+museu boletim n.º 4 | fevereiro 2005

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boletim do Museu Municipal de Palmela 2005 é marcado, do ponto de vista da História Local, pelas Co- memorações dos 820 anos do Foral atribuido ao concelho de Palmela por D. Afonso Henriques. O programa comemorativo tem início em Março, com o lançamento de uma obra alusiva às relações entre muçulmanos e cristãos no período medieval, temática de um passado que nos permite reflectir sobre os tem- pos actuais. Ao longo do ano, outras iniciativas permitirão desco- brir as formas de organização do poder municipal em Palmela nos períodos medieval e moderno, tempos marcado pelos Forais de 1185 e 1512. Estudar o Passado significa inscrevê-lo no nosso percurso social e identitário, para agir no Presente em consciência, preservando a Memória das pessoas e dos factos que marcarão o nosso Futuro. Assim, ao longo deste ano, diversas actividades permiti- rão não só redescobrir o concelho em tempos idos, mas tam- bém compreender como nos organizamos hoje, e mostrar em que sentido caminhamos. A exposição 30 Anos de Abril no concelho de Palmela apresenta uma perspectiva da história local recente, nas diversas áreas de trabalho tocadas pela mão de eleitos, trabalhadores e munícipes de Palmela. A promoção de práticas de Participação Cidadã é uma aposta desta autarquia, vocacionada para Todos os Munícipes, com particular preocupação com os mais jovens. Esta exposição alia, por isso, à linguagem “tradicional” expográfica, outros suportes de informação que visam motivar os mais jovens para a descoberta da história recente nacional e local. Além das iniciativas que marcam 2005, e que se reflectem no presente +museu, cumpre-nos salientar três factos que marca- ram positivamente o trabalho do Museu Municipal de Palmela em 2004, na perspectiva de Educação para o Desenvolvimento e para a Cidadania: - a investigação sobre a história dos Bombeiros Voluntários de Palmela ao longo dos seus 67 anos de vida; - o trabalho de parceria entre uma escola do nosso concelho e outra do munícipio de S. Filipe (Cabo Verde). Estes dois trabalhos, de natureza diferente, têm uma linha de acção comum: conhecer e dar a conhecer o concelho de Palmela e os homens e mulheres que o fazem e também aqueles com que se partilham projectos de desenvolvimento. Estamos a dar outros passos nesse sentido, com outros parceiros, através do Arquivo de Fontes Orais do concelho de Palmela, do Projecto de Investigação Cultura Caramela (do qual este número do bole- tim apresenta uma primeira abordagem), entre outros. A atribuição do 1º lugar do Prémio da Qualidade do Distrito de Setúbal, à equipa do Serviço Educativo do Museu Municipal de Palmela, constituiu o terceiro facto de particular relevo em 2004. Esse Serviço é a face mais visível do Museu Municipal, pois cons- titui o meio privilegiado de divulgação do Património Cultural lo- cal, tendo como público-alvo até agora, em particular, a Comuni- dade Educativa. Com o reconhecimento do trabalho realizado há vários anos, sob uma clara visão e uma missão bem defini- da, esta equipa tem agora uma responsabilidade acrescida. As ofertas no campo da Educação Patrimonial são sujeitas à ava- liação permanente por parte de todos os utentes (docentes, alunos e outros públicos), numa óptica de prestação de um serviço público de Qualidade, subordinadas ao princípio da Melhoria Contínua. O Prémio é um desafio que nos propomos prosseguir, partilhan- do-o com quem nos visita. Contamos com a vossa presença e opinião crítica nas iniciativas do Museu Municipal ao longo de 2005! A Presidente da Câmara Ana Teresa Vicente nº 4 • Fevereiro 2005 Editorial Câmara Municipal de Palmela

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boletim do Museu Municipal de Palmela

2005 é marcado, do ponto de vista da História Local, pelas Co-memorações dos 820 anos do Foral atribuido ao concelho dePalmela por D. Afonso Henriques. O programa comemorativotem início em Março, com o lançamento de uma obra alusiva àsrelações entre muçulmanos e cristãos no período medieval,temática de um passado que nos permite reflectir sobre os tem-pos actuais. Ao longo do ano, outras iniciativas permitirão desco-brir as formas de organização do poder municipal em Palmelanos períodos medieval e moderno, tempos marcado pelos Foraisde 1185 e 1512.Estudar o Passado significa inscrevê-lo no nosso percurso sociale identitário, para agir no Presente em consciência, preservandoa Memória das pessoas e dos factos que marcarão o nossoFuturo. Assim, ao longo deste ano, diversas actividades permiti-rão não só redescobrir o concelho em tempos idos, mas tam-bém compreender como nos organizamos hoje, e mostrar emque sentido caminhamos.A exposição 30 Anos de Abril no concelho de Palmela apresentauma perspectiva da história local recente, nas diversas áreas detrabalho tocadas pela mão de eleitos, trabalhadores e munícipesde Palmela. A promoção de práticas de Participação Cidadã éuma aposta desta autarquia, vocacionada para Todos osMunícipes, com particular preocupação com os mais jovens. Estaexposição alia, por isso, à linguagem “tradicional” expográfica,outros suportes de informação que visam motivar os mais jovenspara a descoberta da história recente nacional e local.Além das iniciativas que marcam 2005, e que se reflectem nopresente +museu, cumpre-nos salientar três factos que marca-ram positivamente o trabalho do Museu Municipal de Palmelaem 2004, na perspectiva de Educação para o Desenvolvimentoe para a Cidadania:- a investigação sobre a história dos Bombeiros Voluntários dePalmela ao longo dos seus 67 anos de vida;- o trabalho de parceria entre uma escola do nosso concelho eoutra do munícipio de S. Filipe (Cabo Verde).Estes dois trabalhos, de natureza diferente, têm uma linha deacção comum: conhecer e dar a conhecer o concelho de Palmelae os homens e mulheres que o fazem e também aqueles comque se partilham projectos de desenvolvimento. Estamos a daroutros passos nesse sentido, com outros parceiros, através doArquivo de Fontes Orais do concelho de Palmela, do Projecto deInvestigação Cultura Caramela (do qual este número do bole-tim apresenta uma primeira abordagem), entre outros.A atribuição do 1º lugar do Prémio da Qualidade do Distrito deSetúbal, à equipa do Serviço Educativo do Museu Municipal dePalmela, constituiu o terceiro facto de particular relevo em 2004.Esse Serviço é a face mais visível do Museu Municipal, pois cons-titui o meio privilegiado de divulgação do Património Cultural lo-cal, tendo como público-alvo até agora, em particular, a Comuni-dade Educativa. Com o reconhecimento do trabalho realizadohá vários anos, sob uma clara visão e uma missão bem defini-da, esta equipa tem agora uma responsabilidade acrescida. Asofertas no campo da Educação Patrimonial são sujeitas à ava-liação permanente por parte de todos os utentes (docentes,alunos e outros públicos), numa óptica de prestação de umserviço público de Qualidade, subordinadas ao princípio daMelhoria Contínua.O Prémio é um desafio que nos propomos prosseguir, partilhan-do-o com quem nos visita. Contamos com a vossa presença eopinião crítica nas iniciativas do Museu Municipal ao longo de2005!

A Presidente da Câmara

Ana Teresa Vicente

nº 4 • Fevereiro 2005

Editorial

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Arquitecturae Vivência Caramelas

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A globalização, hoje elemento incontornávelda sociedade em que vivemos, permite quea informação atravesse fronteiras, tão rapi-damente como um instante do olhar. Os no-vos meios de comunicação ganharam umanova dimensão, porque em tempo real, apessoa passou a ter acesso ao que se passanoutros locais do mundo, possibilitando umapartilha de conhecimento até hoje nunca vis-ta. Todavia, este mundo global conduz tam-bém ao esquecimento. Se por um lado, par-te da população intervem conscientementeno mundo que a rodeia, outros há que, pelospoucos meios de que dispõem, se remetemao silêncio. E o que prevalece, é uma culturade poder que homogeneíza a realidade, ani-quilando a especificidade e diversidade doPatrimónio Cultural, arrastando-nos para umesquecimento colectivo sobre nós próprios.

Porque é o Património Cultural que revela aidentidade de um povo, a sua especificidade,o seu ser, é imperativo que seja reconhecido,entendido, valorizado. Nesse sentido, o Mu-seu Municipal de Palmela leva a cabo umconjunto de investigações, que tem, entre ou-tros, um objectivo muito claro: contribuir parao conhecimento e valorização da identidadecultural da nossa região - uma corrida contrao tempo, contra o esquecimento.

O projecto A cultura Caramela: Memóriasdo habitar e da vivência Caramela é dissoexemplo. Através de um estudo histórico ecultural exaustivo, o Museu pretende recu-perar vidas, hábitos, sentires e compreendera importância do povo caramelo para a re-gião, na presente etapa, no que diz respeitoà sua arquitectura.

1 In Definição elaborada pela Conferência Mundial da UNESCO sobre o Património Cultural, celebrada no México em 1982

(1ª parte)

em destaque...Memórias do Habitar

O Património Cultural de um povo compreende as obras dos seusartistas, arquitectos, músicos, escritores e sábios, assim comoas criações anónimas, surgidas da alma popular, e o conjuntode valores que dão sentido à vida, isto é, as obras materiaise não materiais que expressam a criatividade desse povo; a língua,os ritos, as crenças, os lugares e monumentos históricos, a literatura,as obras de arte e os arquivos e bibliotecas1 .

