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O ESTUDO DO MUNICÍPIO EM GEOGRAFIA
Mizael Dornelles1 /UNISC
Erica Karnopp2 /UNISC
INTRODUÇÃO
O município é trabalhado nas series iniciais, nos 1ª e 2ª ciclos, da primeira a
quarta series do ensino fundamental de oito anos3. A ênfase ao município é dada na 3ª
série, através da categoria de lugar. A categoria de lugar permite ao professor trabalhar
em Geografia o espaço cotidiano, sem limitações dadas por uma definição político-
administrativa de bairro, distrito e estado.
Castrogiovanni (2008), é categórico ao destacar pesquisas que comprovam:
muitos professores das series iniciais não foram alfabetizados em Geografia. Lembra
ainda, os estudos sociais, onde está inserida a Geografia nos 1ª e 2ª ciclos e destaca a
confusão teórico-metodológica entre Geografia, História e Sociologia. Os significados
muitas vezes incompreendidos pelos professores aparecem mortos aos alunos, além do
afastamento da escola com a vida e o cotidiano do aluno. “É urgente teorizar a vida,
para que o aluno possa compreendê-la e representá-la melhor e, portanto, viver em
busca de seus interesses”. (CASTOGIOVANNI, 2008, p.15).
1 Acadêmico dos Cursos de Licenciatuara e Bacharelado em Geografia - Universidade de Santa Cruz do Sul. 2 Doutora, coordenadora e professora do dos Cursos de Licenciatuara e Bacharelado em Geografia - Universidade de Santa Cruz do Sul. 3 Nos referimos aqui, ao ensino fundamental de 8 series. A Lei 11.274 de 2006 dispõe que as escolas têm até 2010 para se adaptar e mudar de 8 para 9 anos, o período de duração do ensino fundamental. A justificativa para a lei diz respeito a uma permanência maior na escola dos alunos carentes e a uniformização do ensino fundamental no país. Porém, questiona-se não haver um plano curricular específico e se irá melhorar de alguma forma o ensino ou simplesmente será uma mudança de nomenclatura. A crítica retórica defende que esta medida sem demais ajustes não é relevante. Não entramos no mérito desta discussão.
Nesse sentido, tivemos a proposição de investigar e analisar a prática pedagógica
dos professores sobre o ensino de Geografia e o estudo do município. Em linhas gerais,
verificar a metodologia do ensino de Geografia e o município nas series/anos iniciais,
bem como identificar os recursos e limitações presentes, junto a professores e alunos.
A razão de tal investigação partiu de conversas, na disciplina de Prática em
Geografia III, sobre as dificuldades e agruras em trabalhar o município no ensino
fundamental anos iniciais. Como resultado, procuramos oferecer algumas sugestões e
subsídios que possam vir a auxiliar e conseqüentemente melhorar o estudo do município
no ensino de Geografia.
Para tanto, o texto foi constituído em três partes. Primeiro, traz os apontamentos
teóricos que norteiam a pesquisa e esclarecimentos metodológicos. Depois, uma análise
dos resultados verificados e identificados nos levantamentos de campo. Por último, as
considerações finais, onde ousamos sugerir alternativas para melhorar o estudo do
município em Geografia.
APONTAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS
A alfabetização Espacial
Por onde devemos iniciar o ensino de Geografia para as crianças? Não há
conceitos estanques, muito menos na Geografia, porém, sugestão quase unânime, Callai
(2005 e 2008), Castrogiovanni (2008), PCN’s (1998), Pontuschka (1998), Straforini
(2001), é a categoria de lugar.
Nos primeiros anos de escolarização deve-se trabalhar valorizando o espaço e
tempo vivenciados. Não menos importantes a construção das noções temporais
quantificação e representação das categorias do passado, presente e futuro e
caracterização de épocas. Sem impor limites, de espaço e tempo, é importante estudar
movimentos amplos. (CASTROGIOVANNI, 2008).
O município é um excelente laboratório para a inserção do aluno na Geografia.
Para entender como o espaço é produzido, como as pessoas vivem e trabalham, basta
dar uma volta pela cidade com olhos atentos às manifestações e materializações, ao
existente e suas significações.
O estudo do município mostra-se relevante para o aluno, na medida em que o
senso crítico-analítico deste é relacionado ao seu dia-a-dia. O espaço local permite
análises diversas e complexas que são verificadas através da vivência da realidade. Não
são apresentadas informações de acontecimentos distantes onde se procura ligações,
mas sim a proximidade dos elementos que expressam o mundo, presentes e perceptíveis
na escala local. (CALLAI e ZARTH, 1988).
