Música e Tema de Pesquisa: Um relato de experiência no ... · Monografia apresentada ao curso de...
Transcript of Música e Tema de Pesquisa: Um relato de experiência no ... · Monografia apresentada ao curso de...
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
LICENCIATURA EM MÚSICA
JANNIELLY RAYAKE DA SILVA SANTANA
Música e Tema de Pesquisa: Um relato de experiência no Núcleo de
Educação da Infância-Colégio de Aplicação/UFRN
NATAL – RN
JUN – 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
LICENCIATURA EM MÚSICA
JANNIELLY RAYAKE DA SILVA SANTANA
Música e Tema de Pesquisa: Um relato de experiência no Núcleo de
Educação da Infância-Colégio de Aplicação/UFRN
Monografia apresentada ao curso de
Licenciatura Plena em Música da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
– UFRN – como requisito parcial para a
obtenção do Grau de Licenciada em Música.
Orientador: Profa. Ms Carolina Chaves Gomes
Coorientador: Everson Ferreira Fernandes
NATAL – RN
JUN – 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE MÚSICA
LICENCIATURA EM MÚSICA
JANNIELLY RAYAKE DA SILVA SANTANA
Música e Tema de Pesquisa: Um relato de experiência no Núcleo de
Educação da Infância-Colégio de Aplicação/UFRN
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Profa. Ms. Carolina Chaves Gomes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Orientadora
________________________________________________
Prof. Everson Ferreira Fernandes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Coorientador
__________________________________________________
Prof. Valéria Lázaro de Carvalho
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Avaliadora
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho, primeiramente à Deus que me permitiu o dom
da vida, e a minha família e amigos pelo apoio, compreensão e
dedicação ao longo do curso. Dedico também as minhas crianças do
NEI-CAp/UFRN por todo o amor e carinho que me receberam
durante o período de pesquisa.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pelo cuidado e por me permitir tantas coisas boas;
Agradeço a minha família aos meus pais e irmãs por sempre respeitar, incentivar e
apoiar a minha escolha pela música e pelo ser professor;
Aos meus avós, que sempre me disseram para estudar para um dia ser ―doutora‖;
À minha irmã Jayanny Rayara, colega de curso e de profissão por toda paciência e
ajuda em todos os momentos do curso;
Agradeço imensamente à Ivson Martins pela ajuda na correção dos meus textos, me
tranquilizar e por sempre me dizer que sou capaz;
Minha Orientadora Carolina Chaves Gomes, a quem admiro imensamente, que me
apoiou e que tornou esse momento de finalização de curso tão leve e agradável. Não poderia
ter escolhido melhor, uma pessoa incrível e inspiradora;
Ao meu coorientador Everson Ferreira, que dividiu comigo seus conhecimentos sobre
o tema desse trabalho;
Maristela Mosca, por mudar minha vida profissionalmente, por ser minha grande
inspiração como educadora e como pessoa, por me ajudar e por todo o cuidado que teve
comigo e pela honra de tê-la como colega de trabalho;
A todos os meus professores e que sempre vou lembrar com carinho, Carolina Chaves
Gomes, Isaac Melo, Catarina Shin, Álvaro Barros, Agostinho Lima, Valéria Carvalho,
Sueldes Araújo, Rita de Cássia Magalhães, Maria Helena, Amélia Dias Santa Rosa, Carla
Santos;
Agradeço aos meus queridos amigos ―CIARTecas‖, Catarina Shin, Carolina Chaves
Gomes, Maristela Mosca, Isaac Melo, Jayanny Rayara, Júlio César, Barbara Mattiuce,
Kalinka Cordeiro, Érika Pollyana, Pamela Thais, Sihan Felix, Letícia Damasceno, Flávia
Maiara e em especial à Jason Desiderio, meu grande amigo desde os meus primeiros dias na
EMUFRN.
E a todos os meus colegas de turma, em especial Jaime Gomes e Rosely Soares.
Enfim, a todos que fizerem parte dessa trajetória.
EPÍGRAFE
Sem a curiosidade que me move, que me inquieta,
que me insere na busca, não aprendo ensino.
(Paulo Freire)
A criança é um grande pesquisador.
Se a criança é levada a buscar seu material, a fazer sua elaboração, a se expressar
argumentando, a buscar fundamentar o que diz, a fazer uma crítica ao que vê e lê,
ela vai amanhecendo como sujeito capaz de uma proposta própria.
(Autor desconhecido)
O aprendido é aquilo que fica depois que o esquecimento faz o seu trabalho.
(Rubens Alves)
RESUMO
Este trabalho é resultado da minha pesquisa sobre a metodologia do Tema de Pesquisa
adotada pelo Núcleo de Educação da Infância-Colégio de Aplicação/UFRN desde a
restruturação curricular na década de 80. Como objetivo dessa pesquisa, busquei discutir a
construção do Tema de Pesquisa como proposta pedagógica nas aulas de música com crianças
do Ensino Fundamental nos anos iniciais no NEI. Essa proposta busca a autonomia da criança
dentro da sala de aula através das suas próprias curiosidades e interesses acerca de temas
escolhidos por elas, assim tornando as aulas mais prazerosas e fazendo um sentido para os
mesmos. Essa pesquisa teve como metodologia a abordagem qualitativa, do tipo pesquisa-
ação. Tendo como instrumentos de construção de dados: planos de aula, diário de campo e
fotografias do espaço escolar. Conclui-se que através da metodologia do Tema de Pesquisa a
criança poderá vivenciar e aprender de uma forma interdisciplinar aspectos referentes aos
elementos musicais, ampliando assim, seu interesse e conhecimento de mundo e pelo mundo.
Portanto, essa pesquisa se faz relevante no sentido que professores, especialmente os
educadores musicais, possam pensar em outras possibilidades metodológicas para a
compreensão da música levando em conta o que a criança já sabe e o que gostaria de saber.
Palavras-chave: Tema de Pesquisa. Ensino Fundamental. Núcleo de Educação da Infância –
NEI-CAp/UFRN.
ABSTRACT
This work is the result of my research on the methodology of research theme adopted by the
Núcleo de Educação da Infância-Colégio de Aplicação/UFRN from the curricular
restructuring in the 80s As objective of this research, I tried to discuss the construction of the
Research Theme as pedagogical proposal in music classes with children of elementary school
in the early years in the NEI. This proposal seeks autonomy of the child in the classroom
through their own curiosities and interests on topics chosen by them, thus making the most
pleasurable classes and doing a meaning for them. This research was qualitative methodology
approach, as action research. With the data construction of instruments: lesson plans, field
diary and photos of the school environment. In conclusion, through the Research Theme
methodology the child may live and learn in an interdisciplinary way aspects related to
musical elements, thus broadening his interest and knowledge of the world and for the world.
Therefore, this research is relevant in the sense that teachers, especially music educators, can
think of other methodological possibilities for understanding the music taking into account
what the child already knows and what he would like to know.
Keywords: Research Theme. Elementary School. Núcleo de Educação da Infância-Colégio
de Aplicação - NEI-CAp/ UFRN.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- As diferenças entre os princípios básicos de cada metodologia segundo
Pernambuco e Rêgo (2001)......................................................................................................18
Figura 2 - Prédio do NEPI......................................................................................................20
Figura 3 - Portão de acesso ao NEPI.......................................................................................21
Figura 4 - Porta de entrada para o auditório............................................................................21
Figura 5 - Interior do auditório................................................................................................22
Figura 6 - Interior do auditório – Palco...................................................................................22
Figura 7 - Interior do auditório................................................................................................23
Figura 8 - Interior da sala de aula comum...............................................................................24
Figura 9 - Interior da sala de aula comum...............................................................................25
Figura 10 - Distribuição das turmas.........................................................................................26
Figura 11 - Momentos do estágio supervisionado no NEI......................................................31
Figura 12 - Parte dos slides da assembleia – Justificativas das turmas sobre o tema..............36
Figura 13 - Parte dos slides da assembleia – Contagem dos votos..........................................37
Figura 14 - Atividade sobre o tema escolhido – Rock’n Roll..................................................38
Figura 15 - Apresentação da banda através de slides...............................................................42
Figura 16- The Beatles ........................................................................................................... 42
Figura 17 – Lugar de origem ................................................................................................. ..43
Figura 18- Formação da banda ................................................................................................ 43
Figura 19 - Beatlemania ........................................................................................................ ..44
Figura 20- Último show .......................................................................................................... 44
Figura 21- The Beatles hoje .................................................................................................... 45
Figura 22- The Beatles sempre ................................................................................................ 45
Sumário
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 14
2.1 O TEMA DE PESQUISA E SUAS CARACTERÍSTICAS............................................................... 14
2.1.1 O TEMA GERADOR, TEMA DE PESQUISA E PROJETOS DE TRABALHO COMO ESTRATÉGIA
PEDAGÓGICA ......................................................................................................................... 14
2.2 O NÚCLEO DE EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA – COLÉGIO DE APLICAÇÃO – NEI-CAP/UFRN:
ASPECTOS HISTÓRICOS E DE INFRAESTRUTURA ....................................................................... 20
2.3 O TEMA DE PESQUISA NO NEI-CAP/UFRN: OPERACIONALIZAÇÃO DO PROCESSO ................. 27
2.4 O ESTÁGIO NO NEI-CAP/UFRN ............................................................................................ 29
3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 33
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ............................................................... 35
4.1 A ESCOLHA DO TEMA: ASSEMBLEIA DE ALUNOS ............................................................... 35
4.2 DO PLANEJAMENTO, ÀS AULAS E FINALIZAÇÃO DO TEMA: UM PROCESSO REFLEXIVO ..... 37
4.3 A CULMINÂNCIA DO TRABALHO ....................................................................................... 47
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 49
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 51
ANEXO .................................................................................................................................... 54
12
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho discorre acerca da metodologia ―Tema de Pesquisa‖ adotada pelo
Núcleo de Educação da Infância-Colégio de Aplicação/UFRN desde a década de 80, quando
ocorreu a reestruturação curricular da escola. Essa metodologia, proveniente do ―Tema
Gerador‖ que tem como base teórica a pedagogia de Paulo Freire, e que foi proposto por
Sônia Kramer e da ―Palavra Geradora‖ proposta por Madalena Freire, busca através das
experiências de vida e vivências socioculturais das crianças, ―garantir o acesso a experiências,
onde possam expressar ampliar e atualizar suas ideias, conhecimentos e sentimentos‖ (RÊGO
e PERNAMBUCO, 2001, p. 4).
