Movimentos - Resumo

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MOVIMENTOS SOCIAIS - Cláudio da Silva Ribeiro / Virgínia de Oliveira Silva Resumo aula 01 Movimentos Sociais e Educação | Conceito e tipologia AS ORDENS PASSIVA E ATIVA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS No que diz respeito à ordem de ação social, podemos dizer que há duas ordens bem definidas de movimentos sociais: a) umapassiva e b) uma ativa. Concebemos o primeiro tipo de ordem dentro da nomenclaturapassiva, pois, a forma pela qual o movimento social se articula para realizar seus objetivos ocorre de modo bastante tranqüilo. Trabalhos comunitários e de associações de bairro, grupos religiosos, ONGs e empresas voltadas para a responsabilidade social, cujos propósitos se endereçam para a multiplicação de bens e serviços sociais dentro de moldes e padrões determinados como um modo de vida tal qual o modo seguido pelas classes hegemônicas, são exemplos de movimento social de ordem passiva. A ordem de movimento social passiva é aquela em que determinadas pessoas socialmente adaptadas se organizam de forma a ajudar outras menos privilegiadas, sem atritos sociais. Tenta-se manter alguns elementos socioestruturais de forma mais ampla, beneficiando uma determinada camada ou grupo social dentro de uma organização previamente estruturada (como uma escola, indústria ou mesmo o governo de um país). Os movimentos sociais podem ser considerados como empreendimentos coletivos para estabelecer nova ordem de vida. Têm eles início numa condição de inquietação e derivam seu poder de motivação na insatisfação diante de uma forma corrente de vida, de um lado, e dos desejos e esperanças de um novo esquema ou sistema de viver, do outro (LEE apudLAKATOS, 1990). Desta forma, você pode entender perfeitamente que um movimento social de ordem passiva ocorre devido à necessidade de mudanças, mas de acordo com a defesa de instituições que garantem e mantêm as estruturas hegemônicas. Movimento social de ordem ativa. Esta ordem difere da anterior pelo fato de resistir e se contrapor à organização instituída. Coletivamente, atua de modo a concentrar sua agitação objetivando conquistar interesses concretos de forma a seguir um plano traçado para alcançar (o estabelecimento de) uma nova ordem. Nessa direção, o movimento social de ordem ativa implica mudanças sociais não apenas no que diz respeito à inserção de pessoas dentro de estruturas já instituídas pelos valores hegemônicos, mas também no que diz respeito às mudanças na expressão cultural de tais valores, estabelecendo uma nova representação de vida e, por extensão, um outro modo de viver o cotidiano. É o caso do Movimento dos Sem-Terra, o MST. O MST é uma das maiores lições que podemos tirar da história dos movimentos sociais. Um grupo de pessoas humildes, vivendo na difícil realidade rural brasileira, diante dos problemas da falta de propriedade, iniciou um trajeto de união de interesses para resolver seus problemas de habitação. Ao empreender a luta pela reforma agrária, acabou entendendo que a conquista de todos os direitos sociais que compõem o que se poderia chamar de cidadania plena exige também uma reforma na Educação de seus participantes. Nesse sentido, o MST é um movimento social ativo, pois, em sua luta, institui uma nova representação

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  • MOVIMENTOS SOCIAIS - Cludio da Silva Ribeiro / Virgnia de Oliveira Silva

    Resumo aula 01 Movimentos Sociais e Educao | Conceito e tipologia

    AS ORDENS PASSIVA E ATIVA DOS MOVIMENTOS SOCIAISNo que diz respeito ordem de ao social, podemos dizer que h duas ordens bem definidas demovimentos sociais: a) umapassiva e b) uma ativa.

    Concebemos o primeiro tipo de ordem dentro da nomenclaturapassiva, pois, a forma pela qual o movimentosocial se articula para realizar seus objetivos ocorre de modo bastante tranqilo. Trabalhos comunitrios e deassociaes de bairro, grupos religiosos, ONGs e empresas voltadas para a responsabilidade social, cujospropsitosse endeream para a multiplicao de bens e servios sociais dentro de moldes e padres determinados comoum modo de vida tal qual o modo seguido pelas classes hegemnicas, so exemplos de movimento social deordem passiva.A ordem de movimento social passiva aquela em que determinadas pessoas socialmente adaptadas seorganizam de forma a ajudar outras menos privilegiadas, sem atritos sociais.Tenta-se manter alguns elementos socioestruturais de forma mais ampla, beneficiando uma determinadacamada ou grupo social dentro de uma organizao previamente estruturada (como uma escola, indstria oumesmo o governo de um pas).

    Os movimentos sociais podem ser considerados como empreendimentos coletivos para estabelecer novaordem de vida. Tm eles incio numa condio de inquietao e derivam seu poder de motivao nainsatisfao diante de uma forma corrente de vida, de um lado, e dos desejos e esperanas de um novoesquema ou sistema de viver, do outro (LEE apudLAKATOS, 1990).

    Desta forma, voc pode entender perfeitamente que um movimento social de ordem passiva ocorre devido necessidade de mudanas, mas de acordo com a defesa de instituies que garantem e mantm as estruturashegemnicas.

    Movimento social de ordem ativa. Esta ordem difere da anterior pelo fato de resistir e se contrapor organizao instituda. Coletivamente, atua de modo a concentrar sua agitao objetivando conquistarinteresses concretos de forma a seguir um plano traado para alcanar (o estabelecimento de) uma novaordem.Nessa direo, o movimento social de ordem ativa implica mudanas sociais no apenas no que diz respeito insero de pessoas dentro de estruturas j institudas pelos valores hegemnicos, mas tambm no que dizrespeito s mudanas na expresso cultural de tais valores, estabelecendo uma nova representao de vida e,por extenso, um outro modo de viver o cotidiano. o caso do Movimento dos Sem-Terra, o MST.

    O MST uma das maiores lies que podemos tirar da histria dos movimentos sociais. Um grupo depessoas humildes, vivendo na difcil realidade rural brasileira, diante dos problemas da falta de propriedade,iniciou um trajeto de unio de interesses para resolver seus problemas de habitao. Ao empreender a lutapela reforma agrria, acabou entendendo que a conquista de todos os direitos sociais que compem o que sepoderia chamar de cidadania plena exige tambm uma reforma na Educao de seus participantes.Nesse sentido, o MST um movimento social ativo, pois, em sua luta, institui uma nova representao

  • social, a dos sem terra, cuja cultura difere do modo de vida das classes hegemnicas e revela umapreocupao em transformar politicamente nossa sociedade de consumo.Certa vez, em 1999, perguntamos ao lder do MST por que no se candidatava a uma cargo poltico emBraslia. A expresso de descontentamento tornou-se patente. Ele respondeu que o movimento representavauma fora de expresso contrria a toda forma de organizao j existente. A contraposio em seuspropsitos fundamenta uma nova forma de organizao e, portanto, de representao social, de modo que,caso um de seus membros se candidatasse, reproduziria tudo aquilo o que o MST contra. Por conta disso que houve, na mesma poca, um escndalo em torno de uma secretria do MST, ao posar nua para arevista Playboy. Ao se expor nua, ela quebrou, segundo o mesmo lder, os valores sociais do MST,vinculando-se venda de imagem tal como orienta o mercado de produtos, prprio do sistema capitalista.A Educao entre os membros do MST, por exemplo, ocorre em processo, com a participao de crianas,mulheres, jovens e idosos na construo de relaes e conscincias distintas do senso comum ditomajoritrio algum de vocs j viu alguma escola que rena todos esses grupos num mesmo espao deensino, por exemplo?

    Assim, nesse primeiro momento, aprendemos de imediato que os movimentos sociais podem sercategorizados em duas ordens:a) passiva, quando determinado(s) grupo(s) tenta(m) manter alguns elementos socioestruturais de formamais ampla, na tentativa de ampliar certos benefcios sociais reconhecidamente institudos;b) ativa, quando determinado(s) grupo(s) tenta(m) romper padres sociais institudos de modo a criar atritosde ordem poltica, no af de profundas transformaes sociais.Por fim, destacamos que a caracterstica fundamental dos movimentos sociais compreende a unio depessoas no desejo de estabelecer uma nova ordem de vida, seja atravs de atritos, seja de forma coadunadacom a legalidade instituda.

    TIPOLOGIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

    a) Tipo MigratrioSua caracterstica principal a insatisfao com sua sociedade de origem, independendo se tal tipo demovimento social composto por famlias ou indivduos organizados em grupos. Os seus agentes migramna esperana de melhores condies sociais para um lugar totalmente diferente do local de origem.Ex.: Os movimentos migratrios de nordestinos para o Sudeste do pas, levando-os a um tipo de agregaorepresentativa no Rio de Janeiro e em So Paulo.

    b) Tipo ProgressistasOs membros do tipo progressista fazem parte de um segmento especfico da sociedade (os que aspiram amudanas pela sua ao) e, ao agir, foram outros segmentos a modificar a estrutura social estabelecida, noaf de mudanas positivas. Tambm so chamados de liberais.Agem no desejo de mudar, numa atualizao social permanente contrapondo-se a regras, leis e tradiesexistentes.Ex.: Sindicalistas, partidos polticos, comunidades eclesisticas.

    c) Tipo Conservacionistas ou de ResistnciaCaminham exatamente na contramo dos progressistas, isto , no somente resistem s reformas emudanas, como procuram, at mesmo, retornar ordem anterior as obras sociais conquistadas.Ex.: Grupos que se manifestam contra a legalizao do aborto e do divrcio; eclogos desejosos de umretorno ao naturalismo maculado pelo mundo altamente industrializado.

  • d) Tipo Regressivos ou ReacionriosMovimentos sociais que renem indivduos insatisfeitos com mudanas e almejam restabelecer as condiessociais que antes imperavam.Segundo Lakatos (1990), esses indivduos formam grupos a partir do descontentamento e de tendncias dedeterminada mudana (p. 296).Ex.: Ku Klux Klan, neonazistas, Tradio, Famlia e Propriedade (cuja proposta se fundamenta emprincpios puristas da famlia crist).

    e) Tipo ReformistasMovimentos sociais cujos membros primam por introduzir o que acreditam ser o melhor para a sociedade qual pertencem, sem alterar as estruturas bsicas estabelecidas. Dependendo do tipo de sociedade em que seencontram, seus membros acabam por enfrentar grandes resistncias ou incentivos para sua dinmica. Aresistncia inevitvel em sociedades de regime autoritrio, onde mudanas advindas da participao doconsenso coletivo se contrapem, natural e indubitavelmente, tirania. Por outro lado, o mesmo consensocoletivo desejvel nas sociedades de governo democrtico. Logo, na democracia, os movimentos sociaisde natureza reformista so essenciais para a atualizao de sistemas estruturais societrios.Ex.: Movimentos feministas, homossexuais, ou mesmo o movimento abolicionista durante o perodo doImprio.

    f) Tipo ExpressivosGrupos que, longe de propor transformaes na sociedade em que se encontram, direcionam-se a realizartransformaes em sua prpria percepo e reaes frente ao que socialmente conflitante, desagradvel econfinante.Ex.: Movimentos religiosos: como o Hare Krishna e o Messinico.

    g) Tipo UtpicosSo compreendidos como movimentos separatistas, pois fecundam uma realidade paralela que se vive,numa dinmica de idealizao social. Livros como A Repblica, de Plato, e A cidade de Deus, de SantoAgostinho, retratam o desejo humano de viver dentro de situaes utpicas.Assim, esse tipo de movimento social se caracteriza pela fuga da realidade, criando um discurso parafundamentar uma sociedade ideal.Ex.: O movimento hippie.

    h) Tipo RevolucionriosMovimentos sociais que se organizam para combater o que socialmente conflitante, desagradvel econfinante. Os grupos que se formam dentro desse tipo de movimento social desejam mudanas rpidas esaem em campo para romper com a ordem hegemnica para conquistar seus interesses.Ex.: IRA.