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Esta investigação, pela contemporaneidadedo seu objecto de estudo, permite um con-tacto directo com as poucas pessoas queainda recordam, com alguma nitidez, partedeste passado. Assim, é nosso objectivo darvoz aos que contribuíram e ainda contribu-em para enriquecer, através das suas vidas,o nosso património cultural, numa viagempelas suas memórias.

Os Caramelos

O acto de migrarredefine uma história.

(Ejackson, 1986)

Falemos primeiramente no presente, alturaem que se assiste a um momento de apro-priação da denominação “Caramelo”.Pinhal Novo é a freguesia do concelho dePalmela que mais se desenvolveu nestas úl-timas décadas. Com uma história recente,toma hoje em dia a forma de um considerá-vel núcleo urbano, com uma população jo-vem, descendente de migrantes origináriosde diversos locais como o Algarve, Alentejoe Beira Litoral. Este crescimento demográfico,em poucas décadas, transformou comple-tamente o rosto do lugar. Imaginemos o nos-so próprio rosto, se, em pouco mais de algu-mas semanas, apresentasse transformaçõestão evidentes. Se os olhos outrora castanhosficassem azuis, o cabelo liso dê-se lugar alongos caracóis, os lábios ligeiramente finos,se tornassem volumosos... certamente nossentiríamos perdidos perante o nosso novoeu desconhecido, e seríamos levados a pa-rar por um momento para reflectir sobre anossa identidade, procurando reencontrar-mo-nos. É o que sucede em Pinhal Novo,obviamente que de uma forma muito maiscomplexa, nestes tempos de mudança apres-

sada, em que a identidade do lugar e a con-quista do espaço social passa pela busca dasua origem, dos seus antepassados. Assim,para além da forte componente ferroviária, acultura caramela assume-se actualmentecomo uma identidade colectiva de um gru-po, sem a qual, o indivíduo se sente perdido,confuso.Esta nova dinâmica é evidente até para osolhares mais distraídos, bastando visitar al-guns eventos culturais da região para ime-diatamente sermos confrontados, de umamaneira sem igual na história deste povo,com a evocação permanente desta culturacaramela. Importa falar aqui na contribuiçãodos ranchos folclóricos, das associaçõesculturais e dos estudiosos da região, que jáhá alguns anos tomaram consciência destanecessidade, tendo investido na recuperaçãodas suas raízes culturais.

De Caramelos de ir-e-vira Caramelos de Estar

Regressemos agora ao passado, falemos dopovo da Beira Litoral.Pinhal Novo, na segunda metade do séculoXIX, era um local despovoado, de grandespinhais inférteis que alimentavam o gado daregião e o mercado de lenha de Lisboa.Quando José Maria dos Santos casou comDª Maria Cândida, herdeira da propriedadede Rio Frio, iniciou o arroteamento das ter-ras, tornando-as produtivas. Devido à exten-são de terreno e à quantidade de trabalhonecessário para tão grande tarefa, e tratan-do-se de um lugar desabitado, foi necessáriorecrutar grande quantidade de mão-de-obravinda de outras paragens. Estes trabalhado-res, que, nos locais de origem tinham grandesdificuldades económicas e poucas perspecti-vas de futuro, viam na migração, resposta paraos seus problemas.

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4Na Beira Litoral2, mais propriamente na zonada Gândara local de terreno arenoso, poucofértil - existia já o hábito de migrar para ou-tros locais a sul do Tejo3 . Num complexo sis-tema de recrutamento, José Maria dos San-tos tinha contratadores que percorriam asdistantes aldeias da Beira, batendo de portaem porta para angariar possíveis trabalhado-res. “Ele [contratador] é que corria as terras,arranjar, falar com as pessoas. … Atão anda-va já contratado por esta gente daqui de RioFrio, do José Maria dos Santos, pra arranjar xde pessoas, eram cinquenta pessoas cadamalta que trazia, era sempre cinquenta…”(Belmira Marques).Apenas com uma mala de madeira conten-do duas mudas de roupa e alguns alimentos,os chamados caramelos de ir-e-vir - com oacesso facilitado desde a inauguração da li-nha férrea em 1861 - vinham trabalhar paraRio Frio por temporadas, chegando por altu-ra da vindima e regressando à terra natal parafestejar o S. João.“Vim para cá com onze anos. Porque lá nanossa terra não havia trabalhos. O que se tra-balhava lá era só pocadinhos de terra quecada qual tinha pra seu cultivo, pra viver, nãoé?, pra uma pessoa viver. E toda a gente vi-nha. Eu maiormente até nem tinha grandeprecisão de vir, porque eu até era filha úni-ca... acabei por vir eu sozinha muito peque-nina... Porque vinha o rancho, aquelas mal-tas, chamavam as maltas, não era rancho, eraas maltas de caldeira aberta que se chama-va, que era de comerem nas caldeiras.”(Belmira Marques)Eram tempos difíceis, em que crianças e adul-tos trabalhavam de sol a sol nos diversos tra-balhos agrícolas necessários ao ciclo produti-vo da grande herdade. “Esses vinham ganhar- rapazitos com dez, onze, doze anitos - cin-co escudos, cama e mesa. A cama era amalhada como a gente tínhamos e a mesaera um caldeirão grande (...) mistela, que era

farinha de milho com hortaliça migada - co-mida prós porcos! - e algum feijão seco. De-pois, faziam três filas, o caldeirão no meio,faziam três filas, chegava ali tirava uma colherde sopa, uma colher daquela mistela, meti-am na boca e iam pá fila lá pa trás, quandochegassem a meter a segunda colher de sopana boca, já a outra já não tava lá, já não exis-tia. E ao jantar tinham então uma marmi-tazinha. Iam ao caldeirão, tiravam prá suamarmita e cada um comia na sua marmi-tazinha.” (Fernando Crespim)Com uma fila de tarimbas4 de cada lado, aCasa da Malta ou malhada era o local ondeos trabalhadores pernoitavam. “Aqui em RioFrio tinha o meu que era o das mulheres, etinha dois dos homens… Esses rapazes quejá eram, parece que era de quinze anos paracima iam pós homens, já não vinham juntocom as mulheres. De quinze anos pa baixo éque andavam juntos com a gente…Dormiamno nosso quartel mas numa parte sepa-rados…Suponhamos que a casa tinha estalargura [13m2] aqui passava, era o corredorao meio, prá li eram as tarimbas deles, queaquilo eram umas tarimbas assim no ar, nãoera camas!, eram tábuas todas pregadas to-das seguidas. Aqui tinham um murozinho demadeira pá palha não cair e era em palha dearroz. Cada qual trazia a sua mantinha, o seucobertor, ... pra dormir naquela palhinha e de-pois cada um ajeitava a caminha à sua ma-neira. Só que as pessoas que tinham habili-dades de sacas, de sacas do arroz, fazíamoscolchões e metíamos a palha lá dentro. Eu fizisso…De duas sacas, descosia-as e depoisfazia, mas nunca dormíamos uma raparigasozinha, era às duas, na mesma cama, nomesmo colchão…A gente fazia o colchão,desmanchávamos a saca, fazíamos o colchãoe depois púnhamos a palha lá pra dentro, edepois prontos, era aquela a nossa caminha,já tava limpa, já tava à nossa maneira.” (BelmiraMarques).

2 A origem deste povo estende-se, basicamente, entre Aveiro e a zona sul de Leiria, nomeadamente: Mira, Cantanhede, Tocha, Cadima e Pombal.3 Embora neste artigo nos reportemos apenas ao concelho de Palmela, António Fortuna encontrou, com a data de 1613, um registo na paróquia de S. Lourençode Azeitão, que se refere ao baptismo de um caramelo. Também em 1791, o desembargador Joaquim Pedro Gomes de Oliveira, natural de Azeitão, numa análiseapresentada à Academia das Ciências, observou: ...o que mostra ser muito antigo o uso que ainda actualmente existe, de vir todos os anos estabelecer-se alimuitos homens da província da Beira que, acabados os trabalhos das vinhas, voltam os mais deles para a sua pátria.” (Fortuna, 1997). Estes documentos revelamque a migração do povo da beira litoral para o sul, tem origens antigas, sendo que, depois de Azeitão, foi o concelho da Moita o segundo local de destino eposteriormente, o concelho de Palmela.Nesta busca de melhores condições de vida, estão subjacentes os sentimentos de esperança e de crença, pelo que Aníbal de Sousa encontrou no Círio daCarregueira (na romaria à Nª Senhora da Atalaia) a mais antiga expressão associativa da região, que data de 1833.4 Nestas estadias sazonais que duravam 9 meses, os migrantes dormiam em pequenos estrados de madeira cobertos por colchões de palha.

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Era à noite, após o trabalho, que os trabalha-dores se juntavam para conviverem, dedican-do alguns dias da semana aos bailes. “Umasvezes eram a toque de realejo, aquelas gai-tas-de-beiço, e outras vezes havia umacordeonista... A gente lá se ia divertindo (ri-sos) ... [além da luz do lume] havia os candeei-ros a petróleo, pendurados à porta do quartel,um em cada quina da porta...” (Belmira Mar-ques).Este grande fluxo de migrantes e de trabalhostransformou, no início do século XX, PinhalNovo no mais importante entroncamento fer-roviário a sul do Tejo, local onde desembarca-vam cerca de 12 433 toneladas de mercado-rias, servindo 43 340 passageiros, e Rio Frio,na maior vinha do mundo.Num país fortemente rural, e com desequi-líbrios graves no que respeita à distribuiçãoda riqueza, o visionário José Maria dos San-tos, compreendendo a importância do apegoà terra, impulsionou um sistema de foros, quepermitiu que grande camada dos migrantesse fixasse nesta zona. Através do pagamentode uma renda fixa, os rendeiros adquiriamum terreno, construíam uma casa, plantavamuma horta, abriam um poço, tornando-se,após a sua morte, proprietários destas ter-ras.