“Estudar o local é muito importante para o aluno, pois ali ele “conhece tudo”, ele sabe o que existe, o que falta como são as pessoas, como são organizadas as atividades, como é o espaço. [...] como trabalhar o local sem considerá-lo como o “único”, sem considerar que as explicações estão todas ali, sem cair no risco de isolá-lo no espaço e no tempo”. (CALLAI e ZARTH, 1988, p.17).
Callai (2008), lembra ainda, que o município é um lugar que precisa ser
entendido no mundo. Uma vez que, nenhum lugar explica-se por si mesmo, é necessário
estabelecer as ligações procurando relacioná-lo as escalas regional, nacional e
internacional.
Portanto, uma grande questão imposta ao ensino da Geografia nas series iniciais,
são os chamados círculos concêntricos. Trata-se de uma prática tradicional que se
sucede numa seqüência linear do mais simples e próximo ao mais distante. Entendida
como um problema, pois, o mundo é muito mais complexo em sua dinamicidade, e não
pode ser simplificado numa visão de círculos que se ampliam sucessivamente.
(CALLAI, 2005).
Para Straforini (2001), vale uma analogia com a língua escrita. Até a década de
1980 a alfabetização na língua portuguesa ocorria pelo método sintético, como na
maioria dos casos é repassada a Geografia. Ou seja: primeiro aprendia-se o alfabeto
dividido em vogais e consoantes, para depois juntá-las formando as sílabas, palavras e
por fim o texto. Na Geografia o município, estados, grandes regiões, país e mundo. Essa
concepção somente mudou quando foram apresentados estudos revelando que as
crianças apresentam intensa reflexão passando por diferentes fases em sua
compreensão, visto que, estas fases não precisam ser cumpridas uma a uma.
(STRAFORINI, 2001). As diferentes escalas geográficas não podem ser compreendidas
como coisas únicas e isoladas.
“[...] não se deve trabalhar do nível local ao mundial hierarquicamente: o espaço vivido pode não ser o real imediato, pois são muitos e variados os lugares com os quais os alunos têm contato e, sobretudo, que são capazes de pensar sobre. A compreensão de como a realidade local relaciona-se com o contexto global é um trabalho que deve ser desenvolvido durante toda a escolaridade, de modo cada vez mais abrangente, desde os ciclos iniciais. [...] Estudar a paisagem local ao longo dos primeiro e segundo ciclos é aprender a observar e a reconhecer os fenômenos que a definem e suas características; descrever, representar, comparar e construir explicações, mesmo que aproximadas e subjetivas, das relações que aí se encontram impressas e expressas”. (PCN’s, 1998, p.77).
Aspectos metodológicos
O presente estudo é caracterizado como uma investigação cujo tipo, obedece aos
seguintes critérios: quanto à finalidade é básica ou fundamental; de caráter e objetivos
exploratórios; procedimentos da coleta de dados é de levantamento; de natureza
quantiqualitativa; realizada em gabinete e campo. (BONOMO, 2008).
No intuito de melhor operacionalizar a pesquisa e em função do curto espaço de
tempo, a amostragem é não probabilística intencional. Isto é, não probabilística por ter
uma seleção de elementos que compõem a amostra, dependentes, ao menos em parte, do
julgamento do pesquisador. E intencional por haver um julgamento para selecionar as
fontes de informação mais precisas. (TRIOLA, 1999).
De acordo com essa amostragem, foram selecionados três municípios. Para tal
escolha, levamos em consideração suas diferentes constituições espaciais e temporais,
além de sua proximidade. Da mesma forma, serão investigadas, em cada um desses
municípios, duas instituições públicas (uma estadual e uma municipal) e uma privada.
Com isso, elegemos os municípios de Santa Cruz do Sul/RS, Rio Pardo/RS e Pantano
Grande/RS4.
Os sujeitos da pesquisa foram professores e alunos do ensino Fundamental de 3ª
séries e 4º anos. Importante lembrar, nosso objetivo foi investigar para identificar as
carências dos professores na prática pedagógica do estudo do município em Geografia.
