Na Cuia #3

31
FUNDAÇÃO CULTURAL DO PARÁ cONHEÇA OS ESPAÇOS E ENTENDA O QUE ACONTECEU COM OS ANTIGOS iap, cURRO vELHO E TANCREDO NEVES Edição 3

description

Terceira edição da revista cultural Na Cuia

Transcript of Na Cuia #3

  • FUNDAO

    CULTURAL DO PAR

    cONHEA OS ESPAOS E ENTENDA O QUE ACONTECEU COM OS ANTIGOS iap, cURRO

    vELHO E TANCREDO NEVES

    Edio 3

  • JulianaEditora-Chefe

    MateusReprter

    StefanieReprte

    VitoriaReprte

    LorenaDiretora de arteDiagramdora

    LuanaArte

    MadyleneRporter

    LucianaReprte

    Ana LuisaSocial - Media

    MarianaSocial - Media

    Amores deColaboradores

    AlanaReprte

    Louise LessaReprte

    IzadoraReprte

    r

    r

    r

  • JulianaEditora-Chefe

    MateusReprter

    StefanieReprte

    VitoriaReprte

    LorenaDiretora de arteDiagramdora

    LuanaArte

    MadyleneRporter

    LucianaReprte

    Ana LuisaSocial - Media

    MarianaSocial - Media

    Amores deColaboradores

    AlanaReprte

    Louise LessaReprte

    IzadoraReprte

    r

    r

    r

  • A Na Cuia uma revista de jornalismo cultural. Fazer uma matria sobre rgos pblicos no estava nos nossos planos, mas o compromisso com o cenrio cultural de Belm e com o jornalismo como servio pblico, sempre esteve. Por isso resolvemos fazer essa edio.No existe uma forma de isolar o artista de quem falamos ou a arte que debatemos da poltica, como se ela pudesse ser abstrada da realidade. Falamos do que material porque ele pode nos causar a abstrao atravs da arte que produz. Falamos das dificuldades do artista de encontrar um campo de formao e aperfeioamento, um mercado, porque se no trouxermos o debate para a mesa, a visibilidade dos problemas da comunidade artstica se dissipa. Sem visibilidade, as chances de resolver as coisas ficam menores.No temos nenhuma aspirao a ser banca para pronunciamentos de politicagem. O que a Na Cuia quer entender a procedncia das polticas culturais e divulg-las para que no nos sobre a desinformao, como aconteceu em dezembro do ano passado, com a falta de dilogo e comunicados oficiais sobre a extino dos dois maiores rgos de fomento artstico do Par.Depois de visitar alguns dos lugares onde eram as fundaes e o instituto, conversar com quem t por dentro do assunto, mexer em alguns sites de transparncia, chegamos s informaes que vocs podem ler nessa edio. Ela t suada, levou mais portas na cara do que as anteriores, mas t aqui, intacta. Espero que vocs gostem.

    Juliana Arajo Editora-chefe

  • Dossie

    6 . ATO 1

    10 . ATO 2

    14 . ATO3

    18 . ATO 4

    20. ATO 5

    24. ATO 6

    26. ATO 7

    iLUSTRAO DA CAPA POR

    JEFFERSON LOPES

  • Reconfigurao dos espaos da Casa. Planta baixa do prdio. Foto: Juliana Arajo

    Ato 1

  • Perigo de extinao?~

    A Na Cuia investiga as mudanas no quadro poltico das instituies de fomento cultural. O choque da fuso foi maior do que os danos - mas esses, ainda assim, preocupam os artistas paraenses.

    No dia 17 de de-zembro de 2014, a Na Cuia teve uma das ltimas reunies de pauta para lanar a primeira edi-o. Saindo da sala, a Stfanie - que escreve as resenhas cinema-togrficas do Beco soltou na roda que o Instituto de Artes do Par (IAP) ia fechar. Fechar? Como a gen-te vai deixar o IAP fe-

    char?. Extino era a palavra usada no pro-jeto de lei, documen-to digitalizado pelo deputado estadual Edmilson Rodrigues. Logo mais ela nos avisa que no s o IAP: o Curro Velho tambm aparece no texto, acompanhado daquela expresso to desagradvel e defini-tiva. Era impossvel pensar em extino.

    Por Juliana Arajo

  • Nos organizamos pra cobrir a votao, mas a votao era dali a duas horas. Ningum conseguiu comparecer. Sem entender bem, desinformados, continuamos tentando achar alternativas para algo que parecia apocalptico. Vamos ocupar. Vamos fazer um abaixo-assinado, pedir para o governador vetar. Ju, era um projeto de lei do governo e s valeria se fosse aprovada pela Assembleia Legislativa. Como a base do governo maioria por l, a proposta passou, uma amiga jornalista me explicou por mensagem. Desistir? No bem por a. Toda a equipe da revista queria saber o que tinha acontecido e o que aconteceria depois da aprovao. Ao ser questionado sobre a movimentao popular, o deputado Edmilson Rodrigues respondeu: Vrios segmentos sociais nos procuram para reivindicar mudanas na proposta de reforma, autoritariamente, apresentada pelo governador. Infelizmente, os movimentos da rea artstica, que, em geral, comandam os chamados movimentos culturais, com exceo de algumas

    manifestaes crticas nas redes sociais, demonstraram apatia. Desse modo, sem presso popular, a base governistas votou tranquilamente.

