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ACADEMIA MILITAR Emprego Tático de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola Autor: Aspirante Oficial Aluno de Infantaria André Filipe Pinto da Fonseca Orientador: Tenente-Coronel de Infantaria Nuno Correia Barrento de Lemos Pires Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada Lisboa, julho de 2012

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  • ACADEMIA MILITAR

    Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na

    Guerra Subversiva em Angola

    Autor: Aspirante Oficial Aluno de Infantaria

    Andr Filipe Pinto da Fonseca

    Orientador: Tenente-Coronel de Infantaria Nuno Correia Barrento de Lemos

    Pires

    Relatrio Cientfico Final do Trabalho de Investigao Aplicada

    Lisboa, julho de 2012

  • I

    ACADEMIA MILITAR

    Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na

    Guerra Subversiva em Angola

    Autor: Aspirante Oficial Aluno de Infantaria

    Andr Filipe Pinto da Fonseca

    Orientador: Tenente-Coronel de Infantaria Nuno Correia Barrento de Lemos

    Pires

    Relatrio Cientfico Final do Trabalho de Investigao Aplicada

    Lisboa, julho de 2012

  • II

    Todo o homem que combate deve ter presente no esprito, para no se extraviar

    nem diminuir, que s vence bem quem vence com Honra, quer dizer, com verdade e

    com justia: Faz-se mister us-las para as poder exigir a todos, custe o que custar

    Salazar

  • III

    Dedicatria

    Dedico este trabalho ao meu av materno que me motivou a seguir a carreira

    militar, bem como a todos os militares que combateram na Guerra Colonial a lutar pela

    Ptria e que por ela deram a vida.

  • IV

    Agradecimentos

    No encerramento deste trabalho de investigao, pretendia prestar os meus mais

    sinceros agradecimentos a todos que contriburam para a realizao deste trabalho.

    Gostaria de agradecer ao orientador, Tenente-Coronel Nuno Correia Barrento de

    Lemos Pires, pela exigncia, dedicao e disponibilidade evidente em toda a realizao

    deste trabalho.

    Ao Arquivo Histrico Militar pela disponibilidade em facultar importantes

    elementos bibliogrficos para este trabalho.

    Senhora Paula Franco, que desde do incio deste trabalho se distinguiu pela

    pronta disponibilidade em auxiliar na pesquisa bibliogrfica.

    Biblioteca do Exrcito, ao Instituto de Estudos Superiores Militares, Escola

    Prtica de Infantaria pela sua cooperao no fornecimento de elementos bibliogrficos.

    Aos camaradas PALOP, pelo auxlio na traduo de alguns termos africanos

  • V

    Resumo

    O presente relatrio cientfico final do trabalho de investigao aplicada ostenta

    como tema principal Emprego ttico de uma companhia de infantaria na guerra

    subversiva em Angola e resulta da manifestao do autor pelo interesse pela temtica da

    Guerra Colonial, mas tambm pelo interesse da Histria Militar em geral.

    A questo central abordada neste trabalho procura demonstrar de que forma uma

    companhia de infantaria, em especial as denominadas companhias de caadores, atuavam

    na provncia ultramarina de Angola no combate s aes subversivas e, tambm, como

    estas atuavam junto das populaes exercendo uma ao psicossocial, prestando apoio

    econmico, educacional, religioso e sanitrio, de modo a melhorar as suas condies de

    vida e assim adquirir a sua confiana.

    No que diz respeito metodologia aplicada a este trabalho, consistiu num estudo de

    caso enquadrado numa investigao histrica, deste modo, realizou-se uma pesquisa

    bibliogrfica sobre publicaes da temtica, e por se tratar do escalo companhia,

    procedeu-se pesquisa de relatrios e histrias de unidades.

    possvel concluir com este trabalho que a companhia de infantaria desempenhou

    um papel de extrema importncia no combate s aes subversivas atravs de dois tipos

    distintos de aes ofensivas, como emboscadas e golpes de mo, e aes pelas populaes,

    na forma da ao psicossocial.

    Palavras Chave: Angola, Companhia de Caadores, Golpes de Mo,

    Emboscadas, Patrulhamentos, Ao Psicossocial

  • VI

    Abstract

    This final scientific report of this masters thesis bearing as main theme "Tactical

    employment of an infantry company at subversive war in Angola" as consequence authors

    interest in the theme of the Colonial War, and also, for Military History in general.

    The central question addressed in this paper seeks to demonstrate how a infantry

    company, specially the Caadores, worked in the overseas province of Angola fighting

    subversive actions and also how these act with the populations were exerting a

    psychosocial action, providing economic, education, religious and health support, so as to

    improve their living conditions and to gain their trust.

    Regarding the methodology applied in this essay, this was a framed case study in

    historical research, completed by a bibliographical research on thematic publications and,

    because the echelon chosen is the company level, research was issue on reports and

    memoirs of the units.

    It is possible to argue that the infantry company played a very important role in the

    fight against subversive actions through offensive actions, such as ambushes and hand

    blows, and as a way to act on the people in the form of psychosocial action.

    Keywords: Angola, Caadores, Hand Blows, Ambushes, Patrols, Psychosocial

    Action

  • VII

    ndice Geral

    Dedicatria ............................................................................................................... III

    Agradecimentos ........................................................................................................ IV

    Resumo ...................................................................................................................... V

    Abstract .................................................................................................................... VI

    ndice de Figuras ....................................................................................................... X

    Lista de apndices e anexos ..................................................................................... XI

    Lista de Siglas Abreviaturas e Acrnimos .............................................................. XII

    Captulo 1- Introduo ............................................................................................ 1

    1.1 - Enquadramento da Investigao .................................................................... 1

    1.2 - Importncia da investigao .......................................................................... 1

    1.3 - Definio de objetivos ................................................................................... 1

    1.4 - Metodologia ................................................................................................... 3

    1.5 - Estrutura do Trabalho .................................................................................... 3

    Captulo 2 - Estado de Arte ..................................................................................... 5

    Captulo 3 - Portugal, a provncia ultramarina de Angola, as causas do incio

    do conflito .................................................................................................................. 7

    3.1 - Influncia Internacional ................................................................................. 7

    3.2 - O incio do conflito ........................................................................................ 8

    3.3 - Teatro de Operaes de Angola ................................................................... 10

    3.3.1 Terreno .................................................................................................... 10

    3.3.2 - Inimigo .................................................................................................. 12

  • VIII

    Captulo 4 - Organizao e preparao das foras portuguesas para o novo tipo

    de conflito ................................................................................................................ 13

    4.1 Reorganizao do Exrcito Portugus......................................................... 13

    4.2 - Organizao ................................................................................................. 14

    4.3 - Companhia Escalo chave ........................................................................ 15

    4.4 - Treino e Preparao ..................................................................................... 17

    4.5 - Material e Equipamento ............................................................................... 18

    Captulo 5 - Possibilidades de emprego de uma Companhia de Caadores em

    ambiente subversivo ............................................................................................... 21

    5.1 - Infantaria ligeira ........................................................................................... 21

    5.2 - Possibilidades de emprego de uma companhia de caadores ...................... 22

    5.2.1 - Defesa de pontos sensveis/postos militares ......................................... 22

    5.2.2 - Proteo de itinerrios........................................................................... 23

    5.2.3 - Patrulhamento ....................................................................................... 24

    5.2.4 - Limpeza de uma zona/povoao ........................................................... 25

    5.2.5 - Golpe de mo ........................................................................................ 27

    5.2.6 - Emboscada ............................................................................................ 28

    5.3 - A importncia do contato com as populaes, a ao psicolgica e a

    coordenao civil-militar...................................................................................... 29

    5.3.1 - Ao psicolgica desenvolvida por uma companhia ............................ 30

    5.3.2 - O sentimento da populao para com as companhias de quadrcula 32

    Concluses ............................................................................................................... 34

    Bibliografia............................................................................................................... 39

    Apndices .....................................................................................................................

    Apndice A - Organizao da Companhia de CaadoresApndice A 1

    Anexos ..........................................................................................................................

    Anexo A - Art. 73 da Carta das Naes Unidas....................................... Anexo A -1

    Anexo B - Altimetria de Angola .............................................................. Anexo B - 1

    Anexo C - Quadrcula .............................................................................. Anexo C - 1

    Anexo D - Armamento anterior Guerra Colonial .................................. Anexo D - 1

  • IX

    Anexo E - Armamento aps o incio da Guerra Colonial ......................... Anexo E - 1

    Anexo F - Ao Psicossocial ...................................................................... Anexo F -1

    Anexo G - Misses de unidades de quadrcula e de interveno ............. Anexo G - 1

    Anexo H - Apoio s Populaes .............................................................. Anexo H - 1