Assim, para compreensão do conceito de ―Tema de Pesquisa‖, abordo três tipos de
metodologias de ensino, são elas: Tema de Pesquisa, Tema Gerador e Projetos de Trabalho.
Apesar de elas terem origens e bases teóricas diferentes, passam pelos mesmos critérios, como
por exemplo, a interdisciplinaridade e conhecimento prévios dos alunos em relação ao tema
que é estudado. Como objetivo dessa pesquisa, busquei discutir a construção do Tema de
Pesquisa como proposta pedagógica nas aulas de música com crianças do Ensino
Fundamental nos anos iniciais no NEI, e como específicos discutir o Tema de Pesquisa
enquanto procedimento de ensino e aprendizagem no ensino fundamental, e analisar as
contribuições do Tema de Pesquisa em música para o desenvolvimento das crianças do
Ensino Fundamental.
A questão problema da pesquisa nasceu a partir da minha curiosidade sobre a
metodologia adotada pelo NEI-CAp/UFRN, que conheci através da minha atuação como
monitora/estagiária nas aulas de música. A partir disso, resolvi abordar como tema do meu
trabalho de conclusão de curso essa metodologia, que não é do conhecimento de muitos
professores e alunos do curso de Licenciatura em Música da UFRN, mas que possui grande
importância nas aulas de música, contribuindo para a autonomia do aluno e sua busca pelo
conhecimento.
Serão tratados nesse trabalho aspectos relacionados à minha prática como
monitora/estagiária, defino assim esse termo por ter realizado as regências do Estágio
Supervisionado III na turma do 3º ano ―B‖ vespertino na mesma época em que atuava como
bolsista da professora de música do colégio.
Justifico esse trabalho pela importância que a metodologia do Tema de Pesquisa tem
para toda comunidade escolar, buscando a interação entre escola e o meio social no qual a
13
criança está inserida, trazendo um sentido de mundo para os alunos e fazendo com que os
mesmos pensem, decidam e reflitam sobre temas que serão tratados pela escola de uma forma
interdisciplinar, tratando a criança como um ser que tem suas opiniões e possibilitando assim
que as mesmas pensem, reflitam e modifiquem não só a sua, mas a realidade da comunidade
em que está inserida. E ainda
No primeiro capítulo, será apresentado o referencial teórico, que trata da definição dos
termos utilizados e origens de cada metodologia citada anteriormente. Discorro acerca da
história e infraestrutura da escola, como também sobre o Tema de Pesquisa no NEI, nesse
ponto, abordo a organização dessa metodologia na escola em questão. Tal organização divide-
se em três momentos, são eles: ―Estudo da Realidade‖, ―Organização do Conhecimento‖ e
―Aplicação do conhecimento‖. Em seguida explico o funcionamento dos estágios
supervisionados no Núcleo de Educação da Infância, dando ênfase às atividades comuns aos
estagiários de todas as áreas de conhecimento.
No segundo capítulo, falo sobre a metodologia utilizada para a realização desse
trabalho, que no caso, caracteriza-se como uma pesquisa de natureza aplicada e caráter
exploratório-descritivo, pois trata-se de um relato de experiência a partir do estágio
supervisionado. Também, caracteriza-se como uma pesquisa-ação, pois essa proposta do
Tema de Pesquisa foi utilizada pela primeira vez nas aulas de música e à medida que colhia os
dados voltava ao campo para reaplicá-los.
No terceiro capítulo, encontra-se a apresentação e análise de dados, onde relato e
analiso atividades que aconteceram durante a minha prática como monitora/estagiária
utilizando o Tema de Pesquisa como metodologia nas aulas de música.
E finalmente, no quarto capítulo, as minhas considerações finais à respeito de todo o
meu trabalho e impressões acerca do Tema de Pesquisa como uma proposta de metodologia
nas aulas de música.
14
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O TEMA DE PESQUISA E SUAS CARACTERÍSTICAS
2.1.1 O Tema Gerador, Tema de Pesquisa e Projetos de Trabalho como estratégia
pedagógica
O trabalho por Tema de Pesquisa tem inquietado muitos educadores no sentido de que
são mais adequadas aquelas metodologias que buscam a autonomia do aluno em sala de aula,
ressaltando a importância do seu cotidiano para o aprendizado através da escolha do que ele
mais se identifica, conseguindo levar suas experiências para a sala e para que aquilo que está
sendo ensinado na escola com o intuito de que faça algum sentido para sua vida.
Escolhi apresentar essas três metodologias, Tema de Pesquisa, Tema Gerador e
Projetos de Trabalho, por as duas primeiras serem diretamente ligadas à minha prática e ao
NEI, e a última por ser diversas vezes confundidas com a prática adotada pelo Colégio. Para
definir os termos que serão apresentados posteriormente, me deparei com uma falta de
literatura acerca do Tema de Pesquisa, já que essa é uma metodologia particularmente
desenvolvida e adota no NEI-CAp/UFRN desde sua reestruturação curricular na década de 80.
Sendo assim, essa foi uma forma que o colégio encontrou de ―[...] articular três dimensões
básicas: o conhecimento das áreas de conteúdo que se quer tornar disponível, o contexto
sociocultural das crianças, ou suas realidades imediatas, e os aspectos vinculados diretamente
à aprendizagem.‖ (RÊGO E PERNAMBUCO, 2001, p. 3).
O conceito de Tema de Pesquisa teve como referências para sua construção as
propostas de Madalena Freire (1983) com o livro A paixão de conhecer o mundo que conta
relatos de sua busca em ―conhecer o mundo‖ junto com as curiosidades das crianças, bem
como a proposta de Sônia Kramer (1992) no livro Com a pré-escola nas mãos no qual aborda
o tema de gerador. Com esses trabalhos, o Tema de Pesquisa toma suas primeiras formas e
definições.
Segundo Rêgo (1999), ―o tema de pesquisa constitui-se num parâmetro básico da
dinâmica pedagógica‖, afirmando ainda que nem todo assunto será visto como um possível
tema de pesquisa. Sendo assim, ela aponta quatro critérios para que os assuntos sejam
considerados como tal:
- Precisa ser um assunto que gere questionamentos, necessidade de ir em
busca de um aprofundamento maior, possibilitando, dessa forma, o diálogo;
- Que contribua para uma visão mais ampla da realidade onde o indivíduo
está inserido, favorecendo um melhor entendimento do mundo em que vive;
15
- Unifique/aglutine conceitos de outras áreas de conhecimento, com a
perspectiva de articular-se com outros conhecimentos, podendo ser ampliado
para outros temas;
- Envolva um componente afetivo ao grupo, para ser significativo, ou seja,
que todo o grupo esteja curioso e interessado em saber mais/investigar
aquele determinado assunto (RÊGO, 1999, p. 65).
Esses quatro critérios nos mostram o que é necessário para que saibamos se um
assunto pode ser considerado como Tema de Pesquisa ou não. Por vezes, as crianças apontam
um assunto para ser trabalhado na sala de aula, mas que a única justificativa apresentada por
elas é: ―é um assunto legal‖. Cabendo aos professores, como incentivadores da pesquisa em
sala de aula, saber se aquele assunto abrange os critérios citados anteriormente, para que o
assunto não seja algo apenas passageiro na vida das crianças e que não tenha acrescentado ou
modificado na sua forma de pensar, no seu cotidiano, etc.
O Tema de Pesquisa é dividido em três momentos pedagógicos: Estudo da Realidade
(ER); Organização do Conhecimento (OC), e; Aplicação do Conhecimento (AC). O primeiro
trata do conhecimento que as crianças já possuem anteriormente sobre o assunto, é o
momento da ―fala do outro‖, de conversar sobre o assunto na roda de conversa. Constitui-se
do momento mais informal, por assim dizer, deste processo. O segundo momento caracteriza-
se pela ―fala do organizador‖, no qual o professor busca formas e atividades para atender às
expectativas das crianças quanto ao tema. E o último momento é uma síntese, uma tomada de
consciência, quando as crianças percebem o que aprenderam, alunos e professores,
identificando se encontraram respostas para as questões iniciais que propuseram.
O Tema Gerador surge com base na pedagogia de Paulo Freire com seu texto
―Pedagogia do Oprimido‖ e que segundo Rêgo e Pernambuco (2001), ―teve uma de suas
sistematizações elaborada pela equipe que coordenou o Movimento de Reorientação
Curricular no Município de São Paulo na década de 90.‖ (RÊGO e PERNAMBUCO, 2001, p.
2). E que ainda, segundo as autoras:
Os Temas Geradores foram idealizados como um objeto de estudo que
compreende o fazer e o pensar, o agir e o refletir, a teoria e a prática,
pressupondo um estudo da realidade, onde emerge uma rede de relações
entre situações significativas individualmente, social e histórica. Assim
como, uma rede de relações entre situações que orienta a discussão,
interpretação e representação dessa realidade [grifo dos autores] (RÊGO e
PERNAMBUCO, 2001, p. 2).
Já Sônia Kramer (1992) aborda o tema gerador como ―um eixo condutor do currículo‖
(KRAMER, 1992, p. 50) para as crianças. Ao longo do tempo, diversas nomenclaturas foram
16
definindo o Tema de Gerador. Nesse sentido, Kramer (1992) denomina o termo de ―Tema
Gerador como fio condutor do trabalho‖, definindo-o como:
A possibilidade de articular, no trabalho pedagógico, a realidade
sociocultural das crianças, o desenvolvimento infantil e os interesses
específicos que as crianças manifestam, bem como os conhecimentos
acumulados historicamente pela humanidade a que todos têm direito a
acesso. Os Temas imprimem, ainda, um clima de trabalho conjunto e de
cooperação na medida em que os conhecimentos vão sendo coletivamente
construídos, ao mesmo tempo em que são respeitados os interesses
individuais e os ritmos diversificados das crianças (KRAMER, 1992, p. 50).
Segundo a autora, os temas tidos como tema gerador podem surgir de duas formas:
através dos temas cíclicos e/ou gerados pelas crianças, suas famílias, professores e outros
profissionais da escola. Os temas cíclicos surgem das datas comemorativas e são anuais: Dia
dos Pais, Dia das Mães, Dia do Índio, Festas Juninas, entre outras datas. Mas há também
aqueles temas que surgem a partir da ―influência‖ dos meios de comunicação, como por
exemplo, a televisão. Um exemplo de tema poderia ser a Copa do Mundo que não acontece
anualmente, mas que contagia e muda a rotina das pessoas durante o período que a mesma
acontece.