    Redescobrindo a estrutura das polticas culturais

    O que tinha acontecido era uma fuso, com a finalidade de cortar despesas. Os espaos continuariam funcionando, mas com um gerenciamento diferente, unificado. A Casa das Artes (antigo IAP) e as Oficinas Curro Velho fazem agora parte da Fundao Cultural do Par (FCP), que est sediada no prdio da antiga Fundao Tancredo Neves. As decises so feitas por um sistema de diretorias que temporrio, de acordo com Dina Oliveira, presidente da FCP. Atualmente, as cinco diretorias consistem em: Diretoria de Artes, Diretoria de Leitura e Informao (que envolve as bibliotecas), Diretoria de Interao Cultural (que trata das atividades, em especial as do interior), Diretoria de Finanas e a Diretoria de Artes e Ofcios. Integradas, elas coordenam

    um sistema de formao de artistas e fomento cultural que, desde os anos 90, vigoram no estado.O Curro Velho e ao IAP, so instituies de fomento, tanto na base quanto na produo de artistas numa maneira geral, e isso no uma caracterstica especialmente deste governo. Essas polticas remontam l na dcada de 90, quando o governador Almir Gabriel monta o IAP com o Paes Loureiro e a [Regina] Maneschy como presidente e eles pensaram esses processos como um encadeamento muito mais forte em relao poltica cultural do estado, explicou o fotgrafo Michel Pinho. Os artistas que o Curro Velho formava, o IAP aperfeioava e a Fundao Tancredo Neves abrigava, em espaos como os teatros Waldemar Henrique e Margarida Schivasappa, suas obras e espetculos. Ainda hoje assim e, de acordo com a presidncia da Fundao, continuar assim, com o mesmo procedimento burocrtico. E o que tinha que ser publicado por direito de edital, como diz a diretora de artes Clia Jacob, o ser.

  • Ao visitar o antigo IAP agora Casa das Artes -, Clia nos mostrou os espaos que perderiam a funo administrativa e passariam a ser lojas de publicaes internas, salas e biblioteca de artes. Isso trouxe uma reflexo sobre como todo aquele trabalho seria administrado por menos pessoas. Quando perguntamos a ela de que forma, com a ideia de enxugar o quadro de cada um desses espaos, vai se garantir que a quantidade e a

    qualidade das aes continuem as mesmas, a diretora responde com otimismo: este que o grande desafio nosso. Vamos trabalhar com estagirios dentro das aulas especficas, ento vai ser um espao de aprendizagem tambm pra esses alunos. A sede da FCP tem a mesma cara de sempre. Quando chego no prdio do antigo Centur, tenho a impresso de que aquele espao continua sendo a Fundao Tancredo

    Neves - contudo, no uma realidade, como veremos mais a frente. Quando pergunto se a maior delineao das aes no poderia acontecer sem a fuso, a presidente Dina responde: muito difcil. Eu acho que isso histrico, esse sombreamento. Ela continua, sobre os coordenadores das linguagens: Na verdade, voc extinguiu os rgos, mas voc no extinguiu as aes. O coordenador de linguagem visual, de linguagem plstica, esses tem que ter. As aes da rea fim, elas tem que ser cobertas. A gerncia que realmente foi reduzida. O acmulo de funes administrativas para a realizao da mesma quantidade de projetos soa exaustiva.O susto passou, mas a pulga no abandonou o seu lugar atrs da orelha. bom ela estar l. nosso trabalho fiscalizar o que esse rgo vai fazer, as aes que vai manter. Precisamos cobrar que os nossos artistas e nossos espaos de formao e aperfeioamento sejam preservados. A seguir, a Na Cuia apresenta matrias e entrevistas sobre a histria e o futuro dos espaos que sero para sempre, em nossos coraes, o IAP, Curro Velho e Tancredo Neves.

    Msicos utilizando espao da

    Casa das Artes. Foto- Madylene

    Barata.

    Gastos nos trs rgos em 2014

    O projeto de lei pretendia enxugar gastos. Saiba quanto os rgos arrecadaram no ano passa-do, para todas as despesas - manuteno e realizao de atividades, alm de salrios e servios terceirizados.

    Fundao Tancredo Neves 28.780.102,76

    IAP 14.131.976,39

    Curro Velho 8.766.118,47

  • Poltica com a participaao de todos os segmentos da arte

    Ato 2

    Corredor da Casa das Artes.

    Foto: Madylene Barata.

  • Poltica com a participaao de todos os segmentos da arte

    ~

    O deputado estadual Edmilson Rodrigues fala sobre a poltica cultural paraense e a

    polmica da fuso.

  • O decreto foi mais polmico justamente por ter tido uma votao prxima de sua proposta. Qual o motivo da rapidez da votao?

    Foi um projeto de lei de iniciativa do Poder Executivo. Em tese, as mudanas feitas poderiam culminar em resultados positivos para a poltica cultural do estado. Contudo, um governo, verdadeiramente intencionado na cultura popular, no precisa agir com autoritarismo e golpes institucionais. O fato de o projeto ter sido feito por alguns poucos burocratas de planto e, infelizmente, legitimado pela maioria dos deputados estaduais que compe a base de apoio do governador, inclusive, deixando surpresos at mesmo gestores da rea da cultura com status de secretrio como, por exemplo, dirigentes do Instituto de Artes do Par, da Fundao Tancredo Neves e do Curro Velho, demonstrao da total falta de transparncia do governador. um desrespeito e uma humilhao aos seus prprios assessores, mas, principalmente, um desrespeito sociedade, particularmente, aos artistas, que viram uma lei aprovada a toque de caixa para inviabilizar qualquer participao democrtica nos rumos das polticas culturais. Representei a Assembleia Legislativa na Conferncia

    Pintura na parede

    ilustrando o mercado

    do ver-o-peso.

  • Estadual de Cultura e, em nenhum momento, os representantes do governo pautaram o tema da reforma administrativa que seria meses depois implementada.