“A luta pela sobrevivênciaera a primeira preocupaçãodos trabalhadorestemporários. Ser permanenteera uma meta mas a grandeambição era possuir umaparcela de terra que pudesseassegurar uma vidade velhice mais tranquila.”

(Baptista, 1993)

Este constituiu um importante momento deviragem no desenvolvimento social da região.A partilha de terras, fez com que os traba-lhadores, sujeitos às precárias condições detrabalho e de vida, se pudessem tornar elespróprios proprietários. E ser proprietário, éentrar numa nova dimensão do social, alcan-

çar um novo estatuto. A ligação à terra passaa ter um carácter mais forte e o indivíduo apro-pria-se do espaço, que passa a sentir comoseu, transformando-o, construindo-o à suaimagem.Deu-se início à colonização interna e os ou-trora caramelos de ir e vir, tornaram-se cara-melos de ficar. Esta colonização teve maisexpressividade em alguns locais do conce-lho, especialmente na zona rural que envolvea vila de Pinhal Novo: Carregueira, Fonte daVaca, Venda do Alcaide, Palhota, Vale da Vila,Olhos d’Água, mas também Lagameças ePoceirão, onde existe uma rua que se deno-mina precisamente, Aceiro dos Caramelos.Mas, a migração humana não é um proces-so pacífico. A complexidade da mobilidadehumana e a sua fixação num diferente terri-tório acarreta inúmeras reconfigurações, numconfronto permanente entre um passado re-cente num lugar distante, e um presente quese constrói, mais do que nunca, a cada ins-tante. Este processo obriga a que a identida-de, produto das relações entre um povo e oespaço que habita, se redefina constante-mente. Policarpo Lopes fala do Homo mobilis,que de forma consciente ou inconsciente,desenvolve estratégias de negociação como objectivo de regular a bilateralidade dereferências da nova dinâmica social. Sãoestratégias que passam por um ajuste per-manente, entre o que não se quer abdicar(as suas próprias referências identitárias), eos novos elementos que o indivíduo tem deassimilar para poder sobreviver socialmente.Desta dinâmica surge uma nova identidade,diferente da do local de origem, mas tam-bém distinta da que até aí existia no local dedestino.No concelho de Palmela, os caramelos são oexemplo por excelência desta forma deapropriação do espaço. O grande fluxo mi-gratório e a posterior ocupação do território,permitiu que se tornassem agentes de mu-dança e contribuíssem decisivamente para aconstrução de parte do que somos. Apesarda denominação ter uma origem desconhe-cida5 , a cultura caramela tomou forma e tor-

5 Os migrantes só passavam a ser caramelos, no momento em que chegavam à nossa região. Nos seus relatos dizem desconhecer completamente o que teráoriginado tal nome, e o mesmo sucede com os habitantes locais.

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6nou-se parte integrante da vida e da paisa-gem do concelho, contribuindo não apenascom factores ideológicos, mas também ma-terialmente, ao fazer surgir novas construçõesque habitam o espaço, que é ele próprio, tes-temunho representativo desta evolução dostempos. Pois os tijolos de barro que esprei-tam nas brechas da cal, as telhas que persis-tem em olhar o céu, os fornos frios e silenci-osos que sonham com o crepitar do lume eos loureiros que fazem sombra ao viajanteque passa, testemunharam o início de umnovo tempo, e são ainda hoje, marcas destaocupação ordenada.

A casa caramela

A imagem da casaé o mapa dos locais da nossaintimidade, uma espécie detopologia que situa os váriosfragmentos da memória.

(Gaston Bachelard)

O sentimento de pertença ao local é prepon-derante para o sucesso do processo de co-lonização. Para que este sentimento tenhalugar, é necessário não apenas estar, mashabitar verdadeiramente o espaço, o quecompreende a existência de um lar, onde a

família partilhe as emoções do dia-a-dia. As-sim, a casa tem uma importante funçãointegradora na reconstrução da identidade,tornando-se, quando criada de raiz ou adap-tada pelo migrante, uma representação sim-bólica da apropriação do território.Estou convicta de que podemos falar de umaarquitectura tipicamente caramela, inexistenteem qualquer outro local do país.É sobre este tipo de habitação, que tratareinas linhas que se seguem, numa descriçãoque aborda a sua estrutura, forma, interior,anexos, métodos e técnicas de construção.A casa Caramela inscreve-se no que JoãoCravo distingue por estilo Chã: simples e fun-cional, despida de ornamentos, fundamen-talmente estrutural e estruturante. É uma casatérrea, elementar, de planta rectangular comreduzidas dimensões, e sobretudo, com umcarácter funcional muito acentuado.Toda a sua disposição estrutural resulta danecessidade do povo caramelo em facilitar esimplificar as tarefas quotidianas inerentes aoacto de habitar um espaço6. Pois a casa nãoera entendida como é hoje, um espaço deconvívio, de estar e descansar. “A vida vivia--se na rua os pais trabalhavam de sol a sol, ascrianças que ainda não tinham idade para la-butar, brincavam perto de casa esperando oregresso da família, e os bebés acompanha-vam as mães para poderem ser amamenta-dos. Outras [mães] traziam [bebés] num burritoe punham pedras dentro de um caixote epunham a criança dentro do outro....e a cri-ança ó depois punham lá debaixo de umacepa a dormir.” (Benilde Lagarto)Ora, a casa era apenas utilizada para as acti-vidades elementares como dormir, confecci-onar as refeições e desempenhar algumasactividades necessárias ao bem estar quoti-diano, tal como costurar, secar a roupa parao dia seguinte - “Entigamente a gente só tí-nhamos uma muda de roupa... E depois vi-nham muito suadas e muito sujas, lavavamnum alguidarinho ou num tanque e ó depoispunham assim numas cadeiras de volta dolume a enxugar, pó outro dia levar” (ibidem)e fazer a limpeza do espaço, tarefas que ca-biam exclusivamente à mulher.

6 Embora as parcas condições económicas pudessem, à primeira vista, servir de justificação para este tipo de construção simples e pobre, deparamo-noscom casas, em tudo idênticas, mas propriedade de famílias com alguma disponibilidade financeira. A única distinção prende-se com o número e dimensãodos anexos que compõem a fazenda, nomeadamente a adega, que sendo muito frequente, na maior parte das casas reduzia-se a um pequeno anexo,onde se fabricava vinho para consumo doméstico, enquanto que noutras, a sua dimensão demonstra a importância do monte para a região.

Casa situada na Carregueira, freguesia de Pinhal Novo

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A própria matéria-prima traduz esta necessi-dade de facilitar a construção de uma habi-tação que dispensava requintes: a terra.A arte de construir em terra é própria delocais onde existe escassez de pedra e re-presenta uma das mais antigas formas dearquitectura, sendo também característicados povos mediterrâneos, nos quais se in-sere o sul de Portugal.Existem dois métodos/técnicas de constru-ção: a taipa e o adobe. Falemos apenas nosegundo, visto que é o método utilizado na

Mapa de distribuição da taipa e do adobe em Portugal

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8arquitectura caramela. Adobe, é uma pala-vra de origem árabe ou berbere que designatijolos de terra crua preparados em moldes.São a base da arquitectura de grandes civili-zações mundiais, tal como a Mesopotâmicae a Egípcia.A escolha deste tipo de material, por partedos migrantes vindos das beiras, deve-se afactores de ordem económica e cultural. Tra-tando-se de trabalhadores rurais com parcosbens económicos, José Maria dos Santosfornecia gratuitamente a matéria necessáriaà construção das habitações. Em determi-nados dias da semana, os rendeiros dirigi-am-se à herdade de Rio Frio, onde pediampermissão ao patrão para recolher algumbarro das suas terras.Para além da disponibilidade deste materialconstrutivo, a escolha de construir emadobes, é também fruto do próprio proces-so migratório. Ao observarmos o mapa dapágina anterior, percebermos que a taipa éa técnica de construção mais comum no sulde Portugal. Por outro lado, verificamos naBeira Litoral, nomeadamente no distrito deViseu, a prática de construir em adobe.A adopção desta técnica na região de Palmelarepresenta assim, a materialização e objecti-vação de uma identidade, que, fruto da suaherança cultural, resultou numa habitaçãodistinta das de mais, a que actualmente de-nominamos por casa caramela.

As medidas do tempo, do gestoe do movimento que regemas formas do espaço e que sãorazão simbólica ligada aos ritose aos ritmos intemporais;eram as medidas do homem:o pé, o palmo, a braça...

