Moura- Produção de alimento vivo,aquicultura.

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PRODUÇÃO DE ALIMENTO VIVO: IMPORTÂNCIA E PERSPECTIVA PARA AQÜICULTURA

Alitiene Moura Pereira.

Acuacultora, M.Sc., Ph.D. UFRPE – Brasil Introdução Geral O pequeno tamanho da boca dos organismos aquáticos exige o cultivo de organismos vivos apropriados para o estabelecimento de uma cadeia alimentar artificial. Isto requer a produção de microalgas e consequentemente do segundo nível trófico, pequenos organismos zooplanctônicos. Pequenas quantidades de microalga estimulam a produção tripsina (enzimas) que ajudam a digestão da ração, aumentando a taxa de crescimento do animal. As enzimas contidas no alimento vivo ajudam em sua digestão pelo organismo cultivado.

Náuplio de Artêmia O alimento natural contém alto conteúdo energético e contribui com baixa excreção de nitrogênio em camarões, facilitando a manutenção da qualidade da água de cultivo. Introdução Zooplâncton A artemia tem sido amplamente utilizada como alimento para aqüicultura desde 1920. Suas características, tais como seu alto valor nutricional, representadas pelo teor protéico e perfil de aminoácidos, além de seu ciclo de vida, produzindo cistos, fáceis de armazenar e dispensando estrutura de manutenção para cultivo, transformaram-na no principal alimento vivo para larvicultura de camarões. A dependência deste organismo sujeito à variação na disponibilidade e alto preço de compra (US$17 a 25 por libra) torna cada vez mais importante à utilização de alimentos alternativos e com valor nutricional similar para sua substituição ou redução de seu uso. Entre os diversos organismos testados vamos apresentar alguns que foram e são utilizados em cultivo, possuindo grande potencial para reduzir o consumo ou até mesmo substituir o uso de artemia na larvicultura de organismos aquáticos.

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Rotíferos Desde a década de 80 os rotíferos, principalmente do gênero Brachionus sp., tem sido utilizado como alimento. Eles possuem o tamanho intermediário (150 a 290 µm) entre as microalgas e as artêmias (400 a 500 µm). Os rotíferos estão presentes em diferentes partes do mundo e mesmo aqueles que pertencem à mesma espécie, apresentam variação de tamanho, distinguindo-se diferentes linhagens como, por exemplo, a “S” (small – pequeno) e “L” (large – grande). Esta amplitude de tamanho dentro de uma mesma espécie torna mais fácil a adaptação do animal cultivado ao alimento.

Rotífero

Os rotíferos são cultivados com diferentes tipos de alimento, de fermento fresco ou desidratado a microalgas vivas ou liofilizado. A melhor microalga para o cultivo de rotíferos é a Nannochloropsis sp., porém outras microalgas como a Tetraselmis sp. e Isochrysis galbana podem ser utilizadas com sucesso. Os cultivos podem ser feitos em tanques de volumes variados (500 a 1500 l), com salinidade em torno de 20%ο e temperatura de 30°C. A densidade inicial pode ser de em torno de 250 ind./ml, atingindo densidade de 860 ind./ml após 4 dias em cultivo estático. Em sistemas de renovação contínua podem ser atingidas densidades de até 8.000 ind./ml em oito dias. Nematóides Os nematóides são organismos similares a minhocas, de coloração branca ou transparente, pequenos, algumas vezes não visíveis a olho nu. Muitas espécies são parasitas, porém o Panagrellus redivivus tem sido utilizado com sucesso como alimento para camarões marinhos, peixes e camarões de água doce.

