Múltiplas linguagens para o ensino médio

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 MÚLTIPLAS linguagens PARA O  ENSINO MÉDIO

Transcript of Múltiplas linguagens para o ensino médio

  • EDITORMarcos Marcionilo

    CONSELHO EDITORIAL Ana Stahl Zilles [Unisinos]

    Angela Paiva Dionisio [UFPE]Carlos Alberto Faraco [UFPR]

    Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP]Gilvan Mller de Oliveira [UFSC, Ipol]

    Henrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela]Kanavillil Rajagopalan [Unicamp]

    Marcos Bagno [UnB]Maria Marta Pereira Scherre [UFES]

    Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP]Roxane Rojo [UNICAMP]

    Roberto Mulinacci [Uni versidade de Bolonha]Salma Tannus Muchail [PUC-SP]

    Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]

    MLTIPLAS linguagens PARA O ENSINO MDIO

  • Direitos reservados Parbola EditorialRua Dr. Mrio Vicente, 394 - Ipiranga04270-000 So Paulo, SPpabx: [11] 5061-9262 | 5061-8075 | fax: [11] 2589-9263home page: www.parabolaeditorial.com.bre-mail: [email protected]

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    ISBN:978-85-7934-056-7

    do texto: Clecio Bunzen e Mrcia Mendona, 2013. da edio: Parbola Editorial, So Paulo, junho de 2013.

    CIP-BRASIL. CATALOGAO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

    M926

    Mltiplas linguagens para o ensino mdio/ Clecio Bunzen, Mrcia Mendona, organizadores. - So Paulo : Parbola Editorial, 2013. 23 cm (Estratgias de ensino)

    Inclui bibliogra aISBN 978-85-7934-056-7

    1. Linguagem e lnguas. I. Bunzen, Clecio, 1978-. II. Mendona, Mrcia. III. Srie.

    12-8762 CDD: 407 CDU: 800.7

    CAPA E PROJETO GRFICO: Andria Custdio

    REVISO: Karina Mota

  • Sumrio

    SUMRIO 5 5

    Apresentao: M Beth Marcuschi

    Captulo 1: M, Angela Paiva Dionisio e Leila Janot de Vasconcelos

    Captulo 2: M,

    Leila Janot de Vasconcelos e Angela Paiva Dionisio

    Captulo 3: P Angela B. Kleiman, Rosana Cunha Ceniceros e Glcia Azevedo Tinoco

    Captulo 4: A :

    Jaqueson Luiz da Silva e Rutzkaya Queiroz dos Reis

    Captulo 5: A : Paulo Ramos

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    PARTE 1: CONCEPES

    PARTE 2: AES DIDTICAS

  • Captulo 6: O Jaciara Josefa Gomes

    Captulo 7: D Cristina Teixeira Vieira de Melo

    Captulo 8: O : Fernanda C. Castro e Antnio Augusto Gomes Batista

    Captulo 9: R : mltiplas linguagens

    Mrcia Mendona e Clecio Bunzen

    Captulo 10: P : -

    Najara Ferrari Pinheiro

    Captulo 11: V: Roxane Rojo e Eduardo Moura

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  • Apresentao

    Mltiplas linguagens e suas prticasBeth Marcuschi

    H inquietaes no espao social e mudanas em andamento nos debates e pr-ticas relacionados s questes que merecem e devem ser exploradas na aula de lngua portuguesa, em pleno sculo XXI. Essas mudanas e inquietaes foram percebidas e tratadas com maestria pelos autores desta obra.

