MÚSICA POPULAR BBRASILEIRA - III - TANGO BRASILEIRO E MAXIXE

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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – CCSE – DART LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA - Disciplina: MPB Prof. Ricardo Catete – [email protected] APOSTILA III – MPB: A FORMAÇÃO O Tango Brasileiro e o Maxixe O tango brasileiro, muitas vezes apontado por estudiosos como uma variante bem acabada e estilizada do maxixe, é representado pelas composições de Ernesto Nazareth (1864-1934). No entanto, antes que este usasse tal denominação, muitos tangos já haviam sido impressos, alguns com grande sucesso. Segundo Baptista Siqueira, o primeiro tango brasileiro teria sido "Olhos matadores" (1871), de Henrique Alves de Mesquita (1830-1906), compositor a quem se atribui a vulgarização do nome tango para designar o tipo de música de teatro ligeiro que até então espanhóis e franceses preferiam chamar de "habanera". Musicalmente, na raiz do tango brasileiro (que nada tem a ver com o argentino), encontram-se elementos da "habanera", introduzida no Brasil pelas companhias de teatro musicado, à qual incorporaram-se influências da polca e do lundu. Na década de 1880, Chiquinha Gonzaga (1847-1935) inicia uma numerosa produção de tangos, como o famoso "Gaúcho", vulgarmente conhecido como "O corta-jaca", escrito em 1897 para a revista "Zizinha Maxixe". Em 1892, Nazareth compõe "Rayon d’Or" usando pela primeira vez a denominação tango, mais especificamente polca-tango, para uma composição sua. Em seguida (1910), compôs o famoso tango "Brejeiro", muitas vezes confundido, posteriormente, como choro. Aliás, os dois gêneros musicais se aproximaram muito a partir do começo do século XIX, segundo alguns estudiosos.

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – CCSE – DART LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA - Disciplina: MPB Prof. Ricardo Catete – [email protected]

APOSTILA III – MPB: A FORMAÇÃO

O Tango Brasileiro e o Maxixe

O tango brasileiro, muitas vezes apontado por estudiosos como uma variante bem acabada e estilizada do maxixe, é representado pelas composições de Ernesto Nazareth (1864-1934). No entanto, antes que este usasse tal denominação, muitos tangos já haviam sido impressos, alguns com grande sucesso.

Segundo Baptista Siqueira, o primeiro tango brasileiro teria sido "Olhos matadores" (1871), de Henrique Alves de Mesquita (1830-1906), compositor a quem se atribui a vulgarização do nome tango para designar o tipo de música de teatro ligeiro que até então espanhóis e franceses preferiam chamar de "habanera". Musicalmente, na raiz do tango brasileiro (que nada tem a ver com o argentino), encontram-se elementos da "habanera", introduzida no Brasil pelas companhias de teatro musicado, à qual incorporaram-se influências da polca e do lundu.

Na década de 1880, Chiquinha Gonzaga (1847-1935) inicia uma numerosa produção de tangos, como o famoso "Gaúcho", vulgarmente conhecido como "O corta-jaca", escrito em 1897 para a revista "Zizinha Maxixe". Em 1892, Nazareth compõe "Rayon d’Or" usando pela primeira vez a denominação tango, mais especificamente polca-tango, para uma composição sua. Em seguida (1910), compôs o famoso tango "Brejeiro", muitas vezes confundido, posteriormente, como choro. Aliás, os dois gêneros musicais se aproximaram muito a partir do começo do século XIX, segundo alguns estudiosos.

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Na produção musical do compositor, destacam-se numericamente os tangos (em torno de 90 peças), seguidos pelas valsas (cerca de 40) e polcas (cerca de 20), destinando-se o restante a gêneros variados como mazurcas, schottisches, marchas carnavalescas etc.

É sabido que Nazareth rejeitava a denominação de maxixe para os seus tangos, que se distinguiam daquele fundamentalmente pelo caráter pouco coreográfico. Deve-se ressaltar que a influência de compositores europeus, como Chopin, na obra de Nazareth (refletida sobretudo na elaboração melódica de suas valsas) imprimiu-lhe caráter e acabamento distintos da produção de compositores populares do tempo. A referência ao tango enquanto música cantada começa a aparecer por volta de 1880, em quadros do teatro de revista, na maioria das vezes encobrindo composições que nada mais eram do que lundus ou maxixes.