    Qual o maior problema que essa unificao infere?

    O maior problema que um nmero bastante significativo de profissionais gabaritados est nos corredores dos rgos extintos ou incorporados sem clareza de funo.

    E o ponto positivo mais expressivo?

    O lado bom que a presso dos funcionrios de carreira, que hoje vivem o constrangimento de no poderem desenvolver suas funes profissionais, somada presso dos movimentos socioculturais,

    podem influenciar na produo de uma poltica cultural transparente e democrtica. Sinto-me obrigado a reconhecer que a nomeao da professora e renomada artista plstica Dina Csar Oliveira para dirigir a fundao, pode significar um indicativo dessa possibilidade de se galgar avanos na qualidade da poltica cultural. Digo isso, porque como gestora do Curro Velho por longo perodo, demonstrou grande capacidade de empreender e de dialogar. O problema est se o governador dar a prioridade necessria s polticas culturais, mormente s de carter popular do estado. At este momento, ao que se sabe, os recursos destinados cultura so parcos, o que inviabiliza qualquer boa inteno, principalmente, se a maior parte servir para financiar eventos carssimos

    para o lazer de uma elite inculta.

    Quais as medidas que consideras indispensveis para as polticas culturais?

    Recursos pblicos, qualificao dos profissionais, editais para o acesso democrtico aos recursos em todas as linguagens da arte e democratizao da Lei Semear. Deve-se dar um basta concorrncia de autoridades do estado em relao aos artistas e estabelecer uma gesto democrtica a partir de uma poltica desenvolvida com a participao de todos os segmentos da arte numa conferncia democrtica e na eleio de um conselho representativo das diversas categorias artsticas, que passe pelo teatro, cinema, msica e dana.

    Entrada do prdio

    do Instituto de Artes

    do Par (IAP).

  • Ato 3

    Msicos ensaiando na Casa das Artes. Foto: Madylene Barata.

  • O Curro que recebe, cuida e

    ensina. Uma breve histria da atual Oficinas Curro Velho - uma entidade da cidade que tem corao de

    me - e suas famosas Crias.

    Quem desce a rua Prof. N e l s o n Ribeiro j consegue avistar um charmoso casaro acomodado ao fundo. Parece at ter vida prpria, j que recebe, cuida e ensina a quem pode. Todos o conhecem

    carinhosamente como Curro Velho, mas antigamente, nos tempos da Provncia do Gro Par, ele era o Curro Pblico de Belm, um lugar que fornecia carne para a populao da capital paraense.

    Por Brenda Rachit

  • Foi inaugurado em 1861, pelo ento governante Francisco Carlos Brusque. Mas o Curro foi desativado e acabou sendo usado como depsito de gs e de outros produtos. Com o tempo, a construo foi ficando cada vez mais abandonada at que, em 1988, sob governo de Hlio Gueiros, foi restaurada. A determinao veio aps cinco anos de tombamento do prdio como bem do Patrimnio Histrico Cultural do Par. Agora, ao invs de carne, fornecia outro tipo de alimento: arte. Em 1990 ganhou nome e sobrenome ao ser institucionalizado como a Fundao Curro Velho (FCV). Enrazado na perferia de Belm, o grande casaro oferece um mundo de possibilidades a adolescentes, jovens e adultos. O Curro Velho tem um poder transformador, principalmente para a populao de seu entorno, que encontra nesta casa, alternativas para suas impossibilidades. Muitos entram ainda crianas e desenvolvem ali formas de serem autores de seu presente e futuro. As chamadas Oficinas de Iniciao Artstica, abertas para crianas de 7 a 12 anos, incentivam seus pequeninos a dialogar com a cultura e se expressar atravs da arte. A partir de 12 anos j possvel se inscrever nas Oficinas Regulares. So tantas que nem usando os dedos dos ps daria para contar a variedade delas. No geral, trata-se de oficinas de linguagem cnica, verbal, musical, visual e de design, que atendem em mdia 1500 alunos por mdulo. Essas vagas so reservadas em 70% para estudantes da rede pblica de ensino, um modo de garantir o acesso e integrao desse pblico. Alm das oficinas, o Curro Velho tambm tem espao para exerccio de tudo que aprendido pelos alunos. Com um Ncleo de Prtica de Ofcio e Produo, todo

    saber adquirido nas oficinas se torna uma possibilidade desse aluno desenvolver seu trabalho de forma livre e criativa. A partir da ele pode, de certo modo, obter um retorno de seu investimento. Um retorno financeiro e, principalmente, de realizao. Apesar de nem tudo ser uma maravilha, os alunos, assim como os funcionrios, se mostram dispostos a enxergar o melhor do Curro e a doar-se para que essa troca flua. Jonilson Lima de Souza j foi aluno do Curro Velho, comeou l quando tinha trinta e cinco anos. Hoje, com quarenta, conta que se matriculou no curso de desenho inicial, fez o mdulo aprofundado e tambm o avanado. Aps ter concludo os trs mdulos, comeou a desenvolver algumas animaes e foi chamado para ser instrutor. Embora hoje esteja instruindo no Laboratrio de

    Animao, Jonilson diz que entrou no curso sabendo apenas o bsico. O Curro Velho me ajudou muito a construir a tcnica. Isso facilitou muito no meu trabalho, afirma. Para melhor desenvolvimento das habilidades do aluno, Jonilson diz que essencial haver um acompanhamento. Acompanhei o avano de um aluno daqui das proximidades. Ele no tinha tanta tcnica quando iniciou, mas em um ms houve um avano enorme em seu desenho. Eu sempre procurava mostrar o que era possvel como profisso para ele l na frente, conta Jonilson. Ele explicou tambm que, ao final de cada oficina, os trabalhos resultantes daquele mdulo so utilizados de forma que os alunos se sintam valorizados.Ao lado do Laboratrio de Animao pode-se ouvir, mesmo que de fora, as msicas que do mais vida s aulas do