E os instrumentos de coleta foram dois questionários (anexos I e II), um aplicado
aos professores e outro aos alunos. Inicialmente aplicaríamos um questionário à direção
da escola, mas não houve necessidade, uma vez que continha questões gerais e os
professores o responderam. Também não fizemos cópias dos planos de ensino, pois
havia dificuldades em acessá-los. Os professores responderam a 6 questões fechadas e 4
abertas e os alunos a 3 questões fechadas e 2 questões abertas.
No que diz respeito ao processo, os questionários foram aplicados aos
professores em sala separada, ou quando junto aos alunos, depois deles serem
questionados. O questionário aos alunos foi aplicado na presença do professor em sala
de aula mediante leitura em grupo e esclarecimentos. Grifamos para os alunos que não
havia respostas certas, nem erradas, e que os alunos somente deveriam escrever e não
falar as respostas. Também foi solicitado que não consultassem nenhum tipo de
material, professor ou colega.
4 Para Pântano Grande/RS foram selecionadas duas escolas uma pública municipal e outra pública estadual, não há escola particular no município.
LEVANTAMENTO DE DADOS: DISCUSSÃO E ANÁLISE
Os municípios e as escolas selecionados
Procuramos aqui, em poucas palavras caracterizar as diferenças marcantes nos
três municípios selecionados e ilustrar as escolas visitadas. Não entraremos em detalhes,
visto que temos o compromisso de preservar o nome das escolas5.
Mapa 1. Municípios selecionados
O município de Santa Cruz do Sul, teve sua origem na chegada dos primeiros
emigrantes alemães para constituição de uma colônia em 1849. Foi emancipado de Rio
5 Mesmo que a metodologia as revele aos conhecedores dos municípios selecionados.
Pardo em 1877. Sua história está atrelada a produção de fumo devido a sua estrutura
fundiária. Com o passar dos anos e os avanços tecnológicos somados aos altos
investimentos de indústrias no setor é lembrado como capital do fumo (IBGE, 2009).
Conforme a FEE (2009), tem estimada uma população total de 117.005 habitantes em
2008; taxa de analfabetismo de 4,71 % em 2000; PIB de R$ mil 2.807.616 em 2006;
PIB per capita de R$ 23.435 2006. As três escolas de Santa Cruz do Sul estão situadas
em bairros distintos. Nenhuma no Centro da cidade e atendem, a alunos de condições
financeiras dispares, mas não levadas ao extremo. Uma escola é de educação básica e
duas de ensino fundamental.
A formação da primeira povoação de Rio Pardo foi de militares e seus
familiares, e ocorreu a partir de 1750 com a criação de uma fortaleza e a instalação de
um regimento da guarda militar. O local era estratégico para os ideais de expansão do
território nacional e sofreu diversas investidas de espanhóis e índios. Por nunca ter sido
tomado, recebeu o codinome de tranqueira invicta. É um dos quatro municípios de
origem do Rio Grande do Sul6. Até o final do século XIX Rio Pardo mantinha uma
importante função na economia do estado. Porém, sucessivos acontecimentos como a
Revolução Farroupilha, contínuos desmembramentos de território e o fim do
movimento do porto fluvial fizeram declinar a boa situação do município (IBGE, 2009).
Atualmente, a população total foi estimada para 2008 em 37.966 habitantes; taxa de
analfabetismo em 2000 de 11,24 %; PIB R$ mil 344.728 em 2006; PIB per capita R$
9.071 em 2006 (FEE, 2009). Das escolas selecionadas, uma atende na periferia a uma
comunidade carente. Neste caso, há um distanciamento significativo nas condições
financeiras dos alunos, de uma escola para outra. Duas escolas são de educação básica e
uma de ensino fundamental.
A partir de 1930 a exploração de lavouras de arroz, calcário/caulim trouxeram
um pequeno contingente de pessoas a Pântano Grande. Na década de 1950 com a
construção de uma rodovia federal, e posteriormente em meados de 1970, outra,
perpendicular, aponta para um período de investimentos em infra-estrutura e serviços.
Com a intensificação no tráfego associada ao desenvolvimento local, a população
aumentou e em 1989 deixou de integrar a Rio Pardo (IBGE, 2009). É comum encontrar
latifúndios no município. A população total estimada para 2008 era de 10.089
habitantes; taxa de analfabetismo em 2000 de 13,75 %; PIB (2006), R$ mil 115.586;
6 Junto a Porto Alegre, Rio Grande e Santo Antônio da Patrulha, segundo a Secretaria de Coordenação e Planejamento do Rio Grande do Sul (SCP/DEPLAN, 2009), divisão municipal de 1809.
