemticas no contexto atual. Conseqentemente, essencial colocar no centro do debate os processos polticos e sociais que definema escolha e a introduo das tecnologias em uma sociedade dada, a fim de discutirseus custos e benefcios morais e materiais. Retomando os trabalhos de Jean PierreDupuy3 realizados a partir de ampla pesquisa, de cunho sociolgico e filosfico,acerca das percepes da populao sobre as nanotecnologias, entendemos porseus resultados o porqu de sua convico sobre a necessidade da adoo demedidas para incluir as nanotecnologias no campo democrtico, com ampla difu-so de seus princpios, mtodos, produtos e impactos. Para atingir esta democrati-zao, devemos buscar novas formas de dilogo com as populaes, com a socie-dade civil. E podemos afirmar que estes debates no s se colocam em termos

    3 (N. Org.). DUPUY, J.-P. Pour un catastrophisme clair. Quand limpossible deviene certain. Paris: Le Senil,

    2004.

  • 31ABERTURA

    cientficos e tcnicos, mas tambm em termos polticos, porque se trata de esco-lha e definio de rumos para a humanidade.

    Novas formas de contato com a populao, das quais so exemplos asbutiques de cincia, implementadas na Holanda e na Inglaterra, as confernciascidads a propsito das biotecnologias, as jornadas de debate democrtico sobre acincia em certas prefeituras (Ivry-sur- Seine, Bobigny, etc.), seminrios ouvrons larecherche entre pesquisadores, agricultores e movimentos sociais realizadas naFrana, as aes originais de certas universidades, associaes e organizaes no-governamentais no Brasil, so iniciativas exemplares, porm ainda muitominoritrias e pouco reconhecidas pelos poderes pblicos. Cabe a todos, pesqui-sadores, professores universitrios, educadores, tcnicos, responsveis de movi-mentos sociais, introduzirem formas de debates que incluam o reconhecimentoda diversidade de saberes e as percepes e posies sobre o progresso cientficoe tecnolgico dos mltiplos grupos sociais. Porque, como dizia Hans Jonas em suaobra O princpio responsabilidade4, no suficiente fazermos tecnologias; temosde escutar os medos, porque os medos da populao tm um propsito heurstico.Eles nos ensinam a imaginar as novas pesquisas necessrias para discutir essesmedos e no para impor nossas idias sobre aqueles que tm medo.

    Joo SteinerMuito obrigado. Professor Ary Plonski, professora Magda, professor Paulo

    Roberto Martins. um prazer estar mais uma vez aqui, neste segundo evento, re-presentando o Instituto de Estudos Avanados da USP. Ns j participamos do pa-trocnio do primeiro evento, no ano passado, e para o Instituto de Estudos Avana-dos um prazer poder participar e promover esse tipo de evento. O Instituto deEstudos Avanados tem avanado no seu ttulo e, s vezes, as pessoas me per-guntam o que ele tem de avanado. Ele tem muito de avanado e um dos eixos emque ele avanado que ele avanado no tempo, ele tem de olhar para o futuro,ele tem de olhar alm das nossas preocupaes cotidianas. Freqentemente, nsdeparamos com importantes e urgentes. A universidade tem tantos afazeres quenormalmente se dedica apenas s questes urgentes, e as questes importantesgeralmente ficam para outra oportunidade. O IEA tem o compromisso de olharpara esses aspectos. Apenas como exemplo, ns, no instituto, estamos estudandoa questo de mudanas climticas globais h mais de 15 anos, quando ningum ou

    4 (N. Org.). JONAS, H. Le prncipe responsabilit: une thique pour la civilisation technologique. Paris: Ed. Du

    Cerf, 1990.

  • 32PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    pouca gente no mundo refletia sobre essa questo, que hoje se est tornando umapreocupao em nosso cotidiano. Mas o instituto j fazia estudos h 15 anos, hpublicaes registradas sobre essa questo. A nanotecnologia uma dessastecnologias que est entrando em moda, est prometendo um enorme impactosobre nosso cotidiano, sobre nossas vidas, sobre nossa sociedade. E a preocupa-o com a nanotecnologia no deve ser assunto apenas para engenheiros, paracientistas que promovem as tecnologias; ela deve ser preocupao de toda a soci-edade. Por isso so muito bem-vindas a reflexo e a preocupao, pela tica dascincias sociais, pela tica das humanidades, pela tica da questo do meio ambi-ente, porque, certamente, o impacto ambiental ser um dos aspectos com que asociedade ter de se defrontar no futuro prximo. Ento, eu quero agradecer nova-mente pela oportunidade de o Instituto poder apoiar este evento, agradecer a pre-sena e o esforo de todos e dizer que o IEA est aberto a esse tipo de debate e aoutros debates que porventura forem oportunos no futuro. Muito obrigado.