    frequente, no conjunto de captulos que integram a coletnea, a meno ao fato de que a escola no pode mais ignorar o [referncia ao gnero ou ao letramento estudado no captulo] nas atividades de ensino e de aprendizagem de lngua por-tuguesa. Por isso mesmo, em seus respectivos textos, os autores cuidam de introdu-zir, contextualizar, analisar e exempli car profusamente o gnero ou o letramento focalizado, para, na sequncia, reservar um lugar de destaque a sugestes sobre seu uso nas prticas pedaggicas. Esta constatao, por si s, justi caria a relevncia da publicao que ora se disponibiliza para educadores e, de uma forma ampla, para leitores direta ou indiretamente envolvidos com o ensino mdio. Em primeiro lugar, porque ela deixa transparecer o carter inovador e plural dos estudos aqui introduzidos, de signi cativa relevncia para uma escola que, situando-se num con-texto scio-histrico, est atenta a seu tempo; em segundo lugar, porque antecipa a responsabilidade e o compromisso da obra com o fazer pedaggico, sobretudo se considerados os enormes desa os postos educao formal na contemporaneidade.

    Mas h outras razes que poderiam ser mencionadas para destacar o mrito desta publicao. Lembro apenas algumas: os autores aqui reunidos esto altamente familiarizados com a formao inicial e continuada de educadores, as prticas

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  • escolares, as polticas pblicas e as questes de pesquisa prprias do ensino m-dio, o que lhes possibilita contextualizar com pertinncia entre os muros e para alm dos muros da escola os temas sobre os quais se debruam; os artigos fazem remisses constantes a outros materiais, como livros, vdeos, msicas, lmes, via indicao de links, sites, referncias etc., nos quais o leitor poder saber mais sobre o tpico abordado; vrios conceitos assumidos nos textos so aprofundados em boxes explicativos localizados nas pginas ou no glossrio disponibilizado ao nal da obra, enriquecendo e expandindo sua compreenso.

    O panorama traado acima revela algumas das qualidades gerais e comuns aos onze artigos disponveis na obra. Passo, a seguir, a apresentar as particularidades de cada um dos textos, na relao com as temticas exploradas.

    Multimodalidade, gnero textual e leitura, de Angela Dionisio e Leila Vascon-celos, o captulo de abertura. Nele, logo de incio, as autoras deixam claro para o leitor que observam o fenmeno da multimodalidade tanto em termos de sua natureza constitutiva dos gneros textuais, quanto das implicaes de seu uso em contextos de aprendizagem. Trata-se de um estudo que, pautado na teoria cognitiva da aprendizagem e na neuropsicologia, se debrua sobre noes como as de gnero, texto, materialidade multissistmica dos textos, dentre outras, ao mesmo tempo em que discute o potencial da multimodalidade como recurso me-todolgico, principalmente na atividade de leitura. Como exempli cam Dionisio

    e Vasconcelos, os recursos semiticos so utilizados de formas variadas e podem levar construo de sentidos distintos, tendo em vista o gnero e o suporte que integram. Portanto, importante, segundo ressaltam as autoras, que, no decurso dos processos de ensino e de aprendizagem, o professor esteja atento a esses fe-nmenos, de forma a desenvolver um trabalho de leitura consistente, adequado e interessante com os alunos.

    No segundo captulo, Leila Vasconcelos e Angela Dionisio abordam o tema Mul-timodalidade, capacidade de aprendizagem e leitura. Mais precisamente, discor-rem sobre as quatro funes neuropsicolgicas mais relevantes envolvidas no processo de ensino-aprendizagem: ateno, linguagem, memria e funes exe-cutivas, relacionando-as s noes de gnero textual e multimodalidade. pela cognio humana que os sujeitos conhecem, elaboram e transformam o mundo. Para Vasconcelos e Dionisio, possvel vislumbrar um ponto de articulao entre

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  • essa noo de cognio e os estudos retricos dos gneros, na medida em que os gneros, via convenes ideolgicas e retricas, tambm constituem, regulam e organizam as prticas sociais. Essas questes no podem ser desconsideradas nas atividades de ensino e, por isso mesmo, a rmam as autoras, o professor, ao

    selecionar um texto com recursos multissemiticos para leitura, deve preocupar--se em identi car as melhores formas de utilizao das capacidades cognitivas

    envolvidas no processo de aprendizagem, tendo em vista os estmulos acionados e as relaes possveis entre eles.

