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    Jlio Manuel Garganta da Silva*

    O ensino dos jogos desportivos colectivos. Perspectivas e tendncias

    Resumo / Abstract

    No decurso da sua existncia, os Jogos Desportivos Coletivos (JDC) tm sido ensinados, treinados e investigados

    luz de diferentes perspectivas, as quais subentendem distintas focagens a propsito do contedo dos jogos e

    das caractersticas do ensino-treino. Tais diferenas podem assumir capital importncia para a reflexo e estudo,

    desde que questionadas e esclarecidas. Todavia, isso requer uma sistematizao das operaes de classificao

    correntes sobre as perspectivas e tendncias que se tm imposto. Com o presente artigo, pretendemos construir

    um quadro de referncias que coloque em relao as diferentes formas de abordar os JDC e as concepes que

    as sustentam.

    Throughout their existence, Collective Sportive Games (CSG) have been taught, trained, and investigated in light of

    different perspectives, which imply approaches that vary according to the content od the games and the teaching-

    training characteristics. Such differences may be of vital be of vital importance both for the study and the relection

    of CSG, provided they are questioned and clarified. Nonetheless, this requires a systematization of the current

    operations of classification on the prevaling perspective and trends. The present article aims at building up a

    referential framework that puts into relation the several forms of approaching CSG, and the concepts that support

    these approaches.

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    Os Jogos Desportivos Coletivos (JDC)ocupam um lugar importante no quadro da cul-tura desportiva contempornea, dado que, nasua expresso multitudinria, no so apenasum espectculo desportivo, mas tambm ummeio de educao fsica e desportiva e um cam-po de aplicao da cincia.

    Vrios autores tm sustentado que aconstruo do conhecimento nos JDC se deveedificar a partir de perspectivas que se focali-zem na lgica interna ou natureza do jogo(Teodorescu, 1977; Parlebas, 1981; Dufour,1983; Menaut, 1983; Teodorescu, 1983;Grhaigne, 1989; Castelo, 1992; Pinto & Gar-ganta, 1993; Ribas, 1994; Grosgeorge, 1996).

    A lgica interna do jogo o produto dainterao contnua entre as principais conven-es do regulamento e a evoluo das solu-es prticas encontradas pelos jogadores,decorrentes das suas habilidades tticas, tc-nicas e fsicas (Deleplace, 1979).

    Para Teodorescu (1983), a relao dalgica didtica com a lgica interna do jogo uma das tarefas mais importantes e mais com-plexas que se colocam ao nvel dos JDC, peloque a anlise do jogo se deve processar a par-tir da estreita relao entre o contedo do jogoe a estrutura da atividade, expressos na

    performance individual e coletiva.

    Contudo, a unanimidade registrada pordiversos autores, no que concerne necessi-dade de descodificar as lgicas que presidemao desenvolvimento dos JDC, dilui-se quandoaqueles procuram qualific-los (Garganta,1997). De fato, os JDC tm sido objeto de umapletora de qualificaes, cujas diferenas de-correm das referncias utilizadas:

    dimenses do terreno de jogo (Bauer &

    Ueberle, 1988) colocao e configurao do alvo-baliza(Ellis, 1985; Almond, 1986; Bauer & Ueberle,1988; Werner et al., 1996) tipo de participao (Ivoilov, 1973; Almond,1986) natureza das relaes estabelecidas intra einterequipes (Fradua Uriondo, 1993; Barth,1994;Hernandez-Moreno, 1994;Riera, 1995) tipo de oposio (Deleplace, 1979; Gr-haigne, 1989; Werneret ai., 1996) tipo de disputa pela posse da bola (Garganta& Soares, 1986)

    tipo de trajetrias da bola (Crevoisier, 1984;Garganta & Soares, 1986) natureza do contato com a bola (Ivoilov,1973)

    Porque decorrem de diferentes refern-

    cias, essas qualificaes, quando confrontadas,geram diferentes categorias de problemas.Nessa medida, embora salvaguardando a suaimportncia e pertinncia relativas, pode di-zer-se que no tm idntica ressonncia ao n-vel dos processos de ensino e treino, nem daavaliao da prestao dos jogadores e dasequipas.

    Contudo, constata-se uma prevalnciade qualificaes configuradas a partir da di-menso estratgico-ttica, nomeadamente, da

    utilizao do espao (comum ou separado), daforma de participao dos intervenientes (si-multnea ou alternada), da forma de disputada bola (luta direta ou indireta), das trajetri-as da bola (troca ou circulao da bola) e danatureza do conflito (oposio, cooperao/oposio) ou forma de interao dos atletas(Garganta, 1997).

