Moura Sauer Reflexoes sobre A metodologia

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114 Reflexões sobre a Metodologia de Construção do IDH e suas Implicações Quantitativas Fernando Alves de Moura 1 ; Leandro Sauer 2 Resumo: Desde 1990 o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publica anualmente o Relatório do Desenvolvimento Humano (RDH) que contém o Índice de Desenvolvi- mento Humano (IDH). O IDH é operacionalizado como indicador sintético resultado da aglutinação de três dimensões representativas do conceito de desenvolvimento humano e se consolida como um “substituto” do PIB per capita como indicador de qualidade de vida por país. A interpretação dos resultados obtidos no IDH deve ser acompanhada de um exame detalhado das implicações quantita- tivas de sua forma de construção. Por meio de estatística descritiva neste estudo foram identificadas as principais implicações quantitativas da metodologia de cálculo do IDH. Palavras-chave: IDH; metodologia; mensuração Abstract: Since 1990 the United Nations Program for Development (UNDP) annually publishes the Human Development Report (RdH) that contains the Human Development Index (HDI). The HDI is operationalized as a result of synthetic agglutination of three dimensions representative of the concept of human development and consolidates its role as a “substitute” GDP per capita as an indicator of quality of life for country. The interpretation of the results of the HDI should be accompanied by a detailed examination of the implications of its quantitative form of construction. Through descriptive statistics in this study were identified the main implications of the quantitative methodology of calculating the HDI. Keywords: HDI; methodology; measurement SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Diferentes Momentos na Mensuração da Realidade Social; 3. Construção do IDH; 4. Considerações sobre a Metodologia de Construção; 5. Conclusão; 6. Referências. 1 Bolsista de Iniciação Científica na UFMS. 2 Professor Doutor na UFMS. DESAFIO : R. Econ. e Adm. Campo Grande, MS, v. 10, n. 20, p. 114-128, jan./abr. 2009

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Reflexões sobre aMetodologia de Construção do IDHe suas Implicações Quantitativas

Fernando Alves de Moura1;Leandro Sauer2

Resumo: Desde 1990 o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publicaanualmente o Relatório do Desenvolvimento Humano (RDH) que contém o Índice de Desenvolvi-mento Humano (IDH). O IDH é operacionalizado como indicador sintético resultado da aglutinaçãode três dimensões representativas do conceito de desenvolvimento humano e se consolida como um“substituto” do PIB per capita como indicador de qualidade de vida por país. A interpretação dosresultados obtidos no IDH deve ser acompanhada de um exame detalhado das implicações quantita-tivas de sua forma de construção. Por meio de estatística descritiva neste estudo foram identificadasas principais implicações quantitativas da metodologia de cálculo do IDH.

Palavras-chave: IDH; metodologia; mensuração

Abstract: Since 1990 the United Nations Program for Development (UNDP) annually publishesthe Human Development Report (RdH) that contains the Human Development Index (HDI). TheHDI is operationalized as a result of synthetic agglutination of three dimensions representative ofthe concept of human development and consolidates its role as a “substitute” GDP per capita as anindicator of quality of life for country. The interpretation of the results of the HDI should beaccompanied by a detailed examination of the implications of its quantitative form of construction.Through descriptive statistics in this study were identified the main implications of the quantitativemethodology of calculating the HDI.

Keywords: HDI; methodology; measurement

SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Diferentes Momentos na Mensuração da Realidade Social; 3. Construção doIDH; 4. Considerações sobre a Metodologia de Construção; 5. Conclusão; 6. Referências.

1 Bolsista de Iniciação Científica na UFMS.2 Professor Doutor na UFMS.

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1. Introdução

Até 1960, o termo desenvolvimen-to humano não fazia parte da esfera pú-blica. Em seu lugar era mais empregadaa noção de progresso material, ou decrescimento econômico. Grosso modo,a sociedade galgaria melhorias em seupadrão de vida mediante o desenvolvi-mento econômico e aumento do fluxomonetário entre os cidadãos. Para talparadigma de desenvolvimento social,o PIB per capita dos países era umamedida apropriada para mensurar seusníveis de qualidade de vida e estabele-cer uma classificação entre esses(VEIGA, 2003). Os níveis crescentes dedesemprego nos países desenvolvidos apartir da década de 1960, e odescompasso entre crescimento econô-mico e outras variáveis do bem estarsocial – como os níveis educacionais, desaúde e infra-estrutura urbana – coloca-ram em questão a eficiência da medidaPIB per capita para mensuração da qua-lidade de vida, abrindo espaço para no-vas abordagens de mensuração maisapropriadas aos aspectosmultidimensionais do problema (GUI-MARÃES; JANNUZZI, 2004).