    Assim, conforme vimos em Lakatos (1990), os movimentos sociais se dividem em diferentes tipos, deacordo com suas caractersticas especficas: migratrios; progressistas; conservacionistas ou de resistncia;regressivos ou reacionrios; reformistas; expressivos; utpicos; revolucionrios.

    Resumo aula 02 Movimentos Sociais e Educao |Genealogia

  • FASE DOS MOVIMENTOS SOCIAISSegundo Lakatos (1990), h diferentes estgios em que podemos classificar o seu desenvolvimentoestrutural. Essa autora acredita que todos os movimentos sociais passam pelos mesmos estgios em suagnese constitutiva, sendo eles:a) agitao; b) excitao; c) formalizao; d) institucionalizao.

    Agitao Segundo a autora, um estgio prolongado em que a populao, apesar de insatisfeita, nada fazem termos de ao rumo unio de grupos para o alcance de seus propsitos sociais, talvez por no saberatuar (p. 298).

    Excitao A intranqilidade existente no estgio anterior, generalizada e vaga, totalmente semdirecionamento para alcanar metas, d lugar a uma canalizao dastenses vividas por determinados grupos. Aparece, ento, a importncia do lder, cujo discurso d sentido epropsitos para que determinadas coletividades sigam num mesmo endereamento para a ao detransformao na dinmica social de que fazem parte.

    Formalizao Lakatos (1990) admite que alguns grupos podem no prescindir de formalizao. Cita osgrupos migratrios como sendo aqueles que no carecem de uma organizao para direcionar os passos desua ao. Em contrapartida, outros grupos dependem de uma ideologia, uma moral ou, ainda, umasignificao slida, para justificar sua ao numa direo especfica de seu movimento socialmentetransformador.

    Institucionalizao o estgio em que ocorre a notoriedade social da identidade e ideologia dosmovimentos sociais. De modo geral, o carisma dos primeiros lderes substitudo pelo profissionalismo derepresentantes capazes de conduzir os movimentos dentro de sua institucionalidade. Em tal estgio, oEstado atua para desestabilizar e/ou desmobilizar o movimento (ibid.).

    Geralmente o Estado apresenta uma atuao desestimuladora frente aos movimentos sociais que se propema atualiz-lo administrativa e economicamente. E isto devido ao fato de que o Estado age como umainstituio j socialmente consolidada, cuja estrutura, operada em sistemas (sistema de sade, de educao,de habitao etc.), deve ser incorporada vida dos cidados.Uma vez institucionalizado, enfim, um movimento social dever ser coerente em seus princpios para noperder a direo a partir da qual se fez o desejo de transformar a realidade social, e se tornar mais umadinmica social contraditria em sua prtica!

    O xito dos movimentos sociais depende no somente da competncia, atravs da qual lderes sedemonstraro capazes de direcionar o descontentamento percebido coletivamente, sem cair na incoernciado discurso ideolgico inicial, a fim de assegurar uma consistncia moral ao grupo, mas, fundamentalmente,na capacidade de pessoas carismticas mediarem o agrupamento de pessoas por intermdio de umasignificao comum diante de um mesmo tipo de sentimento; um sentimento inicial e teoricamenteengendrado pela injustia social: o sentimento de abandono.No Brasil, notrio o sentimento de insatisfao dos professores em face de seus salrios. Mesmopertencendo a um sindicato que garante determinados direitos classe docente, dificilmente encontraremosum professor satisfeito com o salrio que ganha. Podemos dizer, portanto, conforme aprendemos, que osindicato dos professores, na defesa de seus interesses, funciona dentro de uma ordem passiva, numatipologia reformista e j totalmente institucionalizada. Nem por isso deixa de ser movimento social, poistodo sindicato tem esse perfil: a organizao de pessoas para o estabelecimento de uma nova ordem (ouajustes) de vida.

  • O fenmeno do exemplo do morro da Mangueira, de cujos trabalhos se destacam dinmicas artsticas,esportivas e educacionais, retrata o fato de sua assistncia estar estruturada como um movimento social deordem passiva, dentro de uma tipologia progressista e reformista, num estgio slido de institucionalizao.O morro da Mangueira, enfim, graas a seus projetos e atividades variadas, tornou-se um modelo demovimento social desejvel aos olhos do Estado.Na discusso entre interesses hegemnicos e interesses de minorias, o que se tem so tenses de fora. Porisso, nem sempre (ou quase nunca...) fcil o governo aderir a decises decorrentes das insatisfaescoletivas.

    Segundo Lakatos (1990), as quatro fases para a formao de um movimento social. So essas: a) a agitao,b) a excitao, c) a formalizao, d) a institucionalizao.

    Tornamo-nos cientes de que os movimentos sociais no raro resultam de um sentimento divididocoletivamente. Sentimento derivado da insatisfao de um determinado desconforto diante de umacircunstncia social desagradvel e pendente de soluo (a agitao); de um momento conseguinte, no qualso identificados determinados focos de intranqilidade, pelo que o esprito de solidariedade frente amudanas emerge de forma direcionada (a excitao); de um estgio em que a solidariedade citada sedesenvolve moral e ideologicamente para o planejamento da ao em grupo (a formalizao); e, por fim,o status de sobreviver como entidade que o Estado passa a reconhecer como agente social capaz de atuarpositivamente na sociedade (a institucionalizao).

    Resumo aula 03 Movimentos Sociais e Educao | Condies estruturais, fatores individuais e situaesfavorveis

    ELEMENTOS PROPICIADORES FORMAO DOS MOVIMENTOS SOCIAISA compreenso dos elementos propiciadores formao dos movimentos sociais aponta para os seguintesfenmenos, segundo o pensamento de Lakatos (1990): a) condies estruturais; b) motivos individuais; c)condies sociais.

    Condies estruturais que, socialmente, inclinam pessoas a se aglutinarem para agir numa direo comum.So essas, segundo Stockdale: (in HORTON; HUNT apudLAKATOS, 1990, p. 299):a) descontentamento social sentimento de inadequao ou de injustia decorrente da estrutura socialvigente;b) bloqueio estrutural barreiras levantadas pela estrutura social impedindo pessoas e grupos de eliminarema fonte que origina o seu descontentamento;c) contato possibilidade de encontro e interao por parte dos elementos descontentes, submetidos mesma situao social;d) eficcia consubstanciada na expectativa do grupo de que uma ao particular proposta aliviar osmotivos de descontentamento e trar alteraes desejadas na organizao da sociedade;e) ideologia conjunto de idias e crenas que tm por finalidade justificar a ao proposta.

    H determinados fatores individuais que propiciam a unio de pessoas para formar um movimento social.Tais fatores so: a) mobilidade; b) marginalidade; c) isolamento e alienao; d) mudana de status social; e)ausncia de laos familiares; e f) desajustamento pessoal.

  • a) Mobilidade Refere-se ao fato de que as contingncias materiais e sociais impelem pessoas a semoverem de uma regio a outra, procurando obter melhores condies de vida.

    b) Marginalidade Determinadas pessoas podem se sentir estimuladas formao de movimentos sociais,caso se entendam marginalizadas. O conceito de marginalidade mais amplo do que o entendido pelo sensocomum, que geralmente o usa como sinnimo de bandidagem. Como marginal devemos entender tudoaquilo e aqueles que se encontram na periferia da estrutura bsica da sociedade.

    c) Isolamento e alienao Afetam pessoas que, por razes econmicas ou por conta de doenas, entreoutros motivos, acabam se afastando da sociedade que lhes comum.

    d) Mudana de status social Segundo Lakatos (1990), ao ascender socialmente, uma pessoa poder setornar insegura a ponto de ingressar em um movimento social na expectativa de evitar a ameaa de retorno perda do status alcanado.

    e) Ausncia de laos familiares A falta de pessoas da famlia para cuidar pode levar pessoas a seocuparem de outras, no af de se sentirem teis e de resolver problemas ligados afetividade.

    f) Desajustamento pessoal A mesma autora sustenta o argumento de que pessoas desajustadastemporariamente so diferentes das pessoas patologicamente desajustadas. As primeiras, numa situao dedesemprego, por exemplo, poderiam se engajar em movimentos sociais, mas, uma vez defendidos os seusprprios interesses e adaptadas sociedade em comum, dificilmente continuam fazendo parte demovimentos sociais.

    CONDIES SOCIAIS PROPICIADORAS DOS MOVIMENTOS SOCIAISA autora destaca as correntes culturais, a desorganizao social ou aANOMIA (Ausncia de regras numadeterminada sociedade ) e o descontentamento social como sendo os fatores mais relevantes para o incentivo formao dos movimentos sociais.

    a) Correntes culturais As correntes culturais parecem ser engendradas a partir das relaes de produo.A idia de que pessoas precisam produzir novos produtos e coisas j implica transformaes culturais, poisningum produz algo cuja lgica fomente a crena de que tal produto no promover uma melhorsobrevivncia das pessoas no mundo.

    b) Desorganizao social ou anomia A vida social um processo em pleno movimento dinmico em suaprodutibilidade; situaes novas emergem continuamente da dinmica inerente produo da ordem social,em um fluxo intermitente de novas necessidades compostas pelas relaes humanas.A anomia significa isso: a total falta de normas sociais, pelo que se insta uma sociedade doente.Lakatos (1990) afirma que o estado de confuso e incerteza trazido pela anomia aos atores sociais

    c) Descontentamento social Esse estado, como denomina Lakatos (1990), diz respeito ao imaginriocoletivo. Para a autora, a insatisfao comum disseminada pela sociedade geralmente decorre de trssituaes. So essas: privao relativa ocorre pelo fato de as pessoas entenderem que poderiam materialmente ter muito maisdo que deveriam ter, na comparao entre o que consomem e o que idealmente pensam que poderiamconsumir.

