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N'? 7 1972 OUTUBRO EDITORIAL - A nossa vocação : testemunhas do Deus vivo . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . p. 1 A lamllia cristã na sociedade . . . . . . . . . . . . . . p. 3 O compromisso cristão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 8 O Dia da Criança .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. p. 10 Outubro, mês de Rosário - uma devoção atualizada .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. . .. .. .. p. 13 Equipe, escola de líderes .. .. .. .. .. .. .. .. .. p. 15 O método Cooper e as ENS .. .. .. .. .. .. .. .. . p. 16 Prece de uma convertida .. .. .. .. .. . .. .. .. .. p. 18 Debate sobre a regra de vida . . . . . . . . . . . . . . p. 20 Conversa de barbearia .. .. . .. .. .. .. . . .. .. .. p. 23 Dever de sentar- se - comunicação . . . . . . . . p. 25 Notícias dos Setores .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. p. 26 Encontro reg ional em Taubaté . . . . . . . . . . . . . . p. 31 Oração para a reunião .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . p. 32

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N'? 7 1972

OUTUBRO

EDITORIAL - A nossa vocação : testemunhas do Deus vivo . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . p. 1

A lamllia cristã na sociedade . . . . . . . . . . . . . . p. 3

O compromisso cristão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . p. 8

O Dia da Criança .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. p. 10

Outubro, mês de Rosário - uma devoção atualizada .. .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. . .. .. .. p. 13

Equipe, escola de líderes .. .. .. .. .. .. .. .. .. p. 15

O método Cooper e as ENS .. .. .. .. .. .. .. .. . p. 16

Prece de uma convertida .. .. .. .. .. . .. .. .. .. p. 18

Debate sobre a regra de vida . . . . . . . . . . . . . . p. 20

Conversa de barbearia .. .. . .. .. .. .. . . .. .. .. p. 23

Dever de sentar-se - comunicação . . . . . . . . p. 25

Notícias dos Setores .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. p. 26

Encontro regional em Taubaté . . . . . . . . . . . . . . p. 31

Oração para a reunião .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. . p. 32

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Nota da Redação: No dia em que o material deste número da Carta Mensal dava entrada na tipografia, o Con. Caffarel chegava ao Brasil. Por isso é que não publicamos nada sobre a sua viagem, os seus encontros especiais de Itaici e Florianópolis e gerais de São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro. Pedimos aos equipistas que aguardem, pois vai ser preparado um número especial da Carta Mensal sobre esta histórica visita do fundador do nosso Movimento.

Revisão, Publicação e Distribuição pela Secretaria das

Equipes de Nossa Senhora no Brasil.

04530 - Rua Dr. Renato Paes de Barros, 33 - Te!.: 80-4850

04530 - SAO PAULO, SP.

- somente para distribuição interna -

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EDITORIAL

A NOSSA VOCAÇÃO: TESTEMUNHAS DO DEUS VIVO

Somos sempre chamados a um exame de consc1encia a res­peito de nossa condição de cristãos. Quando ouvimos alguém, perguntado por sua religião, responder: "ateu", sentimos algo diferente, algo estranho.

Quanto a nós, dizemo-nos "cristãos" e, não poucas vezes, não examinamos o que isto implica em atos concretos. Daí o não se diferenéiar muito, na ordem concreta do dia a dia, a vida do cristão e do pagão. Sabemos que o dizer não interessa muito e sim o ser e agir em conseqüência. "Não é o que diz: Senhor, Senhor, que entrará no reino dos céus e, sim, aquele que faz a vontade do Pai que está nos céus". (Mt. 7, 21).

Falando a respeito da "razão de ser das Equipes de Nossa Senhora", os Estatutos afirmam que os casais pertencentes ao Movimento "ambicionam levar até o fim o compromisso de seu Batismo", "querem viver para Cristo, com Cristo, por Cristo" "entregam-se-lhe sem condições". . . e outras muitas coisas bo­nitas, às vezes não conhecidas em profundidade e não bem vi­vidas.

Isto tudo é colocado com a marca do otimismo, muito em­bora as palavras indiquem quase o contrário. Na verdade, nosso otimismo reside na esperança que alimentamos. Esperança de Equipes de Casais, construídas por gente que luta, que tem de­feitos, etc., etc., mas possuidora também de preocupação com a santidade, com a constituição da família cristã, preocupada com a sorte de outros lares.

É lógico que não estamos na estaca zero. É evidente também que andamos urgentemente necessitados de uma parada, para re­visão de posições e atitudes. Pode acontecer que estejamos nas ENS sem sermos equipistas, tal nosso divórcio daquilo que o

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Movimento pretende. Mais, este divórcio pode existir, não de­vido à nossa limitada participação e sim porque não estamos de acordo, em sintonia, com o que o Movimento pretende e com os meios que nos propõe para atingirmos o objetivo.

Daí a necessidade de parada-exame-de-situação, para poste­rior decisão que indique comprometimento, engajamento aos ideais do Movimento.

Na conferência pronunciada em Roma, no decorrer da pere­grinação das ENS, "As Equipes de Nossa Senhora em face do ateísmo", Henri Caffarel coloca-nos a questão básica que a pró­pria Equipe responsável do Movimento em plano internacional se fez: "Qual é exatamente a vocação das Equipes de Nossa Senhora ?" Depois de focalizar o problema do ateísmo - ver­dadeiro desafio lançado aos cristãos - Henri Caffarel aponta para a resposta que os casais devem dar-lhe: "é do vosso amor con­jugal, é do vosso lar que o mundo ateu, sem o suspeitar, espera um testemunho essencial". Testemunho que deve ser dado pela vivência e pelas palavras.

A missão das Equipes de Nossa Senhora reside, pois, em formar casais "sedentos de Deus". Famílias apaixonadas por Deus, ávidas por conhecer, encontrar a Deus. Isto tudo vivido na vida do dia-a-dia. Com simplicidade, com naturalidade, com amor, à maneira despretensiosa, mas eficaz, do fermento.

Os casais do movimento conseguirão se transformar em tes­temunhas vivas de Deus num mundo pagão, diz Caffarel, atra­vés da "imitação de Jesus Cristo na vida cotidiana, através da escuta da Palavra de Deus e da prática da oração mental".

Aí está o grande programa que nos é proposto. Vamos, de fato, parar um pouco. Olhar para nós, para nossa família. Es­tamos amando a Deus ? Nós o buscamos, com seriedade, atra­vés da leitura meditada de sua Palavra e da oração ? Temos, num gesto transbordante de amor, nos dado ao apostolado fami­liar para levar, por nosso exemplo e palavras, outras famílias à vivência do amor de Deus ?

As ENS são, não resta dúvida, um meio para nossa trans­formação em Cristo; capacitam-nos para o apostolado conjugal e familiar. É preciso perguntar a nós mesmos se nos sentimos chamados por Deus para abraçar este meio. Em caso positivo, de fato arregaçar as mangas, conscientes de que "ninguém é obri­gado a ingressar nas Equipes ou nelas permanecer. Quem delas fizer parte, porém, deve com lealdade fazê-lo francamente".

Côn. Angelina Sândalo Bernardino Conselheiro Espiritual do Setor de Ribeirão Preto

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A PALAVRA DO PAPA

A FAMfLIA CRISTA NA SOCIEDADE

A PRESENÇA ATUANTE DA FAMíLIA CRISTA NA SOCIEDADE ATUAL

Em principio de julho realizaram-se na França as "59~ se­manas Sociais" que anualmente vêm abordando os mais graves e difíceis problemas da nossa sociedade. Este ano, o tema estudado foi a questão relativa ao casal e à família nas suas relações com a sociedade humana atual.

Ao ensejo desse certame, Paulo VI enviou uma mensagem ao Presidente do Encontro, por intermédio do Secretário de Estado, Cardeal Jean Villot, e que foi publicada na íntegra no Osservatore Romano (edição portuguesa de 16-7-72) .

Rico de conteúdo, este documento merece ser conhecido .

Aqui procuramos resumi-lo.