Os temas vêm da escolha das próprias crianças e também da ajuda das famílias e da
observação feita pelos professores a partir das atitudes das crianças e conversas na escola. De
acordo com Kramer (1992), o tema gerador pode surgir a partir das curiosidades das crianças,
como também:
das situações do dia-a-dia das crianças e de suas relações umas com as outras
(nos jogos e brincadeiras, conversas e trabalhos coletivos); de suas relações com
o mundo social (suas famílias, vizinhos, amigos) e com o mundo (animais,
vegetais, chuva, vento etc.);
de acontecimentos especiais (início das aulas, enchente, eleições etc.);
de problemas existentes no seu cotidiano de vida (desemprego, falta de
dinheiro, doenças, problemas habitacionais, despejos etc.). (KRAMER, 1992, p.
54-55).
Muitos temas surgem das conversas durante a roda inicial, que acredito ser um
momento muito importante para as crianças, pois é quando elas, questionadas sobre coisas
que aconteceram no seu dia, contam algo novo que conheceu ou aconteceu sendo também um
momento de grande interação entre as crianças e os professores, tornando-se um período de
―mais liberdade‖ para que as crianças, como em uma conversa, libertem suas curiosidades, e
muitas vezes surgindo desse espaço um novo tema para se pesquisar.
Uma outra proposta que se assemelha ao Tema de Pesquisa é a metodologia de
Projetos de Trabalho, que, dentre outros, foi idealizado por W. H. Kilpatrick tendo referência
17
a pedagogia de John Dewey (RÊGO e PERNAMBUCO, 2001) e que de acordo com
Hernandéz:
[...] se baseia fundamentalmente numa concepção da globalização entendido
como um processo muito mais interno do que externo, no qual as relações
entre conteúdos e áreas de conhecimento têm lugar em função das
necessidades que traz consigo o fato de resolver problemas que subjazem na
aprendizagem (HERNANDÉZ, 2009, p.63).
Na metodologia de Projetos de Trabalho, a criança é parte principal, é o centro da
aprendizagem, podendo assim trazer o que a mesma já sabe sobre determinado assunto e/ou
sua experiência vivida sobre o tema a fim de resolver os problemas que surgem ao abordar
determinado assunto.
Segundo Sampaio (2012), em um Projeto de Trabalho o professor é um mediador,
incentivador e propositor, criando situações que estimulem as crianças no desenvolvimento de
suas habilidades, como: refletir, elaborar, pesquisar, aceitar a opinião dos colegas, ser
responsáveis e desenvolver sua autonomia. E assim como o Tema de Pesquisa, o trabalho por
projetos também tem algumas características para que seja denominado como tal, como cita
Sampaio (2012, p. 17):
Parte-se de um tema ou de um problema negociado com a turma;
Inicia-se um processo de pesquisa;
Buscam-se e selecionam-se fontes de informação;
São estabelecidos critérios de organização e interpretação das fontes;
São recolhidas novas dúvidas e perguntas;
Representa-se o processo de elaboração do conhecimento vivido;
Recapitula-se (avalia-se) o que se aprendeu;
Conecta-se com um novo tema ou problema (SAMPAIO, 2012, p. 17).
Assim, a metodologia de projetos de trabalho é uma forma de ―trazer‖ a criança para a
sala no sentido de que, a mesma irá se sentir parte daquele aprendizado, pensando,
questionando, tentando junto com a turma e o professor resolver problemas que ele vivencia
no seu dia a dia e com isso, o que se aprende na escola acaba fazendo mais sentido para o
mesmo.
Sabendo da existência de tais metodologias e que as mesmas tem muito em comum,
sendo por muitas vezes confundida, já que todas tratam da autonomia dos alunos em sala de
aula, da escolha de um tema e do papel de mediador que o professor exerce, elaborei um
quadro trazendo os princípios básicos de cada metodologia, como mostra a seguir:
18
Figura 1: As diferenças entre os princípios básicos de cada metodologia segundo Pernambuco e
Rêgo (2001).
Fonte: Elaborada pela autora
Os princípios básicos das metodologias de tema gerador, tema de pesquisa e projetos
de trabalho são bastante semelhantes quanto ao seus objetivos, pois ambas buscam que o
educando escolha o que deve estudar, no sentido de trazer para dentro da sala de aula temas
de seu cotidiano com o objetivo de resolver os problemas e dúvidas acerca do mesmo,
pesquisando, questionando, desenvolvendo seu lado crítico. E em ambas cabe ao professor o
papel de mediador durante todo esse processo de resolução dos questionamentos por parte dos
alunos, cabendo a ele ser um pesquisador junto com os educando, problematizador, propositor
a fim de incentivar a todos os participantes da pesquisa uma visão de mundo cada vez mais
crítica.
• o conhecimento das áreas de conteúdos que se quer tornar disponível;
• o contexto sociocultural das crianças, ou suas realidades imediatas;
• e os aspectos vinculados diretamente à aprendizagem.
Tema de Pesquisa
• uma visão de totalidade e abrangência da realidade;
• a ruptura do conhecimento no nível do senso comum;
• adota o diálogo como sua essência;
• exige do educador uma proposta de crítica, de problematização constante, distanciamento, de estar na ação e de se abservar e se criticar nessa ação.
• aponta para a participação, discutindo no coletivo e exigindo disponibilidade dos educadores.
Tema Gerador
• aprendizagem significativa, a partir do que os alunos já sabem;
• articulação com uma atitude favorável para o conhecimento;
• previsão de uma estrutura logica e sequencial dos conteudos na ordem que facilite sua aprendizagem; sentido de funcionalidade do que aprender;
• memorização compreensiva das informações;
• e avaliação do processo durante toda a aprendizagem.
Projetos de Trabalho
19
Sobre alguns pontos percebi que há algumas poucas diferenças entre as metodologias
citadas acima, mas que não alteram sobre seus objetivos:
Tema gerador: no momento denominado por ―estudo da realidade‖ parte de
um problema local, da sua comunidade, assim devendo estudar sobre a mesma;
Tema de pesquisa: nesse mesmo ―estudo da realidade‖ ―os conteúdos surgem
do contexto sócio-econômico-cultural-político.‖ (RÊGO e PERNAMBUCO,
2001, p. 4).
Assim, para este trabalho utilizarei o termo Tema de Pesquisa sabendo ser este o termo
mais utilizado no âmbito da escola, objeto desta investigação, para se referir ao trabalho
pedagógico desenvolvido na escola de Ensino Fundamental no qual se desenvolveu esta
pesquisa (NEI-CAp/UFRN). Dessa forma, o relato que se segue refere-se ao semestre letivo
2014.1 a partir do qual apresento minhas impressões e avaliações sobre o processo de ensino
da música da turma do 3º ano B vespertino, utilizando a abordagem de Tema de Pesquisa,
escolhido, discutido, apresentado e organizado pelos alunos e professores da turma.
20
2.2 O Núcleo de Educação da Infância – Colégio de Aplicação – NEI-CAp/UFRN:
aspectos históricos e de infraestrutura
O Núcleo de Educação da Infância – NEI-CAp/UFRN – foi criado em 1979,
inicialmente criado como Unidade Complementar que recebia crianças a partir dos 3 meses de
idade e que eram filhos de funcionários e alunos da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN), no mesmo ano foi tida como creche recebendo crianças a partir de 1 ano e 8
meses aos 5 anos e 11 meses e em 2008 as vagas foram ofertadas para a comunidade em geral.
Em 2002 foi regulamentado pela Resolução nº 002, de 15 de janeiro de 2002, do
Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CONSEPE. Atualmente, funciona como uma
Escola de Aplicação, vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN e ao
Centro de Educação - CE, dedicando-se à Educação Infantil (creche e pré-escola) e ao Ensino
Fundamental (ciclo de alfabetização). Já em 2013, por meio da Resolução 13/2013, de 18 de
outubro de 2013, esta comunidade escolar acolhe as crianças e os servidores da Unidade
Educacional Infantil-UEI/UFRN, ampliando assim o seu atendimento (NEI, 2014).
O colégio possui uma estrutura que caracteriza-o como de médio porte, contando com
ambientes distintos para educação infantil e para o ensino fundamental. O Núcleo de
Educação da Infância possui estacionamento para funcionários, pais e visitantes, pátio de
recreação, parque, sala da coordenação, sala da secretária, salas de aula, almoxarifado, quadra,
copiadora, sala multimídia, copa, cozinha experimental, além de outro prédio anexo
denominado Núcleo de Estudos e Pesquisas da Infância (NEPI) que abrange as atividades
regulares da escola, bem como atividades de pesquisa, extensão e formação continuada.
Figura 2: Prédio do NEPI
Fonte: Elaborada pela autora
21
Figura 3: Portão de acesso ao NEPI
Fonte: Elaborada pela autora
Figura 4: Porta de entrada para o auditório
Fonte: Elaborado pelo autor
As aulas de música acontecem no auditório que tem por nome Maria Carmem Freire
Diógenes Rêgo, que fica localizado no Núcleo de Estudos e Pesquisas da Infância (NEPI),
prédio de anexo do NEI-CAp/UFRN. É um espaço grande que possui um pequeno palco, um
piano e algumas cadeiras inadequadas ao porte físico infantil, essas cadeiras não são utilizadas
nas aulas de música, mas sim em eventos que acontecem no local, pois o auditório não é de
uso exclusivo das crianças e nem das aulas de música.
22
Figura 5: Interior do auditório
Fonte: Elaborado pelo autor
Figura 6: Interior do auditório – Palco
Fonte: Elaborado pela autora
23
Figura 7: Interior do auditório
Fonte: Elaborado pelo autor
As aulas de música por algumas vezes acontecem na sala de aula das crianças, que fica
no próprio prédio do NEI, a sala tem mobília apropriada para o porte físico das crianças, é
bem lúdica e com espaços bem determinados e pensados no desenvolver da criança, como por
exemplo, o cantinho dos jogos, faz de conta e o cantinho da leitura. Também na sala ficam
expostos os trabalhos de pesquisa das crianças. A sala possui, mesas, cadeiras, estantes,
quadro branco, computador, ventiladores, livros e brinquedos.
24
Figura 8: Interior da sala de aula comum.