    Mais recentemente, Franks & McGarry(1996) incluram o futebol, o basquetebol e oandebol nos designados jogos dependentes dofatortempo-time-dependent, por contraste comos jogos dependentes do fator resultado-score-dependent, como o voleibol e o tnis.

    Os desportos dependentes do fator tem-po so interativos e tendem a integrar cadeiasde acontecimentos descontnuos, implicita-mente relacionados, no apenas com os acon-tecimentos antecedentes, mas tambm com asprobabilidades de ocorrncia de acontecimen-tos subseqentes, considerada a sua aleatorie-dade.

    Dada a complexidade do jogo, nas suasdiferentes fases, as competncias para jogardecorrem dos imperativos ditados pela neces-sidade de, face descontinuidade e aleatorie-dade das aes, encontrar as respostas maisadequadas a diferentes configuraes (Gargan-ta, 1997).

    E S S E N C I A L I D A D E E S T R A T G I C O - T T I C A D O S J D C

    As modalidades includas no grupo dos

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    designados jogos desportivos coletivos possu-em um sistema de referncia com vrios com-ponentes, no qual se integram todos os joga-dores e com o qual se confrontam constante-mente (Konzag, 1991), e so configuradas apartir de situaes motoras de confrontaocodificada, reguladas por um sistema de re-gras que determina a sua lgica interna(Parlebas, 1981).

    Os JDC caracterizam-se, entre outrosfatores, pela aciclicidade tcnica, por solicita-es e efeitos cumulativos morfolgico-fun-cionais e motores e por uma intensa participa-o psquica (Teodorescu, 1977).

    O problema fundamental pode ser enun-ciado da seguinte forma (Grhaigne & Guillon,1992): numa situao de oposio, os jogado-

    res devem coordenar as aes com a finalida-de de recuperar, conservar e fazer progredir ombil do jogo, tendo como objetivo criar situ-aes de finalizao e marcar gol ou ponto.

    Assim, o que em primeira instncia ca-racteriza os JDC o confronto entre duas for-maes, duas equipas, condicionadas pelocumprimento de um regulamento, que se dis-pem de uma forma particular no terreno dejogo e se movimentam, com o objetivo de ven-cer. Tanto no ataque como na defesa, as suces-

    sivas configuraes que o jogo vai experimen-tando resultam da forma como ambas as equi-pes geram as relaes de cooperao e oposi-o em funo do objetivo do jogo.

    A finalidade dos comportamentos dosjogadores , portanto, guiada por um objetivode produo: vencer o jogo (Grhaigne, 1989).No decurso de uma partida, at conseguir mar-car um gol ou impedir a sua marcao, os jo-gadores/equipe dirigem os seus esforos no

    sentido de estabelecer uma supremacia sobreo seu adversrio. Devem por isso garantir, nombito do quadro regulamentar do jogo, o cum-primento de princpios de jogo e procurar atin-gir objetivos intermdios, desenvolvendoaes parcelares.

    Na medida em que as aes de jogoocorrem em contextos de elevada variabilida-de, imprevisibilidade e aleatoriedade, aos jo-gadores requerida uma permanente atitudeestratgico-ttica (Grhaigne, 1989; Deleplace,1994; Garganta, 1994; Mombaerts, 1996).

    Na construo de tal atitude, a seleodo nmero e qualidade das aes depende ob-viamente do conhecimento que o jogador temdo jogo. Quer isso dizer que a forma de atua-o de um jogador est fortemente condicio-

    nada pelos seus modelos de explicao, ouseja, pelo modo como ele concebe e percebe ojogo. So esses modelos que orientam as res-pectivas decises, condicionando a organiza-o da percepo, a compreenso das infor-maes e a resposta motora.

    Isso significa que a forma de um joga-dor entender o jogo e de nele se exprimir de-pende de um fundo, ou de um metanvel, queconstitui aquilo que podemos designar por"modelo de jogo" (Garganta, 1997). As rela-

    es que o jogador estabelece entre este mo-delo e as situaes que ocorrem no jogo orien-tam as respectivas decises, condicionando aorganizao da percepo, a compreenso dasinformaes e a resposta motora.

    Desse modo, a dimenso estratgico-ttica emerge simultaneamente como plo deatrao, campo de configurao e territrio desentido das tarefas dos jogadores no decursodo jogo (Figura 1).

    Figura 1. A dimensoestratgico-ttica en-quanto como plo deatrao, campo deconfigurao e territ-rio de sentido das ta-refas dos jogadores nodecurso do jogo (Gar-

    ganta, 1997).