São numerosos os textos oficiais da Igreja sobre o casa­mento cristão. Entretanto, se há no Magistério da Igreja certos aspectos essenciais e imutáveis que determinam o com­portamento fundamental do cristão, tal comportamento não somente pode variar em função do espaço e do tempo, como principalmente pode levar aos casais uma certa confusão, como acontece em nossos dias com a proliferação de correntes do pensamento que vêm abalar a instituição da família e, com isto, abalar também a sociedade . Nos últimos anos

"Houve uma evolução rápida e profunda em todos os meios soc1a1s. A transformação não provém só de um ambiente dife­rente ou de outras condições de existência das famílias, ela ins­creve-se nas novas questões postas pelos progressos da biologia e das ciências humanas e corresponde a uma nova afirmação de autonomia pessoal.

O patrimônio cristão permanece sempre, embora seja formulado em esquemas e modelos que são freqüentemente postos em questão por motivo das transformações, como acontece, por exemplo, na maneira de os pais tratarem os filhos ... (Por isso) os princípios devem ser redescobertos no seu significado e reela­borados nas suas conseqüências".

Assim, o documento assinala pontos fundamentais a serem postos em evidência e que ditam as orientações de vida, a fi­nalidade e as responsabilidades, quer dos cônjuges quer da família, em relação aos membros e à sociedade.

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Relações entre o homem e a mulher

As responsabilidades comuns do homem e da mulher nos diferentes setores da vida familiar, profissional, social e po­Utica não decorrem simplesmente da diferenciação sexual.

"O ser corporal de cada um manifesta duas maneiras muito originais de o ser humano se realizar no mundo, segundo o de­sígnio primordial do Criador: "Ele os criou homem e mulher" (Gen. 1, 27) .

. . . Por outro lado, na umao entre o homem e a mulher não é porventura o problema fundamental das relações humanas e da doação natural que se apresenta e encontra a sua máxima expressão ? Aqui, a atividade criadora, a liberdade, a relação pessoal com o outro são vividas através das relações corporais entre dois seres complementares e, nesta condição carnal racio­nalizada, a pessoa humana é chamada a encontrar a unidade mis­teriosa e fecunda do espírito e do corpo.

"0 acolhimento de um outro diverso de si próprio" per­mite uma profunda comunhão das pessoas . Mas tal unidade entre o corpo e o espírito,

" não constitui um dado adquirido desde o início e de uma vez para sempre, mas realiza-se ao longo de toda uma vida e recebe um inegável estímulo da decisão de uma união fiel e indissolúvel e da instituição que a garante".

Relações entre os cônjuges e a família

O amor que nasce do encontro de um homem e de uma mulher, não fica limitado ao casal, mas abre-se para uma realidade maior do que eles, a famflia . Entretanto

" os nossos contemporâneos. . . estariam hoje inclinados a exaltar o casal em detrimento da instituição familiar ... Uma im­portante tarefa para os cristãos é a de se esforçarem para ama­durecer, na sua raiz, a unidade destes dois aspectos, de modo que continue a inspirar as suas decisões e a sua conduta".

Nessas poucas palavras, o documento aponta uma das causas da deterioração da famflia na sociedade atual, ou seja, a re­cusa do filho, que leva ao esvaziamento dos lares daquilo que

" a honra e a alegria dos pais e, ao mesmo tempo, repre-senta um constante convite ao desapego. Este desapego que co-

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meça ao nascer, prolonga-se ao longo de todo o tempo da edu­cação que visa, no amor, ao desenvolvimento de uma persona­lidade consciente e livre ...

" ... com maior razão, o fruto de seu amor, quando é con­cebido, foge da arbitrariedade de sua aceitação ou de sua recusa: ele já espera somente o seu respeito, a sua proteção, a sua ter­nura, a sua ajuda".

Relações entre pais e filhos

É o mais longo capitulo do documento. Depois de constatar que "hoje maiores dificuldades, às vezes

angustiantes, pesam sobre a relação entre pais e filhos", reco­nhece que:

"Para remediar uma semelhante crise, não basta a afirma­ção dos mais sólidos princípios. Não é a coragem nem o afeto que faltam de modo primordial. O que acontece é que os pais se encontram freqüentemente oprimidos por tantas incertezas sobre a razão profunda de sua tarefa de pai e mãe, que se deixam arrastar para uma espécie de demissão prática.

Quanto aos filhos:

"Na medida em que crescem, são presa fácil de uma crise de confiança que, para além dos pais, se estende a todas as pes­soas maiores. Sofrem por não chegar à autonomia. . . pressen­tem que a sociedade dos adultos os deixa numa grande insegu­rança perante o seu futuro e numa profunda incerteza em rela­ção às razões de viver.

E no entanto, diz o documento, o resultado de algumas convincentes análises, permite afirmar a importância da auto­ridade no campo da educação, assim como nos outros setores .

" na medida em que não se reduz a um papel de sal-vaguarda de um conformismo moral exterior, ou de defensora de uma ordem social e econômica fundada em razões discutíveis.

É fundamental, nesta ordem de idéias, o papel dos pais e, em particular, a. pessoa do pai. Desempenham eles uma

" missão capital original, constituída por três elementos inseparáveis:

- uma autoridade que não teme a firmeza;

- o testemunho de um amor sincero e pessoal que por si mesmo desperta no filho o desejo de o superar;

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- o estabelecimento de um diálogo que ensine, pelo menos ao adolescente, a maturar uma decisão em comum.

Certamente, nem todas as dificuldades ficarão resolvidas com um novo estilo de relações. Especialmente no plano religioso, porquanto a fé não pode ser transmitida por herança.

"A família cristã deve fazer todo o possível para despertar na nova geração uma adesão pessoal a Cristo . . . A sua missão, semelhante à da Igreja, consiste em ser o lugar privilegiado do testemunho do amor de Deus. Cabe aos jovens secundá-lo livre­mente, respondendo à graça; e aos pais corresponde semearem na esperança, com a ajuda e colaboração de amigos, adultos ou jovens, ou de comunidades mais amplas que o lar.

Nessa altura, o documento põe em realce a importância dos agrupamentos familiares :

"A família necessita de um ambiente de relações de afeto, . de amizade, de ajuda recíproca... Verifica-se em nossos dias

uma busca comunitária que merece a atenção . . . e que está em conformidade com a lógica da sociedade conjugal, cuja abertura para um terceiro não acaba nos próprios filhos. Sois cha­mados - diz o documento - a refletir séria e profundamente para chegar a definir com prudência e a determinar com acerto as modalidades desta abertura, que constitui um fator de equi­líbrio e de expansão, além de ser um dever.

O lar vem a ser assim, "o lugar privilegiado, onde podem ser instauradas as relações de união e fecundidade , superando a paixão e a agressividade", com o que a sociedade inteira virá a ser beneficiada. As sociedades econômica e politica regem-se certamente segundo um modelo diverso da família e enfrentam problemas específicos. Mas

"Sem dúvida, a fraternidade, fruto da paternidade e da ma­ternidade, dá origem a uma capacidade de conciliação e de uni­dade que influi em todos os níveis da vida social .

A família e a sociedade

As muitas tensões em que se desenvolve a vida em mcie­dade, são vividas, por assim dizer em ponto pequeno, dentro da família, que se torna assim o lugar privilegiado para um verdadeiro treino, no amor e na esperança, que irá permitir a sua superação mais tarde.

"Nesta realidade é necessário ver não só a fonte de senti­mentos generosos, mas também o princípio objetivo de uma gê-

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nese humana capaz de exercer uma função decisiva e insubsti­tuível no seio da sociedade.

Em vista disto, cabe ao Estado tomar consciência do papel da família como fonte geradora -aas melhores energias criado­ras do tecido social. Assim,

"não deverá limitar a sua ajuda às condições econômicas de sua existência. . . (mas) favorecer o seu desenvolvimento cultu­ral, a sua vitalidade social, a sua sanidade moral e espiritual.

O matrimônio cristão

As reflexões propostas até aqui são fundadas na razão e podem ser assimiladas por todos os homens . Mas para o cris­tão, sob a luz da fé, têm um sentido ainda mais profundo.

"Para ele, a relação entre o homem e a mulher manifesta-se como o prolongamento, em certo sentido, até aos confins do uni­verso, da Aliança do Filho de Deus com a Igreja, Sua Esposa, pela qual Ele se encarnou e deu a Sua vida, e em virtude da qual fomos congregados num só corpo.

" .. . Aquilo que a reflexão autenticamente humana, sobre a relação entre o homem e a mulher e sobre a família, apresenta como uma exigência difícil, acaba por ser, na fé e na esperança cristã, o voto mais precioso.

