MOTIVOS ESTRATÉGICOS, FATORES E VANTAGENS QUE...
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MOTIVOS ESTRATÉGICOS, FATORES E
VANTAGENS QUE CONDUZEM AS
EMPRESAS À LOGÍSTICA REVERSA:
UM ESTUDO DE CASO
Charles Rui (UCS)
Flávia Camargo Bernardi (UCS)
Jefferson Marçal da Rocha (UNIPAMPA)
Maria Emília Camargo (UCS)
Esta pesquisa identificou quais os motivos, fatores e vantagens da
adoção da logística reversa, numa análise comparativa entre uma
empresa que adota este procedimento e as que não possuem esta
prática. Foi realizada uma pesquisa exploratóriia com aplicação de
questionário semi-estruturado em empresas do setor metal mecânico
da serra gaúcha. No questionário utilizado ressaltaram-se os motivos
que conduzem as empresas a praticarem a logística reversa de pós-
venda. Os resultados indicam que os motivos estratégicos mais
valorizados pelos entrevistados foram o aumento da competitividade e
recuperação de ativos, produtos reciclados com qualidade, canal de
distribuição reverso de pós-consumo e os fatores logísticos de
distribuição dos bens.
Palavras-chaves: Logística reversa. Ciclo Produtivo. Reciclagem
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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1. Introdução
No atual sistema econômico, onde as empresas competem com organizações de todas as
partes do mundo são necessárias ações para tornar os produtos mais baratos, competitivos e
principalmente menos impactantes aos recursos naturais.
Como meio para minimizar estes impactos, destaca-se como oportunidade a logística reversa,
que segundo Leite (2003) trata-se de uma área da logística que planeja, opera e controla o
fluxo de informações, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de
negócios ou ao ciclo produtivo, por meio de canais de distribuição reversos.
A logística de fluxos de retorno, ou também conhecida como reversa, visa a eficiente
execução da recuperação de produtos. Tem como propósitos a redução, a disposição e o
gerenciamento de resíduos tóxicos e não-tóxicos (GOMES; RIBEIRO, 2004, p.140).
Termos como canais reversos ou fluxos reversos têm sido usados desde os anos 1970. Estes
termos, em princípio, têm sido mais usados em operações ligadas a reciclagem de materiais e
gerenciamento ambiental, sendo menos associados aos objetivos de redução de custo e
aumento de valor econômico (BRITO; DEKKER, 2003).
A partir desta contextualização, a pesquisa objetivou investigar motivos, fatores, vantagens e
benefícios para a empresa fabricante de materiais de fricção, que realiza logística reversa e
também as percepções de funcionários de outras organizações de Caxias do Sul, RS, Brasil.
Foi feito uma pesquisa exploratória (estudo de caso) com aplicação de questionário semi-
estruturado usando a escala Likert. Aplicou-se este questionário aos funcionários da empresa
de materiais de fricção e para outras companhias da cidade. Para elaboração do questionário
foram utilizados os motivos ou fatores que conduzem as empresas a praticarem a logística
reversa de pós-venda detalhados pelos autores.
O artigo esta dividido nos seguintes tópicos: uma revisão sobre o tema logística reversa;
fatores de influência na organização dos canais de logística reversa; apoio ao ciclo de vida na
fase de desenvolvimento do produto e recuperação de produtos reversos. Também será
abordada a metodologia empregada, seguido pelos resultados e as considerações finais.
2. Logística reversa como um diferencial competitivo
2.1 A logística reversa
Com o aumento dos custos em função de práticas que buscam amenizar os impactos aos
recursos naturais, a logística reversa pode ser um meio para auxiliar a minimizar estes
impactos. Conforme Gökçen e Demirel (2008), a logística reversa surgiu devido ao aumento
crescente da preocupação com o meio ambiente, o esgotamento dos recursos naturais,
especialmente os problemas de resíduos inadequados depositados nas áreas de aterros,
levando desta forma, muitas prefeituras a estabelecerem regras para o destino dos produtos.