PIB per capita (2006): R$ 9.888 (FEE, 2009). Uma escola é de ensino fundamental e
outra de educação básica. Não há grandes diferenças de condição financeira entre os
alunos.
Os professores
Dos 13 professores entrevistados, todos eram mulheres, com tempo de serviço
diferente: 4 atuavam com até 4 anos no ensino fundamental séries/anos iniciais, 1 entre
5 a 9 anos e 8 com 10 anos ou mais. No que diz respeito à formação destes professores,
todas cursaram magistério, porém, 5 estavam concluindo a graduação; 4 tinham pós-
graduação Lato Senso, relacionadas a educação básica7. Com graduação em Pedagogia
eram 9 e em outras áreas do conhecimento 48.
Primeiramente estes 13 Professores foram questionados sobre como as aulas de
Geografia são organizadas. As respostas possibilitaram uma classificação em 4
maneiras diferentes. Há um equilíbrio para os quantitativos de três maneiras, havendo
somente uma professora mais rígida e disciplinada quanto ao dia e horário. Cabe
destacar que todas as escolas deixam a critério de cada professor tal organização.
Tabela 1. Organização das aulas de Geografia
Maneira Nº de professores
Sempre no mesmo dia e horário 1
Uma vez por semana sempre no mesmo dia 4
Uma ou mais vezes por semana (não no mesmo dia) 4
Outro* 4
Total 13
* Trabalham a Geografia sem uma regularidade não respeitando um horário pré-estabelecido
Em linhas gerais, os professores entrevistados, procuram estudar o município
relacionando a formação e fatos históricos às estruturas físicas com pouco enfoque em
suas significações espaciais As idéias mais abstratas fazem parte, agora de aspectos
históricos. Durante as aulas de Geografia, procuram tratar mais da paisagem9, do
concreto, que pode ser facilmente descrito e observado. As relações como produção e
reprodução do espaço não são debatidas. O enfoque é físico e principalmente
7 Um professor entrevistado está cursando Pós-graduação Stricto Sensu, também relacionada a educação básica. 8 Este item refere-se à graduação concluída e não concluída. As outras áreas do conhecimento são as Licenciaturas em Letras, Matemática e História. 9 Conforme PCNs (1997, p.75), entendemos por paisagem: “[...] uma unidade visível, que possui uma identidade visual, caracterizada por fatores de ordem social, cultural e natural, contendo espaços e tempos distintos; o passado e o presente”. Na expressão das marcas históricas de uma sociedade, a soma de tempos desiguais e da combinação de espaços geográficos.
cartográfico, em algumas situações a Geografia foi concebida como prática e pouco
teórica.
Destes Professores, somente uma procura trabalhar da escala local para a
mundial. Isto é, quase unanimidade entre os professores pesquisados, iniciar o estudo do
município da escala mundial para a local. Uma professora procura não trabalhar o
mundo e parte do regional para o município.
Houve dificuldades em responder como percebem o conceito de lugar. A idéia
principal comentada, estava relacionada ao espaço, meio de vivência, ocupado, onde
estamos agora, também como um espaço dentro de outro. Cabe esclarecer, entendemos
o conceito de lugar de acordo com PCNs (1998. p. 76),
[...] a categoria de lugar traduz os espaços com os quais as pessoas têm vínculos mais afetivos e subjetivos que racionais e objetivos: uma praça que se brinca desde menino; a janela onde se vê a rua; o alto de uma colina, de onde se avista a cidade. O lugar é onde estão as referências pessoais e o sistema de valores que direcionam as diferentes formas de perceber e constituir a paisagem e o espaço geográfico.
E ainda Santos (1985):
“O mais pequeno lugar, na mais distante fração do território tem, hoje, relações distintas ou indiretas de outros lugares de onde lhe vem matérias-prima, capital, mão-de-obra, recursos diversos e ordens [...]. em nossos dias, o espaço é apropriado, ou ao menos, comandado, segundo leis mundiais”.(SANTOS, 1985. p. 54).
