Morrer Não é o Fim - Admir Serrano

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MORRER NÃO É O FIM ADMIR SERRANO

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  • MORRER NO O FIM

    ADMIR SERRANO

  • Vamos, homens, coragem! De uma vez por todas, lanai para longe todos os

    preconceitos e idias preconcebidas. Entrai na nova senda que diante dos passos se vos

    abre. SO LUS

  • AGRADECIMENTOS A Deus... Pelo que sou e o que tenho e por Sua

    suprema justia; pois o que sou o que fao de mim e o que tenho a colheita do que planto em cada uma de minhas existncias - nada poderia ser mais justo!

    minha querida esposa Mary Lcia, minha amiga e parceira evolutiva. Mas agradecer de que maneira? Como se agradece algum que, nos momentos difceis, capaz de tirar alimento de seu prprio prato para que me sustente melhor?

    Ana Kelly, por privar-se dos deleites que certamente desfrutava nos jardins de Deus e vir a este plano reunir duas almas que necessitavam se encontrar e dar novo rumo nossas vidas.

    minha doce Gabriela, companheirinha de jornada, por ter-me honrado com a oportunidade e a confiana de ser seu pai nesta vida.

  • Juliana Ibelli, pela primeira leitura do texto deste livro, por suas correes, opinies inteligentes e crticas construtivas. todo o pessoal da Petit Editora que participou na transformao de um sonho em realidade.

    SUMRIO Prefcio do autor 1. Morrer no o fim 2. Por que tememos a morte 3. O que veremos na hora da morte 4. O que as crianas vem na hora da morte 5. Como a alma se desliga do corpo 6. Para onde vamos depois da morte 7. As incontveis esferas do Alm 8. O "morto" que voltou para casa 9. Os "mortos" voltam para mostrar que vivem 10. Nenhum adeus para sempre 11. Anjos em nossa vida

  • 12. Muitas vidas, muitas voltas 13. Mame, voltei! Lembranas espontneas de vidas

    passadas 14. Marcas de outras vidas! Eplogo

  • PREFCIO DO AUTOR H 150 anos Allan Kardec escrevia: "Diz-se,

    freqentemente, falando da vida espiritual, que no se sabe o que l se passa porque pessoa alguma dela retornou; um erro, uma vez que so precisamente os que l se encontram que vm dela nos instruir, e Deus o permite hoje mais que em nenhuma outra poca, como ltima advertncia dada incredulidade e ao materialismo".

    Os espritos de ordem elevada foram, obviamente, os espritos de homens e mulheres que um dia habitaram a Terra, portanto, "mortos" que retornaram para falar da continuidade da vida aps a extino do corpo material e designados para trazer Terra a Doutrina Esprita para ajudar a humanidade a se compreender e a evoluir.

    Pela mediunidade das jovens irms Julie e Caroline Baudin, de 14 e 16 anos de idade, respectivamente, de sua me Clmentine Baudin e, posteriormente, com o auxlio de Ermance Dufaux- mdium psicgrafa desde os 14 anos de idade e outros mdiuns, esses espritos responderam a mais de mil perguntas a eles propostas sobre os mais

  • diversos temas da verdadeira natureza humana e das caractersticas da vida e do mundo espiritual. Dissertaram, magnificamente, muitssimo alm da capacidade intelectual das mdiuns, sobre variados temas religiosos, filosficos e cientficos. Os ensinamentos espritas esto disseminados em cinco livros as chamadas Obras Bsicas - compostas de O Livro dos Espritos (1857), O Livro dos Mdiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Cu e o Inferno (1865) e A Gnese (1868).

    "O Espiritismo", disse Kardec em A Gnese, " uma cincia de observao, e no o produto da imaginao. As cincias no tiveram progresso srio seno depois que o seu estudo se baseou no mtodo experimental; mas, at esse dia, acreditou-se que esse mtodo no era aplicvel seno matria, ao passo que o igualmente, s coisas metafsicas".

    As verdades, caro leitor, so atemporais, isto , resistem ao tempo e a todas as artimanhas elaboradas para refut-las. Permanecem com o mesmo frescor, to recentes agora quanto no tempo de sua revelao, ou seja, h 150 anos, no caso da Codificao Esprita, ou h dois mil anos, caso das verdades reveladas pelo Cristo.