Ainda para estes autores, a logística reversa se constitui, portanto em um o conjunto de
atividades, que começa a partir do ponto de consumo para transformar os produtos usados em
reutilizáveis no mercado. Com isso a logística reversa pode melhorar a competência das
empresas, o nível de serviço ao cliente e reduzir os custos de produção.
Para Saen (2009), a logística reversa é o envio dos produtos após o uso do consumidor para a
fonte de origem. Em especial, o fabricante que recolhe os produtos usados a partir dos clientes
e, em seguida, vende a clientes como novos, após remanufaturá-los. A logística reversa incide
principalmente sobre a forma de como aceitar a devolução dos produtos usados, e recuperá-
3
los de forma eficiente e econômica. Pires (2004) e Saen (2009) destacam que muitas empresas
já perceberam que o tema pode ser convertido de um grande problema, para uma fonte de
vantagem competitiva, principalmente no que ser refere à imagem institucional.
A logística reversa normalmente é usada por fabricantes de bebidas que tem que gerenciar
todo o retorno de embalagens (garrafas) dos pontos-de-venda até seus centros de distribuição.
Desta forma, utilizam centros coletores de carga. A indústria de latas de alumínio é notável
em seu grande aproveitamento de matéria-prima reciclada, tendo desenvolvido meios
inovadores na coleta de latas descartadas (FIGUEIREDO et al., 2003, p. 475).
Segundo Leite (2003), ao se praticar a logística reversa as empresas agregam valor de diversas
naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros. Ao
agregar valor ecológico, insere-se na teoria do capitalismo natural, proposta por Hawken,
Lovins e Lovins (2002), que vêem a possibilidade de um novo sistema industrial alicerçado
em uma nova mentalidade e escala de valores.
2.2 Motivos e fatores de influência na organização dos canais de logística reversa
A reintegração ao ciclo produtivo, conforme Leite (2003) depende de fatores econômicos,
tecnológicos e logísticos, das necessidades ecológicas e dos requisitos legislativos. O
resultado de pesquisas em diversos setores industriais brasileiros, sintetiza a relação de
dependência entre os fatores e os níveis de organização e dinamismo dos canais de
distribuição reversos.
O quadro 1 representa para Leite (2003), os fatores que influenciam a implementação da
logística reversa de pós-consumo, pois representa as definições dos modelos essenciais,
necessários e os modificadores. O autor faz uma relação entre fatores de remuneração,
qualidade, econômico, mercado, tecnológicos, logísticos, ecológicos e legislativos.
Fatores Definição
Condições
essenciais de
organização e
implementação
Remuneração das
etapas reversas
Lucratividade obtida ao longo de cada fase reversa deve permitir
satisfazer os interesses econômicos dos diversos agentes, com
custos agregados que permitam preço de venda dos reciclados
inferior ou compatíveis com as matérias-primas utilizadas.
Qualidade dos
materiais reciclados
A reintegração ao ciclo produtivo deve permitir produtos com
conteúdos de reciclados economicamente aceitáveis e rendimentos
industriais compatíveis nos processos.
Escala econômica
de atividade
As quantidades de reciclados devem ser suficientes e apresentar
constância no tempo, de modo que garantam atividades em escala
econômica e empresarial.
Mercado de
produtos reciclados
É necessário que haja mercado para os produtos fabricados com os
materiais reciclados, o que refletirá nas demandas de reciclados.
Fatores
necessários para
a organização de
um canal
reverso de pós
consumo
Fatores econômicos
São entendidos como as condições que permitem a realização das
economias necessárias à reintegração das matérias-primas
secundárias ao ciclo produtivo.
Fatores
tecnológicos
É necessário que a tecnologia esteja disponível para o tratamento
econômico dos resíduos no seu descarte, em sua captação como
pós-consumo, na desmontagem, na separação dos diversos
materiais constituintes, na reciclagem propriamente dita e outros.
Fatores para a
organização de
pós-consumo
Fatores logísticos
Dizem respeito às condições de organização, localização e sistemas
de transporte entre os diversos elos da cadeia de distribuição
reversa.
Fatores
modificadores
da organização
Ecológicos
São denominados fatores ecológicos das condições de um reverse
supply chain aqueles que são motivados pela sensibilidade
ecológica de qualquer agente: governo, sociedade ou empresas.