    Angela Kleiman, Rosana Cineceros e Glcia Tinoco, pautadas nas concepes de prticas letradas como estruturantes da proposta pedaggica, de escola como integrada ao contexto scio-histrico e de currculo articulado e exvel, trazem

    para debate a noo, as caractersticas e os usos do Projeto de letramento no ensino mdio. Para as autoras, ao contrrio do corriqueiro ensino de conte-dos isolados e descontextualizados, os projetos de letramento esto estreitamente vinculados a questes concretas do cotidiano dos alunos e podem envolver dife-rentes professores e disciplinas. Por isso mesmo, o trabalho com a leitura, a pro-duo de textos e os conhecimentos de linguagem permitir que os participantes recon gurem seu conceito de escrita, na medida em que as prticas de leitura e

    de produo no cam restritas ao espao escolar, mas passam a fazer sentido em outras prticas. Na segunda parte do texto, as autoras apresentam um projeto de elaborao de um jornal escolar, experincia realizada em colaborao com uma professora de lngua portuguesa e seus alunos de ensino mdio. A riqueza de se explorar esse produto num projeto de letramento, de acordo com as pesquisado-ras, est relacionada ao potencial do jornal de veicular gneros e temas variados. Assim, ao mesmo tempo em que possvel contemplar os interesses dos alunos, torna-se vivel ensinar os gneros previstos no currculo, no em funo de uma progresso rgida, mas em termos da articulao desses gneros no contexto das prticas atinentes ao jornal. No projeto relatado, uma questo polmica local de-sencadeou uma srie de atividades que propiciou a produo de vrios gneros pelos alunos, como: discusso, entrevista, enquete, debate regrado, artigo de opi-nio, reportagem, manchete, chamada de primeira pgina, legenda fotogr ca.

    Os projetos de letramento, concluem Kleiman, Cineceros e Tinoco, favorecem a construo de um conhecimento vinculado experincia humana, bem como uma atuao crtica e cidad de alunos e professores em diversas prticas sociais.

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  • No captulo 4, A leitura teatral no ensino mdio: o corpo do texto, Jaqueson L. da Silva e Rutzkaya Reis realizam, inicialmente, uma contextualizao histrica da atividade de leitura. Os autores apontam que, no decorrer da Idade Mdia, o exerccio da leitura silenciosa esteve relacionado disciplina, ao intimismo e concentrao do corpo e da mente, em contraponto a uma postura ativa, sugerida pelo texto teatral de pocas mais antigas. Nos sculos XIX e XX, por sua vez, a monitorao dos corpos, numa sociedade de massa, esteve diretamente associada obedincia exigida e ao controle exercido pelos sistemas de poder. No por aca-so, na escola tambm predominaram as leituras descorpori cadas e perpassadas

    pela razo lgica, distantes de uma leitura ativa direcionada para a escuta das vozes do texto. Segundo Silva e Reis, o texto teatral que oferece ao professor a possibilidade de repensar as atividades de leitura e de interpretao textual un-vocas que ainda hoje predominam no espao escolar. Para melhor contextualizar essa tomada de posio, os autores exempli cam, com base no Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, no auto Morte e vida Severina, de Joo Cabral de Melo Neto, na tragdia dipo, de Sfocles, na comdia O demnio familiar, de Jos de Alencar, dentre outras obras e autores, a importncia de promover uma leitura que inter-relacione a expresso da voz e do corpo. Sem ela, os sentidos do texto, os cenrios, as aes, os estados fsicos e da alma dos personagens, en m, as

    vozes que falam no texto no podero ser (re)construdas pelo leitor. Sem ela, no dizer dos autores, o leitor passa ao largo do texto.