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    Uma dada tcnica

    corporal, na medida

    em que se configura

    a partir de um

    conjunto de pa-

    dres fundamentais,

    algo identificvel,

    reprodutvel e

    transmissvel,

    revelando uma forte

    componente

    cultural.

    Essa essencialidade estratgico-tcticados JDC decorre de um quadro de refernciasque contempla: (1) o tipo e relao de foras(conflitualidade) entre os efetivos que se con-frontam; (2) a variabilidade, a imprevisibi-lidade e a aleatoriedade do contexto em que asaes de jogo decorrem; (3) as caractersticasdas habilidades motoras para agir num con-texto especfico.

    J D C : D A S C O N C E P E S S P E R S P E C T I V A S D E

    A B O R D A G E M

    A PERSPECTIVA TCNICA

    No domnio do desporto, sendo o coipoo primeiro instrumento de que o homem dis-

    pe, ele constitui, a um tempo, objeto e meiotcnico. Nesse contexto, assumem particularimportncia as designadas tcnicas do corpo(Mauss, 1980), isto , as diferentes formas deutilizao do corpo que permitem lidar eficaz-mente com os constrangimentos impostos pe-las caractersticas das respectivas modalida-des desportivas.

    Uma dada tcnica corporal, na medidaem que se configura a partir de um conjuntode padres fundamentais, algo identificvel,

    reprodutvel e transmissvel, revelando umaforte componente cultural. Constitui, portan-to, um meio especfico para gerar certos efei-tos, um "utenslio" reconhecido por uma co-munidade, que se consagrou culturalmenteatravs do uso e da eficcia demonstrada naproduo de determinados resultados.

    Alis, o vocbulo tcnica, comumenteutilizado em distintas atividades humanas, entendido, de uma forma genrica, como oconjunto de processos bem definidos e

    transmissveis que se destinam produo decertos resultados.

    Nos JDC, as tcnicas no se restringema movimentos especficos. Constituem aesmotoras, formas de expresso do comporta-mento, realizadas no sentido de solucionar osproblemas que as vrias situaes de jogo co-locam ao praticante. Trata-se de uma mo-tricidade especializada e especfica de umamodalidade desportiva que permite resolver deuma forma eficiente as tarefas do jogo.

    Durante muito tempo, a tcnica foi con-siderada o elemento fundamental e bsico naconfigurao e desenvolvimento da ao de jogo nos desportos de equipe (Hernandez-Moreno, 1994).

    Uma das conseqncias mais evidentestem sido a obsesso pelos aspectos do ensino/aprendizagem centrados na tcnica individual(Bonnet, 1983), partindo-se do princpio quea soma de todos os desempenhos individuaisprovoca um apuro qualitativo da equipe e tam-bm que o gesto tcnico aprendido de umaforma analtica possibilita uma aplicao efi-caz nas situaes de jogo.

    Desde os anos 60 que a didtica dos JDCrepousa em uma anlise formal e mecanicistade solues preestabelecidas. O ensino dessasmodalidades tem freqentemente consistidoem fazer adquirir aos praticantes sucesses degestos tcnicos, empregando-se muito tempono ensino da tcnica e muito pouco ou nenhumno ensino do jogo propriamente dito (Gr-haigne & Guillon, 1992).

    Nos anos 90, uma aula de abordagemdos JDC apresenta-se freqentemente da mes-ma forma: Ia ) parte-aquecimento com ou sembola (habitualmente sem bola); 2a ) parte-cor-po principal da aula, onde so abordados os

    gestos especficos da atividade considerada,atravs de situaes simplificadas, com ou semoposio; 3a ) parte-em funo do tempo dis-ponvel, utiliza-se formas jogadas (jogos re-duzidos ou jogo formal).

    Freqentemente privilegiada a dimen-so eficincia (forma de realizao) da habili-dade, independentemente das dimenses efi-ccia (finalidade) e adaptao, isto , do ajus-tamento das solues e respostas ao contexto(Rink, 1985; Graa, 1994).

    Ora, a concepo que privilegia a des-montagem e remontagem dos gestos tcnicoselementares e o seu transfere para as situaesde jogo, no deve constituir mais do que umadas vias possveis no ensino dos JDC, dadoque nessa perspectiva se ensina o modo de fa-zer (tcnica) separado das razes de fazer (t-tica).

    Alis, importa referir que, no mbito doensino e do treino nos jogos desportivos, Bun-

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    ker & Thorpe (1982) constataram que, quan-do a tcnica abordada atravs de situaesque ocorrem margem dos requisitos tticos,ela adquire um transfere diminuto para o jogo.