  • percepo da injustia diante das diferenas sociais, o juzo de valor e o sentimento de indignao depessoas de qualquer classe podem justificar o aumento da incidncia de movimentos sociais na ao degrupos tentarem minimizar fatos ou condies que ajuzam injustos. incoerncia de status situao em que as diferentes posies ocupadas por uma pessoa no socoincidentes.Caminham exatamente na contramo dos progressistas, isto , no somente resistem s reformas e mudanas, como procuram, at mesmo, retornar ordem anterior as obras sociais conquistadas.Ex.: Grupos que se manifestam contra a legalizao do aborto e do divrcio; eclogos desejosos de umretorno ao naturalismo maculado pelo mundo altamente industrializado.

    d) Tipo Regressivos ou ReacionriosMovimentos sociais que renem indivduos insatisfeitos com mudanas e almejam restabelecer as condiessociais que antes imperavam.Segundo Lakatos (1990), esses indivduos formam grupos a partir do descontentamento e de tendncias dedeterminada mudana (p. 296).Ex.: Ku Klux Klan, neonazistas, Tradio, Famlia e Propriedade (cuja proposta se fundamenta emprincpios puristas da famlia crist).

    e) Tipo ReformistasMovimentos sociais cujos membros primam por introduzir o que acreditam ser o melhor para a sociedade qual pertencem, sem alterar as estruturas bsicas estabelecidas. Dependendo do tipo de sociedade em que seencontram, seus membros acabam por enfrentar grandes resistncias ou incentivos para sua dinmica. Aresistncia inevitvel em sociedades de regime autoritrio, onde mudanas advindas da participao doconsenso coletivo se contrapem, natural e indubitavelmente, tirania. Por outro lado, o mesmo consensocoletivo desejvel nas sociedades de governo democrtico. Logo, na democracia, os movimentos sociaisde natureza reformista so essenciais para a atualizao de sistemas estruturais societrios.Ex.: Movimentos feministas, homossexuais, ou mesmo o movimento abolicionista durante o perodo doImprio.

    f) Tipo ExpressivosGrupos que, longe de propor transformaes na sociedade em que se encontram, direcionam-se a realizartransformaes em sua prpria percepo e reaes frente ao que socialmente conflitante, desagradvel econfinante.Ex.: Movimentos religiosos: como o Hare Krishna e o Messinico.

    g) Tipo UtpicosSo compreendidos como movimentos separatistas, pois fecundam uma realidade paralela que se vive,numa dinmica de idealizao social. Livros como A Repblica, de Plato, e A cidade de Deus, de SantoAgostinho, retratam o desejo humano de viver dentro de situaes utpicas.Assim, esse tipo de movimento social se caracteriza pela fuga da realidade, criando um discurso parafundamentar uma sociedade ideal.Ex.: O movimento hippie.

    h) Tipo RevolucionriosMovimentos sociais que se organizam para combater o que socialmente conflitante, desagradvel econfinante. Os grupos que se formam dentro desse tipo de movimento social desejam mudanas rpidas esaem em campo para romper com a ordem hegemnica para conquistar seus interesses.Ex.: IRA.

  • Assim, conforme vimos em Lakatos (1990), os movimentos sociais se dividem em diferentes tipos, deacordo com suas caractersticas especficas: migratrios; progressistas; conservacionistas ou de resistncia;regressivos ou reacionrios; reformistas; expressivos; utpicos; revolucionrios.

    Resumo aula 04 Movimentos Sociais e Educao | Condutas coletivas

    Os movimentos sociais seriam inexistentes se atores sociais no se organizassem para agir em grupo, nadefesa de interesses. podemos teoricamente, tal qual nos ensina Allain Tourraine (2002), dividir as condutascoletivas em dois nveis: organizacional; social.

    Condutas coletivas. Tais condutas resultariam da ao das pessoas em determinadas comunidadespara defender, contestar, ou defender e contestar ao mesmo tempo, seus interesses de ordemsocial. Tourraine, assim, define os movimentos sociais como a ao conflitante de agentesdas classessociais lutando pelo controle do sistema de ao histrica (p. 283).

    Conforme o pensamento de Tourraine (2002), para realizar uma correta anlise das condutas coletivas, fundamental considerar o fato de que, dependendo de seus interesses, os atores se misturam (pobres ericos, por exemplo). Atores se agrupam, na dimenso dos sistemas institucionais, de forma diferenciada,atravs do desenrolar de seus papis (papel de pai, professor, profissional liberal, sem teto etc.).Misturam-se porque so convocados a desempenhar uma ao socialmente importante, de acordo comfatores culturais e situacionais, representados na dinamicidade do espao-tempo de suas vidas, nos conflitosdas tenses sociais. Veja, por exemplo, o MST.Quantos intelectuais e artistas, e mesmo pessoas do Governo, no defendem e se unem pela causa deproblemas de falta de moradia dos sem-terra? No entanto, tais classes, diferentemente dessa ltima, sosocialmente privilegiadas.

    A organizao compreendida como uma estrutura materialmente definida para a produo efetiva deresultados concretos: um carro, o saber construdo numa escola ou o atendimento mdico em um hospitalqualquer (pblico ou privado). Um carro, o saber (escolar ou no), qualquer tipo de atendimento sofenmenos mundanos e, portanto, decorrentes da ordem construda pela mo do homem;

    A instituio um complexo integrado de idias, padres de comportamento, relaes polticas e, muitasvezes, um equipamento material, organizados em torno de um interesse socialmente reconhecido.Asinstituies so erguidas por uma razo vital: a manuteno dasobrevivncia humana e, nesse sentido, huma srie de acordos para o seu estabelecimento, que so polticos e materiais, a fim de colocar sistemaspoliticamente acordados em funcionamento;

    O conceito de organizao abrange tambm a concepo de um sistema de relaes entre os membros de umgrupo ou entre os grupos de uma sociedade, relaes essas que envolvem obrigaes e compensaesrecprocas, diante de padres de contribuies e retribuies sociais.Como as instituies so construdaspara a manuteno da vidahumana, fundamental que os humanos dos quais as instituies dependem

  • para se manterem estabelecidas compreendam e obtenham delas vantagens para a sua prpriasobrevivncia.

    Quais so os dois nveis de condutas coletivas? Como ocorrem?Organizacional e social. O primeiro nvel (organizacional) ocorre dentro das estruturas decorrentes das leisestabelecidas institucionalmente; o segundo nvel (social), no mbito das prprias instituies.

    O que o passado e o futuro tm a ver com o desenrolar das condutas coletivas?Por ser um sujeito histrico, o Homem est sempre se remetendo a ncoras do passado para refletir melhorsobre as aes que crem poder ser positivas para o seu futuro. Nesse sentido, muitas vezes, os atoressociais mencionam ou lembram o passado para ilustrar que agir necessrio para a conquista de futurastransformaes sociais.

    Resumo aula 05 Movimentos Sociais e Educao | MST Movimento dos Sem-Terra

    No Brasil, as invases de terra se misturam com as lutas pela moradia popular na cidade de So Paulo,lutas que fazem parte da prpria histria de urbanizao da cidade.

    O Movimento dos Sem-Terra faz parte dessa histria e destaca-se, em 1987, pelas manifestaes da ZonaLeste de So Paulo. Enquanto a imprensa denominava suas aes de invases de terra, seus lderes asdenominavam ocupaes. Diferentemente do que se verifica na dcada de 1970, com a formao defavelas na Grande So Paulo, as manifestaes das ocupaes de terra na dcada de 1980 foraramnegociaes com o Estado, pois se tratava de ocupaes coletivas e organizadas cujo objetivo eraestabelecer direitos de moradia popular, criando polmicas e conflitos, caso isso fosse necessrio. Daoriginaram-se projetos populares para a construo de moradias. Por isso, o MST tornou-se umareferncia para a organizao popular que se inclinou multiplicao de buscas incessantes e socialmentenecessrias para os assentamentos em diferentes pontos do pas.Na Zona Leste, todos os movimentos vinculados posse da terra estavam intimamente associados Igreja.O MST, que surgiu oficialmente em 1983, no estado de So Paulo, obteve sua ao na Zona Leste apoiadopela Igreja Catlica. Sua efetiva organizao viabilizou uma manifestao mpar na histria da polticabrasileira, diante do Palcio Bandeirantes, representando 60 municpios paulistas e pretendendopressionar o governo do Estado para obter promessas relativas reforma agrria em So Paulo (ibid., p.80).

    Entre 1984 e 1986, graas ao apoio da Pastoral e sua alta organizao para a ao poltica, o MSTconquistou 1.788 lotes atravs de programas municipais, principalmente o Projeto Joo de Barro, onde asfamlias constroem suas casas com material financiado pela Cohab. Os terrenos tambm so financiadospela Cohab ou pelo Funaps (Fundo de Atendimento Populao Moradora em Habitao Sub-Normal)(ibid., p. 81)

    HISTRIA DO MSTInstitucionalizado em 1985, o MST atualmente est presente em 23 estados e participa ativamente da aopblica, atravs da representatividade de 1,5 milho de seus membros. H 300 mil famlias assentadas e 80mil em acampamentos. As ocupaes de fazendas e reas diversas marcam a histria contempornea doespao pblico e transformam o perfil da cultura brasileira, vista como uma cultura de festas de carnaval epouco politizada, apesar de que a luta pela terra no Brasil surgiu bem antes do MST.Finalmente, em 1984, o MST fundado oficialmente no 1 Encontro dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra,

  • realizado em Cascavel, PR. O 1 Congresso Nacional dos Sem-Terra ocorre no ano seguinte.A histria dos sem-terra nos demonstra que a luta organizada condio para as conquistas sociais. Aorganizao de acampamentos, ocupaes diversas (em sedes de governos e fazendas), marchas, destruiode plantaes de transgnicos e greves de fome so exemplos de suas aes.Em 19 de abril de 1997, vrias pessoas de diferentes pontos do pas alcanaram Braslia pela MarchaNacional por Emprego, Justia e Reforma Agrria. Em agosto de 2000, o 4 Congresso Nacional contoucom a participao de onze mil congressistas.Dezessete anos de luta fizeram com que os lderes do MST organizassem sistemas internos e reivindicaespara alm da conquista da terra. A possibilidade de crdito, de construo de moradia, de obteno deassistncia tcnica e educao, de atendimento sade, entre outras necessidades das famlias sem-terra,so aspectos que levam famlias assentadas a permanecerem associadas ao MST em luta contra asdesigualdades sociais.

    Existem hoje cerca de 400 associaes de produo, comercializao e servios; 49 Cooperativas deProduo Agropecuria (CPA) com 2.299 famlias associadas; 32 cooperativas de prestao de servioscom 11.174 scios diretos; duas cooperativas regionais de comercializao e trs cooperativas de crditocom 6.521 associados. So 96 pequenas e mdias agroindstrias que processam frutas, hortalias, leite ederivados, gros, caf, carnes e doces. Essa realidade no teria sido conquistada sem lutas. Osempreendimentos econmicos do MST geram emprego, renda e impostos, beneficiando indiretamente cercade 700 pequenos municpios do interior do Brasil. Aliada produo est a educao: cerca de 200 milcrianas estudam da 1 4 srie nas 1.800 escolas pblicas dos assentamentos. Quatro mil educadores sopagos pelos municpios e desenvolvem uma pedagogia especfica para as escolas do campo. Em conjuntocom a Unesco e mais de 50 universidades, o MST desenvolve programas de alfabetizao paraaproximadamente 30 mil jovens e adultos nos assentamentos. H diversas universidades brasileiras (PA,PB, SE, ES, MT, MS e RS) envolvidas com cursos de Pedagogia e Magistrio para formar novos educadoresdentro dessa perspectiva pedaggica. H tambm a formao de tcnicos em administrao deassentamentos e cooperativas e magistrio. Em 2001, iniciaram o curso tcnico em Enfermagem e umPrograma de Educao Ambiental para lideranas, professores e tcnicos de reas de assentamentos,associado ao Ministrio do Meio Ambiente. Preservao de matas, plantio orgnico e produo de ervasmedicinais so outras aes de significativa representatividade poltica do MST. A luta do MST continuasituando a ao em grupo, unindo e convocando a unio de movimentos do campo e da cidade, objetivandocontinuar seu propsito de construir um projeto popular no Brasil.