4
de um canal de
distribuição
reverso
Legislativos
São os modificadores por intervenção governamental visando à
regulamentação, à promoção, à educação e ao incentivo à melhoria
do retorno dos produtos ao ciclo produtivo e outros.
Fonte: adaptado Leite (2003)
Quadro 1 - Fatores de influência na implementação da logística reversa de pós-consumo
Segundo Figueiredo et al. (2003), os motivos críticos que influenciam a eficiência do processo
de logística reversa são os bons controles de entrada, processos padronizados e mapeados,
redução de tempo de resposta de ciclo, sistemas de informação acurados, a medição do
desempenho dos fornecedores, rede logística planejada, relações colaborativas entre clientes e
fornecedores.
No que se refere aos fatores legislativos, Bowersox e Closs (2001) afirmam que as
necessidades de logística reversa decorrem do crescente número de leis. Estas proíbem o
descarte discriminado e incentivam a reciclagem de recipientes de bebidas e materiais”.
2.3. Recuperação de produtos reversos e a logística de pós-venda
Segundo Pires (2004), a gestão de produtos após o término de suas vidas úteis tem sido um
tema relativamente complexo, como tem sido o caso das baterias, pneus, automóveis,
equipamentos eletrônicos e outros.
O conserto, a reutilização, o aperfeiçoamento, a refabricação e a reciclagem são as cinco
principais maneiras de fazer com que as qualidades do bom material e do bom trabalho
continuem passando para outros usuários e usos. O conserto, que funciona melhor quando o
produto é projetado para facilitá-lo, restitui os bens defeituosos ao serviço satisfatório do
mesmo proprietário. A reutilização os transfere a um novo usuário ou a uma nova existência
com outros fins. (HAWKEN, LOVINS E LOVINS, 2002, p.72).
De acordo com Gomes e Ribeiro (2004), os processos de recuperação de produtos e materiais
englobam a limpeza e reparos, remanufatura e retrabalho de produtos entre outros. Já de
acordo com Figueiredo et al. (2003), as atividades que serão realizadas com o material reverso
dependem do tipo de material e do motivo pelo qual elas entram no sistema. Os materiais
podem ser divididos em dois grandes grupos: produtos e embalagens.
Leite (2003) destaca que num sistema de take back os objetivos de retorno de produtos na
empresa são relacionados a data de expiração do prazo de validade de produto, o superestoque
de produtos nos canais de distribuição e os produtos que precisam ser retornados (recall) por
razões de segurança e saúde.
A logística reversa de pós-venda está relacionada à comercialização e retorno abordados por
Cooper e Lambert (2000). Já para Stock e Lambert (2001), a logística reversa é uma das mais
importantes áreas do gerenciamento de materiais que uma empresa frequentemente ignora ou
considera de menor importância.
3. Metodologia
Este trabalho pode ser classificado como uma pesquisa exploratória (estudo de caso) do tipo
quantitativa, realizada por meio de um roteiro de entrevista semi-estruturado. Para Gil (2002),
a pesquisa exploratória tem por objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema,
com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Segundo Yin (2008), o estudo de
caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em seu
contexto real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente definidos.
5
Foram elaboradas questões com o objetivo de avaliar o ambiente de logística reversa que as
empresas estavam inseridas. Foi utilizada uma escala Likert com pontuação (1) discordo
totalmente, (2) discordo, (3) neutro, (4) concordo, (5) concordo totalmente e (6) não se aplica,
considerando as seguintes questões:
a) Com a prática de logística reversa a empresa era socialmente responsável;
b) Se a empresa obteve diferencial competitivo ao desenvolver a reciclagem de produtos
usados;
c) Se os clientes estavam mais satisfeitos com a empresa devido à pratica de recolhimento de
produtos usados;
d) Se a logística reversa afetava significativamente o trabalho dos envolvidos;
e) Com a prática de recolhimento de produtos usados no mercado afetava o processo de
trabalho dos funcionários;
f) A imagem da empresa destacava-se no mercado por desenvolver esta prática;
g) A empresa destacava-se no seu segmento por realizar a logística reversa.