  • 33SESSO 1 NANOTECNOLOGIA, INOVAO E ECONOMIA

    SESSO 1NANOTECNOLOGIA, INOVAO E ECONOMIA

    Coordenador:Paulo Roberto Martins

    Conferencistas:Juergen Altmann, Renzo Tomellini e Snia Maria Dalcomuni

    Key note:Jos Manuel Cozar Escalante

  • 34PAULO R. MARTINS (ORG.) NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

    Imagem de microscpio eletrnico com cores alteradas representando estrutura de nanofios de prata (Universityof Chicago)

  • 35SESSO 1 NANOTECNOLOGIA, INOVAO E ECONOMIA

    Nanotecnologia e a questo militar (Comunicao eletrnica)

    Juergen Altmann

    O tema economia. Os assuntos que abordarei so: primeiro, a diferenasobre inovao nas reas militar e civil; segundo, problemas ligados tecnologiamilitar; terceiro, pesquisa e desenvolvimento na rea militar com nanotecnologiae, depois, tecnologias convergentes, terminando com uma avaliao sobre contro-le de armamentos, recomendaes e comentrios concludentes. Quem quiser lerisso em detalhes, h um livro que est sendo lanado e que fala desse tpico.1

    A diferena entre inovao militar e civil. Os militares so fortes em altatecnologia e por meio da alta tecnologia. verdade que a passagem da tecnologiada rea militar para a civil j aconteceu, mas isso est diminuindo. Hoje em dia, osmilitares muitas vezes dependem de tecnologias prontas, comerciais, na pratelei-ra. Isso se aplica especialmente computao, e dcadas de pesquisa em cinciassociais tm confirmado que o custeio do desenvolvimento militar no uma formaeficaz de melhorar a competitividade dos mercados civis. Isso se d por vriosmotivos. Antes de tudo, os militares tm requisitos extremos: os avies, por exem-plo, tm de fazer curvas muito rpidas, tm de sobreviver a tiros, tm de ter umassento ejetvel para o piloto. Nada disso necessrio em um avio comum. Atecnologia militar muito cara e, alm disso, est ligada a sigilo, que torna a trocade conhecimento muito mais difcil.

    Ento, se a meta de uma economia dar apoio ao desenvolvimento de pro-dutos de nanotecnologia para grandes mercados civis, no uma boa idia darverba do governo aos militares para pesquisa esperando que alguma coisa possaser usada na rea civil. melhor dar o dinheiro para pesquisa na rea civil, comoacontece principalmente nos pases em desenvolvimento, como o Brasil. Ento, oEstado deve investir nas necessidades da maioria, especialmente da maioria pobredo pas. A tecnologia militar e a tecnologia civil so muito diferentes. A tecnologiacivil tem a ver com evitar a destruio, e na tecnologia militar trabalha-se para adestruio, a destruio rpida e eficaz. As coisas ruins que queremos evitar nasociedade civil acontecem por acidente ou por meio de criminosos; quando estamosfalando da rea militar, tais coisas so preparadas de forma organizada, em grandeescala. O uso militar da tecnologia justificado pelos mais altos interesses do pas.

    1 (N. Org.). ALTMANN, J. Military nanotechnology: potential applications and preventive arms control. Londres:

    Nova York: Routledge, 2006.

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    Se necessrio, trata-se de vencer um oponente por meio da fora violenta. Esse oobjetivo dos militares.

    A forma central a prevalecer nos conflitos tem sido por meio das novastecnologias e a tarefa dos militares tem a tendncia de ultrapassar os limites civis etambm envolve muito sigilo. Os usos militares, contudo, s vezes no so analisa-dos quando se pensa, por exemplo, nas questes ticas da nanotecnologia. Estoucontente por ter sido convidado para falar desse problema. Eu fiz um estudo dessarea na Alemanha, que terminou h um ano e meio atrs e o livro vai ser lanadoem breve2.