(Alberto Alegria, 2000)

Não eram os colonos, que, sozinhos ergui-am paredes e telhados. Em cada lugar exis-tia pelo menos um homem que sabia a arteda construção. O “Mestre”7 possuía as ca-racterísticas indispensáveis a esta profissão,porque entre outras, era corajoso, audacio-so, habilidoso e rude. “Era quase todos assimpessoas corajosas, pessoas arrojadas...ficavamsempre pessoas [importantes]. Naquela alturaficavam com o nome na história.” (JoaquimCavaleiro).E era na Primavera, início do Verão, que osnovos habitantes destas terras iniciavam aconstrução das suas habitações. Nos locaisdeterminados por José Maria dos Santos,eram abertos grandes buracos, os covadosou alagoas, onde o Mestre, com a colabora-ção dos colonos, extraía a terra. A técnicaconsistia em retirar o barro ao nível abaixo daterra arável, onde, pela sua composição, ti-nha uma maior plasticidade e compressi-bilidade, permitindo que se moldasse facil-

Aspecto da disposição dos adobes

7 Nomes de alguns dos antigos mestres das zonas de Venda do alcaide, Palhota e Vale da Vila: José Bernardo Cavaleiro, Angelo António da Silva Cavaleiro,Lagarto, Zé Maneta, Braço Forte.

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9mente. Depois, com a ajuda de uma enxadaque regulava o volume de água, era amassa-do com os pés, tarefa na qual as criançastambém participavam, sendo que habitual-mente, se juntava à massa areia ou palha paraque ganhasse maior consistência e evitasserachar, durante a cozedura ao sol. A massaera colocada em formas rectangulares demadeira, o adobeiro ou adobela, com cercade 55cm de comprimento, 40cm de largurae 25cm de altura, e rasada na parte superiorpara que ficasse completamente lisa e tomas-se a forma de um paralelepípedo. Depois, pormeio de umas pegas laterais, era desenfor-mada e colocada em várias fileiras, no terre-no aplanado, permanecendo a secar ao solentre oito a quinze dias.Os adobes já secos eram colocados nas car-retas8 e transportados para o local de cons-trução, onde, no ponto mais alto do terreno,se tinha iniciado a abertura dos caboucosque, por vezes, consistia apenas numa pe-quena cavidade na terra.O mestre, homem corajoso capaz de desa-fiar a lei da gravidade e com uma destrezaprópria de quem não teme, erguia as pare-des, colocando os adobes em fiadas, comas juntas verticais desencontradas, proces-so semelhante à construção com tijolos.No pinhal, dois serradores encarregavam-sede cortar as madeiras necessárias para a co-bertura da construção. Com a ajuda de umaburra de serrar, feita a partir da cabeça dopinheiro, iam cortando os barrotes, as ripas,as varas e as traves, que os proprietários iambuscar para que o mestre, também carpin-teiro, pudesse colocar a estrutura do telha-do. A madeira era também utilizada para asdivisórias dos compartimentos interiores epara as portas e postigos das janelas. O res-

tante material utilizado na construção eracomprado em diversos locais da região: atelha de canudo, assim chamada por ter aforma de meia cana, era adquirida no fornodo Montijo, as ferragens na drogaria em Pi-nhal Novo e a cal em pó num armazém queexistia na Volta da Pedra, junto à entrada davila de Palmela.A construção em terra, requer alguns cuida-dos no que diz respeito à sua conservação,assim, após a estrutura da casa estar com-pleta, rebocavam-se as paredes com umacamada de argamassa de forma a torná-laslisas e regulares e caiavam-se para que fi-cassem protegidas das chuvas. Os beiradosligeiramente salientes tinham também estafunção de protecção contra as agressões dotempo.Sujeitos à grande pressão da cobertura, ascasas tendiam a abaular. Para impedir esseefeito, durante a construção eram colocadasferragens - gatos de ferro, pés-de-galinha oucruzetas - presas à extremidade da viga como objectivo de suster a parede. Mais tarde, apressão contínua, obrigava também a que seerguessem gigantes ou contrafortes, pesadasestruturas de alvenaria, e que habitualmentesuportam as paredes laterais e/ou traseiras dacasa.No final deste processo, que durava sensi-velmente dois meses, resulta uma casa deplanta rectangular com linhas direitas, telha-do de duas águas, corpo vestido de cal ealgumas, com uma barra de cor - azul, cinza,amarela - na base junto ao solo e em voltados vãos.(a 2ª parte deste artigo será publicada no nº +museu5,

Maio 2005)

Teresa SampaioAntropóloga, Museu Municipal de Palmela

8 Este processo podia ter a ordem inversa, pois era também comum que o barro extraído fosse imediatamente transportado para o local de construção,sendo aí que se procedia ao amassadoiro.

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O conhecimento actual sobre os testemu-nhos arqueológicos existentes no concelhode Palmela resultou de um vasto período deinvestigação cujo o início remonta aos finaisdo século XIX e se prolonga até aos nossosdias.O desenvolvimento da arqueologia como ci-ência autónoma, durante o século XIX, reve-la-nos nomes como o de Carlos Ribeiro, cujaactividade pioneira possibilitou a descobertade estações arqueológicas de excepcionalimportância e a publicação dos primeiros es-tudos de arqueologia em Portugal. Em 1866,Carlos Ribeiro inicia o reconhecimento cien-tífico da região da Arrábida com a primeiraexploração dos hipogeus de Quinta do Anjo.Numa segunda fase da investigação arque-ológica da região surge António Marques daCosta, investigador que identificou e esca-vou importantes estações arqueológicas,entre as quais os citados hipogeus, publican-do os resultados das intervenções de 1902 a1910, no “O Archeólogo Português”1 .

Depois da intervenção de Carlos Ribeiro nasGrutas da Quinta do Anjo, seguiu-se, em1878, uma segunda campanha pelos ama-dores A. Mendes e Agostinho da Silva, soborientação de Carlos Ribeiro. A publicaçãodestes estudos é significativa, mesmo tendoem conta as falhas metodológicas e os limi-tados conhecimentos da época.A exploração e o estudo da necrópole, paraalém de Carlos Ribeiro e de A. M. da Costa,destaca autores como Vera Leisner; Zbys-zewski e O. da Veiga Ferreira. Mais tarde, em1961 a equipa de V. Leisner, compila toda ainformação disponível das escavações e dosmateriais depositados no Museu Nacional deArqueologia e nos Serviços Geológicos dePortugal para publicação monográfica2, queobedecia a metodologias actualizadas e mai-or rigor científico, permitindo um registo com-pleto e exaustivo dos artefactos.No relatório de escavações de A. Mendesficaram registadas em pormenor as descri-ções arquitectónicas do monumento, ascondições da jazida e o principal espólioencontrado. A. Mendes detectou ainda in-tervenções anteriores nos hipogeus 1 e 2.Também V. Leisner colocou a hipótese deas primeiras escavações terem sido realiza-das por Nery Delgado e Pereira da Costa,com base num pacote de materiais, ofere-cidos ao Museu Nacional de Arqueologia(Leisner et al., 1961, p. 22). Ainda no relató-rio de A. Mendes é referido que as sepultu-ras 3 e 4 estavam parcialmente destruídasdevido à exploração da pedreira.A origem da necrópole é hoje situada no

Património Local

1 (Costa, 1902; 1903; 1904; 1905; 1906; 1907; 1908; 1909, 1910).2 (Leisner et al., 1961).

A necrópolede hipogeusda Quinta do Anjo

breve resenha historiográfica

Localização dos hipogeus da Quinta do Anjo(CMP à escala 1:25000, folha 454)

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Neolítico Final (há c. 5300 anos) com ocupa-ção contínua até ao Calcolítico (há c. 3700anos). É composta por um conjunto de qua-tro sepulcros escavados nos calcáriosmiocénicos. Refira-se que Leite de Vascon-celos, já em 1897, se interrogava sobre a prá-tica simultânea de inumações funerárias emgrutas artificiais e naturais nesta região.M. da Costa, em 1906, retoma as escava-ções da necrópole, ao verificar que as esca-vações efectuadas por A. Mendes não tinhamsido concluídas (nas antecâmaras e corre-dores), publicando os resultados no “O Ar-cheólogo Português” (Costa, 1907-1910).V. Leisner dedica especial atenção aoshipogeus, publicando em 1965, a obra DieMegalithgräber der Iberischen Halbinsel. DerWesten, catálogo exaustivo dos materiaisarqueológicos da necrópole de Quinta doAnjo.A colecção de Manuel Heleno, depositadano Museu Nacional de Arqueologia, foi reu-nida e publicada em 1977, por M. Horta Pe-reira e T. Bubner, onde se apresenta a taçatipo Palmela decorada com cervídeos.

O início da década de 60 traz uma outra di-nâmica à investigação, através de uma novageração de arqueólogos, como CarlosTavares da Silva e Vítor Gonçalves. A partirde 1966 dedicam-se ao estudo de alguns sí-tios arqueológicos da região, em colabora-ção com Joaquina Soares (década de 70),possibilitando a identificação, escavação erealização de projectos de investigação arque-ológica sobre sítios pré e proto-históricos noconcelho. Os mesmos autores desenvolvemparalelamente o estudo e publicação de anti-gas colecções, como por exemplo, o espóliorecuperado por Marques da Costa (Soares,2003).Apesar da sua importância, o valor patrimonialda necrópole só viria a ser reconhecido em1934 (Decreto-Lei nº 23740/34).Do ponto de vista arquitectónico a necrópo-le é composta por quatro hipogeus com topoaplanado, câmara sub-circular dotada deabóbada com clarabóia superior central,antecâmara de planta oval e corredor estrei-to com sentido descendente para a entradada câmara.

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Taça campaniforme pontilhada e linear-pontilhada, “Tipo Palmela” com representação de cervídeos (Pereira e Bubner, 1974-77)

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Bibliografia

CARDOSO, J. L.– Na Arrábida, do Neolítico Antigoao Bronze Final. Actas do Encontro sobre Arqueo-logia da Arrábida. Trabalhos de Arqueologia 14, IPA1998, pp. 45-70.