    Paulo Ramos discorre, no quinto captulo, intitulado A leitura oculta: processos de produo de sentido em histrias em quadrinhos, questes relacionadas leitura dos quadrinhos, sobretudo a inferencial, tambm referida pelo autor como leitura oculta. De acordo com Ramos, as histrias em quadrinhos constituem um hipergnero, uma espcie de gnero guarda-chuva, sob o qual se abrigam vrios gneros, como os cartuns, as tiras, as charges, entre outros, que partilham elementos comuns (uso de bales, setas, quadros, apndices, linhas de movimen-to ou cinticas, dentre muitas outras possibilidades). Os quadrinhos se caracte-rizam ainda por serem multimodais, na medida em que operam, na maioria das vezes, com a inter-relao das linguagens verbal e visual (h quadrinhos que exploram apenas a linguagem visual). Para o autor, o trabalho com o hipergnero quadrinhos propicia o desenvolvimento da capacidade do aluno de lidar com as mltiplas linguagens, uma das habilidades que devem ser trabalhadas no mbito

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  • da escola, segundo os documentos que legislam sobre o ensino mdio. Com base em vrios exemplos extrados de provas do Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM), Ramos explicita, ao longo do captulo, um conjunto de estratgias lin-gusticas e/ou visuais utilizado nos quadrinhos. Esse conjunto requer dos alunos, no processo de construo dos sentidos do texto (dos efeitos de humor, crtica, ironia etc.), tanto uma familiaridade com a linguagem dos quadrinhos, quanto a efetivao de uma leitura inferencial. Tambm os conhecimentos de mundo dos estudantes, conforme conclui o autor, so fortemente acionados no desenrolar da leitura oculta dos quadrinhos.

    No captulo 6, Jaciara Josefa Gomes se posiciona a favor de um ensino pautado nos gneros textuais e defende um trabalho pedaggico com O gnero gra te no ensino mdio. A autora v a uma oportunidade de alunos e professores de-baterem discursos e prticas relativamente pouco explorados na escola. Confor-me explicita Gomes, o gra te, bastante associado cultura hip-hop, opera com mltiplas semioses e veiculado em variados equipamentos urbanos com ns

    de denncia e de expresso artstica. pela gra tagem que jovens da periferia

    podem tornar pblicas suas posies e se assumir como sujeitos e cidados. Com base em exemplos de gra tes, a autora sugere vrios tpicos que podem ser es-

    tudados a partir deles nas aulas de lngua materna, dentre os quais: vocabulrio empregado e sua relao com a tomada de posio do autor; interfaces entre as modalidades oral e escrita da lngua; inter-relao imagem e texto etc. Gomes destaca ainda que as temticas abordadas nos gra tes (violncia urbana; desigual-

    dade social; consumo de drogas; pluralidade cultural etc.) favorecem um efetivo trabalho interdisciplinar e oportunizam a re exo sobre contedos transversais

    no espao escolar. Para a autora, trabalhar com gra te signi ca ousar e aceitar

    que, para alm dos discursos legitimados social e ideologicamente, outras vozes adentrem o espao escolar.

    No stimo captulo, Documentrio no ensino mdio, Cristina Teixeira Vieira de Melo pleiteia que o documentrio seja explorado nas salas de aula do ensino mdio, tendo em vista sua leitura e anlise, no apenas em termos da temtica, mas principalmente em funo das linguagens nele presentes. Teoricamente, a autora assume uma posio enunciativa e, para deixar claro para o leitor por quais terrenos caminha, discute e exempli ca algumas das abordagens da enunciao na lingustica, detendo-se, de foma mais espec ca, nas noes de heterogenei-