Nematóide

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São fáceis de cultivar, atingindo altas densidades de cultivo em curto tempo de produção com utilização mínima de mão-de-obra. O meio de cultura consiste de agár e aveia ou leite e aveia. A pasta feita com a mistura dos ingredientes deve ser colocada em um recipiente de fundo chato, formando uma camada de espessura de 1 a 2 cm. O inóculo (volume de uma colher de chá) deve ser incubado em uma temperatura de 26 a 30°C e mantido na penumbra. A colheita pode ser feita 2 a 3 depois. O sistema produz diariamente 3.000 nematóides/cm2. A importância desta fonte de alimento pode ser devido ao seu alto teor lipídico, 35% de seu peso seco, superior inclusive ao da artêmia (16,5%). Porém, qualitativamente seu perfil de aminoácidos apresenta baixo teor de EPA de DHA, essenciais as larvas nesta fase de desenvolvimento. Este fato, porém, não impede que este organismo seja utilizado como um complemento para artêmia, reduzindo custos de produção sem aumento significativo de mão-de-obra. Copépodos Os diferentes tamanhos dos copépodos ao longo de seu desenvolvimento , (náuplio, copepodito e adulto) tornam-no uma presa versátil, sendo adequada para a ingestão pelas larvas de camarão desde sua fase de protozoea até pós-larva. Dentre os grupos de copépodos cultivados os mais adequados são os harpacticóidas e calanóidas. Os copépodos bentônicos, haparticóidas, são adequados ao cultivo em larga escala, pois toleram uma grande variação de temperatura e salinidade, não são exigentes quanto ao tipo de alimento, tem um ciclo de vida curto, possuem uma alta capacidade reprodutiva e suportam altas densidades populacionais.

Copepoda harpacticóida Os calanóidas são herbívoros, porém tem um ciclo de vida mais longo e não suportam altas densidades. Os dois grupos podem ser cultivados em sistemas de produção simples com aumentos sucessivos de volume ou recirculação contínua. As condições de cultivo devem ser mantidas à temperatura de 23 a 26°C, fotoperíodo natural e salinidade entre 25 e 35%ο. O cultivo de harpacticóidas pode ser feito em sistema estático, com produção de 100.000 náuplios/l por dia. Em sistema de renovação contínuo, pode ser produzido em um tanque de 1440 L, após um mês de cultivo é possível a coleta de 2,8 milhões de copépodos por dia. No cultivo de calanóidas, um tanque de 1000 L, pode produzir a cada 8 dias 752.000 copepoditos e 319.000 adultos e 2.000.000 náuplios.

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Ao contrário dos organismos apresentados anteriormente, o copépodo pode substituir a artêmia, não apenas servir como complemento, sendo inclusive nutricionalmente superior a esta. A artêmia, quando comparada aos copépodos, sintetiza ou incorpora menos ácidos graxos essenciais (22:6n-3) que os copépodos, além de apresentar uma relação mais baixa de DHA:EPA, mesmo quando alimentadas com DHA. Os copépodos podem ter, dependendo de sua alimentação, 50% ou mais de seus ácidos graxos representados por HUFA w3 além de 28% destes representados por fosfolipídios. As opções para reduzir o custo de produção e até mesmo melhorar o desempenho das pós-larvas existem, porém necessitam de maior apoio do setor público para pesquisas e ao setor privado a disponibilidade de aceitar e optar pelas mudanças!

. Tabela 1- Valores médios do perfil de ácidos graxos de rotíferos, nematóides, copépodos e artêmia (% do total de ácidos graxos). Ácidos graxos Rotífero Nematóide Copépodo Artêmia

14:0 7,05 0,75 4,20 3,30 15:0 4,60 2,30 nd nd 16:0 14,95 5,90 16,50 16,00 16:1 20,30 nd nd nd 16:1n-7 3,70 4,05 4,20 18,60 17:0 0,80 0,60 nd nd 18:0 nd 21,50 5,40 1,90 18:1 5,10 nd nd nd 18:1n-9 5,70 31,60 4,10 21,8 18:1n-7 3,40 5,00 nd nd 18:2 5,90 21,40 nd nd 18:2n-6 11,5 12,00 1,10 7,20 18:3n-3 6,40 2,2 1,10 3,30 18:3n-6 3,80 nd nd 1,90 18:4n-3 nd nd 3,20 0,30 20:0 0,10 4,30 3,20 nd 20:1 nd 4,50 0,70 0,90 20:2 nd 1,00 nd nd 20:2n-6 0,40 nd nd 0,50 20:3 nd 8,10 nd nd 20:3n-3 0,30 nd 1,10 nd 20:4 nd 11,30 nd nd 20:4n-6 3,15 1,60 1,10 2,70 20:4n-3 1,70 nd 0,60 0,10 20:5n-3 8,10 nd 20,10 3,90 22:4n-6 0,20 nd nd 0,40 22:5n-3 2,25 nd 0,50 nd 22:6n-3 1,9 nd 28,60 0,40

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