COSTA, A. I. MARQUES da – Estações pré-históri-cas dos arredores de Setúbal. Grutas sepulchraisda Quinta do Anjo. O Archeólogo Português, VII-XV,1903-1910.

FERREIRA, O. da V. – La Culture du vase campa-niforme au Portugal; Memória, 12, N. S. Lisboa: Ser-viços Geológicos de Portugal, 1966.

GONÇALVES, V. S. – Sítios, “horizontes” e artefac-tos. Leituras críticas de realidades perdidas. Câ-mara Municipal de Cascais, 1995.

LEISNER, V. – Die Megalithgräber der IberischenHalbinsel. Der Westen. Berlim: Walter de Gruyter &CO, 1965.

LEISNER, V.; ZBYSZEWSKI, G.; FERREIRA, O. da V. –Les Grottes Artificielles de Casal do Pardo (Palmela)et la Culture du Vase Campaniforme; Memória 8,Nova Série. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal,1961.

SILVA, C. T. da; SOARES J. – Chibanes revisitado.Primeiros resultados da campanha de escavaçõesde 1996. Estudos Orientais (Homenagem ao profes-sor A. A. Tavares). Lisboa. 6, 1997, pp. 33-66.

SOARES, J. – Os Hipogeus Pré-Históricos da Quintado Anjo (Palmela) e as Economias do Simbólico.Setúbal: Museu de Arqueologia e Etnografia do Distri-to de Setúbal/Assembleia Distrital de Setúbal, 2003.

Do espólio identificado, do Neolítico Final, sa-lienta-se a presença de micrólitos, algunsmachados, enxós aplanadas e placas de xisto.Da ocupação do Calcolítico encontramos umavariedade de artefactos de carácter mágico-simbólico que reflectem a sacralidade doshipogeus, bem como o prestigiado estatutosocial da comunidade que os utilizava. Des-tes artefactos destacamos os recipientes emcalcário e os ídolos-cilindro.É com o horizonte campaniforme que surgeo auge da ocupação, com toda a sua rique-za cultural, de que se destacam os vasoscampaniformes e as taças tipo Palmela (ta-ças de lábio aplanado e decoração pontea-da), os botões em forma de tartaruga ou comperfuração em V, as pontas tipo Palmela e osobjectos de adorno em ouro e materiais exó-ticos, reveladores de um activo comércio como Mediterrâneo.A intensa e sucessiva reutilização deste es-paço funerário, com toda a sua complexi-dade interpretativa, poderá relacionar-se osimbolismo inter-geracional da necrópoleenquanto local sagrado, de cariz mágico-simbólico, como defende Joaquina Soares(Soares, 2003).

Michelle SantosArqueóloga, colaboradora

do Museu Municipal de Palmela

Hipogeu 2. Planta e corte, segundo A.I. Marques da Costa, 1907

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Mais um ano lectivo e cá estamos cheios deentusiasmo e confiança, para dar seguimen-to às actividades realizadas com os alunosdo nosso concelho.Este entusiasmo deve-se à certeza de queestamos a traçar um caminho de sucesso, jáque a adesão das escolas às nossas ofertastem vindo a crescer substancialmente. Paraeste percurso, contribuíram de forma decisi-va as estratégias que a equipa do SE desen-volveu:

• a divulgação das nossas ofertas, quenão passa unicamente pelo formato depapel – como o Caderno de Recursos,ou este próprio boletim –, mas tambémpor uma divulgação presencial nas primei-ras reuniões de professores de todas asinstituições de ensino de 1º Ciclo do con-celho de Palmela;

• a permanente diversificação das ofer-tas que permite ir ao encontro das neces-sidades evidenciadas pela comunidadeeducativa, quer através de contactos in-formais, quer sobretudo nas sugestões eobservações que registam nos diversosquestionários de avaliação.

Na nossa acção, apesar de recebermos vi-sitantes de vários pontos do país, é para acomunidade educativa do concelho queorientamos todas as nossas ofertas, man-tendo, até à data, uma relação privilegiadacom o 1º Ciclo. Assim, estamos confiantesque contribuímos para que o património cul-tural seja valorizado e que a partilha de expe-riências gere, no futuro, cidadãos cada vez

mais conscientes, interventivos e integradosna comunidade envolvente.Pretendendo ir cada vez mais e melhor aoencontro do nosso público, apresentamosnas linhas que se seguem o balanço da nos-sa acção no ano lectivo anterior. A análisedestes resultados permite-nos retirar conclu-sões, para que possamos adequar as nos-sas práticas no sentido da Melhoria Contí-nua.

1 Vd. “Projecto Educar para uma Alimentação Saudável”, + Museu 2, Boletim do Museu Municipal de Palmela, Novembro, 2003, Separata, pp. 10 a 12.

Serviço Educativo do Museu Municipal

Balanço do ano lectivo2003/2004

Através da leitura do gráfico “Distribuição deactividades”, constatamos que no ano lecti-vo 2003/2004, se verificou um maior númerode visitas às actividades que integraram oprojecto proposto pelo SE para esse ano:“Educar para uma Alimentação Saudável”1,nomeadamente a visita aos Moinhos Vivosda Serra do Louro (37%) e à Herdade doZambujal (14%). Estes dados permitem con-

Distribuição de Actividades 2003/04

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cluir que o trabalho de projecto origina ummaior dinamismo na relação SE/Escola.Para além da “Visita ao Castelo contada porilustres personagens”, que teve uma adesãode 15%, também a deslocação da equipado SE às escolas, através da actividade “OMuseu vai à Escola” (11%) é muito solicita-da. Esta actividade permite que o Museu,através do SE, seja cada vez mais uma pre-sença no processo de aprendizagem dasnossas crianças.

Importa avaliar...

Não importa realizar actividades, sem ter da-dos que permitam avaliar, quer o seu impac-to junto do público, quer o cumprimento dosseus objectivos. Assim, neste ano lectivotransacto, para além dos já habituais questio-nários de avaliação para alunos e professoresutilizados no final de cada actividade, utilizá-mos pela primeira vez avaliação intermédia efinal de projecto, junto de todas as escolasque aderiram ao projecto “Educar para umaAlimentação Saudável”.O gráfico seguinte sintetiza os resultadosapurados nas fichas de avaliação por activi-dade, preenchida pelos alunos dos diferen-tes níveis de ensino.

Da análise das respostas dos alunos pensa-mos poder concluir que todas as actividadesque oferecemos têm um forte carácter lúdico-pedagógico, permitindo que os alunos simul-taneamente aprendam e se divirtam.O gráfico “Avaliação final do apoio prestadopelo SE à Escola” representa a súmula dasrespostas dadas por parte dos professoresrelativamente ao serviço prestado por estainstituição pública às escolas do concelho aolongo do ano.

Destacamos no gráfico seguinte, como for-ma de reconhecimento, todas as escolas doconcelho que participaram nas actividadesdo SE, pois a sua presença é imprescindívelpara a divulgação, valorização e preservaçãodo património concelhio.

Num universo de 6 293 alunos no concelho,distribuídos por 257 no Pré-Escolar, 2 297 no1º Ciclo, 2 425 no 2º e 3º Ciclos do EnsinoBásico e 1 314 no Ensino Secundário, o SErecebeu um total de 5 539 alunos; algunsestabelecimentos de ensino recorreram àsnossas ofertas mais do que duas vezes aolongo do ano.

Considerei a actividade importante porque...

Avaliação final do apoio prestadopelo Serviço Educativo à Escola

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A todas as escolas que, no ano anterior,não aderiram a qualquer actividade, faze-mos um convite sincero a um trabalho deparceira que queremos iniciar e/ou apro-fundar, trilhando um caminho conjunto,para um futuro promissor.

Até Breve!

Sandra Abreu SilvaTécnica Superior de Animação Cultural

Museu Municipal

Participação das instituições Educativas do concelho nas actividades do Serviço Educativo

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O Projecto:Conhecer, Entender, Cooperar

Este projecto nasceu da união entre a EscolaBásica 2,3 Hermenegildo Capelo (turma 6º B),a Escola de Patim – do município de S. Filipe,com o qual Palmela desenvolve actividadesde cooperação desde 1996, na Ilha do Fogo(Cabo Verde)1 – e o Museu Municipal dePalmela. Quisemos compreender esta coope-ração e juntos derrubamos fronteiras e cons-truímos pontes partindo à descoberta doMundo, de Nós e do Outro. Neste caminhopartilhamos palavras, rostos, sorrisos, olharese a alegria do Encontro. Procuramos Conhecere Entender, acreditando que, assim, Coopera-mos melhor.Foi nossa intenção que os alunos desenvol-vessem as seguintes competências:

• Conhecer a si próprio e aos outros;• Conhecer o seu património cultural locale o dos outros;• Reflectir criticamente sobre a diversida-de cultural;• Fomentar um espaço de diálogo entreculturas distintas.