A indissolubilidade do matrimônio

Impossível resumir este final ; vamos apenas transcrever al­guns trechos, lamentando a escassez de espaço.

"Para muitos homens de hoje, impressionados pela preca­riedade de nossa condição e pelas circunstâncias de nosso tempo cheio de incertezas, um compromisso de caráter definitivo pa­rece impossível e até contrário à razão .

. . . Entre este pensamento e o sacramento do matrimônio indissolúvel existe, porém, um umbral que só se atravessa em Cristo e por Ele.

. . . Só Ele pode suster os esposos perante as transformações que surgem, durante o curso de uma longa história, nos senti­mentos, nas idéias, nas qualidades e nos defeitos, nos próprios comportamentos.

. . . Neste ponto reside o segredo e o trampolim do dina­mismo do seu amor, de um amor que constitui neste mundo o testemunho do amor indefectível de Deus".

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O COMPR.OMISSO CR.ISTÃO

Reproduzimos aqui na íntegra um texto de Frei Almir Ribeiro Guimarães, o.f.m., publica­do na revista "Renovação Cristã". Por ser Frei Almi7' Conselheiro espiritual de equipe e de Setor, as suas palavras se revestem de um sig­nificado especial para nós.

É com grande satisfação que vemos surgir entre nós grupos de cristãos conscientes da necessidade de assumirem compro­missos sérios e concretos na vida dos homens. Grupos interessa­dos em viver o cristianismo. Estamos nos convencendo de que sem uma ação concreta em vista do bem dos homens nosso cristianismo fica sendo apenas de palavras. Infelizmente ainda temos entre nós muitos católicos que não entenderam as exi­gências de uma religião, de uma fé que tem como norma absoluta o amor dos outros.

Há certos cristãos de domingo que se contentam com o mí­nimo necessário. Fazem mais ou menos aquilo a que são obri­gados. Consideram-se satisfeitos com uma missa mal e mal as­sistida e com certas práticas religiosas misturadas de superstição. Separam completamente a vida da religião. A religião é uma espécie de mundo à parte, de roupa bonita que se veste de quan­do em vez, mas que não tem repercussão na vida de todos os dias. A fé não atinge a vida. Evidentemente tais cristãos estão ainda à porta do cristianismo.

Há outro grupo de cristãos mais conscientes, que pertencem a algum grupo de reflexão ou movimento de Igreja, mas que têm uma atitude bastante curiosa e uma maneira "sui gêneris" de "tranquilizar" sua consciência. Têm o costume de reunir-se, de falar das coisas da fé, de discutir temas religiosos. Certa­mente isto é excelente e desejável para todos os cristãos. O que acontece_, no entanto, é que estas pessoas são capazes de fazer belas e longas dissertações sobre a parábola do samaritano, sem compreender que ela exige um compromisso sério no mundo. Consideram-se entendidos em religião, competentes em matéria de fé. Mas isto é apenas no plano intelectual. Fazem uma e outra ação mínima e nas discussões lembram os seus feitos como se fossem grandes maravilhas. Quando saem de uma dessas reu­niões se sentem justificados. Uns têm a seguinte reflexão inte­rior: "Estou realmente progredindo. Em vez de ficar em casa vendo televisão, divertindo-me, estou "perdendo o meu tempo" aqui nesta reunião. Realmente eu me preocupo com a religião. Creio que os meus colegas de grupos estão maravilhados de ver como sou capaz de dissertar sobre a parábola do bom samari-

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tano". Palavras sem ação! Não há compromisso entre fé e vida. Costumam dar esmolas a serem entregues aos pobres. Costu­mam até mesmo falar com gente simples, mas não se trata de um esforço de dom sério. É dom de coisas. Não é dom de pes­soas. Não querem tirar as últimas conseqüências.

Há um certo tipo de pessoas que vivem mais ou menos a vida dos sacramentos. Que chegaram a fazer certos atos mais ou menos louváveis e justos. Mas que acreditam já conhecerem tudo. Quando ouvem um evangelho, dizem então: "Isto eu já ouvi milhões de vezes. Em tal encontro já se falou disso. O Padre fulano nos fez um retiro sobre este tema. Já estou can­sado de ouvir este assunto". Quando a gente vai examinar melhor a vida dessa pessoa vemos que não realizou nada de concreto no compromisso da caridade para com os homens. Sabem intelectualmente. Dizem que conhecem, mas não prati­cam. Não tiram as conseqüências! Vivem a mediocridade de uma vida de coisas artificiais e superficiais e crêem que estão na 1rilha certa do evangelho de Jesus.

Outras pessoas ainda acham que muitas coisas do evangelho são só para padres e freiras. Tomemos um exemplo. Os evange­lhos sinóticos, Lucas em particular, falam com insistência nas qualidades do discípulo de Cristo. Renúncia, pobreza, despren­dimento, tempo para missão, são exigências universais. Na me­dida em que o cristão chegar a viver um pouco isto começará real e praticamente seu compromisso no mundo. Dizem então certas pessoas: "Este ensinamento não é para nós. Isto é para os padres e freiras. Nós somos leigos e temos outros critérios". Quando começam a sentir as exigências do evangelho, "tiram o corpo fora" e justificam-se com razões que proclamam serem muito justas.

Assim sendo, tendo a impressão de serem religiosos, acham que podem viver, por exemplo, muitos momentos de vida sem cristianismo. Cobram taxas mais ou menos vultuosas por seus trabalhos. Para tranquilizar a consciência dizem então: "Mas eu, eu perco meu tempo discutindo e rezando em grupo!" Diante dos escândalos da miséria dos outros, tranquilizam-se dizendo: "Eu costumo dar um quilo de batatas para a minha vizinha toda semana. Já fiz a minha parte. Agora aos outros!".

Sabemos que tudo isto são caricaturas da fé cristã. Sabe­mos que isto não pode ser expressão de uma religião que se diz voltada para o compromisso sério com os outros e com Deus. Não negamos que certas pessoas, de certos grupos, têm a melhor das boa-vontades, mas nos parece capital que todos meditemos seriamente na qualidade real e séria de nosso cristianismo que tem que se comprometer. Ou somos cristãos ativos ou não somos cristãos.

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NOSSOS FILHOS

O DIA DA CRIANÇA

A importância de ser criança

Em um número bastante grande de países, todo o Terceiro Mundo, uma significativa porcentagem de população é consti­tuída de crianças. Neles, de modo particular, o futuro está sus­penso ao cuidado que se tiver com sua infância. Neles, mais ainda que nos outros, o investimento realmente valioso e urgente de verdade é o investimento na criança: sua saúde, sua prote­ção, sua educação sobretudo .

Tenho em mãos uma breve síntese das conclusões da "White House Conference on Children" que há pouco mais de um ano reuniu em Washington quatro mil personalidades americanas -médicos, psicólogos, educadores, pais, pastores, magistrados -ligados a organismos que se dedicam à infância. Transparece no relatório a angústia dos homens com alguma parcela de respon­sabilidade por um País que tem medo de haver perdido suas crianças e se pergunta como recuperar as que estão nascendo hoje. E no entanto é um país onde são numerosas e eficientes as instituições voltadas para a infância.

Talvez seja este o problema da infância neste tempo: nunca se falou nem se escreveu tanto sobre a criança, mas também nun­ca se hesitou tanto sobre o modo de tratá-la. Temos de fazer muito esforço ainda para compreendê-la em nosso tempo como um ser original, não como miniatura de gente grande. Para não desfigurá-la sob a transferência indébita de nossos próprios dis­túrbios, de nossos fantasmas interiores, de nossas frustrações. Para entender que a importância que ela espera que lhe demos não é a de satisfazer-lhe todos os caprichos ou evitar-lhe todos os sofrimentos - mas a de ajudá-la a ser e a vir a ser.

SOS: Crianças em perigo!

Não é nada alentadora a lista dos perigos que ameaçam a infância nesta virada de civilização. Uma imensa geração de crianças, filhas de um século que está nascendo, enfrenta riscos sem precedentes.

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O risco de crescer em um ambiente de agressividade e vio­lência, de instintos de morte, como é o nosso. Ambiente gerado pela competição, pela luta por sobreviver.