  • X

    ndice de Figuras

    Fig. 1-Organizao da Companhia de CaadoresApndice A - 1

    Fig. 2- Altimetria de Angola...Anexo B - 1

    Fig. 3 - Sistema de Quadrculas..Anexo C - 1

    Fig. 4 Espingarda 7,92mm m/937 Mauser ..Anexo D - 1

    Fig. 5 - Metralhadora ligeira 7,92 mm m/938 Dreyse.. ..Anexo D - 1

    Fig. 6 - Metralhadora ligeira 7,9mm m/930-41 Madsen...Anexo D - 1

    Fig. 7 - Metralhadora 7,92mm m/938 Breda.. .Anexo D - 2

    Fig. 8 - Metralhadora pesada 12,7mm M/955 Browning M2...Anexo D - 2

    Fig. 9 - Morteiro Ligeiro 60mm M2 M/965 Anexo D - 2

    Fig. 10 - Morteiro 81mm.. .Anexo D - 2

    Fig. 11 - Espingarda 7,62 m/961 G3 Anexo E - 1

    Fig. 12 - Espingarda de Assalto 7,62 M/961 FN FAL. .Anexo E - 1

    Fig. 13 - Espingarda de Assalto 7,62mm m/961 AR-10Anexo E - 1

    Fig. 14- Metralhadora Ligeira 7,62mm m/963 HK21...Anexo E - 1

    Fig. 15 - Metralhadora 7,62mm m/962 MG42..Anexo E - 2

    Fig. 16 - Pistola-metralhadora 9mm m/948 FBPAnexo E - 2

    Fig. 17 - Pistola-metralhadora 9mm m/961 UZIAnexo E - 2

    Fig. 18 - Pistola 9mm m/961 Walther.Anexo E - 2

    Fig. 19 - Ao Psicossocial.Anexo F - 1

    Fig. 20- Misses das unidadesAnexo G - 1

    Fig. 21 - Apoio educacional...Anexo H - 1

    Fig. 22 - Melhoramento das condies de vida.Anexo H - 1

    Fig. 23 - Melhoramento das condies de vida.Anexo H - 2

    Fig. 24 - Apoio SanitrioAnexo H - 2

  • XI

    Lista de apndices e anexos

    Apndices

    Apndice A - Organizao da Companhia de CaadoresApndice A 1

    Anexos

    Anexo A - Art. 73 da Carta das Naes Unidas.................. Anexo A - 1

    Anexo B Altimetria de Angola......... Anexo B - 1

    Anexo C Quadrcula.. Anexo C - 1

    Anexo D - Armamento anterior Guerra Colonial ... Anexo D - 1

    Anexo E Armamento aps incio da Guerra Colonial. Anexo E 1

    Anexo F Ao Psicossocial. Anexo F - 1

    Anexo G Misses da Unidade de quadrcula e de interveno. Anexo G - 1

    Anexo G Apoio s populaes.. Anexo H - 1

  • XII

    Lista de Siglas Abreviaturas e Acrnimos

    BCa Batalho de Caadores

    BCaE - Batalho de Caadores Especiais

    CCa Companhia de Caadores

    CCS Companhia de Comando e Servios

    CECA - Comisso para o Estudo das Campanhas de frica

    CIOE Centro de Instruo de Operaes Especiais

    CSR Canho Sem Recuo

    FA Foras Armadas

    FBP Fbrica de Brao de Prata

    GRC - Grupo de Combate

    HEAT High Explosive Anti-Tank

    HK Heckler & Koch

    IN - Inimigo

    LGF Lana Granadas Foguete

    ML Metralhadora Ligeira

    MP Metralhadora Pesada

    MPLA Movimento Popular da Libertao de Angola

    NATO North Atlantic Treaty Organization

    NE Nordeste

    NEP Norma de Execuo Permanente

    NT Nossas Tropas

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PM Pistola-metralhadora

    SW - Sudoeste

    TO Teatro de Operaes

    TTP Tcnicas, Tticas e Procedimentos

    UPA Unio dos Povos de Angola

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    Captulo 1

    Introduo

    1.1 - Enquadramento da Investigao

    No mbito do Mestrado Integrado em Cincias Militares na Especialidade de

    Infantaria, desenvolvido o presente Relatrio Cientfico Final do Trabalho de

    Investigao Aplicada. Este representa um dos momentos mais importantes no

    desenvolvimento acadmico de um Aluno da Academia Militar, pois o culminar de um

    curso de cinco anos, dando a possibilidade deste escolher um tema que seja do seu

    interesse ou que deseja aprofundar mais o seu conhecimento.

    O tema abordado no presente trabalho engloba-se no mbito da Histria Militar e

    tem como tema principal a Guerra Colonial durante os anos de 1961 a 1975, que constituiu

    o ltimo grande conflito em que o Exrcito Portugus participou de forma isolada.

    Procura-se assim dar a conhecer uma parte da Histria de Portugal e do seu Exrcito num

    passado recente.

    1.2 - Importncia da investigao

    A importncia deste trabalho de investigao consiste em demonstrar o modo como

    o Exrcito Portugus sentiu a necessidade de modificar a sua doutrina convencional,

    essencialmente desenhada para um possvel conflito simtrico na Europa, e aps verificar a

    sua ineficcia no combate aos movimentos de libertao, para uma nova doutrina que

    recorria infantaria ligeira para combater o inimigo assentando num novo conjunto de

    tticas.

    1.3 - Definio de objetivos

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    Pretende-se mostrar o modo como o Exrcito portugus se viu forado a mudar a

    sua doutrina convencional, que no incio do conflito se demonstrou desadequada contra os

    movimentos de libertao existentes nas provncias ultramarinas, para uma doutrina

    destinada a fazer face a uma guerra subversiva que foi um dos fatores que levou o Exrcito

    a aprofundar a sua restruturao.

    Delimitou-se o presente trabalho, ao Teatro de Operaes de Angola, onde se

    iniciou este conflito e que constituiu como o primeiro laboratrio onde se aplicou a nova

    doutrina.

    Para alm de concentrar o trabalho em Angola, convergiu-se o mesmo para as

    unidades de escalo companhia que, como se pretende demonstrar, constituiu um escalo

    base no conflito. Destacam-se as companhias constitudas por militares provenientes da

    arma de infantaria ligeira, em especial as denominadas por Caadores, devido sua a

    elevada mobilidade.

    Por ltimo, alm do Teatro escolhido, Angola, e do escalo elegido para trabalhar, a

    companhia, fizemos uma ltima delimitao ao tema, que foi o de abordar,

    exclusivamente, o nvel ttico na sua atuao, ou seja, apenas recorreremos a elementos da

    poltica e da estratgia para enquadrar a ao mas dedicamos o nosso estudo apenas aos

    elementos de nvel ttico.

    Deste modo, este trabalho de investigao tem como questo central Quais as

    opes de emprego ttico possveis de uma companhia de infantaria no mbito da guerra

    contra subversiva no TO de Angola no conflito ultramarino de 1960-75?.

    Para compreender melhor a questo central, este trabalho prope algumas perguntas

    derivadas, procurando dar um encadeamento a toda esta investigao.

    Relativamente ao perodo anterior desenvolveu-se a seguinte questo derivada

    Qual a doutrina em vigor para uma unidade de escalo companhia?.

    Com uma nova doutrina desenvolveu-se a seguinte questo derivada Quais as

    adaptaes que foram realizadas aps a introduo da nova doutrina para uma unidade

    de escalo companhia?.

    No mbito da nova doutrina desenvolveu-se a seguinte questo derivada Quais as

    tcnicas, tticas e procedimentos utilizadas para uma unidade de escalo companhia?.

    Por ltimo, tendo a companhia e a doutrina da guerra subversiva Que tipo de

    operaes foram efetivamente utilizadas por uma unidade de escalo companhia?.

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    1.4 - Metodologia

    O presente trabalho, de acordo com Carmo e Ferreira (1998), classifica-se como

    uma Investigao histrica uma vez que se baseia num estudo () de

    acontecimentos passados. (Carmo & Ferreira, 1998, p. 211), procurando responder a uma

    questo central e a algumas questes derivadas.

    Contudo este trabalho, de acordo com os mesmos autores, tambm se enquadra num

    Estudo de Caso (Carmo & Ferreira, 1998, p. 216), uma vez que no global da

    investigao se pretende responder a questes de como e porqu onde no se

    torna possvel exercer controlo sobre acontecimentos e o estudo focaliza-se na

    investigao de um fenmeno atual no seu prprio contexto () a explicao de

    acontecimentos (Yin, 1988 como citado em Carmo & Ferreira, 1998, p. 216).

    Por sua vez, de acordo com Maria-Fanienne Fortin (1999), este trabalho

    considerado como um estudo de caso sem experimentao. (Fortin, 1999, p. 165)

    cuja finalidade visa apreender suficientemente o assunto em estudo para transmitir toda

    a sua complexidade de uma forma narrativa. (Fortin, 1999, p. 165).

    Uma vez que se trata de um trabalho de investigao no mbito da histria a

    aquisio de dados centrou-se na consulta e recolha de documentos de forma textual

    (Quivy & Campenhoundt, 1992, p. 202) nas bibliotecas da Academia Militar, do Exrcito,

    do Instituto de Estudos Superiores Militares, bem como em relatrios de unidades e

    operaes no Arquivo Histrico Militar.

    1.5 - Estrutura do Trabalho

    O presente trabalho de investigao foi organizado de forma a permitir ao leitor

    uma melhor compreenso do tema.

    Numa primeira parte, pretende-se efetuar uma contextualizao histrica onde se ir

    elucidar sobre acontecimentos que precederam a Guerra Colonial e que estiveram na

    origem de movimentos independentistas, bem como uma breve caraterizao do teatro de

    operaes de Angola, e demonstrar que este foi influenciador da forma como as foras

    portuguesas atuavam.

    Posteriormente pretende-se abordar de que forma a companhia de infantaria se

    encontrava organizada para este novo conflito e que armamento dispunha para realizar as

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    operaes. Uma vez conhecida a sua organizao, pretende-se elucidar que operaes eram

    desenvolvidas para combater as aes subversivas, bem como se realizava a ao

    psicolgica, ou de forma mais abrangente, a ao psicossocial, um campo que se mostrou

    bastante importante, e que permite entender a interao com as populaes.

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    Captulo 2

    Estado de Arte

    O presente trabalho de investigao aplicada tem como tema central a Guerra

    Colonial e o emprego de companhias de infantaria no teatro de operaes de Angola, quer

    no desempenho das operaes quer num mbito especfico, o da ao psicolgica.

    Apesar de constituir um perodo recente da histria de Portugal, de 1961 a 1975, a

    informao existente bastante vasta contudo, sendo o objeto deste trabalho a companhia

    de caadores e as suas formas de emprego ao nvel ttico, a informao encontra-se um

    pouco dispersa, sendo apenas encontrada em relatrios e histrias de unidades. .

    Embora no existam obras especficas sobre o tema central que ir ser abordado,

    existem, no entanto, vrias obras que o abordam, ainda que indiretamente ou centrados em

    diferentes anlises, indicando a companhia como a unidade base e o modo de atuar em

    guerra contra subversiva.

    A publicao do Estado-Maior do Exrcito de 1970, Cadernos Militares n6 - O

    Caso de Angola descreve os eventos que antecederam, e as prprias aes de Maro. Esta

    publicao ainda descreve as primeiras aes militares em Angola, o desenvolvimento da

    atividade rebelde no territrio bem com a passagem desta para o leste.

    Relativamente doutrina que foi concebida para esta nova tipologia de conflito

    encontra-se descrita no Manual elaborado pelo Estado-Maior do Exrcito de 1966, O

    Exrcito na Guerra Subversiva constitudo por cinco volumes, contudo para este trabalho

    apenas foram utilizados o volume I, II e III

    O volume I Generalidades, que descreve a guerra subversiva e a forma de a

    combater.

    O volume II Operaes contra bandos armados e guerrilhas que descreve a

    tipologia de operaes que as unidades podem efetuar e ainda descreve de uma forma geral

    o escalo companhia como sendo o escalo indicado para a guerra subversiva

    O volume III Aco Psicolgica que descreve umas noes gerais de mbito da

    psicologia, de que formas se pode exercer esta ao e ainda as vertentes da ao social.