    FOTO: BRENDA RACHIT

  • curso de dana. Os ritmos so variados, mas a empolgao sempre a mesma. Deusa Fonseca Garcia aluna do curso e conta que est h seis anos no Curro. Matriculou-se inicialmente no curso de teatro, passou pelo de desenho e est h dois anos na dana. Alm da formao profissional, Deusa enfatiza a contribuio das atividades para seu desenvolvimento pessoal. Aprendi muitas coisas na prtica: ser solidria com meus amigos quando eles precisam, reciclar coisas que eu no sabia que poderiam ser reutilizadas, conversar melhor com as pessoas e, tambm, respeitar os funcionrios, declara. Como aluna, Deusa expressa que os professores esto sempre ensinando coisas novas e que o prprio Curro Velho tem se desenvolvido junto com seus alunos. Diante das incertezas sobre o futuro do Curro, os alunos organizaram o movimento Ocupe o Curro Velho, protesto marcado para o dia 22 de Dezembro de 2014. No dia combinado, alunos e ex-alunos se encontraram na frente do prdio e tiveram um bate-papo bastante direto com a coordenao do Curro. Foi um momento desafiador para ambos os lados. Foram feitos muitos questionamentos e a promessa de que o movimento no terminaria ali. Ser que as atividades iriam mesmo continuar como antes? Os investimentos iriam diminuir? Como ser agora, com uma s administrao para rgos to mltiplos? Muitas perguntas foram feitas. As respostas? Pareceram ser dadas e recebidas com a esperana de que se algo mudasse, que fosse para melhor.

    Ilustrao de Lorena Emanuele

  • Ato 4

    Tem dinheiro pra cultura? Tem. Mas

    onde ele est alocado?

    O fotgrafo Michel Pinho chamou a ateno da equipe da Na Cuia pelo posicionamento crtico nas redes sociais

    acerca da Fundao Cultural do Par. Entramos em contato com ele, que falou sobre a histria e a distribuio de renda

    nos rgos de cultura.

  • Como que enxergas essa fuso e reduo de verba?

    Ao longo dos 20 anos a arte contempornea paraense e a arte-educao paraense se consolidou como uma das principais no Brasil inteiro. S que, no governo da Ana Jlia para o segundo governo do Simo Jatene houve um processo de desmantelamento da arte no estado. Desde processos como a Galeria Theodoro Braga, que pouco se fala. Voc no tinha poltica de pauta pblica, agora que passou a ter. E mesmo com o dinheiro do IAP, comeou a ficar muito pequeno em relao s aes que eles faziam. Eu participei da primeira reunio do NPD, que o Ncleo de Produo Digital. Da primeira reunio ao desenvolvimento do Ncleo, se passaram mais de dez anos. A o ncleo se consolida, comea a produo e a divulgao e, quando tem a consolidao, vem o decreto e corta tudo. Como vo ser as bolsas? Como vo ser as polticas de interiorizao? As bolsas davam oportunidade para as pessoas virem para a capital

    para mostrar o seu trabalho e desenvolver o seu trabalho. Quer dizer, pela primeira vez no estado a gente tem uma grande poltica pblica que vai ajudar no fomento e, de uma hora para outra, isso some. Como cidado eu no tenho essa resposta. E eu gostaria que essas polticas pblicas melhorassem. No o que eu estou vendo. A presso uma presso poltica dos agentes envolvidos, porque se deixar para o gabinete isso no vai se resolver. Com os cortes dos governos de Ana Jlia e do Simo Jatene, como o IAP continuava o trabalho? Porque tinha um organograma inteiro, estabelecido por fora de lei que criava ali uma autarquia. E a voc tinha uma gerncia de artes plsticas e visuais, uma gerncia de dana, de literatura. Cada uma dessas gerncias tinha autonomia pra desenvolver seus prprios projetos e captar recursos para isso. Com a diminuio de cargos tu consegues entender que esse projeto de lei atinge frontalmente a autonomia. Porque o organograma

    que foi montado, SeCult [entrevistado coloca a mo acima da cabea] e Fundao Cultural do Par [ele coloca a outra mo na altura dos olhos]. Voc no tem as autarquias depois, voc tem s - no sei nem se so diretorias ou secretarias - que esto intimamente ligadas presidncia.

    A impresso que temos que a cultura a primeira a ter os recursos reduzidos. Parece que no tem verba para a cultura.

    Voc tem que avaliar verba para qu? Historicamente, o que voc tem nos ltimos anos? Uma verba muito forte para msica e eventos. Vocs podem pegar os nmeros no Dirio Oficial, so nmeros estratosfricos. O governo Ana Jlia fez, tambm, duas publicaes de livros de fotografia, envolvendo seis fotgrafos. Quantos deles saram? Nenhum. Isso virou para o governo do Simo Jatene. Tambm no saiu. E no vai sair agora. Ento se tu me perguntas tem dinheiro pra cultura?, tem. Mas onde ele est alocado? Voc tem uma concentrao, entendeu?.

    A Na Cuia foi atrs dos dados acerca da distribuio da verba da SeCult em 2014, atravs do Portal da Transparncia do Estado* e descobriu alguns dados interessantes na categoria Contribuies. A contribuio direta e o servio de terceiros (item que contabiliza os gastos totais com servios terceirizados) distribudos para aes do Par 2000 projeto

    que administra o Hangar Centro de Convenes, a Estao das Docas e o Mangal das Garas - so de 575 mil reais. Tambm receberam suporte da SeCult o carnaval o Grmio Recreativo (o Deixa Falar), a Liga Independente dos Blocos de Enredo de Belm e duas ligas de carnaval das Ilhas (Outeiro e Cotijuba), com gastos beirando os 250 mil.