O risco de não ter um lar organizado, sadio e equilibrado, que lhe comunique plenitude afetiva e segurança. Recente es­tatística emanada de órgãos oficiais revela que 72 sobre 100 crianças na América Latina nascem de uniões meramente con­sensuais, sem suporte legal, nem sentimental, nem religioso, fa­dadas a breve decomposição, sem segurança, carentes afetiva­mente, matéria fácil para toda sorte de desajustes emocionais, desordens psíquicas, problemas pedagógicos, marginalidade, de­linquência infantil e juvenil, etc.

O risco de absorver as sugestões altamente negativas, os an­tivalores que, em concorrência desleal com a Família, os meios de comunicação social e outros agentes educacionais lhe minis­tram diariamente.

O risco de se sentir rejeitada e punida por uma sociedade despreparada para integrar e assimilar a criança com o indis­pensável respeito às suas exigências, aspirações, expectativas e direitos.

O risco de desproteção. O número de menores abandonados, filhos de ninguém, é bem maior do que temos a coragem, o rea­lismo e a humildade de admitir em nossos países. E grande é a dificuldade em atendê-los, malgrado os esforços dos governos e a boa vontade dos particulares.

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Atenção ! Crianças brincando

Os cartazes de advertência que o Departamento de Trânsito põe na proximidade das escolas e dos parques - Cuidado: Crian­ças ! - imagino que se deviam colocar também à frente e à vista de todos quantos temos alguma pequena ou grande responsabi­lidade na condução do mundo: "Dirija com cuidado! Crianças brincando. Crianças na estrada".

É um dever que têm todos os que orientam o mundo, de conhecerem mediante uma abordagem cada vez mais séria e mais científica de seus problemas, as exigências da criança hoje, e de lhes oferecerem uma resposta sincera e realista.

São preciosas todas as instituições que de algum modo, em todas as esferas, se dedicam à problemática da infância. Têm imenso valor os órgãos de educação ou reeducação das crianças normais ou subnormais, ajustadas ou problemáticas.

Nada porém substitui a Família. Esta é que é chamada a dar à criança, não somente o primeiro ambiente no qual ela co­meçará a desabrochar biologicamente, mas sobretudo o quadro humano, de afeto, confiança, proteção, liberdade no qual ela poderá crescer como pessoa autônoma, senhora de seu destino. Mais ainda: na Família é que ela se socializará . adequadamentei isto é, fará o aprendizado tranquilo e pleno da .vida em comui nidade, que lhe permirá entrar na grande sociedade, nem sempr~ bastante acolhedora, sem o perigo de ver-se marginalizada. i

O Dia da Criança é para nós um desafio. Ele finca e~ nossa consciência de adultos a pergunta essencial que gostamor;; de escamotear: O mundo que estamos construindo é próprio para menores ? É' habitável para as crianças ? Permite à infânci~ apostar no futuro ?

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Foi um progresso termos diminuído a mortalidade infantil:. Mas e agora ? Somos capazes de dar às crianças razões para a vida e alegria de viver ?

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D. Lucas Moreira Neves (Transcrito de "0 SAO PAULO")

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OUTUBRO, M~S DO ROSARIO - UMA DEVOÇÃO ATUALIZADA

Estamos em outubro, mês consagrado à devoção do Rosário, devoção esta por muitos considerada como superada, prática de­satualizada e em voga na Igreja do passado.

Felizmente esses "muitos" estão enganados. Nada menos de 15 papas recomendaram a devoção do Rosário, e como bem acen­tuou o Concílio Vaticano II: "Dê-se grande importância a essa devoção para com Maria, como o Magistério recomenda no de­curso dos séculos". (Lumen Gentium)

Em época recente - 29 de junho de 1968 - a Santa Sé concedeu Indulgência Plenária a quem reza o Rosário ou o terço na igreja, em família ou numa associação religiosa.

O atual Pontífice Paulo VI, evocando o seu antecessor Pio V, patrono da devoção do Rosário, disse:

"O Rosário com as formas tradicionais ou com outras recen­tes adaptações às necessidades do tempos atuais, autorizadas pela Autoridade legítima, seja verdadeiramente, conforme o desejo do nosso querido predecessor João XXIII, "uma grande oração pelas necessidades ordinárias e extraordinárias da Igreja, das Nações e do Mundo inteiro".

A que recentes adaptações do Rosário, autorizadas pela Au­toridade legítima, se refere o Papa atual?

Muitos estudiosos das coisas da Igreja e vários religiosos preocupam-se com as críticas sobre a devoção do Rosário, ou seja a "reza do terço", surgidas ultimamente, baseadas a maioria na monotonia da repetição das Ave-Marias que quase sempre pro­duziam um fundo musical, predispondo à sonolência aqueles que na realidade desejavam louvar com todo ardor a Mãe San­tíssima.

A figura internacionalmente conhecida que foi o Padre Lebret, já em 1954, propunha "com temeridade" (expressão sua) nm rosário para cada dia da semana, com textos evangélicos ti­rados, inclusive, da vida pública de Jesus.

Também dois padres dominicanos franceses, do "Centro Na­cional do Rosário", de Toulouse, na França, publicaram: "O RO­SARIO ATUALMENTE?" Trata-se de uma reformulação do Ro­sário, na qual as "Ave-Marias", os "Glória ao Paí" e os "Pai-Nos-

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sos", rezados no terço, em vez de servirem de fundo musical à meditação dos mistérios, passam a se entrosar na leitura de um texto bíblico, despertando a atenção dos participantes para o ple­no sentido do seu conteúdo.

Para se conhecer integralmente essa reformulação na recita­ção do Rosário, recomendamos a recente publicação das Edições Paulinas, da autoria de Frei Alberto Chambert, padre domini­cano, titulada: "Evangelho para rezar (O Rosário atualizado)".

Nessa atual recitação do Rosário não se rezam mais os tra-dicionais três terços, mas sim, sete grupos de cinco mistérios:

- mistérios alegres da encarnação

- mistérios do trabalho humano

- mistérios da palavra divina

- mistérios da misericórdia

- mistérios da morte redentora de Cristo

- mistérios da vida gloriosa

- mistérios da Igreja em marcha.

O Rosário assim recitado atinge o clímax de uma paraliturgia pois, além dos que simplesmente acompanham as orações, há um celebrante e um leitor. No opúsculo há ainda indicações sobre as orações das Ave-Marias, em número de cinco, uma Santa-Ma­ria e um Glória ao Pai em cada mistério e ao final do quinto vem a recitação do Pai Nosso; em cada mistério, o leitor por três vezes faz a leitura de trechos escolhidos do Evangelho e o ce­lebrante intervém também por 3 vezes.

A primavera da Igreja, despontada após o Concílio Vaticano II, que entre outras coisas produziu a beleza, a imponência e a profun­didade da missa participada, também está atualizando as grandes devoções da nossa história religiosa, entre elas a recitação do Ro­sário, tradicional na família brasileira.

Aproveitemos pois a inspiração daqueles que meditam sobre as coisas da religião e recomendam a necessidade de sua atuali­zação, como no caso da devoção do Rosário de Maria.

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PALAVRAS AOS EQUIPISTAS

EQUIPE, ESCOLA DE LíDERES

Nossas Equipes têm a obrigação de formar líderes cristãos, esclarecidos e ativos, que se comprometam em vários setores da Igreja e da sociedade. E para isso a Equipe proporciona diver­sos meios.

O líder cristão deve conhecer a realidade e julgar tudo à luz do Evangelho. Por isso é necessário conhecer o Evangelho, estudar, refletir e rezar. O Movimento nos convida sem cessar a tudo isso: tema de estudo, leitura da Carta Mensal, meditação do Evangelho, oração pessoal, retiro anual, encontros e pales­tras, etc ...

Mas o líder cristão não é simplesmente aquele que tem idéias, tem também capacidade de agir. A ação supõe muitas quali­dades: sentido da responsabilidade, pontualidade, previsão, dom de si, disciplina, exatidão no cumprimento das tarefas, perseve­rança apesar das dificuldades, etc.

A Equipe, com as suas exigências, nos ensina aos poucos essas qualidades. Temos que observar a regra de vida, assumir várias responsabilidades na Equipe ou no Movimento, ser fiéis no cumprimento de nossas tarefas, dirigir uma reunião, redigir relatórios, perseverar e aprofundar-nos. Isso não é sempre fácil. Aqui aplica-se a palavra de Cristo: "Muito bem, bom e fiel servo, já que foste fiel no pouco, eu te confiarei muito". (Mt. 25, 21).