    As armas no so uma coisa boa nas sociedades civis, na maior parte dassociedades civis elas so limitadas. No sei como acontece no Brasil, mas em mui-tas sociedades as armas so limitadas e as exportaes de armas de alta tecnologiapodem ser boas para os empregos em casa, mas so perigosas para a vida e asade em outros locais onde h guerras civis ou guerras muito grandes. E, claro,as armas e as tecnologias que exportamos podem voltar para casa e diminuir asegurana daqueles que as produziram, talvez pelo uso de criminosos ou terroris-tas no pas de origem. Devemos ter em mente tambm que nossa nova tecnologiamilitar pode ser desenvolvida com o motivo de aumentar a segurana, mas podefazer vrias coisas: promover a corrida armamentista com outros, diminuir a esta-bilidade militar e, no caso da nanotecnologia, criar precedentes de manipulaode corpos que podem realmente trazer riscos. algo que a sociedade quer deba-ter, os riscos e os benefcios dessa tecnologia.

    Agora, uma viso sobre a pesquisa e o desenvolvimento feitos pelos militaresna rea da nanotecnologia. Nas iniciativas de nanotecnologia nos Estados Unidosno ano 2000, as aplicaes militares ou a pesquisa para a defesa receberam de umquarto a um tero da verba federal de pesquisa nos ltimos quatro ou cinco anos.Mas uma boa parte dessa pesquisa e desenvolvimento engenharia e cincia bsi-ca, e feita em faculdades.

    Vamos ver, ento, as iniciativas de pesquisa em nanotecnologia feitas em uni-versidades. Os projetos de pesquisa e desenvolvimento que receberam verbas emuniversidades so bem genricos. Trata-se de pesquisa bem bsica e ser ligada aaplicaes militares somente no futuro. O Massachusetts Institute of Technology um instituto que foi fundado em 2002 para nanotecnologias para o soldado. L,muito dinheiro est sendo gasto: US$ 50 milhes em cinco anos, do Exrcito, maisUS$ 30 milhes da indstria e at 150 universidades vo trabalhar nessas aplica-

    2 (N. Org.). ALTMANN, 2006.

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    es para soldados. Comeam com aplicativos para computadores, por exemplo,uma roupa especial que no s fornece aquecimento ou ar condicionado, confor-me o necessrio, mas capaz de colocar uma compressa ao redor de um ferimento,ou uma roupa que fica dura, impedindo a entrada de projteis e segura contraagentes biolgicos e qumicos.

    A segunda onda nos Estados Unidos que, em certo sentido, depois inclui ananotecnologia, a convergncia de tecnologias. O primeiro seminrio nessa reateve uma sesso especial naquilo que chamam de segurana nacional, ou seja,segurana nos Estados Unidos. Eles estabeleceram sete metas para a convergn-cia de tecnologias, ou seja, nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia da informa-o e cincias cognitivas para a segurana nacional. Eu no vou mencionar todas,mas tem a ver com sensores em miniatura, processamento em alta velocidade e osegundo ponto tem a ver com veculos de combate autnomos, ou seja, aviessem pilotos, tanques sem motoristas e, ainda, a rea de nanotecnologia para solda-dos. E a ltima sobre melhorar o desempenho do ser humano, modificar a bio-qumica e melhorar a sobrevivncia, no caso de ferimentos.

    Vou dar a vocs uma idia de como pode ser o futuro com nanotecnologia. Osexemplos que darei ainda no usam nanotecnologia, mas incorporaronanotecnologia em vrios aspectos, pelo menos computao de alta velocidade emateriais leves e resistentes. J temos um avio que dirigido por controle remo-to, sem piloto, com msseis. No futuro, todo os sistemas podero ser autnomos.Foi dada uma verba a um instituto alemo para desenvolver um microrrob. Exis-tem tambm microavies, ainda no usam nanotecnologia, mas logo vo incorpo-rar nanotecnologia. E devemos dizer que a eficincia militar desses dispositivosainda no est clara. Talvez sejam frgeis demais, talvez no funcionem, mas pelomenos a pesquisa est sendo feita.

