MOSTRA Cerâmica e Vidro: Quotidiano e Saúde · Paixão dentro das suas responsabilidades...

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1Cerâmica e Vidro:

Quotidiano e Saúde

MOSTRA

Cerâmica e Vidro: Quotidiano e Saúde

HOSPITAL BEATRIZ ÂNGELO { LOURES31 MAIO › 21 JULHO 2013

MOSTRA

Cerâmica e Vidro: Quotidiano e Saúde

Estamos em Loures!Carlos TeixeiraPresidente da Câmara Municipal de Loures

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Quotidiano e Saúde

Quando um hospital se permite acrescentar outros desempenhos

que ultrapassam os dos tradicionais serviços de saúde, e entram

pelos da pedagogia da informação e da transmissão de conhe-

cimentos, da história da Medicina, estamos perante um hospital

aberto e integrado nas correntes europeias contemporâneas mais

progressistas que entendem dotar os hospitais de outras valências

e oportunidades.

O conceito de cidadãos informados e esclarecidos, sobre questões

da História da Saúde e Higiene, de práticas mais simples, popula-

res e engenhosas, ou mais elaboradas mas com uma evidente preo-

cupação de conforto como, por exemplo, lamparinas de compa-

nhia e de aquecer uma bebida quente a um doente, estamos perante

uma extraordinária marca de humanismo, que nunca deveríamos

esquecer.

E assim foi elaborado este projeto, aceite pela vereadora Sónia

Paixão dentro das suas responsabilidades municipais; e assim se

cruzaram relacionamentos municipais, com o Museu herdeiro da

Fábrica de Loiça de Sacavém, se cruzaram sinergias com o Espí-

rito Santo Saúde, e se construiu um projeto inovador de facultar,

a quem se desloca a um a hospital, outras oportunidades, até o de

descobrir como a ciência tem progredido.

As práticas de saúde e higiene melhoraram e ainda bem. As pes-

-soas, bem único da humanidade, merecem esse esforço.

Este projeto é claro e exemplar na cuidada seleção de peças para

que tal descoberta se confirme.

Estamos num hospital que já honra uma médica, pioneira nos cuida-

dos de saúde e higiene, Carolina Beatriz Ângelo; nada melhor que

o acolhimento desta mostra com projeto de investigação do Prof.

Doutor Augusto Moutinho Borges no Hospital Beatriz Ângelo,

em Loures.

É uma honra apoiar este projeto que, temos a certeza, marcará, pela

qualidade, a cultura em Loures.

A todos, a todas e a quantos possibilitaram este trabalho, o nosso

obrigado.

O desafio foi lançado e o resultado aqui está.

Estamos de parabéns!

Artur VazAdministrador Executivo do Hospital Beatriz Ângelo

Cerâmica e Vidro: Quotidiano e Saúde

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Quotidiano e Saúde

A mostra Cerâmica e Vidro: Quotidiano e Saúde é inaugurada

no dia 31 de maio de 2013, no átrio principal do Hospital Beatriz

Ângelo, onde se manterá até 21 de julho.

Esta exposição tem o apoio da Câmara Municipal de Loures, atra-

vés da Vereadora Dr.ª Sónia Paixão, sendo comissionada pelo Pro-

fessor Doutor Augusto Moutinho Borges, com Projeto Museológi-

co da Mestre Ana Paula Assunção.

A exposição permite que os mais velhos revisitem objetos que, por-

ventura, se lembram de ainda ter utilizado nas casas das suas famílias

e aos mais novos conhecerem uma série de objetos com funções mui-

to específicas que a voragem da mudança, principalmente a verificada

nas nossas vidas quotidianas nos últimos 50 anos, tornou obsoletos,

raros e até estranhos.

Todas as peças têm duas características que as unem: todas são

de vidro ou de cerâmica, muitas delas produzidas nas fábricas de

Sacavém, Vista Alegre e Marinha Grande e todas estão associadas

a funções de apoio a atividades de higiene ou de saúde doméstica,

remetendo-nos para tempos não muito distantes, onde as práticas

individuais e sociais eram bem diferentes das atuais.

O Hospital Beatriz Ângelo tem muito prazer em ser parceiro desta

iniciativa por vários motivos. Por um lado, o espaço do hospital

é frequentado, diariamente, por milhares de pessoas entre doen-

tes, acompanhantes e visitas, colaboradores e público em geral,

pelo que a exposição terá, certamente, um número significativo de

visitas.