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  • dade discursiva (importncia da voz do outro nas construo dos sentidos) e de subjetividade mostrada (importncia da voz do eu na cena enunciativa). Essas questes vo sendo retomadas, na medida em que Melo discute a com-preenso de documentrio e apresenta algumas das estratgias enunciativas utilizadas pelos principais documentaristas estrangeiros e brasileiros, ao longo do sculo XX. Alis, de nir documentrio no se apresenta como tarefa fcil,

    pois, como bem discute a autora, alguns procedimentos e tcnicas de lmagem

    so partilhados pelo documentrio e pelo lme de co. Assim, longe de ser um

    produto objetivo e transparente, como se poderia supor, o documentrio revela facetas da subjetividade do documentarista. Melo opta ento por mostrar, via res-gate histrico dos principais documentrios e documentaristas do sculo passado, o entendimento que diferentes pocas tiveram a respeito da forma mais e ciente

    de construir a ideia do real, aspecto que a autora preocupa-se em relacionar s estratgias de enunciao presentes nos procedimentos de lmagem. Para con-

    tribuir com a tarefa do professor do ensino mdio na anlise de documentrios, Melo expe e exempli ca as categorias propostas por Bill Nichols quanto aos

    modos de produo de documentrio (expositivo, observacional, interativo, re- exivo e performtico), evidenciando que esses modos, ora produzem um efeito

    de homogeneidade discursiva (uma s voz toma a palavra), ora pe em relevo a heterogeneidade do discurso (vrios personagens tm direito voz e defendem posicionamentos distintos). Para alm dos modos de produo, a anlise de docu-mentrios, como salienta Melo, abre um espao importantssimo na escola para o debate de questes ticas, estticas e polticas.

    No captulo 8, O telejornal na escola: elementos para seu uso em sala de aula, Fernanda C. Castro e Antnio A. Gomes Batista exploram o gnero anunciado

    no ttulo do trabalho, tanto do ponto de vista terico quanto de propostas de en-caminhamentos didticos em turmas do ensino mdio. Inicialmente, os autores pontuam o carter predominantemente negativo das crticas que circulam no con-texto social e acadmico ao uso da televiso no campo educacional. Por outro lado, continuam Castro e Batista, a escola no pode ignorar que o telejornal o

    programa mais visto pela populao na busca por informaes e, com a devida mediao, pode ser utilizado com proveito na formao do aluno crtico e ativo. Na continuidade do captulo, os autores detalham a dinmica presente no dia a dia da produo de um telejornal e os compromissos (ticos), as concesses

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  • (tempo), a hiptese de audincia (de nidora do horrio em que as matrias sero

    veiculadas), dentre outros aspectos, que orientam as aes e as decises de jorna-listas e ncoras na con gurao das notcias, reportagens e do prprio telejornal.

    Tradicionalmente de formato rgido, mais recentemente as emissoras televisivas tm procurado recon gurar o modo de fazer telejornalismo, seja colocando no

    ar imagens gravadas por telespectadores, seja realizando transmisses ao vivo ou entrevistas de estdio, seja recorrendo ironia e stira na apresentao da notcia, dentre outras estratgias. Em funo dessa diversidade, pelo menos duas propostas so amplamente trabalhadas por Castro e Batista como sugestes de

    procedimentos didticos: uma delas remete re exo crtica dos alunos a res-

    peito dos telejornais e das premissas subjacentes s notcias veiculadas; a outra remete produo de um telejornal pelos prprios alunos. Para os autores, esses so alguns dos caminhos possveis de concretizar a desejvel aproximao da escola com outras esferas sociais.

    Mrcia Mendona e Clecio Bunzen oferecem, na primeira metade do captulo

    nove, Revistas de divulgao cient ca no ensino mdio: mltiplas linguagens,

    uma robusta contextualizao histrica e cultural da emergncia e consolidao, do sculo XIX ao XXI, das atividades de divulgao cient ca (DC) no Brasil. O

    amplo espectro de prticas de letramento, mdias e suportes, nos quais gneros direcionados para a DC esto envolvidos (os autores trazem e comentam vrios exemplos desses gneros) evidencia, de acordo com Mendona e Bunzen, o in-teresse cada vez maior de diferentes grupos sociais na dessacralizao e na di-vulgao do conhecimento cient co. Na segunda parte do captulo, tendo como