    A contribuio com a Academia Paraense de Msica excede 5 milhes de reais, um pouco mais da metade de todas as despesas que o Curro Velho teve durante o mesmo ano, o que acerta o tom de disparidade mencionado por Michel. Nenhuma outra linguagem aparece claramente no documento.Fonte: * http://www.transparencia.pa.gov.br/

  • Ato 5

    PAINEL DE PINTURAS NO CURRO VELHO. FOTO: BRENDA RACHIT

  • Grande. Na vida e na

    morte.Em Belm, um prdio se destaca. um gigante de muitos nomes, muitas histrias e muitos espaos.

    Exala uma imponncia prpria dos anos 1980 e aco-lhe a quem bem lhe quer.

    Voc deve conhe-cer simplesmen-te como Centur, um lugar muito jeitosi-nho localizado em um dos bairros histricos mais importantes de Belm. Mas a verdade que este jovem se-nhor, prestes a comple-tar 29 anos, carrega um nome bem grando: Fundao Cultural do Par Tancredo Neves (FCPTN). O prdio com cerca de 23.000m, projetado pelos arqui-tetos Euler Arruda,

    Edson Arruda e Ra-fael Gonalves, teve as obras iniciadas em 1978, mas s oito anos depois foi fundado. O professor e poeta Joo de Jesus Paes Lourei-ro assumiu o posto de primeiro diretor-pre-sidente da instituio. A proposta desse rgo pblico estadual, desde l em agosto de 1986, sempre foi acolher e defender o Patrimnio Histrico-Cultural Pa-raense.

    Por Luciana Vasconcelos

  • Naquela poca, o Par enfrentava muitos hiatos (e quase ningum gosta de hiatos, no ? Viciados em sries compreendem) na programao cultural do Estado. Era um problema com dcadas de idade. Para se ter uma ideia, em Belm havia um nico teatro, apenas duas galerias de arte e uma biblioteca pblica sem recursos. Esse cenrio motivou a elaborao do Centur para promover interatividade direta entre artistas com a misso de conservar e expandir informaes nas mais diversas plataformas. Essa uma das razes pela qual hoje temos maior acessibilidade crescente efervescncia do setor cultural da regio e ao mesmo tempo garantimos a atemporalidade da nossa memria e honramos inmeras geraes. Segundo a prpria instituio, neste momento o Centur se configura como o maior centro de debates e manifestaes culturais do Norte do Brasil, o que certamente contribui para projetar as produes paraenses no cenrio nacional. O Centur um gigante de muitos espaos: abriga o Centro de Eventos Ismael Nery com salas de apoio para cursos, o Teatro Experimental Waldemar Henrique e o Teatro Margarida Schivasappa, o Cine Lbero Luxardo, a Fonoteca Pblica Satyro de Melo, a Galeria de Arte Theodoro Braga, alm do Hall Ernesto Cruz e das Praas do Povo e do Artista, uma rea coberta de 4.530m onde so promovidos shows, festivais, feiras e exposies. Parece muita coisa, no ? Ainda bem, porque so vrias oportunidades de difuso e defesa da cultura regional. ainda no Centur que podemos ter acesso a uma das maiores bibliotecas pblicas do pas, a Biblioteca Pblica Arthur Vianna (BPAV), que completa 144 anos este ms. Mas a conta no bate. Como 144 anos, se o Centro tem apenas 28? Acontece que a

    BPAV foi fundada em 1871 (isso mesmo, l na poca do imprio!) por Joaquim Pires Machado Portella, presidente da provncia. A biblioteca ficava localizada no edifcio do Lyceu paraense e, por volta de 1895, ela foi deslocada para o Arquivo Pblico do Par. Apenas em 1986, por carncia de espao, a BPAV foi acolhida pelo Centur, expandindo o acervo que ainda ampliado at hoje. S que, alm de tudo isso, o Centur tambm possui estacionamento, restaurante, posto bancrio, servios telefnicos e de reprografia, onde possvel tirar xerox de documentos. E, ainda segundo a instituio, o Centur o nico rgo de cultura do Estado que trabalha com todas as linguagens artsticas: teatro, dana, msica, artes plsticas, livro e leitura. Ou seja, tem cultura em abundncia para todas as preferncias! Na poca da inaugurao do rgo, Paes Loureiro chegou a dizer que o sonho sonhado pelo poeta tem a chance de ser

    vivido atravs do presidente da Fundao [...]. Que das brenhas desse nosso Estado inteiro venha a cultura popular como uma bandeira nas mos assim livres da expresso de um povo que grande e cuja grandeza se expressa atravs de sua manifestao cultural. . Grande parece ser o adjetivo que mais identifica tudo que envolve o Centur, desde as idealizaes para o futuro incerto durante a dcada de 1980 at os atuais debates acerca de um futuro completamente diverso, mas to incerto quanto. E o poeta continua, em tom de reza: Que todo o nosso Estado seja a casa de sua cultura e a cultura, por fim, atravs da arte, atravs da poesia, seja uma forma de felicidade espontnea que todos ns queremos, que todos ns pedimos, que todos ns temos o direito de ter. Eu s posso dizer amm.