Fonte: Elaborada pela autora
Na imagem, no lado direito, podem ser observados os quadros com informações, fotos,
figuras que as crianças pesquisam sobre o Tema de pesquisa estudado. Em cada sala de aula
comum existem dois quadros, um para o turno matutino e outro para o turno vespertino, com
o objetivo de fazer com que a criança tenha maior contado com as informações já descobertas
sobre o tema e também para quando houver qualquer dúvida sobre o mesmo a criança pode
buscar a informação que já pesquisou no quadro, fazendo assim um facilitador para que não
esqueçam certas informações acerca do tema.
25
Figura 9: Interior da sala de aula comum
Fonte: Elaborado pela autora
O Corpo Docente é composto atualmente por 74 (setenta e quatro) profissionais sendo:
42 (quarenta e dois) professores efetivos, 13 (treze) professores substitutos, 19 (dezenove)
bolsistas, entre eles, uma de música. Os professores tem título de doutor, mestres,
especialistas. O corpo discente é constituído por alunos da comunidade, sendo eles da classe
baixa, média e alta. A forma de ingresso se dá por sorteio público e toda a comunidade pode
se candidatar a vaga. (NEI, 2014).
Os alunos tem idade entre 0 e 8 anos e as aulas acontecem nos turnos matutino e
vespertino, com as turmas da Educação Infantil e Ensino Fundamental e são distribuídas da
seguinte forma:
26
Figura 10: Distribuição das turmas
Fonte: Elaborado pela autora
Berçário
• Berçário I (6 meses a 1 ano) – 10 alunos por turma;
• Berçário II (1 a 2 anos) – 18 alunos por turma.
Educação Infantil
• Turma I (2 a 3 anos) – entre 22 e 23 alunos por turma;
• Turma II (3 a 4 anos) – 21 alunos;
• Turma III (4 a 5 anos) – 21 alunos;
• Turma IV (5 a 6 anos) – 23 alunos.
Ensino Fundamental I
• 1º ano (6 a 7 anos) – 20 a 21 alunos por turma;
• 2º ano (7 a 8 anos) – 20 a 17 alunos por turma;
• 3º ano (8 a 9 anos) – 19 a 21 alunos por turma.
27
2.3 O Tema de Pesquisa no NEI-CAp/UFRN: operacionalização do processo
No NEI o Tema de Pesquisa vem sendo utilizado desde a década de 80 a partir da
Reestruturação Curricular desenvolvida na época. Buscando considerar as ―experiências de
vida e valores socioculturais das crianças, garantindo o acesso a experiências, onde possam
expressar, ampliar e atualizar suas ideias, conhecimentos e sentimentos‖ (RÊGO, 1991, p. 4).
Tendo o Tema de Pesquisa como metodologia norteadora de seu trabalho, o Núcleo de
Educação da Infância da UFRN ao início de cada semestre realiza momentos pedagógicos
específicos dentre os quais são formulados os Temas de cada turma. Os três momentos
pedagógicos identificados no NEI são os seguintes:
O primeiro momento – Estudo da realidade (ER), nesse momento as crianças falam
o que elas já sabem sobre o tema escolhido, o que elas ouviram na família, nos grupos de
amigos, ou seja, tudo o que elas já tiveram a oportunidade de vivenciar sobre o tema, seja até
mesmo pelos meios de comunicação. Desta forma, os professores da turma de acordo com as
dúvidas e questionamentos das crianças vão ―guiando‖ qual rumo à pesquisa tomará – ―O que
sabemos?‖, ―O que nós queremos saber?‖ e ―O que vamos pesquisar?‖.
O segundo momento – Organização do conhecimento (OC), o momento é de
construção do ―como fazer‖, o que será feito para responder as questões e dúvidas das
crianças. Aqui é onde o professor deverá ser um mediador e propositor da pesquisa. ―[...]
Nesse momento, a professora tem um papel fundamental, de articuladora do conhecimento, ou
seja, como a ―pessoa‖ que ―sabe mais [...]‖ (RÊGO, 1999, p. 71) a partir das atividades
propostas as crianças saem em busca das respostas de seus próprios questionamentos em
livros, internet, pessoas especialistas no assuntos, museus, etc.
O terceiro momento – Aplicação do conhecimento (AC), as questões iniciais são
novamente feitas com o objetivo de que as crianças percebam se suas dúvidas e perguntas
iniciais foram ou não respondidas. Quando respondido, é hora da ―publicação‖, é necessário
que os resultados sejam compartilhados não só na sala de aula, mas sim com a escola e até
mesmo com a família. Como diz Rêgo (1999, p. 71), esse momento é a síntese de todo o
assunto aprendido, pois, assim, as crianças estarão expressando suas aprendizagens de alguma
forma, seja por um desenho, texto, etc. Mas também é feito um texto descritivo elaborado por
todas as crianças e a professora, assim todos podem relatar o que aprenderam e suas
impressões. ―Nesse momento, professoras e crianças contribuem com suas impressões, visões
e conhecimentos. A partir dessas sínteses, as crianças poderão estruturar ideias
transformadoras sobre o mundo em que vivem‖ (RÊGO, 1991 p. 71).
28
Esse tipo de ―fechamento‖ do que foi estudado em sala de aula é bastante importante
para que as crianças compreendam a finalização do tema de pesquisa estudado, como também
para que percebam se suas dúvidas foram respondidas e o que elas aprenderam além do que
esperavam.
Os trabalhos com Tema de pesquisa não tem um tempo determinado para a sua
finalização, isso vai depender se os questionamentos das crianças foram ou não respondidos.
Segundo Kramer (1992), os temas podem durar uma ou mais semanas, dependendo do
envolvimento de todos e da abrangência do tema estudado. Por algumas vezes, o tema pode
gerar subtemas dependendo da forma que serão trabalhados e principalmente se todos
estiverem envolvidos e motivados a descobrir mais sobre o assunto, por isso a importância de
todos participarem da escolha do tema, como também podem ser finalizados rapidamente
quando o tema não gera uma motivação geral, podendo acabar quando chegam as respostas
para seus questionamentos iniciais, não tendo uma abertura para outros temas relacionados.
Isso geralmente ocorre com temas cíclicos, como por exemplo, Natal, Páscoa, São João,
podendo assim, não fazer tanto sentido para as crianças, muitas vezes não fazendo parte dos
valores e costumes familiares ou ainda não fazerem parte de suas experiências infantis.
29
2.4 O Estágio no NEI-Cap/UFRN
O Núcleo de Educação da Infância – Colégio de Aplicação – NEI-CAp/UFRN, recebe
estagiários da UFRN, com o objetivo de atuar na Educação Infantil e no Ensino Fundamental
nos anos iniciais. Os estagiários são estudantes dos cursos de Licenciatura em diversas áreas,
tais como, Música, Teatro, Dança, Pedagogia, Psicologia, Educação Física e Biologia (NEI,
2014).
A prática de estágio no NEI-CAp/UFRN acontece de uma forma diferenciada das
outras instituições de ensino, pois todos os estagiários, independente da sua área de atuação,
passam por várias atividades preparatórias conduzidas pela equipe pedagógica da escola. Tais
atividades possuem o intuito de orientar esses aprendizes de forma que passem por diversas
etapas de estudo e preparação antes de sua prática pedagógica. As atividades são as seguintes:
Caracterização da Escola
Estudo
Observação
Participação na sala de aula
Planejamento junto aos professores da turma
Regência/Intervenção
Escrita do Relatório
Discussão do relatório com a coordenação de ensino e as professoras da turma
A caracterização da escola envolve o conhecimento do espaço físico, sendo que a
primeira etapa desse processo é uma reunião com todos os estagiários das diversas áreas,
conduzida pela coordenadora pedagógica do colégio. Neste momento, nós estagiários tivemos
a oportunidade de conhecer a história do NEI, sua metodologia, seu corpo docente e
funcionários, e até uma visita ao prédio onde as crianças permanecem durante as suas
atividades escolares.
Finalizado esse primeiro contato, segue-se ao momento de estudo que teve a duração
de duas semanas e que se realizava durante o turno escolhido de acordo com o dia em que as
aulas serão observadas. Ao longo as semanas de estudo tínhamos acesso a documentos de
referência para nossa prática, tais como: relatórios de estágio, artigos publicados por
30
professores, livros escritos por professores e os alunos do NEI, o Projeto Político Pedagógico
(PPP) do colégio, entre outros documentos que foram de extrema importância para prática.
As observações, nosso primeiro contato com as crianças, são realizadas depois de três
semanas de estudos e conhecimento do colégio. As aulas de música no Ensino Fundamental I
aconteceram nos turnos matutino e vespertino todas as quartas-feiras. Esse momento é de
extrema importância, pois para nós, estagiários, a observação é uma forma de conhecermos a
escola desde sua estrutura até sua metodologia, forma de trabalho além de uma maneira de
nos aproximarmos das crianças para que não haja um estranhamento por ambas as partes,
professores, estagiários e crianças.
Outro momento é a participação na sala de aula. Neste, o estagiário começa a pensar
na sua prática como docente. Alguns professores supervisores permitem que os seus
observadores não fiquem só como visitantes, que ficam apenas observando o que se passa.
Quando o estagiário pode realizar uma observação participativa facilita pensar na sua prática
já que o docente em formação se coloca no lugar do seu supervisor de estágio e começa a
pensar de ―o que eu faria se tivesse no lugar dele‖. Nesse sentido, Azevedo, Grossi e
Montandon (2009) afirmam que,
[...] o estágio como teoria e prática – integra princípios teóricos, interações
sociais e institucionais, e habilidades técnicas, visando desenvolver no
professor uma ação reflexiva sobre o contexto escolar (instituição e sujeito)
no sentido de promover sua inserção profissional (AZEVEDO, GROSSI e
MONTANDON, 2009. p.71).
No NEI, o estágio supervisionado é visto como um momento único, então a
coordenação da escola acompanha esse início bem de perto, tirando dúvidas, dando dicas,
textos de referência, entre outras coisas. O corpo docente é encarregado de nos incluir nas
aulas, com os alunos, de permitir essa união entre teoria e prática.
O Planejamento junto aos professores da turma acontece no contra turno, os
estagiários tem a oportunidade de conversar, trocar ideias e experiências com os professores
que os acompanharão durante toda sua prática. Depois das observações e da participação na
sala de aula, o estagiário está em condições de propor o que acredita ser relevante para a
continuação do que estava sendo feito anterior a sua intervenção, o mesmo agora tem
consciência das necessidades da turma em relação aos conteúdos e práticas na sala de aula.
A Regência/intervenção acontece depois de algumas semanas de preparação, pois esse
é um momento de grande expectativa pelos estagiários, já que é sua primeira intervenção
naquela turma. É hora de colocar em prática tudo o que foi estudado no seu
31
curso/universidade e no NEI, mas também tudo o que pôde perceber durante todo o período
de preparação deste estágio.
