MWM Contruindo a Inclusão Social

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5/11/2018 MWMContruindoaInclusoSocial-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/mwm-contruindo-a-inclusao-social 1/12 Mestrado em Memória Social e Bens Culturais Oficina de Diversidade Cultural e Reconhecimento Social  MWM INTERNATIONAL MOTORES: CONTRUINDO A INCLUSÃO SOCIAL ― RELATÓRIO DE VISITA ― Maristela Bleggi Tomasini Matrícula 201111019 TRABALHO PARA AVALIAÇÃO FINAL NA DISCIPLINA OFICINA DE DIVERSIDADE CULTURAL E RECONHECIMENTO SOCIAL Prof. Dra. Nádia Maria Weber Santos Prof. Dr. Lucas Graeff Canoas, 16 de novembro de 2011.  

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O texto é um breve relato da visita realizada em 26 de setembro de 2011 à MWM International, empresa que possui sede no município de Canoas/RS, com a finalidade de tomar contato com o plano de inclusão social no trabalho voltado a pessoas portadoras de necessidades especiais, notadamente de ordem mental, procurando ressaltar os aspectos mais contundentes do desdobramento desse plano de ação, segundo seus gestores no âmbito do departamento de recursos humanos da empresa.

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Oficina de Diversidade Cultural e Reconhecimento Social

 

MWM INTERNATIONAL MOTORES: CONTRUINDO A

INCLUSÃO SOCIAL

― RELATÓRIO DE VISITA ―

Maristela Bleggi Tomasini

Matrícula 201111019

TRABALHO PARA AVALIAÇÃO FINAL NA DISCIPLINA

OFICINA DE DIVERSIDADE CULTURAL E RECONHECIMENTO SOCIAL

Prof. Dra. Nádia Maria Weber Santos

Prof. Dr. Lucas Graeff 

Canoas, 16 de novembro de 2011.

 

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MWM INTERNATIONAL MOTORES: CONTRUINDO A

INCLUSÃO SOCIAL

― RELATÓRIO DE VISITA ―

MARISTELA BLEGGI TOMASINI

RESUMO: O texto é um breve relato da visita realizada em 26 de setembro de 2011 à

MWM International, empresa que possui sede no município de Canoas/RS, com a

finalidade de tomar contato com o plano de inclusão social no trabalho voltado a

  pessoas portadoras de necessidades especiais, notadamente de ordem mental,

 procurando ressaltar os aspectos mais contundentes do desdobramento desse plano de

ação, segundo seus gestores no âmbito do departamento de recursos humanos da

empresa.

RESUMEN: El texto es uma breve resenã de La visita de 26 de septiembre 2011 em

MWM International, uma compañía que tiene su sede em la cuidad de Canoas/RS, comEl fin de hacer contacto com el plano de trabajo de inclusión social dirigido a personas

com discapacidad especial, sobre todo para la salud mental, tratando de resaltar los

aspectos más llamativos de la elaboración de este plan de acción, de acuerdo con sus

gerentes en el departamento de recursos humanos de la empresa.

PALAVRAS-CHAVES: Trabalho, inclusão social, deficientes mentais, gerência de

recursos humanos.

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PALABRAS CLAVE: Trabajo, la inclusión social, deficientes mentales, gestión de

recursos humanos.

INTRODUÇÃO. A EMPRESA 

A MWM International Motores, com aproximadamente 4.000 colaboradores,

segundo informações disponibilizadas na rede1, é uma empresa subsidiária da Navistar 

International, uma das mais importantes fábricas de motores diesel do planeta. Centrada

em São Paulo, conta com mais duas unidades, uma em Jesus Maria, Córdoba,Argentina, outra em Canoas, RS, esta última visitada pelos alunos da disciplina Oficina

de Diversidade Cultural e Reconhecimento Social, Mestrado em Memória Social e Bens

Culturais, Unilasalle, Canoas.

A relevância da MWM é inquestionável, seja do ponto de vista de sua

importância estratégica frente ao Mercosul, seja pelo volume de sua exportação para

mais de 30 países, incluídas as três Américas, Europa e Oceania, seja pela

expressividade de seu movimento financeiro, com milhares de vidas implicadas, daí se

 podendo deduzir sua importância em termos sociais para o desenvolvimento da região.