    H veculos de combate autnomos, em terra, sem motorista; e existem tam-bm experincias para receber sinais do crtex de um macaco, a fim de obterum tempo de reao mais rpido. Devo dizer que, com seres humanos, as expe-rincias so no-invasivas, ou seja, os humanos receberiam sinais de fora, de for-ma no-invasiva, para serem mais rpidos. Essa experincia consiste em colocareletrodos no crebro de um rato para ele seguir um curso predeterminado nolaboratrio, sendo dirigido. As pessoas pensam que isso poderia ser aplicado aseres humanos. Se for feito para paraplgicos, que no tm movimentos, no hproblema tico, mas se for aplicado a soldados, a o problema comea. Sabemosque implantar sistemas artificiais nos corpos dos soldados j foi discutido aberta-mente nos Estados Unidos. Um seminrio em 2001 tratou de sistemas artificiaisdentro do soldado, mensurao, processamento de dados, comunicao e dis-

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    cusses sobre determinar onde estruturas podem ser colocadas no corpo, paramonitorar o soldado.

    Se compararmos o que outros pases fazem em pesquisa e desenvolvimentona rea militar mesmo pases muito ativos em tecnologia militar, como ReinoUnido, Frana, Pases Baixos, Sucia ou Israel , o investimento destes muitomenor. Na Rssia, no h muito; na China, h pouco, mas eles foram capazes defazer muitas coisas que os Estados Unidos comeariam a fazer cinco anos maistarde. Eu fiz uma estimativa da verba no mundo sobre nanotecnologia para usomilitar e cheguei a US$ 30 milhes ou US$ 40 milhes por ano. Considerando averba dos Estados Unidos, de US$ 220 milhes, vemos que o resto do mundo gastadez vezes menos. Mas isso pode mudar, medida que outros pases realmenteacelerem seu trabalho na rea de nanotecnologia para uso militar.

    No projeto que eu fiz com verba de uma fundao alem para pesquisa paraa paz, elaborei uma longa lista de onde a nanotecnologia pode ser aplicada parausos militares. E a lista vai de computadores, produtos eletrnicos, comunicao,materiais, fontes de energia, at explosivos e propelentes mais eficientes, vriostipos de camuflagem varivel e sensores baratos, mais leves; veculos mais geis,munio menor e mais precisa. Satlites em miniatura, robs de tamanho macroe micro, armados e desarmados, inclusive hbridos entre sistemas artificiais eanimais, como ratos; sistemas para soldados e novas armas qumicas e biolgi-cas. Mas devo acrescentar que a nanotecnologia molecular, ou seja, o que foiprevisto por Drexler e colegas, ainda no eminente, nem para uso civil nempara uso militar. Ento, eu olhei a nanotecnologia que est sendo usada atual-mente e as projees para daqui a 15 ou 20 anos.

    Se olharmos essas aplicaes em potencial pensando em segurana internaci-onal, no-nacional, poderemos usar o conceito de controle de armas preventivo. Oque isso? Se ns prepararmos um modelo do ciclo de vida de uma tecnologia dearma ou um sistema militar, este comea com pesquisa, depois sistemas concretosso desenvolvidos e testados e, se forem eficientes, a so adquiridos, usados, mo-dernizados e, finalmente, descartados. No controle de armas normal, por exemplo,permitindo a cada lado mil ogivas nucleares, isso envolve a questo do uso. O con-trole de armas preventivo funciona antes disso. A idia realmente impedir que es-sas tecnologias sejam adquiridas pelos militares antes de serem usadas.

    Ns, na Alemanha, tivemos vrios projetos conjuntos nesse conceito de pre-veno e desenvolvemos critrios. O primeiro critrio est ligado a um controle dearmas eficaz, desarmamento e lei internacional. Sempre que novas tecnologiasmilitares representam perigo para o desarmamento ou tratados, ou criam um pro-blema para as leis humanitrias, ou podem ser utilizadas para a destruio em