O segundo bloco de questões foi elaborado com base nos motivos e fatores que conduzem as
empresas a praticarem a logística reversa de pós-venda abordados por Leite (2003) e
Figueiredo et al. (2003). Nestas questões foi utilizada uma escala Likert com 3 opções de
escolha:
a) Motivos estratégicos que levam as empresas a operarem com logística reversa (aumento de
competitividade, respeito à legislação, revalorização econômica e recuperação de ativos);
b) Condições essenciais para que o fluxo reverso se estabeleça (remuneração, e qualidade,
escala econômica de atividade e mercado para os produtos com conteúdo de reciclados);
c) Fatores necessários para a organização de um canal de distribuição (econômicos,
tecnológicos e logísticos);
d) Fatores modificadores que podem influenciar as empresas a praticarem a logística reversa
(ecológicos e legislativos);
Também foram elaboradas questões abertas com o objetivo de fazer o levantamento das
vantagens para a empresa, os benefícios para os clientes e a sociedade com a prática de
logística reversa pós-venda. Para a análise destas informações, optou-se pela análise de
conteúdo, que segundo Marconi e Lakatos (1996) apresentam como finalidade descrever
sistematicamente, o conteúdo das comunicações.
A pesquisa foi aplicada aos funcionários de áreas específicas da empresa Alfa e outras
empresas da região de Caxias do Sul, entre os meses de agosto a outubro de 2009. Antes da
realização das entrevistas, o roteiro passou por um pré-teste. Marconi e Lakatos (2001, p.165)
descrevem que o procedimento mais adequado para validar o instrumento de pesquisa é o
teste-preliminar ou o pré-teste, que “consiste em testar os instrumentos da pesquisa sobre uma
pequena parte da população „universo‟ ou da amostra, antes de ser aplicado definitivamente, a
fim de evitar que a pesquisa chegue a um resultado falso”.
A empresa Alfa é de capital nacional, com mais de 20 anos, de médio porte. Atua no
segmento de materiais de fricção no mercado interno e exporta para os cinco continentes. Tem
mais de 200 funcionários e possui faturamento anual na ordem de 50 milhões de reais. Em
2008 destinou mais de 30% de seus produtos à exportação. Já as demais empresas que
responderam ao questionário são da região de Caxias do Sul e atuam nos segmentos de
serviços e indústrias.
6
4. Resultados da pesquisa
Esta pesquisa procurou entender quais são os motivos estratégicos, fatores necessários para
que ocorra a logística reversa, as vantagens para a empresa, os benefícios para os clientes e a
sociedade.
4.1. Motivos estratégicos e fatores necessários para que ocorra a logística reversa
As questões desta seção têm como objetivo identificar quais são as dimensões mais relevantes
para os públicos entrevistados (Alfa e outras empresas de segmentos distintos). Os resultados
podem demonstrar quais são os atributos que a sociedade percebe como significativos.
Os funcionários foram questionados se já conheciam o termo “logística reversa” e, foi
observado que na empresa Alfa, 21 % desconheciam e 79% tinham conhecimento. Já nas
demais empresas, 59% dos pesquisados desconheciam o termo “logística reversa” e 41%
possuíam conhecimento. O desconhecimento sobre o termo “logística reversa” pode ser
justificado, através das questões abertas, pois os respondentes indicaram que conheciam o
termo como “reciclagem de embalagens”.
Na figura 1 procurou-se explorar quais eram as percepções dos funcionários da empresa Alfa,
quanto à prática de logística reversa:
a) 53,57% dos respondentes concordaram que a empresa ao recolher produtos usados tornava-
se “socialmente responsável”. A visão dos funcionários em concordar que a empresa torna-
se socialmente responsável também é explicada por Dias e Teodósio (2006), que
consideram que apesar das poucas iniciativas de coleta seletiva, a reciclagem tem forte
apelo nas dimensões ecológicas e econômicas, além do seu papel social.