O Índice de Desenvolvimento Hu-mano (IDH) surge nesse ambiente de in-satisfação com o PIB per capita comomedida de qualidade de vida. Uma dasmaiores contribuições do IDH é a divul-gação da metodologia de construção eutilização de indicadores sociais sinté-ticos, que passam a avaliar a realidadesocial de forma multidimensional e

representá-la em um único indicador sin-tético final. O IDH aglutina variáveis detrês diferentes dimensões em um úniconúmero que se propõe a mensurar o de-senvolvimento humano de forma maisprecisa que indicadoresunidimensionais. (MANCERO, 2001).

Essa metodologia obviamente con-tém imperfeições, sendo criticado em al-guns pontos de seu processo de cons-trução. As maiores críticas ao IDH sãoreferentes: a natureza distinta de suas va-riáveis, que poderia resultar em um in-dicador final sem sentido; a forma de co-leta de seus dados que pode tornar a aná-lise de seus resultados menos eficientedevido a sua agregablidade edesagregabilidae; e o uso da média comométodo de aglutinação de variáveis, queapresenta vários limites de análise.

Este trabalho busca por meio detécnicas de estatística descritiva anali-sar os impactos quantitativos implícitosnas escolhas metodológicas feitas duran-te a construção do IDH, que ficam “ocul-tos” quando se observa apenas os resul-tados obtidos pelo índice. Para melhorcompreender os resultados do IDH énecessário explorar sua metodologia deconstrução, o que também ajuda a“desmistificar” o indicador final, apon-tando seus limites de interpretação, pon-tos falhos dos resultados, como tambémsua potencialidade de utilização comoferramenta analítica.

Na primeira parte do trabalho é fei-to um breve histórico sobre diferentesformas de mensuração da realidade so-

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cial, em especial a idealização do IDH ea discussão sobre sua utilização comomedida descritiva da realidade social.Na segunda parte é descrito o processomatemático de construção do IDH. Naterceira parte são feitas algumas obser-vações sobre as conseqüências da for-ma de cálculo do índice, divididas em:coleta de dados, impacto de variáveis eo uso da média como método deaglutinação de dados. O trabalho é fina-lizado com uma breve retomada das idéi-as centrais apresentadas.

2. Diferentes Momentosna Mensuração daRealidade Social

Dados estatísticos sobre a socieda-de têm sido coletados desde o séculoXVI. Dados sobre mortalidade eramcoletados eventualmente, e estimativaspopulacionais eram utilizadas para finsde fisco e avaliação do poderio militarda região ou país (CARLEY, 1995).

Entre os séculos XVII e XIX de-senvolveu-se e ampliou-se o movimen-to de coleta e organização de dados so-ciais, econômicos e demográficos. Taisinformações passaram a ser utilizadascomo uma forma rudimentar de conta-bilidade social. Uma forma de identifi-car tendências e mudanças na socieda-de, sendo introduzidas ao longo da his-tória na gestão pública como ferramen-tas informacionais (CARLEY, 1995). Aconstrução e utilização desses indicado-res é a expressão em parâmetros de filo-

sofia, conhecimento, direção política ecompromissos de ação de seusformuladores (JANNUZZI, 2003), sen-do construídos diferentes tipos de indi-cadores para diferentes momentos nahistória da sociedade.

O termo desenvolvimento socialnão fazia parte do discurso dos gover-nos ao longo da história, pelo menos atéa década de 1960. O termo maiscomumente utilizado era o progressoeconômico. O objetivo dos países peri-féricos, até então, era atingir padrões dedesenvolvimento econômico e industri-al similares aos dos países centrais, en-quanto os países centrais, ao menos nodiscurso de seus dirigentes, deveriamalcançar um melhor padrão de vida di-namizando seu setor produtivo. Para lo-grar tais padrões o crescimento econô-mico era imperativo (VEIGA, 2003). Aidéia de crescimento econômico perma-neceu até a década de 1960 como sinô-nimo de melhoria da qualidade de vidapara toda a população. A proposta eraque com o desenvolvimento econômicoda nação, os benefícios do progressoseriam naturalmente divididos e desfru-tados por toda sociedade. Para tal visãode pregresso, o PIB (soma de toda ri-queza produzida pelo país) era umamedida apropriada para calcular o graude desenvolvimento de uma nação.Quanto maior o valor do PIB, maior se-ria o bem estar social no país (VEIGA,2003) - junto com o PIB foram difundi-dos nessa época outros indicadores eco-nômicos, que décadas depois passariama ser chamados de indicadores de pri-

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meira geração (indicadores de cunho es-tritamente econômico e unidimensional)(JANNUZZI, 2003).