A escrita do relatório e a discussão do relatório com a coordenação de ensino e os
professores da turma é obrigatório para todos os que passaram no colégio como estagiários.
Para isso, foi criado um evento denominado de I Seminário de Estágio Supervisionado do
NEI, e que aconteceu durante os dias com discussões e apresentações de artigos produzidos a
partir do relatório como resultado de suas práticas. Todos os estagiários, ao término de suas
práticas escreveram um artigo cientifico que compartilhavam de suas ideias, suas práticas e
impressões quanto ao período de estágio e apresentação para os demais, professores de classe,
especialistas, coordenação. Nesse evento ocorreram além de apresentações de artigos, mesas
redondas com professores convidados do NEI e da UFRN, que debateram sobre assuntos
como: currículo, educação musical, psicologia, entre outros.
Figura 11: Momentos do estágio supervisionado no NEI.
DISCUSSÃO DO RELATÓRIO COM A COORDENAÇÃO DE ENSINO E AS PROFESSORAS DA TURMA
É um momento de discussão de suas práticas junto à coordenação e os professores supervisores de cada estagiário.
ESCRITA DO RELATÓRIO
Ao término de suas práticas é destinado aos estagiários um período para a escrita do relatório de estágio tendo como objetivo final uma discussão com a coordenação e outros estagiários independente da área de atuação.
REGÊNCIA/INTERVENÇÃO
Depois de toda preparação, o estagiário tem seu primeiro momento como docente da turma, toda intervenção fica por conta do mesmo e o professor da turma o avalia durante sua prática.
PLANEJAMENTO JUNTO AOS PROFESSORES DA TURMA
Este planejamento acontece no contra turno, é o momento em que o estagiário propõe as atividades para sua primeira regência. Desta forma, o planejamento é feito pelo estagiário com a supervisão do professor da turma.
PARTICIPAÇÃO NA SALA DE AULA
Este é um momento em que o estagiário sai da condição de observador e se integra aos momentos da aula, começando a participar da rotina das crianças, mas sem intervenção.
OBSERVAÇÃO
Depois de três semanas de preparação, o estagiário vai à campo, mas apenas como observadores da prática. Tem como objetivo conhecer a turma que irá estagiar, mas também conhecer como a rotina das crianças e da escola.
ESTUDO Acontece durante duas semanas no dia em que o estagiário irá atuar. É um momento de ler textos referenciais, como por
exemplo, relatos de outros estagiários que já passaram pelo NEI-CAp/UFRN, trabalhos de professores da instituição, o Projeto Político Pedagógico da escola.
CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA
Este é um momento oferecido pela coordenação da instituição e tem como objetivo apresentar e caracterizar a escola e como se dá o ensino – aprendizagem da mesma.
32
Fonte: Elaborado pela Autora.
Diante das experiências anteriores como estagiária, pude perceber quanto o NEI se
preocupa com a formação dos estagiários que recebe, podendo contribuir de uma forma bem
significativa através de leituras, debates, planejamentos junto aos professores. Este é um
estágio diferenciado, pois é necessário passar por vários momentos de estudos antes da nossa
prática para que possamos entender a metodologia da escola, como realizam suas práticas e
como unir a teoria ao fazer pedagógico.
33
3 METODOLOGIA
Esta pesquisa é de natureza aplicada e caráter exploratório-descritivo, pois se trata de
um relato da minha prática como estagiária e monitora de música no Núcleo de Educação da
Infância – Colégio de Aplicação – NEI-CAp/UFRN, na turma do 3º ano ―B‖ e que foi
realizado no primeiro semestre de 2014. Considerada quanto à abordagem do problema uma
pesquisa qualitativa, já que durante o período de estágio meu envolvimento com os sujeitos
foi direto, podendo assim participar da construção do conhecimento dos participantes
buscando responder seus questionamentos iniciais quando feita a assembleia para a escolha do
Tema de pesquisa. Sobre a pesquisa qualitativa Silva e Menezes (2005) afirmam que:
A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no
processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o
pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a
analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos
principais de abordagem (SILVA e MENEZES, 2005, p. 20).
Assemelha-se à pesquisa-ação, pois o Tema de Pesquisa foi utilizado pela primeira vez
nas aulas de música e a cada aula lecionada pude avaliar e planejar novamente as aulas das
crianças do ensino fundamental, mais especificadamente a turma do 3º ano ―B‖ do turno
vespertino, utilizando da proposta metodológica que o NEI-CAp/UFRN adota. Segundo Silva
e Menezes (2005) pesquisa-ação é ―quando concebida e realizada em estreita associação com
uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou
participativo.‖ (SILVA e MENEZES, 2005, p. 22).
Os dados coletados para a elaboração desta pesquisa foram obtidos através dos planos
de aula, diário de campo e fotografias do espaço escolar.
Os instrumentos de coleta de dados citados anteriormente junto com as descrições das
aulas e avaliações que a professora supervisora de música sempre ao término das regências,
foram essenciais para a interpretação do que estava sendo feito nas aulas permitindo uma
reflexão e análise sobre as questões que as crianças levantaram no momento de sua defesa do
tema à ser estudado, no caso, Rock’n Roll e The Beatles.
Quanto ao objetivo deste estudo, trata-se de uma pesquisa exploratório-descritiva, pois
atuei como estagiária/pesquisadora, tendo assim a oportunidade de conhecer na prática os
sujeitos participantes, seus objetivos e o seu objeto de estudo. Também através dos planos de
aulas pude aplicar atividades que envolviam o tema estudado e de acordo com o resultado e
34
reação das crianças modificava minhas estratégias e retornava à sala de aula afim de chegar
aos objetivos traçados.
Neste trabalho será relatado como se deu o processo de escolha do tema da pesquisa
para as aulas de música e a resolução dos seus questionamentos, tendo como culminância um
recital sobre a banda estudada.
35
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Os dados utilizados para o desenvolvimento e o maior entendimento de como o Tema
de Pesquisa pode ser uma alternativa metodológica que, ao meu ver, tem como uma de suas
vantagens a autonomia e a estimulação do senso crítico das crianças. Os instrumentos
utilizados durante a pesquisa/estágio foram as descrições das observações realizadas antes da
minha atuação como monitora/estagiária, os planos de aula produzidos por mim junto com o
meu companheiro de estágio e com a supervisão da professora de música do NEI-
CAp/UFRN, a avaliação feito pela mesma no final das regências, e por fim as fotos do recital
realizado para finalizar o estudo do tema escolhido.
Dessa forma, serão analisados algumas atividades que fizeram parte da minha prática
como monitora/estagiária e assim classificados de acordo com os momentos em que o Tema
de pesquisa acontece no NEI.
4.1 A escolha do tema: assembleia de alunos
No processo de escolha do tema é feito um estudo da realidade, as crianças
conversam entre si, com o auxílio da professora de classe até que entrem em um consenso de
qual tema deverá ser escolhido, apresentado e defendido durante a assembleia a qual a
professora de música, no caso, foi responsável. Todo processo é totalmente colaborativo e
sempre realizado por meio de conversas que dão as crianças à oportunidade de expor suas
opiniões e ideias para a resolução de um problema/questionamento que não é só seu, mas sim
de toda a turma.
Nesse momento, início de 2014, foi realizada a primeira assembleia que tinha como
objetivo a escolha do tema. As turmas do turno vespertino, todas reunidas no auditório,
defenderam seus temas de acordo com o que já sabiam sobre o mesmo.
As crianças chegaram ao auditório no horário marcado previamente pela professora de
música. No local, todas as quatro turmas do turno vespertino aguardavam o inicio da
assembléia. Organizamos as turmas em sequencia dos menores para os maiores, assim ficando
1º ano, 2º ano, 3º ano ―A‖ e 3º ano ―B‖1, pois seria necessário que todos conseguissem
observar o palco. Começamos com algumas estrategias para acalmar as crianças, como por
exemplo, cantar e fazer os gestos da canção “Palo Bonito”, pedir que fossem capazes de
1 A época desta pesquisa o NEI só contava com uma turma de 1º ano e 1 turma de 2º ano, enquanto que, no 3º
ano do fundamental existiam 2 turmas.
36
ouvir apenas o barulho do ar condicionado, e tudo foi realizado com bastante sucesso. Logo, a
professora de música relembrou o que iríamos fazer na assembléia.
As turmas começaram a ser chamadas a partir do 1º ano e assim seguiu-se a ordem
citada anteriormente. Cada turma foi preparada pela professora da sala e possuía
representantes que iriam defender o tema escolhido. Pude perceber que as crianças
pesquisaram acerca do tema que desejavam estudar, pois traziam consigo cartazes contendo
afirmações que justificavam os estudos sobre um dado tema. Observamos e anotamos as
justificativas dos alunos na medida em que iam relatando-as, como mostra parte do slide a
seguir:
Figura 12: Parte dos slides da assembleia – Justificativas das
turmas sobre o tema.
Fonte: Elaborado pela autora
Depois de defendido o tema de cada turma, chegava o momento da votação. A
professora leu as justificativas para que todos relembrassem o que havia sido dito pelos
representantes de turma. Também explicou que o voto deveria ser livre e que cada pessoa
poderia votar no tema que gostasse mais e que não tinham a obrigação de escolher o tema que
a sua turma defendeu.
Nesse momento, os professores de sala, bolsistas e funcionários presentes também
poderiam votar. A contagem dos votos aconteceu de forma bem simples, a professora falava o
nome do tema e as pessoas levantavam as mãos para que pudesse ser contado e anotado para
que todos visualizassem, podemos observar os resultados no slide a seguir:
37
Figura 13: Parte dos slides da assembleia – Contagem dos
votos.
Fonte: Elaborado pela autora
A assembleia teve como resultado final o tema Rock’n Roll que foi defendido pelas
turmas do 1º ano e 3º ano ―B‖ do turno vespertino, embora os objetivos de pesquisa das
crianças fossem diferentes pois foram relacionados aos interesses, curiosidades e
conhecimento prévio de cada turma em relação ao tema. Acredito que isso se deve ao fato de
que a primeira turma que tem a faixa etária entre 6 e 7 anos de idade, ainda está descobrindo
esse estilo musical e desejava saber do que se trata, já a segunda turma citada tem entre 8 e 9
anos e pelo que pude observar as crianças já conheciam bandas e apreciavam o Rock, logo,
seus interesses eram de saber sua origem, ou seja, aprofundar seus conhecimentos sobre o que
já sabiam anteriormente.