O líder cristão não é aquele que pode fazer algumas ações bri­lhantes, mas aquele que no dia a dia assume as suas responsa· bilidades e tarefas e cresce na perseverança.

Pe. Alberto Boissinot Conselheiro Espiritual do Setor de Marília

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O MÉTODO COOPER E AS E.N.S.

O doutor Kenneth Cooper, preocupado com a capacidade vital dos homens, pesquisou por anos a fio quais as condições melhores em que o organismo pode, vencendo as adversidades do ambiente, obter o mínimo de dispêndio e o máximo de apro­veitamento.

Sem introduzir nenhum exercício físico revolucionário, ape­nas racionalizando os já conhecidos, concluiu que sendo o homem um animal aeróbio, quanto mais oxigênio o seu organismo rece­ber mais flexionarão seus músculos, mais suas artérias e suas veias aumentarão de calibre e seus capilares triplicarão, possibi­litando assim maior circulação sanguínea e maior contacto do oxigênio com o organismo.

Assim foi que os astronautas conquistaram a lua.

Assim foi que os brasileiros sagraram-se tricampeões do mun­do, no México.

Entretanto para chegar-se ao ponto ideal, pleno de aprovei­tamento, há necessidade de um período de adaptação, há neces­sidade de, no princípio, diariamente, dedicar 12 minutos de con­tinuado exercício ao ar livre (andar, correr, pular, nadar) e de uma dieta alimentar, onde os alimentos ingeridos contenham ca­lorias que sirvam apenas para consumo - a receita é pois apa­rentemente fácil; em todos os lugares ouve-se falar dos discípu­los de Cooper, daqueles que se preocupam com o bom estado físico do corpo.

Ocorre que nossa vida não se resume apenas ao aspecto es­tético e orgânico- há o mais importante deles que é o espiritual.

Temos dado à espiritualidade o verdadeiro lugar que ela me­rece?

Por que não aplicamos o "Método Cooper" também ao nosso aprimoramento espiritual, especialmente neste ano, em que nos foram dados, não 12 minutos, mas 12 meses de preparação, 12 meses de leitura diária dos Evangelhos, de meditação, de revisão de vida, de testemunho de felicidade conjugal a este mundo di-

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vor cista, 12 meses enfim de demonstração de caridade, de mais amor ao próximo?

Há, não resta dúvida, vanos obstáculos a serem vencidos -c nosso orgulho, a nossa tibieza, o nosso respeito-humano, o nosso egoísmo - mas eles desaparecerão progressivamente à medida em que formos obtendo melhores "pontos" e com isso haverá mais alegria na nossa vida, mais luz na nossa inteligência, mais felicidade no nosso lar e mais transbordamento de amor.

Haverá até mais disponibilidade de tempo para a colabora­ção com o Movimento; muito apostolado poderá nascer.

Tudo é questão de começar, de auto-determinação para ini­ciar o "Método" e fazer dele uma regra de vida para, paulatina­mente, atingir no fim - a opção.

A primeira contagem de "pontos" deverá ter sido feita em setembro, quando o próprio Cônego Caffarel, deslocando-se da França, veio sentir de perto a "capacidade espiritual" de cada um, de cada equipe. Terá encontrado, por certo, uns que já se encontram aptos, mas também irmãos que não vêm conseguindo boas "marcas" no seus exercícios; seus músculos ainda se encon­tram entorpecidos e rijos, têm pouco fôlego; talvez esses, no seu comodismo ou na sua indiferença, tenham se esquecido de que o sucesso do "Método" reside principalmente na boa alimenta­ção; esqueceram-se, coitados, de que o melhor alimento que existe é o Pão da Vida- a sagrada Comunhão- o qual dará não só as "calorias" indispensáveis, mas também todo o calor de que uma vida precisa para manter-se e transbordar-se.

Ainda há tempo. Não tenhamos dúvida, amigos; com os "exercícios" progres­

sivos e com esse "alimento", conseguiremos todos chegar até o fim da trilha e, no auge do nosso aprimoramento, iremos dizer com muita alegria, quando formos interpelados por Deus:

- Missão cumprida !

- Ficamos com Nossa Senhora!!!

I rene e Dionísio Casal Responsável pelo Setor de Taubaté

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PRECE DE UMA CONVERTIDA

antes e depois do seu encontro com Deus

Deus ! olha por minha alma ! Necessito dela pura e certa, para acompanhar-me nas horas

em que deveria procurar consolo no Teu peito onipotente.

Faze que eu consiga, antes de odiar, lutar tenazmente comi­go mesma, contra a força má que teima em crescer dentro de mim.

Deixa que eu veja, nas estrelas, as Tuas lágrimas infindas de perdão. Que eu sinta no pulsar dessas luzes, ermas talvez de humanidade, o compasso verdadeiro do Teu coração imenso.

Se ainda não proclamo Teu nome, é porque não alcancei a dádiva da fé. Mas vê que dentro em mim existe a necessidade de querer achar-Te em qualquer templo, sentir-Te através de qualquer símbolo.

Faze de mim um instrumento da Tua vontade, ainda que eu não saiba.

Dizem os crentes que uma simples hóstia me livraria de todas as minhas fraquezas. Falta-me, no entanto, a coragem de confessar esses erros, erros que, estou certa, haveriam de repe­tir-se. Prefiro, porém, errar conscientemente, do que fingir arrependimento.

Em quase nada um filho consegue recompensar seu pai. E como recompensar a Ti, que além de me dares o frêmito da vida, me prodigalizas o espetáculo do Universo?

Infelizmente, ainda que anseio por avizinhar-me de Ti, por mais que tente seguir Teu rebanho, meus passos tímidos me fazem ficar longe da Tua morada.

Almejo, na realidade, acercar-me de Ti. Para tanto, não me poupes decepções, nem derrotas . . . No sofrimento e na resigna­ção é mais fácil, talvez, encontrar-Te. . . E eu preciso encontrar­-Te . . . Pois nada mais sou do que uma pobre alma a procurar desesperadamente entender-se, para aceitar com serenidade o seu fim.

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Esta prece foi escrita por Regina Celi, uma jovem esposa de 17 anos. Retrata o apelo de uma alma à procura de Deus.

Nove anos mais tarde, tendo feito o Cursilho, ali comun­gou pela primeira vez, iniciando uma vivência cristã . Eis o seu testemunho, retratando a resposta de Deus à perseverança do seu apelo pungente.

Hoje, Regina Celi e seu marido são membros de uma equipe de Nossa Senhora.

Ao Teu Coração. O meu coração, Senhor, já é Teu. Só o Teu julgamento realmente me interessa e só a Tua

proximidade. Foi a Tua voz que me chamou a comungar, estou certa. Tive

inúmeros sinais da Tua graça, inúmeras provas do Teu amor.

Por isso sei que me queres onde estou.

Que eu saiba, no entanto, parar e andar, mudar e conservar e que não me deixe levar por nenhuma tentação humana a cami­nhos que não forem os Teus.

É difícil separar-se o joio do trigo e a Tua estrada é real­mente estreita; agora Te compreendo. Não a fizeste assim de propósito para dificultar, mas como nos deste a liberdade, que é a maior prova do Teu amor, devemos caminhar para Ti, sobre o fio do bom senso. Para nos ajudar, Senhor, temos o Teu Evan­gelho, Teu Corpo na Eucaristia.

Sei que Tu compreendes minhas limitações e meus erros. Sabes como quero Te dar apenas amor, sinceridade, obediência.

Por isso tento caminhar para os outros homens, como Tu pe­diste. E ainda que nem sempre o faça como deveria, procuro guardar a minha humildade. . . e tentá-lo novamente !

Quero sempre, Senhor, ficar vigilante, para ouvir Tua voz, pois sempre Tu nos falas e nós nem sempre Te ouvimos .

Que eu, Senhor, consiga sempre fazer a Tua e nunca a minha vontade, mas nunca mais, Senhor, me deixes longe do Teu ca­minho e do Teu amor. . . O único mal que realmente temo, é deixar de ver a Tua face.

Quero ser pequena, e despretensiosa, mas quero estar ao al­cance de Tuas mãos; que eu saiba, Senhor, ficar entre elas.