Essa situação apresenta indícios demudança na década de 1960, quando édiagnosticado o quadro de desempregoem ascensão nos países centrais. Nesseperíodo é crescente a parcela da popu-lação que vivia a margem do progressoeconômico sem desfrutar dos benefíci-os da sociedade industrial (LEAL,2002). Na mesma época acumulam-secasos de países que mantinham um bomdesempenho econômico por alguns anosconsecutivos, mas não obtinham melho-ras nas condições de vida de sua popu-lação como um todo. Países como Bra-sil e Argentina, por exemplo, cresciama taxas superiores a 10% ao ano na dé-cada de 1970, mas sofriam o decrésci-mo do poder de compra de sua popula-ção e de seu nível de condições de vida,enquanto aumentavam os níveis de de-semprego e pobreza (POCHMAN;BLANES; AMORIN, 2005).

O IDH desenvolve-se num ambi-ente marcado pela insatisfação com oPIB como medida única de bem estarsocial. Apesar do PIB possuir algumaspropriedades importantes como indica-dor social (disponibilidade de dadospara quase totalidade dos países, enten-dimento fácil, comparabilidade entrediferentes países) essa medida demons-trou uma série de desvantagens dentreas quais é de possível citação: a incapa-cidade de refletir a distribuição da ren-da interna em cada unidade do territó-

rio, o fato de ser afetado pela variaçãocambial e principalmente seu caráterunidimensional, ou seja, não mensuraoutros aspectos da realidade social, taiscomo educação, saúde, meio ambiente,entre outros (JANNUZZI, 2003).

Nesse ambiente de insatisfaçãocom o PIB como indicador de desenvol-vimento social, diversos pesquisadorese organismos internacionais passaram abuscar novos indicadores substitutos.Dentre esses pesquisadores e institui-ções, nos anos 1960 o Instituto de Pes-quisa e Desenvolvimento das NaçõesUnidas (UNRISD) foi um dos mais im-portantes organismos a influenciar nadefinição e instrumentalização dos cha-mados indicadores de segunda geração(de caráter predominante composto),que mais tarde viriam se chamar indica-dores sociais sintéticos. Dentre essesindicadores o IDH se tornou o mais di-fundido (JANNUZZI, 2004).

Sob liderança do economistapaquistanês Mahbub ul Haq e com basenas idéias de Amartya Sen com oenfoque de capacidades de titularidades,o Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD) publica des-de 1990 relatórios anuais que abordamdiferentes dimensões do conceito de de-senvolvimento humano. Nesses relató-rios são reunidas estatísticas temáticasaplicadas às dimensões do desenvolvi-mento humano em destaque para cadaedição dos relatórios, além de quadrosreferentes ao desempenho em rankingmundial dos resultados do IDH.

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Para o PNUD o conceito de desen-volvimento humano se diferencia dasabordagens previamente existentescomo a “teoria do capital humano” – naqual as pessoas são analisadas comomeios de produção e não como objetosfinais do desenvolvimento humano – edas “teorias de bem-estar” – que consi-deram as pessoas beneficiárias do de-senvolvimento humano, e não como par-ticipantes ativas do processo(MANCERO, 2001). O desenvolvimen-to humano seria então um processo dealargar as verdadeiras liberdades que aspessoas gozam, surgindo a possibilida-de de escolhas das pessoas com um ren-dimento financeiro suficiente, condiçõesde vida saudáveis, ambiente políticodemocrático e uma sociedade que pro-picie oportunidades mínimas a seusmembros (PNUD, 1990).

Com intuito de avaliar as condiçõesde vida ao longo de tempo em diferen-tes países, e de certa forma estabelecerum ranking entre esses, desenvolveu-seo IDH, que se propõe a mensurar con-ceito de desenvolvimento humano daforma mais completa possível, comabrangência para a totalidade dos paí-ses do mundo, interpretação simples ecomparabilidade factível.