4.2 Do planejamento, às aulas e finalização do tema: um processo reflexivo
Terminado o processo de escolha do tema, me reuni junto com a professora de música
a fim de pensarmos como seria nossa primeira aula utilizando tal metodologia, pois essa seria
a primeira vez que no NEI as aulas de música seriam trabalhadas de tal forma. Pensamos,
pesquisamos e decidimos, então, que seria muito interessante que as crianças conhecessem o
Rock desde o seu surgimento, pois assim alguns dos seus questionamentos seriam resolvidos
e também poderiam ver a diferença do estilo no seu início e até o Rock como eles conhecem
hoje.
Depois de preestabelecido algumas atividades e estratégias para a nossa primeira aula,
sendo que as outras aulas foram desenvolvidas de acordo com os resultados obtidos pelas
38
crianças. Na roda de conversa, as crianças falaram à respeito do que já sabiam sobre o tema,
alguns relatavam que conheceram o Rock através da família, da TV, internet, alguns já
conheciam bandas e sabiam um pouco sobre a formação instrumental desses grupos. Nesse
momento a Organização do conhecimento foi feita através da roda de conversa, onde
pudemos escrever todas as ideias que as crianças tinham à respeito do Rock’n roll e a partir
disso criarmos novas estratégias de como responder à todos os questionamentos, curiosidades
e dúvidas sobre o mesmo. No fim da roda de conversa predominou o momento da fala da
professora, que vai assim agrupar e organizar todas as ideias que as crianças tem sobre o tema
e assim sendo feito pela professora o ―fechamento‖ da roda de conversa com o auxílio de uma
atividade escrita que foi entregue para as crianças, que tinham algumas informações sobre a
origem do Rock’n Roll, como mostra a imagem a seguir:
Figura 14: Atividade sobre o tema escolhido – Rock’n Roll
Fonte: Elaborado pela autora
39
Depois de colhidas as informações dadas pelas crianças o nosso objetivo é responder a
tais questionamentos, mas de uma forma que não deixássemos de lado o modelo de aula como
vinha acontecendo, bastante lúdico e tendo a criança como protagonista do seu próprio fazer
musical.
Os planos de aula foram todos baseados nos interesses aos quais as crianças relataram
no momento da assembleia. Todas as estratégias giravam entorno dos seus questionamentos e
buscávamos respondê-los através de atividades que envolveram rimas, criações musicais,
movimentos corporais, danças, apresentações em slide, vídeos, áudios. Percebemos, então,
nessa metodologia a utilização de diversas fontes para a construção do conhecimento sobre o
tema, como explicado por Rêgo e Pernambuco (2001):
A partir das questões inicialmente postas, a professora organiza atividades
significativas que possibilitem às crianças, incentivando-as avançarem no
conhecimento. [...] na busca das respostas aos questionamentos propostos
pelo grupo estejam elas em livros, bibliotecas, museus, especialistas, artistas,
artesãos, e outros profissionais (RÊGO e PERNAMBUCO, 2001, p. 4).
No tema Rock’n Roll as crianças puderam conhecer bandas e cantores bastante
influentes no meio musical, tais como Bill Halley & His Comets, Elvis Presley, The Beatles,
entre outros. Também apreciaram canções através de vídeos que mostravam o modo de se
vestir, agir e dançar esse ritmo, ouviram áudios e tiveram a oportunidade de aprender
coreografias e criar de acordo com o que aprenderam sobre a forma de dançar o Rock.
A partir desse tema as crianças compreenderam aspectos musicais como, forma
musical, percebendo nas canções o que é estrofe e refrão, o ritmo agitado do Rock
vivenciados em atividades que poderiam sentir o pulso, o andamento e a melodia que compõe
esse estilo musical. Conheceram também timbres diversos através dos instrumentos musicais
que fazem parte da formação de uma banda de Rock’n Roll. Dessa forma, o Tema de Pesquisa
nos traz uma outra forma de trabalharmos aspectos musicais permitindo que aconteça uma
interdisciplinaridade entre outras áreas do conhecimento, pois ao mesmo tempo que
aprendemos a música propriamente dita, compreendemos aspectos culturais e históricos
acerca do tema.
No aparelho de som colocamos a música Tutti Frutti do cantor e compositor Little
Richard, mas que ficou bastante conhecida na voz de Elvis Presley, e pedimos que as crianças
dançassem livremente tentando relembrar como era dançado o Rock’n Roll.
Em seguida, foi feita por nós uma atividade de rima que teve início com a professora
falando: ―Fui à feira comprar...‖ e terminava com uma frase que rimasse com a anterior.
Assim, as crianças logo perceberam que havia rimado as frases e logo os convidamos a fazer
40
cada um sua própria rima, mas dentro do modelo preestabelecido e que foi citado
anteriormente. Durante essa atividade, algumas crianças tiveram dificuldades no sentido de
entender como rimar as palavras, paramos e falei algumas palavras pedindo que a criança que
estava com dificuldade pensasse em uma outra palavra que terminasse com o mesmo som,
quando o aluno conseguia, pedíamos que tentasse novamente rimar dentro da frase musical
―Fui à feira comprar...‖ que estava previsto.
Assim, com as crianças tendo vivenciado esse trabalho com rimas, tínhamos que
incluir o Rock’n Roll dentro dessa perspectiva. Espalhamos cartões com as palavras A-WOP-
BOP-A-BOOM-A-BLOP-BAM-BOO da canção Tutti Frutti e pedimos que as crianças
montassem sequências diferentes com essas mesmas palavras, alguns usaram todas as
palavras, outros utilizaram poucas, mas cada um criou sua sequência de acordo com o seu
gosto próprio. Cantamos a canção já citada anteriormente, mas de acordo com o modelo
adaptado que segue:
A-WOP-BOP-A-BOOM-A-BLOP-BAM-BOO
Eu tenho um amigo (a) que se chama _____________
Ele (a) gosta de_______________
Tutti frutti, all rooting
Tutti frutti, all rooting
Tutti frutti, all rooting
Tutti frutti, all rooting
Tutti frutti, all rooting
A-WOP-BOP-A-BOOM-A-BLOP-BAM-BOO
As crianças deveriam rimar os nomes dos amigos com alguma atividade ou alguma
coisa que o colega gosta de fazer, comer ou brincar. Essa atividade, foi realizada com muito
sucesso, pois as crianças já haviam vivenciado o trabalho com rimas e fez parte também o
conhecimento que as crianças tinham sobre seus colegas de turma, não houve dificuldades em
incluir na música os gostos de seus amigos. Assim como diz no RCNEI (1998),
Trabalhar com rimas, por exemplo, é interessante e envolvente. As crianças
podem criar pequenas canções fazendo rimas com seus próprios nomes e dos
colegas, com nomes de frutas, cores etc. Assuntos e acontecimentos
vivenciados no dia-a-dia também podem ser temas para novas canções.
(RCNEI, 1998, p. 62).
Esse tipo de atividades com rimas, se torna de uma certa forma mais fácil e
41
interessante para a criança se a criação estiver relacionadas as coisas do seu cotidiano, coisas
que elas poderão falar com propriedade, tem interesse e um conhecimento sobre o que ela
deve falar.
A segunda etapa da aula foi uma votação bem simples, levantando as mãos as crianças
deveriam escolher qual rima deveria fazer parte da canção. O aluno escolhido na turma do 3º
ano ―B‖ foi o João, mas cada turma fez sua rima seguindo o modelo, a rima ficou assim:
A-WOP-BOP-A-BOOM-A-BLOP-BAM-BOO
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
A-WOP-BOP-A-BOOM-A-BLOP-BAM-BOO
Eu tenho um amigo que se chama João 2x
Ele gosta de comer 2x
Ele gosta de comer feijão.
Esse tipo de trabalho envolvendo criação faz parte da abordagem Orff que é utilizada
pela professora de música, colocando a criança como protagonista do seu próprio fazer
musical, deixando que suas ideias, experimentos e gostos sejam compartilhados com todos e
que juntos com o professor que aqui tem como papel orientar esse processo de criação, mas
sem inibir a criatividade e as opiniões das crianças quanto ao que deve ou não ser incluído em
suas criações, como afirma Penna (2012):
Quanto ao trabalho de criação, é importante compreender que, no método
Orff, a improvisação é orientada ou mesmo ―controlada‖, na medida e que os
meios são limitados: são manejados criativamente, dentre de diversas
propostas, elementos que já foram trabalhados. (PENNA, 2012, p. 214).
Essa atividade de criação aconteceu com a nossa ajuda, mas sem muita intervenção,
apenas foram dados meios de como fazer, assim como a atividade de criação citada
anteriormente. Em seguida, ouvimos e cantamos canção Tutti Frutti incluindo a rima criada
pela turma. As outras turmas também passaram por esse mesmo processo de criação, mas aqui
relatei apenas o que aconteceu no 3º ano ―B‖.
42
Depois da finalização do tema já citado anteriormente que durou cerca de dois meses,
tive a oportunidade de realizar a minha primeira regência como estagiária, pois iniciei e
finalizei o outro tema escolhido, mas que se encaixava perfeitamente no tema Rock’n Roll,
que foi The Beatles. Este, teve influência das crianças do turno matutino, pois foi um tema
que contagiou a escola e os alunos do turno vespertino ficaram bastante interessadas e por este
motivo decidimos junto com eles que iriamos estuda-lo após a finalização do tema escolhido
em assembleia.
O primeiro passo foi a apresentar a banda para as crianças, como mostra a imagem a
seguir, parte de uma aula que ministrei a eles:
Figura 15: Apresentação da banda através de slides.
Fonte: Elaborado pela autora
Figura 16: The Beatles
43
Fonte: Elaborada pela autora
Figura 17: Lugar de origem.
Fonte: Elaborada pela autora
Figura 18: Formação da banda
Fonte: Elaborado pelo autor
Dessa forma, seus integrantes, que instrumentos eles tocavam, de que lugar eles do
mundo eles eram, se a banda ainda existia, quais deles tinham morrido, entre outras coisas que
as crianças gostariam de saber sobre The Beatles e que muitos desses questionamentos eles
tinham pois, haviam ouvido falar dessas e outras coisas em casa através dos pais, avós e
outros familiares. Assim, ao construir os slides, pensei que não deveriam ter textos, pois
acredito que isso poderia de alguma forma tirar a atenção do que iria relatar, preferi escolher
imagens que representassem os momentos da minha apresentação.