Assim, através de dinâmicas distintas, em salade aula, bem como fora dela:

• Reflectimos sobre o Mundo e as carac-terísticas dos continentes no que diz res-peito aos índices de população, à riquezae à escolaridade, confrontando-nos comas injustiças e percebendo a urgência dacooperação internacional;• Visitamos o património local, partindo àdescoberta de Nós;• Exploramos imagens da Ilha do Fogo,partindo à descoberta do Outro;• Partilhamos com os alunos de Patim car-tas e fotografias, descobrindo o que so-mos nós e o outro, Juntos.• Por fim, cada um encontrou as razõesque para si justificam a cooperação, as-sim como as acções que entendemos de-verem ser realizadas para minorar as desi-gualdades e as injustiças entre as naçõese registou-as em pequenos pedaços depapel. As razões, todas juntas, formaramum tronco, representando que a base, araiz, de qualquer cooperação deverá resi-dir sempre na reflexão, no entendimento eno respeito. As acções reunimo-las numa

Palmela/S. Filipe:Conhecer, Entender, CooperarUm projecto de Educaçãopara o Desenvolvimento

Nos bastidores...

1Através da Divisão de Apoio aos Órgãos Municipais/Cooperação Internacional .

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17grande copa, como frutos necessários enaturais da nossa cidadania activa e res-ponsável. Construímos uma árvore, a ár-vore da cooperação, que todos pretende-mos que não pare de crescer.

Estando próximo o final do ano lectivo, e paraconcluir este projecto, os alunos do 6º B reu-niram todos os materiais produzidos e conce-beram uma exposição, através da qual, parti-lharam com toda a comunidade escolar asactividades desenvolvidas ao longo do ano.Inaugurada no dia 18 de Julho, contou comanimação musical realizada não só pelos alu-nos responsáveis por este projecto, mas tam-bém pelas danças do Clube Amigos de To-das as Cores da Escola EB 2, 3 José Mariados Santos de Pinhal Novo, bem como porCelina Pereira, cantora e contadora de estóri-as de Cabo-Verde.A respeito do trabalho desenvolvido ao longodo ano a Professora Antonieta Gonçalves (Di-rectora da turma 6º B, responsável pelo pro-jecto) afirmou: “Os alunos do 6º B surpreen-deram-me: com a curiosidade, empenho (so-bretudo com a pesquisa muito intensa), e ointeresse em descobrir o amigo.”A Iris disse: “O que eu mais gostei neste pro-jecto foi conhecer o meu correspondente oEvandro”. A Susana Piteira “gostaria que to-dos ajudássemos para que a educação emCabo Verde evoluisse.” E, a Patrícia Alexan-dra “gostaria que fosse feito, no âmbito daCooperação, um jogo através da Internet comos amigos de Cabo-Verde; e se mandasse nomundo ajudava todos os países ricos a ajuda-rem os países desfavorecidos”.

O Museu e a Educaçãopara o Desenvolvimento

Em 1974, a Assembleia-Geral da UNESCOaprovou uma resolução na qual se diz que“Educação para o Desenvolvimento é a edu-cação para a compreensão, a paz, a coope-ração internacionais e a educação relativa aosdireitos do homem e ás liberdades fundamen-tais”.

A Educação para o Desenvolvimento visa amudança, a transformação do mundo em quevivemos, que hoje é o planeta e todo o espa-ço que o envolve.De acordo com a Declaração decorrente daMesa Redonda de Santiago do Chile (1972),o conceito de acção dos museus foi alteradono sentido do Museu Integral “destinado aproporcionar à comunidade uma visão de con-junto de seu meio material e cultural. Com estenovo conceito de museu, a instituição passaa ser entendida enquanto instrumento demudança social, enquanto instrumento parao desenvolvimento e enquanto acção. Pas-sando assim a trabalhar com a perspectivade património global”. É com base neste con-ceito de acção do museu que pretendemosinserir este projecto de valorização da culturaimaterial e, sobretudo a valorização dos indi-víduos enquanto membros de uma comuni-dade através do conhecimento de si própriose do conhecimento/entendimento dos outros.É um projecto de recuperação das raízesidentitárias e culturais desta comunidade, par-tindo de cada um para o conhecimento e acei-tação da diferença.

Para o futuro…

… Pretendemos continuar a:Conhecer, envolvendo um maior número dealunos e professores, bem como a restantecomunidade;Entender, promovendo o diálogo entre opassado e o presente, para perspectivar ofuturo;Cooperar, através da partilha de vidas, va-lores e esperanças.Queremos Educar para o Desenvolvimento,apostando na formação para a Compreen-são, a Paz, a Cooperação Internacional, osDireitos do Homem e das Liberdades Fun-damentais.

Cristina Vinagre AlvesCristina dos Reis Prata

Teresa SampaioTécnicas Superiores do Museu Municipal de Palmela

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1937-1969Conquista de uma vontade:Associação Humanitáriados Bombeiros Voluntários de Palmela

A Associação Humanitária dos Bombeiros dePalmela é fundada no dia 11 de Novembro de1937 e na sua Comissão Organizadora encon-tramos Mário Augusto dos Santos, XavierSantana, Pedro Augusto da Fonseca, MárioRodrigues de Oliveira e António Xavier da Sil-va Barrocas.A primeira sede localiza-se na ala central doedifício da Escola do Largo S. João, mascomo esse espaço ainda não se encontraconcluído e não reúne as condições neces-sárias para tal instalação, a Câmara Muni-cipal cede aos Bombeiros Voluntários dePal-mela, uma garagem dentro do pátio daAbegoaria Municipal. Aí instalados, combastante dedicação e perseverança, orga-nizam campanhas de angariação de fun-dos e sócios, adquirem viaturas, trabalhame sonham… com uma nova sede. A esterespeito Joaquim Barrocas escreve, “to-dos criticam e falam porque são sempreos mesmos directores. Ainda há semanasse fizeram convocações (…). Não apare-ceu nem um associado (…). Vejamos a obra

dos Bombeiros de Palmela nestes últimostempos. Comparemo-la com as ajudas? Se-rão ou não serão os Bombeiros de Palmeladignos de mais respeito e ajuda, uma vez quetêm apenas pouco mais de duas centenasde sócios, a maior parte com quotas de deztostões?!!! Já que não possuem ordenadosnem gratificações que fiquem ao menos coma consolação de ser respeitados e ajudadospor todos (…). Só assim será possível a reali-zação do seu sonho que é a construção dumquartel, pois a casa onde estão instalados nãoreúne as condições necessárias”1.

Missão SalvarAssociação Humanitáriados Bombeiros Voluntáriosde Palmela1937-2004

Aos Bombeiros Voluntários cabe a tarefa de combaterincêndios e socorrer populações, de forma gratuitae desinteressada. Essa tem sido a missão queos Bombeiros Voluntários de Palmela têm assumidoem cada um dos aniversários que cumpre no mêsde Novembro.

1Joaquim Barrocas, in Distrito de Setúbal, 6 de Março, 1961

Almoço de confraternização do 29º aniversário, 1966Junto ao Auto Pronto-Socorro 01, e segurando o estandarteda associação (da esquerda para a direita): Feliciano Guerreiro,Isidro Serrano, Dário Cardoso, Vítor “Renega”, Eduardo da Claudina,Agostinho Oliveira, José Cardoso, Virgílio Carmo Aredes,Leonídio Batalha e filha do Director Octávio Moura

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1970-1989 - Realização de um sonho:Um Novo Quartel

A construção de uma nova sede é a grandeprioridade. Chamam-se sócios, procura-seterreno, conta-se com a generosidade dacomunidade. Segundo João Luís Camolas“a associação dos Bombeiros era, de facto,muito pobre (…) em viaturas e em instalações.Era rica (…) em material humano, isso feliz-mente foi sempre rica (…). Éramos rapazesna força da vida, eu tinha quarenta e poucosanos, outros mais novos, outros mais velhose queríamos dar um empurrão aos Bombei-ros (…) Havia uma maquete do actual quartelsempre à nossa vista (…). Houve uma direc-ção anterior que tinha feito um projecto (…)mas por diversos motivos não levou por di-ante”2 .Em 1979, aproveitando a herança da direc-ção anterior e potenciando as vontades detodos quantos desejam ver construído umnovo quartel é possível, finalmente, lançar a1ª pedra.

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1990-2004 – Missão:Melhor Equipamento, Melhor Resposta

São tempos de investimento em formação eequipamento: é necessário melhorar as con-dições de capacidade de resposta na pres-tação de serviços, a uma comunidade emfranco desenvolvimento.

2 Entrevista de João Luís Camolas e Silva, 68 anos, Presidente da Direcção da A.H.B.V. Palmela, a Cristina Prata/Lúcio Rabão, Museu Municipal, Abril 2004

João Luís Camolas deposita junto à primeira pedra um pergaminho ondeconstam os nomes dos elementos da actual direcção.

E, em 1981, cumpre-se o sonho: a 11 de Ju-lho é inaugurada a nova sede e recompen-sado o trabalho de todos quantos acreditamneste grande projecto.

O Presidente da República General Ramalho Eanese o Comandante José João Torcato passam revista à formatura.

Inauguração da nova ambulância INEM, 2003Da esquerda para a direita, em cima: João Pila, Eduardo Martins,Pedro Ramos, Tiago Carvalho, Rafael Ferreira e Mário Cruz.Da esquerda para a direita, em baixo: Alexandre Lopes, Paulo RolaPedro Casimiro, Francisco Dotes, Ricardo Marques, Hugo Velez,António Canato, Gonçalo Velez e José Cascarrinho.

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Hoje, quem visita o quartel encontra, não sóa dinâmica e optimismo da resposta cada vezmais pronta e eficaz a todas as solicitações,mas também o rosto e a memória de quem,com amor e perseverança, ajuda a construiresta associação. Manuel Mares, lembra:“Aprendi aqui a respeitar as pessoas mais ido-sas, a conviver com elas todas, a respeita-las(…). Os bombeiros são, para mim, o que demais sublime a humanidade tem (…). Aqui seviveram horas de alegria e horas de tristeza,para mim isto é uma 2ª casa (…)” 3 .