Dado o grande porte desta empresa, há naturalmente protocolos a serem

cumpridos com relação a visitas a sua sede, como agendamento prévio, número limitado

de pessoas, exigência de apresentação de documento de identidade, passagem por 

detectores de metais, circulação no interior dos prédios e pátios internos mediante

exibição de crachás. Existe controle de horário de entrada e de saída. É terminantemente proibido fotografar, filmar e gravar o que se passa na empresa, cautelas plenamente

 justificadas à vista da prevenção de riscos implicados em espionagem industrial.

A RECEPÇÃO. APRESENTAÇÃO DA EMPRESA

Os encarregados da recepção, no caso, foram os próprios responsáveis pelagestão do departamento de recursos humanos (RH), Toni Weydmann, administrador, e

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Andrea Hipolito, pedagoga, ambos analistas de RH. Simpáticos, receptivos e

acolhedores, eles gentilmente conduziram os visitantes a uma sala ampla e confortável

onde ocorreu a exibição de um vídeo que descrevia a importância da empresa em termosmundiais. Eram mais ou menos 9 horas de uma ensolarada manhã de setembro de 2011,

e a visita não iria além do horário de almoço. Não mais de três horas, portanto, para

observação de todo um processo. A seguir, Andrea e Toni começaram a relatar suas

atividades, esclarecendo que a diretoria de RH que representam abrange as três plantas

da empresa (São Paulo, Canoas e Jesus Maria), mantendo um diálogo com todos os

 presentes, falando sobre a Navistar e de como a empresa começou seus negócios no

Brasil, na cidade de Caxias do Sul, com caminhões. Quando da divisão da MasseyFerguson, vieram para Canoas e também Argentina. A maioria dos motores diesel do

Brasil sai da MWM. São cerca de 3.700.000 desde 1953.

A empresa, que mantém diversos programas sociais, emprega pessoas

 portadoras de deficiências intelectuais, físicas e audiovisuais a partir da implantação de

um programa que é desenvolvido por Toni e Andrea, a qual já teve experiência anterior 

com arte terapia.

SURGIMENTO DO PROGRAMA. DA CONTRATAÇÃO

O Programa de Inclusão Navistar nasce com o Instituto Pestalozzi de Canoas:

  Embalando para o Futuro. A atividade consistia, basicamente, em embalar peças.

Dentre os treinados em 2006, quatro deles vieram trabalhar na planta de Canoas, sem

que sobre eles houvesse grande expectativa, uma vez que os limites de ordem intelectual

que acometiam aqueles quatro primeiros integrantes do quadro funcional não eram

mínimos. Contudo, mostraram-se excelentes colaboradores, desempenhando suas

funções com responsabilidade e empenho. Uma mudança de olhares começava a se

impor a partir de fatos. Dessa forma, não foi preciso muito para decidir, em 2008,

contratar todos os outros funcionários remanescentes do Instituto Pestalozzi, então

atravessando uma crise de ordem financeira e institucional.

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Os contratos de trabalho se dão de forma absolutamente normal. Não há

cláusulas especiais nem tampouco diferenças salariais, para mais ou para menos. Existe

apoio por parte da entidade sindical que representa aquela parcela de trabalhadores. Acontratação se faz em nível de absoluta igualdade. Em relação às condições anteriores, a

saber, aqueles em que desempenhavam atividades dentro do Instituto Pestalozzi, as

diferenças eram notáveis, uma vez que lá eram capacitados para um pequeno universo,

que não lhes descortinava o mundo imensamente maior que a sede a MWM proporciona

aos seus colaboradores. Além disso, como antes referido, a capacitação limitava-se ao

desempenho da função de embalador, o que deu origem até mesmo ao duplo sentido do

 programa que se chamava Embalando para a Vida. Contudo, atualmente todo o pessoalda inclusão é contratado e treinado dentro da própria MWM, planta de Canoas, com

capacitação ampliada para além da função de embalador, abrangendo cópia, expedição,

linha de montagem, com expectativas para o setor administrativo.

