Mudi empreendorismo no servico publico
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IMPLANTAÇÃO DO MUSEU DINÂMICO INTERDISCIPLINAR DA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ: UM ATO DE
EMPREENDEDORISMO NO SERVIÇO PÚBLICO1
JANETE APARECIDA DOS SANTOS PEREIRA
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo descrever a criação do Centro Interdisciplinar de
Ciências da Universidade Estadual de Maringá (UEM), seu crescimento e sua
transformação no Museu Dinâmico Interdisciplinar, o que a nosso ver caracteriza-se como
um ato empreendedor de um grupo de professores, técnicos e alunos da UEM. Os dados
foram obtidos através da análise de documentos e relatórios realizados no período de 1986
a 2008, disponíveis no acervo bibliográfico do Museu Dinâmico Interdisciplinar,
localizado no Bloco O-33, na Universidade Estadual de Maringá, campus sede, na cidade
de Maringá, PR. O histórico de obtenção de recursos e as estratégias empregadas para
construção da sede e implantação das ações itinerantes são analisados e comparados aos
conceitos de empreendedorismo, sob a ótica do empreendedorismo social.
PALAVRAS-CHAVE: Empreendedorismo Social. Serviço público. Educação não
formal. Museu de ciências.
INTRODUÇÃO
Consultando o histórico constante da página do Museu Dinâmico Interdisciplinar
(MUDI) nos ocorreu a idéia de que para realizar o percurso que vai desde a criação do
Centro Interdisciplinar de Ciências, em 1985, até a construção da sede do Museu
Dinâmico Interdisciplinar, no ano de 2005, foi necessário um forte espírito de equipe,
associado à capacidade empreendedora por parte de um grupo de servidores da
Universidade Estadual de Maringá. Buscamos então na literatura, diversos conceitos e
abordagens sobre o que vem a ser empreendedorismo. Estes conceitos e abordagens foram
lapidados até chegar ao entendimento do que vem a ser empreendedorismo social.
1 Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização, apresentado como requisito parcial para a
obtenção do título de especialização em Liderança e Empreendedorismo no Serviço Público.
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Verificamos que a definição de empreendedor evoluiu com o decorrer do tempo, à
medida que a estrutura econômica mundial mudava e tornava-se mais complexa. Desde
seu início, na Idade Média, quando era usada para se referir a ocupações específicas, a
noção de empreendedor foi refinada e ampliada, passando a incluir conceitos relacionados
com a pessoa, em vez de com sua ocupação. Os riscos, a inovação e a criação de riqueza
são exemplos dos critérios que foram desenvolvidos à medida que evoluía o estudo da
criação de novos negócios.
Em 1985 o empreendedorismo foi definido por Hisrich e Brush, como sendo “o
processo de criar algo novo com valor dedicando o tempo e o esforço necessário,
assumindo os riscos financeiros, psíquicos e sociais correspondentes e recebendo as
conseqüentes recompensas da satisfação e independência econômica e pessoal.”
(HISRICH e PETERS, 2004, p. 29)
Neste contexto o empreendedorismo envolve primeiramente o processo de criação,
ou seja, de criar algo novo e de valor, tanto para o empreendedor quanto para o público
para o qual a criação foi desenvolvida. Num segundo momento o empreendedorismo exige
a dedicação do tempo e do esforço necessários. Apenas quem se dedica a um
empreendimento aprecia a significativa quantidade de tempo e de esforço exigida para
criar algo novo e torná-lo operacional. Desta maneira os riscos necessários são o terceiro
aspecto do empreendedorismo. Tais riscos tomam uma série de formas, dependendo do
campo de atuação do empreendedor, mas em geral se concentram em torno das áreas
financeiras, psicológicas e sociais. Finalmente, a definição de empreendedorismo envolve
as recompensas de ser um empreendedor. A recompensa econômica também entra em jogo
para os empreendedores que buscam o lucro. Neste caso o dinheiro torna-se o indicador do
grau de sucesso.
Para Hisrich e Peters (2004) o termo empreendedorismo significa coisas diferentes
para pessoas diferentes, podendo ser visto sob perspectivas conceituais diferentes. Mas,
apesar das diferenças, há alguns aspectos comuns: riscos, criatividade, independência e
recompensa. Consideram que “Esses aspectos continuarão a ser a força impulsionadora
subjacente à noção de empreendedorismo no futuro.” (HISRICH e PETERS, 2004, p. 4)
Num negócio bem-sucedido além de uma boa idéia deve haver também um bom
empreendedor. A literatura existente mostra que embora o empreendedor ideal não possa
ter seu perfil traçado, há certas características potenciais e certas tendências que ele poderá
seguir. As características da personalidade empreendedora, uma correta modelagem do
negócio e um planejamento bem elaborado, aumentam as chances de sucesso de um
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empreendimento. “(...) Rotineira e popularmente, empreendedores bem-sucedidos são
vistos como pessoas com ‘tino’, com ‘visão’, ‘visionários’, ‘líderes’, além do que
empreendedor tem a conotação de realizador, enérgico e persistente.” (BERNARDI, 2007,
p. 68)
Com relação ao estudo do empreendedorismo muita coisa ainda está em fase de
desenvolvimento, mas uma afirmação já pode ser feita: “o empreendedor deve ser alguém
que apresente alto comprometimento com o meio-ambiente e com a comunidade, dotado
de forte consciência social.” (DOLABELA, 2006, p.51)
O tema empreendedorismo social também é recente, existindo poucos
apontamentos bibliográficos a este respeito, mas, na prática, já acontece há muito tempo.
O estudo realizado demonstrou que tanto no Brasil quanto no exterior o assunto foi pouco
discutido, estando em fase de construção. Por ser precoce gera ainda algumas confusões de
cunho interpretativo. Por exemplo, termos como responsabilidade social e
empreendedorismo privado são bem distintos, mas ocorre de serem entendidos, tanto por
pesquisadores brasileiros quanto estrangeiros, como similares.
Para melhor compreensão do tema proposto apresentamos, primeiramente, alguns
conceitos nacionais e internacionais do significado contemporâneo de empreendedorismo
social. Logo após são traçadas as principais diferenças existentes entre os termos
responsabilidade social empresarial e empreendedorismo privado, tão comumente
confundidos com o empreendedorismo social.
Nas universidades a prática do empreendedorismo social já acontece há muito
tempo. A Reforma Universitária aprovada pela lei nº 5540 de 28/11/1968, estabeleceu a
obrigatoriedade da extensão em todas as instituições de ensino superior, vista então sob a
ótica de cursos e serviços especiais estendidos à comunidade. Num segundo momento a
extensão assumiu outra dimensão, tornando-se indissociável do ensino e da pesquisa.
Atualmente a discussão sobre o conceito de extensão passa por uma revisão, assim como a
discussão sobre a função social da Universidade.
Para Abreu (2001) mudar o patamar da educação para a ciência e para a tecnologia
requer um esforço consistente, resultando de ações sistêmicas em todos os aspectos do
processo educacional, destacando-se a importância da prática pedagógica na decodificação
das informações científicas e tecnológicas. Atingir o desenvolvimento sustentável do país
exige elevar o patamar de informação e formação da população. A alfabetização científica
e tecnológica e a popularização da ciência são elementos fundamentais para construção da
cidadania e solidariedade, bem como para a crescente competitividade do setor produtivo
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nacional e para a preservação e sustentabilidade dos ecossistemas e do patrimônio cultural.
Finalmente, aumentar a capacidade de inovação do país exige ações que aproximem, de
maneira integrada e interdisciplinar, a ciência da tecnologia e o complexo técnico
científico dos complexos produtivos.
O objetivo deste trabalho é descrever uma ação empreendedora no setor público,
que resultou na implantação do Museu Dinâmico Interdisciplinar (MUDI) da UEM, o qual
visa promover a interação dos conhecimentos acadêmicos com os saberes e práticas
sociais acumuladas, constituindo-se em um Centro de Divulgação Científica por meio da
Educação Continuada para a comunidade em geral; de atualização para professores da
rede Estadual, Municipal e Privada; de interação dos acadêmicos de graduação com a
comunidade e, também, um centro de observações sistemáticas para a coleta de dados para
pesquisa.
1. MATERIAL E MÉTODO
Foi realizado um estudo documental visando descrever como foi construído o
Museu Dinâmico Interdisciplinar da Universidade Estadual de Maringá.
Os dados foram obtidos através da análise de documentos e relatórios realizados no
período de 1986 a 2008, disponíveis no acervo bibliográfico do MUDI, localizado no
Bloco O-33, na Universidade Estadual de Maringá, campus sede, na cidade de Maringá,
PR, e foram analisados sob a óptica de múltiplos conceitos de empreendedorismo.
2. ENTENDENDO O EMPREENDEDORISMO SOCIAL
De acordo com os estudos realizados por Oliveira (2004), parte da pouca
bibliografia disponível sobre o assunto é encontrada em artigos e trabalhos produzidos por
outros países.
Para melhor compreensão do que vem a ser “empreendedorismo social” são
apresentados, a seguir, sob a ótica de algumas organizações internacionais, alguns
conceitos sobre o assunto. Estes estudos desenvolvidos pela School Social
Entrepreneurship – SSE, UK – Reino Unido, Canadian Center Social Entrepreneurship –
CCE, Canadá: Foud Schwab, Suíça; e The Institute Social Entrepreneurs – ISE, Estados
Unidos, têm influenciado a disseminação do conceito e da prática do empreendedorismo
social.
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QUADRO 1 – CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL – VISÃO INTERNACIONAL
ORGANIZAÇÃO ENTENDIMENTO
School Social Entrepreneurship – SSE, UK-
Reino Unido
É alguém que trabalha de uma maneira empresarial, mas
para um público ou um benefício social, em lugar de ganhar
dinheiro. Empreendedores sociais podem trabalhar em
negócios éticos, órgãos governamentais, públicos,
voluntários e comunitários [...] Empreendedores sociais
nunca dizem ‘não pode ser feito’.
Foud Schwab, Suíça
São agentes de intercambiação da sociedade por meio de:
proposta de criação de idéias úteis para resolver problemas
sociais, combinando práticas e conhecimentos de inovação,
criando assim novos procedimentos e serviços; criação de
parcerias e formas/meios de auto-sustentabilidade dos
projetos; transformação das comunidades graças às
associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no
mercado para resolver os problemas sociais; identificação de
novos mercados e oportunidades para financiar uma missão
social. [...] características comuns aos empreendedores
sociais; apontam idéias inovadoras e vêem oportunidades
onde outros não vêem nada; combinam risco e valor com
critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas
concretos, são visionários com sentido prático, cuja
motivação é a melhoria de vida das pessoas, e trabalham 24
horas do dia para conseguir seu objetivo social.
The Institute Social Entrepreneurs – ISE,
EUA
Empreendedores sociais são executivos do setor sem fins
lucrativos que prestam maior atenção às forças do mercado
sem perder de vista sua missão (social) e são orientados por
um duplo propósito: empreender programas que funcionem
e estejam disponíveis às pessoas (o empreendedorismo
social é base nas competências de uma organização),
tornando-as menos dependentes do governo e da caridade.
Ashoka, Estado Unidos
Os empreendedores sociais são indivíduos visionários que
possuem capacidade empreendedora e criatividade para
promover mudanças sociais de longo alcance em seus
campos de atividades. São inovadores sociais que deixarão
sua marca na história.
Erwing Marion, Kauffman Foundation
Empreendedorismo sem fins lucrativos são o
reconhecimento de oportunidades de cumprimento de uma
missão para criar e sustentar um valor social, sem se ater
exclusivamente aos recursos. FONTE: Oliveira (2004)
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Ainda, segundo Oliveira (2004), os conceitos investigados no Brasil são
semelhantes aos encontrados no exterior, conforme pode ser observado no quadro a seguir.
QUADRO 2 – CONCEITOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL – VISÃO NACIONAL
AUTOR CONCEITO
Leite (2002)
O empreendedor social é uma das espécies do gênero
dos empreendedores. [...] São empreendedores com
uma missão social, que é sempre central e explícita.
Ashoka Empreendedores Sociais e Mackisey E Cia.
INS (2001)
Os empreendedores sociais possuem características
distintas dos empreendedores de negócios. Eles
criam valores sociais pela inovação, pela força de
recursos financeiros em prol do desenvolvimento
social, econômico e comunitário. Alguns dos
fundamentos básicos do empreendedorismo social
estão diretamente ligados ao empreendedor social,
destacando-se a sinceridade, paixão pelo que faz,
clareza, confiança pessoal, valores centralizados, boa
vontade de planejamento, capacidade de sonhar e
uma habilidade para o improviso.
Melo Neto e Froes (2001)
Quando falamos de empreendedorismo social,
estamos buscando um novo paradigma. O objetivo
não é mais o negócio do negócio [...] trata-se, sim,
do negócio do social, que tem na sociedade civil o
seu principal foco de atuação e na parceria
envolvendo comunidade, governo e setor privado, a
sua estratégia.
Rao (2002)
Empreendedores sociais, indivíduos que desejam
colocar suas experiências organizacionais e
empresariais mais para ajudar os outros do que para
ganhar dinheiro.
Rouere e Pádua (2001)
Constituem a contribuição efetiva de
empreendedores sociais inovadores cujo
protagonismo na área social produz desenvolvimento
sustentável, qualidade de vida e mudança de
paradigma de atuação em benefício de comunidades
menos privilegiadas. FONTE: Oliveira (2004)
O presente estudo revela que há certa similaridade entre a lógica do
empreendedorismo empresarial com o empreendedorismo social e a responsabilidade
social empresarial, face à necessidade das empresas se inserirem no processo de
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enfrentamento dos problemas sociais, como forma de garantirem sua própria
sobrevivência.
A pura lógica do empreendedorismo empresarial prevê a produção de bens e
serviços, tendo como foco o mercado e a medida de desempenho o lucro. Visa satisfazer
as necessidades dos clientes e ampliar as potencialidades do negócio.
Já o empreendedorismo social produz bens e serviços à comunidade, mas tem
como foco a busca de soluções para os problemas sociais e, a medida de desempenho é o
impacto social. Visa respeitar pessoas da situação de risco social e promovê-las.
A responsabilidade social empresarial por sua vez, pressupõe um conjunto
organizado e planejado de ações internas e externas, com definição clara da missão e
atividade da empresa, ante as necessidades da comunidade. Para o Instituto Ethos a
responsabilidade social empresarial é
a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da
empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo
estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos
ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e
a redução das desigualdades sociais" (INSTITUTO ETHOS apud RICI,
2004, p. 73)
Através deste breve estudo teórico é possível observar como, na prática, se
comporta o empreendedorismo social.
Nas universidades, através da extensão são verificadas inúmeras ações
empreendedoras, mas para fins do presente estudo será abordado, em especial, o caso da
implantação do Museu Dinâmico Interdisciplinar (MUDI) da Universidade Estadual de
Maringá UEM, por ser este um exemplo vivo de como o empreendedorismo social
acontece no serviço público.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Vivemos numa sociedade onde conhecimento, informação e cultura científica são
indispensáveis para a obtenção do sucesso profissional, bem como para a vida cotidiana. A
grande produção de conhecimentos novos e sua aplicação na forma de novas tecnologias
constituem-se em avanços que desafiam os sistemas tradicionais de ensino e por vezes
superam a sua capacidade de, por meio do ensino formal, proporcionar aos cidadãos a
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apropriação de uma cultura científica que os qualifique para exercer sua cidadania na
sociedade contemporânea.
Neste sentido, tem se observado nas últimas décadas um crescimento quantitativo e
qualitativo dos centros e museus que popularizam conhecimentos científicos e
tecnológicos por meio da educação não formal. Muitos destes museus são criados e
mantidos nas universidades por pessoas interessadas em levar ao público leigo os novos
conhecimentos da cultura geral e científica. Em muitos deles existem projetos específicos
que oferecem um conjunto de atividades voltadas à complementação da formação dos
alunos ou a atualização dos professores do Ensino Básico.
Na Universidade Estadual de Maringá (UEM) o Projeto de Extensão “Centro
Interdisciplinar de Ciências”- CIC, iniciado em 1985, teve como principal diretriz a
integração da Universidade com o Ensino Fundamental e Médio.
Inicialmente o projeto foi sediado num pequeno espaço oferecido pelo Instituto de
Educação, onde funcionava a secretaria do projeto e um acervo de materiais voltado às
Ciências Naturais. Neste ambiente eram desenvolvidos materiais instrucionais, oferecidos
cursos e a viabilização de visitas à UEM em diversas áreas, tais como: Física, Química,
Matemática, Morfologia Humana, Botânica, Saúde e Língua Inglesa. A ação
empreendedora é aqui marcada pela capacidade de um grupo de servidores públicos
(técnicos e professores), pensarem possíveis soluções para melhorar o ensino básico,
condição indispensável para que os outros níveis de ensino sejam fortalecidos. Mas para
realizar seu intento a equipe teve que conquistar seus clientes, escolas e professores, e
buscar parceiros, órgãos de fomento, que lhes proporcionassem um espaço e recursos
financeiros para trabalhar. Desta forma aquilo que se sonhou ou idealizou em 1985,
tornou-se realidade em 1986 com recursos obtidos por meio de projeto enviado à
Coordenadoria de Pessoal de Nível Superior - CAPES e ao Ministério da Educação e
Cultura – MEC. A implantação, embora ainda tímida, contava com um grupo formado por
19 professores e 08 estagiários que ousaram atravessar os muros da Universidade e
implantar um espaço alternativo de trabalho no seio de uma escola pública de ensino
fundamental e médio. “O empreendedor é alguém que sonha e busca transformar seu
sonho em realidade.” (DONABELA, 2006, p. 25)
Em 1989 o grupo conseguiu um novo avanço, a transferência do espaço da
secretaria do Centro Interdisciplinar de Ciências para o Campus Universitário e a
implantação de pequenos “museus” das áreas de anatomia humana, física, química e
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matemática, junto aos departamentos. Houve também uma ampliação de ações nas escolas
com implantação de pequenos postos meteorológicos e hortas de plantas medicinais.
A utilização social das coleções dos materiais de diferentes áreas, que participavam
do CIC, fez com que o atendimento crescesse ano a ano. Devido às limitações das
instalações físicas, não era possível atender as inúmeras solicitações de trabalhos, pois,
além do ensino fundamental e médio, também pastorais da saúde, curso técnico em
música, grupos de cortadores de cana, corpo de bombeiros, polícia rodoviária, empresas,
instituições de ensino superior particulares interessadas em ter uma estrutura semelhante e
várias pessoas que viam, no aprendizado por meio dos cursos oferecidos, a possibilidade
de iniciar seu próprio negócio, por exemplo, por meio do cultivo e comercialização de
plantas medicinais. Indubitavelmente a comunidade extra-universitária via com bons olhos
as trocas de conhecimentos realizadas com os professores e alunos universitários que
atuavam no CIC.
É discussão corrente que o processo econômico e social de um país depende,
sobretudo, do fortalecimento e da credibilidade das instituições públicas. Dentre essas,
destacam-se as universidades como valiosos patrimônios sociais exercendo as funções de
Ensino, Pesquisa e Extensão. Além disso, são responsáveis pela geração, sistematização e
transmissão do conhecimento e do saber, preservando e estimulando a produção, criação e
difusão cultural, filosófica, científica e artística. Possibilitam, ainda, a criação de
tecnologias e são partícipes na solução dos problemas sociais (Schlemper Júnior, 1989).
A implantação do novo currículo Básico para as Escolas Públicas do Paraná em
1990 gerou uma grande demanda por capacitação dos professores do ensino fundamental e
médio que já se encontravam em serviço, porém poucos eram os docentes universitários
que se sentiam preparados ou direcionavam suas atividades para tal ação extensionista. Os
docentes e estagiários do CIC se envolveram neste processo de capacitação e desta forma
ofertaram numerosos cursos alcançando professores de todo o estado. Capitalizaram,
portanto, conhecimentos novos e reconhecimento por parte dos educadores do Paraná, ao
mesmo tempo em que foram amplamente divulgadas as ações realizadas na sede do CIC,
aumentando a demanda de visitas, bem como o interesse de novos acadêmicos e
professores universitários em participar do projeto. Essa demanda crescente levou os
docentes vinculados ao CIC a refletirem sobre a viabilidade da expansão de suas
atividades.
A idéia de um empreendimento surge da observação, da percepção e
análise de atividades, tendências e desenvolvimentos, na cultura, na
sociedade, nos hábitos sociais e de consumo. As oportunidades
detectadas ou visualizadas, racional ou intuitivamente, das necessidades
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e das demandas prováveis, atuais e futuras, e necessidades não atendidas
definem a idéia do empreendimento. (BERNARDI, 2007, pg. 63)
Neste caso percebia-se claramente um anseio da comunidade em geral para
“consumir cultura e conhecimentos científicos”. Porém manter as ações já havia se
tornado complexo devido à falta de novos editais para o fomento a estes projetos. A
equipe busca então uma oportunidade de sustentar o projeto por meio da geração de
recursos próprios. Dentre as muitas temáticas trabalhadas em uma visão interdisciplinar
estavam as plantas medicinais, seus benefícios, importância de cultivo, perigos do
extrativismo, formas de preparo e utilização. Havia um vácuo, a falta de um livro que
fosse simples o suficiente para ser entendido por leigos e por professores de ciências sem,
contudo, perder a cientificidade. A equipe de professores e alunos universitários realizou
um levantamento, com a ajuda de professores, benzedeiras e curandeiros de todo o estado,
verificando quais as plantas medicinais mais utilizadas e como isto se processava na
cultura popular. De posse destes conhecimentos realizou pesquisa bibliográfica e produziu
o livro “Noções sobre o Organismo Humano e Utilização de Plantas Medicinais” (Silva et
al. 2005), retornou à comunidade e ofereceu numerosos cursos de capacitação com intuito
de corrigir visões erradas do uso das plantas medicinais, bem como, de coletar novas
informações populares motivadoras para novos estudos científicos. Ao mesmo tempo
assessorou a implantação de hortos de plantas medicinais em outros órgãos como, escolas,
universidades, prefeituras entre outros, sempre com mudas botanicamente identificadas e
cujos princípios ativos estivessem farmacologicamente avaliados.
Desta forma o CIC realizava um conjunto de ações que trazia em si o caráter de
uma extensão universitária dinâmica, atual e empreendedora, pois segundo o Plano
Nacional de Extensão Universitária do Fórum Nacional de Pró-Reitores das Universidades
Públicas Brasileiras (2001), a extensão universitária é o processo educativo, cultural e
científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação
transformadora entre universidade e sociedade. A extensão é uma via de mão dupla, com
trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a
oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à
universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão
teórica, será acrescido àquele conhecimento. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes
sistematizados, acadêmico e popular, terá como conseqüências a produção do
conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a
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democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na
atuação da universidade.
Cabe ainda destacar que os custos da primeira edição do Livro “Noções sobre o
Organismo Humano e Utilização de Plantas Medicinais” foi rateado entre os próprios
autores e numerosos professores do Paraná que convencidos da importância do CIC e de
suas ações compraram antecipadamente o livro para custear os serviços gráficos. Foram
produzidas 5 edições que por quase uma década representou a principal forma de angariar
recursos para manter o projeto e para construir o “Horto Didático de Plantas Medicinais
Irenice Silva” da UEM, bem como para viabilizar a primeira edição de outros livros, cujos
recursos são utilizados pelos autores para adquirir materiais e equipamentos que são
doados ao Museu.
( ... ) é fácil perceber que a perseverança é um atributo de quem gosta
muito do que faz. A liderança nasce da capacidade de convencer pessoas
a nos apoiar e seguir. Só um apaixonado consegue se dedicar tanto a um
sonho a ponto de conhecê-lo na sua integridade e assim adquirir a
capacidade de seduzir pessoas para participar de sua realização.
(DOLABELA, 2006, p. 36)
Na equipe do CIC existiam vários apaixonados, que há anos se dedicavam ao
sonho de ver o crescimento qualitativo e quantitativo de suas ações. Porém convencer a
sociedade a ajudar a equipe a dar o próximo passo, ou seja, construir uma sede que
reunisse os diversos projetos com seus acervos em um único local, de maneira a
potencializar as ações e interações por meio de uma convivência mais próxima entre os
diversos atores não se mostrava uma missão fácil.
Desta forma, em 1999, a equipe dos diferentes projetos realizou a I Mostra do
“Museu Dinâmico Interdisciplinar” (nome a ser adotado pelo CIC, em função das
características que possuía de um museu de divulgação científica e tecnológica) em
integração com a Semana de Artes da UEM. Por uma semana o Departamento de Ciências
Morfofisiológicas foi fechado, e suas salas e laboratórios foram transformados em espaços
de exposições de ciência e arte para dar idéia à comunidade universitária e à sociedade de
como seria o Museu Dinâmico Interdisciplinar. Nesta mostra que teve como tema
unificador “cultura alimento do corpo e da alma”, foram atendidas em apenas uma semana
4950 pessoas. Como forma de motivar a reflexão sobre a importância de se construir o
museu, foram colocadas faixas e cartazes com o seguinte dizer “Maringá merece um
museu assim”.
A exposição do acervo de maneira mais adequada demonstrou a capacidade que as
coleções museológicas tinham de comunicarem-se com o público em geral, reforçando a
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colocação de Santos (1987, 1990a, 1990b) que “a ação museológica nos conduz ao
entendimento e à aceitação do compromisso social.”
Primeiro fruto desta ação foi o convite para a equipe realizar uma ação semelhante
na Cidade de Goiânia como parte do Congresso Luso Brasileiro de Morfologia, com todos
os custos bancados pelo CNPq e outros órgãos de fomento.
Em 2001, o CIC atendeu cerca de 15.000 pessoas com visitas monitoradas, com
palestras e cursos realizados na UEM, sendo que mais de 20.000 solicitações deixaram de
ser atendidas por falta de estrutura, demonstrando, portanto, a existência de uma demanda
reprimida.
Em 2002, além do público atendido rotineiramente (cerca de 15.000 pessoas), a
equipe realizou a “III Mostra do Museu Dinâmico Interdisciplinar” em lonas de circo
armadas no espaço da feira do produtor em Maringá, alcançando com a mostra um público
de 15.623 pessoas, uma grande divulgação na mídia e a conquista de um outro olhar pela
Universidade que então se propôs a dar início ao processo de construção da sede.
Acredita-se hoje que o empreendedor seja, o ‘motor da economia’”, um
agente de mudanças. Muito se tem escrito a respeito, e os autores
oferecem variadas definições para o termo. O economista austríaco
Schumpter (1934) associa o empreendedor ao desenvolvimento
econômico, a inovação e ao aproveitamento de oportunidades em
negócios. ( ... ) a definição de Filion (1991): ‘um empreendedor é uma
pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões.’ (DOLABELA, 2006,
p. 25 )
Aproveitar oportunidades e realizar visões foi o que a equipe teve e tem que fazer
para construir e manter o museu. As várias tentativas de conseguir fomento para construir
o museu foram frustrantes. Isto gerou uma inquietação e a busca de alternativas. Desta
forma a partir de 1993 a equipe passou a oferecer voluntariamente cursos de
especialização aos finais de semana, pois havia uma grande demanda, em função da
carreira docente no ensino fundamental e médio e também por parte de profissionais
liberais. Os recursos obtidos serviram para a compra de materiais necessários ao início da
obra em 2003.
Os recursos angariados com os cursos de especialização eram suficientes para
construir a estrutura, mas insuficientes para o acabamento. Mesmo assim a equipe correu o
risco e solicitou que a obra fosse iniciada, pois entendia que seria mais fácil encontrar
parceiros para sua finalização do que para o seu início.
Segundo Dornelas (2003) entre as características-chave dos empreendedores está a
proatividade, persistência, capacidade de inovar, agilidade na tomada de decisão,
iniciativa, capacidade de avaliar e assumir riscos, trabalhar em equipe, capacidade de
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planejar, persuasão e habilidade ao vender suas idéias dentro e fora da organização,
motivação, busca de diferenciação, auto-estima, entre outras. Ainda de acordo com
Dornelas “a palavra empreendedor (entrepreneur) tem origem francesa e quer dizer aquele
que assume riscos e começa algo novo” (DORNELAS, 2005, p. 29). Para este pesquisador
algumas características estão implícitas a qualquer definição de empreendedor, tais como:
ter iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz, transformar o ambiente,
aproveitando criativamente os recursos disponíveis.
Portanto, novamente a equipe se viu frente à necessidade de convencer pessoas e
instituições da importância do Museu. Desta forma, no ano de 2004 realizou-se na Vila
Olímpica, em Maringá, a “IV Mostra do Museu Dinâmico Interdisciplinar, em integração
com a VII Semana de Artes da UEM e II Mostra Integrada de Ensino Pesquisa e
Extensão”, tendo como tema: Beleza de Corpo e Alma. Alcançou-se um público de 25.267
pessoas. Na oportunidade foram convidados o delegado da Receita Federal, presidentes de
vários clubes de serviços e de ONGs, para conhecer o espaço e vislumbrar no concreto
como viria a ser o Museu Dinâmico Interdisciplinar. Convencidos da importância e
qualidade das ações, a Receita Federal doou mercadorias e, o Lions Clube e o Rotary
Clube realizaram bazares, o que resultou na arrecadação de fundos que serviram para a
aquisição dos materiais de acabamento e aquisição de equipamentos básicos, os quais
possibilitaram terminar a obra e dar início ao funcionamento do MUDI.
Nesta trajetória a equipe de servidores envolvidas com o MUDI vivia uma relação
constante entre o que almejava e os problemas que se apresentavam, contrariando a
retórica de que o servidor público não empreende, pois a equipe sempre buscava soluções
criativas para dar continuidade ao empreendimento iniciado, ou seja, construir o que
denominava de fase 1 do MUDI, um prédio com 1.700m2, e ao mesmo tempo já sonhava
com sua expansão futura que viria por meio de uma fase 2.
O método do big-dream requer que o empreendedor ‘sonhe’ com o
problema e sua solução, em outras palavras, que ele pense grande.
Todas as possibilidades devem ser registradas e investigadas sem levar
em conta nenhum dos pontos negativos envolvidos ou os recursos
necessários. As idéias devem ser conceitualizadas sem quaisquer
restrições, até que uma idéia seja desenvolvida de uma forma viável.
(HISRICH e PETERS, 2006, p. 171)
A Inauguração da fase 1 da construção da sede do museu permitiu aumentar a
capacidade e a qualidade do atendimento à comunidade extra-universitária, fortalecer as
ações relacionadas ao processo de educação informal como complementação da educação
formal e expansão cultural, reunir em um único local os acervos e atividades dos 24
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projetos que integravam o programa em maio de 2005 e atender grande parte da demanda
reprimida, dando oportunidade inclusive às famílias, para que aos domingos pudessem
conjuntamente aprender e se divertir no espaço do MUDI. Neste sentido Abreu destaca
que,
(...) a formação do indivíduo, tanto nos seus aspectos
básicos/fundamentais, quanto na sua formação científica, não deve ficar
restrita apenas ao espaço escolar: ampliaram-se os espaços de formação
complementar, como museus e centros de ciências, entre outros, que
efetivamente contribuem para desenvolver uma cultura científica, que
devem ser reforçados, modernizados, reciclados, atualizados, para que
atendam as necessidades geradas pelo novo paradigma, assim como
possa continuar a contribuir para diminuir as enormes desigualdades
herdadas do passado remoto e recente. (ABREU, 2001, p. 27)
No MUDI há uma diversidade de ambientes e ações onde se pode aprender a
digitar e navegar na internet, sobre física de forma lúdica, discutir a evolução da vida,
compreender a constituição e o funcionamento do corpo humano e dos animais,
acompanhar e compreender o processo de pesquisa para produção de mudas de orquídeas
e bromélias a partir de sementes como forma de propiciar seu uso comercial sem depredar
o meio ambiente. Tudo isto contando com objetos concretos organizados em exposições
temáticas para mediarem as aprendizagens que ali ocorrem, com monitores e professores
que acompanham o visitante.
Lourenço (2000) argumenta que se pode nomear verdadeiramente como um bem,
que se espera público, o abrigado nos museus, uma vez que em seu conjunto incluem-se
elementos naturais e do meio ambiente, processos, técnicas e a cultura material produzida.
A diversidade é sua riqueza e a atribuição de tal valor apresenta um grande componente
cultural, daí o denominar de bem cultural. Acrescenta ainda, que o museu é uma
instituição significativa, por quanto propicia a ampliação do saber em presença do acervo
recolhido, assim alargando as possibilidades de pesquisa, ensino e extensão cultural.
No ambiente de exposição do museu foi possível conjugar uma série de relações
interessantes, constantemente atualizadas, e concentradas num mesmo espaço, tais como:
entretenimento e aprendizado, curiosidade e percepção de diferentes saberes, exercícios de
reflexão e observação, o que torna o processo de aprendizado dinâmico, exatamente
porque é caracterizado como aprendizado “não formal”. Nesse espaço ocorre um encontro
entre observador e objeto, no qual o visitante participa interagindo com várias de suas
capacidades intelectuais.