b) 53,57% concordaram que as empresas obtinham algum “diferencial competitivo”, ou
vantagem em relação ao segmento de mercado em que atuavam ao desenvolver a prática de
reciclagem de produtos usados. Segundo Leite (2003), ações relacionadas à preservação
ambiental com visão contributiva do marketing social e ambiental, certamente serão
recompensadas com salutares retornos de imagem diferenciada como vantagem
competitiva.
c) 42,86% concordaram que os clientes poderiam estar mais satisfeitos com a empresa devido
à prática de recolhimento de produtos usados. Para Vieira et al. (2005), a adição de valor
para o cliente pode se materializar via proteção ao meio ambiente que demonstra a
consciência ambiental da empresa, já que sua base consiste em atividades de marketing que
se destinam a atender aos desejos, por parte dos clientes, de proteção ao ambiente natural.
7
Figura 1 - Análise do Ambiente de Logística Reversa na empresa Alfa
As questões da empresa Alfa, também foram aplicadas para os funcionários das outras
empresas. Na figura 2 percebe-se que a maioria dos entrevistados concordou que a prática de
logística reversa destacava a imagem e tornava a empresa socialmente responsável.
0.00%
5.00%
10.00%
15.00%
20.00%
25.00%
30.00%
35.00%
40.00%
45.00%
50.00%
socialmente responsável
diferencial competitivo
clientes mais satisfeitos
prática afeta o meu trabalhoClientes mais fiéis a marca
destaque da imagem da
empresa
destaque no segmento de
atuação
Discordo totalmente Discordo Neutro Concordo Concordo totalmente Não se aplica
Figura 2 - Análise do Ambiente de Logística Reversa pela visão das outras empresas
Os funcionários de ambas as empresas foram questionados sobre os motivos estratégicos que
levam as empresas a realizar a prática de logística reversa, conforme quadro 2.
Aproximadamente 53,6% dos funcionários da empresa Alfa, consideram como muito
importante o aumento de competitividade. O principal motivo estratégico para Alfa está
relacionado ao “aumento de competitividade” e para as outras empresas a “revalorização
econômica”. Segundo Porter (1998) a essência da formulação estratégica está relacionada
com a competição. Além disso, a luta por participação do mercado demonstra que a
competição não se manifesta através dos concorrentes, mas tem suas raízes na economia e
existem forças competitivas que vão bem além do que esteja representando unicamente pelos
8
concorrentes. A revalorização econômica destacada pelas outras empresas é lembrada por
Leite (2003), pelas quais, as quantidades de reciclados devem ser suficientes e apresentar
constância no tempo, de modo que garantam atividades em escala econômica e empresarial.
Motivos Empresa Pouco
Importante (%) Importante (%)
Muito Importante
(%)
Aumento de competitividade Alfa 0 35.71 53,57
Outras 21,3 66 14,9
Respeito à legislação Alfa 7,14 42,86 46,43
Outras 8,5 57,4 36,2
Revalorização econômica Alfa 3,57 46,43 46,43
Outras 12,8 70,2 19,1
Recuperação de ativos Alfa 14,29 50,0 28,57
Outras 2,1 53,2 46,8
Fonte: os autores (2009)
Quadro 2 - Índice dos motivos estratégicos para as empresas operarem com logística reversa
Os funcionários da Alfa foram questionados sobre quais eram as condições essenciais para
que o fluxo de logística reversa acontecesse, e o fator que se destacou como muito importante
foi a qualidade com 64,3%. Já como importante foi “o mercado para os produtos com
conteúdo de reciclados” (75%).
Percebeu-se que a Alfa considerou a dimensão “qualidade” como muito importante, e, isto é
significativo, pois o produto reciclado provoca grande impacto de qualidade no produto final,
visto que é responsável por ajudar na propriedade de resistência mecânica do material de
fricção. Também foi considerada como muito importante, a dimensão “escala econômica de
atividade”, pois o uso de material de reciclo é responsável por influenciar na redução do custo
do produto. Já as outras empresas, deram maior relevância para a dimensão “mercado”,
diferente da Alfa, que considerou como importante.