Por outro lado, os objetos expostos estão associados a funções al-

gumas das quais, com a necessária e adequada atualização, se des-

localizaram do ambiente doméstico e passaram a ser desempenha-

das nos hospitais.

Finalmente porque, independentemente da associação entre o con-

teúdo da exposição e a atividade do HBA, o hospital é uma enti-

dade com responsabilidades no ensino e formação não só de pro-

fissionais de saúde mais competentes e eficientes mas, também, de

utilizadores dos serviços de saúde mais autónomos e informados e

de cidadãos mais conscientes e mais conhecedores das suas raízes

e memórias.

A todos desejamos um bom regresso ao passado!

Primeiro e sempre as pessoasSónia PaixãoVereadora da Câmara Municipal de Loures

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Quotidiano e Saúde

Foi com enorme orgulho que apoiámos o projeto apresentado pelo

digno Professor Doutor Augusto Moutinho Borges sobre a impor-

tância da cerâmica e do vidro nas questões da higiene e saúde.

Trazia não apenas a marca de qualidade mas da originalidade e da

perfeita integração nos objetivos da educação e promoção da saúde,

áreas de que somos responsáveis no Município.

Hoje, estamos perante um projeto cultural que aporta a possibilida-

de de ser concretizável de uma diferente forma, cortando com os

espaços tradicionais de cultura/exposição e apostando fortemente

nos locais com pessoas, como pode ser um átrio de hospital, o Hos-

pital de Loures.

A presente mostra, o catálogo online, o roteiro consultável e aces-

sível a qualquer utente do Hospital, investigadores, curiosos, o des-

dobrável informativo sobre links para consulta da investigação do

Professor Doutor Moutinho Borges e das conversas que irão ocor-

rer, tudo isto resultou de uma sinergia com o Espírito Santo Saúde,

ao considerar-se que a história da Humanidade é, também, uma

história da procura e manutenção da saúde.

E o trabalho aqui está.

Para um município que dá prioridade ao primado da Pessoa, esta

mostra pretende suscitar o olhar e questionar; talvez não se descubra

de imediato para que serve este vidro ou a função desta ou daquela

peça, retirados de quotidianos já ultrapassados, mas contudo, como

diz Gadamer, são irrecusáveis , porque o ” homem encontra-se mer-

gulhado numa enorme riqueza de conhecimentos provenientes da

tradição cultural, da literatura, das artes, da filosofia […]”.(1)

Todos estes objetos, contam várias histórias: inventa-se, procura-

-se, surgem soluções para quando a saúde nos falta, previnem-se

situações futuras.

Recebemos com ambas as mãos, este projeto: acreditamos que é

importante passar o testemunho desta longa e permanente caminha-

da da Humanidade.

Um bem-haja a todos quantos possibilitaram este projeto.

(1) Gadamer, Hans Georg, O mistério da Saúde. O cuidado da saúde e a arte da Medicina, Nova

Biblioteca 70, 1993/1997, Lisboa, p.11.

Cerâmica e Vidro: Quotidiano e SaúdeAugusto Moutinho BorgesCoordenador e Comissário da Mostra

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A presente exposição é o reflexo das preocupações, através dos sé-

culos, do ser humano relativamente à sua saúde e ao seu bem-estar

corporal. O que agora se mostra constitui parte do acervo museoló-

gico do Museu de Cerâmica de Sacavém e de uma coleção privada

de objetos relacionados com esta temática. Frisamos que esta pro-

dução em cerâmica e em vidro era utilitária e, como tal, estava ao

dispor em qualquer casa para usufruto no quotidiano e ao serviço

dos doentes.

Propositadamente, não integramos as peças de farmácia e de labo-

ratório, pois queremos mostrar objetos que havia nos domicílios

dos séculos xix e xx para uso corrente, peças que, muitas delas, fo-

ram produzidas na Fábrica da Vista Alegre (1824 até ao presente),

na Fábrica de Loiça de Sacavém (1856-1994), nos centros produto-

res vidreiros da Marinha Grande, para além de outros locais.

Integradas na área da saúde distinguem-se as peças intimamente

relacionadas com a higienização, conceito que teve a sua grande

divulgação nos séculos já referidos, mas que constituem exempla-

res curiosos para se evitar a proliferação de doenças transmitidas

pelo homem e pelos insetos.

A matéria-prima mais representativa é a cerâmica (faiança e porce-

lana) e o vidro, havendo outros materiais que foram utilizados para

o seu fabrico, tais como a madeira, os metais e, mais recentemente,

o plástico. Por vezes conjugam-se dois ou três materiais, podendo

os objetos ser feitos em várias partes, como iremos ver em alguns

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Mamadeira (dois), tira-leite (dois), ventosas (quatro)Fábrica de Vidros da Marinha Grande,

fins séc. xix e princípio séc. xx

Col. privada

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exemplos. No presente, alguns destes objetos fazem parte de um

passado, não muito distante, pois caíram em desuso, sendo relega-

dos como espólio museológico.

Interessa à História das Ciências da Saúde estudar, compreender e

contextualizar estas peças com quem os nossos antepassados con-

viviam e delas necessitavam. Pelo espólio que se mostra podemos

perceber, dentro da arquitetura, a importância que a higiene come-

-çou a despertar nos finais do século xix e princípio do século xx,

obrigando, por exemplo, à redistribuição dos espaços para a ins-

talação dos quartos de banho, ou até das canalizações e redes de

esgotos. Mostramos como se vivia antes de esta tecnologia inva-

dir os espaços, despertando-nos os sentidos ao vermos lindíssimos

conjuntos de sanitários artisticamente pintados.

SanitaFábrica de Loiça de Sacavém, faiança,

déc. 10/20 séc. xx

Museu de Cerâmica Sacavém

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Quotidiano e Saúde

As gerações mais novas não têm qualquer recordação e vivência

com os objetos apresentados, pois na era da mecanização e da mo-

torização tudo se resolve com o clicar de um botão. Como vemos,

no passado a beleza e a decoração dos utensílios eram parte inte-

grante da estética, assim como as formas, havendo nomes especí-

ficos para cada um deles, havendo uma função para cada peça, ha-

vendo uma razão que a ciência impunha e se acatava no quotidiano

para o bem comum.

Nestas vitrinas (1) podemos ver algumas peças relacionadas com a

higiene, como jarros e bacios, com a saboneteira e o resguardo das

escovas de dentes, quer de casal e de solteiro, os vasos de noite,

com tampa e sem tampa, uns profundamente decorados enquanto

outros muito simples. Por vezes estes vasos de noite, conhecidos

por penicos, eram colocados em cadeiras furadas, também apelida-

das de cadeiras peniqueiras.

Nas salas, os escarradores de pousar e os de pé eram presença normalís-

sima, quer fossem de porcelana, faiança ou vidro, que se complementa-

vam com as cuspideiras, peças portáteis e que permitiam duas funções,

cuspir os caroços dos citrinos ou grainhas ou libertar a expetoração.

Conjunto de higiene para quarto (cinco): Jarro, bacia, saboneteira, caixa para escovas

de dentes (casal) e vaso de noite

Fábrica de Loiça de Sacavém, faiança,

déc. 10/20

séc. xx

Museu de Cerâmica Sacavém

(1) Mostra a decorrer de 31 de maio a 21 de julho

de 2013.

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Cuspideira portátilProdução europeia (França?) s/ indicação

de fabrico, porcelana,

c. 1900

Col. privada

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Quotidiano e Saúde

Quando doente, o acamado tinha ao seu dispor algumas peças pró-

prias para a sua condição mais debilitada, colocando-se na mesinha

de cabeceira uma lamparina com base e bule, permitindo ter uma

luz ténue de presença acessa durante a noite e líquidos, água ou chá,

sempre quentes.

Para sua alimentação tinha o bule de caldo e o bule de líquidos, com

um formato que os impedia de se entornarem. De forma que a refei-

ção não arrefecesse, o réchaud (prato que transportava água quente

na base) permitia que a temperatura fosse constante.

Lamparina com base e buleFábrica Vista Alegre, porcelana, c. 1890

Col. privada

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Bule de caldo (um)Fábrica Vista Alegre, porcelana, déc. 20

séc. xx

Bule de líquidos (três)S/ indicação de fabrico, faiança lisa, déc. 90

séc. xix

Fábrica Vista Alegre, porcelana relevada, déc. 20

séc. xx

Fábrica de Loiça de Sacavém, faiança

relevada,

déc. 40 séc. xx

Col. privada

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RéchaudFábrica de Loiça de Sacavém, faiança, déc. 10/20

séc. xx

Museu de Cerâmica de Sacavém

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Na sua higiene pessoal dispunha de urinóis, arrastadeiras e vasos.