Neste sentido, as limitações e dificuldades apontadas para estudar o município
estavam relacionadas principalmente a falta de mapas municipais, 8 Professores
lembraram este item. Também foram destacadas a falta material didático e paradidático
por 4 Professores; além da falta de referências, literatura e indicadores atualizados sobre
o município, 3 Professores; falta de recursos e apoio para excursões de campo, 3
Professores. Duas Professores alegaram ainda, insegurança para trabalhar alguns
assuntos relacionados a Geografia e outras duas disseram não haver dificuldade ou
limitação nenhuma em estudar o município em Geografia. Segue, em tópicos breves, o
que cada professor lembrou:
• Mapas do município;
• Mapas do município sobre hidrografia, relevo e usos do solo;
• Mapas do município, material didático sobre o município;
• Mapas do município, referências sobre o município, material didático sobre o
município;
• Mapas do município e indicadores atualizados, material didático sobre o
município, insegurança para alguns assuntos;
• Mapas do município, materiais paradidáticos sobre o município, referências e
um órgão a quem recorrer, para encontrar ou reunis algumas informações sobre
o município;
• Mapas do município, recursos e apoio para excursões de campo (para área rural),
insegurança para alguns assuntos;
• Mapas do município, recursos e apoio para excursões de campo;
• Recursos e apoio para excursões de campo;
• Referências sobre o município, fontes confiáveis;
• Fazer com que os alunos compreendam conceitos (ex: rural, urbano);
• Não há dificuldades;
• Não há dificuldades.
Diante de tais respostas acreditamos que a construção de um atlas municipal
seria relevante, e supriria significativa parcela destas carências, mas não cobriria a
todas.
Em seguida, o questionamento era referente ao material didático. Três
professores disseram não haver nenhum material didático, em particular, que trate o
município em que atua. Já para 6 professores, que consideraram o material elaborado
por eles, através de buscas e pesquisas a resposta foi: material didático sobre o
município é limitado. Outros quatro professores ainda disseram ser suficiente o material
sobre o município. As sugestões, aqui, foram semelhantes as do questionamento acima.
Cabe a ressalva da carência e pedidos da necessidade de mapas do
município/distritos/sedes, bem como, referências para informações atualizadas.
Foi solicitado também, que fizessem uma auto avaliação dos seus
conhecimentos em Geografia, enquanto professores do ensino fundamental séries/anos
iniciais. Para trabalhar o município em Geografia, todos se consideraram capacitados,
porém em diferentes níveis. Os que se colocam na categoria de limitados, sentem
algumas carências em sua formação e sugeriram cursos específicos para a área. Os com
conhecimentos suficientes sentem maior necessidades de oficinas com atividades
práticas. E os excelentes, miram uma formação sobre conhecimentos do município.
Tabela 2. Auto-avaliação conhecimentos em Geografia
Conhecimentos Nº professores
Excelente 2
Suficiente 7
Limitado 4
Total 13
Como último questionamento, procuramos saber do acesso a verbas junto à
escola para excursões de campo e atividades diversas. A seletividade a partir da
condição financeira, segundo a situação administrativa de cada escola e cada aluno é
relevante ao extremo. As escolas estaduais não têm condição nenhuma de fomentar este
tipo de atividade, somente se cada um contribuir com uma quantia, o que excluiria
significativa parcela de alunos. As escolas municipais, já conseguem algum transporte
através da Prefeitura Municipal e Secretarias de Educação, porém não muito mais que
isso. Numa outra realidade, as escolas particulares em parceria com os familiares dos
alunos arrecadam fundos, cobrindo inclusive as bolsas dos alunos mais carentes,
ocorrendo assim à participação de todos. Na realização de excursões de campo, foi
lembrado os muitos questionamentos sobre sua importância havendo muitas vezes falta
de apoio, desde justificativas até elementos básicos dos objetivos a serem alcançados. O
mesmo ocorre com outras atividades como elaboração e construção de feiras de
Geografia ou eventos relacionados a dias festivos.
Os alunos
Procurando oferecer alternativas mais completas aos professores entrevistados,
foi aplicado aos alunos um questionário breve, conforme descrito na metodologia.
As turmas tinham em média 22,5 alunos. Somente uma escola mostrou
preocupação em trabalhar o município na continuidade do processo de aprendizagem,
deixando assim, a critério das metodologias aplicadas pelo professor rever e ou
retrabalhar o município, segundo as suas necessidades.
Ao todo, 293 crianças de 3ª série e 4º ano responderam ao questionário. Dessas,
quando questionados se conheciam o município 270 (92%) marcaram que sim e 19
(6,5%) que não. Porém, 96 (32,8%) não souberam, em seguida, escrever o nome do
município. Assim, 197 (67,2%) escreveram corretamente o nome do município, 65
(22,2%) deixaram em branco ou confundiram com rua, bairro e 31 (10,6%)
confundiram o estado com município.
