Mulheres evangélicas e práticas religiosas: Uma análise comparativa na perspectiva de gênero

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MULHERES EVANGÉLICAS E PRÁTICAS RELIGIOSAS: Uma análise comparativa na perspectiva de gênero Por: Robson da Costa de Souza Orientadora: Profa. Dra. Maria das Dores Campos Machado

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MULHERES EVANGÉLICAS E

PRÁTICAS RELIGIOSAS:Uma análise comparativa na perspectiva de gênero

Por: Robson da Costa de Souza Orientadora: Profa. Dra. Maria das Dores Campos Machado

Objetivos Gerais e Específicos

• O propósito da Tese foi o de apresentar uma análise comparativa das percepções de integrantes de dois grupos religiosos acerca das hierarquias de gênero.

• Partindo da premissa que o processo de construção das alteridades é histórico e cultural, procurei examinar a importância do pertencimento religioso na constituição e redefinição das identidades de gênero em duas grandes denominações evangélicas: a Assembleia de Deus e a Igreja Presbiteriana do Brasil.

• Sem ignorar a agência destes sujeitos religiosos, interessou-nos explorar as associações entre dois segmentos do protestantismo brasileiro e as construções de alteridades e dos papéis sociais de mulheres e homens em suas tensas relações com a religião no contexto das múltiplas modernidades.

Premissas consideradas importantes nesta Tese

• Primeiramente, eu destacaria a relevância da categoria "gênero" na compreensão das percepções analisadas, reportando-me às origens exclusivamente sociais das identidades masculinas e femininas.

• Sem isolar o fenômeno religioso dos processos globais que acompanham a transformação social em decurso, a investigação da temática escolhida procura levar em conta a relação recíproca e constitutiva entre ação coletiva e trajetórias individuais.

• Ao longo da Tese intentei realizar uma análise comparativa de dois grupos religiosos diferentes a partir de dois níveis distintos: o institucional e o individual. Ao nível dos sujeitos, procurei apreender a lógica pela qual os entrevistados percebem as questões da ordem de gênero. Contudo, a análise das dinâmicas institucionais emoldurou o conjunto de questões levantadas ao longo do texto.

As entrevistas• Entre julho de 2011 e julho de 2012 entrevistei 14 (quatorze) lideranças,

distribuídas da seguinte maneira entre as tradições religiosas: Presbiteriana (5); Assembleia de Deus (9).

• O universo das fiéis é composto por 17 (dezessete) pessoas - 11 (onze) mulheres presbiterianas e 6 (seis) mulheres assembleianas.

• A técnica de pesquisa adotada para abordar as lideranças religiosas e as fiéis das duas tradições selecionadas foi a da entrevista semi-estruturada e o roteiro de entrevistas abordou os seguintes temas: atuação na instituição religiosa; percepções sobre as relações de gênero, sexualidade e família; percepções sobre a diversidade sexual; direitos sociais; violência doméstica; percepções sobre o feminismo e o ministério feminino na Igreja; percepções sobre a Teologia da Prosperidade. Com o intuito de conhecer, mesmo que de forma exploratória, o impacto dessas representações nas construções das subjetividades, o roteiro também levou em conta as trajetórias individuais das mulheres entrevistadas.

Justificativa• Muitas pesquisas acadêmicas sobre o protestantismo

de missão estão restritas ao debate sobre os mecanismos de manutenção do poder eclesiástico.

• Essas denominações religiosas se diferenciam, segundo as origens histórica e cultural, a estrutura eclesiástica e o grau de acesso das mulheres ao poder eclesiástico. Nesse sentido, a importância dessa análise reside no fato de que estamos diante igrejas evangélicas que, embora compartilhem ethos religioso bastante semelhante, têm apresentando soluções distintas aos problemas levantados pela modernidade.

Metodologia• A pesquisa se deu em dois níveis (entrevistas com lideranças religiosas

e fiéis). Através das entrevistas procurei apreender a lógica pela qual os entrevistados percebem as questões da ordem de gênero.

• Em seguida, mapeei as descontinuidades entre as doutrinas explicitamente religiosas e as representações de gênero veiculadas na fala dos interlocutores. A análise das entrevistas tornou possível, também, explicitar as estratégias locais de reapropriação e ressignificação dos símbolos religiosos, bem como mapear situações de transgressão a normas morais em decisões consideradas de cunho essencialmente privado.

• Em termos de expectativas, eu esperava encontra um maior "assujeitamento religioso" entre as lideranças presbiterianas e, principalmente, entre as fiéis assembleianas.

Estrutura da Tese• Introdução

• Capítulo 1- Construção de um quadro conceitual contendo os principais aspectos teóricos das complexas relações entre religião cristã e modernidade.

• Capítulo 2 - No que tange ao tema abordado, fiz, neste capítulo, uma análise, ainda que de forma exploratória, das percepções e das ações dos pastores entrevistados. Nesse aspecto, eu chamo a atenção para o fato de que são homens em posição de autoridade falando das relações de gênero.