    ANLISE DAS CATEGORIAS TERICAS PRESENTES NA HISTRIA DO MSTPoderamos classificar esse movimento como de ordem ativa, pois seus membros querem alterar a ordem daestrutura social, estabelecendo novos direitos e modelos para a organizao social.Quanto tipologia, voc poder facilmente identificar que h um conjunto de caractersticas que seimbricam. Podemos dizer que o MST tem um perfil migratrio, j que muitas vezes seus agentes migram, aolongo do pas, na esperana de melhores condies sociais; mas no deixa de ser um movimentoprogressista, uma vez que, ao agir, o MST impele outros segmentos (Igreja e partidos polticos) a lutar pormodificaes na estrutura social estabelecida. Nesse sentido, torna-se um movimento reformista,considerando o fato de que seus membros primam por introduzir o que acreditam ser o mais justo para asociedade a que pertencem, sem com isso alterar as estruturas bsicas j estabelecidas (o MST quer adistribuio de terras, ampliando o nmero de proprietrios mas a noo de propriedade tal qual aentendemos permanece inalterada em seu uso, mesmo que se estabeleam cooperativas de proprietrios deum mesmo solo). revolucionrio, pois no deixa de ter umcarter de combate ao que socialmente conflitante, desagradvel e confinante (como vem sendo aprivao que muitos cidados brasileiros vm passando), saindo em campo para romper com a ordem

  • hegemnica, na conquista da distribuio da terra.

    Resumo aula 06 Movimentos Sociais e EducaoO MST Movimento dos Sem-Terra e a Educao

    Para os lderes do MST, lutar somente pela terra no suficiente para uma reforma social. A luta pelareforma agrria, assim, vai alm da conquista da terra e abrange a conquista da cidadania plena, cujoexerccio exige a educao numa prtica da autonomia do pensamento. Este ltimo, o pensamento, dependede um conjunto de informaes e prticas prprias do estudar. A Educao, assim, torna-se no apenasum direito pelo qual tambm preciso mobilizao, organizao e lutas em nosso pas, mas um desafiopara a construo da autonomia.At onde temos registro, o complexo do sistema de ensino do MST rene um universo de 1.800 escolas deEnsino Fundamental, com 160 mil crianas e adolescentes freqentando essas unidades em acampamentose assentamentos.

    A FILOSOFIA DA EDUCAO DO MSTA Educao nos acampamentos e assentamentos tem seus princpios filosficos voltados para: a formao da sociedade por meio de valores humanistas e socialistas; a educao de classe; a transformao social; a cooperao; a valorizao do indivduo.

    A prtica da produo do conhecimento nos assentamentos e acampamentos decorre da realidade dosestudantes. Segundo Coltro (1998), para compreender a situao da agricultura no pas, por exemplo,recorre-se ao pensamento de como a agricultura doprprio assentamento vem sendo produzida.

    Relacionar teoria e prtica para que os alunos tornem-se pessoas capazes de articular as questes dodia-a-dia, ou problemas que aparecem no ambiente de trabalho e na militncia do MST e combinarprocessos de ensino e de capacitao so os dois primeiros preceitos pedaggicos do MST. Dirceu Queirozdos Santos, um dos coordenadores de educao do MST, explica que na Matemtica, por exemplo, osalunos utilizam o prprio processo de produo para compreender a disciplina. Em um dos acampamentosdo Estado de So Paulo, os estudantes mediram a rea onde um parque ia ser construdo e calcularamquanto material seria utilizado. Usaram a teoria da disciplina na prtica, diz Santos, relacionando a lutado Movimento com as suas prprias experincias pessoais (Renata Coltro, com reportagem de LuanaFischer Semeando Educao no MST Projeto Experimental Jornalismo 4 ano PUC/SP Junho /98).

    Saber-fazer e saber-ser so os saberes que guiam os educadores em sua meta pedaggica.

    APRENDER PARA O TRABALHOA ligao entre processos educativos, polticos, econmicos e culturais, para que os estudantes sem-terratornem-se militantes de fato, outra preocupao pedaggica do movimento: A escola no pode negar suarelao com a poltica. Deve, portanto, alimentar a indignao diante de situaes de injustia eimpunidade que esto sendo, atualmente, difundidas pelos meios de comunicao e pela sociedade, pregao boletim do MST. E para que os alunos pensem dessa forma, enfatizam-se o estudo de Histria, o de

  • Economia Poltica e, tambm, a participao dos trabalhadores sem-terra em lutas sociais de outrascategorias.Nas escolas dos acampamentos e assentamentos, pretende-se mostrar aos alunos que o trabalho geradorde riquezas e que se deve saber a diferena entre relaes de explorao e relaes de igualdade na lida docampo. H, tambm, uma preocupao para que no se discrimine o trabalho manual, diante do intelectual(id.).

    O setor de Educao, como ncleo administrativo do ensino no MST, tambm garante o trmite dereconhecimento do grau obtido nas escolas do MST pelo Ministrio da Educao e do Desporto (MEC), oque possibilita aos alunos o ingresso ao ensino superior comum.Os preceitos pedaggicos cultivados no setor de Educao convergem para a filosofia pedaggica do MST.So eles, segundo Coltro (id.): relacionar teoria e prtica; combinar mtodos de ensino e de capacitao; educar para o trabalho; associar educao e cultura; incentivar a auto-organizao dos estudantes; gerir democrtica e pedagogicamente as escolas; incentivar atividades de pesquisa; associar interesses coletivos e individuais.

    PRINCPIOS E LINHAS METODOLGICAS DO MSTOs princpios pedaggicos, isto , os caminhos de fazer e pensar a Educao tm como meta concretizardeterminados princpios filosficos. Tornam-se elementos essenciais para a prtica educacional e, no casodo sistema de ensino do MST, inclui a reflexo metodolgica dos processos educativos, chamando atenode que h prticas diferenciadas a partir dos mesmos princpios pedaggicos e filosficos. Assim, asdiferentes prticas pedaggicas entre escolas infantis de assentamentos e cursos de ensino especfico, comoTcnico em Administrao de Cooperativas (TAC), atendem aos mesmos princpios filosficos epedaggicos.

    PRINCPIOS DA EDUCAO NO MSTAs lutas sociais do MST esto ligadas s defesas que ideologicamente o movimento sustenta. Note que hcoerncia em termos de lutar pelo direito comum, de produzir o fazer social de modo organizado e livre e oincentivo de uma prtica de ensino cujos participantes so induzidos reflexo (exigida na prtica daautonomia). Esse fato vem despertando a admirao de governos estrangeiros que entendem o MST geriruma ao que socializa os seus participantes. At porque, de certa forma, as lutas sociais voltadas para odireito da ao coletiva em prol de conquistas sociais corrobora o ponto de vista do livre comrcio (porintermdio de cooperativas, por exemplo). A ao social, deste modo, acaba por integrar pessoassocialmente marginalizadas para o sistema econmico vigente, j que o movimento cria suas prpriasoportunidades para o trabalho, na tica da sustentabilidade e da ecologia, na esfera de sua realidaderural aspectos essenciais nova ordem globalizada da atual economia mundial. No toa que o MSTvem despertando a ateno da ONU, de ONGs e de diferentes governos.

    As principais defesas que permanecem como bases da Educao do sistema de ensino do MST O direito, sem restrio de idade, educao bsica. A construo coletiva da escolarizao. Metodologias e prticas educativas adequadas realidade do meio rural e do MST. Ensino pblico de qualidade nas escolas dos assentamentos.

  • Pedagogias inspiradas em princpios libertrios, freirianos.

    Princpios filosficos da Educao no MST Educao para a transformao social. Educao aberta para o mundo, aberta para o novo. Educao para o trabalho e a cooperao. Educao voltada para as vrias dimenses da pessoa humana. Educao como processo permanente de formao/transformao humana.

    Princpios pedaggicos da Educao no MST Relao permanente entre a prtica e a teoria. Combinao metodolgica entre processos de ensino e de capacitao. A realidade como base da produo do conhecimento. Contedos formativos socialmente teis. Educao para o trabalho e pelo trabalho.Vnculo orgnico entre processos educativos e processos polticos. Vnculo orgnico entre processos educativos e processos produtivos. Vnculo orgnico entre educao e cultura. Gesto democrtica. Auto-organizao dos/das estudantes. Criao de coletivos pedaggicos e formao permanente dos educadores. Atitude e habilidades de pesquisa. Combinao entre processos pedaggicos coletivos e individuais.A Repblica, de Plato, e A cidade de Deus, de Santo Agostinho, retratam o desejo humano de viver dentrode situaes utpicas.Assim, esse tipo de movimento social se caracteriza pela fuga da realidade, criando um discurso parafundamentar uma sociedade ideal.Ex.: O movimento hippie.

    h) Tipo RevolucionriosMovimentos sociais que se organizam para combater o que socialmente conflitante, desagradvel econfinante. Os grupos que se formam dentro desse tipo de movimento social desejam mudanas rpidas esaem em campo para romper com a ordem hegemnica para conquistar seus interesses.Ex.: IRA.

    Assim, conforme vimos em Lakatos (1990), os movimentos sociais se dividem em diferentes tipos, de acordocom suas caractersticas especficas: migratrios; progressistas; conservacionistas ou de resistncia;regressivos ou reacionrios; reformistas; expressivos; utpicos; revolucionrios.

    Resumo aula 07 Movimentos Sociais e Educao | Ajudando a construir a cidadania

    Parece um absurdo conceber a vida como sendo algo diferente de mundo, no ? Afinal, no senso comum,usamos os dois conceitos para nos referirmos mesma idia. Por exemplo, quem nunca emitiu as frases:Eu no agento mais essa vida!, ou ainda, Eu no agento mais esse mundo!, numa mesmaconcepo?O mundo construdo pela ao do homem, cuja energia do corpo ergue a realidade mundana. A vidaindepende do homem, pois ela continuaria animando o planeta, mesmo, que aquele no existisse. A vida

  • mundana depende da ao humana, mas a vida do planeta no.