Introduzindo a idéia de campo-cidade, os alunos foram questionados se
habitavam a zona urbana ou o zona rural. Cabe ressaltar, todos os estabelecimentos de
ensino visitados eram na zona urbana10. Não cabe aqui o mérito da discussão da
aplicabilidade do conceito de zona, este foi utilizado por ser mais comumente aplicado
nos livros didáticos. 218 (74,4%) responderam que habitam a zona urbana, 61 (20,8%) a
zona rural e 14 (4,8%) deixaram em branco.
Em seguida os alunos foram questionados sobre o que aprendem em Geografia.
A princípio esta indagação pode parecer muito subjetiva, porém, ilustra a atenção e
compreensão dos alunos sobre a metodologia dos professores em trabalhar o município
dentro da Geografia. Das opções descritas 96 (32,8%) marcaram que aprendem o
município, 57 (19,5%) o mundo e 121 (41,3%) o município como parte do mundo.
Ainda teve um pequeno contingente de 19 (6,5%) que deixou em branco.
Havia ficado um campo em branco para sugestões, no entanto, a partir do
questionamento de um aluno se poderia colocar o nome da sua rua e número da casa
neste campo, foi solicitado a todas as outras turmas visitadas que no final os alunos
escrevessem o logradouro. Através deste item, podemos identificar em linhas gerais o
conhecimento local do aluno. Preencheram de forma completa 234 (79,9%), já 34
(11,6%) preencheram forma incompleta ou colocaram o nome do município, bairro e 25
(8,5%) não preencheram.
Com base nessas informações podemos constatar que no universo da pesquisa os
alunos julgam conhecer seu município, mas confundem as divisões político-
administrativas na hora de nomeá-lo. Sendo considerável o número de alunos sem o
domínio dos conceitos de rural e urbano. Também parece ser confuso o objetivo das
aulas de Geografia, uma vez que há divisão e equilíbrio nas respostas sobre o que é
estudado na disciplina. A parcela que não saberia informar o logradouro é pequena se
consideramos as respostas incompletas como um conhecimento local menor.
O cruzamento das informações coletadas
Este item não tem a intenção de dizer qual a forma correta ou incorreta para
trabalhar o município em Geografia. Apenas faz alguns cruzamentos de informações
possibilitados através da relação dos questionários de alunos e professores. Também são
feitas algumas desmistificações e trazidas informações novas, apontadas nas
observações.
Em três salas de aula, de todas as visitadas, os professores tinham algum mapa
sempre exposto. Estes alunos, não ficaram tão divididos como na média geral e por
10 Uma única aluna habitava a zona rural, seu questionário foi anulado para não confundir os resultados da pesquisa.
turma, marcaram em maioria aprender em Geografia o município ou o município como
parte do mundo. Isto nos leva a crer que o mapa presente dia-a-dia na sala de aula tem
influência sobre a consolidação do conhecimento, independente da abordagem do
professor.
Não é possível diferenciar as respostas dos alunos por turnos. Das 13 turmas, 6
eram matutinas e 7 vespertinas, as respostas não podem ser classificadas segundo este
critério. O mesmo vale para o tempo de serviço dos professores, bem como, formação
em pedagogia ou fora. Também refutamos a idéia de que um horário pré-estabelecido e
cadernos para as diferentes áreas do conhecimento, em especial um para Geografia,
possa melhorar o desempenho dos alunos.
Se por um lado existe a preferência em introduzir o estudo do município da
escala mundial para a local, por outro há preferência pelo contrário, do local para o
mundial. Não foi possível fazermos esta analogia. O desempenho dos alunos foi
semelhante.
No entanto, Straforini (2001, p. 2) buscou respostas a esta dúvida que angustia
muitos professores. Straforini, procura fundamentar sua pesquisa em trabalhos como de
Pontuschka (1999) e Callai (1998). Assume como sendo o ponto de partida para o
ensino de Geografia nas séries/anos iniciais, o lugar, “[...] mas entendido como ponto de
encontro entre lógicas locais e globais, longínquas e próximas”.
Todas as escalas se superpõem e estão intimamente relaciondas. As escalas explicativas não se dão de forma linear, ou seja, primeiro estuda-se a casa, depois o quarteirão, o bairro e assim sucessivamente até o mundo. Todas elas estão relacionadas e fazem parte da explicação de qualquer evento ou situação geográfica. (STRAFORINI, 2001 p. 135).