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    massa, temos de pensar em limitaes preventivas. O segundo grupo vincula-se aestabilidade: novas tecnologias militares no devem desestabilizar a situao mili-tar entre oponentes, deve tentar impedir a corrida armamentista e no podemoster uma proliferao vertical, horizontal de substncias, conhecimentos ou armas.E o terceiro grupo de critrios diz respeito ao ambiente humano e sociedade:novas tecnologias militares no devem, em tempos de paz, apresentar perigo paraseres humanos, o ambiente ou o desenvolvimento sustentvel, para sistemas pol-ticos ou para a infra-estrutura da sociedade. Esses foram os critrios utilizados paraavaliar 15 ou 20 aplicaes em potencial de nanotecnologia em uso militar. Eu pre-parei uma tabela muito grande onde coloquei o sinal de mais, menos ou zero. Te-mos sinal de menos em vrias reas de aplicaes, e apenas uma rea em que aavaliao positiva, que a de sensores e formas para proteo ou neutralizaocontra a guerra qumica, que podem ser usados para proteger a populao contraataques terroristas. Outras aplicaes no so perigosas e outras, como computa-dores pequenos e rpidos, esto to prximas das aplicaes civis que quaseimpossvel impedi-las na rea militar, porque so quase iguais.

    Em minha opinio, na tabela que elaborei h aplicaes muito perigosas, quecomeam com pequenos sensores distribudos. Pequenos sensores eficazes po-dem criar um problema para a estabilidade militar ou podem criar um problema sepassarem para a sociedade civil, na rea de sigilo, de confidencialidade. Depois,armas que podem criar problemas na sociedade civil, nos aeroportos. Depois, pe-quenos msseis. H uma grande preocupao sobre sistemas portteis que foramdados pelos Estados Unidos para o Talib, no Afeganisto. No futuro, com ananotecnologia, poderemos ter msseis de 30 centmetros e no de 1 metro, pe-sando 2 quilos e no 20 quilos, que podero ser disparados da bolsa de uma senho-ra e derrubar um avio. Ento, esse um grande problema, se tais coisas foremproduzidas e forem para a sociedade civil, para outros pases e para terroristas.

    H um problema tambm com implantes e manipulao de corpos. O usomilitar pode criar um precedente para que implantes sejam feitos, por exemplo. Asociedade deve discutir que tipos de implantes devem ser permitidos em uma pes-soa. Existe tambm o perigo de ficarmos viciados ou de um software controlar ocrebro de uma pessoa. Ento, a sociedade deve debater o que permitir e o queno permitir. Se os militares j estiverem usando isso em larga escala, implantes nocorpo das pessoas, esse debate da sociedade talvez no seja eficaz, porque haveriaj dezenas de milhares de pessoas usando esses sistemas. E tambm sistemasautnomos de luta e robs bem pequenos, que poderiam ser usados para invadir aprivacidade das pessoas na sociedade civil ou, talvez, para ataques terroristas vi-sando autoridades ou a diminuir a estabilidade entre oponentes. O mesmo aconte-

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    ce na parte de estabilidade, pequenos satlites, pequenos lanadores. As coisasesto ficando perigosas, com novas armas qumicas e biolgicas. Ento, se noformos bem-sucedidos em limitar essas aplicaes to perigosas de nanotecnologia,isso poder criar problemas globais profundos.

    Em meu projeto, pensei em como solucionar esses problemas e desenvolvirecomendaes, o que fazer nessas oito reas nas quais encontrei a maior partedos problemas. Penso que no devo mencionar todos; quero apenas mencionar oproblema, que consiste em no permitir sistemas sem pilotos. No creio que sejabom, por exemplo, termos avies sem piloto, um veculo sem motorista. Se issono for possvel, devemos exigir que a deciso de atirar e a liberao de armas, ouseja, matar, que nunca seja feita sem uma deciso humana. No sei se isso poderser feito quando houver centenas ou milhares de sistemas autnomos, sem piloto.Mas devemos exigir isso, que a deciso de matar seja feita por um humano, nopor uma mquina.

    Concluindo. Quando olhamos a pesquisa e o desenvolvimento de nanotec-nologia na rea militar, devemos dizer que os Estados Unidos no tm grandes desa-fios em termos de ter um grande oponente. Os Estados Unidos no tm um grandeinimigo. Ento, os Estados Unidos esto organizando uma corrida armamentista con-sigo mesmo. Isso pode trazer vrios perigos. Seria possvel realmente se chegar a umacordo internacional sobre limites, mas para isso seria necessria a compreenso,por parte dos Estados Unidos, de que os limites so do seu interesse. E fica claro que,com a administrao atual, essa compreenso no existe.