Segundo o RDH de 1990, caso oIDH incorporasse muitas variáveis po-deria se tornar de interpretação tornariaa obtenção dos dados impossível paraalguns países, além de afastar a análisedos pontos relevantes do desenvolvi-mento humano. Por esta razão o IDH se

concentra em três aspectos fundamen-tais da vida humana: Longevidade(mensurada pela esperança de vida aonascer); Conhecimento (mensurado pormédia ponderada entre taxa de alfabeti-zação de adultos e taxa de escolarizaçãobruta combinada do ensino primário,secundário e superior); e um Nível deVida Digno (mensurado pelo PIB percapita em dólares PPC). A escolha des-sas dimensões deve-se ao fato delasconstituírem aspectos básicos do desen-volvimento humano e por contarem comfontes de dados aceitáveis (custosfactíveis e com certo grau deconfiabilidade para diversos países) parasua coleta. Sobre a utilidade do IDH esuas dimensões de análise Amartya Senescreveu:

“Devo reconhecer que não via no iníciomuito mérito no IDH em si, embora ti-vesse tido o privilégio de ajudar aidealizá-lo. A princípio, demonstrei bas-tante ceticismo ao criador doRelatório deDesenvolvimento Humano, Mahbub ulHaq, sobre a tentativa de focalizar, emum índice bruto deste tipo - apenas umnúmero -, a realidade complexa do de-senvolvimento e da privação humanos.(...) Mas, após a primeira hesitação,Mahbub convenceu-se de que ahegemonia do PIB (índice demasiada-mente utilizado e valorizado que ele que-ria suplantar) não seria quebrada pornenhum conjunto de tabelas. As pessoasolhariam para elas com respeito, disseele, mas quando chegasse a hora de uti-lizar uma medida sucinta de desenvol-vimento, recorreriam ao pouco atraentePIB, pois apesar de bruto era conveni-ente. (...) Devo admitir que Mahbub en-tendeu isso muito bem. E estou muito

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contente por não termos conseguidodesviá-lo de sua busca por uma medidacrua. Mediante a utilização habilidosa dopoder de atração do IDH, Mahbub con-seguiu que os leitores se interessassempela grande categoria de tabelas sistemá-ticas e pelas análises críticas detalhadasque fazem parte do Relatório de Desen-volvimento Humano” (PNUD, 1999).

3. Construção do IDH

O IDH apresenta uma metodologiade construção que tenta transformar umconceito amplo e subjetivo da realidadesocial (desenvolvimento humano) emuma medida numérica unidimensionalpara propósitos analíticos de resumo darealidade social. Para atingir esse obje-tivo é são seguidas cinco etapas bási-cas: (1) definição teórica do conceitosubjetivo que se pretende mensurar; (2)definição de dimensões representativasdo conceito em pauta; (3) escolha dasvariáveis primárias; (4) escolha da fór-mula de padronização dessas variáveisno cálculo de sub-índices; e (5)aglutinação dos sub-índices no resulta-do final do indicador.

Para operacionalizar de forma nu-mérica as três dimensões representati-vas do conceito de desenvolvimento hu-mano (Longevidade, Conhecimento eNível de Vida Digno) o IDH utiliza umsub-índice formado por variáveis pri-márias para cada dimensão. Paramensurar a Longevidade, a variávelprimária escolhida é a esperança devida ao nascer, que representaria umavida longa e saudável. Para mensurar o

Conhecimento é feita uma composiçãoentre as variáveis primárias taxa de al-fabetização de adultos e a taxa deescolarização bruta combinada que afe-rem o nível educacional em vários es-tágios (ensino básico, médio e superi-or). Para mensurar o Nível de Vida Dig-no a variável primária é o PIB percapita em dólares PPC que capta o pa-drão de vida através de capacidadesmonetárias.

Os sub-índices são calculados se-guindo a seguinte fórmula de padroni-zação (equação 1) de acordo com valo-res máximos e mínimos (balizas) defi-nidas arbitrariamente pelo PNUD:

)()(

)(

ii

iIp XMinXMáx

XMinXX

=

sendo que, (1)

p: identifica qual sub-índice está em estu-do;i: índice que identifica o paísX: valor do indicador utilizado no cálcu-lo;Min (X): valor mínimo do indicador Xconsiderando as balizas atribuídas;Max (X): valor máximo do indicador Xconsiderando as balizas atribuídas.

As balizas para o cálculo do IDHencontram-se na Tabela 1.

Para o cálculo do sub-índice daLongevidade é utilizada a variável pri-mária esperança de vida ao nascer pa-dronizada na equação (1). Para o cál-culo do sub-índice do Conhecimento é

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utilizada uma média ponderada entre asvariáveis primárias taxa de alfabetiza-ção de adultos (com peso dimensional0.667) e taxa de escolarização brutacombinada (com peso dimensional0.333) padronizada na equação (1).Para o cálculo do sub-índice do Nívelde Vida Digno é utilizada a variávelprimária PIB per capita em dólares

PPC padronizada em escala logarítmicasegundo a equação (1).