    O Centur no existe

    O Centur no existe. Foi a primeira coisa que ouvi de um funcionrio da BPAV assim

    FOTO: BRENDA RACHIT

  • que cheguei ao local e solicitei uma obra com informaes sobre a histria do lugar. Devo ter feito uma cara de completo descrdito. Como se eu tivesse gritado, em meio quele silncio sepulcral, mais ou menos desse jeito: Oi?! Como assim? Acordei na dimenso errada hoje?, porque ele explicou: O que existe a Fundao Tancredo Neves. Na verdade, nem tem mais esse nome. Agora Fundao Cultural do Par, que inclui o IAP e o Curro Velho. T sabendo? Fiz que sim. Ele continuou: Quando foi fundado, esse prdio era utilizado como Centro de Turismo. Hoje no tem mais o turismo, mas o nome acabou pegando. Trocando em midos: muitas pessoa conhecem como Centur, mas esse nome no o correto h anos. Alguns chamam de Fundao Tancredo Neves, porm ela tambm no existe mais. O que ocupa o prdio da Av. Gentil Bitencourt atualmente a Fundao Cultural do Par. Meio confuso, no ? quase como se a instituio fosse algo

    etreo, amorfo, transcedental. Nomenclaturas parte, inegvel a destacada relevncia do Centur para diversas reas do setor cultural do Par. Acontece que, h alguns meses, as trs instituies pblicas estaduais mencionadas pelo funcionrio da Biblioteca sofreram alteraes administrativas. E o problema que nem toda a populao paraense, inclusive os artistas, faz ideia de se devemos considerar o fato como um ponto positivo ou negativo para o Estado. preciso entender melhor essa histria. Tudo comea com poltica. Em dezembro de 2014, deputados reunidos na Assembleia Legislativa do Par (Alepa) marcaram um processo importante para a cultura paraense. Foi aprovado o pacote da Reforma Administrativa do governo do Par. O documento, que passa a valer este ano, tem por objetivo reduzir as despesas do governo em cerca de R$ 15,6 milhes anuais, diminuindo o nmero de secretarias estaduais de 75 para 55 e extinguindo por volta de 600 cargos comissionados ao associar, extinguir e criar rgos. No caso da nossa cultura, o que primeiramente se criou foi polmica. O motivo: como compactar de forma satisfatria entidades to distintas em objetivos e segmentos quanto o Instituto de Artes do Par (IAP), a Fundao Cultural do Par Tancredo Neves (FCPTN Centur) e a Fundao Curro Velho (FCV) em um nico rgo gerido pela mesma administrao, a recm-criada Fundao Cultural do Estado do Par (que j tem at sigla, FCP, mas carece de misso)? O fato que satisfatoriamente ou no, a partir da fuso, foi institudo um vnculo entre a nova FCP e a Secretaria de Estado de Cultura do Par (SECULT). Na poca, o governador Simo Jatene chegou a afirmar que as atividades promovidas pelas entidades seriam mantidas. Mas como?

    H menos colaboradores envolvidos com a elaborao e a oferta dos projetos das instituies e todas elas esto sob uma administrao nova. Na viso de Michel Pinho, vai comear tudo de novo [...]. Ento, questes que estavam bem definidas voltaram estaca zero. .As bolsas davam oportunidade para as pessoas virem para a capital mostrar e desenvolver o seu trabalho Quer dizer, pela primeira vez no estado a gente tem uma grande poltica pblica que vai ajudar no fomento [cultural] e de uma hora para outra isso some, lamenta. Dina Oliveira, garante: A proposta que continue realmente cada uma [das instituies] fazendo aquilo que da sua expertise, e eliminando esses sombreamentos. Os sombreamentos, segundo Dina, so as reas de interseco dos rgos, ou seja, as atividades em comum que se tangenciavam e talvez se adequem melhor agora compartilhadas. Folheando aqueles velhos recortes de jornais, amarelados pelo tempo e repletos de grafias que j no usamos mais na lngua portuguesa, percebia o quo positivas e romantizadas eram as expectativas sociais em relao ao Centro na poca da inaugurao. A sociedade, a quem entregamos hoje o Centur, quem vai controlar a fundao, uma matria citava o ento governador Jader Barbalho. Paes Loureiro chegou a falar na atuao do rgo enquanto vitrine permanente da cultura paraense e fora legitimadora da importncia cultural das manifestaes de cada municpio. O fato que, no final, tudo tambm termina com poltica: a grega ta politika, a latina res publica, somente manifestada na prtica e em essncia quando os negcios pblicos so dirigidos pelos prprios cidados. Acontece que, no meio desse redemoinho de siglas e nomenclaturas, quem fica tonta a cultura.

  • Apesar de serem trs instituioes, cada uma com um prato forte

    ~

    A ex-dirigente da Fundao Curro Velho, atual presidente da Fundao Cultural do Par, Dina Oliveira, foi procurada pela redao da Na Cuia para explicar os motivos e esclarecer qual a estrutura atual da FCP.

    Ato 6

  • O que aconteceu exatamente com o Curro Velho, o IAP e a Fundao Tancredo Neves?