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    Outra publicao do Estado-Maior do Exrcito foi elaborada pela Comisso para o

    Estudo das Campanha de frica denominada por Resenha Histrico-Militar das

    Campanhas de frica (1961-1974) com o 1 volume Enquadramento Geral, 2 volume

    Dispositivo das Nossas Foras Angola, 6 volume Aspectos da Actividade Operacional,

    Tomo I, Angola livro 1, e Subsdios Para o Estudo da Doutrina Aplicada nas

    Campanhas de frica.

    O 1 volume Enquadramento Geral faz uma descrio de como o Exrcito se

    encontrava organizado nos trs teatros de operaes, assim como a nvel de pessoal,

    material, instruo e ao psicolgica.

    O 2 volume Dispositivo das Nossas Foras Angola, faz uma descrio

    pormenorizada sobre o teatro de operaes de Angola assim como contm algumas cartas

    de situao desde o incio do conflito at ao seu trmino.

    O 6 volume - Aspectos da Actividade Operacional, Tomo I, Angola livro 1, faz

    uma exposio dos acontecimentos em Angola que antecederam a guerra, assim como esta

    se desenvolveu, e ainda refere a companhia como o escalo principal na manobra.

    Por ltimo a publicao Subsdios Para o Estudo da Doutrina Aplicada nas

    Campanhas de frica, descreve conceitos subjugados subverso ao nvel estratgico, a

    nvel ttico e logstico, referindo ainda como o Exrcito deve atuar na contra subverso,

    fazendo ainda referncia inadequao do escalo batalho na guerra subversiva tornando,

    deste modo, a companhia o escalo elementar.

    Uma obra que retrata o modo como o Exrcito Portugus fez a guerra nas suas

    provncias a de John P. Cann, Contra-Insurreio em frica - O Modo portugus de

    Fazer a Guerra, procurando comparar as particularidades do Exrcito Portugus,

    considerando uma particularidade o uso da companhia como escalo base, com outros

    exrcitos que se debateram em conflitos semelhantes.

    Com as comemoraes dos 50 anos do incio do conflito, foi publicado, em 2011,

    Os Anos da Guerra Colonial 1961.1975, elaborado por Aniceto Afonso e Carlos Matos

    Gomes. Estes autores permitem ao leitor seguir os detalhes dos acontecimentos mais

    importantes de forma cronolgica intercalando-os com informaes importantes visando

    compreender o conflito.

    Por ltimo a histria da unidade do Batalho de Caadores n159, 1961 1962

    1963, que descreve a forma como o batalho, atravs das suas companhias, desempenhou

    as suas misses em Angola, quer no mbito de aes de combate quer no mbito das aes

    psicossociais.

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    Captulo 3

    Portugal, a provncia ultramarina de Angola, as causas do incio

    do conflito

    Neste captulo, pretende-se realizar uma breve descrio da conjuntura internacional

    da poca e de que modo esta representou um factor especialmente influenciador sobre as

    populaes das colnias portuguesas.

    Esta influncia potenciou o desenvolvimento de movimentos independentistas que

    procuravam junto da populao ganhar o seu apoio para a luta da independncia e

    autodeterminao. Contudo ainda existiu alguma influncia interna que proporcionou o

    recurso violncia de modo a atingir os seus objetivos.

    3.1 - Influncia Internacional

    Aps a 1 Guerra Mundial, ocorreram diversos congressos que promoviam a

    igualdade racial e a autodeterminao dos povos africanos e, de acordo com Lus Filipe

    Tavares Nunes (1999, p. 30), s entre as duas Grandes Guerras ocorreram quatro

    Congressos Pan-Africanos, cuja estratgia se baseava na no-violncia e na defesa dos

    direitos dos negros.

    Em 1955, realizada na Indonsia, a Conferncia da Bandung, que de acordo com

    Proena Garcia (1997, p. 45)foi o motor de arranque para modificaes profundas e

    irreversveis da prpria estrutura da Sociedade Internacional., com o objetivo dos pases

    asiticos auxiliarem os pases africanos na conquista da emancipao dos seus colonos.

    , tambm, nesta conferncia que feita uma adeso plena e inteira dos

    participantes Carta das Naes Unidas e Declarao Universal dos Direitos do

    Homem (Estado-Maior do Exrcito [EME], 1988, p. 48) e o colonialismo

    considerado um mal ao qual era preciso pr fim rapidamente (Garcia, 1997, p. 47).

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    No que diz respeito a Portugal, para alm desta influncia internacional, acrescenta-

    se a presso da Organizao das Naes Unidas (ONU), aps a entrada em 1955, que

    exigia que Portugal cumprisse o artigo 73 da Carta Naes Unidas1.

    O artigo em questo descrevia a obrigao de pases que possussem territrios que

    no fossem autnomos, atuassem em prol destes de modo que fossem capazes de constituir

    o seu governo e a sua independncia. De acordo com Proena Garcia (1997, p.57),

    territrios no autnomos eram todos aqueles que estivesse separado geograficamente e

    possusse uma distino tnica e cultural da do pas administrante..

    Contudo, Portugal de acordo com a sua legislao, nomeadamente o Ato Colonial,

    modificou a designao para provncias ultramarinas as possesses coloniais,

    tentando demonstrar que estes territrios eram to portugueses como o Minho e o

    Algarve (Santos Costa, como citado em Teixeira, 2010, p. 7). Mas para alm desta

    nova designao, foram reconhecidos direitos e garantias aos povos considerados

    primitivos e selvagens bem como a distino entre civilizado e

    indgena(Infopdia, 2012) com carcter permanente.

    Por si s, esta legislao admitia a existncia de um indigenato (EME,

    1988, p. 54) desta forma, Portugal teria que cumprir o 73 artigo da refente carta.

    Mas para alm deste Ato, existia ainda o Estatuto do Indgena e o Cdigo do

    Trabalhador Indgena e que respetivamente se fundamentava na recusa a cidadania

    portuguesa grande populao indgena; e ainda aponta a forma matizada de

    escravatura, criando legies de contratados sujeitos a trabalho forado, a uma

    sobreexplorao neoesclavagista (Teixeira, 2010, p. 9).

    3.2 - O incio do conflito

    O desejo pela independncia que se fazia sentir nas colnias levado a cabo pela

    populao, tiveram na base da revolta que se iniciou em 1961 e levaria Portugal mergulhar

    num conflito durante 14 anos que s terminaria em 1975.

    Os primeiros sinais de descontentamento surgiram no incio de 1961 (EME, 1998),

    com um tumulto causado por alguns trabalhadores que protestavam as condies de

    1 Ver Anexo A - Art 73 da Carta das Naes Unidas

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

    Pgina 9

    trabalho, melhores salrios e melhores horrios (Teixeira, 2010), como por exemplo na

    baixa do Cassange em que os trabalhadores recusaram-se a colher o algodo sob o

    pretexto de serem espoliados nos pagamentos (EME, 1970, p. 5). Uma vez que

    Portugal, se encontrava sob um regime autoritrio, os indivduos que participaram nestas

    contestaes foram detidos pelas foras de segurana.

    Como resultado destas detenes, a 4 de Fevereiro de 1961 origina-se o primeiro

    ato de sublevao em que resultaram algumas mortes, 5 guardas da PSP metropolitanos

    e 1 cipaio e ainda de 1 cabo da Casa da Recluso e de 25 assaltantes (EME, 1998,

    p.155).

    Na madrugada de 4 de Fevereiro, grupos de cerca de 60 elementos cada,

    armados de catanas e de uma ou outra pistola (EME, 1998, p.155) atacaram duas

    cadeias e um quartel da Policia Mvel com o objetivo de libertar os indivduos presos das

    contestaes anteriores (EME, 1970).

    Esta ao foi posteriormente reivindicada pelo Movimento Popular de Libertao

    de Angola (MPLA), e como Rui Teixeira (2010, p. 12) afirma marcava o princpio do

    fim do 3 Imprio. O inimigo seria o angolano que lutava para obter a sua honra e

    liberdade.

    Mas as aes dos naturais atingiram o seu auge na manh do dia 15 de Maro por

    aes planeadas pela Unio dos Povos de Angola (UPA).

    O que parecia ser mais um dia, onde as pessoas cumpriam a sua rotina diria, os

    naturais esperavam () que as casas comerciais abrissem as suas portas (EME,

    1998, p.173), contudo esta calma aparente escondia as verdadeiras intenes dos naturais.

    Quando as superfcies comerciais abriram, os naturais atacaram os seus

    proprietrios e clientes, nas fazendas aquando da apresentao dos trabalhadores aos seus

    patres, estes usaram a sua catana para matar os brancos, os mestios e os negros

    (EME, 1970, p.7).

    De acordo com o 6 volume da Comisso para o Estudo das Campanhas de frica

    [CECA], publicado pelo EME (1998, p. 174) nestes massacres morreram 800 a 1000

    europeus e de 6000 a 8000 nativos fiis.

    Atualmente, e de acordo com Jos Alves (2010), houve registo de informaes de

    que no dia 15 de Maro, as contestaes da populao tomariam enormes propores,

    contudo, a mesma foi arquivada na 2 Repartio do QG com o despacho assunto j

    conhecido (Alves, 2010, p. 1313).

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    Estes acontecimentos marcavam o incio de uma guerra subversiva que persistiria

    at 1975.

    3.3 - Teatro de Operaes de Angola

    Neste subcaptulo pretende-se descrever dois fatores condicionantes, o terreno,

    enunciando as suas caractersticas topogrficas e climticas, e o denominado inimigo, ou

    na sigla usada, o IN, enunciando de uma forma geral as dificuldades que o teatro de

    operaes (TO) de Angola apresentava e com as quais as Foras Armadas (FA)

    enfrentaram.

    importante realizar uma descrio do TO pois consiste numa ferramenta que

    auxilia a compreenso de grande parte dos acontecimentos que envolveram as FA, tais

    como, a restruturao da sua organizao, das tcnicas, tticas e procedimentos empregues

    neste novo mtodo de fazer a guerra. Mas para alm disso necessrio conhecer o IN, que

    em conjunto com o terreno, tornaram-se fatores determinantes na ao militar portuguesa.

    3.3.1 Terreno

    Angola um pas que se encontra localizado na regio ocidental do continente

    africano, e de acordo com o Portal Oficial do Governo de Angola (2011), atualmente

    constitudo por 18 provncias, com uma superfcie total de 1.246.700km2, o que

    corresponde a uma rea quatorze vezes e meia maior que Portugal (Teixeira, 2010, p.56),

    e 65% desta superfcie possui uma altitude entre 1000 e 1600m2. Os seus principais cursos

    de gua so o Rio Kwanza, com 1000km, o Rio Kubango com 975km, o Rio Cunene, com

    800km, e o Rio Zaire com 150km.