O grande desafio esta em perceber e conceber o espaço geográfico, através da
relação indissociável de objetos e ações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para além da crítica retórica acerca dos Parâmetros Curriculares Nacionais, cabe
destacar a importante sugestão de ensino para os primeiro e segundo ciclos através da
categoria de lugar, paisagem e território. Porém, a não formação dentro da Geografia
limita o emprego destes conceitos e complica a utilização de recursos auxiliares.
Enquanto livros didáticos abordam categorias geográficas que proporcionam reflexões
oriundas de pesquisas, muitas vezes complexas para os profissionais da Geografia que
atuam noutras subáreas, os professores primários formados em outras áreas do
conhecimento se esmeram para trazer o cotidiano à sala de aula. A falta de material
reunido sobre o município acaba dificultando ainda mais esse desafio.
Os alunos manifestaram dificuldades em discernir divisões administrativas
(distritos, municípios, estado) e o rural do urbano. O cruzamento das informações nos
leva a crer que um mapa presente dia-a-dia na sala de aula é fundamental.
Contudo, entendemos como necessidade urgente, por iniciativa da universidade
em parceria com as secretarias municipais de educação, a constituição de um grupo de
pesquisa, para a construção de documentos que possam suprir estas carências,
possibilitar um estudo mais aprofundado sobre o município e ainda servir de apoio em
outras situações. Assim, preenchendo uma lacuna presente neste momento tão
importante para a Geografia (alfabetização espacial) e na formação de cidadãos críticos.
A partir das sugestões dos professores, procuramos acrescentar novas
informações e elaboramos os seguintes itens em ordem de importância, como
necessários ao estudo do município11:
1. Atlas municipal escolar – com informações diversas e gerais do município
(Importante conter mapa usos do solo, hidrografia, hipsometria, clima,
transportes...).
2. Mapa do município – construção de um mapa completo (Mundo, América do
Sul e Brasil, Rio Grande do Sul, município, distritos, sedes de distritos).
3. Material didático para os alunos. Contendo mapa e informações gerais do
município.
4. Curso de atualização específico (Geografia e História) para trabalhar o
município em séries iniciais direcionado a professores com formação fora da
11 10 Sugestões: Construindo o estudo do município em Geografia.
área de geografia/história – destaque para busca de dados nos indicadores do
IBGE e uso da internet para atividades, ex: Google Earth e Google Maps.
5. Orientação para excursões de campo no município (pontos turísticos e distritos e
sedes) - como organizar, o que é indispensável.
6. Ciclo de debates, ou oficina para a troca de experiência entre alunos de
graduação (Pedagogia, História e Geografia) e professores do ensino
fundamental séries/anos iniciais.
7. Um mapa do município (item 2) obrigatório para todas as salas de aula de 3ª
série ou 4º ano.
8. Produção técnica elaborada pela secretaria municipal de planejamento ou
administração, para base de informações confiáveis referentes ao município.
Reunião de referências e compêndio de textos com todo o material atual do
município organizado e disponível na secretaria municipal de educação para
escola e professores do ensino público (estado e município) e privado.
9. Formulação de livro para-didático contendo experiências e sugestões de
atividades para trabalhar o município nos anos iniciais.
10. Criação de um grupo de pesquisa que possibilite auxiliar na elaboração e acesso
as informações municipais para as escolas.
Frente às carências, sugestões e itens elaborados para a construção de material
auxiliar, um atlas municipal escolar parece ser extremamente relevante. Todavia, diante
do ônus e fatigante trabalho, foi proposto como resultado mais rápido e em curto prazo
a criação de um mapa trazendo diferentes escalas, do mundo a sede dos distritos e
informações populacionais.
A seguir o resultado do mapa de Pantano Grande. Foi o primeiro a ser
confeccionado devido aos poucos recursos disponíveis no município e ao pedido de
urgência de seus professores12.
12 O Mapa tem aproximadamente 90cm X 90cm, a seguir segue uma ilustração. Os indicadores de população ficam junto as convenções de cada mapa.