    A seguir, uma viso sobre os sistemas internacionais. As novas tecnologiasque j chegaram, em parte, mas que se tornaro bem mais potentes, como enge-nharia gentica, redes de computao por toda parte, nanotecnologia, seropoderosssimas e vo apresentar grandes riscos em termos de mal-uso. Portanto,conter esses riscos vai necessitar de verificao e de um sistema para processarcriminosos semelhante queles que temos na sociedade civil, tudo isso em nvelinternacional. Ns sabemos e aceitamos esses procedimentos em questes comosegurana no trabalho, lei ambiental e assim por diante. Ento, se houver umperigo, a polcia poder entrar em uma empresa qumica, parar o processo, pren-der algum, etc. E, provavelmente, vamos precisar da mesma coisa em nvel in-ternacional. Isso ainda no possvel porque os Estados realmente valorizam muitosua autonomia e pensam que tm de garantir a segurana atravs das ForasArmadas. Mas a inspeo intensa de que necessitamos, com esse controle, no compatvel com o trabalho das Foras Armadas. Eles querem sigilo, querem avan-o, mas temos de olhar intensamente o que eles fazem e, se olharmos, se tiver-mos informao, eles vo achar que no so eficientes. Ento, no mdio e no

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    longo prazo, a segurana pede o reforo das instituies nacionais e internacio-nais, inclusive a lei criminal internacional. Temos algumas indicaes, mas issotem de ser fortalecido, inclusive a lei internacional sobre crimes. Temos algumasinformaes sobre isso, mas essa lei tem de se reforada. E a dependncia detudo isso tem de ser reduzida.

    Com respeito aos debates internacionais que acontecem, com respeito aouso da nanotecnologia e da pesquisa em desenvolvimento responsveis, neces-srio usar o potencial da nanotecnologia para a humanidade, para evitar perigos.Precisamos de governana global nessa rea e orientao sobre valores humanos.Essa uma chamada para que sociedade e organizaes no-governamentais par-ticipem e analisem os perigos dos usos militares e trabalhem para mudar a posiodos Estados Unidos sobre essa questo. realmente importante que nos EstadosUnidos haja pesquisa, mas tambm uma crtica com respeito a isso. Um bom cdi-go de conduta para pesquisa em nanotecnologia. Esses debates tm de ser refor-ados e, visto que uma questo internacional, tambm devem incluir em suaagenda segurana internacional. Devemos envolver organizaes internacionaiscomo Unesco, Organizao Mundial de Sade, as Naes Unidas nessas discus-ses sobre o uso militar da nanotecnologia, seus perigos e como podemos impedi-los. Para finalizar, quero deixar uma questo: talvez haja um papel para o Brasil,para reforar as iniciativas internacionais nessa rea.

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    Nanotecnologia: um ponto de vista da Europa

    Renzo Tomellini

    Depois do que o professor Altmann falou sobre o que pode acontecer, aplica-es potenciais, quero falar sobre o que est acontecendo, sobre o que estamosfazendo e o que o estado da arte, e vamos tambm ver o que vem no futuro. Ananotecnologia uma abordagem muito complexa, com respeito a cincia etecnologia. Primeiro, alguns dados sobre verbas, mostrando a distribuio do cus-teio. Visto que o tema nanotecnologia e economia, eu trouxe a vocs este dado.A primeira informao importante so os gastos em pesquisa relacionda ananotecnologia da ordem de 8 bilhes de dlares ou euros, dependendo da taxade cmbio, em gastos pblicos e privados. Digamos que um dlar tenha o mesmopoder de compra de um euro. Ento, a segunda informao importante: em 2004os gastos privados ultrapassaram pela primeira vez os gastos pblicos. E isto im-portante no momento em que pensamos sobre a economia. A indstria est inves-tindo cada vez mais e est muito interessada na nanotecnologia. Em termos dedistribuio dos investimentos, tendo em conta os pases da Unio Europia maisSua, Estados Unidos, Japo e outros, vemos que muito dinheiro pblico est sen-do investido, especialmente na Europa. A Europa gasta mais dinheiro pblico doque outras reas. Onde vemos a Europa fraca e outros pases fortes na rea dosetor privado. Na Europa, as indstrias esto descapitalizadas e esse um proble-ma para nosso sistema, que tambm se reflete na nanotecnologia.