    O PAPEL DA EDUCAOAs prticas educacionais transpassam, dessa forma, o preparo estritamente profissionalizante e atingem aformao humana em termos, digamos, espirituais. Nesse sentido, os PCN nos apresentam temastransversais, tais quais a tica e a ecologia. A tica, alis, no discurso do ensino atual, propugna o respeitos diferenas etnoculturais, mantendo, assim, a ao (poltica) de educadores numa direo (tica)necessria sobrevivncia de mltiplas representatividades: saber ser tolerante diante do que nos estranho/diferente. Construmos, desse modo, uma nova forma de ver, perceber e significar o mundo dentrodas seguintes vises: a viso contempornea da tolerncia frente realidade social um ideal, se considerarmos os povosque so massacrados (de forma simblica ou concreta) por no compartilharem das mesmas idias daordem da economia mundial; a viso do direito de expresso cultural isso, em tese, pois as culturas norte-americana e europiapermanecem hegemnicas, com privilgios sobre a expresso da cultura africana ou latino-americana, porexemplo; a viso do direito de consumo tambm em tese, j que o desemprego um fenmeno mundial e que adiferena de preos, mediante a qualidade da produo de mercadorias, abre um largo abismo entrediferentes classes e naes; a viso de eqidade sociocultural, atravs da qualidade de vida baseada na difuso e no uso de altatecnologia, na auto-sustentabilidade e na ecologia viso que se aproxima da que citamos anteriormente,pois diz respeito ao consumo que, em ltima instncia, ocorre tambm apenas em tese, por motivos bvios.O TERCEIRO SETORO que se entende hoje como Terceiro Setor abrange os movimentos sociais propugnados por voluntariedadede pessoas fsicas, ONGs e empresas privadas. No Brasil, cada vez mais crescem os movimentos sociaisassociados mentalidade conceitual do Terceiro Setor.Organizaes privadas sem fins lucrativos constituem o Terceiro Setor. Este gera bens, servios pblicos eprivados, objetivando o desenvolvimento poltico, econmico, social e cultural. Ocorre, ento, que: O Estado o Primeiro Setor. O mercado o Segundo Setor. Entidades da sociedade civil formam o Terceiro Setor.As organizaes no-governamentais (ONGs), as associaes e as fundaes so exemplos do quedenominamos Terceiro Setor.

    Para o professor Mrio Aquino Alves, da Fundao Getulio Vargas de So Paulo (veja a pgina dainternet www.Setor3.com.br), so fundamentais para o Terceiro Setor as caractersticas de:

    a) Altrusmo Amor ao prximo; significa filantropia e caridade; nos estudos de economia e sociedade, considerada prtica altrusta toda ao humana realizada sem motivao pecuniria.b) Assistncia Social Compreende prestar servios gratuitos de natureza variada a membros decomunidades, visando a atender necessidades de desprivilegiados.c) Associao a formao social que congrega pessoas interessadas em agir coletivamente em favor deum mesmo fim.d) Associativismo Movimento que se mostra em avano nos anos 60 e 70, incorporando, basicamente, aao paralela do Estado; no ter fins lucrativos, e o carter internacionalista.e) Ativismo Atividade de militncia poltica encontrada em diversos movimentos sociais, lembrando-nosdas aes do Greenpeace e do MST.f) Autogesto Modelo administrativo atravs do qual decises e controle de empresas decorrem dos

  • trabalhadores. Diz respeito participao direta e coletiva de trabalhadores na tomada de decises.g) Auto-Regulao Indica a capacidade de as entidades estabelecerem suas prprias regras defuncionamento, pelo que, teoricamente, as pessoas de uma entidade se tornam capazes de criar estatutos egerir seus destinos.h) Auto-Sustentabilidade Estado alcanado por uma organizao quando consegue gerar por meio desuas prprias atividades as receitas necessrias para garantir o financiamento de todos os seusprogramas e projetos.

    Os movimentos sociais so oficialmente desejveis, desde que sigam modelos hegemnicos e que, aoassistir desprivilegiados, no coloquem em risco os interesses da economia que ordena a vida atual. Nessesentido, por mais autonomia que possamos pensar ter, h uma dominao ideolgica de fazer e ordenar omundo em sua inevitabilidade; e, em nossas escolhas, permanecemos refns do nosso tempo. A liberdade,portanto, uma idia limitada s escolhas de que dispomos. Assim, saber pensar o que lhe pode trazeralegria e bem-estar pode ser fundamental para que voc venha a agir no mundo ao qual pertence. Tudodepender da relao entre a Educao e a experincia de vida de cada um, mediante a rede integrada decondies socioculturais e econmicas a que nos encontramos sujeitos.O Terceiro Setor encontra-se afi nado com a nova ordem mundial, dentro de imperativos fundamentais paraatender ao mercado globalizado, cuja tica econmica projeta a difuso irrestrita do consumo do que seproduz internacionalmente. Sob tal premissa, exige-se de diferentes coletividades o saber pensar e gerir a siprprias. Na prtica de tais imperativos, o papel da Educao se destaca para a construo simblicadesse tipo de mentalidade projetado pela nova ordem da economia mundial. Uma relao deensinoaprendizagem endereada multiplicao de um modelo de vida a ser seguido por todos, no fomentodo mundo em sua inevitabilidade: um modelo concebido a partir de idias de tolerncia e respeito entrediferentes representatividades, cujas vidas devem ser pensadas e geridas por si mesmas apesar de tudoisso ser muito diferente do que podemos observar na prtica.

    Resumo aula 08 Movimentos Sociais e Educao | O Terceiro Setor e a responsabilidade social

    No caso de empresas, denominamos essa atividade responsabilidade social. J no caso de ONGs, em que afora do trabalho poder ter um grande volume de voluntariado, temos o Terceiro Setor.

    AS DIMENSES ECONMICA, AMBIENTAL E SOCIALNa Cimeira do Rio de Janeiro, em 1992, adotou-se o plano de sustentabilidade para o sculo XXI, em quese fixaram as trs dimenses do desenvolvimento sustentvel: a dimenso econmica, a dimenso ambientale a dimenso social.A dimenso econmica tem, em seu eixo, a representao de criar riqueza para todos pelo modo deproduo e de consumo durveis; a dimenso ecolgica reporta-se conservao e gesto de recursos; adimenso social reflete a necessidade tica em que a eqidade e a participao de todos os grupos sociaisso indispensveis para a promoo da qualidade de vida do planeta.

    A dimenso econmicaA dimenso econmica da sustentabilidade diz respeito ao impacto das empresas (bem como de outrasorganizaes, como ONGs e mesmo governos) sobre as possibilidades e condies econmicas das partesinteressadas em desenvolver projetos variados tendo em vista o sistema econmico em todos os nveis(capital ativo, passivo, recursos etc.), de modo a poder pensar em viabilizar a produo empresarial deforma necessria, inteligente e no degradante ao meio.

    A dimenso ambiental

  • Pela perspectiva do desenvolvimento sustentvel, a questo ambiental vista pelos aspectos de recursos epoluies, considerando o impacto ambiental de curto e longo prazo. Aps as premissas dodesenvolvimento sustentvel, as empresas politicamente corretas devem considerar a dimenso ambientalcorrelacionando suas atividades com os impactos de suas atividades produtivas sobre os sistemas naturaisvivos e no-vivos, incluindo ecossistemas, solos, ar e gua. No Terceiro Setor, muitos so os trabalhos devoluntariado para a manuteno da ecologia de diferentes lugares do planeta. O Greenpeace a maiorexpresso desse tipo de movimento.

    A dimenso socialA dimenso social do desenvolvimento sustentvel evoca e fomenta idias de eqidade socioeconmica ecultural, valorizando a identidade dos seres humanos em toda a sua diversidade. No setor empresarial, adimenso social tem, em seu raio de ao, o impacto das atividades produtivas da empresa no sistemasocial onde operam.A dimenso social abrange, portanto, interesses mltiplos no raio de sua ao. Interesses que, em muitoscasos, no se coadunam na prtica de suas atividades. A responsabilidade social atua atendendo a reasprximas ao seu estabelecimento na expectativa de lucrar com a diminuio de custos, como passagens denibus; ou mesmo atua na tentativa de preservar sua empresa de ladres que ajam nas redondezas,tentando estabelecer um bom relacionamento com a comunidade. Longe de visar ao lucro, entretanto,muitas so as ONGs que simplesmente defendem direitos. Todos os movimentos sociais, no entanto, tmcomo libelo o fundamento dos direitos humanos. Parece haver uma naturalizao do que humanamentejusto ou no, como, por exemplo, o direito vida. Mas isso significa que h determinadas condies para avida, e no apenas estar vivo. A qualidade de vida das pessoas , nesse sentido, fundamental para oexerccio dos Direitos Humanos, mas o bem-estar subjetivo tambm o . Estar psicologicamente saudvelpara ter proveito do que objetivamente o mundo capaz de oferecer condio para o pleno desfrute davida coletiva.

    Resumo aula 09 Movimentos Sociais e Educao | A Declarao Universal dos Direitos Humanos comoreferncia filosfica s atividades dos Movimentos Sociais, do Terceiro Setor e da Responsabilidade Social

    Os movimentos sociais, primordialmente aqueles classificados como ativistas, podero agir margem dalei, caso isso seja necessrio para a realizao de suas conquistas sociais.O ponto de partida da ao de empresas e do Terceiro Setor difere dos movimentos sociais, pois, nestesltimos, admitimos o fato de pessoas se associarem a outras para conquistar sua insero social. Atmesmo no caso especfico de movimentos sociais, notvel grupos travarem verdadeiras lutas sociais paraforar o reconhecimento sociopoltico e econmico de sua organizao a fim de valorar sua prpriamanifestao cultural como expresso do e no mundo. No o caso de determinadas ONGs eprincipalmente de empresas, que no travam lutas contra a ordem dominante, ao contrrio, multiplicam-na,expandindo sua realidade consensual, produzindo e mantendo a ordem dominante em sua legitimidade

    A ao prtica de movimentos sociais, ONGs e empresas podem ser similares at certo ponto. No seesquea tambm de que, em certo grau, a responsabilidade social faz parte das atividades do Terceiro Setor,e que ambos no deixam de ser um movimento social institucionalizado. Entretanto, a ao dos movimentossociais ditos ativistas pode vir a ser uma ao potencialmente incisiva para o estabelecimento de uma novaordem sociopoltica e econmica. Assim, criticamente, sugestionvel dizer que governos incentivamempresas e ONGs para o atendimento de comunidades que carecem de maiores cuidados sociais naexpectativa de manter comunidades parte de movimentos sociais ativistas, cuja ao pode desestabilizar aordem vigente.

  • DECLARAO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOSCom o fim da Segunda Guerra e suas atrocidades, o mundo se viu na necessidade de ir contra a barbriehumana, em busca da preservao da paz mundial.Nesse sentido, paulatinamente, formou-se a Organizao das Naes Unidas, que, em 1948, adotou eproclamou a Declarao Universal dos Direitos Humanos. Esses direitos partiram dos seguintespressupostos: Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da famliahumana e dos seus direitos iguais e inalienveis constitui o fundamento da liberdade, da justia e da paz nomundo; Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do Homem conduziram a atos debarbrie que revoltam a conscincia da Humanidade e que o advento de um mundo em que os sereshumanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da misria, foi proclamado como a mais altainspirao do Homem;Considerando que essencial a proteo dos direitos do Homem atravs de um regime de direito, para queo Homem no seja compelido, em supremo recurso, revolta contra a tirania e a opresso; Considerandoque essencial encorajar o desenvolvimento de relaes amistosas entre as naes; Considerando que, naCarta, os povos das Naes Unidas proclamam, de novo, a sua f nos direitos fundamentais do Homem, nadignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaramresolvidos a favorecer o progresso social e a instaurar melhores condies de vida dentro de uma liberdademais ampla;Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperao com a Organizaodas Naes Unidas, o respeito universal e efetivo dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais;Considerando que uma concepo comum destes direitos e liberdades da mais alta importncia para darplena satisfao a tal compromisso:A Assemblia Geral proclama a presente Declarao Universal dos Direitos Humanos como ideal comum aatingir por todos os povos e todas as naes, a fim de que todos os indivduos e todos os rgos dasociedade, tendo-a constantemente no esprito, se esforcem, pelo ensino e pela educao, por desenvolver orespeito desses direitos e liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional einternacional, o seu reconhecimento e a sua aplicao universais e efetivos tanto entre as populaes dosprprios Estados membros como entre as dos territrios colocados sob a sua jurisdio.