O IDH é resultado da média ponde-rada destes três sub-índices(Longevidade, Conhecimento e Nível deVida Digno) com pesos iguais para cada,isto é, um peso de (0,333) para os três. Afigura (1) apresenta um resumo das eta-pas de cálculo do IDH:

Tabela 1 – Balizas para o cálculo do IDH

Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano, 2006.

Indicador (unidade de medida) Valor Mínimo Valor Máximo

Esperança de vida ao nascer (anos) 25 85

Taxa de alfabetização de adultos (percentagem) 0 100

Taxa de escolarização bruta combinada (percentagem) 0 100

PIB per capita (dólares PPC) 100 40.000

Definição dedimensões

Escolha devariáveis primárias

Cálculo desub-índices

Longevidade Conhecimento Nível de VidaDigno

Esperança devida ao nascer

Taxa dealfabetizaçãode adultos

Taxa deescolarizaçãobruta combinada

PIB per capita

(US$ PPC)

Sub-índice daLongevidade

Sub-índice doConhecimento

Sub-índice doNível de VidaDigno

Definiçãoteórica

Conceito de Desenvolvimento Humano

Aglutinaçãono índicefinal

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

Figura 1 – Resumo de cálculo do IDH

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O IDH pode assumir valores entre (0) e(1), sendo que quanto mais próximo de(1), melhor a situação do país. Os valo-res são classificados da seguinte manei-ra para o PNUD:

- IDH com valores menores que (0,5):considerado baixo;

- IDH com valores entre (0,5) e (0,8):considerado médio;

- IDH com valores maiores que (0,8):considerado alto.

4. Considerações sobre aMetodologia de Construção

4.1 Coleta de Dados

A forma de construção do IDH con-ta com vantagens essenciais com rela-ção a obtenção de dados e da análise dosmesmos. Em primeiro lugar, esta índiceapresenta custos aceitáveis, leia-se, seusdados primários exigem um número devariáveis relativamente pequeno (espe-rança de vida ao nascer, taxa de alfabe-tização de adultos, taxa bruta de matrí-cula combinada e PIB per capita emdólares PPC), o que torna sua coletamenos onerosa em comparação com in-dicadores mais complexos.

Um segundo aspecto positivo é refe-rente a sua historicidade, isto é, este indi-cador fornece dados ao longo de sérieshistóricas. Apesar dos resultados contidosem diferentes relatórios não serem direta-mente comparáveis devido a alterações emdetalhes da metodologia de cálculo em

diferentes anos, cada relatório recalcula oIDH em séries históricas desde 1975 até adata de edição de cada relatório. Esse cui-dado do PNUD permite a comparaçãoentre diferentes recortes temporais e omonitoramento de tendências de evoluçãoou regressão nos níveis de desenvolvimen-to humano dos países.

Com relação a sua cobertura geo-gráfica, o IDH é abrangente o suficientepara torná-lo uma referência mundialcomo indicador sintético de mensuraçãode desenvolvimento humano. No Rela-tório do Desenvolvimento Humano de2006 existem 176 países participantesdo ranking mundial, sendo seus resulta-dos passíveis de comparação territoriale temporal. É prática comum aestruturação de seus resultados em ma-pas temáticos que ilustrem a distribui-ção de seus valores para diferentes ter-ritórios em escala mundial.

Ainda com base em sua coberturageográfica o IDH apresenta problemasdecorrentes de sua agregabilidade edesagregabilidade das informações dis-poníveis, isto é. As unidadez máximas emínimas do território para as quais oIDH fornece informações.

A forma como esse índice agregasuas informações causa a perda de suaspropriedades comparativa entre diferen-tes grupos sociais. Ou seja, o IDH tem naunidade geográfica sua unidade básica deanálise, portanto é possível calcula-lopara um país, para uma cidade ou mes-mo para um bairro, mas não é possívelcalcula-lo para uma família, para negros

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ou para mulheres (CARVALHO et al.,2003). Não se calculo a IDH de uma pes-soa para depois obter uma média dessesvalores individuais, o processo de cons-trução do IDH primeiro agrega seus da-dos (esperança de vida, por exemplo)dentro de uma totalidade geográfica e sódepois calcula o valor de suas dimensõese seu valor total. Depois de calculado oIDH final não é possível fazer conside-rações sobre os diferentes grupos que aju-daram a compor a amostra.