• Capítulos 3 e 4 - Finalmente, procurei, sob a óticas das próprias mulheres, colocar em perspectiva os ensinamentos morais das comunidades selecionadas, bem como as trajetórias pessoais das fiéis, mapeando estratégias de reapropriação/ resignificação dos símbolos religiosos. A partir desses relatos, procurei destacar aqueles elementos situados ao nível do plano micro, os pequenos atos que, por momentos contínuos, interferem nos componentes desse campo de forças.

• Considerações finais

Os discursos das lideranças religiosas pentecostais como "celebração da

diferença"• D i s c u r s o s c o m p re t e n s õ e s u n i v e r s a l i z a n t e s e ,

frequentemente, essencialistas. Ou seja, os papéis atribuídos às mulheres e aos homens, vistos por nossos entrevistados como “naturais", aparecem associados a um conjunto de imagens naturalizadas/ sacralizadas de identidades fixas.

• "Familismo" ao nível do discurso e, simultaneamente, uma maior aceitação do divórcio ao nível das práticas sociais.

• Esse conjunto de percepções/ representações foi analisado ora nos termos de uma "carência de capital teológico" ora enquanto expressão clara de várias “ressacralizações laicas” processadas ao longo da modernidade.

Os discursos e as práticas dos pastores presbiterianos

• A própria instituição eclesiástica, num contexto bastante diferenciado, contribuiu para a formação de líderes "críticos" (no sentido de serem questionadores dos critérios e das alternativas institucionais) e, ao mesmo tempo, incapazes de engendrar qualquer transformação de longo alcance no âmbito das congregações locais.

• No plano das percepções, concordam com a ordenação de mulheres ao sacerdócio, não aceitam a moralidade disciplinar da instituição, rejeitam a regulação da sexualidade e gostariam de ver suas filhas longe do conservadorismo protestante. Ou seja, a pesquisa detectou a existência de uma lacuna entre os valores pessoais (o nível da individualidade) e a práticas institucionais (o nível doutrinário).

• Essas ambiguidades consubstanciaram-se numa espécie de "ética da transgressão" durante os anos de seminário.

As mulheres presbiterianas• Entre as mulheres da IPB, a experiência religiosa e as carreiras individuais geralmente

se constroem sob a ótica de valores familistas tradicionais, mas não sem ambiguidades.

• Em muitas entrevistas, encontrei a noção de que mulher deve ser submissa ao marido e, ao mesmo tempo, engajada no espaço público segundo uma perspectiva modernizante da sociedade. Isto é, no plano das práticas sociais, a mulher presbiteriana assume algo que é atribuído tradicionalmente aos homens. Por outro lado, no plano das representações sociais, o patriarcalismo se expressa de diversas maneiras.

• No que concerne aos núcleos familiares, encontrei intensas expectativas de reprodução transgeracional do pertencimento/adesão/ethos religioso.

• O pertencimento às congregações locais tende a se apresentar fortemente amarrado, principalmente em função da importância que se dá aos valores religiosos no âmbito das redes familiares (e vice e versa).

• Curiosamente, o engajamento religioso se fragiliza consideravelmente após o casamento. Aliás, esse "deslocamento de interesses" é fator fundamental na manutenção das mulheres na zonas periféricas do sistema religioso.

E as mulheres assembleianas?

• A maioria delas foi educada em ambientes caracterizados pela intensa normatização das práticas e das condutas.

• As percepções das mulheres pentecostais são marcadas por uma maior "senso de individualidade". Algumas delas, inclusive, indicam a necessidade de se respeitar “as escolhas dos filhos/ filhas", em todos os aspectos.

• Trajetórias marcadas por frequentes descontinuidades. Nesse aspecto, trabalhei com a hipótese dessas oscilações identitárias serem potencializadas por uma mensagem religiosa que enfatiza a preeminência da “escolha do indivíduo". Ou seja, nos relatos, encontrei um conjunto de representações afinadas com elementos da “ideologia do individualismo.

• Embora os discursos sejam, em alguns aspectos, bastante parecidos, as crenças, as práticas e as representações religiosas têm sido apropriadas, reinterpretadas e até mesmo subvertidas pelas mulheres assembleianas no conjunto das relações de poder.

• Diferentemente das mulheres presbiterianas, as mulheres assembleianas dialogam melhor com as questões do “sacerdócio feminino”, do divórcio etc.

Considerações finais

Em suma, as diferenças entre os dois grupos poderiam ser descritas em termos de “projetos eclesiásticos distintos”, havendo, também, diversos níveis de pertencimento e adesão.

Referência

SOUZA, Robson. Mulheres evangélicas e práticas rel igiosas: uma anál ise comparat iva na perspectiva de gênero. 2013. 189p. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: http://teses2.ufrj.br/30/teses/811562.pdf ou em https://d r i v e . g o o g l e . c o m / f i l e / d / 0 B 1 r 5 Te _ X T-PtQXJZUzFWbTN2Zkk/edit?usp=sharing