As mesmas questões foram aplicadas para as demais empresas pesquisadas e os resultados
demonstraram que os pesquisados consideram escala econômica (70,21%) e remuneração
(65,96%) como mais importantes.
Os funcionários da Alfa foram questionados sobre os fatores necessários para a organização
de um canal de distribuição reverso de pós-consumo. Os fatores destacados como muito
importantes foram: os logísticos (57,1%), seguidos pelos econômicos e tecnológicos, ambos
com 42,9%. Os demais funcionários questionados da Alfa consideraram como importantes os
fatores tecnológicos (50%), econômicos (46,4%) e logísticos (35,7%) respectivamente. Os
funcionários das demais empresas destacaram como muito importantes os fatores econômicos
(63,83%), tecnológicos (61,70%) e logísticos (57,45%). Como importantes os fatores
logísticos (36,71%), tecnológicos (31,91%) e econômicos (23,40%).
Os pesquisados da Alfa destacaram o fator “logístico” como muito importante, pois a empresa
trata estas matérias-primas como essenciais. A falta pode provocar a perda de produtividade e
atrasos de entrega de alguns produtos para os clientes. A tecnologia empregada para o
material reciclado é um diferencial competitivo porque desenvolveu um processo específico
que denomina como wave process que além de proporcionar qualidade para o cliente
contribui para a preservação do meio ambiente.
A empresa optou no uso de matéria-prima reciclada por três motivos: a questão ambiental,
9
pois o cliente normalmente descarta o material de fricção após o uso; a qualidade empregada
no processamento do material “wave process” que permite dar ao usuário final maior
resistência mecânica e durabilidade; e a redução de custos com matérias-primas. Calomarde
(2000) destaca que a reparação, recondicionamento e reutilização são estratégias que se
baseiam na idéia de recuperar o produto na etapa final do ciclo de vida. O produto reciclado
será viável se existir demanda que justifique a sua realização.
Já segundo Ballou (1993), é geralmente mais barato usar matéria-prima virgem do que
material reciclado, pelo pouco desenvolvimento de canais de retorno, que ainda são menos
eficientes do que os canais de distribuição de produtos. Isto deve mudar, pois (1) o público em
geral está ficando mais consciente do desperdício, (2) a quantidade de resíduo sólido tem
aumentado e (3) a matéria-prima original está ficando mais cara e menos abundante.
Na questão sobre os fatores modificadores que podem influenciar na prática de logística
reversa, de acordo com o quadro 3, os funcionários da Alfa consideraram os fatores
legislativos como muito importantes, e as demais empresas os fatores ecológicos.
Fatores Pouco Importante (%) Importante (%) Muito Importante (%)
Fatores ecológicos Alfa 14,3 46,4 28,6
Outras empresas 4,26 40,43 57,45
Fatores
Legislativos
Alfa 17,9 46,4 35,7
Outras empresas 10,64 42,55 46,81
Fonte: os autores (2009)
Quadro 3 - Fatores modificadores que podem influenciar na prática de logística reversa.
Os fatores modificadores nos canais reversos são identificados através da intervenção
governamental que alteram as condições naturais de equilíbrio do mercado, visando melhorar
a oferta de quantidades de pós-consumo disponíveis e recicladas, regular o destino final dos
resíduos ou as condições de mercado dos produtos confeccionados com materiais secundários,
entre outras possibilidades, propiciando a implantação da logística reversa nas empresas do
setor (LEITE, 2003, p.152).
Referente ao melhor destino para os produtos reversos destacados pelos funcionários da Alfa
foi o retorno para o ciclo produtivo com 75% e 25% para reciclagem. Na demais empresas
destacaram-se 47% reciclagem e 43% retorno ao ciclo produtivo. Para Stock e Lambert
(2001), muitos materiais podem ser reciclados ou reutilizados, resultando em receitas e lucros.
Czinkota e Ronkainen (2008) explicam que a logística reversa ganhou maior importância
devido às preocupações ambientais e ao desenvolvimento de sistemas de distribuição reversa.
Tais sistemas são essenciais para garantir que a empresa não apenas entregue o produto ao
mercado, mas também possa recuperá-lo do mercado para subseqüente utilização, reciclagem
ou descarte.