Mapa 2. Estudo do município em Geografia – Pantano Grande/RS
REFERÊNCIAS BONOMO, Robson. Metodologia da pesquisa científica. 2008. Disponível em: <http://www.unifal.edu.br/Bibliotecas/MTPA.pdf> Acesso em: 10 abr. 2009. BRASIL, SENADO FEDERAL. Poder Legislativo. Lei 11274 de 06/02/2006 - Lei Ordinária. Disponível em: <http://www6.senado.gov.br/sicon/ListaReferencias.action?codigoBase=2&codigoDocumento=253755> Acesso em: 10 abr. 2009. BRASIL. Ministério da educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros
curriculares nacionais: PCN de 1ª a 4ª series. Volume 05.2 História e Geografia. Caracterização da área de Geografia. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro052.pdf> Acesso em: 28 mar. 2009. CALLAI, Helena C. Aprendendo a ler o mundo: a Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v25n66/a06v2566.pdf> Acesso em: 04 abr. 2009. ______. Estudar o lugar para compreender o mundo. In: CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos.Org. Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. 6ª edição. Porto Alegre:Medição, 2008. p. 85-135. CALLAI, Helena C. e ZARTH, Paulo A. O estudo do município e o ensino de História
e Geografia. Ijuí: UNIJUÍ Editora, 1988. CASTROGIOVANNI, Antônio C. Apreensão e compreensão do espaço geográfico. In: CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos.Org. Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. 6ª edição. Porto Alegre:Medição, 2008. p. 13-83. FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. Rio grande do Sul. Resumo
estatístico: municípios. 2009. Disponível em: <http://www.fee.tche.br/sitefee/pt/content/resumo/pg_municipios.php> Acesso em: 10 abr. 2009. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades@:
Histórico. 2009. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em: 10 abr. 2009.
PONTUSCHKA, N. N. A Geografia: pesquisa e ensino. In: Carlos, A. F. A. Novos
caminhos da Geografia. São Paulo: Contexto, 1999. RIO GRANDE DO SUL, Secretaria de Planejamento e Gestão/Departamento de Planejamento – SCP/DEPLAN. Atlas Sócio-econômico do Rio Grande do Sul. 2009. Disponível em: <http://www.scp.rs.gov.br/atlas/atlas.asp?menu=629> Acesso em: 10 abr. 2009. SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985. STRAFORINI, R. Ensinar Geografia nas séries iniciais: o desafio da totalidade mundo. 2001. 155f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls000236045> Acesso em: 25 mar. 2009. TRIOLA, Mario F. Introdução à estatística. 7. ed Rio de Janeiro: LTC, 1999. 410p.
ANEXO I
Nome da Escola: Pública: ( ) Estadual ( )Municipal Privada: Município: Bairro: Ao Diretor/Vice-diretor/Supervisor Como está organizado o Ensino Fundamental? ( ) Em 8 séries ( )Em 9 anos ( ) Os dois Obs: Em que série ou ano é estudado o município? Depois ele será revisto? Fazer cópias dos planos de ensino das séries ou anos que estudam o município. Ao Professor
1. Há quanto tempo dá aula no Ensino Fundamental/até 4ªsérie ou 5ºano? ( )1 ano ( )2 anos ( )3anos ( )4anos ( )Mais de 4 anos. Quantos anos:
2. Qual a formação? Magistério ( ) Pedagogia ( ) Outro ( ) Qual:
3. Como organiza as aulas de Geografia? ( ) Sempre no mesmo dia e horário ( ) Sempre no mesmo dia ( ) Depois de introduzir outras “matérias” ( ) Depois de esgotar outras “matérias” ( ) Aleatoriamente ( ) Outro. Qual:
4. Como estuda o município em Geografia? 5. Como percebe o conceito de lugar? 6. Quais as principais limitações e ou dificuldades no estudo do município em Geografia? 7. Quanto ao Material didático:
( )Não há ( )É confuso ( )É limitado ( )É suficiente ( )É excelente Sugestão: 8. Quanto ao Conhecimento em Geografia: ( )Não há ( )É confuso ( )É limitado ( )É suficiente ( )É excelente Sugestão: 9. Quanto ao acesso a verbas pela escola para trabalhos de campo e atividades com materiais diversos: ( )Não há ( )É limitado ( )É suficiente ( )É excelente Sugestão: 10. Outro:
ANEXO II
Aos Alunos 1. Conhecem o município onde moram? ( ) Sim ( ) Não 2. Como é nome do município: 3. Onde moram: ( ) Na Zona Rural ( ) Na Zona Urbana 4. O que aprendem em Geografia:
( ) O município ( ) O mundo ( ) O município como parte do mundo 5. Outro: