Mude ou morra

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LIVRO: MUDE OU MORRA A mudança em sua vida MUDANÇA NA PRÁTICA O Cérebro é plástico Enquanto escrevo este livro, em 2006, a General Motors está lutando para evitar a falência, um grande símbolo de fracasso. Mas o verdadeiro problema da GM, na raiz de todos os males, foi o sucesso. Como já vimos, a empresa chegou a controlar 60%do mercado automobilístico norte-americano, vendendo mais do que o dobro de carros e caminhões que a Ford e a Chrysler e seis vezes mais do que todas as concorrentes de importados juntas. A GM teve tanto sucesso durante tanto tempo que sua cultura e seu pessoal pararam no tempo. Quando o setor automobilístico começou a mudar drasticamente, a GM não mudou. Quando conversei com um dos mais renomados neurocientistas do mundo, descobri que todos nós como indivíduos enfrentamos o problema do sucesso continuado e da especialidade que dura muitos anos. Eis um exemplo: se você nasceu e foi criado nos Estados Unidos, certamente sempre soube - desde a mais tenra infância, na verdade - entender e falar inglês fluentemente. Hoje, se você tentasse com todas as suas forças aprender francês, chinês suaíli, por exemplo, teria dificuldades, cometeria erros e se sentiria um idiota. E quem quer se sentir idiota? Os cientistas acreditavam que nosso cérebro enrijecia cedo na vida - os circuitos se fechavam e não podiam ser reconectados. Mais tarde, os pesquisadores começaram a fazer imagens cerebrais, usando máquinas de imagem por ressonância magnética funcional (IRMf), que produziam fotos com detalhes vívidos do cérebro, possibilitando visualizar como determinadas regiões tinham se expandido ou contraído com o tempo. Eles perceberam que a capacidade de o cérebro mudar - ou seja, a assim chamada plasticidade do cérebro – é duradoura. Podemos aprender coisas novas e complexas aos 30 ou até mesmo aos 80 anos. Então, por que isso não acontece? Esta foi a questão que eu discuti com Michael Merzenich, professor de neurociência da Universidade da Califórnia, em São Francisco. Merz", como é carinhosamente chamado, foi pioneiro no estudo da plasticidade do cérebro e continua sendo um de seus principais representantes. Ele é tranqüilo, amável e gordo. Enquanto mastiga suas batatas fritas, fico imaginando se ele já ouviu falar dos programas realizados por seu colega na UCSF,o dr. Dean Ornish. A inteligência de Merz é tão inspiradora que temo que seu coração não agüente e o mundo perca todos os benefícios advindos de seu cérebro. Merzenich começou a explicar seu campo de atuação falando sobre ratos. É possível treinar um rato para que ele adquira uma nova habilidade. O rato resolve um problema e recebe uma recompensa em forma de comida. Depois de 200 vezes, ele consegue se lembrar de como resolver o problema praticamente pelo resto de sua vida. O rato desenvolveu um hábito. Pode realizar a tarefa automaticamente porque seu cérebro mudou. 1

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MUDANÇA NA PRÁTICA

O Cérebro é plástico

Enquanto escrevo este livro, em 2006, a General Motors está lutando para evitar a falência, um grande símbolo de fracasso. Mas o verdadeiro problema da GM, na raiz de todos os males, foi o sucesso.

Como já vimos, a empresa chegou a controlar 60%do mercado automobilístico norte-americano, vendendo mais do que o dobro de carros e caminhões que a Ford e a Chrysler e seis vezes mais do que todas as concorrentes de importados juntas. A GM teve tanto sucesso durante tanto tempo que sua cultura e seu pessoal pararam no tempo. Quando o setor automobilístico começou a mudar drasticamente, a GM não mudou. Quando conversei com um dos mais renomados neurocientistas do mundo, descobri que todos nós como indivíduos enfrentamos o problema do sucesso continuado e da especialidade que dura muitos anos.

Eis um exemplo: se você nasceu e foi criado nos Estados Unidos, certamente sempre soube - desde a mais tenra infância, na verdade - entender e falar inglês fluentemente. Hoje, se você tentasse com todas as suas forças aprender francês, chinês suaíli, por exemplo, teria dificuldades, cometeria erros e se sentiria um idiota.

E quem quer se sentir idiota?Os cientistas acreditavam que nosso cérebro enrijecia cedo na vida - os circuitos se fechavam e

não podiam ser reconectados. Mais tarde, os pesquisadores começaram a fazer imagens cerebrais, usando máquinas de imagem por ressonância magnética funcional (IRMf), que produziam fotos com detalhes vívidos do cérebro, possibilitando visualizar como determinadas regiões tinham se expandido ou contraído com o tempo. Eles perceberam que a capacidade de o cérebro mudar - ou seja, a assim chamada plasticidade do cérebro – é duradoura. Podemos aprender coisas novas e complexas aos 30 ou até mesmo aos 80 anos. Então, por que isso não acontece?

Esta foi a questão que eu discuti com Michael Merzenich, professor de neurociência da Universidade da Califórnia, em São Francisco. Merz", como é carinhosamente chamado, foi pioneiro no estudo da plasticidade do cérebro e continua sendo um de seus principais representantes.

Ele é tranqüilo, amável e gordo. Enquanto mastiga suas batatas fritas, fico imaginando se ele já ouviu falar dos programas realizados por seu colega na UCSF,o dr. Dean Ornish. A inteligência de Merz é tão inspiradora que temo que seu coração não agüente e o mundo perca todos os benefícios advindos de seu cérebro.

Merzenich começou a explicar seu campo de atuação falando sobre ratos. É possível treinar um rato para que ele adquira uma nova habilidade. O rato resolve um problema e recebe uma recompensa em forma de comida. Depois de 200 vezes, ele consegue se lembrar de como resolver o problema praticamente pelo resto de sua vida. O rato desenvolveu um hábito. Pode realizar a tarefa automaticamente porque seu cérebro mudou.

Do mesmo modo, temos milhares de hábitos - por exemplo, como usar uma caneta - que realizamos de maneira automática porque criamos mudanças duradouras em nosso cérebro, por meio da repetição. Para especialistas altamente treinados, como músicos profissionais, as mudanças aparecem conspicuamente nas imagens de ressonância magnética do cérebro. Se você praticou um instrumento durante várias horas por dia, durante várias décadas, isso faz muita diferença. Os flautistas, por exemplo, têm representações físicas especialmente grandes em seus cérebros nas áreas que controlam os dedos, a língua e os lábios. "Eles distorceram seus cérebros" / explica Merzenich. Os empresários também são especialistas altamente treinados e distorceram seu cérebro do mesmo modo. Um executivo veterano "tem poderes que um jovem que acaba de chegar não tem", afirma Merzenich. Ele tem uma série de habilidades e técnicas especializadas. Um especialista é algo difícil de criar e valioso para uma empresa, mas a especialização também gera uma "rigidez" inerente. O peso cumulativo da experiência torna o processo de mudança mais difícil.

Como é possível superar esses fatores? Merzenich afirma que a chave é manter a máquina do cérebro pronta para aprender. "Quando se é jovem, praticamente tudo que você faz envolve aprendizado baseado no comportamento - é um período incrivelmente plástico e poderoso", afirma ele. "O que acontece que nos torna tão apáticos é que paramos de aprender e paramos de usar a máquina; assim, ela começa a morrer." A menos que trabalhe esse aspecto, a saúde do

cérebro começa a declinar em torno dos 30 anos para os homens e um pouco mais tarde para as mulheres. "As pessoas confundem 'ser ativo' com aprendizado contínuo", explica Merzenich. "A máquina

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só é ativada pelo aprendizado. As pessoas pensam que estão levando uma vida interessante quando não aprenderam nada em 20 ou 30 anos."

Confortáveis com nosso sucesso, relutamos em ser como os ratos de laboratório de Merz e lutar com um novo problema centenas de vezes até conseguirmos resolvê-Io sem esforço. Somos avessos à árdua prática e à incansável repetição que gera mudança em nosso cérebro.

Se você é um sócio sênior de um grande escritório de advocacia tributarista, então ler os mais recentes artigos sobre direito tributário não é o que Merz quer dizer com" aprendizado". O sócio sênior já é especialista nesse tipo de lógica verbal específica. Nesse caso, o verdadeiro aprendizado pode consistir em fazer aulas introdutórias de esqui ou dança de salão. A idéia é escapar de sua especialização e tornar-se aprendiz em um campo totalmente diferente. Envolve assumir desafios nos quais você terá dificuldade por algum tempo, em vez de retomar situações em que você sempre se destacou durante anos. Envolve também usar diferentes tipos de inteligência - verbal, mecânica, física, matemática e similares. Por isso, aprender um idioma estrangeiro ou um instrumento musical é um exercício particularmente bom para a boa forma cerebral. "Minha sugestão é aprender espanhol ou oboé", diz Merz. Você vai saber que está aprendendo algo verdadeiramente novo e diferente se for realmente difícil durante muito tempo e

você cometer erros e lutar continuamente, sentindo-se um idiota até conseguir melhorar, e os hábitos e habilidades se tornarem automáticos.

O novo aprendizado complexo é difícil e desencorajador. Se você está acostumado a dirigir um carro com câmbio automático, imagine pegar um carro com transmissão manual pela primeira vez, jogar golfe ou dançar tango. Por essa razão, é bom ter um bom professor ou treinador. Os melhores professores fazem muito mais do que demonstrar a técnica e corrigir os erros. Eles inspiram e sustentam a esperança, demonstrando sua crença no aprendiz e destacando os pequenos avanços que estão sendo feitos, que normalmente nem mesmo o próprio aprendiz percebe.

Eles o convencem de sua competência e dos métodos empregados e, mais importante, convencem você do seu potencial. Qualquer tipo de mudança envolve a aquisição de novos hábitos e habilidades (Chave 2) que informam novas maneiras de pensar (Chave 3). Mudar é uma questão de treinamento e aprendizagem, mas envolve um bocado de "persuasão" (Chave 1) para motivar as pessoas a manterem o esforço necessário ao longo do tempo.

Uma vez que você tenha repensado a idéia de mudança desse modo, outro aspecto do processo fica bem mais claro. Quando estamos aprendendo um novo esporte, um instrumento musical ou outro idioma, não basta apenas ter um professor habilidoso com um bom método didático; é melhor ter o professor certo para cada um. A primeira chave da mudança trata de criar novos relacionamentos, e isso é intrinsecamente arriscado, pois implica a combinação de personalidades. É preciso haver um senso real de conexão, uma química verdadeira. É necessário que haja um bom "ajuste" entre o estudante e o professor.

Pense em namoro e casamento como exemplos das chances de se criarem relacionamentos pessoais muito íntimos. As pessoas, normalmente, passam por vários encontros ruins e diversas tentativas de estabelecer relacionamentos antes de encontrar alguém que se torne parte importante e duradoura em sua vida, que mudará sua maneira de sentir e pensar. O mesmo ocorre quando você tenta encontrar o que podemos chamar de "agente da mudança" - um mentor, professor, treinador ou modelo a ser seguido.

Descobri isso da maneira mais difícil, em dois momentos memoráveis em que me envolvi durante anos com o aprendizado e a mudança. O primeiro suplício foi minha frustração e fracasso recorrente quando tentei aprender francês. Quando eu estava na Princeton University,

na década de 1980, um dos requisitos para a graduação era cursar três semestres de língua estrangeira. A única maneira de se livrar dessa exigência era tirar 700 pontos ou mais, de um total de 800, no teste de aptidão da faculdade. Eu tirei nota "A" em francês durante todo o ensino médio, e fiz 690 pontos no exame, uma nota muito boa, o que significava que eu poderia seguir adiante e começar pelo terceiro e último semestre do curso exigido por Princeton.

Então, me matriculei em francês, sentindo-me seguro e otimista, afinal, eu havia praticamente gabaritado - apenas para me deparar com uma situação humilhante. Só se falava francês na sala de aula, tão pequena que não havia como se esconder. Minha capacidade para ouvir e falar francês era terrível. O professor de francês de minha antiga escola pública dava aulas em inglês, e a turma era tão grande que as chances de práticas individuais diante da turma eram muito remotas. Então, eu tinha ainda muito o que aprender. Eu falava com dificuldade. Meu sotaque

era terrivelmente cômico.Eu não queria parecer idiota ou incompetente perante os colegas de turma, e isso me intimidava.

Princeton era uma faculdade pequena e praticamente todos os estudantes moravam muito próximos uns

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dos outros, em um campus margeado por um lago e pradarias, e uma pequena e sofisticada cidade vizinha que não ligava para nós. A escola era uma comunidade autocentrada, um círculo social estreito, em que as notícias se espalhavam com rapidez, e eu não queria ser

rotulado como um idiota completo. Eu ficava tão apavorado quando era chamado nas aulas de francês que sofria de uma estranha amnésia temporária e esquecia, momentaneamente, quase toda a gramática e o vocabulário que tinha aprendido no ensino médio, o conhecimento obtido com esforço que me permitira tirar uma nota tão alta no teste de admissão.

Eu odiava assistir às aulas de francês, que ocorriam todos os dias pela manhã e, inevitavelmente, me deixavam deprimido pelo resto do dia. Detestava me sentir tão inferior em relação aos colegas, muitos dos quais haviam estudado em escolas particulares caras, como St. Paul's ou Exeter, nas quais o francês era falado nas salas de aula, e, portanto, eles se sentiam muito confortáveis com o idioma. Para piorar, a maioria vinha de famílias ricas e tinha passado longas férias, até mesmo verões inteiros, na França, enquanto eu nunca saíra do país. Não gostava de imaginar que eles desprezariam minha incompetência e total falta de sofisticação.

Durante as primeiras semanas do semestre, antes das provas intermediárias, Princeton permitia aos estudantes trancar a matrícula do curso - deixá-Io sem qualquer penalidade ou conseqüência,

nem mesmo um registro da inscrição. Então, foi exatamente isso que eu fiz naquele meu ano de estréia. A cada novo período de volta ao campus, matriculava-me em francês, agüentava duas ou três semanas de humilhação pública e depois abandonava o curso mais uma vez. Fiz isso no segundo ano, como estudante intermediário e mesmo como veterano, o que levantou dúvidas sobre a minha qualificação para obter o diploma. Cumpri todos os demais requisitos da graduação, mas não conseguia enfrentar um semestre inteiro de francês.

Decidi, então, que enfrentaria o teste de aptidão novamente, tiraria 700 pontos e cumpriria a exigência de outro modo. Meus colegas de quarto e outros amigos próximos tentaram me dizer que eu estava me enganando: poucos estudantes de Princeton haviam obtido os 700 pontos ou mais nos testes de inglês, mesmo sendo falantes nativos e situando-se entre os melhores estudantes do país. Superei os limites da estupidez ao achar que poderia passar pela versão francesa do teste apenas me fechando em um quarto com um monte de livros didáticos.

Fiz a prova e, outra vez, encostei nos 700. Mas não foi o suficiente. Fui ao reitor, bajulei-o e implorei por um pequeno gesto de misericórdia, mas a universidade não podia abrir mão de seus altos padrões. Não iriam descumprir as regras apenas por simpatia a mim. Parecia que eu seria reprovado, uma idéia bastante decepcionante e, provavelmente, um motivo de vergonha para os meus pais, em especial por terem economizado e se sacrificado para que eu pudesse cursar uma universidade particular tão cara. Meu pai, professor com Ph.D. em engenharia, e minha mãe, também professora, foram os primeiros de suas famílias a irem para a universidade. Eles estudaram em escolas municipais, em que o ensino era gratuito; ambos continuaram em suas casas e iam para a faculdade de ônibus ou metrô.

Significava muito para eles que seu filho se formasse em uma universidade de renome internacional, mas eu estava estragando tudo porque não conseguia passar em uma única matéria. Apesar de não ser um caso-limite, minha desmoralização poderia ter conseqüências

concretas e duradouras. Eu estava quase me conformando com a idéia de nunca me formar, mas, de alguma maneira, reuni coragem para enfrentar outra turma de francês - dessa vez, um curso noturno para adultos, que não contava créditos, na Universidade de Nova York. Acabou que esse foi um lugar muito melhor para o meu aprendizado. Como eu não estava vivendo com meus colegas em uma comunidade muito bem entrosada, me sentia muito menos inseguro entre eles. Eu não me importava de parecer um idiota no meio de pessoas que nunca encontraria fora da sala de aula. Suas opiniões não afetariam minha permanência em qualquer um de meus círculos sociais. Então, participei com afinco das aulas e cometi os erros necessários para finalmente melhorar.

Também ajudou o fato de eu gostar do novo professor, que se chamava Gilon e era efetivo da Universidade de Nova York. Logo, eu o contratei para me dar aulas particulares. Eu adorava a maneira como ele me tratava: não como um estudante lerdo e digno de pena (o que, de fato, eu era em francês ora!), mas como uma pessoa inteligente, capaz de enfrentar e vencer os desafios mais difíceis (o que, de fato, eu era em todas as outras matérias). E também adorava que ele fosse um intelectual articulado de Nova York, com um ótimo senso de humor, e que morasse em um apartamento entre Greenwich Village e Soho, apaixonado por artes e cultura - exatamente o que eu desejava ser. Ele me tratava como um autêntico colega e a maioria de nossas aulas eram longas conversas (em francês) sobre livros, música e filmes.

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Eu queria aprender com ele sobre esses assuntos tanto quanto como pronunciar o "r" francês de modo correto. Eu ansiava por nossas aulas particulares com tanta intensidade quanto queria fugir das aulas de francês de Princeton. É provável que nossa ligação tenha sido fortalecida por ambos sermos judeus - ele me divertia ao misturar seu francês com obscuras palavras em iídiche. Eu sentia que ele me respeitava, compreendia e acreditava em mim, e essas qualidades inspiravam-me a persistir e praticar, aprender e dominar uma habilidade que me escapava.

Depois de alguns meses, voltei a Princeton e enfrentei o exame oral com o chefe do departamento de francês, um acadêmico intimidador especializado em literatura francesa do século XIX. Passei e, enfim, consegui minha graduação.

Alguns anos mais tarde, depois de acumular algumas férias em meu trabalho como repórter da revista Fortune, viajei sozinho para Paris, por um mês. Eu me vi conversando com pessoas em todos os lugares - cafés, trens, lavanderias - e rapidamente fazendo amizades e sendo convidado para jantar em suas casas. Os franceses ficaram fascinados comigo, porque eu os lembrava de um Woody Allen jovem - aquele escritor judeu nova-iorquino meio neurótico que compartilhava

com eles várias de suas paixões e obsessões culturais. Eles ficaram encantados quando falei francês com um leve sotaque de Nova York que talvez deixasse os professores de Princeton perturbados.

Embora eu soubesse que estava cometendo erros constantes de gramática e vocabulário, eles me parabenizavam por meu domínio do francês em comparação com os esforços de tantos norte-americanos.

Seu interesse, aceitação e apoio me fizeram ficar ainda mais confiante, por isso me aventurei na conversação. Não tenho dúvida de que o meu francês melhorou muito mais em quatro semanas na França do que nos quatro anos de escola, que é, com certeza, uma experiência comum com muitos estudantes.

Em retrospecto, as lições daqueles anos são óbvias para mim: não que eu não fosse capaz de aprender francês (embora eu tenha chegado quase a acreditar nisso). O fato é que eu realmente precisava de novos relacionamentos com a pessoa certa (professor Gilon) e as comunidades certas (aula de educação de adultos da NYU e amigos parisienses, em vez dos colegas esnobes e pretensiosos da turma de francês da faculdade). A maioria dos meus colegas de turma de Princeton não tinha problema algum em aprender idiomas estrangeiros com seus professores e com seus colegas de Princeton, mas eu precisava de relacionamentos diferentes. O aprendizado e a mudança não são fenômenos padronizados com aplicação universal.

No entanto, na época, não aproveitei as lições sobre a mudança proporcionadas pelo episódio. Eu me deparei com um problema ainda mais grave que durou tanto tempo que praticamente desisti de ter esperanças de que um dia eu poderia superá-Io.

Não me lembro com exatidão quando me tornei obeso. Parece ridículo dizer que a obesidade se instalou furtivamente, ou que eu não tinha de fato consciência do que estava acontecendo na época. Eu tenho de procurar em velhas fotos para tentar definir o período em que talvez isso tenha ocorrido. Sei que ainda era magro aos 25 anos. Posso comprovar com uma foto minha que saiu ao lado da carta ao editor na revista Fortune no verão de 1990. Eu havia escrito a matéria de

capa chamada "Os jovens de 25 anos", fazendo uma reportagem sobre o que minha geração pensava a respeito de sua vida e carreira. Teria sido essa a última foto ainda magro? Acho que eu não tinha mais do que uns 70 ou 72 quilos bem distribuídos em meu 1,80m - a mesma elegância saudável de meus anos de faculdade.

Dois anos depois, quando me mudei de Nova York para São Francisco para me tornar correspondente da revista na Costa Oeste, tirei carteira de habilitação na Califórnia. Depois que o prazo da carteira expirou, a joguei em uma caixa com meus outros documentos daquela época, e isso permanece como prova documental de minha passagem para a obesidade. "Peso: 90 quilos." Por certo, menti no formulário e meu peso real tinha vários quilos a mais. Não há como negar que, em apenas dois anos, eu havia engordado pelo menos 18 quilos, talvez até 23 quilos, e deixado de ser magro para estar escancaradamente acima do peso. Depois, cruzei a linha e me tornei obeso.

Durante quase uma década, fiquei assim, e até pior. Embora conseguisse evitar pensar sobre o assunto na maior parte do tempo, havia alguns episódios inevitáveis que temporariamente rompiam a defesa psicológica de minha auto-ilusão. Por exemplo, quando deixei meu emprego de repórter aos 30 anos para trabalhar por conta própria, fiquei sem a cobertura do plano de saúde empresarial, por isso tive de pagar meu próprio seguro-saúde. Descobri que estava tão acima do peso que meu cadastramento seria automaticamente rejeitado. Por isso, menti no formulário de admissão no plano e, de alguma maneira, ninguém percebeu, talvez graças à compaixão de um agente que ignorou o que viu.

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Aos 31 anos, quando voltei a morar em Nova York para trabalhar como colaborador sênior da GQ, eu já passara dos 100 quilos. Sei desse número porque foi publicado em meu primeiro artigo na revista masculina mensal. Os editores da GQ recrutaram o principal personal trainer daquela que era a principal cadeia de academias de ginástica da cidade - a Equinox -, a fim de usar todos os recursos e potencial humano da empresa para me ajudar a perder peso: professores, nutricionistas e até mesmo terapeutas massagistas.

Eu malhava todos os dias com o principal personal da academia, o bem pago Rich Beretta, cujo cartão de visita o identificava pelo título que ganhara na prática de fisiculturismo: "Mr. America."

O que lembro mais vividamente a seu respeito eram seus músculos da panturrilha, que pareciam feixes de cabos de aço do tipo que sustentam pontes elevadiças. Rich era de fato amável, mas eu

nunca poderia considerá-Io um modelo. Por mais que eu fizesse, ou quanto mais eu tentava, sabia que nunca poderia chegar nem perto do que ele era.

Rich parecia pertencer a uma espécie diferente. O mesmo se aplicava à maioria das outras pessoas que malhavam na Equinox da Union Square. O lugar estava repleto de pessoas bonitas - o clube tinha fama de dar livre acesso a modelos e atores. A idéia subjacente era que seus corpos atraentes criariam o tipo de ambiente propício para que banqueiros e advogados pagassem as altas mensalidades da academia. Nunca me senti à vontade freqüentando aquela academia para malhar por conta própria - eu ficava intimidado demais e me sentia um peixe fora d'água.

Perdi cerca de 2,7 quilos nas primeiras seis semanas, mas em pouco tempo recuperei tudo e ainda acrescentei outros 2,7 quilos, o que fez meu peso chegar ao máximo de 103.4 quilos. O redator-chefe da revista, Art Cooper, tentou me subornar para perder peso com a promessa de um terno grátis da Rugo Boss se eu conseguisse chegar a 90 quilos. Mas ele também gostava de me levar para almoçar em restaurantes famosos, especialmente o Four Seasons, onde ele começaria o almoço com martínis e passaria a filés e vinho tinto. Eu tentava passar a tarde cochilando no pequeno sofá de minha sala, mas, às 17horas ou 17h15,a voz de Frank Sinatra ou Ella Fitzgerald começava a ecoar da sala de Art. Eu caminhava até lá e via a garrafa de vodca aberta sobre a mesa e sabia que era hora de me juntar a ele para outra rodada de bebida e bate-papo, em vez do exercício antes do jantar.

Aos 33 anos, voltei para São Francisco, aluguei um apartamento no bairro NoeValleye entrei para a academia Purely Physical Fitness, apenas a quatro curtos quarteirões de onde eu morava e trabalhava.

Era muito conveniente, mas eu freqüentava as aulas tão raramente que o efeito era quase nulo. Estava quase resignado com a idéia de que era uma pessoa obesa e que simplesmente não conseguiria mudar. Já estava fazendo parte da minha identidade. Afinal, o principal personal trainer de Nova York tinha se esforçado ao máximo e mesmo seu trabalho heróico não me ajudou. Um dia, incentivado por minha namorada, fui até academia e não encontrei mais nada. O lugar fora fechado meses antes e eu nem percebera porque fazia muito tempo que não aparecia por lá. Que momento humilhante! Por isso, entrei em meu carro e dirigi dez minutos até um bairro

vizinho, Cole Valley, onde entrei para uma pequena e simpática academia chamada ColeValley Fitness. Como parte do pacote, eu tinha direito a duas sessões gratuitas com um dos personal trainers - na verdade, era mais uma exigência do que uma opção, já que a idéia era o professor explicar aos novos freqüentadores sobre todos os equipamentos pesados da academia, para que ninguém se machucasse ao tentar levantar peso. A outra justificativa não-dita era que, depois das duas sessões gratuitas, talvez alguém quisesse contratar o professor para aulas regulares.

Foi assim que comecei um novo relacionamento com uma personal trainer chamada Claudia Berman, que transbordava energia e um entusiasmo contagiante pelos exercícios físicos. Nós nos

demos bem de imediato. Depois das duas primeiras sessões gratuitas, eu a contratei para me treinar duas vezes semanais e depois passei para três vezes por semana. Eu me identifiquei com

Claudia em parte por causa de nossa história semelhante e interesses comuns e, em parte, porque fiquei intrigado com as nossas diferenças. Ambos vínhamos de famílias judias que apreciavam a realização intelectual e cultural- seus pais eram médicos e músicos realizados. Ambos tínhamos uma formação de elite e carreiras criativas em campos com concorrência acirrada, marcados pela alta pressão e por estilos de vida pouco saudáveis. Ela havia se formado no Conservatório de Música de São Francisco e passado vários anos cantando ópera na Itália, onde seus colegas ridicularizavam seu interesse pelo exercício físico e argumentavam que era ruim para a voz. Por fim, ela mudou de carreira e tornou-se personal trainer na Califórnia.

Enquanto malhávamos juntos, eu gostava de conversar com ela sobre música clássica - eu tinha uma assinatura da Ópera de São Francisco na época. Diferentemente do "Mr. America", Claudia não era de outro planeta - ela era do meu planeta, o que faz uma grande diferença. Ela era como eu de tantas

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maneiras que isso me fez acreditar que eu poderia ser como ela de algum modo - talvez eu conseguisse me tornar saudável e voltar à boa forma.

Em poucos meses, perdi 18 quilos. Dos quase 104 quilos, meu peso caiu para 85 quilos, e estacionou nessa faixa durante os últimos cinco anos. Perdi 15 centímetros de cintura. Antes, eu abominava a idéia de correr 250 metros na pista de treino, mas após conhecer Claudia eu saía e corria sozinho 4,8 quilômetros.

Depois que perdi peso, meus amigos me perguntaram detalhes sobre o programa de treinamento específico - que tipo de técnica de levantamento de peso ou exercício aeróbico a professora havia

me passado, ou que dieta especial ela aconselhara. Quer o desafio seja perder peso ou qualquer outro tipo de mudança difícil, gostamos de pensar que a "mágica" acontece com a descoberta do

processo certo. Mas as três chaves da mudança sugerem que o elemento mais importante são as pessoas, especialmente estabelecer um relacionamento com alguém que acredita em você e em quem você também acredita.

Um dos grandes dons de Claudia é que ela realmente acredita e espera que seus clientes aprenderão a gostar de fazer exercícios, mesmo se não tiverem malhado muito no passado. Uma vez ela me disse que tinha clientes que nunca haviam se exercitado e que isso a incentivava a pensar que talvez eles um dia acabassem como maratonistas.

A crença sincera e absoluta de Claudia no potencial de seus clientes ajuda a inspirar as próprias crenças. O enfoque dela também se vale da psicologia das vitórias de curto prazo. Ela sabe que se conseguir que os clientes freqüentem várias semanas de treinamento, os benefícios que sentirão com os exercícios serão a melhor propaganda para que continuem no programa. Quando clientes potenciais dizem a ela: "Não gosto de exercício", ela quase sempre responde: "Vamos falar sobre isso durante nossa caminhada."

Infelizmente, levei quase uma década para encontrar Claudia e, mesmo assim, eu a encontrei quase por acaso, graças a uma daqueIas sortes do destino. A mudança foi algo que aconteceu comigo. Eu não fiz nada para que ela acontecesse. A lição para o futuro é que, da próxima vez que me deparar com problemas difíceis que não consigo resolver por conta própria, devo buscar estabelecer de modo efetivo um novo relacionamento - e estarei bem ciente de que isso pode levar algum tempo e exigir persistência até que eu encontre o relacionamento certo.

Muitas vezes, preferimos pensar que a mudança envolve o processo certo, porém o mais importante são as pessoas. O motivo pelo qual alcancei resultados tão excepcionais com o trabalho de Claudia e tanta decepção com o treinamento do "Mr. America" não foi o fato de ela me ensinar ioga ou me fazer correr escada acima, enquanto o "Mr. America" me dava aulas de boxe. A verdade é que me identifiquei com Claudia de uma maneira emocional, e nosso relacionamento me inspirou e sustentou minha crença e meu compromisso para com a mudança.

Só porque o "Mr. America" não mudou minha vida isso não significa que o trabalho com personal trainers não "funcione" ou que não poderia funcionar para mim. Apenas queria dizer que ele não

era a pessoa certa para mim. Quando percebemos que a mudança depende de relacionamentos, então podemos partir em busca de um "agente da mudança", assim como fazemos com outros relacionamentos carregados de emoções que mantemos com outras pessoas ou comunidades, quer estejamos em busca de um amante ou de um companheiro, ou entrando para uma Igreja ou um grupo espiritual, ou contratando colegas para a nossa empresa. É um empreendimento de tentativa e erro que exige tempo, energia, envolve frustração e persistência. Mas, quando encontramos o relacionamento certo, então, tudo é possível.

A primeira chave da mudança não tem de necessariamente formar um novo relacionamento com uma pessoa nova. Pode envolver um novo relacionamento com uma nova comunidade. Na verdade, um dos aspectos mais difíceis da mudança profunda é que ela em geral força o indivíduo a romper de forma abrupta com a antiga comunidade que moldou suas crenças até então. Quando você absorve um modo radicalmente novo de pensar, sentir e agir, enfrenta uma

possível rejeição ou alienação dos colegas, amigos e familiares que compartilhavam seus modelos conceituais anteriores. Seu novo estilo de vida não faz mais sentido para eles. Parece ridículo ou errado.

Simplesmente, não se encaixa em suas crenças, valores, pressuposições e expectativas. Mudar a própria vida, em geral, significa mudar de comunidade, o que é difícil de prever e muito difícil de enfrentar.

Essa foi a primeira lição que aprendi com um de meus vizinhos em São Francisco, Tim O'Mahoney, que abrira mão de uma carreira no setor de finanças empresariais e se tornara carpinteiro e marceneiro.

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Sua incrível transformação significava mais do que aceitar uma grande queda em seus rendimentos - o que ele chama brincar de "voto de pobreza" pessoal. Para seus ex-colegas e parentes mais próximos, significava que ele estava dando um passo em direção ao abismo, de executivo para peão, e que ele estava rejeitando seus valores e sua forma de vida.

Quando perguntei a Tim o que o fizera mudar sua vida de maneira tão radical, ele me contou sua história. Tim cresceu em uma família de classe média alta em um bairro agradável: morou em Upper St. Clair, próximo a Pittsburgh, até seus 15 anos, e depois a família se mudou para Lake Bluff, nos arredores de Chicago. Ambos os lugares são conhecidos por ter uma população adulta bem-educada, profissional e bem-sucedida. "Quando criança, eu tinha muita consciência do que os pais dos meus amigos eram, lembra Tim. "Eram cirurgiões e advogados de grandes empresas.

O clã dos O'Mahoney encaixava-se bem nessa cultura de elite: os pais de Tim e suas três irmãs mais velhas tinham pós-graduação.

Seu pai tinha um MBA da Universidade de Indiana e trabalhava como vice-presidente de marketing e planejamento estratégico para uma empresa de porte razoável. As irmãs de Tim - ele era o caçula de cinco - seguiram carreiras profissionais como advogadas, dentistas e executivas.

"Fui fortemente influenciado por nossos pais e pelo ambiente à nossa volta", diz Tim, que foi o que o levou a estudar administração e finanças. No entanto, desde o início, ele sabia que suas inclinações naturais o tornavam diferente: "Desde a infância, sempre gostei de fazer trabalhos manuais, mas isso era considerado algo para quem era pouco inteligente. Quando menino, eu gostava da idéia de fazer as coisas. Sempre gostei de cozinhar. Sempre que havia um curso

avançado de qualquer matéria, eu participava, mas também gostava das oficinas práticas." Quando adolescente, descobriu que a melhor oportunidade e a mais socialmente aceitável de fazer o que queria era construir os cenários das produções teatrais da escola, e, então, decidiu abraçar esse ofício - "não porque eu gostasse de teatro, mas porque queria construir objetos".

Ele passava as férias da faculdade construindo cenários para espetáculos, mas tinha tantas dúvidas em sua escolha profissional que mudou a especialização principal de produção teatral para administração teatral e, depois, finalmente, para administração. Depois de se formar na Universidade de Miami, em Ohio, ele conseguiu um emprego como analista financeiro de uma grande empresa, atendendo às expectativas da família e de sua comunidade.

Quando tinha 26 anos, sentou-se uma noite com um bloco de anotações e tentou delinear um plano e uma linha do tempo para a sua vida. Como todos em sua família tinham pós-graduação, ele conta: "Decidi fazer um MBA para me sentir uma pessoa completa. Sem uma pós-graduação, de algum modo seu destino não estaria realizado." Sua idéia era que ele subiria até se tornar tesoureiro de determinada empresa, economizaria muito dinheiro para poder abandonar a vida empresarial aos 40 anos e se tornar marceneiro.

Desse modo, ele poderia viver com menos dinheiro mas de acordo com sua verdadeira vocação.Depois do MBA da Universidade de Indiana, assim como seu pai, Tim trabalhou no setor de

finanças corporativas em dois bancos que ele descreve como "de sangue azul" - primeiro, o Manufacturers Hanover Trust e, depois, o Barclays, que o tirou de Chicago e o levou para São Francisco. Ainda assim, ele sabia muito bem que era diferente dos colegas. "Em finanças, os sujeitos com quem trabalhei voltavam para casa depois de semanas de 90 horas de trabalho e liam o Wall Street Journal. Eu chegava em casa e assistia a um seriado na tevê." Quando o Barclays o despediu, aos 30 anos, ele lembra: "Eu não sabia o que fazer. Na verdade, o que eu mais queria era construir coisas." Durante algum tempo, ele foi voluntário na Habitat for Humanity e construiu abrigos para os moradores de rua, mas explica: "Eu estava realmente muito desorientado. Havia perdido muito de minha autoconfiança. Tinha um forte ímpeto para construir coisas, mas ainda estava com aquele MBA nas mãos e isso faz uma enorme diferença monetária."

Durante a década de 1990 ele procurou trabalhos pagos por hora com empreiteiros de construção. Ele lembra: "Na verdade, meu trabalho era esporádico, e eu não sabia o que estava fazendo. Foi muito difícil superar o passado." Ele voltou a se valer de seu MBA trabalhando meio expediente como consultor financeiro de uma organização sem fins lucrativos no Vale do Silício. Foi especialmente difícil para ele seguir sua vocação de carpinteiro como profissão quando seus colegas com MBAs na Bay Area estavam enriquecendo com o boom da Internet.

Em meados de 2000, Tim decidiu fazer uma mudança radical. Viu um anúncio no site de classificados craigslist* de São Francisco e arranjou um emprego como montado r de móveis na loja IKEA local. "Depois de apenas um ou dois dias, vi que era aquilo que eu queria fazer - tinha de trabalhar com ferramentas e usar minhas mãos", lembra ele. "Prefiro fazer isso a pensar em finanças corporativas."

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LIVRO: MUDE OU MORRA A mudança em sua vida

Ao longo da difícil década que foi necessária para transformar sua vida, Tim "recebeu muito desencorajamento" da família. "Meu sogro era muito negativo. Na verdade, acho que eu representava seus próprios medos, porque estava ganhando muito menos. Onde cresci, quem presta serviços e trabalha com as mãos entra pela porta dos fundos." Tim não tem contato com seus pais há anos.

Ele usa o "divórcio" como metáfora para descrever o que foi para ele finalmente romper com os valores e crenças da família e da comunidade ampliada onde foi criado. "É importante se divorciar de como você foi criado e dessas expectativas", ele afirma.

Agora, em vez de integrar a classe empresarial de elite, com lindas mansões e Porsches na garagem, com televisores de tela plana e férias caras, Tim aluga um pequeno apartamento de quarto e sala e está empregado como trabalhador manual nas residências de seus ex-colegas.

"Estou varrendo serragem na garagem de alguém com quem trabalhei no mundo dos negócios", afirma ele.

Embora tenha se alienado de sua comunidade profissional anterior, esteja brigado com os pais e até mesmo tenha se divorciado da esposa - seu casamento ruiu quando ele decidiu se tornar marceneiro em tempo integral -, Tim conseguiu prosperar. Tornou-se um mestre da carpintaria, a ponto de virar professor do ofício. Ele se sente contente e muito mais realizado com o novo trabalho agora e está confortável com essa identidade.

*Espécie de classificados gratuitos pela Internet, muito comuns nos Estados Unidos. (N. do R.)Um motivo crucial pelo qual sua mudança deu certo é o senso de comunidade que encontrou no

bairro Cole Valley, onde mora. Ele é freqüentador do Tully's, um café no qual um grupo de vizinhos se reúne para um bate-papo durante uma ou duas horas todas as manhãs, seja dentro do restaurante ou nas mesinhas do lado de fora. Em geral, ele volta ao café em horários diferentes ao longo do dia, quando está entre uma visita e outra a seus clientes. O café é um ímã que atrai pessoas que também deram viradas arriscadas e não-convencionais em suas vidas e carreiras - como Devon, a mãe de dois filhos que está em treinamento para se tornar policial, e Katherine, a médica que atende em hospitais que está desenvolvendo seu talento como escritora. O café atrai jornalistas, artistas, fotógrafos e designers que gostam de escapar da solidão de seus escritórios em casa e apreciar a camaradagem do local de reunião informal onde há quase sempre alguém interessante com quem conversar, a qualquer hora do dia. O bairro tem muitos apartamentos tipo ateliê para alugar, assim como outros maiores e casas particulares, e atrai não só os tipos criativos, mas também os médicos e estudantes de medicina do hospital local e os executivos e administradores que pegam o bonde até os arranha-céus no centro da cidade. E todos esses personagens se encontram no café e passam a fazer parte de um círculo social inusitado, diversificado e livre, que aceita de modo espontâneo pessoas de origens muito diferentes, desde o mecânico da oficina do outro lado da rua até os neurocientistas da Faculdade

de Medicina da UCSF."A rede de apoio de Cole Valleyfoi especialmente importante. Sou uma pessoa extremamente

sociável, e o café me ajudou a conhecer muita gente", afirma Tim. "Minha única rede de apoio é este bairro."

Como a estrutura das "três chaves da mudança" se aplica a casos de indivíduos que vencem padrões autodestrutivos e ameaçadores de pensar, sentir e agir, como o alcoolismo ou a doença mental? Como jornalista, tenho uma verdadeira apreensão em tentar contar histórias verdadeiras de dependência e doenças, pois é muito difícil averiguar os fatos. As informações permanecem protegidas pela confidencialidade na relação entre médicos e pacientes.

As clínicas de reabilitação não revelam os nomes de seus ex-freqüentadores. Não há como verificar, de maneira independente, os fatos quando um médico fala ou escreve sobre determinado paciente cuja identidade deve permanecer anônima. Os médicos tendem a se auto-retratar como heróis, e os pacientes, às vezes, romantizam seus pesares.

James Frey foi recentemente desacreditado por inventar detalhes cruciais em sua biografia sobre dependência de álcool e heroína, Um milhão de pedacinhos (Objetiva, 2003). Paradoxalmente,

o escândalo de Frey me deu a idéia de abordar o desafio de verificar esse tipo de informação protegida. Já que as biografias best-sellers estão sujeitas a um forte escrutínio por parte dos críticos, repórteres e bloggers, por que não analisar um livro que está no mercado há vários anos e manteve a reputação por sua mais absoluta honestidade?

ESTRUTURAS

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LIVRO: MUDE OU MORRA A mudança em sua vida

Como aspirante a escritora, Knapp acreditava que o álcool era parte necessária de uma vida romântica e altamente criativa. "Eu me identifiquei com legiões de escritores alcoólatras", diz ela, evocando nomes famosos na literatura, como Dorothy Parker, Dylan Thomas, Eugene O'Neill, William Faulkner, F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingwaye Jack London. "Beber parecia parte do jogo para mim e havia uma espécie de glamour em torno desses escritores que me atraía muito. Eles eram ... pessoas que levavam a vida em um plano mais profundo do que o restante de nós, e beber parecia uma extensão natural de sua vida e do seu trabalho, ao mesmo tempo um produto e um antídoto para a ansiedade criativa."

A necessidade de beber era uma crença tão profunda e inquestionável para Knapp que ela não conseguia conceber viver sem bebida. Ela partiu do pressuposto de que o álcool era vital para que ela fosse sociável, ativa, desprendida e cheia de vida. Ela pensava que estava fadada a ficar "entediada e solitária" sem beber. Mesmo quando começou a contemplar a possibilidade de se internar em uma clínica de reabilitação e ficar sóbria depois de duas décadas bebendo, escreve ela: "Passei semanas pensando: 'Nunca mais vou me divertir nas festas.' 'Nunca mais vou ter uma conversa íntima com alguém.' 'Nunca mais vou conseguir um marido. Como alguém consegue se casar sem champanhe?'"

NEGAÇÃO E OUTROS MECANISMOS PSICOLÓGICOS DE AUTODEFESA

Embora Knapp tivesse estudado em uma das melhores universidades do país, os fatos não a libertaram. Ler sobre alcoolismo e constatar seus próprios sintomas evidentes não a ajudaram por causa da avassaladora força da negação. "Quando você ama alguém, ou algo", escreve Knapp, "é incrível como não consegue enxergar defeito algum."

Na casa dos 30, a bebida rompeu seus vasos sangüíneos próximos do nariz e da face, tinha ânsias de vômito e as mãos tremiam, às vezes, o dia inteiro. "Eu fazia de tudo para ignorar esses sintomas", continua ela. "Tentava ignorar isso do mesmo modo como uma mulher sente a frieza na voz do amante e luta, com todas as suas forças e de maneira consciente, para não reconhecê-Ia. Os alcoólatras são mestres da negação e eu consegui manter todas as preocupações que alimentava sobre o meu problema com a bebida muito bem compartimentadas, espremidas na mesma prateleira do cubículo onde eu mantinha minha crescente coleção de livros sobre o assunto."

A negação era apenas um dos muitos mecanismos psicológicos de autodefesa que Knapp desenvolvera inconscientemente para proteger seu auto-respeito. Ela "projetava" também: "Os alcoólatras são mestres em culpar os outros pelas confusões em que se metem", afirma Knapp, que descreve como ela sempre atribuía a culpa pelos problemas que tinha em manter relacionamentos estáveis em defeitos nas personalidades de sua sucessão de namorados, e não nos efeitos destrutivos de seu próprio alcoolismo descontrolado.

Knapp também se valia da anulação e da racionalização para preservar a fragilidade de sua auto-estima. "Os alcoólatras, notadamente, têm memória seletiva", escreve ela. "Não importa a intensidade da ressaca, ou o constrangimento causado pelo comportamento de bêbado, ou o risco de dirigir praticamente cego pela bebida para casa, parecemos incapazes de lembrar como as coisas ficam ruins quando bebemos ... Quando a necessidade ou o desejo de beber é muito intenso, essas lembranças simplesmente evaporam."

Nas poucas vezes em que ficava sóbria, Knapp passou a se dar conta de toda a extensão da racionalização de seus anos como alcoólatra - ela constantemente mentia para si mesma e para os outros sobre o modo como o álcool destruíra sua vida. Mas Knapp fez uma análise em retrospecto e se surpreendeu ao verificar que, mesmo durante os muitos anos em que viveu em negação, "parte de mim reconheceu o problema tempos atrás". Ela acrescenta: "Você sabe e ao mesmo tempo não sabe. Ou, de maneira mais precisa, você sabe e a parte que não quer tomar conhecimento disso imediatamente se retrai, levando o medo para uma nova categoria." Nos encontros dos Alcoólicos Anônimos, ela freqüentemente ouvia que a "negação é a doença do alcoolismo, não apenas seu principal sintoma, e não é difícil perceber o motivo disso". Havia momentos em que ela sabia, com uma breve clareza, que o álcool era um problema real. Às vezes, parte dela parecia querer permanecer como um observador objetivo, olhando no espelho à noite e vendo "uma mulher de 34 anos deprimida, ansiosa, que se auto-sabota e que parecia não conseguir se livrar desse nó". Ainda assim, sem um senso de esperança, Knapp sentia-se impotente para mudar.

VITÓRIAS DE CURTO PRAZO

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LIVRO: MUDE OU MORRA A mudança em sua vida

Quando tinha 34 anos, Knapp se internou em uma clínica de reabilitação onde não havia possibilidade de beber. Sobreviver aos primeiros dias provou a ela que era possível viver sem álcool. Foi uma "vitória de curto prazo" crucial que fez com que ela rompesse as entrincheira das noções e inspirou nela um novo senso de esperança – a crença e a expectativa de que ela poderia viver sem beber.

"A esperança vinha do simples fato de ver que eu podia sobreviver 24 horas e depois mais 72 horas, depois 96 e assim sucessivamente, sem beber, algo que não tinha feito há anos", ela escreve. "Acordei

sem ressaca no primeiro dia e nos dias seguintes. Não fiquei obcecada com a bebida - onde, quando, com quem e quanto - porque essa possibilidade não existia, e isso serviu como uma libertação para mim."

O PODER DA COMUNIDADE E DA CULTURA

Para Knapp, a primeira chave da mudança, a parte do "relacionamento", envolveu estabelecer um novo elo emocional com a comunidade de alcoólatras da clínica de reabilitação e, mais tarde, nas reuniões do grupo de AA em Boston. Em sua primeira noite na clínica, ela sentiu uma espécie de alívio, percebendo que seus problemas "não eram tão exclusivos quanto achava". Na terceira ou quarta noite, ela escreveu para seu terapeuta que nunca havia se sentido tão amada pelos outros, mostrando gratidão pela primeira vez em anos. Envolvida pelos relacionamentos nessa nova comunidade, ela percebeu que estar sóbria não tem de necessariamente ser sinônimo de tédio e solidão. Suas reuniões diárias com o grupo de AA começaram a lhe dar uma sensação de conforto e alívio que antes só tinha bebendo. "Os Alcoólicos Anônimos são como uma injeção diária de esperança", ela escreve. "Você vê as pessoas à sua volta crescerem, mudarem e florescerem."

A esperança que Knapp sentia com seu novo relacionamento com a comunidade de alcoólatras em recuperação a fez passar pela segunda chave da mudança, a parte da "repetição" do aprendizado, praticando e dominando novos hábitos e habilidades. Como alcoólatra quase toda a sua vida adulta, Knapp realmente não sabia como viver sem álcool- as inúmeras pequenas habilidades e rotinas diárias, e as maneiras de pensar e agir que permitem aos sóbrios sobreviver em um mundo estressante. Ela escreve que os 12 passos dos Alcoólico Anônimos "pareciam fornecer um roteiro para viver, algo que sempre precisei e nunca tive, como se tivesse faltado a uma aula fundamental sobre comportamento pessoal anos atrás. [...] Fiquei surpresa ao descobrir que somente um dos 12 passos, o primeiro, menciona a palavra álcool... Os outros 11 passos envolvem saber se relacionar, aprender a ser honesto, responsável e humilde, a pedir ajuda em caso de necessidade". Em uma das palestras dos AA, ela pensou: "Ah! É assim que a gente deve viver." Assim como Dean Ornish percebeu que os pacientes cardíacos não sabiam como lidar com o estresse e a alienação sem fumar, beber, comer ou trabalhar demais, e assim como Mimi Silbert percebeu que os criminosos viciados em heroína da terceira geração não sabiam como viver sem as drogas, ameaças e violência, a comunidade dos Alcoólicos Anônimos se dá conta de que os alcoólatras simplesmente não sabem viver sem álcool, e parte para diálogos, procurando ajudá-Ios a praticar até que os novos hábitos sejam naturais.

REESCREVA A HISTÓRIA DE SUA VIDA

Quando ela finalmente ficou sóbria, Knapp precisava da terceira chave da mudança - a "reestruturação" - para fazer sentido de sua própria história conturbada, de modo a preservar o auto-respeito. Conseguiu fazer isso brilhantemente considerando sua relação turbulenta de 20 anos com o álcool como uma sensual "história de amor", como se tivesse se apaixonado desesperadamente por um homem incrivelmente sedutor e totalmente inadequado para ela. "Eu me apaixonei e então, como o amor estava destruindo tudo à minha volta, tive de mudar", ela escreve. Knapp passou a ver sua nova vida sóbria como um "divórcio" do álcool, embora parte dela ainda se sentisse muito atraída por ele, da mesma forma que uma mulher pode se sentir fortemente atraída por um "amante errado", quando ela, por fim, termina o relacionamento. A metáfora permitiu que Knapp considerasse sua vida anterior como uma aventura romântica, apenas uma fonte de lamentações.

Ao analisar a incrível história de Knapp, as perguntas cruciais permanecem: o que finalmente permitiu que ela mudasse de vida? O que a inspirou a dar o passo além e se internar em uma clínica de reabilitação? Afinal, seus modelos a impediam de conceber sua vida sem beber, e a negação a protegia (na maior parte do tempo, pelo menos) contra a verdade de sua situação. Então, qual foi a fonte inicial de esperança? O passo além de Knapp foi se perguntar se o seu modo de ver a vida não poderia estar

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distorcido. Ela sempre acreditou que bebia porque era infeliz. E se fosse ao contrário e ela fosse infeliz porque bebia? "Talvez a bebida fosse de fato o problema, não a solução", ela percebeu. Essa perspectiva a levou, dois meses depois, a entrar no programa de reabilitação e largar a bebida.

A “SOLUÇÃO” PODE SER O PROBLEMA

Sem querer, Knapp havia chegado a uma forma extremamente simples mas de incrível utilidade para pensar sobre a mudança que fora desenvolvida na década de 1960, de modo pioneiro, pelos drs. Paul Watzlawick, John Weakland e Richard Fisch no Brief Therapy Center, em Pala Alto, na Califórnia. Quando eles começaram a trabalhar juntos, a psicoterapia tinha fama de ser um tratamento longo e caro.

O processo, em geral, se arrastava durante anos, enquanto os médicos tentavam entender as causas dos problemas dos pacientes procurando histórias passadas e explorando os incidentes traumáticos e as emoções de sua infância. Mas essa nova equipe de terapeutas assumiu um enfoque muito diferente. "Não estávamos interessados em como determinado problema começou, mas apenas o que ainda o mantém presente", afirma o dr. Fisch, um homem gentil que hoje está com 80 anos mas ainda trabalha no centro de Paio Alto. Sua visão era de que as pessoas continuavam tentando as mesmas soluções inúmeras vezes para resolver seus problemas e que essas "tentativas de solução" acabavam se tornando o problema maior.

Em vez de reconhecer o fracasso e de tentar uma abordagem diferente, as pessoas continuam fazendo "mais da mesma coisa". Como descreve o dr. Fisch: "As pessoas continuam .fazendo exatamente a mesma coisa que não funciona e só pioram e perpetuam o problema." A história de Caroline Knapp se encaixa perfeitamente nesse cenário: ela bebia para lidar com a sua infelicidade, mas a bebida a levou a ficar muito mais infeliz e a criar novos problemas.

Porque as pessoas insistem em ter comportamentos autodestrutivos, ignorando o fato evidente de que o que estão fazendo há anos, até então, não resolveu seus problemas? Elas consideram que precisam agir assim de maneira ainda mais fervorosa ou freqüente, como se estivessem fazendo a coisa certa e só precisassem se esforçar mais. Continuam a "fazer mais do mesmo".

Quando os alcoólatras se sentem frustrados, bebem mais ainda. Quando a sociedade coloca os criminosos na prisão e eles saem e cometem os mesmos crimes novamente, nós os colocamos de volta nas mesmas prisões para cumprir penas ainda maiores. Quando o capataz grita com os trabalhadores na linha de produção e isso gera rebelião, os capazes gritam ainda mais alto e com mais freqüência. "Por que continuam fazendo a mesma coisa?", perguntou Fisch. "Está funcionando? Não. Mas o que as pessoas estão fazendo é 'bom senso' para elas. As pessoas pensam que 'é a única coisa a fazer'."

Em todos esses casos, seu pensamento é gravemente limitado por seus modelos conceituais, seus sistemas de crença profundamente enraizados sob a superfície. Agir de modo diferente pareceria estúpido, ridículo ou mesmo perigoso. Se alguém dissesse a Caroline Knapp que ela ficaria menos entediada e sozinha quando estivesse sóbria, ela não teria acreditado, mas foi exatamente isso que ela acabou descobrindo assim que saiu da clínica de reabilitação e passou a freqüentar os encontros com os Alcoólicos Anônimos. Se você disser aos criminosos que eles podem aprender a prosperar em uma sociedade sem drogas, ameaças ou violência, eles não vão acreditar. Se você dissesse aos executivos da GM que confiar em seus piores operários resultaria em maior qualidade e produtividade, eles o teriam considerado louco.

A mudança é um processo paradoxal e tentar mudar sua vida significa abrir-se a novas idéias e práticas que podem parecer ilógicas ou mesmo insanas para você, pelo menos até que as experimente por tempo suficiente para desenvolver um novo entendimento. "As pessoas empacam com determinado problema, sem conseguir sair do lugar e, por desespero ou acidente, acabam tentando algo diferente", afirma o dr. Fisch. "Se prestarem atenção e perseverarem, isso levará à mudança."

Em vez de chegar por acaso a esse "algo diferente", por que não intencionalmente fazer a experiência e tornar o aprendizado - daquele tipo difícil e frustrante, tal como o dr. Michael Merzenich prescreveu como a chave para a plasticidade e a boa forma de seu cérebro - uma parte normal de sua vida?

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