    De fato, a ao de jogo est muito paraalm dos processos motores contidos na di-menso gestual da tcnica (Arajo, 1992). Ojogador que recorre a uma dada tcnica, nodecurso de um jogo, f-lo sempre em funode um contexto (Hernandez-Moreno, 1989), oque significa que tcnica e ttica se con-dicionam reciprocamente, formando uma uni-dade (Knapp, 1972; Teodorescu, 1977; Ara-jo, 1992; Tavares, 1993; Riera, 1995).

    Para resolverem as situaes que se lhesdeparam no jogo, os jogadores recorrem a for-mas de execuo cujas caractersticas so di-

    tadas pela natureza do confronto.

    A competncia do jogador no decorre,portanto, de um entendimento mecnico quese restringe ao saber como executar determi-nadas tcnicas. No sentido de selecionar e exe-cutar a resposta motora mais adequada ao con-texto que a reclamou, o jogador deve prio-ritariamente sabero que fazere quando fazer(Bunker & Thorpe, 1982; Helsen & Powels,1988; Grhaigne, 1992; Garganta & Pinto,1994).

    Desse modo, face cadeia aconte-cimental experimentada por um jogador nassituaes de jogo (Figura 2), justifica-se a de-finio de modelos tticos que funcionemcomo complexos de referncias que orientama construo de situaes/exerccios nos pro-cessos de ensino e treino.

    Por isso, na abordagem dos jogosdesportivos, aos trabalhos centrados nos mo-delos de execuo tm sucedido outros quecolocam em evidncia uma abordagemcentrada nos modelos de deciso ttica(Bouthier, 1993).

    A P E R S P E C T I V A E S T R A T G I C O - T T I C A

    Como foi j referido, a aprendizagemdos procedimentos tcnicos de cada um dosJDC constitui apenas uma parte dos pressu-postos necessrios para que, em situao dejogo, os praticantes sejam capazes de resolveros problemas que o contexto especfico (jogo)lhes coloca.

    Desde os primeiros momentos da apren-

    dizagem, importa que os praticantes assimi-lem um conjunto de princpios que vo domodo como cada um se relaciona com o mbildo jogo (bola), at a forma de comunicar comos colegas e contracomunicar com os adver-srios, passando pela noo de uma ocupaoracional do espao de jogo.

    Nos JDC, o problema fundamental quese coloca ao indivduo que joga primeira-mente ttico. Trata-se de resolverem situao,vrias vezes e simultaneamente, cascatas de

    problemas no previstos a priori na sua or-dem de ocorrncia, freqncia e complexida-de (Metzler, 1987).

    O desenvolvimento da capacidade parajogar implica um desenvolvimento de "sabe-res". Sabero que fazer, o que se prende comum conhecimento fatual ou declarativo, que

    O jogador que recorre

    a uma dada tcnica,

    no decurso de um

    jogo, f-lo sempre em

    funo de um

    contexto (Hernandez-

    Moreno, 1989), o que

    significa que tcnica e

    ttica se condicionam

    reciprocamente,

    formando umaunidade

    Figura 2. Cadeia acontecimental do comportamento ttico-tcnico do jogador no jogo (adap. Bunker & Thorpe,1982).

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    Atualmente, os

    especialistas defen-dem a utilizao de

    uma pedagogia de

    situaes-problema,

    a qual representa

    um prolongamento

    lgico dos modelos

    de ao motora

    inspirados nas

    cincias cognitivas

    e nos modelos

    sistmicos.

    pode ser exprimido atravs de enunciadoslingsticos; saberexecutar, isto , possuir umconhecimento processual que decorre da ao propriamente dita (Anderson, 1976; Chi &Glasser, 1980;Maggil, 1993).

    Malglaive (1990) e Grhaigne & God-bout (1995) sustentam que o sistema de co-nhecimento, nos desportos coletivos, decorrede trs categorias (Figura 3):

    (1) regras de ao, isto , regras bsicas doconhecimento ttico do jogo, que definem ascondies a respeitar e os elementos a ter emconta para que a aco seja eficaz (Grhaigne& Guillon, 1991). As regras de ao podemser observadas a partir dos princpios de ao,isto , construes tericas e instrumentos ope-ratrios que se constituem como referenciaismacroscpicos que permitem identificar e clas-sificar os comportamentos dos jogadores;

    (2) regras de organizao do jogo, relaciona-das com a lgica da atividade, nomeadamentecom a dimenso da rea de jogo, com a repar-tio dos jogadores no terreno, com a distri-buio de papis e alguns preceitos simplesde organizao que podem permitir a elabora-o de estratgias;

    (3) capacidades motoras, que englobam a ati-vidade perceptiva e decisional do jogador, bemcomo os aspectos da execuo motora propri-amente dita.