Finalizada a fase 1 a equipe deu início à busca de recursos para a fase 2. Novos
cursos de especialização foram oferecidos, um novo bazar com mercadorias doadas pela
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Receita Federal foi realizado, novos recursos foram angariados com a venda de livros
escritos pela equipe. Em 2006 foi firmado convênio com o Ministério da Ciência e
Tecnologia/Secretaria Nacional da Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, a qual
repassou R$ 120.013,88 que, adicionados aos recursos já mencionados e a R$ 87.000,00
concedidos pela administração da UEM, possibilitaram climatizar diversos ambientes do
MUDI, o que é indispensável para a conservação dos acervos e para o desenvolvimento de
vários experimentos. Possibilitou também, dar início à construção de um anexo com
600m2, previsto para ser inaugurado em 2009, onde serão instalados novos experimentos,
a recepção aos visitantes e o elevador de acesso ao pavimento superior, adaptado para
idosos e portadores de necessidades especiais. Na seqüência será construída uma ampla
lanchonete, visando um atendimento de melhor qualidade aos visitantes.
Assim a universidade, além das missões de ensino, pesquisa e extensão, tem
segundo Candotti (1993) três grandes modos de ser. Uma é a universidade produtora de
conhecimento que, em seus laboratórios procura saber o que acontece no mundo, na
sociedade, na natureza, trabalhar os dados, e com isso construir fatos novos. Outra, é a
universidade formadora, que ensina, que forma jovens e lhes dá as possibilidades de ler,
escrever de maneira um pouco mais sofisticado do que aquela ensinada nos ciclos
anteriores. Essa capacidade de ler, escrever, compreende também uma certa capacidade de
recuperar uma memória, de escrever uma história, de produzir uma cultura, enfim, de
estabelecer as condições de vida civilizada e se preparar para o exercício da cidadania.
Enfim, uma outra universidade, que é a universidade daquilo que chamamos de extensão,
todas aquelas atividades que a universidade exerce, formal ou informalmente, mas como
centro de difusão cultural, de conhecimento, uma espécie de laboratório que a sociedade
tem para testar experiências, para promover novas perspectivas, projetos, debates, para não
ficar restrita aos locais de seu recinto.
Ainda no ano de 2005 a equipe adquiriu uma série de equipamentos e materiais
para o Museu com recursos do CNPq, da Fundação VITAE e da Associação SER-
Maringá. Recebeu também um ônibus e um caminhão da Receita Federal, o que tem
permitido a realização de numerosas ações itinerantes onde exposições científicas e
espetáculos educativos são levados a diferentes comunidades, geralmente por meio de
parcerias com Universidades privadas, outras Universidades públicas, ONGs, Secretaria
de Estado da Educação e Secretaria de Estado da Ciência e Tecnologia.
CONCLUSÃO
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A persistência em perseguir “o sonho” de um museu de divulgação científica e
tecnológica e as diversas estratégias para garantir a sua construção e manutenção
caracteriza um forte espírito empreendedor de um grupo de servidores públicos.
A determinação, paixão, clareza, confiança, boa vontade e criatividade para
improvisos, são outros atributos do empreendedor social, os quais também estão presentes
na equipe do MUDI, demonstrando elevado grau de independência, comprometimento e
maturidade na missão de empreender programas que funcionem e estejam disponíveis à
comunidade, como forma de promover mudanças sociais de longo alcance em seus
diversos campos de atividades.
A implementação do Museu Dinâmico enquanto sede e enquanto estrutura de
itinerâncias significou a ampliação do espaço interativo para exposições temáticas,
facilitando o uso dos acervos científicos e tecnológicos, bem como os recursos escritos,
audiovisuais e de multimídia, tanto para a educação formal como não formal, no sentido
de inspirar, surpreender e educar. Nesta ótica, a implantação do MUDI, com a perspectiva
de possibilitar aos visitantes a ampliação dos horizontes de informação e conhecimento,
em relação ao status científico e seu significado para a vida social, econômica e cultural,
configurando-se como oportunidade altamente positiva de divulgação e popularização
científica.
A prática do empreendedorismo no serviço público, a exemplo do que acontece na
Universidade Estadual de Maringá através do MUDI, demonstra que tanto na iniciativa
privada quanto no setor público, não existe mágica para que o empreendedorismo
aconteça. No caso estudado a ação empreendedora só aconteceu e acontece porque
existem “atores” dotados de forte consciência social (professores, técnicos, entre outros)
sempre dispostos a vislumbrar novas oportunidades para a emancipação da sociedade, seja
através da criação de idéias úteis para a população, combinação de prática e conhecimento,
criação de novos procedimentos e serviços, criação de parcerias e formas de auto-
sustentabilidade dos projetos, como também através da sábia combinação de riscos com o
valor social almejado. Estes atores são capazes de trabalhar com entusiasmo, inteligência e
determinação, se necessário vinte e quatro horas por dia, a fim de alcançarem resultados
que interfiram positivamente na vida das pessoas, missão sublime de cada nação, de cada
instituição, de cada cidadão, e que deve ser incentivada, valorizada e imitada por todos os
seguimentos de nossa sociedade.
REFERÊNCIAS
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19
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