    [As] trs entidades tinham misses diferentes em algumas partes e similares em outras. A Fundao Curro Velho tem o histrico de um trabalho com cursos, oficinas, tcnicas de arte do ofcio, do atendimento escola pblica, do atendimento a comunidades quilombolas, indgenas, ao interior do estado, com uma linha forte da questo da reciclagem, do reaproveitamento. 70% das vagas dela so dirigidas ao pblico da escola pblica. Hoje, por exemplo, estava at trabalhando tambm com mulheres, mas o foco da misso dela criana, adolescente, at adultos, mas em um trabalho de insero, de iniciao, de primeiro acesso s linguagens artsticas. J o antigo IAP veio com uma misso de dar o segundo passo, o do artista e o da pesquisa. E aqui a Tancredo Neves uma poltica da biblioteca,

    que uma biblioteca muito grande, e de interao cultural, de difuso cultural. Por exemplo, no Curro, ns tnhamos o projeto Choro do Par, que j em um nvel mais profissional, que j podia ser algo da Fundao Tancredo Neves. Temos uma lutheria, que j num nvel mais profissional. J no IAP, at com a questo do Pr-Paz, voc tinha um apelo forte de fazer oficinas para adolescentes, que seria melhor estar, talvez, no Curro. A, aqui na Tancredo Neves tem ainda um projeto que ia para as escolas fazer oficinas, eminentemente da Fundao Curro Velho. Apesar de serem trs instituies, como eu digo s vezes, cada uma com um prato forte, nas sobremesas havia uma tangncia muito grande. Ento o que est acontecendo? O Curro est abrindo agora umas cem oficinas, como ele sempre fez, porque esse o grande trabalho do Curro. Foi para a avenida com as Crias do Curro, mantm as oficinas

    com as mulheres, com o teatro, com serigrafia, com jovem e o Ncleo de Prtica de Ofcio, que a primeira insero de um trabalho de iniciao a gerao de renda do jovem. Depois voc vai pro IAP e voc vai ter outro tipo de iniciao ao mercado de trabalho. Ento, na verdade, a proposta que continue realmente cada uma fazendo aquilo que da sua expertise e eliminando esses sombreamentos, at para que o recurso possa no pulverizar tanto.

    Os processos burocrticos continuam da mesma forma?

    Claro! Essa gesto, pelo menos, est se propondo a fazer o mximo de concursos, editais, bolsas, tentando chegar a um processo mais transparente. E outra coisa a questo deste espao fsico aqui, que ele est realmente carente de uma parte de investimento, de uma reforma arquitetnica e de melhoria dos espaos fsicos.

    CURRO VELHO. FOTO: BRENDA RACHIT

  • Ato 7

    Orquestra de Choro ensaiando na Casa das Artes. Foto: Madylene Barata.

  • Os novos desafios da Casa

    das ArtesDe que forma a recm-criada Casa das Artes pretende manter as aes de pesquisa e experimentao artstica, que consolidaram o Instituto de Artes do Par como instituio relevante para o Estado?

    tempo de arrumar a casa. Quem visita o Centro de Experimentao Artstico e Cultural do Par, o antigo IAP, nota que o rgo o que mais tem mudado com a criao da Fundao Cultural do Par e a fuso das instituies culturais. Na sala da

    coordenao, uma grande planta do prdio exposta em uma mesa simboliza que se vive uma fase de planejamentos, adequaes e reutilizaes dos espaos do Centro. A readequao do espao fsico acompanha a reformulao administrativa.

    Por Vitria Mendes

  • Clia Jacob assumiu o cargo de diretora de artes da Fundao e coordena a Casa das Artes h menos de dois meses. Pergunto sobre as principais alteraes durante esse perodo e ela esclarece: Aqui no Instituto de Artes do Par mudou tudo. No mais Instituto, no existe mais uma presidncia. At o nome ficou por um longo tempo sendo pensado. Ento, primeiro ficou Atelier Nazar, vocs lembram, no ? Depois ficou Casa das Artes- Centro de Experimentao Artsitico e Cultural do Par. Foi uma mudana to de repente que ns precisvamos ouvir um pouco as pessoas para saber o que que poderamos chamar pra c sem perder aquele link com a prpria misso que esse Instituto de Artes teve durante tanto tempo.. A Casa das Artes est submetida s Diretorias da Fundao Cultural. Na prtica, isso significa uma integrao de aes com os outros rgos culturais. Como explica Clia: Se eu vou fazer uma oficina aqui, eu converso com o Diretor de Interao Cultural, converso com a Diretora de Prticas de Ofcio, converso com a prpria presidncia, com a Diretoria Financeira e com a Diretoria de Leitura e Informao. Ento, no existem mais aes isoladas, todas as aes so integradas. Acho que o maior objetivo do governador era esse, que as aes fossem integradas, que os oramentos fossem integrados, e tudo fosse discutido.. No entanto, uma das principais crticas Reforma Administrativa diz respeito

    falta de esclarecimento ao pblico sobre o que iria ser feito com o Instituto de Artes e todas as aes promovidas. Danielle Franco, jornalista e produtora cultural, era assessora de comunicao do IAP. Ela aponta que a notcia da extino do rgo foi uma surpresa para os servidores: A gente recebeu [a notcia] da mesma forma que todo mundo. Ningum foi chamado pra conversar, nem avisado de que tudo ia acontecer. A gente, simplesmente, soube da notcia junto com todas as outras pessoas. Ento, no primeiro momento houve um impacto muito grande porque a gente no sabia de fato o que ia acontecer. A gente soube que o IAP ia ser extinto. Mas hoje eu percebo que h realmente no s um interesse, mas h um projeto do governo pra que o IAP continue mantendo o que ele sempre se props em manter, mas de uma forma mais enxuta administrativamente. A questo que isso no foi explicado pra ningum. As coisas foram acontecendo, sendo feitas e a gente vai descobrindo pelo meio do caminho, critica. O quadro de funcionrios foi bastante reduzido, pois nunca houve concursos pblicos para o IAP, ento, alguns funcionrios eram temporrios e os servidores foram exonerados.