4.2. Vantagens para a empresa e os benefícios para os clientes e a sociedade
A última parte da pesquisa era composta de questões abertas que tinham como objetivo
verificar quais eram as dimensões que, na opinião dos entrevistados, eram mais significativas
quanto às vantagens para a empresa, os benefícios para os clientes e a sociedade com a prática
de logística reversa. Foi realizada uma análise de conteúdo e os dados foram transcritos para o
Software Excel, e foi realizada a compilação dos dados.
Referente às “vantagens” mais significativas para a prática de logística reversa da “empresa
Alfa”, conforme figura 3, destacaram-se as dimensões: redução do custo do produto (27,94%)
10
e diferencial competitivo (19,12%). As dimensões tratadas como outros foram:
desenvolvimento de tecnologia ecológico, marketing, redução do lixo, preservação do meio
ambiente, qualidade, relacionamento com órgãos ambientais, lucratividade e durabilidade.
Os custos competitivos segundo Ghemawat e Rivkin (2000), é o ponto de partida para a
análise estratégica da vantagem competitiva. Uma posição de baixo custo é a chave para o
valor agregado e a vantagem competitiva. Para Gonçalves e Marins (2006), do ponto de vista
financeiro, existe o custo relacionado ao gerenciamento do fluxo reverso, que se soma aos
custos de compra de matéria-prima, de armazenagem, transporte e estocagem e de produção,
já tradicionalmente considerados na Logística.
Figura 3 - As principais vantagens obtidas pela empresa segundo funcionários da Alfa.
Referente às “vantagens” mais significativas para a prática de logística reversa para as outras
“empresas”, conforme figura 4, destacam-se as dimensões: redução do custo do produto
(17,54%) e consciência ecológica (12,28%). As dimensões tratadas como outros foram:
organização do processo produtivo, aumento do custo para o cliente, fortalecimento da marca,
ética, aumento da vida útil de aterros, fidelização, melhoria das margens e redução dos
impactos ambientais. Percebe-se que em ambas, os pesquisados (Alfa e outras empresas) a
incidência da “redução de custos” como principal dimensão.
17.54%
12.28%
8.77%
7.02%
5.26%
5.26%
3.51%3.51%
3.51%
3.51%
3.51%
3.51%
14.04%
redução do custo do
produto
consciência ecológica
destinação correta do
produto
valorização do cliente
atendimento à legislação
vantagem competitiva
preservação do MA
redução custo embalagensestratégia de marketing
diferencial competitivo
sustentabilidade
trabalho social
responsabilidade social
acompanhamento total do
ciclo de vida
Outros
Figura 4 - As principais vantagens obtidas pela empresa segundo as outras empresas
11
Referente aos “benefícios” mais significativos para os “clientes” da empresa Alfa, conforme
figura 5, destacam-se as dimensões: redução do custo do produto (23,40%), redução do
passivo ambiental (19,15%) e materiais ecológicos (17,02%). As dimensões tratadas como
outros foram: segurança, atendimento à legislação, sustentabilidade, qualidade, fidelização e
produto resistente. A redução do passivo ambiental destacado pelos funcionários da Alfa
deve-se ao fato que os clientes são monitorados pelos órgãos ambientais competentes de cada
região do país, quanto ao destino dos produtos após o uso. A empresa além de fazer seu papel
social também faz um auxílio aos clientes em tratar estes produtos de forma responsável.
Figura 5 - Os principais benefícios para os clientes segundo funcionários da alfa.
Referente aos “benefícios” mais significativos para os “clientes” das outras empresas,
conforme figura 6, destacam-se as dimensões: redução do custo do produto (26,19%) e
redução do passivo ambiental (11,90%). As dimensões tratadas como outros foram:
relacionamento pós-compra, fidelização, segurança, publicidade, sustentabilidade, qualidade
de vida, geração de oportunidades.
Figura 6 - Os principais benefícios para os clientes segundo outras empresas
Avaliando-se os benefícios para os clientes, os pesquisados trataram como principal dimensão
a “redução do custo do produto”, isto é válido, pois a empresa Alfa tem custos reduzidos na
linha de produtos que utiliza matéria-prima reversa.