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VIDA DE EQl:JIPE

DEBATE SOBRE A REGRA DE VIDA

Recebemos de um correspondente o trabalho abaixo, que resume os debates havidos na sua equipe sobre a Regra de Vida.

João - Na reunião prévia frei Dino e Ana e eu, como res­ponsáveis, fizemos um levantamento de como vai o cumpriment? dos meios de aperfeiçoamento em nossa equipe e chegamos a conclusão de que a regra de vida é o menos cumprido ou o menos entendido. Por isso o assunto está em discussão e peço que cada um diga o que acha.

Souza - Por que logo a regra de vida ? Durante este ano e meio de existência da nossa -equipe eu já tive quatro regras de vida e nenhuma deu certo ...

Marili- Por isso é que digo que você não teve nenhuma ...

Souza - Mas eu tive ...

Marili - Você não teve regra de vida mas sim regras in­devidas ...

Souza - Isso é trocadilho?

Darci - Esse casal vive discutindo nas reumoes de equipe; vejam, seria uma boa regra de vida para eles se ...

Ana- Esperem um pouco. Vamos ver os Estatutos. O João esqueceu que combináramos ler antes para vocês o que os Es­tatutos dizem sobre o assunto. Está aqui, na página 7: "Fixar o tempo e o lugar que cada qual pretende conceder, por exemplo à assistência à missa, ao sacramento da penitência, à oração, à leitura espiritual etc., a fim de impedir que a fantasia presida à vida religiosa dos cônjuges e a torne caótica. Não se trata de multiplicar as obrigações mas sim de defini-las a fim de escudar a vontade e evitar os desvios".

Adib - Mas isso é muito complicado. A regra de vida pre­cisa estar ligada com orações ou meditações ?

Miriam- Eu acho que não; tenho mesmo vontade de adotar como regra de vida comer menos açúcar para ver se emagreço.

1' Tuca - Isso não vale; você não é gorda a ponto de preju-dicar sua saúde ou a alguém mais; portanto não seria regra de vida, seria vaidade.

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Miriam - Mas como vou, irei perder todos os meus ves­tidos ...

João - Frei Dino está muito calado.

Frei Dino - A nossa vocação sobrenatural consiste na per­feição da caridade. A regra de vida bem escolhida ajudará a nos libertarmos dos nossos apegos, defeitos, hábitos; a nos exer­citarmos em determinado esforço, na aquisição de determinada virtude, na decisão de fazer não o que nos agrada, mas o que agrada a Deus.

Olga- Eu acho importante não querer progredir ao mesmo tempo em todas as frentes. Deve-se procurar um só defeito a combater ou uma só virtude a conquistar.

Tuca - A Zoraide e eu escolhemos juntos as nossas regras de vida, durante um retiro e acho isso uma ocasião ótima.

Souza - Mas regra de vida não é uma coisa particular, que não se conta nem para a mulher ?

Ana - Há casos em que o assunto é tão íntimo que não se fala dele nem ao cônjuge, mas isso é uma exceção; o certo seria um aconselhar-se com o outro sobre o assunto, pois o nosso Mo­vimento visa a espiritualidade conjugal e familiar - a perfeição na caridade mútua, como disse frei Dino.

Zoraide - Eu acho que entendo um pouco de regra de vida porque no dia de estudos a que fomos o Tuca e eu, houve uma palestra ótima sobre ela. Isso que a Ana estava dizendo eu acho que é muito certo; marido ,e mulher devem escolher juntos e se possível a mesma regra de vida; por exemplo, fazerem um de­terminado trabalho ou leitura juntos. Uma das regras de vida que tivemos ·foi ficarmos duas noite por semana em casa com os filhos, pois saíamos quase todas as noites e eles estavam se ressentindo. Um ajuda o outro, não quero dizer fiscaliza, mas ampara, serve de estímulo para o outro ...

Adib - Mas isso é porque vocês já são quase santos; eu, por mim, ainda tenho muita coisa que consertar aqui por dentro.

Miriam - E eu, sua mulher, não posso ajudar você nesses consertos?

Adib - Querida, tenho certeza que ganharei o reino dos céus graças a você.

Tuca - Isso pode ter duplo sentido. Mas me lembro que naquela palestra definiram as duas qualidades que deve ter a regra de vida: ela deve ser curta - impor-se um mínimo mas nunca permitir que se fique abaixo desse mínimo - e ela deve ser precisa - por exemplo, dizer apenas "devo ser mais caridoso"

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pode nada significar; deve-se descer até o âmago do problema e dizer, por exemplo, "não perderei mais a paciência com meus filhos, porque quando o faço cometo quase sempre injustiças", ou "serei mais pontual, pois minha impontualidade leva os outros ao enervamento e isto é falta de caridade de minha parte".

Marili - Não tem uma história de que a gente deve cuidar da regra de vida como o jardineiro cuida de seu jardim?

Adib - Mas aí é que está o difícil - eu não posso estar me lembrando a toda hora da minha regra de vida.

Olga - Acho que nem é preciso, pois então ela seria uma coisa asfixiante, uma tirania !

João - O melhor é diariamente fazer um examezinho de consciência: "como vai a minha regra de vida?" Por exemplo, antes da oração diária.

Darci - Eu, há um mês, venho cumprindo cem por cento a minha regra de vida.

Tuca - Então é mudar para uma etapa adiante, pois você já venceu esse primeiro combate. E também devemos mudar de regra de vida se ela se mostrar impraticável, pois talvez seja por demais ambiciosa. Como já disse, a regra de vida deve ser mínima mas realizável, de maneira que possamos ir progredindo devagar mas seguramente; como alguém que sobe uma escada e não como um atleta que, com uma vara, salta a quatro metros de altura.

Darci - Mas isso não torna um pouco estreita a espiritua­lidade que nos fez entrar para as Equipes ?

Zoraide - Ao contrário; a regra de vida não é um fim mas um meio ; a procura da regra de vida nos conduz ao conhecimento de nós mesmos; ela nos leva a procurar a vontade de Deus ...

Ana - Eu vejo também um aspecto de ascese na regra de vida. Ela educa a nossa vontade, estabiliza e orienta a vida. É um remédio à inquietação daqueles que querem ser imediata­mente perfeitos em todos os pontos.

João - E o frei Dino continua calado.

Frei Dino - Acho que o assunto foi bem abordado por todos. Quero apenas chamar a atenção para um ponto que pode cons­tituir até um perigo. Vocês nunca devem limitar-se à letra da regra de vida; cuidem para que o espírito não seja abafado pela letra. Em outras palavras: desconfiem do formalismo, de uma religião feita de fórmulas, de deveres ; de uma vida feita de re­gulamentos. A nossa religião não é uma religião de regras, mas uma religião de caridade. O amor deve animar toda a nossa vida, inclusive a regra de vida.

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CONVERSA DE BARBEARIA

O assunto era padre. Eu, o Zé Barbeiro e seu Fellini não podíamos ficar por fora. Aliás, salão de barbeiro é um lugar apropriado para debater os grandes problemas municipais, esta­duais, nacionais e internacionais. Não só: os civis, militares, judiciários e eclesiásticos.

Conversa vai, conversa vem, seu Fellini disse o seu pensa­mento: para ele o padre tem que ser padre.

Zé Barbeiro e eu concordamos. Padre tem que ser padre, como Pedro tem que ser Pedro e pedra tem que ser pedra. A coisa começou a encrespar e a polêmica (se é que em salão de barbeiro pode haver polêmicas) pegou fogo quando seu Fellini abriu-se para revelar o que ele entende por "padre".

É um homem que deve dar os sacramentos, ensinar o cate­cismo e pregar a caridade.

Já o Zé Barbeiro achava que padre também pode se meter em política, ser motorista de praça, jogar na Bolsa, se for vi­gário em cidade grande, e jogar no timinho do lugar se for pá­roco de lugar pequeno.

Como o Zé Barbeiro estava com a navalha na mão e quem estava na cadeira do fígaro era eu, resolvi passar por cima das avançadas opiniões do homem. Concentrei minhas baterias na argumentação do seu Fellini.

"Tá certo, seu Fellini, que o padre deva dar sacramento, em­bora quase todos os sacramentos qualquer um pode dar ; tá certo que ele deva ensinar catecismo, embora haja gente com mais pedagogia e com mais comunicação que possa realmente ensinar melhor que ele; mas que ele só deva pregar caridade, essa não".