    E j que houve concursos nos anos anteriores para os outros rgos que integram a Fundao Cultural, como o Curro Velho, alguns servidores foram remanejados para a nova Casa das Artes. Questionada sobre a possibilidade de continuar exercendo as aes com qualidade, mesmo com um quadro enxuto e o risco de acmulo de funes, Clia Jacob diz que este o nosso grande desafio. Ento, ns vamos trabalhar com estagirios dentro das reas especficas: alunos de Cinema, Comunicao, Artes Visuais e Tecnologia da Imagem, Letras, Msica e vai ser tambm um espao de aprendizagem para esses alunos. O QUE EST SENDO DESENVOLVIDO HOJE

    As transformaes na Casa das Artes so graduais, mas at ento algumas atividades vem sido mantidas. Em fevereiro, a Casa lanou o Edital de Pesquisa e Experimentao Artstica, que contempla 30 artistas da capital e dos interiores, de todas as reas com uma bolsa no valor de 18 mil reais, durante 7 meses. Alm disso, foi ofertado o curso de HQs e Histria do Cinema, a oficina Poesia - a voz selvagem, e os ensaios da Orquestra de Choro do Par continuam acontecendo.

    GRUPO DE MSICOS NO IAP. FOTO:

    MADYLENE BARATA

  • A Na Cuia perguntou o que a nova gesto planeja para os seguintes projetos:

    - Ncleo de Produo Digital: Embora o site esteja desatualizado, algumas atividades continuam acontecendo. Felipe Pamplona o novo coordenador do Ncleo. Pretende-se contratar estagirios para atuar no projeto. Os equipamentos continuam sendo emprestados aos estudantes de Cinema da UFPA. Alguns equipamentos defasados sero trocados e a parceria com o Ministrio da Cultura ser renovada. Uma mostra de vdeos experimentais ocorre todas as segundas. Tambm se planeja um curso aberto ao pblico na rea de audiovisual.

    - Par Criativo: Parceria entre o governo do Par e o Ministrio da Cultura, a iniciativa visava colocar em evidncia a economia criativa de alguns estados brasileiros. Segundo a gesto, a renovao da parceria depende do MinC, pois as pessoas que trabalhavam no projeto assinaram contrato (encerrados em dezembro) com o Ministrio. Mas h interesse em continuar com o projeto.

    - Prmio de Artes Literrias: ir continuar, mas com o nome Prmio de Literatura da Fundao Cultural do Par. Os autores vencedores da edio anterior tero os livros publicados e esto em fase de produo. Esses livros sairo com o selo antigo do IAP, mas para as prximas edies, pretende-se lanar as obras vencedoras com o selo da Fundao.

    - Bolsas residncias no exterior: O convnio Brasil-Canad, voltado para o intercmbio de artistas visuais paraenses, estava parado desde 2011. H uma reativao prevista para 2015, incluindo uma ampliao para outros pases da Europa, como Portugal. A ideia ainda est em fase de avaliao pela administrao da Fundao Cultural.

    Alm disso, pretende-se desenvolver aes especficas nas reas de Gastronomia, Moda e Design. Outra novidade que ser criada uma loja em uma das salas do prdio, a fim de ampliar o alcance dos livros e outros produtos lanados. Ao lado, ser aberta uma Biblioteca com ttulos especficos nas reas de arte e cultura. Tambm se planeja utilizar uma das salas como Galeria de artes para exposies menores. Foi criado um Ncleo de Edio, que ser responsvel pelos projetos grficos dos livros lanados pela Casa, o que antes era feito de forma terceirizada.

    FOTO: MADYLENE BARATA

  • Histria da misso do IAP

    Idealizado pelo poeta e pesquisador Joo de Jesus Paes Loureiro, o Instituto de Artes do Par surgiu em 1999, durante o governo de Almir Gabriel. Sua misso era servir como um espao de fomento a pesquisa e experimentao para os artistas paraenses e isso era feito por meio de editais, bolsas, oficinas, intercmbios e projetos de Ncleos especficos.

    O estudante universitrio Allan Fernandez j participou de algumas oficinas e cursos ofertados pela instituio e reconhece sua importncia: O IAP sempre teve uma relevncia muito grande para o fomento da cultura no Par, seja atravs de oficinas, bolsas de pesquisa ou mesmo mostras artsticas que aconteciam em suas dependncias.. Para ele, as atividades proporcionadas geraram vivncias positivas: Elas foram

    importantes para ajudar a agregar conhecimento a minha vida, no s profissionalmente. As discusses, os debates e as pessoas que pude conhecer e trocar ideias nos cursos ajudaram nesse processo.

    E pela sua relevncia para a comunidade artstica, que a extino do IAP como rgo autnomo e sua integrao Fundao Cultural, aliada a falta de maiores esclarecimentos, gerou tantas preocupaes.

    Com menos de dois meses de nova gesto, ainda no possvel chegar a concluses definitivas sobre as consequncias a longo prazo da extino do Instituto. Por um lado, a perda de autonomia da gesto da nova Casa das Artes pode tornar os processos mais burocrticos e com a extino da j consolidada marca IAP, a gente perde um

    patrimnio que foi construdo, um patrimnio imaterial. O que vai ser feito? Ser que realmente vai haver uma sensibilidade para manter a autonomia dos rgos? Eu acho que no. Isso eu lamento. Eu, enquanto produtora de arte, vejo que foram dados que dificilmente vo ser mantidos ou recuperados., o que lamenta Danielle Franco. Por outro lado, a permanncia de editais, prmios e criao de novos Ncleos um indicativo positivo para quem estava preocupado com os rumos da Casa. O que no se pode deixar de acompanhar de perto as aes e projetos desse importante espao para o desenvolvimento da arte no Estado, fazendo cobranas consistentes, garantindo que a Reforma Administrativa seja, no fim das contas, uma mudana benfica para o Par.

    FOTO: MADYLENE BARATA