O Passado: um património a preservar

Segundo o presidente da direcção OctávioMachado e do seu comandante Manuel Si-mões Baptista, a Associação Humanitária dosBombeiros Voluntários de Palmela pretende“dar à guarda do Arquivo Municipal os docu-mentos que se considerem mais importan-tes, para que não se percam no tempo. Poroutro lado, captar a história de viva voz, da-queles fundadores que felizmente ainda seencontram entre nós (…). Ao abraçar esta“causa” temos a consciência de que vamos

permitir aos vindouros, a compreensão dopassado de forma a melhor poderem projec-tar o futuro, engrandecendo sempre maisaquilo que afinal já nasceu com grande pres-tígio e dignidade.”Neste sentido, foi concebida uma exposiçãona qual, a partir de um eixo cronológico, sãosalientados os factos, bem como os docu-mentos que consideramos mais significati-vos na vida desta Associação. Sendo umaexposição de longa duração, patente na sededa Associação desde Maio último, pretendeser um contributo para um melhor conheci-mento da história da Corporação e, sobretu-do, uma homenagem às centenas de homense mulheres que, sendo ou tendo sido parteda Associação, contribuíram com o seu amor,dedicação e serviço, para que os BombeirosVoluntários cumpram a sua verdadeira mis-são: Salvar!

Cristina dos Reis Prata,Técnica Superior do Museu Municipal de Palmela

Lúcio Pedro Rabão,Técnico Profissional do Museu Municipal de Palmela

3 Entrevista de Manuel Mares, 73 anos, 1º Comandante do Quadro de Honra, a Cristina Prata/Lúcio Rabão, Museu Municipal, Abril, 2004.

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21 Património Concelhio em documentos

Datação: Século XVII (3º quartel)Técnica: MajólicaCaracterização Estilística/Histórica: a re-produção de motivos têxteis na azulejaria por-tuguesa foi prática comum. Empregandodiversos padrões e simulando texturas varia-das, a sua forma de aplicação foi tãodiversificada quanto as possibilidades arqui-tectónicas o permitiam.Os frontais de altar são das mais curiosas

Temos apresentado nesta rubrica documentos escritos que abordam aspectosda História do nosso concelho. Optamos, desta vez, por um documento diferente:um frontal de altar azulejar.Damos a respeito desta peça algumas informações, contudo, muitas questõesse nos colocam quando a observamos: quem mandou fazer e porquê este painel?Qual o seu autor? Quanto custou? Era a única representação iconográfica existentena Capela? A mais antiga? Em cada documento muitas questões se colocamao investigador – fica o desafio.

Frontal de altarda Capela de S. Gonçalo*(Cabanas)

destas evocações, simulando em cerâmicaos revestimentos que ornamentavam as arasdas igrejas de então. A fragilidade destes te-cidos e, muitas vezes, a impossibilidade deos adquirir, terão levado à passagem desteselementos para um suporte durável, fácil delimpar e reflector de luz.O tema têxtil mais comum, para esse fim,eram as “chitas” provenientes da Índia, quedariam aos espaços uma forte nota de

* O presente artigo resulta da sistematização de dados por Zélia Sousa, Técnica Superior do Museu Municipal de Palmela, a partir da informaçãotécnica fornecida pelo Dr. Alexandre Pais - Museu Nacional do Azulejo / IPM e dados recolhidos no site http://www.monumentos.pt

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22exotismo. No caso da peça aqui representa-da alude-se a um brocado, tecido que já Fran-cisco Niculoso utilizara como referência parauma série de peças, no início do século XVI,e das quais existe um exemplar exposto noMuseu Nacional do Azulejo. Ainda que seconheçam alguns frontais imitando estes ve-ludos requintados, a invulgaridade desta peçareside no facto do fundo surgir a branco, oque dá ao motivo um aspecto gráfico muitoincomum.Habitualmente, sob a simulação têxtil, surge,ao centro, um medalhão com a imagem doorago da igreja ou capela a que estas peçasse destinavam, neste caso, São Gonçalo.

A Capela de S. Gonçalo

Pequeno templo de romaria datado prova-velmente do século XVII, este imóvel faziaparte de um conjunto de quatro pequenascapelas mandadas edificar pelos Marquesesde Minas, antigos proprietários da Quinta daTorre.Com planta hexagonal no corpo principal,apresenta uma galilé, circundada de um al-pendre com cobertura sustentada por doispilares e quatro colunas de fuste monolítico.O despojamento formal de elementos deco-rativos e linhas singelas, nas quais se desta-cam as cantarias dos vãos em pedra calcáriabojardadas, torna-a formalmente similar aduas capelas existentes no país (S. Mamede,

em Janas, e S. Gregório, em Tomar).No interior simples, o frontal de altar apre-sentava originalmente um revestimento azu-lejar polícromo, em majólica, do 3º quartel doséculo XVII, ornado de motivos vegetalistas,acantiformes, com a representação centralde São Gonçalo. Esta peça esteve, durantemuitos anos, à guarda da paróquia de Azeitão– por motivo de segurança – e regressou àposse da paróquia da Quinta do Anjo em1999.No âmbito do processo que envolveu a clas-sificação da Capela como Imóvel de Interes-se Municipal1, e em estreita colaboração coma paróquia da Quinta do Anjo, o Museu Mu-nicipal promoveu o estudo e o restauro dopainel azulejar, operações especializadasacompanhadas directamente pelo MuseuNacional do Azulejo2, que desde o início doprocesso manifestou disponibilidade para aacção.De modo a preservar o frontal de altar foi exe-cutada réplica, colocada na Capela de S.Gonçalo, ficando o original depositado noMuseu Municipal de Palmela.Ainda no âmbito do processo de classifica-ção da capela, a autarquia procedeu ao le-vantamento arquitectónico do edifício, con-solidação do reboco e pintura, limpeza doselementos pétreos, tratamento paisagísticoda envolvente ao imóvel e instalação de sis-tema de alarme de detecção de incêndio eintrusão.

1 Classificação pela Assembleia Municipal de 25 de Junho de 2002, de acordo com o exposto na alínea b), do ponto 2, do artº 20º, da Lei n º159/ 99 de 14de Setembro.2 Dr. Alexandre Pais, Museu Nacional do Azulejo/ IPM

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A não esquecer…

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Comemorações dos 820 Anosdo Foral de Palmela de 1185

2005 será marcado, a partir de 10 de Março, pelas come-morações dos 820 anos do foral de Palmela. Através daexploração dos 3 forais de Palmela - o de 1170, atribuidoaos Mouros-Forros, o de fundação do concelho em 1185,e o de 1512, atribuido no âmbito da reforma de D. Manuel-, pretende-se que todas as escolas interessadas, e o pú-blico em geral, conheçam a vida municipal tendo por fon-tes os Forais que a regeram.De Março - data do Foral de 1185 - a Novembro (mês daRestauração do Concelho em 1926), a efeméride serámarcada por exposições, conferências e lançamento deedições sobre os Forais, o Património Histórico-Artísticodo concelho e as relações entre Muçulmanos e Cristãosno período medieval.Um dos meios que disponibilizaremos para garantir o con-tacto com os forais é um Dossier Pedagógico subordina-do ao tema “O Poder Local no concelho de Palmela – dosforais à actualidade”.

30 Anos de Abrilno concelho de Palmela– uma exposição a verNo quadro das comemorações sobre as3 décadas da Revolução dos Cravos e dassuas consequências a nível dos sistemaspolítico, social e cultural locais, pretendem-se atingir 3 objectivos com a exposiçãopatente até 8 de Maio, na Igreja de Santi-ago – Castelo de Palmela.

Um desafio para o Espaço de Reflexão:

A todos os grupos organizados que nosvisitam – escolares – pedimos que tragamuma história ou um objecto que represen-te Valores subjacentes à Liberdade, Paz eDemocracia.(vide planta e programa da exposição no suplemen-

to do +museu 4)

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24Palmelae a Ordem de Santiagono século XVI,Dissertações de MestradoNa sequência do Curso Integrado de Estudos Pós-Graduadosem História Medieval e do Renascimento / Turma de Ordens Mili-tares, que decorreu em Palmela ao abrigo de um protocolo entre aCâmara Municipal e a Faculdade de Letras da Universidade doPorto, foram defendidas em Dezembro último, as seguintes Dis-sertações de Mestrado:

• Carlos Russo SantosA Ordem de Santiago e o Papadono Tempo de D. Jorge:de Inocêncio VIII a Paulo III• Cristina Paula Vinagre AlvesA propriedade da Ordem de Santiagoem Palmela.As Visitações de 1510 e 1534• Maria Isabel Oleiro LucasAs Ermidas da Ordem de Santiagonas Visitações de Palmela do séc. XVI• Maria Regina Soares Bronze RamosAs Igrejas de Palmela nas Visitaçõesdo séc. XVI. Rituais e Manifestaçõesde Culto

No âmbito do programa do 6º Curso sobre Ordens Militares, que de-correu em Palmela nos dias 3 e 4 de Fevereiro, estes trabalhos foramapresentados pelos referidos autores, na óptica das fontes históricasque lhes serviram de base – Visitações de Palmela no século XVI ebulas produzidas durante o mestrado de D. Jorge.O 6º Curso, iniciativa do GEsOS, visou este ano dar a conhecer ariqueza dos principais fundos documentais das Ordens de Santiago,do Hospital e de Cristo e ainda outras fontes - régias, monásticas,episcopais, paroquiais, senhoriais, epigráficas -, que fornecem impor-tante informação para o estudo das Ordens Militares em Portugal nosperíodos medieval e moderno.Contando com um vasto leque de especialistas, as sessões teóricasforam complementadas com uma visita guiada aos fundos das Or-dens Militares na Torre do Tombo, em Lisboa.Do programa constou ainda o lançamento das Actas do IV Encontrosobre Ordens Militares, obra apresentada pelos Prof. Doutores LuísAdão da Fonseca e Fernanda Olival e patrocinada pela Presidênciada República/Chancelaria das Ordens Honoríficas.