Com relação à agregabilidade doIDH existem dois problemas básicos im-pedem a obtenção do IDH de uma uni-dade geográfica maior através da médiaponderada de unidades geográficas me-nores que compõem essa unidade mai-or: (1) As variáveis primárias utilizadasno seu cálculo têm bases populacionaisdistintas. Por exemplo, a renda percapita é calculada sobre toda a popula-

ção, ao passo que a taxa de analfabetis-mo é obtida apenas através da popula-ção de 15 anos ou mais. A média dosíndices de cada variável não é necessa-riamente igual ao índice de todas as va-riáveis agrupadas. (2) A formalogarítmica de cálculo da dimensão Ní-vel de Vida Digno torna seu cálculo nãolineal. Como a soma dos logaritmos nãoé necessariamente igual ao logaritmo dasoma, o componente Nível de Vida Dig-no do IDH não é aditivamente agregável.

4.2 Impacto das Variáveis

Cada variável primária tem diferen-te impacto sobre o cálculo do IDH fi-nal. A tabela a seguir mostra o impactoda variável esperança de vida ao nascer.Para cada ano adicionado nessa variá-vel, o resultado é um incremento de(0,006) no IDH final.

Esse impacto linear das variaçõesna esperança de vida ao nascer é de-corrente de sua fórmula de cálculo:

Δ Longevidade final -inicial = X final – (X inicial – 25)85 - 25 85 – 25

Δ Longevidade final -inicial = X final – 25 – X inicial + 2560 60 60 60

Δ Longevidade final -inicial = X final – X inicial

60Δ IDH longevidade (final-inicial) = 0,333*(X final – X inicial)

60

Expandindo o raciocínio, tanto ataxa de escolarização de adultosquanto a taxa de escolarização brutacombinada tem incrementos linearesno cálculo do IDH, sendo para cadaaumento de 1% na taxa de alfabeti-zação de adultos um incremento de(0,002) no IDH final e para cada au-mento de 1% na taxa de escolaridade

Tabela 2 – Incrementos da esperança de vida ao nascer no IDH

Esperança devida ao nascer

Sub-índice daLongevidade

Impacto no IDH da esperançade vida aos nascer

Valor incremental de um anode vida no cálculo do IDH

25 0,000 0,000 0,006

26 0,017 0,006 0,006

27 0,033 0,011 0,006

28 0,050 0,017 0,006

29 0,067 0,022 0,006

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bruta combinada um aumento de(0,001) no IDH final.

O cálculo da dimensão Nível deVida Digno sofre adaptações para quemelhor reflita os efeitos de incremen-tos de renda na qualidade de vida, demodo que para valores iniciais peque-nos de PIB per capita (próximos dabaliza mínima de 100), variações emseus valores refletem maior efeito doque para valores iniciais elevados(próximos da baliza máxima de40.000). A medida que aumentam os

Tabela 3 – Incrementos do PIB per capita no valor do IDH

PIB per capita Sub-índice do Nívelde Vida Digno

Impacto no IDH doPIB per capita

Valor incremental de 500 US$no PIB per capita no IDH

1000 0,384 0,128 0,023

1500 0,452 0,151 0,016

2000 0,500 0,167 0,012

2500 0,537 0,179 0,010

3000 0,538 0,189 0,009

3500 0,593 0,198 0,007

4000 0,616 0,205 0,007

valores do PIB per capita, o impactoincremental dessa variável no cálculodo IDH diminui.

Tal raciocínio é justificado pelaimportância relativamente maior queum aumento de 500 US$ tem em rendi-mentos de 1.000 US$ que em rendimen-tos de 30.000 US$, por exemplo.

Para obtenção desse efeito é ado-tada uma escala logarítmica para o PIBper capita. O impacto dessa variável éilustrado na tabela abaixo.

4.3 Uso da Média

Uma das maiores críticas a formade cálculo do IDH é decorrente de suafórmula de aglutinação de variáveis. Portratar-se de uma média, o IDH não per-mite identificar o quanto variam as con-dições de vida dentre os habitantes de de-terminado país. A informação disponívelé para um cidadão médio, não sendo pos-sível visualizar as desigualdades sociaisdentro do país. Existe a possibilidade queuma parcela da população goze de umpadrão de vida elevado enquanto outra

parcela tenha índices muito abaixo damédia, ficando “mascarada” a realidadede parte da população. Ou seja: o IDHnão consegue avaliar situações extremas,o que pode enviesar diagnósticos sociaisque não levem em consideração os limi-tes desse indicador.