    pano de fundo os multiletramentos, os autores dedicam-se predominantemente a indicar alternativas para a abordagem pedaggica das mltiplas semioses consti-tutivas dos gneros de DC, mais precisamente daqueles presentes em revistas de divulgao cient ca (RDC). Para tanto, e a ttulo de exempli cao, tomam dois

    textos extrados de RDCs com per s diferenciados, aspecto que contribui para o enriquecimento e a diversi cao do trabalho pedaggico: a revista Cincia hoje, produzida por jornalistas e pesquisadores para um pblico em que especialistas e no especialistas so igualmente considerados, e a revista SuperInteressante, elaborada exclusivamente por jornalistas, tendo em vista prioritariamente um pblico jovem no especialista. Na discusso do primeiro artigo, Mendona e Bunzen mostram que a revista Cincia hoje recorre a chamadas de capa, ima-

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  • gens, fotos, legendas, infogr cos, cores diferenciadas, setas e boxes, na tentativa

    de contribuir com o leitor na construo dos sentidos dos tpicos e subtpicos explorados no artigo de DC: Ansiedade: quando se torna em transtorno?. Da revista SuperInteressante, os autores analisam um infogr co, de forte incidncia na revista, tido como um gnero capaz de atrair jovens leitores para a discusso de temas mais amplos da DC. O infogr co em questo constitudo por um texto multissemitico, que articula sincreticamente elementos gr cos (tipos de letras,

    disposio espacial do texto, cor etc.) e elementos visuais (setas, nmeros, formas geomtricas, os), buscando explicitar e detalhar o tema Quais os lugares mais

    atingidos por desastres naturais?. Para os autores, a pluralidade genrica e de recursos envolvida na produo de textos de DC oferece escola, tanto nas aulas de portugus, quanto na inter-relao dessas com as de outras disciplinas, inme-ras oportunidades no encaminhamento de um trabalho de qualidade que vise formao do aluno para o letramento multissemitico.

    O texto do captulo 10, Para alm da escola: o blog como uma ferramenta de ensino-aprendizagem, foi escrito por Najara Ferrari Pinheiro. Nele, a autora chama a ateno para o uso expressivo e cada vez mais crescente de blogs em prticas sociais variadas. Neles, os blogueiros podem postar textos, fotos, u-dios, vdeos, pelos quais procuram socializar informaes, promover discusses, divulgar eventos, emitir opinies, discorrer sobre questes pessoais, en m, inte-

    ragir. Pinheiro destaca igualmente a expressiva incidncia de blogs elaborados, alimentados, atualizados e seguidos por jovens, o que os torna produtores e no apenas receptores de contedos prontos. Nesse contexto, conceitos relevantes para a compreenso de compartilhamento da escrita entre autores e leitores e de constituio da autoria no espao da web, como os de interatividade, intertextua-lidade e hipertexto, so debatidos e fartamente exempli cados por Pinheiro. Esse

    conjunto de noes e atividades, no entender da autora, precisa urgentemente ser mais bem aproveitado pelas prticas direcionadas para o trabalho com a leitura e a escrita na esfera escolar, at porque j est intensamente presente no cotidiano dos estudantes do ensino mdio. importante, portanto, enfatiza a autora, que os professores se apropriem dos mecanismos e potencialidades envolvidos nas fer-ramentas tecnolgicas, de forma a utiliz-los com proveito na prtica pedaggica de uma forma mais ampla, e no uso de um blog, de uma forma mais espec ca.

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  • Ao trmino do artigo, Pinheiro fornece aos leitores um interessante roteiro, uma espcie de passo a passo, sobre como criar um blog.