    Outra informao que, na Europa, a maior parte dos gastos vem dos Estadosmembros e apenas um tero da Comisso Europia e do programa que eugerencio. Isso mostra que a Comisso Europia a principal entidade que gastaem nanotecnologia; mas no a mais importante se levarmos em conta o total dosgastos, o que no acontece nos Estados Unidos. L, vemos que o governo gastamuito mais do que os outros. A nanotecnologia tem um grande potencial; ananotecnologia no um mercado em si, uma cadeia de valor, uma aborda-gem para cincias materiais e vai ocasionar inovaes em todos os setores, inclusi-ve naquilo que o professor Altmann mencionou, na rea militar. O que podemosver hoje, que um pouco diferente de outros setores, o seguinte: estamos acos-tumados a considerar materiais na indstria de transformao, ao e outros, e ve-mos que o valor agregado est no final da cadeia de suprimentos, no produto final.Por exemplo, o ao, temos o minrio da frica do Sul, do Brasil e levamos para aEuropa. O vidro tambm, colocamos nos fornos, colocamos nos conversores. Faze-

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    mos ao, fazemos produtos laminados. No final de tudo isso, precisamos de trsquilos de ao para comprar um cafezinho no bar. Isso mostra como dramtica asituao da cadeia de suprimentos, da indstria de transformao. Em alguns seto-res, o valor agregado est no produto final. Na nanotecnologia, diferente. O mo-mento diferente. Podemos comparar isso com a eletrnica, quando vimos o de-senvolvimento dos chips. Na nanotecnologia, vemos muito valor agregado nos pro-dutos intermedirios. E o produto final no muda o preo. Ento, para promover acompetitividade, deve-se manter o preo do produto final. Portanto, no caso dananotecnologia o valor est nos produtos intermedirios. Isso interessante e peculiar, neste momento de desenvolvimento da nanotecnologia. Podemos dizerque, no futuro, quando a tecnologia molecular for em escala industrial, quandotivermos essa abordagem de baixo para cima, teremos muitas inovaes, produtoscompletamente novos, tecnologias completamente novas, e a teremos um pano-rama diferente. Mas hoje vemos, na cadeia de valor, que a nanotecnologia agregavalor nos produtos intermedirios.

    Todos os analistas esto prevendo um grande aumento de produtos e servi-os de nanotecnologia no mercado e os maiores nmeros esto no valor dos pro-dutos que contm nanotecnologia. Por exemplo, algum compra um vaso sanit-rio que tem um revestimento que no permite sujar. Ento, ele nunca suja. Nessecaso, no se compra nada invisvel; compram-se produtos cuja inteligncia estem uma soluo de nanotecnologia, como o vaso sanitrio que no suja.

    Agora, quero comentar sobre outros pontos. A nanotecnologia no uma in-dstria em si, uma tecnologia subjacente em vrios setores. E nosso objetivo no s dar apoio pesquisa. Os Art. 163 a 173 do Tratado de Amsterd1 dizem que acomisso tem de reforar a base tecnolgica da indstria europia e, depois, te-mos de alcanar metas. E as metas no so pesquisa. Nossas metas so as metaspolticas da Comunidade Europia: melhorar a qualidade de vida dos cidados,melhorar a competitividade da indstria, ou seja, tornar a Europa mais competitiva,sendo uma sociedade baseada em conhecimento.

    O objetivo, ento, desenvolver algo til e a nanotecnologia um meio paradesenvolver algo til. No caso da rea farmacutica, temos algumas pessoas queconseguiram maior tempo de vida, a nanotecnologia j permitiu que algumas pes-soas vivessem, pessoas que normalmente teriam ido a bito. Ento, precisamos deconhecimento, no sabemos o suficiente. Precisamos tambm de regulamenta-o, patentes, financiamento de pequenas e mdias empresas, financiamento para

    1 (N. Org.). Disponvel em: .

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    inovao e falar ao pblico sobre os riscos da nanotecnologia. Temos de investigaros riscos e avisar a todos sobre os riscos. A Comunidade Europia decidiu proporpara a Europa uma pesquisa integrada e responsvel. Temos de integrar todos osfatores de sucesso: pesquisa, infra-estrutura, pessoas, porque precisamos de tudoisso para desenvolver tecnologia. como um automvel, se voc no tiver as ro-das, o motor, a carroceria, ele no vai andar. Ento, precisamos de todos os ele-mentos para termos sucesso e podermos usar a tecnologia para algo til. Quere-mos desenvolver medidas custo/eficincia seguras, normas, padres. A comissoemitiu dois documentos, que ns chamamos de comunicaes, so documentospolticos. Um um documento sobre a viso, a estratgia da Europa para ananotecnologia. O outro um plano de ao. Por que dois? Primeiro, porque preci-samos da viso, e ela foi passada para os Estados membros; eles comentaram erecebemos respostas muito positivas. Eu tambm fiquei contente com isso, cla-ro. E ento, o Conselho Europeu emitiu concluses tambm muito positivas e pe-diu que preparssemos um plano de ao. Ento, disseram: Comisso, timo. Oque temos de fazer para avanar? O conselho tambm disse outra coisa: Faamum plano de ao, mas desenvolvendo um dilogo internacional sobre um cdigode conduta, sobre uma estrutura de princpios compartilhados. Com respeito es-tratgia, tivemos tambm uma consulta pblica que foi respondida por 750 pesso-as. Normalmente, recebemos muita crtica, que o que estamos fazendo errado, ruim; ao contrrio, recebemos 750 respostas positivas. Cada um insistia em umacoisa: mais pesquisa no meio ambiente, ou esqueam o meio ambiente e faampesquisa para a indstria, ou ento, faam pesquisa na universidade, e cada umpuxava para o seu lado. Mas as respostas foram todas positivas. E tambm doComit Social. No tivemos comentrio do Parlamento Europeu porque era pocade eleio.

    Aps essas reaes favorveis, o plano de ao foi preparado e adotado etudo isso foi comunicado ao Conselho Europeu. A estratgia envolve oito aes epara cada ao temos dois captulos: o que a comisso vai fazer e o que a comis-so pede que os Estados membros faam. Ento, alguma coisa pode ser feita naEuropa e outras coisas podem ser feitas de forma melhor nas regies, Estados,naes, comunidades e assim por diante. Entre os oito grupos esto pesquisa, infra-estrutura, educao, inovao industrial, todos os gargalos que podem desaceleraro desenvolvimento de uma tecnologia. No passado, a Europa sofreu do que se cha-mava de paradoxo europeu. A Europa era a primeira a introduzir a cincia, masno tecnologia; ns exportvamos idias e importvamos tecnologia, por isso nos-so povo pagava duas vezes. Os professores de faculdade faziam pesquisa e depoiscompravam tecnologia de outros pases. E isso no muito inteligente. Ento, quais

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    so os gargalos que temos para podermos produzir novas idias, novos conheci-mentos e, tambm, gerar tecnologia, empregos e riquezas? Porque a pesquisa gas-ta dinheiro para criar conhecimento e depois temos inovao industrial, ou seja,usar isso para criar riquezas e gerar empregos. isso que ns queremos fazer.

    Abordando outro ponto, integrando a dimenso da sociedade, cidados e suaspreocupaes. Ns gastamos dinheiro pblico e temos, ento, o dever moral deconsultar as pessoas, ver o que elas querem. Eu, por exemplo, tenho de convencerminha me que ela tem de pagar impostos da sua penso para pagar professores,universidades, e ela me pergunta por que. De fato, se eu pude convencer minhame, posso convencer qualquer pessoa. E tambm sade pblica, e regulamenta-es, nanoentidades, por exemplo, se as leis atuais esto certas para nanotecnologia,e cooperao internacional e coordenao para tudo o que fazemos. Se olharmosa pesquisa rapidamente, teremos os nmeros. Esse programa est a, inclui os ou-tros pases, 20 bilhes de euros esto sendo dedicados e uma parte disso foi parapesquisa em nanotecnologia. O plano de ao para a nanotecnologia no tem di-nheiro prprio, mas ele usa dinheiro de outros programas e a integrao envolvetambm outras linhas. Vocs devem entender que a situao complexa. E porisso (e no s para nanotecnologia) que inventamos a palavra governana. Egovernana isso, estamos em uma situao que no mais linear. Como