    Ainda neste site (2011), e no que diz respeito ao clima, Angola por se situar numa

    zona inter-tropical e subtropical do hemisfrio sul caracteriza-se por possuir duas

    estaes, a das chuvas (de Setembro a Maio) e a da seca (Maio a Setembro).

    2 Ver Anexo B Altimetria de Angola

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    No que diz respeito atribuio de reas de responsabilidade, no incio do conflito,

    as foras portuguesas exerciam os seus esforos no norte, contudo esta situao foi alterada

    em 1970, aps a tomada de posse do General Costa Gomes como Comandante-Chefe das

    Foras Armadas de Angola, que dividiu o territrio de acordo com o grau de subverso

    presente nas regies.

    Deste modo o territrio foi dividido em quatro zonas: Grau 1 Zonas de

    subverso violenta mais ou menos generalizadas; Grau 2 Zonas envolventes das zonas de

    subverso violenta; Grau 3 Zonas com subverso latente e manifestaes espordicas do

    inimigo; Grau 4 Zonas sem subverso... (Nunes A. P., 2002, p. 26).

    De acordo com Antnio Pires Nunes (2002, p. 26), e como resultado desta diviso,

    o territrio apresentava a seguinte configurao: como Regio de Grau 1 a zona

    abrangida pelo distrito do Moxico, uma faixa estreita a sul do distrito da Lunda, reduzidas

    reas a NE de Bi, imediatamente a leste do rio Cuanza e uma rea do distrito do Cuando-

    Cubango, a leste do rio Cuito e a norte do paralelo da Coutada do Mucusso. A Zona de

    Grau 2 era a envolvente a anterior e a Zona de Grau 3 correspondia ao distrito da Lunda,

    sendo o restante territrio considerado como Zona de Grau 4.

    Para o General Costa Gomes a regio de maior importncia era a Zona de Grau 2,

    pois uma vez controlada esta zona permitia posteriormente absorver o esforo dos

    movimentos independentistas para leste. Como resultado desta diviso, o esforo deixou de

    ser exercido no norte para ser exercido no leste angolano.

    No que diz respeito vegetao do teatro de operaes, parte deste consistia

    essencialmente em capim que tanto poderia ter dois metros de altura como ter cinco

    (Pinto N. T., 2011) o que facilitava a ocultao do IN e consecutivamente facilitava o

    mesmo na execuo de emboscadas.

    No que diz respeito s foras portuguesas, a vegetao dificultava a progresso das

    mesmas e caso se deslocassem por entre a vegetao, era de extrema importncia

    manter uma ligao constante homem a homem (EME, 1998, p.251) para que no

    se perdessem militares.

    Outra parte do TO era constituda por elevaes de terreno com vegetao densa,

    clareiras, cursos de gua e pntanos o que dificultava a progresso das foras, estivessem

    elas apeadas ou montadas.

    De uma forma geral o terreno era um fator desfavorvel s operaes desenvolvidas

    pelas foras portuguesas, a estas condies acresciam uma rede estradal rudimentar

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    rodeada de vegetao densa e rvores de grande porte que, quando derrubadas, constituam

    um excelente obstculo.

    3.3.2 - Inimigo

    Ao contrrio das nossas foras, o IN tinha uma grande facilidade em tirar partido do

    terreno, pois este facilitava a execuo de emboscadas e conferia proteo das vistas,

    principalmente dos avies, durante o seu deslocamento e tambm das suas aldeias que

    serviam como bases (EME, 1998).

    Mas o IN, no incio do conflito, era uma fora desorganizada, com pouca disciplina

    de combate, que combatia com algum armamento obsoleto, como por exemplo o

    canhangulo3, a espingarda Martini-Henri

    4, e algumas mais recentes como a FN e at

    mesmo material blico portugus capturado nas suas aes (EME, 1998).

    De acordo com o 6 Volume, Tomo I, Livro I da CECA (EME, 1998), as primeiras

    aes levadas acabo pelo IN eram executadas com um elevado efetivo e de uma forma

    desorganizada, dispersa. Com a evoluo do conflito este aprendeu a empregar tcnicas

    com caractersticas militares.

    As emboscadas eram executadas por pequenos efetivos, tirando partido da

    vegetao para se camuflarem at passagem das foras portuguesas, momento em que

    abriam fogo at estas se encontrarem imobilizadas para assim lanarem o ataque.

    Uma das caractersticas de uma guerra subversiva a inexistncia de uma linha de

    contato onde se encontra uma fora de cada lado, como acontece no convencional, e

    somando o facto de o IN saber utilizar o terreno para emboscar as NT, tornava-se fulcral

    manter a presena militar por todo o TO, pois o IN usava as matas e as povoaes para se

    esconder.

    Para melhor atuar num TO com estas caractersticas foi necessrio optar por

    unidades com, por um lado, de pequeno efetivo mas, por outro, que conseguissem atuar

    com um certo grau de autonomia contra a subverso. Neste caso foi adotado o escalo

    companhia.

    3 Canhangulo Arma de fogo de ante carga, com sistema de iniciao de fogo por uma cpsula fulminante,

    com um alcance eficaz na ordem dos 40 metros. A munio era constituda por chumbos de diversos

    dimetros e outros metais, como por exemplo pregos. (CECA, 1998, p.254) 4 Modelo utilizado na guerra dos Boers, no final do Sc. XIX (CECA, 1998, p.255)

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    Captulo 4

    Organizao e preparao das foras portuguesas para o novo

    tipo de conflito

    No presente captulo, pretende-se dar a conhecer de que modo o eclodir do conflito

    nas provncias ultramarinas deu origem a uma transformao no seio das FA, mais

    concretamente no Exrcito, e as suas consequncias ao nvel das companhias.

    No que diz respeito importncia deste captulo, esta reside no facto de ser

    fundamental para compreender de que modo o Exrcito se adaptou a um novo modo de

    fazer a guerra, como ocorreu a evoluo de um Exrcito preparado de forma convencional,

    para um cenrio de guerra em que o IN se escondia na mata ou no seio da populao e que

    utilizava, como forma principal de ataque, a emboscada.

    Tendo em conta a nova tipologia de conflito e o tema deste trabalho, este captulo

    ir focar essencialmente sobre as companhias, pois foi este o escalo mais utilizado para as

    aes, e tambm para verificar se foi o escalo que apresentou melhores resultados e se

    reunia condies para combater a insurreio.

    4.1 Reorganizao do Exrcito Portugus

    Na dcada de 30, foi iniciado um processo de reorganizao no Exrcito Portugus,

    quer a nvel estrutural mas tambm a nvel de equipamento que s viria a estar terminado

    na dcada de 60. Esta reorganizao foi sofrendo algumas alteraes devido a algumas

    condicionantes, como por exemplo a guerra civil em Espanha (de 1936 a 1939), a entrada

    de Portugal na North Atlantic Treaty Organization (NATO) (1949), da qual se recebeu

    novos materiais provenientes do Exrcito Americano e Ingls dando origem a unidades

    Tipo Americano (Alves, 2010, p. 1299) preparadas para a guerra convencional.

    Contudo, a condicionante mais importante para este processo de reorganizao foi,

    no final da dcada de 50 e princpio da de 60, o envio de delegaes Arglia com o

    intuito de estudar o fenmeno da subverso (Alves, 2010), pois se suspeitava de um

    conflito semelhante nas colnias portuguesas. Regressadas a Portugal foi elaborado um

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    relatrio em que salientavam a urgncia do Exrcito Portugus se preparar para combater

    insurreies. (Afonso & Gomes, 2010, p. 176).

    Como consequncia, foi criado em Lamego o Centro de Instruo de Operaes

    Especiais (CIOE) (1960) que tinha como objetivo preparar militares na contra subverso,

    de acordo com Aniceto Afonso (2010, p. 176), foram aqui preparadas as primeiras

    Companhias de Caadores Especiais.

    At ao incio do conflito, o Exrcito mantinha uma organizao com foras

    preparadas para um cenrio convencional mas, com os acontecimentos em Angola foi

    necessrio mudar esta organizao para um cenrio de contrassubverso.

    Contudo ainda se verificou o uso de tcnicas convencionais em 1961 em Angola

    com o intuito de voltar a controlar o territrio, pois o IN tinha ocupado e estabelecido

    bases, mas posteriormente mostrou-se ineficaz pois o IN fazia fogo sobre as nossas tropas

    (NT) e rapidamente se colocava em fuga, tentando escapar s NT.

    4.2 - Organizao

    Neste subcaptulo, pretende-se explicar de que forma o Exrcito se encontrava

    organizado para o conflito, uma vez que esta guerra tinha a principal caracterstica de no

    opor duas foras frente a frente sob uma linha de contato, como se fazia at ento, mas sim

    sobre um Teatro de operaes no Linear.

    Visto que era necessrio operar sobre uma vasta rea as operaes de larga

    escala. Levavam demasiado tempo a organizar, exigiam muitos efectivos e no podiam

    iniciar-se em segredo (Cann, 1998, p. 118) uma vez que o elevado apoio logstico

    necessrio para a operao obrigavam a deslocaes anormais e a grande aparato ()

    tinham o inconveniente de obrigarem a deslocaes de helicpteros, que eram

    detectveis. (Neves, 1996).

    Como consequncia, a soluo encontrada foi utilizar pequenas unidades que

    exerciam uma presso constante () era muito mais eficaz na sua abordagem discreta

    e pouco dispendiosa (Cann, 1998, p. 118).

    Ainda de acordo com o relatrio elaborado pelo Batalho de Caadores 455

    relativamente a uma operao que envolvia sete agrupamentos, refere que o emprego de

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    grandes efetivos permitia ao IN detetar os seus movimentos e preparar-se

    convenientemente para as enfrentar (Batalho de Caadores 1455, s.d)5

    Deste modo, tornava-se mais vantajoso empregar pequenas unidades

    nomeadamente o escalo companhia, uma vez que a utilizao de unidades de grande

    escalo No eram operaes rendveis () face ao dispndio de tropa e dinheiro

    (Neves, 1996).

    4.3 - Companhia Escalo chave

    Como descrito anteriormente, aps verificar-se que as operaes convencionais no

    produziam os efeitos desejados e atravs dos estudos desenvolvidos pelos oficiais que

    tinham estado na Arglia, aplicou-se a doutrina para a guerra subversiva assente um

    sistema de quadrcula.