Alguns outros questionamentos apareceram no decorrer da minha fala, como por
exemplo, ―Tem duas guitarras?‖, ―Guitarra solo e guitarra base? O que é isso?‖, expliquei
44
para as crianças que ficaram bastante empolgadas em saber a diferença entre a função das
guitarras na banda e isso foi melhor explicado quando assistimos vídeos com The Beatles
tocando.
Figura 19: Beatlemania
Fonte: Elaborado pela autora
Figura 20: Último show
Fonte: Elaborado pela autora
Os slides ―Beatlemania‖ e ―Último show‖, mostravam desde o sucesso até o término
da banda. Nesse momento relatei o enorme sucesso que a banda se tornou, a mania entre
pessoas de todas as idades. Para explicar melhor esse fenômeno que foi The Beatles mostrei
um desenho animado, que até então não sabia de sua existência até pesquisar mais sobre a
banda. No desenho animado denominado The Beatles em muitos de seus episódios contavam
45
fatos que tinham uma relação com a música que seria tocada no mesmo. Como deveria falar
sobre a Beatlemania, escolhi o episódio “I want to hold your hand” que leva o nome de uma
canção da banda, no desenho conta a fuga dos componentes da banda em busca de férias, mas
que é interrompida pelas fãs que os seguem em todo lugar. Então, as crianças assistiram a esse
episódio e logo que terminou expliquei que essa ―mania‖ acabava refletindo na maneira de se
vestir, no corte de cabelo, no estilo de vida e até mesmo na criação de bandas inspiradas no
The Beatles e que até hoje isso acontece, mas não com a mesma intensidade.
Figura 21: The Beatles hoje
Fonte: Elaborado pela autora
Figura 22: The Beatles sempre
Fonte: Elaborado pela autora
Esses dois últimos slides mostram o ―The Beatles hoje‖ e o ―The Beatles sempre‖,
pois um dos questionamentos das crianças era se a banda ainda existia e qual integrante da
46
banda havia morrido, pois segundo alguns alunos, souberam através de familiares que a banda
havia perdido componentes. Na minha fala, expliquei que dois de seus integrantes haviam
morrido, as crianças ficaram muito surpresas pois achavam que apenas um teria falecido, e
logo vieram outros questionamentos, tais como, ―Por que eles morreram?‖, ―Como foi?‖.
Então, relatei alguns de uma forma bem simplificada o que aconteceu e que a banda não mais
existia, mas que dois dos componentes da banda ainda faziam shows, cada um com sua banda.
Como pode ser analisado através dos slides, a apresentação sobre a banda foi algo
mais visual, mas de acordo com as imagens contava fatos, curiosidades e respondia aos
questionamentos feitos pelas crianças e que foram citados anteriormente.
Uma das aulas, ainda sobre o tema The Beatles, foi iniciada pela audição da canção
She loves you e a partir dela pensamos em uma atividade que deixasse bem claro para as
crianças que essa música tem duas partes, o que na música chamamos de forma musical, que
no caso da canção citada é estruturada em A-B-A-B-A. Foi proposto que os alunos e
professores, um por vez, realizassem um gesto durante a parte A da música para que todos
repetissem, e que representasse o que mais gostaram de fazer durante o período de férias, já
no refrão deveriam todos deveriam dançar livremente. Essa atividade foi muito rica em
movimentos e nos mais diversos gestos realizados pelos alunos, pois puderam expressar suas
ideias através do corpo e ainda seguindo a forma e ritmo da música que estava sendo
executada no momento de suas expressões, como nos diz Mosca (2009), ―[...] a educação é
visceralmente corporal e [...] nossos saberes se revelam em nossa corporeidade.‖ (MOSCA,
2009, p.118). Sendo assim, podemos perceber que música e o corpo não devem ser
explorados separadamente, assim como o corpo e a voz, devem ser trabalhados como uma
parceria, um completando o outro.
A partir disso, percebemos que a compreensão em relação à forma musical foi muito
bem recebida pelas crianças, então passamos para outra etapa da aula, mas ainda sobre o
mesmo conteúdo musical. Foram distribuídos balões de encher e de acordo com as cores
formaram-se três grupo, sendo assim, cada grupo ficando responsável por levantar o balão na
parte da canção que a cor representava. Primeiramente, ouvimos a canção Michelle e ao
mesmo tempo seguíamos a professora de música que estava com balões das três cores, e com
o intuito de que todos entendessem seu momento de levantar o balão. Sendo assim, depois de
algumas vezes seguindo a professora, percebemos que as crianças já poderiam tentar realizar
a atividade sem a nossa ajuda.
Com essa atividade, percebi que para a compreensão e assimilação de alguns
elementos musicais, como nesse caso a forma musical, faz-se necessário, a apreciação somada
47
à execução de movimentos, pois seria mais fácil para a compreensão das crianças se a
experiência acontecesse primeiro que a ―tomada de consciência‖. Dessa forma, Souza (2012)
fala sobre a proposta de Carll Orff, que assim diz ―[...] Orff acredita que a experiência
antecede a compreensão, e que a experiência é a base do processo. Sentir o ritmo
corporalmente, por exemplo, tem de vir primeiro do que a análise de seus componentes. [...].‖
(SOUZA, 2012, p.85). Então, fica entendido que o sentir, vivenciar e perceber antes de tudo,
torna a aprendizagem musical mais significativa para as crianças, fazendo assim mais sentido
para elas, já que podem entender o que sentiu e não entender e depois sentir com a sensação
de já saber o que vai acontecer, do que já é previsto.
Em uma outra aula decidimos fazer de uma forma diferenciada ao que vinha sendo
feita nas aulas, mas que seria necessário para responder um dos questionamentos das crianças,
saber que instrumentos faziam parte de uma banda de Rock’n Roll, assim aproveitamos essa
curiosidade e chamamos músicos para apresentar a bateria, guitarra e baixo. Esse momento da
aula foi uma forma de aplicação do conhecimento, pois os músicos ao apresentarem os
instrumentos questionavam às crianças acerca do tema que estavam estudando, assim
colocando em prática tudo o que foi aprendido nas aulas de música. Os alunos ficaram
encantados com os instrumentos, dançaram ao som do Rock, cantaram sua criação a partir da
música Tutti Frutti e ainda cantaram uma canção que aprenderam do The Beatles, Hello,
Goodbye.
Aproveitamos que as crianças tinham um repertório preparado e marcamos um recital
para apresentar o resultado dos estudos dos dois Temas de pesquisa para os pais e
funcionários do colégio. Marcamos alguns ensaios com os músicos e as crianças para que
tudo ocorresse bem no dia da apresentação, como por exemplo, as músicas serem tocadas no
tom adequado às vozes das crianças, a ordem das músicas para que fixassem e não se
perdessem no momento do recital.
4.3 A culminância do trabalho
No dia 24 de Maio as turmas do turno vespertino apresentaram seu recital sobre o
Rock’n Roll e a banda The Beatles, assim podendo mostrar o que foi aprendido durante as
aulas de música em que utilizamos o Tema de Pesquisa pela primeira vez. As crianças
puderam mostrar ao público o Rock em seu início com muita dança, movimento e ainda
mostrar suas criações. Com The Beatles, eles puderam mostrar coreografias criadas junto com
suas professoras de classe sem nossa ajuda, professoras de música, independentemente das
48
nossas aulas, juntos, decidiram qual músicas, quais movimentos seriam dançados, isso através
do que aprendemos sobre os movimentos utilizados nas danças naquela época. De acordo com
o RCNEI (1998),
O gesto e o movimento corporal estão intimamente ligados e conectados ao
trabalho musical. A realização musical implica tanto em gesto como em
movimento, porque o som é, também, gesto e movimento vibratório, e o
corpo traduz em movimento os diferentes sons que percebe (RCNEI, 1998, p.
61).
Assim, os movimentos corporais utilizados nas canções escolhidas pelas crianças e a
professora de classe, foram todos realizados a partir da reação sonora com que os alunos
ouviam as canções, nenhuma danças e/ou movimento foi realizado com um gesto contando o
que está sendo dito na música, mas sim movimentos que mostram a expressividade das
crianças aos sons mais fortes, mais fracos, mais rápidos entre outros que haviam dentro da
canção.
O recital foi, assim, uma forma de deixar bem claro para as crianças que o nosso tema
tinha chegado ao fim, pois durante as aulas e ensaios, nós professores questionamos as
crianças baseados nas perguntas iniciais e pudemos perceber que os mesmo já tinham as
respostas para o que desejavam saber inicialmente. No nosso recital, denominado como ―Esse
tal Rock’n Roll‖, fizemos um grande apanhado do que as crianças aprenderam durante o
período que utilizamos do Tema de pesquisa como principal metodologia nas nossas aulas de
música.
Assim encerramos o semestre no qual pela primeira vez foi utilizado o Tema do
Pesquisa nas aulas de música. Utilizando de tal metodologia assim como segue os momentos
Estudo da Realidade (ER), Organização do Conhecimento (OC) e Aplicação do
Conhecimento (AC), percebemos que as crianças compreenderam mais amplamente os temas
escolhidos por elas bem como exploraram com mais propriedade elementos musicais,
designados como conteúdo das aulas de música no NEI. Assim, evidenciamos que a
metodologia do Tema de Pesquisa, além dos resultados já citados, nos deixa bem claro a
autonomia da criança em sala de aula, um interesse maior pelas aulas e pelos assuntos
abordados, pois é de total interesse das crianças e para os alunos um conhecimento de mundo
e um sentido para o que é visto por elas na escola, já que elas escolhem o que será estudado a
partir de seus conhecimentos sobre o assunto.
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todas as informações contidas nesse trabalho, é importante mencionar que a
metodologia de Tema de Pesquisa faz-se muito importante para as crianças, pais e a escola.
Pude confirmar durante minha pesquisa, o quanto esse modelo de ensino aproxima os alunos
de uma determinada realidade e conceito, partindo da motivação, curiosidade e interesses para
um aprendizado global e contextualizado, no qual se inserem outras áreas do conhecimento.
Pude constatar que a família e a escola tornam-se aliadas, pois as crianças ao saírem
em busca pelas respostas dos seus questionamentos e de seus colegas, acabam encontrando na
família uma fonte de pesquisa, já que em alguns casos o senso comum traz respostas as suas
curiosidades. Crianças e professores podem contar ainda com muitas outras fontes de
informação, tais como livros, museus, TV, internet e pessoas da comunidade, se for o caso. O
trabalho com Tema de Pesquisa permite que a pesquisa pelas soluções de seus
questionamentos acerca do tema estudado seja um mundo variado de opções e que cabe ao
professor guia-los nessa busca por respostas.