Seu Fellini, que não faz fitas, ficou com os olhos arregala­dos; Zé Barbeiro reteve no ar a perigosa navalha. E eu tentei explicar que, a partir de Cristo, santos padres e padres santos passaram por este mundo de Deus pregando outras coisas fun­damentais: a justiça.

"Justiça é como o alicerce da casa; caridade é o acabamen­to", dizia eu, numa frase discutível em congressos de teologia; mas seu Fellini e Zé Barbeiro não eram nem teólogos, nem pe­dantes; e entenderam o que eu queria dizer.

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"O padre tem que pensar como ajudar o crescimento do homem todo e de todos os homens". . . Falei e disse. E enquanto falava, em minha cabeça girava tanto estudo que se faz por aí, como o de 'Doutrina Social da Igreja"; tantas publicações que distribuem pelo mundo, com o título genérico de "encíclicas sociais".

Mas também malhava meu espírito a idéia de que sempre foi vezo e mania de se querer um padre que nos agrade e não que nos ensine; que nos aprove e não que nos oriente; que deixe em paz os nossos egoísmos terrenos e ainda nos faça sonhar com bemaventuranças eternas. Sempre. Houve um, até, que morreu crucificado, porque ensinou coisas que desagradavam e apontou rumos que perturbavam o egoísmo da turma. ·

(Transcrito de "O São Paulo")

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"DEVER DE SENTAR-SE" - COMUNICAÇÃO

"Comunicação" não é somente uma das palavras mais em voga nos dias de hoje. Embora não constitua isso, propriamente, uma coisa nova, a verdade é que, com a atualidade e a força que lhe empresta o desenvolvimento do mundo moderno, a comuni­cação é, sem dúvida, um fator decisivo para o sucesso das rela­ções entre os povos e as pessoas, entre si, diminuindo as distân­cias e agindo como meio eficaz de aproximação e de entrela­çamento. Há quem diga, repetindo um lugar-comum, que, se existisse maior comunicabilidade entre os homens, haveria mais amor no mundo.

Nós temos uma prova recente do poder revela dor da comu­nicação. Em carta dirigida ao Secretariado N acionai das Equi­pes de Nossa Senhora, uma senhora de Belo Horizonte conta que, em meio aos sofrimentos por que passava, no âmbito fami­liar, tendo destacado a folhinha do ALMANAQUE DO SAGRADO CORAÇAO (da Editora Vozes ... e, porque não dizê-lo, do Frei Almir), e tendo lido, no anverso, uma síntese muito bem feita do "dever de sentar-se", onde se lia que "este encontro mensal é de importância capital para o progresso de uma família", lem­brou-se de solicitar orações, maiores esclarecimentos sobre esse meio de aperfeiçoamento e uma benção do Côn. Caffarel.

O Secretariado respondeu a carta e comunicou a Frei Almir que a sua semeadura já se tornara produtiva. Na volta do cor­reio, recebeu palavras do Frei Almir, que devem ser comunicadas a vocês, para novos frutos:

uNo mundo encontramos milhares de casais que não sabem ser casais. Penso então sempre nas ENS. Como elas poderiam ser úteis a tanta gente. Temos vontade de transformar todas as famílias em equi­pistas. Vocês casais têm um enorme e maravilhoso campo de ação".

Meditando sobre o pedido-mensagem dessa irmã das Altero­sas, que a vontade divina e a comunicação postal fizeram chegar às nossas mãos, lembramo-nos de que muitos de nós, lamenta­velmente, não sabem valorizar, na devida dimensão, esse meio de aperfeiçoamento que o Movimento colocou à nossa disposição.

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NOTíCIAS DOS SETORES

OPERAÇÃO MANAUS

(do Boletim da Guanabara)

No dia 19 de junho, o casal equipista da Guanabara, Malvina e Edgard, partiu para Manaus pelo DC-6 da FAB, com passagem de graça e com a Graça para cumprirem o evangelho do domin­go anterior, Lc. 10,1 - "Depois disso, designou o Senhor outros 70 e enviou-os depois dois a dois, em sua frente, a todas as ci­dades e lugares onde estava para ir". Somente nós, casais cris­tãos, temos o privilégio de permanecer "dois a dois" 24 horas por dia para cumprir à risca o mandamento do Cristo.

Foram pois os dois levar as ENS à capital da Amazônia, essa grande área de nosso país que começa a ser, somente agora, real­mente colonizada. Como brasileiros aceitamos o desafio da Ama­zônia. mas a nosso modo, procurando levar ajuda para que os casai~ de lá possam dispor de nossa mística, nossos meios de aperfeiçoamento e ajuda fraterna.

Nesse dia, uma corrente de telefonemas comunicou o fato aos equipistas da GB, ao mesmo tempo que pedia orações e missas para que a incumbência deles fosse exatamente de acordo com o que o Espírito Santo desejasse.

Contam Malvina e Edgard, de volta de lá : "Ficamos 23 dias em Manaus, em casa de um casal do Rio

que se mudou há poucos meses para lá. Receberam-nos com o calor e a simplicidade que caracterizam a hospitalidade equipis­ta. Não estavam instalados direito ainda, mas isto não foi pro­blema nem para receber-nos, nem para acolher os casais para as reuniões - tanto é que pediam pura e simplesmente a eles que trouxessem as próprias cadeiras. O que, é claro, contribuiu para criar de imediato um clima de auxílio fraterno .

. . . e Coelho já havia feito a sua propaganda prévia e tive­mos para a informação 12 casais, 3 padres e o próprio Arcebispo de Manaus, D. João de Souza Lima, que aliás incentivou bas­tante a gente. Os casais já se conheciam - costumavam reunir-se para fazer juntos a Via Sacra. Formamos duas equipes, inte­grando-se na segunda os nossos ex-companheiros da Guanabara.

Nesses 23 dias, fizemos nada menos de 10 reuniões - entre informação, preparatórias e reuniões propriamente ditas. Agora, continuaremos a pilotagem por correspondência. E queremos pedir, através da Carta Mensal, as orações de todos para que se

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possam firmar essas equipes, tão distantes geograficamente mas tão próximas de nós pelo ideal e o espírito de fraternidade que nos une".

Aqui fica o apelo: não deixem de rezar pelo êxito das pri­meiras equipes do Amazonas !

MARíLIA - Curso para namorados

Contando com a colaboração generosa de equipistas da ci­dade de Garça, de quem receberam a inspiração e o exemplo, casais equipistas de Marília organizaram um "Curso para namo­rados". Os casais garcenses se encarregaram de ministrar as palestras, enquanto os marilienses orientaram os círculos de es­tudos.

Embora não tivesse sido muito grande o número de namo­rados que dele participaram, o primeiro "curso" apresentou re­sultados além das espectativas, constituindo uma experiência in­teressante e válida.

Pelo interesse despertado entre os jovens das duas cidades e pelas impressões deixadas pelos participantes do curso, a ex­periência significa uma esperança, no trabalho e na responsabi­lidade que cabem aos adultos, e aponta um novo apostolado para os demais equipistas.

SÃO PAULO - Setor D

O Setor D continua a realizar suas Missas mensais. Todas as equipes, juntas, aproveitam a oportunidade para uma confra­ternização freqüente.

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No mês de junho foi a Missa realizada na Fazenda Bocaina, de Nívia e Antonio Basile, em Bragança. A missa ao ar livre, o churrasco, a confraternização foram um brilhante reflexo da grande dinamização que Lúcia e Nylson imprimem ao Setor D.

JUNDIA[

Novo Casal Responsável pelo Setor

Cidinha e Igar, passando a Casal Regional, deixaram o Setor nas mãos de Dina e Chico - Rudiney e Francisco Tranchi, para quem queira escrever para eles. O Conselheiro Espiritual con­tinua.

Curso de pilotagem

Muita gente estava curiosa por saber como fora. Tão alme­jado por tantos setores durante tantos anos, eis que surgiu final­mente em Jundiaí. Isto já faz algum tempo, mas como foi o primeiro, merece o devido registro. Obtivemos as informações "na frente", i. e., dos próprios Cidinha e Igar.

O Curso teve duração de oito semanas, com uma reunião se­manal. Os "professores" - os casais da Equipe 1 - falavam sobre a função do Casal Piloto e apresentavam casos concretos; as soluções propostas eram discutidas pelos "alunos". Ganharam o devido "diploma" cinc.o casais.