No início da década de 1930, a moda do tango argentino no Brasil contribuiu para o desaparecimento do nome tango. O gênero que era assim denominado passou a receber outros nomes. O Maxixe

Já o Maxixe, foi como ficou conhecida uma dança urbana surgida no Rio de Janeiro por volta de 1870. Segundo José Ramos Tinhorão, o maxixe desenvolveu-se a partir do momento em que a polca, gênero musical de origem européia e tocado nos salões da corte imperial e da alta classe média carioca, sempre ao piano, passou a ser tocada por músicos populares chamados chorões com a utilização de flauta, violão e oficlide. Tais grupos costumavam animar festas em casas populares tocando polcas, valsas e mazurcas.

A designação de "maxixe" à música e à dança atesta o seu caráter popular ligado às classes mais baixas da sociedade carioca da época, uma vez que a palavra era usada para designar coisas de pouco valor.

Ao que parece, a primeira apresentação do maxixe em palcos de teatro da cidade do Rio de Janeiro ocorreu em 1883, quando o ator Francisco Correia Vasques (1839-1893) apresentou o espetáculo "Aí, Caradura!", cuja maior atração eram os trechos cantados e dançados de maxixes. No entanto, o maxixe somente virou verdadeiramente um sucesso a partir da apresentação do maxixe "As laranjas da Sabina", de Artur Azevedo (1055-1908) na revista "República". A partir de então esse gênero logrou um período de sucesso de quase 40 anos, sendo presença certa em praticamente todas as revistas musicais.

No final do século XIX começaram a aparecer as primeiras partituras com maxixes, "quando as casas editoras o reconheceram como gênero musical específico", os compositores que se destacaram na composição de maxixes foram Eduardo Souto, Sinhô, Sebastião Cirino, Romeu Silva, J. Bicudo e eventualmente, Chiquinha Gonzaga. A primeira composição gravada como maxixe foi "Sempre contigo", lançada pela Banda da Casa Edson por volta de 1902, sendo de autor não registrado.

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O maxixe foi dançado na Europa pela primeira vez em 1906 por uma dupla de dançarinas francesas que dançaram o maxixe em Paris. Em 1908, a dupla de cantores e dançarinos Geraldo Magalhães e Nina fizeram apresentações em Portugal onde dançaram o maxixe. Por volta de 1909, o dentista baiano Antônio Lopes de Amorim, conhecido pelo nome artístico de Duque, embarcou para a Europa e se tornou por vários anos o principal divulgador do maxixe na Europa. Inicialmente, Duque apresentou-se dançando tango, e somente em 1910, quando conheceu em Paris a atriz Maria Lino, que estava em excursão na França com uma companhia de revistas começou a dançar o maxixe, tornando-se logo um sucesso retumbante.

A partir da segunda década do século XX, as composições chamadas de

Maxixe vão cedendo lugar para o Samba, gênero recém criado, mas que por alguns anos emprestou o ritmo e a graça dos consagrados maxixes. Muitos críticos até hoje comentam que o samba primordial, "Pelo telefone", de Donga e Mauro de Almeida, não era senão um maxixe na sua forma musical. Bem como também seria maxixe boa parte dos sambas de Sinhô, inclusive os clássicos "Jura", "De que vale a nota sem os carinhos da mulher", "Vamos deixar de intimidade" e "Gosto que me enrosco". BIBLIOGRAFIA: CANCLINI, Néstor García. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair das modernidades. 4.ª ed. 4.ª reimp. São Paulo: Edusp, 2008. DOMINGUES, Diana (org.) A Arte no Século XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo: Unesp, 1997. MORELLI, Rita C. L. Indústria Fonográfica: um estudo antropológico. 2.ª ed. Campinas: Unicamp, 2009. SADIE, Stanley. Dicionário Grove de Música: edição concisa. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1994. VIANNA, Hermano. O Mistério do Samba. 5ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.: UFRJ, 2004.