LIDANDO COM AS DEFICIÊNCIAS. CASOS CONCRETOS

Dentro do quadro das diversas deficiências que acometem o pessoal contratado

dentro desse projeto, a de ordem mental é mais fácil de lidar, segundo Andrea,

enfatizando que “eles não estão aqui apenas para cumprir uma cota. Eles precisam da

empresa, e a empresa precisa deles também, pois deve cumprir a lei. Apenas faz mais do

que isso”. Ainda segundo ela, efetivamente, lidar com a deficiência de ordem mental

não oferece dificuldades, pois torna esses colaboradores especialmente disponíveis,

tanto que, ao longo de seis anos, ocorreu apenas um único desligamento e, assim

mesmo, por falta de apoio da família.

Quando alguém é incluído na MWM, na qualidade de colaborador integrado à

empresa pela via especial desse programa, as relações se intensificam. A empresa vira

uma segunda família, muitas vezes mais compreensiva e mesmo mais inclusiva. Muito

frequentemente o peso econômico representado pelo salário recebido pela pessoa

acometida de deficiência representa uma importante contribuição para famílias de baixa

renda e, não raro, a mais importante. Não é difícil perceber o quão significativo pode ser  para uma pessoa acometida de deficiência mental dispor de conta bancária, cartão de

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crédito e carteira de trabalho. A imensa maioria dos integrantes do programa procede de

famílias de baixa renda, os ganhos obtidos significando complemento importante do

orçamento familiar 

Lado a lado a esse aspecto altamente positivo que se colhe do programa, há

também relatos cuja carga dramática impressiona. É o caso de uma menina

esquizofrênica, também apresentando quadro de deficiência intelectual, que sofria

constante assédio em relação à atividade que desempenhava no trabalho,

sistematicamente desestimulada pela própria mãe que duvidava de sua capacidade e

dizia sempre: “Ela não vai conseguir”. A menina surtou, provavelmente, como

consequência da pressão. Mesmo estando atualmente desligada da MWM, ainda assim,

Andrea e Toni telefonam para a família, procurando inteirar-se de seu estado de saúde,

ansiosos por seu restabelecimento e, dentro do possível, por sua recuperação.

Digno de nota ainda o caso de um rapaz cujo grau de deficiência não lhe

 permitiu alfabetizar-se. Ele não lê nem escreve, e nada indica que algum dia conseguirá

ler e escrever. A toda evidência, tratava-se de um dos maiores desafios a enfrentar, uma

vez que não existe função na empresa que não tenha como pré-requisito a alfabetização plena do funcionário. Não havia muito a fazer naquele caso, não havia muito a esperar 

em relação a uma pessoa completamente iletrada. Contudo, o rapaz conseguiu trabalhar 

muito bem, desempenhando a função de separador, com notável resultado, uma vez que

ele simplesmente não comete erros, identificando o código de barras de 12 algarismos,

número por número, um a um. Quando a empresa adquiriu leitores digitais, entretanto,

tudo mudou, pois a tarefa foi tornada mais complexa, inclusive com uso de rádio.

Houve necessidade de preservarem-se interesses de outros funcionários, pois, segundoAndrea, “não se demite o normal para colocar o deficiente, não sendo política da

empresa pressionar o supervisor nas decisões que deve tomar”. Assim, o rapaz voltou

 para a função anterior, onde passou a demonstrar claros sinais de depressão, o que levou

ao seu remanejo na separação.

PECULIARIDADES

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Para Andrea e Toni, ambos dando mostras de grande sensibilidade na função

que desempenham no setor de recursos humanos, lidar com deficientes é muito fácil, e

seriam eles o melhor grupo da empresa em matéria de disponibilidade e decomprometimento, pois não gostam de férias nem lhes agrada a idéia de irem para casa

ao final do expediente. Não apreciam os finais de semana, e preferem as segundas-

feiras. São entusiastas do que fazem. Trabalham com o coração e sua entrega é total.