Trazer essa vivência para sala de aula, ao meu ver, só vem a contribuir com o ensino
aprendizagem das crianças, já que elas podem escolher o que desejam estudar. Tendo esse
olhar curioso sobre o mundo pode-se aprender de uma forma que assuntos abordados na
escola faça um sentido para sua vida, assim ampliando o seu conhecimento de mundo.
O Tema de Pesquisa tira a nós, professores, da ―zona de conforto‖, já que damos lugar
ao descobrir junto com as crianças e desmistifica a imagem de que o professor sabe mais que
o aluno. Posso confirmar isso através da minha experiência enquanto educadora.
Em relação as metodologias do Tema Gerador e Projetos de Trabalho, também
abordados nessa pesquisa, pude perceber que apesar de terem origens e referenciais teóricos
diferentes, todas elas no seu processo de ―construção‖ são bem parecidas e que podemos
identificar alguns critérios que passam por todas elas: Dialogicidade, Conhecimentos prévios
dos alunos, Interdisciplinaridade, Nível de envolvimento dos alunos, Dialeticidade,
Indissociabilidade entre conteúdos e metodologias, Conhecimentos científicos, sociais,
conceituais, culturais e atitudinais, Construção de um projeto coletivo de escola (RÊGO e
PERNAMBUCO, 2001, p. 5-7).
Durante a minha prática no NEI percebi que não só na aula de música, mas em toda a
escola, a criança é vista como um ser pensante, que precisa e deve dar sua opinião e que ela é
parte fundamental para escola, estimulando assim, sua criticidade e pensamento de mundo.
50
Ao adotar qualquer uma dessas metodologias, as crianças sentem-se motivadas,
compreendem que não só a sua opinião importa, mas que ao ouvir o outro aprendem a
sensibilizar-se com o olhar deste outro, já que na escola a diversidade de pensamento, crenças
e aprendizado são as mais variadas.
Por fim, acredito que a comunidade escolar deve pensar a partir do olhar curioso da
criança, deixar de lado o ensino que não traz e não faz sentido para o mundo da criança. Essas
metodologias só vem a acrescentar e aproximar crianças, professores, pais e comunidade, já
que a ideia de senso comum pode e deve ser pensada dentro da escola e a partir disso sair em
busca das respostas para os seus questionamentos ampliando assim, seu interesse e
conhecimento de mundo e pelo mundo.
Desta forma, espero que essa pesquisa ajude professores, especialmente os educadores
musicais, à pensar em outras possibilidades metodológicas para a compreensão da música,
levando em conta o que a criança já sabe e o que gostaria de saber. Desejo que a partir desse
trabalho a metodologia do Tema de Pesquisa, que não é comum à área da educação musical,
chegue as salas de aula com o objetivo de que professores e alunos aprendam e busquem
juntos um conhecimento mais significativo para ambas as partes, e que outros aspectos que se
fazem importantes para o aprendizado, como por exemplo, aprender o ―como‖, o ―para que‖ e
os ―porquês‖ não sejam deixados de lado, fazendo assim com que a escola e as aulas se
tornem prazerosas.
51
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Maria Cristina de Carvalho Cascelli de; GROSSI, Cristina; MONTANDON,
Maria Isabel. Formatos alternativos para a prática de ensino em música: a experiência da
Universidade de Brasília. In: MATEIRO, Teresa; SOUZA, Jusamara (orgs.) Práticas de
ensinar música: legislação, planejamento, observações, registro, orientação, espaços,
formação. Porto Alegre: Editora Sulina, 2009, Cap. 4, p. 65-81.
FREIRE, Madalena. A paixão de conhecer o mundo: relato de uma professora / Madalena
Freire Weffort. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. Coleção Educação e Comunicação: v. 11)
HERNANDÉZ, Fernando. A organização do currículo por projetos de trabalho/ Fernando
Hernandéz e Montserrat Ventura; tradução Jussara Haubert Rodrigues. – 5.ed. – Porto Alegre:
Artmed, 1998. 200p.
KRAMER, Sonia (coordenadora); PEREIRA, Ana Beatriz Carvalho; OSWALD, Maria Luiza
Magalhães Bastos; ASSIS, Regina de (cols). Com a pré – escola nas mãos: Uma alternativa
curricular para a educação infantil. 4ª edição – Ática S.A. São Paulo, 1992.
MOSCA, Maristela de Oliveira. Como se fora brincadeira de roda: a ciranda da ludopoiese
para uma educação musical humanescente / Maristela de Oliveira Mosca. – Natal, RN, 2009.
Dissertação (Mestrado em educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro
de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós – Graduação em Educação.
Núcleo de Educação da Infância – Colégio de Aplicação – NEI/CAp-UFRN. Você na escola –
Estágio supervisionado para alunos da UFRN - Disponível em
<http://www.nei.ufrn.br/pagina.php?a=estagio>. Acesso em: 22 de Setembro de 2014.
Núcleo de Educação da Infância – NEI/CAp-UFRN. Instituição – Equipe – Disponível em:
<http://www.nei.ufrn.br/pagina.php?a=equipe > Acesso em 05 de Abril de 2015.
Núcleo de Educação da Infância – NEI/CAp-UFRN. Instituição - Histórico - Disponível em:
< http://www.nei.ufrn.br/pagina.php?a=história > Acesso em 28 de Maio de 2014.
PENNA, Maura. Música (s) e seu Ensino. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 2012.
Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do
Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il.
REGO, Maria Carmem Freire Diógenes. O Currículo em Movimento. Caderno Faça e Conte,
Natal-RN, v. 01, p. 61-86, 1999.
REGO, Maria Carmem Freire Diógenes. PERNAMBUCO, Marta Maria Castanho Almeida
Metodologia na Escola Infantil: critérios e parâmetros de escolha. In: X COLLOQUE
INTERNATIONAL DE LAFIRSE, 2001, Natal. Heterogeneidade, Cultura e Educação, 2001.
(Texto não publicado).
SAMPAIO, Maria Claudia Santos. A importância de trabalhar com projetos no ensino
fundamental. Capivari - SP: CNEC, 2012. 44p. Monografia apresentada ao curso de
Pedagogia.
52
SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da pesquisa e elaboração
de dissertação. 4. ed. rev. atual. Florianópolis: UFSC, 2005. p.19-23
SOUZA, Mayra Montenegro de. O ator que canta um conto: a manipulação de parâmetros
musicais na voz do autor/ Mayra Montenegro de Souza – 2012. Dissertação (Mestre em Artes
Cênicas) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas,
Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Natal, 2012. p. 85
53
APÊNDICE
54
Criação a partir da canção Tutti Frutti – Little Richard
Alunos do NEI-CAp/UFRN: 1º ano, 2º ano, 3º ano ―A‖, 3º ano ―B‖ – Turno vespertino.
A-WOP-BOP-A-BOOM-A-BLOP-BAM-BOO
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
A-WOP-BOP-A-BOOM-A-BLOP-BAM-BOO
Eu tenho uma amiga que se Isadora (2x)
Ela gosta de comer (2x)
Ela gosta de comer amora
Eu tenho uma amiga que se chama Carolina (2x)
Ela gosta de comer (2x)
Ela gosta de comer tangerina
Eu tenho uma amiga que se chama Nicole (2x)
Ela gosta de brincar (2x)
Ela gosta de brincar com Polly
Eu tenho um amigo que se chama João (2x)
Ele gosta de comer (2x)
Ele gosta de comer feijão
A-WOP-BOP-A-BOOM-A-BLOP-BAM-BOO
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
A-WOP-BOP-A-BOOM-A-BLOP-BAM-BOO
55
Esquema sintético das teorias analisadas – (Origem, base teórica e definições das
metodologias Tema Gerador, Tema de Pesquisa e Projetos de Trabalho)
•Baseado na pedagogia de Paulo Freire;
•Abordado por Sônia Kramer (1992) como “um eixo condutor do currículo” e é usado como “fio condutor do trabalho.”
•A “Palavra Geradora” de Madalena Freire (1983), apesar do nome diferente, refere-se ao mesmo conceito.
Tema Gerador
•Tem como referência as propostas de Sônia Kramer (1992) e Madalena Freire (1983);
•Segundo Rêgo (1991), é uma forma de considerar as experiências de vida e valores socioculturais das crianças;
•Três dimensões básicas: O conhecimento das áreas de conteúdo que quer se tornar disponível, o contexto sociocultural das crianças, ou suas realidades imediatas, e os aspectos vinculados diretamente à aprendizagem.
Tema de Pesquisa
•Projetos de Trabalho, que, dentre outros, foi idealizado por W. H. Kilpatrick tendo referência a pedagogia de John Dewey;
•Segundo Hernandéz (2009),as relações entre conteúdos e áreas de conhecimento têm lugar em função das necessidades que traz consigo o fato de resolver problemas que subjazem na aprendizagem.
Projetos de Trabalho
56
Esquema sintético das teorias analisadas – (Pré-requisitos para a escolha de um tema)
• Das situações do dia-a-dia das crianças e de suas relações umas com as outras; de suas relações com o mundo social e com o mundo;
• De acontecimentos especiais;
• De problemas existentes no seu cotidiano de vida.
Tema Gerador
• Precisa ser um assunto que gere questionamentos;
• Que contribua para uma visão mais ampla da realidade onde o indivíduo está inserido;
• Unifique/aglutine conceitos de outras áreas de conhecimento, com a perspectiva de articular-se com outros conhecimentos;
• Envolva um componente afetivo ao grupo, para ser significativo.
Tema de Pesquisa
• Parte-se de um tema ou de um problema negociado com a turma;
• Inicia-se um processo de pesquisa;
• Buscam-se e selecionam-se fontes de informação;
• São estabelecidos critérios de organização e interpretação das fontes;
• São recolhidas novas dúvidas e perguntas;
• Representa-se o processo de elaboração do conhecimento vivido;
• Recapitula-se (avalia-se) o que se aprendeu;
• Conecta-se com um novo tema ou problema.
Projetos de Trabalho
Esta versão foi revisada e aprovada pelo(a) orientador(a), sendo aceite, pela
Coordenação de Graduação em Música, como versão final válida para depósito
no Repositório de Monografias da UFRN.
____________________________
Durval da Nóbrega Cesetti
Coordenador de Graduação