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Ediçõesem destaque

PRATA, Cristina e RABÃO, Lúcio PedroMissão Salvar: Associação Humanitáriados Bombeiros Voluntáriosde Palmela 1937-2004Palmela: Associação dos BombeirosVoluntários de Palmela/Câmara Municipalde Palmela, 2004

FERNANDES, Isabel Cristina Ferreira(Coordenação de edição)As Ordens Militares e as Ordensde Cavalaria na Construção do MundoOcidental. Actas do IV Encontro sobreOrdens Militares, Palmela: Edições Colibri /Câmara Municipal de Palmela, 2005

O IV Encontro sobre OM, realizado em 2002,pela Câmara Municipal de Palmela, foi o maisalargado de sempre, congregando cinquentainvestigadores nacionais e estrangeirose abrindo-se a novas áreas temáticas,o que fica patenteado nestas actas.

BARROCA, Mário e FERNANDES IsabelCristina (Coordenação de edição),

Actas do Seminário realizado em 2003,com sessões bipartidas entre Palmelae o Porto, numa organização conjunta entrea Câmara Municipal de Palmela e a Faculdadede Letras da Universidade do Porto.Lançamento: 10 de Março, pelas 18h00,no Salão Nobre dos Paços do Concelhode Palmela, no âmbito da abertura dasComemorações dos 820 anos do Foralde Palmela de 1185

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FUNDOSDOCUMENTAISESPECIALIZADOSPARA CONSULTAPÚBLICA, EM PALMELA

Novas aquisiçõesdo Gabinete de Estudos sobre Ordem de Santiago(GEsOS)

• MORUJÃO, Isabel – Contributos para uma bibliografia cronológicada literatura Monástica Feminina Portuguesa. Lisboa: UniversidadeCatólica, 1995

• PÉRICARD-MÉA, Denise – Dans les pas de Saint Jacques.Paris: Éditions Tallandier, 2001

• WILLIAMSON, Tom – Shaping Medieval Landscapes: Settlement,Society, Environment, s/l: Windgather Press, 2004

Novas aquisiçõesdo Fundo Documental do Museu Municipal

• ALÇADA, Isabel e MAGALHÃES, Ana Maria – A Longa Históriado Poder. Lisboa: Edições Assembleia da República, 2003

• BOLAÑOS, María – La memoria del mundo. Cien añosde museología. 1900-2000. Gijón: Ediciones Trea, 2002

• SPALDING, Julian – The Poetic Museum. Reviving HistoricCollections. s/l: Prestel-Verlag, 2002

O enriquecimento dos Fundos Documentais especializados – GEsOS e MuseuMunicipal – faz-se através de permuta com outras entidades (por ex.: CâmarasMunicipais, Universidades, Museus, Institutos, Centros de Documentaçãoespecializados), por aquisição ou integração por oferta dos autores ou editoras.

Podem ser consultados no Gabinete de Estudos e no Museu Municipal, de 2ª a 6ªfeira, nos horários de abertura ao público dos respectivos serviços.

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CADA NÚMERO, UM JOGOCruzadas em Quinta do Anjo

SITES A CONSULTARhttp://www.monumentos.ptSite da Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), no qual se tem aces-so à base de dados Inventário de Património Arquitectónico. Se, em Pesquisa simples,escolher Distrito Setúbal, Concelho Palmela, descobrirá informação sobre diversos imóveisde Património Histórico Edificado do concelho de Palmela, com particular destaque para otrabalho realizado sobre o Centro Histórico da Vila sede de concelho.

http://icom.museum.jim.htmlSite do Conselho Internacional dos Museus, página dedicada às comemorações anuais doDia Internacional dos Museus – em cada ano há um tema, sugestões de trabalho, documen-tos acerca da temática...2005 está sob o lema Os Museus, pontes entre culturas

http://portal.unesco.org/cultureSite da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Aárea Cultura é editada em francês, inglês e espanhol. Pode aceder a temáticas como Culturae Desenvolvimento, Diálogo Intercultural, Diversidade Cultural, Património Mundial, Materiale Imaterial, Indústrias Culturais, Direitos de Autor, entre outras.

Neolítico período em que surgem algumas transformações e evo-luções na vida das comunidades. Estas comunidades começam apraticar a agricultura, cultivando o cereal, desenvolvem a pastoríciae a criação de animais. Os animais eram utilizados para ajudaremna agricultura e no transporte dos alimentos, mas também serviampara alimentar as pessoas. Durante o Neolítico Final, os recipientescerâmicos tornam-se mais perfeitos, mais especializados, e tam-bém, muito bonitos. Inicia-se a sedentarização.

Sepulcros (da Quinta do Anjo) os sepulcros eram escavados narocha pelos homens importantes das tribos. Os sepulcros têm cor-redor de acesso, uma antecâmara e câmara com abertura superior(clarabóia). Estes sepulcros serviam para depositar os mortos epara homenagear os membros mais importantes da tribo. Acerimónia e as homenagens eram enriquecidas com a realizaçãode rituais mágico-simbólicos. Este espaço funerário era muito im-portante para quem os fazia e para quem os utilizava.

Agricultura Domesticação de algumas espécies vegetais selva-gens. Cultivo de cereais (cevada e trigo), de algumas leguminosas(lentilha, ervilha, fava) e a exploração do linho. O cultivo dos alimen-tos organizava-se segundo as estações do ano.

A propósito da recriação histórica “Um Dia no Neolítico na Quinta do Anjo”, convidamos à resoluçãodestas palavras cruzadas.

Cerâmica Os recipientes cerâmicos tornam-se mais varia-dos e especializados. O oleiro moldava com os dedos algunspotes e vasos de maior dimensão (recipientes que serviampara transportar e armazenar os alimentos), taças e copos dediferentes tamanhos, para uso doméstico e funcional (reali-zação de pesos de tear, usados na tecelagem e pesos derede para a pesca) do dia a dia das tribos e outros recipientesmais bonitos e muito decorados para as cerimónias religio-sas e simbólicas.

Quinta do Anjo uma das cinco freguesias do concelho dePalmela. Os Sepulcros Neolíticos da Quinta do Anjo locali-zam-se nesta freguesia e foram classificados como Monu-mento Nacional por Decreto - Lei de 5 de Abril de 1934.Proveniente destes Sepulcros existe uma tipologia de taçacerâmica campaniforme conhecida internacionalmente por“Taça Tipo Palmela”, com decoração a pontilhado e linear--pontilhado, com o lábio decorado. Podia incluir na sua gra-mática decorativa alguns cervídeos estilizados.O símbolo do Espaço Arqueológico do Núcleo Museológicodo Castelo de Palmela foi inspirado num cervídeo apresenta-do numa Taça Tipo Palmela.

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Contactos:Divisão de Património Cultural - Museu MunicipalDepartamento de Cultura e Desportoda Câmara Municipal de PalmelaLargo do Município2951-505 PALMELA

Tel.: 212 338 180Fax: 212 338 189E-mail: [email protected]

Ficha TécnicaEdição: Câmara Municipal de PalmelaCoordenação Editorial: Chefia da Divisão de Património Cultural/Museu MunicipalColaboram neste número: Alexandre Pais - Museu Nacional do Azulejo/IPM, Cristina Alves,Cristina Prata, Lúcio Pedro Rabão, Maria Teresa Rosendo, Michelle Santos,Sandra Abreu Silva, Teresa Sampaio, Zélia de SousaDesign: atelier Paulo CurtoFotografia: Adelino ChapaImpressão: Armazém de Papéis do SadoCódigo de Edição: 68/05 - 3 000 exemplaresISBN: 927-8497-27-XDepósito Legal:196394/03

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ÍndiceEditorial

Em destaque… Memórias do Habitar- Arquitectura e Vivência Caramelas (1ª parte)

Património LocalA necrópole de hipogeus da Quinta do Anjo:breve resenha historiográfica

Serviço Educativo do Museu Municipal de Palmela– Balanço do Ano Lectivo 2003/04

Nos Bastidores… Um projecto de Educaçãopara o Desenvolvimento - Palmela/S. Filipe:Conhecer, Entender, Cooperar

Missão Salvar: Associação Humanitáriados Bombeiros Voluntários de Palmela 1937-2004

Património Concelhio em documentos– O frontal de altar azulejar da Capela de S. Gonçalo

A não esquecer…• Comemorações dos 820 Anos do Foral de Palmela de 1185• Exposição 30 Anos de Abril no concelho de Palmela

Palmela do Séc. XVI é tema de dissertações de Mestrado

Edições em destaque

Fundos documentais especializadospara consulta pública em Palmela

Sites a consultarCada número, um jogo

Faz parte integrante deste número uma separata com os documentosMuseu Municipal de Palmela – Serviço Educativo/Programação 2004-05Para descobrir a Exposição 30 Anos de Abril no concelho de Palmela