 Não gostam tampouco de atestados. Seu empenho é absoluto, a empresa representando

em suas vidas um autêntico resgate de sua dignidade, pois é ali que são úteis e

reconhecidos em sua individualidade. Houve o caso de um que, ao soar o sinal de

encerramento do expediente de seu turno, escondia-se no banheiro para misturar-se aosdemais e trabalhar também no turno subsequente. A união entre normais e especiais,

vinculados pela execução de tarefas no trabalho, resgata o grupo perante os demais e,

sobretudo, perante os próprios integrantes, adquirindo estes de si mesmos uma imagem

que se torna cada vez mais positiva. Isso se evidencia quando se observa o trabalho

realizado, sempre com humor, em ambiente harmônico, simpático para com visitantes

que não são raros no local, atraídos pelo sucesso no empreendimento.

O grupo atual cumpre 42 horas semanais e possui integrantes com idades que

variam entre 18 e 38 anos. A única regalia que a empresa dispensa a esse grupo especial

é permitir que folguem nos feriados sem compensação, uma vez que, para eles, cumprir 

rotinas é essencial para que mantenham estabilidade em suas condutas como

trabalhadores. A semana deve decorrer se modo sistemático, sem surpresas, para que

atinjam o melhor rendimento. As contratações ocorrem por meio de indicação. A

maioria gosta de futebol e são esmagadoramente torcedores do internacional, mostrando

humor e brincando constantemente, sempre que o time se destaca.

VOCÊ FAZ A DIFERENÇA

Ao longo do ano, a empresa promove uma espécie de concurso, com eleição de

colegas de trabalho, mediante votação no “Você faz a diferença”. O mais votado ganha

uma viagem para algum lugar do Brasil. Pois bem, por duas vezes este prêmio foi ganho  por funcionários contratados nessas condições especiais, o que comprova sua

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capacidade de adaptação, não só com relação às funções que devem cumprir, mais ainda

no desenvolvimento de laços de afetividade em relação aos colegas.

 Não raramente dão mostras de grande criatividade, como foi o caso da menina,

deficiente mental, contratada para trabalhar da biblioteca. Ela não apenas criou um

sistema de controle como ainda não demonstra o melhor acanhamento na cobrança dos

livros não entregues. A própria Andrea relata sua surpresa e satisfação ao ser cobrada a

devolução de um livro que ela confessa haver-se esquecido de devolver.

DESDOBRAMENTOS DO PROGRAMA

A MWM atualmente tem em seus quadros 29 pessoas portadoras de deficiências

mentais diversas, 30 de ordem física, 63 de ordem auditiva ou visual, a grande maioria

em seu primeiro emprego. Os deficientes mentais integram especialmente o programa

 Embalar . Andrea e Toni dirigem o RH e cuidam de todos os aspectos práticos das

contratações, com nítido envolvimento emocional, conhecendo um a um os

funcionários, inteirando-se das peculiaridades inerentes a cada um deles. A relação

afetiva é evidente, constatando que há quem se dirija a Andrea chamando-a de “mãe”.

Mesmo sem formação específica, esses funcionários desenvolveram todo um plano de

treinamento, orientados por sua experiência, sensibilidade e comprometimento,

especialmente em relação aos funcionários com deficiência mental ― tratado em

separado do grupo que apresenta deficiências de ordem física ― que são orientados

financeiramente, para que administrem bem os seus ganhos. Existe uma cafeteria nas

dependências da empresa, onde é fácil gastar muito, por exemplo. No mais, frequentam

shopping, vão a cinema e levam uma vida normal, dispondo de uma independência

impensável, de regra, para pessoas em idênticas condições.

A empresa, que possui ao todo 1.200 funcionários na planta de Canoas,

empenha-se em proceder a reformas que a tornem apta, dentro do possível, para ajustar 

o ambiente às necessidades especiais. Há piso táctil, por exemplo, existindo entre eles

um funcionário cego, aliás, professor de língua portuguesa. Sofreu descolamento daretina aos 17 anos e trabalha no setor de peças, como embalador, com boas chances de

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ser guindado ao setor administrativo. Há um acidentado que sofreu amputação de um

dos membros inferiores e que, atualmente, está em processo de adaptação à prótese

recentemente obtida.