12
Referente aos “benefícios” mais significativos para a “sociedade” os funcionários da empresa
Alfa, conforme figura 7, destacaram as dimensões: preservação do meio ambiente (28,57%),
diminuição da poluição (24,49%), menor uso dos recursos naturais (16,33%). As dimensões
tratadas como outros foram: empregos, investimento em outros materiais, redução do custo de
produtos, redução de lixo e ganhos imensuráveis. Uma dimensão importante lembrada pelos
funcionários foi a geração de empregos.
A dimensão “aumento da vida útil dos aterros” foi lembrada porque quanto maior o número
de produtos reciclados menos será necessário o uso de aterros industriais.
Figura 7 - Os principais benefícios para a sociedade segundo funcionários da alfa
Referente aos “benefícios” mais significativos para a “sociedade” os funcionários das outras
empresas destacaram, conforme figura 8, as dimensões: diminuição da poluição e preservação
do meio ambiente ambas com 13,04%, e reaproveitamento de materiais e redução do lixo
ambos com 10,87%. As dimensões tratadas como outros foram: segurança, produtos
conforme legislação, redução do custo do produto, posicionamento estratégico e menor
impacto ambiental.
Figura 8 - Os principais benefícios para a sociedade segundo outras empresas
5. Considerações Finais
Esta pesquisa permitiu identificar os motivos e fatores para a empresa que realiza logística
13
reversa, e também as percepções dos funcionários de outras empresas de Caxias do Sul, assim
como, as vantagens e benefícios para os clientes e a sociedade. Percebe-se que existem
algumas diferenças entre as respostas da empresas que participaram das entrevistas.
Nos motivos estratégicos que levam as empresas a realizarem logística reversa destacaram-se
como muito importantes, para Alfa, o aumento de competitividade, seguido por respeito à
legislação e revalorização econômica, com mesmo grau de importância, e por fim, a
recuperação dos ativos. Para as demais empresas consideraram como importantes a
revalorização econômica, aumento de competitividade, respeito à legislação e recuperação de
ativos.
Para os fatores modificadores que podem influenciar na prática de logística reversa
destacaram-se para a empresa Alfa como importantes os fatores ecológicos e após os
legislativos. Já para as outras empresas consideraram como muito importantes também os
fatores ecológicos e os legislativos.
Nas questões abertas demonstraram quais eram as percepções dos funcionários da empresa
Alfa quanto à logística reversa. As vantagens e benefícios percebidos demonstraram alguns
dos motivos estratégicos que levam as empresas a realizarem esta prática como a redução do
custo dos produtos abordados por Gemawat e Rivkin (2000), a diferenciação competitiva por
Porter (1998), o atendimento a legislação e a fidelização dos clientes abordados por Leite
(2003) e a consciência ecológica destacada por Hawken, Lovins e Lovins (2002). As
dimensões que foram lembradas são essenciais para a sustentabilidade, assim como, a
competitividade das empresas.
Algumas dimensões importantes foram lembradas na pesquisa como: a influência da logística
reversa sobre o trabalho das pessoas, o recolhimento de produtos que torna os clientes mais
fiéis à marca e a prática de logística reversa fortalecendo a imagem da empresa no mercado.
Leite (2003) afirma que conforme pesquisas recentes, as empresas líderes em seus setores já
apresentam posicionamento de acréscimo de valor a seus produtos e suas imagens por meio
da logística reversa.
Nos benefícios para a sociedade foram destacadas a dimensões preservação do meio ambiente
e a diminuição da poluição. Estas dimensões demonstram a preocupação dos entrevistados em
lembrar que a logística reversa beneficia o meio ambiente evitando a poluição, reduzindo
custos para os consumidores, aumento da vida útil dos aterros industriais, a responsabilidade
social quanto à geração de empregos e acima de tudo a qualidade de vida. Outros fatores
destacados na pesquisa foram: o desconhecimento dos pesquisados sobre o temo logística
reversa e a associação daqueles que conheciam a reciclagem de embalagens.
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