Curso de Ligação

Este não foi propriamente um curso. Como todos os parti­cipantes haviam feito Sessão de Formação, concentrou-se mais na vivência do que na teoria. Em cada reunião apresentava-se uma situação fictícia e os candidatos a Casal de Ligação trocavam idéias sobre qual seria a melhor maneira de atuarem nesta deter­minada situação.

Curso de " profetas"

Nome dado pelo Marcello ao Curso de Oratória que ministrou durante vários meses, quando ia para Judiaí uma vez por sema­na, à noite, dormia lá e voltava na manhã seguinte. Na casa de um dos casais, há um estradozinho natural e é de lá que os futu­ros oradores proferiam a sua "palestra". Depois recebiam as crí­ticas e os conselhos. Segundo a Cidinha, os que se habilitaram perderam rápida e definitivamente o medo de falar em público - diz ela e prova !

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Tanto é que esses casais são hoje requisitados não só pelo Movimento para Encontros, Mutirões, Sessões, etc., mas também por outros Movimentos e até convocados pelo Bispo Diocesano, D. Gabriel, para fazerem palestras. Nos Encontros de Casais com Cristo, em particular, sua perícia é posta à prova porque não re­cebem esquema algum, apenas o título da palestra que deve­rão dar.

Os Encontros

A turma, que não carece de idéias nem de vontade de traba­lhar, imaginou e estruturou um Encontro para equipistas, inspi­rado em parte nos Encontros de Casais com Cristo, em parte nos Cursilhos. O primeiro deles, que exigiu dois meses de prepara­ção, teve lugar em agosto do ano passado e o sucesso foi tão grande que já realizaram mais três.

Os equipistas escolhidos são convidados pessoalmente pelos ca­sais da Equipe de Setor que depois fazem uma segunda visita para pegar inscrição.

O Encontro dura dois dias - o sábado e o domingo inteiros. Há duas palestras, uma por um sacerdote, uma por um leigo, re­flexão do casal, grupos de trabalho, etc. Na noite do sábado, sociodrama ou filme, seguido de debates. Os assuntos têm sido : espiritualidade conjugal, o plano de Deus, o engajamento do equi­pista no mundo, etc.

Os casais que já fizeram o Encontro participam de alguma forma na preparação material e espiritual, ajudando na secretaria, na cozinha, na liturgia, e inclusive no incentivo para o compa­recimento dos casais convidados.

JAO- P.L .C. de Casais

Foi realizado o primeiro P .L.C. de Casais, com grande su­cesso. As palestras foram feitas por casais equipistas e pelo Con. Pedro. Além de outros bons resultados, tivemos a formação de mais duas equipes de Nossa Senhora, uma assistida pelo Con. Pedro e outra pelo Con. Gastão.

PETRóPOLIS - Novas Equipes

A Equipe de Expansão já andou visitando casais em número suficiente para formar mais duas equipes. Enquanto isto, Stella e Tarquinio estão pilotando a 3 de JUIZ DE FORA, e Frei José, que se mudou para JOAÇABA, vai ser o Conselheiro espiritual da equipe que outros ex-petropolitanos, Nilce e Lauro, estão orga­nizando.

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DEUS CHAMOU A SI

Recebemos, com pesar, notícia do falecimento de FRANCIS­CO URBANO Fo., da equipe n.0 4, Na. Sra. do Bom Conselho, de Jaú. Diz a comunicação:

"Exemplar esposo e pai, amigo de todos, foi o Urbano uma criatura que só soube irradiar tudo o que é bom. Sempre arran­java tempo para um diálogo com os amigos e vivia sorridente.

No dia 12 de agosto, seu carro foi colhido por um caminhão na estrada Jaú-Bauru. Internado no Hospital das Clínicas, não re­sistiu aos ferimentos, vindo a falacer no dia 24. Tinha 34 anos e deixa dois filhos menores".

Unamo-nos em oração ao Setor de Jaú, pedindo a Deus que dê conforto a Maria Helena.

RETIROS

Região de São Paulo - Capital

6 a 8 de outubro - em Valinhos - Frei Estevão Nunes

27 a 29 de outubro - em Barueri - Pe. Décio Pereira

17 a 19 de novembro- em Valinhos- Pe. Mário Zuchetto e sua equipe sacerdotal

Setor de Campinas, em Valinhos

13 a 15 de outubro - Pe. Benedito Pessotto

10 a 12 de novembro - Pe. José Antonio Busch

26 a 28 de novembro - Pe. Mário Zuchetto

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ENCONTRO REGIONAL EM TAUBAT~

No dia 20 de agosto, realizou-se em Taubaté o V Encontro Regional de casais equipistas.

Compareceram ao Encontro 79 casais e 6 padres assistentes. Tivemos representantes de toda a região, ou seja, de Mogi das Cruzes, de J acareí, de São José dos Campos, de Caçapava, de Taubaté, de Pindamonhangaba e de Guaratinguetá .

O Encontro foi realizado nas dependências do Seminário Dio­cesano de Taubaté, e teve o seguinte desenrolar:

O casal Chico e Dina (responsáveis pelo Setor de Jundiaí) proferiu a primeira palestra - A ESPIRITUALIDADE CONJU­GAL - e impressionou profundamente a todos os presentes não só pela facilidade com que abordou o assunto mas também pelos testemunhos dados; essa palestra que tinha sido precedida de uma meditação na Capela e da entronização da Bíblia no Ple­nário, foi um dos pontos altos do nosso Encontro, pois mostrou­-nos até que ponto a espiritualidade pode atingir ao casal equipista.

O casal Peter e Helene, responsável pela Região, comple­mentou a primeira palestra, relatando o seu encontro com a cúpula do Movimento em Paris e transmitindo a VIVENCIA ESPIRI­TUAL DAS ENS NA EUROPA.

Após o almoço, tivemos círculos de debates que foram divi­didos em 11 grupos de trabalho e em seguida, em Plenário, che­gamos às conclusões daquele nosso Encontro.

As 16 horas, em procissão, os casais, entoando cânticos, di­rigiram-se à Capela onde iniciou-se a VIGíLIA pelo êxito da vinda do Con. Caffarel em setembro.

A missa concelebrada pelos padres assistentes e vivamente participada por todos encerrou o Encontro.

Como surpresa final tivemos a alegria de poder entregar aos presentes o 1.0 número de "MENSAGEM", que mensalmente re­tratará os acontecimentos do setor.

Deve ser destacada a atuação da equipe de serviço que foi impecável em todo o desenrolar do Encontro.

Merecem menção também os "abnegados" que passaram o dia todo tomando conta de 35 crianças (entre eles duas moças do SHALOM).

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OR.AÇÃO PARA A PRÓXIMA REUNIÃO

TEXTO DE MEDITAÇAO

Introduzida em corpo e alma na glória da Santíssima Trin­dade, Maria vê Deus face a face. Em Deus, ela conhece e vê tudo o que Deus realiza a cada instante para salvar os homens; vê e conhece cada um dêles melhor do que a mais atenta e pers­picaz das mães na terra. Nada lhe escapa da existência de seus filhos, de suas qualidades e defeitos, de suas virtudes e vícios, e dos perigos que correm de perderem a vida eterna.

São Paulo diz (Hbr 7,25) que Jesus está no céu sempre vivo a interceder por nós junto ao Pai. Podemos dizer o mesmo de sua Mãe: Ela está sempre intercedendo por nós, antes mesmo de recorrermos a ela. Assim ela bem merece que a chamemos "Mãe das graças". Na verdade, é Deus quem dá a graça, mas Ele a dá sempre a pedido de sua Mãe, que é nossa Mãe também.

ORAÇAO LITúRGICA

Tu és grande e bendita entre todas as criaturas, ó Maria, por­que, sendo concebida sem pecado, sem pecado viveste, sempre foste serva fiel, sempre disseste "SIM" à vontade de Deus.

Agora, pois, alcança para os homens, teus filhos, a graça de serem também servos fiéis, até a morte. Amem.

<Extraído de "Evangelho para Rezar - o . Rosário atualizado", Edições Paullnas)

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EQUIPES NOTRE DAME

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04530 - Rua Dr. R enato Paes de Barros, 33 - Tel.: 80-4850

-São Paulo. SP-