UrinolFábrica de Loiça de Sacavém, faiança, déc. 40

séc. xx

Museu de Cerâmica de Sacavém

ArrastadeiraProdução Porto (?), faiança, déc. 30

séc. xx

Col. privada

VasoFábrica de Loiça de Sacavém, faiança, déc. 20

séc. xx

Museu de Cerâmica de Sacavém

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Quotidiano e Saúde

Em caso de necessidade, o barbeiro sangrador poderia fazer uma

sangria para as bacias degoladas, as quais também podiam servir

para fazer a barba, ou de sua lavra aplicar umas ventosas, fazendo

com que o sangue circulasse rapidamente e gerasse nova energia

ao doente.

Bacia degolada

RedondaProdução de Coimbra, faiança, início

séc. xx

Col. privada

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Bacia degolada OvalFábrica de Loiça de Sacavém, faiança, déc. 10/20 séc. xx

Museu de Cerâmica Sacavém

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Quotidiano e Saúde

Até meados do século xx, as boas práticas sociais colocavam os

paliteiros nas mesas no fim das refeições. Os mais refinados eram

de prata, seguindo-se os de porcelana, de faiança e de vidro. As for-

mas e as variedades são surpreendentes, mostrando-se um pequeno

apontamento de alguns exemplares destes objetos, que hoje se con-

sideram desapropriados em qualquer circunstância.

PaliteiroFábrica de Loiça de Sacavém, faiança,

séc. xx (1902-1970)

Museu de Cerâmica de Sacavém

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Como apoio aos recém-nascidos, as mamadeiras procuraram subs-

tituir as amas-de-leite, mostrando-se uma coleção destes objetos,

desde a primeira série que a Vista Alegre produziu em vidro, entre

1824 a 1880, e que foi continuada pela Fábrica de Ivima, fundada

em 1894 através da sociedade Empresa da Nova Fábrica de Vi-

dros da Marinha Grande. Também relacionados com a aleitação,

mostram-se dois tira-leite, objetos que normalmente havia em casa,

pois a taxa de natalidade era elevada, sendo um auxiliar precioso

quando a progenitora tinha excesso de leite.

MamadeirasFábrica de Vidros da Marinha Grande,

fins séc. xix e séc. xx (1880-1940)

Col. privada

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Quando havia a necessidade da frequência de termas, entre outros

objetos que se distinguem, os copos graduados termais realçam pelo

seu formato anatómico. Estreitos e com o bojo horizontal, cabem

perfeitamente no bolso de um casaco ou numa bolsinha de senho-

ra, podendo ser facilmente transportados entre a unidade hoteleira

e a estância termal, pois estes copos eram normalmente para uso

pessoal.

Copos termais graduados (cinco)Fábrica de Vidros da Marinha Grande,

séc. xx

Col. privada

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Numa outra vertente apresentam-se garrafas mosqueiras e mosqui-

teiras, também conhecidas como apanha-moscas e apanha-mosqui-

tos, objetos de uso caseiro que permitiam a higienização nas depen-

dências sociais e privadas.

Garrafas mosqueiras (uma com pés) e garrafas mosquiteiras (três sem pés)Fábrica de Vidros da Marinha Grande,

c. 1890-1100

Col. privada

27Cerâmica e Vidro:

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Esperamos, com esta mostra, despertar a curiosidade dos passan-

tes, permitindo uma reflexão histórica da cultura e mentalidades da

Humanidade, desenvolvendo o interesse pela salvaguarda da nossa

identidade e do nosso património, observar peças de uso doméstico

que, nos casos extremos, não ultrapassam dois séculos e que muitas

delas nos permitem ver a génese e a evolução de objetos utilizados

e reutilizados hoje em dia.

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Ficha técnica

Cerâmica e Vidro: Quotidiano e Saúde31 de maio a 21 de julho de 2013Átrio principal do Hospital Beatriz Ângelo - Loures

Projeto científico:Prof. Doutor Augusto Moutinho Borges

Apoio museológico:Mestre Ana Paula Assunção

Colaboração:Dra. Filomena Simas e Dr. Carlos Pereira/Museu de Cerâmica de Sacavém

Imagem e Comunicação:Divisão de Relações Institucionais e Comunicação

Organização:Câmara Municipal de Loures

Apoio:Espirito Santo Saúde-HBA