    Este sistema consistia em atribuir a uma determinada unidade uma rea de

    responsabilidade, o que permitia estabelecer um melhor contato de proximidade com a

    populao dessa rea e garantir a segurana desse terreno.

    Deste modo, dividiu-se uma Regio Militar, dotada de um comando local, em

    sectores de Agrupamento, constitudos com dois ou mais Batalhes de Caadores

    (EME, 1966b, 1P., Cap. IV.p.13)6, por sua vez subdividiam-se em sectores de Batalho

    que posteriormente se subdividiam em sectores de companhia de quadrcula.7

    Estes sectores eram divididos de acordo com a extenso do territrio e a

    actividade da guerrilha (Afonso & Gomes, 2010, p. 92), podendo um setor de batalho

    ser constitudo por duas ou mais companhias (EME, 1966b).

    Como consequncia da diviso do territrio, as Companhias, em especial as de

    Caadores, tornaram-se as unidades base para a execuo de operaes, e tambm pelo

    facto de possurem o efetivo necessrio para a conduo destas que so de curta

    durao, levadas a efeito por unidades tipo peloto (EME, 1990, p. 145).

    Este facto corroborado no 6volume da publicao da CECA, que indica a

    fragilidade de um batalho manter a sua atividade operacional uma vez que as

    5 Esta publicao faz parte do esplio do arquivo histrico militar (AHM) com a seguinte cota 2/2/114/10

    6 - Agrupamento um conjunto de foras constitudo com base em dois ou mis batalhes de Caadores,

    tendo ou no, alm destes, elementos de outras Armas ou Servios (EME, 1966b, 1P., Cap. IV.p.13). 7 - Ver Anexo C - Quadrcula

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    preocupaes de ordem logstica que raramente lhes permitiam mais do que uma aco

    de presena local (EME, 1998, p. 497), associado a uma evoluo da capacidade de

    combater do IN e a dificuldades de reabastecimento originou a medida de impor a

    concentrao das Sub-unidades e a adopo, como regra geral em todo o territrio, do

    conceito Companhia-unidade elementar. (EME, 1998, p. 497). Deste modo, a

    companhia constitua o escalo com capacidades de desenvolver actividade operacional

    em paralelo com aces de segurana e de reabastecimento de contacto com as populaes,

    etc. (Rodrigues, 1996, p. 106).

    Ainda, e de acordo com Hermes de Oliveira (1965, p. 79), a companhia consistia o

    escalo base pois utilizar um escalo inferior iria criar o vazio da ocupao, com

    todas as consequncias desastrosas em face da subverso, pois esse vazio significa

    liberdade de aco para o adversrio.

    No que diz respeito capacidade de adquirir informao crucial para o

    desenvolvimento das operaes, a companhia era o escalo com mais capacidades de

    aquisio de informao devido ao facto da sua frequente atividade operacional, pelo

    contacto com as populaes e pelas normais possibilidades de intercmbio com as

    autoridades administrativas e policiais (EME, 1990, p. 158).

    Apesar de as CCa manterem um contato quase permanente, no possuam a

    ao psicolgica na sua misso geral (EME, 1990, p. 189) nem indivduos

    especializados nesta rea (EME, 1990).

    Quanto organizao de uma companhia de caadores8, de acordo com o relato

    histrico do Batalho de Caadores 18669, um das suas companhias apresentava na sua

    constituio, uma seco de comando e quatro grupos de combate que correspondiam aos

    pelotes.

    A seco de comando englobava o comandante, o mdico e uma seco de

    formao, constituda pelo comando, seco sanitria, seco de reabastecimentos, seco

    de alimentao e a seco de manuteno.

    Os pelotes de caadores eram constitudos por trs seces, duas destas eram

    constitudas por oito atiradores e uma terceira seco constituda por uma esquadra de

    metralhadora ligeira a dois homens, o apontador e o municiador (Batalho de Caadores

    1866, s.d).

    8 Ver Apndice A Organizao de uma Companhia de Caadores

    9 - Esta publicao faz parte do esplio do arquivo histrico militar com a seguinte cota 2/2/91/3

  • Emprego Ttico de uma Companhia de Infantaria na Guerra Subversiva em Angola

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    Com esta organizao a companhia constitua a unidade que permitia articular as

    suas subunidades de modo a que tivesse um peloto para defender, outro para atuar e outro

    para manobrar. As seces do peloto de acompanhamento eram cedidas aos pelotes de

    caadores como reforo, aumentando assim o seu poder de fogo. Em sntese, ao nvel

    companhia era possvel estender o grau de autonomia possvel pela articulao de vrias

    valncias.

    No que diz respeito ao emprego de foras, se fosse o escalo batalho era necessrio

    uma larga movimentao de efectivos e, como estes eram escassos, dadas as multiplas

    necessidades e a extenso do teatro de operaes, havia que os desviar das reas que

    normalmente lhes estavam atribudas, enfraquecendo ali a actividade operacional durante o

    perodo em que esses efectivos estavam deslocados. (EME, 1990, p. 153).

    Neste aspeto a companhia consistia numa unidade que tinha possibilidade de

    manter todos os seus elementos reunidos ou destacar parte deles para outro ou outros

    pontos secundrios do seu sector (EME, 1966b, 1P., Cap. IV, p.13).

    Apesar de no consistir objeto de estudo deste trabalho de investigao, as foras de

    interveno, constituidas por praquedistas, fuzileiros ou comandos, por vezes formavam

    uma companhia para constituir foras de perseguio e intercepo numa

    operao de interecepo(EME, 1990, p. 173). Ainda a ttulo de exemplo, o Centro

    de Instruo de Comandos, tinha como misso geral seleccionar, instruir e organizar

    unidades de comandos do tipo companhia (Nunes A. P., 2002, p. 44). possivel

    verificar, nestes dois exemplos, que, ao nvel das foras de interveno, tambm foi

    priveligiado o escalo companhia.

    Deste modo, as unidades de escalo companhia tornaram-se o escalo com as

    melhores condies de atuar num ambiente de guerra subversiva.

    4.4 - Treino e Preparao

    Neste subcaptulo pretende-se dar a conhecer o modo como o Exrcito Portugus se

    preparou, quer a nvel da doutrina, quer a nvel da instruo e treino, que foi ministrada a

    todos os militares que posteriormente cumpriam a sua comisso nas provncias

    ultramarinas.

    Com base nas experincias de outros pases, Portugal procurou transmitir esses

    mesmos ensinamentos a todos os oficiais, sargentos e praas, e segundo Cann (1998, pp.

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    110,111), baseava-se nos seguintes parmetros A funo educativa de sintonizar as

    mentes dos homens para compreenderem a insurreio e subverso () Instruo sobre a

    integrao de medidas civis e militares para atingir um nico objectivo governamental.

    () Desenvolvimento de aptides de liderana no contexto de guerra de contra-

    insurreio. () Instruo nas tcticas utilizadas em combate num ambiente de contra-

    insurreio..

    No que se refere ao treino propriamente dito, este era ministrado no CIOE, contudo

    era alvo de constantes alteraes, pois o decorrer da guerra assim o exigia uma vez que o

    IN procurava encontrar novos meios para combater as foras portuguesas.

    Tal como o treino, os locais de instruo especfica de contrainsurreio, foram

    transferidos gradualmente para os teatros de operaes pois, possibilitava uma adaptao

    mais precisa ao ambiente operacional, assim como a possibilidade de instruir os habitantes

    locais (Cann, 1998).

    Deste modo, e de acordo com Cann (1998), o treino nos TO visavam alguns

    objetivos diversos, tais como o recrutamento e treino dos habitantes locais e a adaptao

    das tropas, provenientes da metrpole, ao ambiente operacional.

    Para uma companhia o recrutamento de habitantes locais permitia que se obtivesse

    homens motivados pois, tinham interesse no resultado do conflito, defendiam a sua terra e

    ainda recebiam um ordenado como um soldado da metrpole (Cann, 1998).

    O treino no TO permitia preparar os homens para a forma de operar no TO, ou seja

    aplicar a doutrina contra subversiva, estabelecer contato de proximidade com a populao

    local e assim estar mais bem preparado para a ao psicolgica que l se desenvolvia.

    4.5 - Material e Equipamento

    Nos anos 30, o Exrcito Portugus, foi alvo de um esforo de reequipamento com

    novo armamento, de modo a dot-lo de capacidade de reagir a uma ameaa externa, este

    armamento consistia em armas de repetio, Mauser, e algumas armas automticas ligeiras,

    tais como a Dreyse 7,92mm, Borsig, Madsen 7,9mm e a Breda10

    .

    10 - Ver Anexo D Armamento anterior Guerra Colonial

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    De acordo com o site sobre a guerra colonial (2012), aquando da entrada de

    Portugal na NATO foi criada a 3 Diviso para ser empenhada num possvel conflito contra

    o bloco Sovitico, com ela foram adquiridos canhes sem recuo (CSR), de 57mm, 75mm e

    106mm, metralhadoras pesadas (MP), Browning 12,7mm, e morteiros, 60mm, 81mm e

    107mm.

    Mais tarde adquiriram-se espingardas automticas, Heckler & Kock (HK) - G3

    7,62mm, FN FAL 7,62mm e a Armelite 7,62mm AR-10, metralhadoras ligeiras (ML),

    obteve-se HK-21 7,62mm, MG42 7,62mm. De pistolas-metralhadoras (PM) existia a

    Fbrica Brao de Prata (FBP) 9mm e a UZI 9mm, como pistolas a Walther 9mm, por

    ltimo os Lana Granadas Foguete (LGF) que as companhias possuam era a Bazuka

    6cm e 8,9cm (Guerra Colonial, 2012)11

    .

    Para alm deste equipamento, e de acordo com Jos Alves (2010, p. 1207), da

    frica do Sul, Portugal recebeu material de transmisses, pessoal especializado em

    contra-guerrilha () viaturas operacionais, e de transporte, avies e helicpteros.

    Assim, uma companhia de caadores possua HK-G3, HK-21, PM, pistolas,

    morteiros ligeiros 60mm, (LGF), as MP Browning 12,7mm e CSR faziam parte da

    guarnio das viaturas. (Afonso & Gomes, 2010).