Essa incapacidade do IDH emexplicitar disparidades existentes no interi-or de cada país torna sua utilização inade-quada para a comparação e omonitoramento da incidência de pobreza edesigualdade social em diferentes países.

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Isso deve-se ao fato que todos os indicado-res utilizados no IDH são médias, diluindoa existência de situações extremas associa-das as desigualdades de bem estar entre osindivíduos (JANNUZZI, 2004).

Devido a sua abrangênciamultidimensional alguns autores afirmamque esse tipo de medida é uma entidadeconfusa na qual eventos da realidade so-cial de natureza distinta são somados sema presença de um modelo formal que ojustifique (SALTELLI et. al., 2004).

Como o IDH é produto de uma mé-dia entre dimensões aparentemente semdependência e de naturezas distintas, éde se suspeitar que não haja correlaçãoentre as variáveis componentes do índi-ce. Apesar da falta de um modelo teóri-co que atribua relações explícitas decausa e efeito entre suas dimensões sãoaltos, indicando que estas, apesar de na-turezas distintas, guardam alta associa-ção entre si, como ilustrado na tabelaabaixo.

Tabela 4 – Coeficiente de correlação entre IDH e suas dimensões

Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano, (2006)

Geral Longevidade Conhecimento Nível de Vida Digno IDH

Longevidade 1

Conhecimento 0.730 1

Nível de Vida Digno 0,758 0,763 1

IDH 0,914 0,906 0,919 1

A correlação do IDH com seus sub-índices quando analisada a totalidadedos países participantes do ranking cons-tata um coeficiente de correlação alto,isto é, o IDH está associado com o sub-índice da Longevidade, com o sub-índi-ce do Conhecimento e com o sub-índicedo Nível de Vida Digno com valores de(0,914), (0,906) e (0,919) respectiva-mente. Nota-se que apesar da naturezadistinta das dimensões, os resultados ob-tidos nessa tem alta correlação entre si:a menor correlação é entre Longevidadee Conhecimento (0,730), sendo a corre-lação entre Nível de Vida Digno eLongevidade (0,758) e a maior correla-ção entre Nível de Vida Digno e Conhe-cimento com (0,763).

Observa-se que o IDH é uma me-dida que tem alto potencial de explica-ção de suas dimensões. Apesar de nãoexistir uma relação teórica explicita decausa e efeito entre suas variáveis, odesempenho de suas dimensões guardacerto grau de associação, sendo poucoprovável encontrar países com valoresmuito díspares em suas dimensões, issoé, com um desempenho muito “bom” emdeterminada dimensão e desempenhomuito “ruim” em outra dimensão.

Quando avaliado o grau de correla-ção para diferentes intervalos de países,a associação de variáveis diminui con-forme é reduzido o IDH, ou seja, parapaíses de IDH alto a correlação entre oIDH e Longevidade, Conhecimento e Ní-

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vel de Vida Digno é de (0,821), (0,721) e(0,898) respectivamente, enquanto quepara países de IDH médio esses valorescaem para (0,750), (0,793) e (0,662), epara países de IDH baixo esses valoressão (0,381), (0,613) e (0,598).

Nota-se que a correlação entre asdimensões têm baixos valores quando

aplicada apenas a países de alto, mé-dio ou baixo IDH. Com exceção da

correlação entre Longevidade e Nível

de Vida Digno nos países de IDH alto

– que pode ser considerada mediana

(0,679), todos os outros valores em to-dos os grupos apresentam baixa cor-

relação, conforme tabela abaixo.

Essa variação da correlação doIDH para suas diferentes dimensões in-dica que para países com melhores re-sultados no IDH, tendem a ter desem-penho homogêneo em cada dimensão,isto é, as dimensões apresentam valoressimilares para o mesmo país.

O desempenho dos países no va-lor final do IDH, logo, não é afetadode forma uniforme por todas as variá-veis. Os países com maiores IDH real-mente tem desempenho mais uniforme

em seus sub-índices, mas os países comIDH menor não. Para estes últimos con-forme diminui seu IDH, menoscorrelacionados se tornam seus sub-ín-dices com seu IDH.

Cada ponto no gráfico abaixocorresponde ao desempenho de determi-nado país em relação a seu IDH e suadimensão Longevidade. O Brasil, porexemplo é representado pelo ponto lo-calizado no valor (0,792) para IDH e(0,760) para longevidade.