    Artigo 1Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razo e deconscincia, devem agir uns para com os outros em esprito de fraternidade.Artigo 2Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declarao,sem distino alguma, nomeadamente de raa, de cor, de sexo, de lngua, de religio, de opinio poltica ououtra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situao. Alm disso,no ser feita nenhuma distino fundada no estatuto poltico, jurdico ou internacional do pas ou doterritrio da naturalidade da pessoa, seja esse pas ou territrio independente, sob tutela, autnomo ousujeito a alguma limitao de soberania.Artigo 3Todo indivduo tem direito vida, liberdade e segurana pessoal.Artigo 4Ningum ser mantido em escravatura ou em servido; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas asformas, so proibidos.Artigo 5Ningum ser submetido tortura nem a penas ou tratamentos cruis, desumanos ou degradantes.Artigo 6

  • Todos os indivduos tm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurdica.Artigo 7Todos so iguais perante a lei e, sem distino, tm direito a igual proteo da lei. Todos tm direito proteo igual contra qualquer discriminao que viole a presente Declarao e contra qualquerincitamento a tal discriminao.Artigo 8Toda pessoa tem direito a recurso efetivo para as jurisdies nacionais competentes contra os atos queviolem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituio ou pela lei.Artigo 9Ningum pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.Artigo 10Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja eqitativa e publicamente julgada porum tribunal independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigaes ou das razes de qualqueracusao em matria penal que contra ela seja deduzida.Artigo 111. Toda pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente at que a sua culpabilidade fi quelegalmente provada no decurso de um processo pblico em que todas as garantias necessrias de defesa lhesejam asseguradas.2. Ningum ser condenado por aes ou omisses que, no momento da sua prtica, no constituam atodelituoso face do direito interno ou internacional. De mesmo modo, no ser infligida pena mais grave doque a que era aplicvel no momento em que o ato delituoso foi cometido.Artigo 12Ningum sofrer intromisses arbitrrias na sua vida privada, na sua famlia, no seu domiclio ou na suacorrespondncia, nem ataques sua honra e reputao. Contra tais intromisses ou ataques toda pessoatem direito proteo da lei.Artigo 131. Toda pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residncia no interior de um Estado.2. Toda pessoa tem o direito de abandonar o pas em que se encontra, incluindo o seu, e o direito deregressar ao seu pas.Artigo 141. Toda pessoa sujeita a perseguio tem o direito de procurar e de se beneficiar de asilo em outros pases.2. Este direito no pode, porm, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direitocomum ou por atividades contrrias aos fins e aos princpios das Naes Unidas.Artigo 151. Todo indivduo tem direito a ter uma nacionalidade.2. Ningum pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar denacionalidade.Artigo 161. A partir da idade nbil, o homem e a mulher tm o direito de casar e de constituir famlia, sem restrioalguma de raa, nacionalidade ou religio. Durante o casamento e na altura da sua dissoluo, ambos tmdireitos iguais.2. O casamento no pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.3. A famlia o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito proteo desta e do Estado.Artigo 171. Toda pessoa, individual ou coletiva, tem direito propriedade.2. Ningum pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade.Artigo 18Toda pessoa tem direito liberdade de pensamento, de conscincia e de religio; este direito implica

  • liberdade de mudar de religio ou de convico, assim como a liberdade de manifestar a religio ouconvico, sozinho ou em comum, tanto em pblico como em privado, pelo ensino, pela prtica, pelo culto epelos ritos.Artigo 19Todo o indivduo tem direito liberdade de opinio e de expresso, o que implica o direito de no serinquietado pelas suas opinies e o de procurar, receber e difundir, sem considerao de fronteiras,informaes e idias por qualquer meio de expresso.Artigo 201. Toda pessoa tem direito liberdade de reunio e de associao pacficas.2. Ningum pode ser obrigado a fazer parte de uma associao.Artigo 211. Toda pessoa tem o direito de tomar parte na direo dos negcios pblicos do seu pas, quer diretamente,quer por intermdio de representantes livremente escolhidos.2. Toda pessoa tem direito de acesso, em condies de igualdade, s funes pblicas do seu pas.3. A vontade do povo o fundamento da autoridade dos poderes pblicos: e deve exprimir-se atravs deeleies honestas a realizar periodicamente por sufrgio universal e igual, com voto secreto ou segundoprocesso equivalente que salvaguarde a liberdade de voto.Artigo 22Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito segurana social e pode legitimamente exigir asatisfao dos direitos econmicos, sociais e culturais indispensveis, graas ao esforo nacional e cooperao internacional, de harmonia com a organizao e os recursos de cada pas.Artigo 231. Toda pessoa tem direito ao trabalho, livre escolha do trabalho, a condies eqitativas e satisfatriasde trabalho e proteo contra o desemprego.2. Todos tm direito, sem discriminao alguma, a salrio igual por trabalho igual.3. Quem trabalha tem direito a uma remunerao eqitativa e satisfatria, que lhe permita e sua famliauma existncia conforme a dignidade humana, e completada, se possvel, por todos os outros meios deproteo social.4. Toda a pessoa tem o direito de fundar com outras pessoas sindicatos e de se filiar em sindicatos paradefesa dos seus interesses.Artigo 24Toda pessoa tem direito ao repouso e aos lazeres, especialmente, a uma limitao razovel da durao dotrabalho e as frias peridicas pagas.Artigo 251. Toda pessoa tem direito a um nvel de vida suficiente para lhe assegurar e sua famlia a sade e o bem-estar, principalmente quanto alimentao, ao vesturio, ao alojamento, assistncia mdica e aindaquanto aos servios sociais necessrios, e tem direito segurana no desemprego, na doena, na invalidez,na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistncia por circunstncias independentesda sua vontade.2. A maternidade e a infncia tm direito a ajuda e a assistncia especiais. Todas as crianas, nascidasdentro ou fora do matrimnio, gozam da mesma proteo social.

    Artigo 261. Toda pessoa tem direito educao. A educao deve ser gratuita, pelo menos a correspondente aoensino elementar fundamental. O ensino elementar obrigatrio. O ensino tcnico e profissional dever sergeneralizado; o acesso aos estudos superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em funo doseu mrito.2. A educao deve visar plena expanso da personalidade humana e ao reforo dos direitos do Homem e

  • das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreenso, a tolerncia e a amizade entre todas asnaes e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o desenvolvimento das atividades das NaesUnidas para a manuteno da paz.3. Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gnero de educao a dar aos filhos.Artigo 271. Toda pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes ede participar no progresso cientfico e nos benefcios que deste resultam.2. Todos tm direito proteo dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produo cientfica,literria ou artstica da sua autoria.Artigo 28Toda pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornarplenamente efetivos os direitos e as liberdades enunciadas na presente Declarao.Artigo 291. O indivduo tem deveres para com a comunidade, fora da qual no possvel o livre e plenodesenvolvimento da sua personalidade.2. No exerccio deste direito e no gozo destas liberdades ningum est sujeito seno s limitaesestabelecidas pela lei com vista exclusivamente a promover o reconhecimento e o respeito dos direitos eliberdades dos outros e a fim de satisfazer as justas exigncias da moral, da ordem pblica e do bem-estarnuma sociedade democrtica.3. Em caso algum estes direitos e liberdades podero ser exercidos contrariamente aos fins e aos princpiosdas Naes Unidas.Artigo 30Nenhuma disposio da presente Declarao pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquerEstado, agrupamento ou indivduo, o direito de se entregar a alguma atividade ou de praticar algum atodestinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados. (www.un.org/humanr ights)No que diz respeito aos movimentos sociais, destaca-se que muitas das suas aes (de ativistas e no-ativistas) objetivam alcanar conquistas sociais que foram declaradas serem prprias dos direitos humanosj h muito tempo. Mesmo desconhecendo cada item da declarao feita pela ONU, proferida em 1948, osentido de justia e eqidade parece nortear as aes de grupos em toda parte do mundo.Atravs da mdia, os movimentos sociais tornaram-se expressivos no cenrio mundial e obtiveram, como foio caso do MST e do apartheid, respostas solidrias de naes desenvolvidas; naes mantenedoras daeconomia global, cuja poltica, pela fora de incentivos capitais, forou o reconhecimento de muitas dessasmanifestaes como aes legtimas para a atualizao da prtica de direitos de classes menos favorecidas.

    Ao observar melhor as intersees existentes entre os Movimentos Sociais, o Terceiro Setor e aResponsabilidade Social, podemos estabelecer convergncias entre o que h de comum nas aes sociaisfrente Declarao Universal dos Direitos Humanos. inconteste as aes sociais ( os MovimentosSociais, o Terceiro Setor e a Responsabilidade Social) terem, como ponto em comum, a filosofia dos direitoshumanos. Hoje, tal filosofia ergue seu fundamento na razo de se agir para atender a premncias do atualmilnio evocadas pela ONU, por cujo escopo econmico direciona-se o mundo para a formalizao denovos paradigmas, atravs de programas voltados para a auto-sustentabilidade, entre outros. Nessesentido, os movimentos sociais se coadunam com a Educao, pois a misria e a m diviso de renda,facilmente observveis na vida mundana, exigem mudanas sociais que possibilitem um mundo maiseconomicamente igualitrio. No mais, como sabido, a Educao oferecida nas escolas determinada pelaideologia dominante, que assegura interesses especficos, atualmente direcionados pelas naes quecontrolam a riqueza mundial, principais membros mantenedores de poder de deciso da ONU.

  • Resumo aula 10 Movimentos Sociais e Educao | Os movimentos sociais do ponto de vista sociolgico

    A institucionalizao de movimentos passivos ou ativos s se torna possvel diante de interesses globais quehoje atualizam o mundo em sua inevitabilidade.

    CONCEITOS, CATEGORIAS, TIPOLOGIA, ESTGIOS DE FORMAO, CONDIESESTRUTURAIS E FATORES SOCIAIS FAVORVEIS FORMAO DOS MOVIMENTOS SOCIAISOs movimentos sociais podem ser conceituados e categorizados de diversas formas. H, entretanto, duasordens bem definidas de movimentos sociais: uma passiva e uma ativa. Nestas duas ordens encontramosoutros aspectos de tipificao de ordem sociolgica, dependendo da natureza especfica de cadamovimento. So esses tipos:a) migratrios;b) progressistas;c) conservacionistas ou de resistncia;d) regressivos ou reacionrios;e) reformistas;f) expressivos;g) utpicos; e/ou revolucionrios.