    Roxane Rojo e Eduardo Moura encerram a coletnea, no captulo onze, com o tema Vidding: uma leitura subversiva do cnone. Nele, os autores explicitam inicialmente a di culdade da escola atual em lidar internamente com as diferen-

    as culturais dos alunos, sobretudo os oriundos das camadas populares, e com os problemas da decorrentes (intolerncia, violncia, excluso etc.). Segundo Rojo e Moura, as aulas de lngua materna tm um importante papel a desempenhar na busca da superao dos problemas apontados. Para isso, no entanto, essencial que a escola seja capaz de efetivar uma reorientao em seus eventos escolares de letramento, de forma a respeitar a cultura do aluno, e, ao mesmo tempo, promover sua insero nos multiletramentos mais valorizados e dominantes da atualidade. Na perspectiva dessa reorientao, Rojo e Moura, na sequncia do artigo, con-textualizam as prticas de vidding (leitura subversiva do cnone, via produo de videoclipes por comunidades virtuais de fs) para coloc-las em dilogo com os letramentos valorizados da escola. Enfatizam ainda que, ao elaborar videoclipes, os jovens geram um novo produto cultural (os vids) e assim, em sintonia com seus va-lores e vivncias, assumem o papel de produtores de uma nova narrativa. Na parte seguinte de seu texto, Rojo e Moura oferecem trs propostas didticas (Remixar e fazer mashups; Political remix: ato poltico e contracultura; Mashup e litera-tura), nas quais priorizam o acesso s redes sociais ligadas msica e a questes polticas. Ao explicitar suas propostas, os autores conversam diretamente com o professor e sugerem de forma detalhada encaminhamentos pedaggicos que po-dem ser utilizados com proveito na aproximao dos vids da cultura valorizada pela escola. Assim, h sugestes ao professor para um trabalho com os alunos em sala de aula envolvendo, sempre de forma re exiva e crtica: perguntas que podem ser

    colocadas; imagens que podem ser exploradas; reportagens que podem ser acessa-das; conceitos e questes ticas que podem ser debatidos; informaes que podem ser apresentadas; contextualizaes histricas que devem ser realizadas; materiais que devem ser catalogados; sites que merecem ser visitados; produes que podem ser elaboradas na escola ou em casa; entre inmeras outras possibilidades.

    Nesta Apresentao, restringi-me a oferecer ao leitor uma breve degustao do que o aguarda no decorrer dos captulos. Os textos que se seguem contemplam

    MLTIPLAS LINGUAGENS E SUAS PRTICAS 15 15

  • um amplo leque de temas, re exes tericas e sugestes de prticas pedaggicas

    atinentes s mltiplas linguagens no ensino mdio. Trata-se de uma obra ino-vadora e propositiva. Se a leitura dos vrios captulos levar os envolvidos com o ensino e a aprendizagem de linguagens no ensino mdio a socializar, estimular e ampliar o debate crtico e plural sobre as questes focalizadas e, se a leitura igualmente fornecer subsdios para que os educadores re itam sobre suas pr-

    ticas pedaggicas e se sintam estimulados a mud-las, os objetivos primordiais pretendidos pelos organizadores e autores com a publicao desta coletnea tero sido atingidos.

    Ento, mergulhem nos textos e bom proveito!

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  • parte 1

    CONCEPES

  • Captulo 1

    Multimodalidade, gnero textual e leituraAngela Paiva DionisioLeila Janot de Vasconcelos

    Introduo

    A sociedade na qual estamos inseridos se constitui como um grande ambien-te multimodal, no qual palavras, imagens, sons, cores, msicas, aromas, movi-mentos variados, texturas, formas diversas se combinam e estruturam um grande mosaico multissemitico. Produzimos, portanto, textos para serem lidos pelos nossos sentidos. Nossos pensamentos e nossas interaes se moldam em gneros textuais e nossa histria de indivduos letrados comea com nossa imerso no universo em que o sistema lingustico apenas um dos modos de constituio dos textos que materializam nossas aes sociais.