    As HK G3 e HK 21 conferiam poder e volume de fogo fora, uma vez que a

    Mauser 7,9mm, possua um reduzido poder derrubante no permitia a imediata

    neutralizao do inimigo atingido () o sistema de repetio e a fraca capacidade do

    depsito no eram os adequados s caractersticas da luta a curta distncia (EME, 1988,

    p. 275).

    Os LGF garantiam um forte efeito neutralizante, principalmente quando as NT eram

    atacadas por foras IN volumosas (EME, 1988), adicionado o facto de s se dispor de

    munies anticarro (Afonso & Gomes, 2010), o que tambm apresentava algumas

    desvantagens.

    Os morteiros de 60mm foram empregues no apoio direto s tropas, principalmente

    quando no havia CSR, e garantiam, assim, uma pequena e altamente mvel capacidade de

    fogos indiretos ao nvel de peloto e companhia. As pistolas e PM tinham o inconveniente

    de apenas serem eficazes a curtas distncias (Afonso & Gomes, 2010), e, por exemplo, a

    FBP era considerada uma arma de segurana deficiente. (EME, 1988, p. 275).

    11 - Ver Anexo E Armamento aps o incio da Guerra Colonial

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    A nvel de material de transmisses, uma companhia possua o AVF 736,

    NATIONAL, AVFT, AN/PRC - 10, CHF (BCC30BP), UHF2 (BCC30AP). Devido ao

    terreno ser acidentado as comunicaes por vezes eram impossveis de realizar, destes

    exceo () do AN/PRC 10 () eram inadequados ou obsoletos. (EME, 1988, p.

    275).

    Deste modo, uma companhia apresentava algumas limitaes ao nvel das

    comunicaes, uma vez que o terreno por vezes impossibilitava a sua realizao.

    Relativamente ao armamento, os morteiros e os LGF poderiam colocar a companhia em

    risco uma vez que poderiam incendiar a vegetao, no entanto, eram bastante eficazes a

    abater grupos de IN. As espingardas automticas conferiam a possibilidade de uma

    companhia suprimir o IN com o seu elevado volume de fogos.

    Todo o equipamento e armamento de uma companhia tinham de ser aligeirados,

    pois eram transportados consigo para a misso bem como todo o material necessrio para a

    sua sustentao (EME, 1966b).

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    Captulo 5

    Possibilidades de emprego de uma Companhia de Caadores em

    ambiente subversivo

    Este captulo um ponto central deste trabalho de investigao, e procura

    demonstrar como uma companhia de infantaria atuava no decorrer das operaes militares

    durante a guerra colonial. Deste modo pretende-se responder questo central Quais as

    opes de emprego ttico possveis de uma companhia de infantaria no mbito da guerra

    contra subversiva no TO de Angola no conflito ultramarino de 1960-75?.

    Mas antes de conhecer os modos de emprego possveis de uma companhia,

    necessrio compreender por que razo a infantaria foi das Armas do Exrcito a mais

    utilizada.

    5.1 - Infantaria ligeira

    Como foi descrito no Captulo 2, o terreno era desfavorvel NT, e um modo de

    contrariar esta situao recorreu-se a um tropa que fosse dotada de elevada mobilidade,

    esta seria constituda por militares provenientes da arma de infantaria, uma vez que o uso

    de apoio de fogos12

    era um pouco limitado.

    Esta mobilidade, conferida pelo armamento e equipamento ligeiro, permitia-lhe

    penetrar em territrio IN em deslocamentos tticos e procurar tirar vantagem do fator

    surpresa.

    De acordo com o Captulo II Operaes Contra Bandos Armados e Guerrilhas,

    dos manuais de O Exrcito Na Guerra Subversiva (1966b), o moral era difcil de manter

    uma vez que o cansao causado pelos grandes deslocamentos, por vezes durante vrios

    12Aps o esforo de guerra ter sido movido para o leste, existia uma bateria de artilharia de campanha 8,8

    () nunca foi utilizada como tal por no terem surgido oportunidades para isso. (Nunes A. P., 2002, p. 26)

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    dias, agravado pelo clima, era o seu principal inimigo. A capacidade de evacuao de

    feridos e reabastecimento por vezes era impossvel.

    5.2 - Possibilidades de emprego de uma companhia de caadores

    As companhias podiam realizar a pacificao e o combate s foras IN de

    duas formas: parcelarmente e progressivamente (EME, 1966b).

    Quando atuava de forma parcelar, a companhia executava aes de modo a

    restabelecer a paz numa determinada regio, contudo s se deslocava para outra regio

    quando possua a garantia de que, na primeira, a subverso no poder voltar a ter o

    desenvolvimento que tinha antes e de que, na segunda, a luta contra a subverso poder ser

    conduzida com eficincia (1966b, 1P, Cap. IV, p. 5).

    Quando atuava de forma progressiva, inicialmente proceder-se-ia a algumas aes

    psicolgicas sobre o IN, seguido de proteo da populao e vias de comunicao, e s

    aps estas, que se realizavam operaes ofensivas sobre o IN e por fim a conquista da

    hegemonia total do territrio (1966b, 1P, Cap. IV, p. 6).

    Deste modo, as companhias podiam realizar as seguintes tarefas: a defesa de pontos

    sensveis/postos militares, proteo de itinerrios, patrulhamento, limpeza de uma

    zona/povoao, golpe de mo e emboscada.

    5.2.1 - Defesa de pontos sensveis/postos militares

    Na terminologia militar, ponto sensvel, consiste em:

    povoaes e instalaes importantes, certos pontos vitais das comunicaes, algumas reas agrcolas e mesmo determinados acidentes de terreno cuja posse por

    parte dos rebeldes, pela importncia que tm para a vida das tropas e das populaes,

    apresenta inconvenientes de acentuado valor do ponto de vista poltico, militar,

    econmico ou outro. (EME, 1990, p. 145,146). Mas para que a sua defesa fosse possvel, teria de possuir um efetivo que permitisse

    montar segurana, dispor de uma reserva pronta a intervir em reforo daquela e

    assegurar o descanso do pessoal que no est de servio (1966b, 2P, Cap. I, p. 3).

    Para alm disso, devia-se ter em conta, o posicionar das armas de modo a garantir o

    mximo rendimento destas e fogo contnuo, realizar alguma organizao do terreno,

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    limpeza de campos de tiro e o comando deveria ter observao de todo o ponto sensvel,

    para garantir um maior controlo e, tambm, deveria possuir comunicaes (EME, 1966b).

    Quando uma companhia pretendia defender um ponto sensvel, e tomando o

    exemplo da CCa 167 do BCa 159, relatado na sua histria da unidade, construam redes

    de arame farpado em redor do mesmo, criavam posies para os atiradores ML, torres

    de vigilncia, () campinagem () dos campos de tiro (s.d., p. 11).

    J por si, os postos militares possuam como misso principal garantir a defesa de

    pontos sensveis, maioritariamente vias de comunicao, bem como, apoiar outras

    unidades e ainda garantir o exerccio da funo de quadrcula () prolongar e

    completar o controle territorial (EME, 1966b, 2P, Cap. I, p. 23).

    O efetivo de um posto militar dependia do seu objetivo, da sua importncia, da

    atividade IN, da distncia e da capacidade de este ser apoiado por outras unidades (EME,

    1966b, 2P, Cap. I, p. 24).

    Um exemplo de um posto militar, encontra-se relatado pelo BCa 159, em que parte

    da uma companhia ocupou uma posio permanente e isso garantiu uma maior

    segurana () ao mesmo tempo que permitia acorrer com relativa rapidez a qualquer

    ponto das suas estradas em caso de emergncia(s.d., p. 67).

    Esta modalidade de ao enquadra-se na funo de quadrcula, pelo qual se

    enquadra no escalo de companhia, uma vez que tinha possibilidade de projetar pequenos

    efetivos e mesmo assim manter uma parte da fora como reserva.

    5.2.2 - Proteo de itinerrios

    Num conflito de superfcie a manuteno das vias de comunicao de extrema

    importncia, pois estas garantem o funcionamento da capacidade logstica, o movimento

    de foras e ainda executar algumas operaes. Durante a guerra colonial, e de acordo com

    alguns resumos histricos de unidades, dentro deste tipo de ao, o mais executado foi

    essencialmente a vigilncia mvel e escoltas.

    No que diz respeito vigilncia mvel e escoltas seria aconselhvel o uso de

    unidades de reconhecimento, contudo uma unidade de infantaria tambm poderia executar

    estas tarefas, para o efeito deveriam ser atribudos meios blindados (EME, 1966).

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    Para a realizao de uma vigilncia mvel, consoante o efetivo e os meios,

    organizava-se uma patrulha de vigilncia, cuja finalidade seriamanter o itinerrio sob

    constante vigilncia (EME, 1966b, 2P, Cap. I, p. 8), ou poderia ser organizada uma

    patrulha de abertura que precedem, com antecedncia conveniente, as colunas a

    deslocar. (EME, 1966b, 2P, Cap. I, p. 11).

    Estas aes de vigilncia de itinerrios, e de acordo com um relato de um

    comandante de companhia, este gnero de aes desenvolvidos por uma companhia

    permitia que o IN se sentisse inseguro e consequentemente diminussem as suas aes

    (Batalho de Caadores n159, s.d.).

    Por sua vez, uma escolta, tinha como misso garantir segurana ao deslocamento de

    uma coluna. A sua composio seria determinada de acordo com um conjunto de fatores,

    tais como os meios disponveis, o IN e itinerrio, mas para uma coluna de 20 a 30

    viaturas () implica a disponibilidade de um Peloto de Reconhecimento com 3

    autometralhadoras e 3 viaturas blindadas de atiradores, reforado com uma Seco de

    Caadores... (EME, 1966b, 2P, Cap. II, p. 14).

    Num relato de uma CCa, esta ao executar uma escolta a uma coluna, permitiu

    destacar um peloto de reconhecimento que detetou sinais da presena IN e com alguma

    parte da companhia permitiu flanquear o mesmo de modo a garantir a segurana da coluna,

    para alm disso seria possvel localizar armadilhas (Pinto, s.d.).

    Desta forma, possvel constatar que uma CCa quando era destacada para realizar

    uma escolta, esta possua um efetivo suficiente para garantir a segurana da coluna e,

    ainda, realizar algumas emboscadas.

    5.2.3 - Patrulhamento

    Numa guerra subversiva a aquisio de informao de extrema importncia, deste

    modo uma CCa recorria aos patrulhamentos como mtodo para recolher informao sobre

    o terreno, o IN, e, ainda, lanar algumas aes ofensivas sobre este, obrigando-o a retirar e

    a perder o apoio da populao dessa regio e ao mesmo as NT ganhavam a sua confiana.