    Todos os movimentos sociais passam pelos mesmos estgios de agitao, excitao, formalizao einstitucionalizao.

    CONDUTAS COLETIVASOs movimentos sociais decorrem de uma dinmica complexa entre os diferentes segmentos da sociedade. Aviso de mundo das pessoas e as necessidades polticas de atualizar a produo do que se consomeculturalmente do que no fica parte da viso de mundo de comunidades so cruciais para oentendimento do descontentamento social generalizado. Nisso, os aspectos histricos associados scircunstncias momentneas promovem uma alterao de valores que se atualizam entre os diferentesatores, em sua representao social, na tentativa de modificar as diversas estruturas socioeconmicas. Paratanto, o cotidiano de relaes em que se pode verificar uma insatisfao coletiva pode nos revelar aincoerncia entre o que o discurso poltico socialmente prope e o que injustamente os sistemas apresentamna prtica. Eis, nesse sentido, a forma pela qual as pessoas havero de se conduzir pelo espao social.A partir dessa idia, destacam-se as condutas coletivas, cuja definio exige uma compreenso dascondies histricas, do espao e do tempo a que atores sociais se encontram sujeitos, para podermosfundamentar as relaes possveis de nos orientar para uma interpretao do conjunto social que sedemonstrou incapaz de evitar o quadro social em que um tipo de movimento se desenvolveu.As condutas coletivas so vistas em dois nveis: organizacional e social. O nvel organizacional diz respeitoa empresas e organizaes mantenedoras do sistema societrio. Por sua vez, o nvel social se refere sestruturas institucionais, cujo estabelecimento, por meio de regras, leis e incentivos, possibilita a existnciadas organizaes (privadas ou pblicas).Para analisar as condutas coletivas, observam-se trs condies para o seu desencadeamento: a anomia, odesejo de restaurao social e o de modernizao.

    O PAPEL DA EDUCAOO espao educacional um espao relacional. Logo, as prticas educacionais transpassam o preparoestritamente profissionalizante e atingem a formao humana, no seu sentido psicolgico e em seu sentidotico.Dentro dessa perspectiva, aprendemos que o ensino hoje suscita uma nova forma de ver, perceber e

  • significar a vida, conforme a seguinte viso de mundo:a) tolerncia diante da diversidade tnica e cultural;b) pressupostos de igualdade sociocultural de forma irrestrita;c) a auto-sustentabilidade e a ecologia. Todos esses itens so como partes de um todo filosfico para a vidaem comum no planeta.Uma vez entendida tal dinmica, em que a escola o ambiente da ao para a construo da viso demundo, entende-se no menos que a realidade pode ser atualizada pela construo da ao do nossomovimento no mundo. Eis o que alguns vm fazendo: agindo para transformar o mundo atravs de aessociais e, no caso especfico de determinados grupos, atravs de movimentos sociais. Nesse sentido, essesltimos vm fazendo escola isto , nos ensinando a como agir para transformar realidades que no domais conta do que socialmente se v por a, em nossa injusta realidade mundana.

    O TERCEIRO SETOR E A RESPONSABILIDADE SOCIALAs atividades do Terceiro Setor e da responsabilidade social podem ser compreendidas como um tipo demovimento social institucionalizado e de natureza passiva, apesar de que suas aes possam vir a ser ativasem determinadas situaes de denncias de abuso de prticas associadas exclusivamente a vantagens depoder econmico. A rea de atuao do Terceiro Setor e da responsabilidade social situa trs dimensesespecficas para o alcance de melhorias para a vida. Essas dimenses so a econmica, a ecolgica e asocial; estas obviamente interligadas pelas atividades sociocultural e econmica.A dimenso econmica se destaca pelas condies materiais do que, como e por que se produz o que vemsendo produzido pela mo humana. Na esfera ecolgica, salienta-se a contnua destruio do planeta parase produzir o que vem sendo produzido e, por ltimo, o escopo social se releva diante da desigualdade emtodos os mbitos sociopoltico, econmico e cultural.

    O PAPEL DA ONUAs intersees existentes entre os movimentos sociais, o Terceiro Setor e a responsabilidade social decorremde fundamentos comuns encontrados na Declarao Universal dos Direitos Humanos. Nota-se que essastrs aes sociais, ou seja, os movimentos sociais, o Terceiro Setor e a responsabilidade social, em suainterseo central, revelam-nos a filosofia dos Direitos Humanos como fundamento para a ao social. Soas urgncias socioeconmicas para o terceiro milnio que orientam as necessidades difundidas pelaOrganizao das Naes Unidas. A formalizao de novos paradigmas, atravs de programas voltadospara auto-sustentabilidade econmica, legitima tanto a ao de movimentos sociais como as aes doTerceiro Setor e da responsabilidade social. Por conta disso, salienta-se o desenrolar da Educao em todoo planeta. E, nesse sentido, a ONU, atravs do seu setor voltado para o desenvolvimento da formaohumana, a Unesco, vem multiplicando programas cujas idias compem uma viso de mundo baseada natolerncia e na difuso da importncia da manifestao pluricultural; Viso em que a economia do planetadeve ser produzida de modo autosustentvel, globalizado e mundializado cultural e ecologicamente.

    Os movimentos sociais decorrem de insatisfaes coletivas. Nessa direo, a escola rene, em seu espaofsico, oportunidades para a manifestao de diferentes representatividades sociais expressarem edesenvolverem idias que assegurem construes de mundo numa dinmica multiplicadora da realidadetangvel. Na escola, aprendemos o que falar, como agir e socialmente atuar. Por outro lado, os movimentossociais sustentam necessariamente a defesa de melhorias sociais, erguida no desejo de transformaes. Osmovimentos sociais convergem para a Educao pelo fato de que esta, mesmo tendo que re-produzir oque reconhecido institucionalmente, pode ser considerada como um ambiente aos empreendimentoscoletivos, no estabelecimento de uma nova ordem de vida.

    Os movimentos sociais podem ser categorizados de diversas formas como ordem, tipologia e estgio (ou

  • fase) de sua constituio. As condutas humanas tambm so associadas aos movimentos sociais, uma vezque atores podem ser impulsionados ao social por questes pessoais e sociais. Nesse sentido, h tantoum conjunto de condies estruturais favorveis como determinadas condies sociais para a decorrnciados movimentos sociais, atravs do que o papel da Educao fundamental, pois a escola espaoformador e multiplicador de viso de mundo. A relao da Educao com os movimentos sociais estreita,j que se entende o fato de que a prpria escola, em sua dinmica, capaz de realizar movimentos que seassemelham expresso dos movimentos sociais pela manifestao de comunidades, cuja ao podefomentar transformaes sociais que exigidas diante de um mundo exigente de atualizaes prementes mundializao. Nesse sentido, h um movimento internacional para um mundo socialmente maisigualitrio, ainda que isto seja para atender a necessidades de um consumo globalizado.

    Resumo aula 11 Movimentos Sociais e Educao | A ligao em rede de diferentes dimenses na formaodos Movimentos Sociais e da Educao

    O RIZOMA COMO NOO DE REDE: UM PARADIGMA TERICO, CONFORME DELEUZE EGUATTARIO conceito de Rede funda um avano terico cujo paradigma no se pode ignorar nos dias que correm.Este conceito explica a realidade que se concretiza mltipla em direes diversas, atingindo e alterandonossas vidas. Selecionando Deleuze e Guattari (1980) e seu conceito de Rizoma para melhor elucidar oconceito de Rede.

    Os bulbos, os tubrculos so rizomas (...) at os animais o so em sua forma de matilha; ratos so rizomas.As tocas o so, com todas as funes de habitat, de proviso, de deslocamento, de evaso e de ruptura. Orizoma nele mesmo tem muitas formas diversas, desde sua extenso superficial ramificada em todos ossentidos at suas concrees em bulbos e tubrculos. H rizoma quando os ratos deslizam uns sobre osoutros. H o melhor e o pior no rizoma: a batata e a grama, a erva daninha (p. 15).

    Deleuze e Guattari estabelecem alguns princpios, pelo que universalizam o conceito:1 e 2 Princpios de conexo e heterogeneidade: qualquer ponto de um rizoma pode ser conectado aqualquer outro e deve s-loNestes princpios, retrata-se a idia de que qualquer fenmeno pode se ligar a outro, mesmo sendo denaturezas distintas, e que isto desejvel. Diferentemente da idia de oposio ou de complemento, estesprincpios projetam possibilidades AMORFAS, que se unem, fundem e separam, sem ser necessariamentenesta ordem, criando rupturas ou no. Enfim, em termos de trajeto fenomnico, tudo permitido numescopo sem fronteiras e aberto ao devir POLIMRFICO, medida que se constitui no espao-tempo dasintersees da vida.

    3 Princpio de multiplicidade (p. 16).Constitui a idia do mltiplo como substituto necessrio a dimenses que no podem crescer sem quemudem de natureza (p. 16). Este princpio se contrape idia do HOLSTICO, do Uno hierrquico,para fundar a idia do Uno-mltiplo, sem hierarquias. Em vez de todas as coisas pertencerem a uma nicaraiz essencial, o todo se d pela multiplicidade de essencialidades constituintes de um permanente devir domundo, essencialidades que se transformam a cada instante (tempo) lugar, em cujo espao fenmenos seformalizam. Nesse sentido, no h lugar para determinismo ou orculos, a idia de predestinao cai porterra. A prpria constituio da vida tem vida. Portanto, inmeras potncias singulares fundam o complexo

  • da rede deste fenmeno chamado mundo. Neste complexo, o movimento humano tem seu valor na potnciada ao.

    4 Princpio de ruptura a-significante (p. 18).Caracteriza um rizoma com a possibilidade de ser rompido ou retomado em qualquer ponto de sua naturezatopogrfica. Todo rizoma compreende linhas de segmentaridade [vetores que, na Matemtica e naFsica, indicam a intensidade, a direo e o sentido de uma fora] segundo as quais ele estratificado,territorializado, organizado, significado, atribudo etc.; mas compreende tambm linhas dedesterritorializao pelas quais ele foge sem parar. H ruptura no rizoma cada vez que as linhassegmentares explodem numa linha de fuga, mas a linha de fuga faz parte do rizoma. Estas linhas no paramde se remeter umas s outras. por isso que no se pode contar com um dualismo ou dicotomia, nemmesmo sob a forma rudimentar de bem e mal (p. 18).

    5 e 6 Princpios de cartografia e de decalcomania (p. 21).Parece que estes dois se fundem pela decorrncia topolgica. Entretanto, apresentam distintas nuanas.Enquanto o mapa aberto, conectvel em todas as suas dimenses, desmontvel, reversvel, suscetvelde receber modificaes constantemente (p. 21), um decalque um eixo imutvel para o qual sempre sevolta ao mesmo tempo (p. 21). entendido, pois, como competncia (p. 21). Assim o decalque traduz omapa em imagens, e reproduz apenas, segundo Deleuze, os impasses, os bloqueios, os germens de piv oupontos de estruturao. Por exemplo, semiticas gestuais, mmicas, ldicas etc. retomam sua liberdadena criana e se liberam do decalque, quer dizer, da competncia dominante da lngua do mestre (p. 21),isto , dos pontos de estruturao que, neste caso, caracterizam uma determinada cultura no seu sentidoamplo, antropolgico.