CONCLUSÃO. TROCANDO O PRECONCEITO PELO CONCEITO 

Em um país onde o significativo percentual de dez por cento da população é

constituída de pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, contemplar essa parcela

de brasileiros significa conferir-lhes, na prática, cidadania e dignidade como pessoashumanas. Em 1967, na Emenda 01, já havia menção à educação de excepcionais. Mais

tarde, a Emenda 12, em 1978, estabeleceu a educação especial e gratuita, com

assistência, reabilitação e reinserção na vida econômica e social, proibindo a

discriminação e prevendo acessibilidade em relação a ingresso em edifícios e

logradouros públicos do País. Depois disso, apenas em 1988, com a Constituição,

veremos ampliada a proteção do portador de deficiência, a partir do Princípio da

Igualdade, com vistas à proteção ao trabalho que deve ocorrer sem diferença no queconcerne a salário e contratação, contemplados cargos públicos, assistência social e

acesso a programas de reabilitação. Seguindo essa linha, leis posteriores contemplaram

e especificaram. Portadores de deficiência recebem menção especial também no ECA

― Estatuto da Criança e do Adolescente ― e na LDB ― Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional.

Em que pese a lei, do alto se sua frieza e objetividade nem sempre

correspondente ao universo real, na prática, conferir cidadania e dignidade a alguém,

desigualando para igualar, como se diz, encurtando distâncias, contornando obstáculos

representa um desafio que é vencido em batalhas travadas a cada novo dia. Andrea nos

dá esse seu franco testemunho pessoal, quando coloca diante de todos que cada caso é

único a seu modo e que não existem fórmulas prontas capazes de solucionar novos

 problemas através de velhas soluções. Há dias de grande estresse, como há dias de

imensa gratificação, pois, nesse mundo da inclusão, cada pequeno passo assume

significado que vai muito além da esfera privada de um simples cidadão, pois que sereflete no mundo, gerando respeito, admiração, funcionando como exemplo que leva

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obrigatoriamente à reflexão, induzindo o repensar, sugerindo mudanças, conferindo

alterações comportamentais em todos os que diariamente aprendem a conviver com as

diferenças, enriquecendo com isso.

Aquilo que inicialmente não significara mais que o simples cumprimento de

uma cota legalmente imposta acabou por modificar intimamente os conceitos das

  pessoas ditas normais que acabaram surpreendidas com um fato econômico que é

absolutamente decisivo numa sociedade que se orienta massivamente pelo significado

do lucro. Este fato é simplesmente o de que a contratação de pessoas com deficiência

física e mental é lucrativa, não causa prejuízo à empresa e, além disso, gera entre os

chamados normais um novo olhar sobre o outro, um olhar que foge ao sentimento de

 piedade e que se estrutura com base no respeito, não imposto por lei, mas resultante do

convívio diário no trabalho, onde o diferente surge como capaz, como competente,

como produtivo, responsável, bom colega ― prova disso duas eleições no Você Faz a

 Diferença.

Visitar a MWM, conversar com Andrea e com Toni, é escapar à abstração

conceitual que envolve cidadania e dignidade, simples palavras sobre as quais muito seescreve e pouco se pratica. Ser cidadão é bem mais que implementar condições teóricas

que a certidão de nascimento de cada um automaticamente confere. Ser cidadão é

reconhecer-se a si mesmo como tal e ser reconhecido pelos outros também, não apenas

no restrito universo reservado aos ditos deficientes. É ir além, muito além, apagando

essa perversa linha divisória e demonstrando que o preconceito é que cria as diferenças,

os desníveis e a exclusão.

Visitar a MWM, conversar com os responsáveis pelo RH, observar de perto o

trabalho desenvolvido pelos colaboradores contratados pela via da inclusão implica em

nos surpreendermos a nós mesmos, não com o que se vê por fora, mas com um

sentimento que se forma por dentro, como observadores instados a reformular 

intimamente o que se comumente se pensa sobre o peculiar universo desse outro tão

diferente e tão igual a nós mesmos, quem sabe, até melhor e mais capaz de

solidariedade, não obstante todas as dificuldades que a vida lhe impôs. É o que se sente

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depois de passar pouco mais de três horas nessa empresa, na companhia de Andrea e

Toni, ambos capazes de, com seu exemplo, fazer toda a diferença.

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