    O raio de ao deste tipo de aes era limitado, contudo as foras inimigas

    ocupavam posies em regies mais afastadas onde () podem organizar, instalar,

    deslocar, reabastecer e refugiar (EME, 1966b 2P, Cap. III, pg. 6), por estas razes

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    este tipo de aes requeriam um elevado esforo fsico e psicolgico por parte dos

    militares que a executavam.

    Dadas estas circunstncias, surgiram as patrulhas independentes, isto , aps sarem

    do quartel poderiam permanecer fora deste por alguns dias, designadas, tambm, por

    patrulhas de nomadizao13 (EME, 1966b, 2P, Cap. III, pg. 7).

    Quando se pretendia cobrir uma superfcie maior empregava-se uma CCa, esta

    poderia atuar apenas utilizando um s itinerrio e ao longo deste seriam planeadas algumas

    bases de patrulhas.

    Quando a base de patrulhas era ocupada, era atribuda a misso de patrulhar num

    dado sector a parte da companhia, garantindo sempre a constituio de uma reserva. O

    efetivo e o setor variavam de acordo com o terreno, o IN e as informaes que possuam.

    Decorridos alguns dias, a companhia deslocava-se para outra base de patrulha e repetia o

    mesmo processo (EME, 1966b).

    Neste tipo de aes era usual o emprego de pequenos efetivos, de modo a garantir a

    recolha de informaes sem ser detetados pelo IN, como por exemplo uma pequena fora

    do Batalho de Caadores 88, ao efetuar um patrulhamento entrou em contato com

    refugiados angolanos e que, deste modo, aproveitou para entregar alguns alimentos e

    cigarros, bem como papis de aco psicolgica (Batalho de Caadores 88, p.

    36).

    Com os efetivos que uma CCa dispunha, era possvel realizar vrios

    patrulhamentos em simultneo e, ainda, constituir uma reserva.

    5.2.4 - Limpeza de uma zona/povoao

    Esta a primeira ao que planeada e executada tendo em conta informaes,

    mais ou menos, precisas sobre a localizao e atividade do IN. Para alm disso constitui a

    13 - Designa-se por nomadizao a actuao discreta, durante algum tempo, em zonas afastadas das

    localidades normalmente guarnecidas, onde se sabe ou se presume que existem elementos rebeldes, de foras

    muito mveis e dotadas de aprecivel autonomia que, numa constante actividade de patrulhamento, procurm

    levar a efeito aces de combate de carcter limitado contra aqueles elementos, destruir as suas instalaes e

    fontes de abastecimentos, colher informaes e tomas contato com a populao (EME, 1966b, 2P., Cap. III, p.45)

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    primeira ao que desde o incio tem como objetivo desenvolver uma ao ofensiva sobre

    o IN, por batidas ou operaes de cerco, tendo como fim ltimo a sua destruio, captura

    e/ou eliminar da sua presena.

    A batida caraterizava-se por ser uma modalidade que consistia em progredir numa

    determinada faixa de terreno onde existiam informaes de presena inimiga. Neste tipo de

    aes, parte da fora empregue deveria garantir a segurana do remanescente da fora que

    efetuava a batida (EME, 1966c).

    Pode-se tomar como exemplo, a CCa 167 do BCa 159, que ao executar uma

    batida num determinado local, manobrou um dos seus pelotes para uma cota superior de

    modo que suprimisse o IN a partir de uma posio vantajosa (Batalho de Caadores

    n159, s.d.).

    J a operao de cerco, carateriza-se por ser uma ao desenvolvida numa faixa de

    terreno delimitado, por foras ou por acidentes de terreno, cercando o IN e

    impossibilitando a sua evaso ou obteno de auxlio do exterior (EME, 1966c).

    Esta operao era constituda por duas fases: o cerco propriamente dito e as aes a

    desenvolver dentro deste.

    Numa primeira fase, parte da fora era destacada para cercar o IN, isto , bloquear

    os seus itinerrios de fuga. Numa segunda fase, o remanescente da fora responsvel por

    atacar o IN coloca-se do lado oposto s foras de cerco, cercando por completo o IN

    (EME, 1966b).

    Um exemplo deste gnero de ao encontra-se relatado no relatrio da operao

    APROVEITA A MAR, levada a cabo pelo BCa 455, em que, uma fora deste

    batalho ao atingir o objetivo constituiu um anel de cerco ao ncleo do quartel e

    para garantir a segurana s foras de assalto as ML constituram uma base de fogos

    (Batalho de Caadores 455, s.d.).

    No resumo histrico do BCa 186614

    , uma das suas CCa teria a indicao da

    existncia de uma posio IN junto a um desfiladeiro. Deste modo, manobrou uma

    seco do GRC [Grupo de Combate] da CCS, que alm de dar proteco s NT podia

    alvejar elementos IN que tentassem a fuga () as outras 4seces fizeram um cerco em U

    ficando a abertura para o lado escarpado (Batalho de Caadores 1866, s.d., p. 51).

    14Esta publicao faz parte do esplio do arquivo histrico militar com a seguinte cota 2/2/91/3

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    Com este exemplo possvel constatar que era uma ao que necessita de um

    conjunto de foras de interveno de volume considervel e no pode, por isso, ser

    realizadas simultaneamente em muitas regies () H portanto, que proceder a uma

    classificao das zonas a limpar por ordem de prioridades (EME, 1966b, 2P, Cap. IV,

    Pg. 3).

    5.2.5 - Golpe de mo

    O golpe de mo constitua uma operao ofensiva que se evidenciava pelo constante

    uso do fator surpresa, associado ao secretismo, desde o planeamento at sua execuo,

    bem como uso do princpio violncia na ao, procurando obter um ataque rpido e

    violento. Estes poderiam ser preparados ou imediatos. (EME, 1966b).

    Os golpes de mo podiam ser preparados, quando se dava prioridade a um

    planeamento detalhado e pormenorizado do desenrolar da ao, com base em informaes

    fiveis, ou podem ser imediatos, estes, por sua vez, tinham como preferncia uma situao

    inesperada que conferia uma oportunidade vantajosa para a fora, e neste caso seria de

    todo favorvel flanquear o IN (EME, 1966b).

    A sua organizao dependia do efetivo necessrio para cumprir a misso que foi

    atribuda a uma unidade, contudo, segundo o Captulo II Operaes Contra Bandos

    Armados E Guerrilhas (1966b, 2P, Cap. VI, p.9), um golpe de mo deveria ter a seguinte

    organizao: comando, grupo de assalto, grupo ou grupos de deteno, grupo ou

    grupos de cobertura, grupo de recolha, grupo de perseguio e reserva..

    Num relato de uma CCa, demonstra que, para preservar o fator surpresa se efetuou

    o deslocamento por vegetao densa, aproveitando a chuva, o que foi crucial para o

    sucesso da ao (Batalho de Caadores 1866, s.d.).

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    5.2.6 - Emboscada

    Esta ao muito idntica ao golpe de mo partilhando dos mesmos princpios e

    das mesmas finalidades, diferenciando-se desta pelo local onde era realizada e por procurar

    atacar o IN em movimento quando este se encontrava na zona de morte15

    (EME, 1966b).

    Tal como o golpe de mo, a emboscada poderia ser preparada ou imediata, esta

    ltima surge com oportunidades em que o IN se encontra em desvantagem em relao s

    nossas foras, e ainda poderia ser combinada com aes descritas anteriormente (EME,

    1966b).

    As preparadas podiam ser realizadas em locais onde se tivesse obtido informao

    sobre atividade IN ou em locais onde existia a probabilidade de encontrar atividade IN,

    como caminhos que este poderia utilizar para reabastecimento ou movimentos (EME,

    1966b).

    No que diz respeito aos efetivos, estes poderiam variar pois, dependiam do objetivo

    da emboscada, no entanto, o que se pretendia era obter superioridade nos momentos da

    ao.

    Numa operao levada a cabo por uma CCa do BCa 1866, como por exemplo

    aes de limpeza na sua zona de ao, procuravam realizar emboscadas em locais possveis

    de encontrar o IN, tais como reas de cultivo e caminhos.

    Outro exemplo de uma emboscada, encontra-se relatada no resumo histrico do

    Batalho de Caadores Especiais (BCaE) 357, em que uma fora de uma das suas

    companhias estabeleceu uma emboscada num itinerrio que o IN usava para entrar no

    Congo. O mesmo batalho montou uma emboscada num tronco que serve de ponte

    num rio (Batalho de Caadores 357, s.d.).

    possvel verificar que, quando uma CCa preparava uma emboscada, procurava

    execut-la em locais onde a probabilidade de encontrar o IN era elevada, e permitia obter

    resultados proveitosos, como causar baixas, desmoralizar e flagelar o IN. Deste modo, o

    efetivo a utilizar dependia das informaes disponveis.

    15 Zona de Morte a zona do itinerrio escolhida para o desencadeamento da emboscada sobre a coluna

    inimiga. (CIOE, 1961, Cap. II, Sec. VII - 8a., p.2/E)

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    As aes descritas anteriormente representam aes de combate possveis para o

    emprego de uma CCa , contudo poderia executar a ao psicossocial junto da populao

    em simultneo com uma operao ou de forma isolada.

    Esta ao psicossocial16

    resultava de uma combinao de ao psicolgica, ou seja

    procurar influenciar o comportamento dos meios amigos, neutros e adversos (EME,

    1966c, Cap. I, p.1), com uma ao social, tornando-a mais sensvel aco

    psicolgica com o objetivo de melhorar as condies de vida () para ganhar a sua

    confiana (EME, 1966c, Cap. I, p.2).

    Estas aes eram de extrema importncia, pois a conquista das populaes

    tornavam o IN mais fraco, uma vez que deixavam de possuir o apoio da mesma. De acordo

    com Frank Kitson (1971, p. 29) O essencial para a vitria na guerra moderna o apoio

    incondicional da populao17.

    Esta ao psicossocial procurava satisfazer as necessidades da populao de cariz

    sanitrio, religioso, educacional e econmico (EME, 1966c).

    A vertente da ao psicolgica levada a cabo por uma CCa ser tratada de seguida.

    5.3 - A importncia do contato com as populaes, a ao psicolgica e a coordenao

    civil-militar

    Neste subcaptulo pretende-se dar a conhecer uma tipologia de ao psicolgica

    desenvolvida e utilizada no decorrer da guerra colonial. Algo que, at ento, era pouco

    conhecido no meio militar, pois os conflitos encontravam-se na esfera do convencional,

    Estas aes obtiveram grande desenvolvimento aps o deslocamento das delegaes

    Arglia.