    REDE DE RELAES ENTRE OS MOVIMENTOS SOCIAIS E A EDUCAO ATRAVS DA AODO PENSAMENTO PARA A AQUISIO DO SABERA atuao humana, motivada (moo) pela tentativa de tornar real um ideal (volio), leva o conhecimentoa desenvolver leituras possveis por intermdio de seus mtodos tradicionais de classificao (ordem,tipologia etc.) , auxiliando a Razo a ordenar a ao social em categorias para o saber. Assim, ao analisara constituio dos Movimentos Sociais e da Educao, considerando microestruturas biolgicas eminterseo com macroestruturas fsico-sociais, facilmente inferimos o mundo em rede j ser um tipo deolhar ideolgico em que, necessariamente, todos os campos que o conhecimento humano capaz de erguerse fundem na importncia da manuteno do mundo. A Economia, a Psicologia, a Sociologia, aAntropologia, a Biologia, a Histria, a Ecologia, enfim, diferentes campos do saber, num olhar amplo,inter/trans e multidisciplinar devem ser considerados sem uma hierarquia de importncia, pois todos sofatores fundamentais para o bem-estar das pessoas na organizao do que denominamos mundo. Sobreviver a pedra angular de nossos interesses mundanos. O conhecimento existe desde sempre; inclusive oargumento de Descartes para a defesa da Cincia diante do clero essencialmente este: nos tornarmoscomo que senhores e possessores da Natureza (Discurso do Mtodo, sexta parte, p. 69).

    O Discurso do Mtodo, de Descartes, se tornou famoso pelo fato de que, em seu tempo, Sculo XVII, aEuropa passava por transformaes profundas graas ao esprito da Razo, que crescia entre os homens. ARevoluo Copernicana, feita por Galileu, foi decisiva para o trabalho de Descartes. Em 1633, Galileu foiforado pela Inquisio a abjurar suas teorias. Quatro anos depois, Descartes defende a Cincia e,conseqentemente, o pensamento de Galileu, atravs do Discurso do Mtodo. Nele, Descartes exalta agrande vantagem que a Razo poder proporcionar aos indivduos conceito que, dentro da hierarquialgica, est acima da espcie, que, por sua vez, est acima do gnero ao se descobrirem as foraspotenciais do planeta. Para tal defesa diante do Clero, Descartes diz Deus ser um grande matemtico e,

  • como tal, ter construdo o mundo dentro de regras que o Homem poder descobrir, j que Ele o fez suaimagem e semelhana, dotando-o de mente e Razo para seguir os seus desgnios. Assim, o corpo deveriaser regrado como os ditames da Igreja, mas a mente deveria ser livre para ir longe pelas descobertas feitaspelo pensamento. Como se v, o Homem, ou melhor, a Cincia s caminha mediante interesses que soacordados entre aqueles que detm o poder. E isto no acontece por acaso, mas atravs de uma rede derelaes de circunstncias favorveis ao seu acontecimento.

    A partir do Discurso do Mtodo, a sociedade europia se sentiu cada vez mais confortvel em extrair leisda Fsica, como a da Gravidade, a da Velocidade, a do Tempo etc., e disso se construram mquinas aservio do homem, decorrendo a Industrializao, com seu auge no incio do sculo XIX, com a grandeExposio de Paris, onde galerias em vidro e ao anunciavam o esplendor da Modernidade e da Burguesia. a Razo que orienta os passos da Humanidade. E orientar passos significa defender idias que renam omximo de vantagens sobrevivncia da espcie, na garantia de estabelecer o bem-estar entre diferentesindividualidades. No caso dos Movimentos Sociais, grupos vm aprendendo a lidar com a burocracialegtima, s vezes de forma anrquica, para instaurar uma nova ordem de acordo com os interesses dasclasses desfavorecidas.

    A Educao se situa nessa esfera do conhecimento, isto , no mbito da apreenso de dados voltados para acompreenso de diferentes objetos que se pretende entender para a reta formao das possibilidadeshumanas voltadas para a melhor sobrevivncia possvel. Tendo em vista que todo e qualquer fenmeno objeto a conhecer, e que, uma vez imersa no processo da racionalidade, uma pessoa se educa no apenascognitivamente, mas moral e ideologicamente, nota-se que a dinmica da rede qual est intrinsecamenteassociada em sua condio geocircunstancial uma malha de condies para saltos e avanos, bem comopara limites e sujeies. E isto, tanto do ponto de vista pessoal como do coletivo, pois, no corpo biolgico,h uma memria pessoal, enquanto, no corpo sociolgico, h a memria social. Essas memrias estoligadas interseo de imagens constitudas pelos registros que marcam as superfcies do corpo biolgicoe social que as abrigam. Imagens que acabam por indicar tendncias aos seus sujeitos, que percebem,sentem e vem o mundo de que participam. Da o papel da escola, onde o letramento, mediante um conjuntode interpretaes, favorece idias que interessam perspectivas e ideologias, destacando ngulos especficospara se ver o mundo em sua inevitabilidade. A vivncia de uma pessoa, entretanto, depende do que elaexperimenta face vida, e isto a leva ao seu diferencial como indivduo, que no mbito de sua educao,na interseo das diferentes dimenses a que est sujeito (de novo, dimenso biolgica, sociolgica epsicolgica, entre outras, como a histrica) poder criar e produzir sua leitura de mundo, em vez dereproduzir o que o mundo lhe oferece como idia acabada, como um produto pronto a ser consumido.A originalidade das pessoas depende da sua ao de ousar para alm do que ordinariamente comum,estabelecendo novas possibilidades de expresso para a vida.

    Pode-se assim dizer que, mediante o conjunto de fatores no qual se encontra (fatores histricos, biolgicos,socioculturais etc.), uma pessoa se educa no simples fato de pensar sobre os objetos condicionantes vida.Uma pessoa se educa, pois, ao se ver frente a frente com a sua prpria condio humana, na reflexo doseu modo de viver e de se pensar, ao projetar sua tica do que vem sendo, tendo e fazendo na ao limitadano mundo em que se encontra enredada. Portanto, pensar e/ou se engajar em um movimento social jforma condies para educar-se.

    Resumo aula 12 Movimentos Sociais e Educao | A interseo das dimenses biolgicas, sociolgicas epsicolgicas para a genealogia dos Movimentos Sociais e da Educao

  • No espao do mundo, encontram-se o nosso corpo e sua expresso, cujo movimento revela o que temossubjetivamente, tal qual um conjunto de signos a ser interpretado pelos demais. Por exemplo, se algum nosdiz algo que nos irrita, podemos no dizer nada, mas o outro poder ser capaz de ler nossa irritao,seja porque nossa expresso facial mudou, seja porque samos batendo as portas. A fisionomia e asatitudes so signos interpretveis do comportamento. Todo nosso movimento, integrado ao espao domundo e na interao com o outro, encontra-se passvel de leitura, e esta, de uma interpretao.

    H, portanto, uma rede de condies existentes num determinado espao-tempo nas tramas da vida de umapessoa em sua relao com as demais. Essas condies, necessariamente, nos levam aprendizagem,capacitando-nos a sobreviver dentro de perspectivas possveis, integradas ao processo dinmico de umarede de relaes. Deste modo, h:

    condies fsicas, de espao-tempo e corpo biologicamente constitudo; condies culturais, em que valores so mediados pelas relaes estabelecidas em diferentes instituiessociais (famlia, escola, amigos etc.); condies sgnicas, por meio das quais diferentes informaes erguem sistemas de cdigos interpretveis luz de perspectivas de leituras possveis.Nesse sentido, desenrola-se permanentemente uma Educao para o conhecimento, capaz de garantir amelhor sobrevivncia possvel.

    A Educao sistema social por meio do qual os processos de aprendizagem so cultuados pela dinmicaintermitente da produo do pensamento, num continuum sucessivo de relaes estabelecidas entrediferentes organismos (pessoais e sociais) compe um conjunto de imagens dadas, pelas quais lemos omundo (viso de mundo), e nos instrumentaliza para as interpretaes possveis de cdigos (as imagensdadas) impressos na memria, que a maior ferramenta para a Razo.A racionalidade , dessa maneira, um tipo de referncia por meio da qual lidamos com os organismossociais e com os nossos pares. Aquele que est certo est com a razo. Ter razo significa reunir umconjunto de saberes e conhecimentos a serem apreendidos por aqueles que ainda no souberam reuni-los. Educar oferecer o saber aos indivduos. No um saber qualquer, mas um saber cujo conhecimentoleva informaes cruciais para a manuteno da vida no mundo. Mas o educador mais experiente norefuta a idia de que a Educao se situa alm do que se apreende em termos de informao.Uma viso ampla da Educao exige, desde os tempos mais remotos, a formao do esprito humano. Osgregos chamavam esta formao, em seu sistema educacional, de Paidia. Para eles, a formao do homemdeveria reunir atividades diversas que alimentavam o corpo e o esprito, levando seus cidados Aret,que, num sentido amplo, quer dizer retido moral da ao humana em prol da sua comunidade.

    Hoje, a Educao se preocupa com a composio de diferentes correntes tericas para a explicaopossvel de condies mentais e sociais. Na perspectiva de compreender o desenvolvimento cognitivo ecomportamental de um organismo sujeito a determinados ambientes, teoricamente, o indivduo, em suaparticularidade bio-psico-sociolgica, visto como um conjunto de circunstncias integradas ao meio.Obtemos, nesse sentido, a idia de que um corpo (biolgico) est condicionado a um meio (sociolgico) quelhe possibilita existir e nele sobreviver, mantendo-o numa dinmica de relaes imprescindveis vida.Essas dinmicas renem um conjunto de cdigos (culturais) passveis de interpretaes dependentes deregistros da memria de um indivduo e da memria social.Considerando esses aspectos, em termos de dimenso psicossocial, podemos observar que os movimentossociais decorrem da capacidade do Homem de agir a partir da integrao de indivduos. Uma ao por

  • cuja dinmica contnuos resultados expressam o esforo de organismos individuais se unirem para alcanarmelhorias sociais de acordo com a viso de mundo que as pessoas so capazes de produzir e re-produzir.Estas duas capacidades, de produo e re-produo, derivam da razo, cultuada e condicionada pelaEducao. Seja na escola, seja na famlia, leituras de mundo so dimensionadas. Multiplicam-se leituras nocorpo social, em diferentes instituies, por meio do conjunto de cdigos e registros cuja representao ,de uma forma ou de outra, necessariamente interpretada para a sobrevivncia.A Educao, na formalizao dos aspectos afetivos, cognitivos e morais, possvel, pois, graas interseo de trs dimenses especficas: a biolgica, a psicolgica e a sociolgica. No entrelace destastrs dimenses, desenvolve-se o homem em sua condio bio-psico-social.Saber como o corpo organicamente se constitui e se educa para o mundo, na transposio docorpo biolgico para o sociolgico, formalizando sua dimenso psicolgica, se faz interessantepara entendermos a ao humana e os seus resultados em termos de Movimentos Sociais.

    Falta a aula 13