Tabela 5 – Coeficientes de correlação entre IDH e suas dimensões

Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano, (2006)

IDH > 0,8 Longevidade Conhecimento Renda IDH

Longevidade 1

Conhecimento 0,387213393 1

Renda 0,679233786 0,43038904 1

IDH 0,821250712 0,720630757 0,898228 1

0,8 > IDH > 0,5 Longevidade Conhecimento Renda IDH

Longevidade 1

Conhecimento 0,35334322 1

Renda 0,165170618 0,419698641 1

IDH 0,745254712 0,792588392 0,661845 1

0,5 > IDH Longevidade Conhecimento Renda IDH

Longevidade 1

Conhecimento -0,38494009 1

Renda 0,142442826 0,092908077 1

IDH 0,380786245 0,613042009 0,597627 1

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Quanto mais próximo de (1) parao IDH, mais concentrados estão os va-lores do sub-índice da Longevidade,enquanto que para valores menores doIDH, os valores do sub-índice se disper-sam, sugerindo que países com valoresmais baixos de IDH não são “ruins” emtodas as dimensões, já que eventuais re-sultados “ruins” em suas dimensões po-dem ser compensados por “bons” resul-tados em outras. O gráfico deveria secomportar com pontos concentrados deforma uniforme para indicar que paísescom IDHs mais altos se apresentassemmelhores em todas as dimensões en-quanto países com IDHs mais baixos se

apresentassem piore em todas as dimen-sões. Fato que não ocorre, sugerindo quepaíses com IDHs maiores realmenteapresentam uniformidade em seus sub-índices, entretanto países com IDHsmenores obtém “bons” resultados em de-terminadas dimensões e resultados “ru-ins” em outras.

Abaixo segue a matrix-plot das di-mensões de cálculo do IDH que refor-çam a idéia contida no gráfico anterior.Observa-se que para valores próximosde (1) os pontos são o mais concentra-dos que para valores próximos de (0),em todos os casos.

Figura 3 – Matrix-plot dimensões do IDH

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

0.80

0.90

1.00

0.300 0.400 0.500 0.600 0.700 0.800 0.900 1.000

IDH

Lo

ng

ev

ida

de

Figura 2 – Diagrama de dispersão IDH x Longevidade

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5. Conclusão

Para diferentes momentos da his-tória humana, foram criados métodosdistintos para mensurar a realidade so-cial. A mudança no paradigma de desen-volvimento humano que migra de umaperspectiva estritamente econômica paraum conjunto de fatoresmultidimensionais exige a substituiçãode antigas medidas como o PIB percapita por medidas mais adequadas àsdemandas da sociedade. Nesse ambien-te de troca de paradigmas, o IDH se con-solida e populariza o conceito de desen-volvimento humano, trazendo consigouma nova metodologia de mensurar a so-ciedade: os indicadores sociais sintéti-cos, que numa descrição concisa,aglutinam variáveis de diferentes natu-rezas em um indicador simples. Em ou-tros termos, representam amultidimensionalidade da realidade so-cial em termos unidimensionais numé-ricos.

Apesar de suas limitações comomedida descritiva, o IDH apresenta pro-priedades interessantes que o diferenci-am dos demais indicadores: interpreta-ção simples, esforços na coleta de da-dos aceitáveis, abrangência geográficae disponibilidade em séries históricassão as mais destacadas.

As principais críticas dirigidas aoIDH, e numa perspectiva mais ampla, atodos os indicadores sintéticos, são re-lacionadas a forma de aglutinação de va-riáveis: Em especial o uso da média nãopermite a percepção de disparidades en-tre diferentes grupos componentes deseu calculo; sua formula de calculo apre-senta limites quanto a agregabilidade edesagregabilidade de informações; e afalta de um modelo teórico explícito decausa e efeito que justifique aaglutinação de variáveis de naturezasdistintas em um indicador único.

Este trabalho faz um esforço emidentificar na metodologia de cálculo àsimplicações quantitativas presentes nasentrelinhas do método. Como foi expos-to, com intuito de representar um con-ceito social abstrato subjetivo o índicepassa por etapas de construção, e ao lon-go dessas etapas as escolhas dosformuladores se tornam implícitas no ín-dice sintético. Nesse trabalho, através detécnicas de estatística descritiva, tenta-mos tornar mais evidentes os reflexosquantitativos existentes na metodologia,mais precisamente sobre a coleta de da-dos, impacto das variáveis e reflexos damédia como método de aglutinação dedados. De posse dessas informações épossível compreender e interpretar me-lhor os resultados finais do IDH.

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6. Referências

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