    Deste modo, neste subcaptulo pretende-se evidenciar a importncia da ao

    psicolgica no decorrer da guerra em Angola e como o contato de proximidade com as

    populaes, bem como a coordenao civil-militar, em busca do corao e das mentes da

    populao, se tornou uma arma eficaz contra os movimentos independentistas.

    16 - Ver Anexo. F Ao Psicossocial

    17 - Traduo livre da responsabilidade do autor

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    5.3.1 - Ao psicolgica desenvolvida por uma companhia

    Considerando o que foi descrito anteriormente, a ao psicossocial demonstrou-se

    ser um instrumento importante na conquista das populaes. Esta ao era desenvolvida

    principalmente por foras que executavam as aes de combate, logo, ao nvel da

    companhia, todo e qualquer militar desta, constitua um ator na manobra psicossocial.

    importante referir que a ao psicossocial era realizada pelas unidades de

    quadrcula, uma vez que as suas misses possuam um caracter mais defensivo, como por

    exemplo manter contato com a populao (EME, 1966b, 1P, Cap. IV, p.21),

    enquanto as unidades de interveno tinham misses de carcter ofensivo, como por

    exemplo procurar o inimigo e hostiliz-lo o mais possvel por toda a parte (EME,

    1966b, 1P, Cap. IV, p.28)18

    .

    No que diz respeito ao apoio econmico, os militares de uma CCa, para auxiliar a

    populao financeiramente, por vezes, adquiriam os produtos agrcolas que estas

    cultivavam. De acordo com Van der Waals (1993), foram tambm criados mercados onde

    se realizavam trocas comerciais que possibilitavam a integrao do agricultor na economia

    de Angola. Estes mesmos mercados eram organizados e controlados pelos militares e a

    populao podia fazer a venda dos seus produtos a naturais de outras sanzalas, ou nas

    sanzalas localizadas perto das fronteiras e, at mesmo, a naturais de pases vizinhos

    (Batalho de Caadores 3831, s.d.).

    Outra ao realizada no mbito do apoio econmico era o emprego de pessoal, esta

    ao consistia na contratao de mo-de-obra civil para a realizao de tarefas com

    interesse para a instituio militar, como por exemplo, a construo de instalaes (EME,

    1966c).

    No que diz respeito vertente educacional, este apoio era bem aceite pela

    populao, pois viam como uma possibilidade de subir de estatuto social e assim adquirir

    um trabalho mais remunerado (EME, 1966c).

    Deste modo, muitas companhias construram escolas primrias para que os filhos

    dos naturais pudessem aprender a falar, ler e escrever portugus. Esta iniciativa foi muito

    bem aceite pelos naturais, contudo por vezes, no permitiam que crianas do sexo feminino

    18 Ver Anexo G Misses das unidades de quadrcula e de interveno

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    frequentassem as escolas, no entanto fora registado a sua presena em algumas escolas

    (Batalho de Caadores 3831, s.d.).

    Este tipo de construes dependia do comando do batalho uma vez que eram

    precisos meios para construir escolas e, consequentemente, contratar professores. Contudo

    as companhias por vezes aproveitavam edifcios existentes ou, quando no havia, at

    mesmo ao ar livre improvisavam uma sala de aula. Na ausncia de professores civis

    eram os militares que lecionavam (Batalho de Caadores 3831, s.d.).

    Unidades como o BCa 3831 e o BCa 1874, construram escolas para as crianas,

    e como consta no livro de Antunes Pires Nunes (2002, p. 55), possvel visualizar uma

    fotografia de crianas com o seu professor militar..

    J a nvel cultural e fsico, alguns batalhes, como por exemplo o BCa 159 (s.d.),

    possuam meios de projeo de filmes, onde era permitido a presena dos naturais, bem

    como nos campeonatos de futebol organizado pelos militares.

    A nvel sanitrio, o mdico ou enfermeiro da companhia, facultavam cuidados

    bsicos de sade, como por exemplo a vacinao, pequenos curativos, tal como difundiam

    hbitos e regras de higiene, desconhecidos at ento, e a distribuio de medicamentos. Em

    alguns casos, o fluxo aos cuidados mdicos era to elevado, que foi necessrio estabelecer

    um dia para cada sanzala, havendo registo de populaes que chegavam a realizar longos

    deslocamentos, por vezes 10km, para receber tratamentos e/ou bens medicamentosos

    (Batalho de Caadores 3831, s.d.).

    Por fim, no mbito religioso, este era levado a cabo pelos capeles militares e

    missionrios catlicos (EME, 1966c, Cap. VII, p. 11) e em caso de necessidade em

    simultneo com o apoio sanitrio.

    Este apoio tinha como objetivo prestar assistncia religiosa a membros das

    populaes, como missas, batizados e funerais. Por exemplo algumas companhias do BCa

    3831 construram igrejas nos seus aquartelamentos. Quando a confiana nas populaes

    atingia um nvel satisfatrio, estas poderiam assistir algumas cerimnias religiosas, como

    por exemplo a missa de natal (Batalho de Caadores 3831, s.d.).

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    Aps o que foi descrito, percetvel que uma CCa quando atuava junto de uma

    populao procurava dar apoio e melhorar as condies desta a nvel econmico,

    educacional, sanitrio e religioso19

    .

    5.3.2 - O sentimento da populao para com as companhias de quadrcula20

    No incio do conflito, as tropas portuguesas nas suas aes, com efetivo de

    companhia ou peloto, exerceram um esforo considervel em encontrar as populaes

    refugiadas nas matas e por vezes nos pases vizinhos. Quando se deparavam com estas

    populaes procuravam convenc-las para voltarem s suas terras, contudo recusavam

    voltar devido ao receio de represlias dos rebeldes, ou mesmo pelos militares, devido

    propagando realizada pelo IN.

    Quando eram realizados alguns contatos de proximidade, os militares explicavam o

    porqu da sua presena em Angola e que pretendiam proteg-los das aes dos rebeldes,

    deste modo tentavam saber a razo de ainda no terem voltado para as suas terras.

    Passados alguns dias era possvel verificar o seu regresso.

    Aquando do seu regresso, estes procuravam estar perto das companhias para terem

    a sua proteo assegurada. A populao que se encontrava fora das zonas de controlo das

    guerrilhas foram as que sentiram de mais perto a ao psicolgica das unidades de

    quadrcula, devido proximidade dos quartis.

    Como medida de ao psicossocial, foi ainda estabelecido um programa,

    denominado de aldeamentos, este consistia em construir alojamentos para a populao que

    estivessem sobre a presso do IN, em alguns casos eram obrigados a serem realojados, o

    que constitua uma situao delicada pois muitas da vezes as pessoas no queriam deixar as

    suas terras que j se encontravam na famlia h vrias geraes, existiam, ainda, casos que

    queriam fugir destes, privilegiando-se assim as situaes em que seriam realojados de

    forma voluntria (Cann, 1998). Nestes aldeamentos, as populaes estabeleciam as suas

    19 - Ver Anexo H Apoio s populaes

    20 As informaes que se encontram descritas neste subcaptulo foram recolhidas dos diversos relatos e

    histricos de unidades que serviram de apoio bibliogrfico para a elaborao deste trabalho.

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    hortas para mais tarde poder tirar proveito dos mercados realizados pelos militares das

    companhias.

    A companhia, para estreitar o contato com a populao, em algumas situaes e, de

    acordo com os materiais disponveis, construam casas em cimento, mas na falta de

    materiais, a prpria populao procurava melhorar as suas habitaes (Batalho de

    Caadores 3831, s.d.).

    Como forma de agradecimento aos militares das companhias, as populaes por

    vezes faziam oferendas, como por exemplo fruta, e os militares que aceitavam, ofereciam

    ou trocavam objetos por latas de conserva ou forneciam, por exemplo, tecidos como peas

    de roupa para as mulheres e crianas (Batalho de Caadores 3831, s.d.).

    Noutras vezes a populao, ainda como forma de agradecimento, oferecia-se para

    realizar alguns trabalhos de campinagem, no local onde a companhia se encontrava

    estacionada, ou quando era necessrio limpar um local para a construo de algum edifcio

    (Batalho de Caadores 3831, s.d.).

    Quando os militares das companhias executavam aes em locais pouco

    conhecidos, indivduos da populao ofereciam-se para serem os seus guias nas matas de

    vegetao densa.

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    Concluses

    Este ltimo captulo tem como objetivo corresponder aos resultados obtidos na

    pesquisa e anlise de documentos com as questes redigidas para a realizao deste

    trabalho de investigao.

    Para alm desta correspondncia pretende-se realizar um resumo e anlise crtica

    dos assuntos abordados com o objetivo de auxiliar a responder s questes derivadas e

    subsequentemente responder questo central.

    Assim, no que diz respeito doutrina, o Exrcito Portugus iniciou um processo de

    reorganizao no incio da dcada de 30, contudo este s terminou na dcada de 60,

    adotando, por fim, uma doutrina que visava uma tipologia de guerra subversiva, tendo a

    provncia de Angola como um laboratrio experimental.

    Com a resposta aos atos de violncia ocorridos em Angola, foram desenvolvidas um

    conjunto de aes militares que possuam caractersticas tpicas da doutrina convencional,

    contudo os militares j possuam algum treino de contra insurreio.

    Esta nova doutrina recorria ao emprego de pequenas unidades de infantaria ligeira

    de modo a manter uma constante presena em todo territrio, e assim garantir uma

    constante presso sobre as foras inimigas de modo a elimin-las, bem como a cortar o

    apoio que a populao lhes prestava.

    Para desempenhar estas misses foi adotada a companhia como o escalo

    elementar, pois seria a unidade mnima com capacidades de executar aes de contra

    insurreio e ao psicossocial na sua zona de ao.

    Examinando a doutrina do Exrcito Portugus, da poca, possvel responder

    primeira questo derivada Qual a doutrina em vigor para uma unidade de escalo

    companhia?.

    Com base nos conhecimentos de outros exrcitos, foi criada uma doutrina de guerra

    contra subversiva, sendo constantemente atualizada. Esta englobava aes que

    possibilitavam a uma companhia hostilizar o inimigo e, em simultneo, agir sobre a

    populao de modo a melhorar as suas condies de vida. Estas aes eram desenvolvidas

    no interior da quadrcula da companhia o que permitia uma maior presena junto das

  • Emp