    Trazer para o espao escolar uma diversidade de gneros textuais em que ocorra uma combinao de recursos semiticos signi ca, portanto, promover o desen-

    volvimento neuropsicolgico de nossos aprendizes. Isso se justi ca se conside-

    ramos os princpios de que um texto um evento construdo numa orientao multissistemas (Marcuschi, 2008: 80) e que vivemos em ambientes de aprendi-zagem cada vez mais permeados pelos avanos tecnolgicos. Alm disso, como o uso da linguagem sempre um ato retrico, observar a relao entre a retrica e a tecnologia fundamental. Como destaca Miller (2012: 17), ambas possuem a mesma estrutura dinmica do pushmi-pullyu (me empurra/te puxa), ou seja, a primeira ajusta ideias a pessoas e pessoas a ideias, enquanto a segunda ajusta o mundo material s pessoas e as pessoas ao mundo material.

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  • Quais questes merecem e devem ser exploradas na aula de lngua por-tuguesa para o ensino mdio em pleno sculo XXI?

    Esta pergunta aponta para mudanas e inquietaes que foram percebi-das e so tratadas com competncia e inovao pelos autores desta obra.

    A escola no pode ignorar os novos [assim como os conhecidos] gneros e letramentos em suas atividades de ensino e de aprendizagem de lngua portuguesa. Por isso, os autores aqui reunidos cuidam de introduzir, con-textualizar, analisar e exempli car o gnero ou o letramento focalizado, para, na sequncia, reservar um lugar de destaque a sugestes sobre seu uso nas prticas pedaggicas. Esta constatao, por si s, justi caria a re-levncia deste livro para educadores e leitores envolvidos com o ensino mdio, diante do carter inovador e plural dos estudos aqui introduzidos. Sua leitura inadivel para uma escola atenta a seu tempo, porque antecipa a responsabilidade e o compromisso com o fazer pedaggico, sobretudo se considerados os desa os postos educao formal na contemporaneidade.

    Esta obra, inovadora e propositiva, contempla um amplo leque de te-mas, re exes tericas e sugestes de prticas pedaggicas atinentes s mltiplas linguagens no ensino mdio. Se sua leitura levar os envol-vidos com o ensino e a aprendizagem de linguagens no ensino mdio a socializar, estimular e ampliar o debate crtico e plural sobre as questes focalizadas e se fornecer subsdios para que os educadores re itam so-bre suas prticas pedaggicas e se sintam estimulados a mud-las, os objetivos primordiais pretendidos pelos organizadores, pelos autores e pela Parbola Editorial com a publicao desta obra tero sido atingidos.

    Quais questes merecem e devem ser exploradas na aula de lngua por-tuguesa para o ensino mdio em pleno sculo XXI?

    Esta pergunta aponta para mudanas e inquietaes que foram percebi-das e so tratadas com competncia e inovao pelos autores desta obra.

    A escola no pode ignorar os novos [assim como os conhecidos] gneros e letramentos em suas atividades de ensino e de aprendizagem de lngua portuguesa. Por isso, os autores aqui reunidos cuidam de introduzir, con-textualizar, analisar e exempli car o gnero ou o letramento focalizado, para, na sequncia, reservar um lugar de destaque a sugestes sobre seu uso nas prticas pedaggicas. Esta constatao, por si s, justi caria a re-levncia deste livro para educadores e leitores envolvidos com o ensino mdio, diante do carter inovador e plural dos estudos aqui introduzidos. Sua leitura inadivel para uma escola atenta a seu tempo, porque antecipa a responsabilidade e o compromisso com o fazer pedaggico, sobretudo se considerados os desa os postos educao formal na contemporaneidade.

    Esta obra, inovadora e propositiva, contempla um amplo leque de te-mas, re exes tericas e sugestes de prticas pedaggicas atinentes s mltiplas linguagens no ensino mdio. Se sua leitura levar os envol-vidos com o ensino e a aprendizagem de linguagens no ensino mdio a socializar, estimular e ampliar o debate crtico e plural sobre as questes focalizadas e se fornecer subsdios para que os educadores re itam so-bre suas prticas pedaggicas e se sintam estimulados a mud-las, os objetivos primordiais pretendidos pelos organizadores, pelos autores e pela Parbola Editorial com a publicao desta obra tero sido atingidos.