    Face a diversas situaes com que se

    depara no jogo, o praticante escolhe os sinaisque se afiguram mais importantes para orga-nizar a suas aes.

    O ENSINODOSJDC

    As pedagogias tradicionais em Educa-o Fsica e Desportiva tm privilegiado: (1)a explicao associada demonstrao, em queo professor prescreve, a todo o momento, osprocedimentos a respeitar para realizar a tare-fa; (2) o condicionamento do meio, em que sepretende reduzir os ensaios e os erros.

    ao nvel da natureza dos constrangi-mentos da tarefa (dificuldade, obstculo ouproblema) e dos tipos de empenhamento dosujeito (ateno, esforo fsico, compreenso/

    raciocnio) que as vrias pedagogias diferem(Courtay et ai., 1990).

    Atualmente, os especialistas defendema utilizao de uma pedagogia de situaes-problema1 , a qual representa um prolongamen-to lgico dos modelos de ao motora inspira-dos nas cincias cognitivas e nos modelossistmicos.

    Assim, pode dizer-se que, no plano doensino-aprendizagem dos JDC, assiste-se a

    uma transio dos modelos analtico e estru-turalista para um modelo sistmico, no qualos pressupostos cognitivos do praticante e aequipe, entendida como um microssistemacomplexo, afiguram-se elementos fundamen-tais (Tabela 1).

    Figura 3. Contedos do conhecimento em desportos coletivos (adap. Grhaigne & Godbout, 1995).

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    Nesse contexto, torna-se importanteidentificar os traos que constituem indicado-res de qualidade nos jogos desportivos (Rinket ai, 1996):

    Ao nvel cognitivo

    conhecimento declarativo e processual orga-nizado e estruturado processo de captao da informao eficiente processo decisional rpido e preciso rpido e preciso reconhecimento dos padresde jogo (sinais pertinentes) superior conhecimento ttico elevada capacidade de antecipao dos even-tos do jogo e das respostas do oponente superior conhecimento das probabilidadessituacionais (evoluo do jogo)

    Ao nvel da execuo motora

    elevada taxa de sucesso na execuo das tcnicas durante o jogo

    elevada consistncia e adaptabilidade nospadres de movimento movimentos automatizados, executados comsuperior economia de esforo superior capacidade de deteco dos erros ede correo da execuo

    CO N S I D E R A E S F I N A I S

    O ensino dos JDC no deve circunscre-ver-se transmisso de um reportrio mais oumenos alargado de habilidades tcnicas (o pas-se, a recepo, o drible, ...), nem solicitaode capacidades condicionais e coordenativo-condicionais.

    Importa, sobretudo, desenvolver nospraticantes uma disponibilidade motora e men-tal que transcenda largamente a simplesautomatizao de gestos e se centre na assimi-lao de regras de ao e princpios de gestodo espao de jogo, bem como de formas de

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    O j o g o d e v e e s t a r

    p r e s e n t e e m t o d a s a s

    f a s e s d e e n s i n o /

    a p r e n d i z a g e m , p e / o

    f a t o d e s e r , s i m u l t a -

    n e a m e n t e , o m a i o r

    f a t o r d e m o t i v a o e o

    m e l h o r i n d i c a d o r d a

    e v o l u o e d a s

    l i m i t a e s q u e o s

    p r a t i c a n t e s v o

    r e v e l a n d o .

    comunicao e contracomunicao entre osjogadores.

    Nesse contexto, afigura-se assim impor-tante partir de uma concepo que articule as- pectos fundamentais como a oposio, a

    finalizao, a actividade ldica e os saberessobre o jogo.

    O jogo deve estar presente em todas asfases de ensino/aprendizagem, pelo fato de ser,simultaneamente, o maior fator de motivaoe o melhor indicador da evoluo e das limita-es que os praticantes vo revelando.

    RE F E R N C I A S BI B L I O G R F I C A S

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    NO T A S

    'Numa situao-problema, graas a um sistema de constrangi-mentos (dificuldade objetiva da tarefa), o sujeito, de acordocom as possibilidades do momento, deve ultrapassar o obst-culo para resolver o problema posto pela tarefa. Trata-se deuma aprendizagem pela estratgia que promove uma auto-adap-tao sensrio-motora e uma auto-organizao cognitiva.

    U N I T E R M O S

    Jogos desportivos; ensino; aprendizagem; t-tica; tcnica.

    *Jlio Manuel Garganta da Silva Doutorem Cincia do Desporto e Professor da Fa-culdade de Cincias do Desporto e de Educa-o Fsica da Universidade do Porto, Portu-gal.

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