    Antes de ler O Livro dos Espritos, a espinha dorsal da Doutrina Esprita, e de conhecer o Espiritismo, eu j

  • estudava fenmenos paranormais que a cincia vinha investigando, Cais como experincias fora do corpo (as quais tenho com freqncia), que no Espiritismo conhece-se tambm por desdobramento ou emancipao da alma; as vises no leito da morte; comunicaes aps a morte; reencarnao etc, ou seja, tudo o que se relacionava "s coisas metafsicas" a que Allan Kardec se refere naquela passagem de A Gnese. Acompanhava (e acompanho) tambm os desenvolvimentos e descobertas da cosmologia e da astronomia no que tange existncia de vidas em outros planetas etc.

    Trs fatos impressionaram-me sobremaneira quando li O Livro dos Espritos pela primeira vez. Um foi sua contemporaneidade com os relatos que encontrava nos trabalhos acadmicos atuais sobre os fenmenos acima citados. Outro foi o teor do texto, a inteligncia com que os "mortos" responderam s mais de mil perguntas a eles propostas. E o terceiro, e que me deixou boquiaberto, foi quem intermediou a maioria da comunicao duas meninas, uma de 14 e outra de 16 anos, na Frana, na dcada de 50 dos anos 1800!

    E por que esse ltimo fato impressionou-me tanto? Os pesquisadores acadmicos, sobretudo os cticos, no

  • acreditam nem em espritos e, obviamente, tampouco na possibilidade de comunicarem-se por intermdio de mdiuns. A explicao lgica que do sobre as comunicaes ditas vindas de espritos que nada mais so que produtos do subconsciente dos chamados mdiuns.

    Mas como explicar tamanho conhecimento e intelectualidade, ainda que fora do subconsciente, de duas meninas com limitada escolaridade e pouqussima vivncia e experincia? Tivesse sido Allan Kardec o mdium, ainda poderia haver argumento, pois ele era sbio e possuidor de vastos conhecimentos em vrias reas das cincias exatas e humanas, mas as garotas no.

    Bem, ento, se foram mesmo espritos que escreveram, eles existem! E se existem, haveria como provar sua existncia cientificamente?

    E se houver como prov-la, no podemos mais duvidar de nossa imortalidade e devemos dar como fato que existe vida aps a morte!

    E se existe vida aps a morte, como essa vida e onde vivemos depois que morremos?

    Certa vez falei ao ento presidente de centro esprita em Miami, o qual freqento e onde colaboro, da importncia de provar cientificamente a existncia de espritos e da vida pstuma.

  • Por qu? indagou-me ele. Voc ainda no acredita nisso?

    No para mim respondi , mas para aqueles que no conseguem acreditar intuitivamente na continuidade da vida, e, nesse caso, a cincia poderia oferecer provas mais "concretas".

    E esse foi o motivo que me levou a escrever este livro comparar o que a cincia vem descobrindo e afirmando sobre a sobrevivncia da alma aps a morte do corpo fsico com o que nos ensina o Espiritismo.

    Aqueles que j acreditam ser imortais, que aprenderam com o Espiritismo que no morrero, encontraro aqui mais provas para reforar a sua crena.

    E os incrdulos, ou aqueles que ainda tm dvidas, encontraro aqui subsdios cientficos e prticos para repensar sua posio e descobrir que tambm vivero para sempre.

    E todos aqueles que, independentemente de sua crena, ainda vem a morte como um monstro aterrorizador sabero, de uma vez por todas, que a vida continua, e que, quando chegar sua hora de deixar a vida fsica para retornar ao verdadeiro lar, estaro preparados para, nas palavras de Emmanuel, "sua nova modalidade de existncia, que continua, sem milagres e sem saltos". Os

  • captulos que seguem esto repletos de relatos extraordinrios que no deixam dvidas de que a morte do corpo no o fim do esprito. Nossos parentes e amigos que deixaram esta vida, aqueles que chamamos de "mortos", seguem vivssimos, intactos e prontos para nos prestar ajuda se estiverem na condio de auxiliar quando necessrio.

    Muito difcil ser aos que desconhecem a verdadeira natureza da vida e de sua eterna e sagrada continuidade deixar de aceitar sua imortalidade aps ler tais relatos. E aos que j sabem que so imortais, espritas ou no, encontraro neles subsdios adicionais para certificarem-se de que definitivamente a cincia e os fatos comprovam o que o Espiritismo ensina: morrer no o fim!

    Muita paz! ADMIR SERRANO MIAMI, FLRIDA - 2007

  • 1. MORRER NO O FIM Por favor, sente-se, senhor Smith disse o

    oncologista, apontando a cadeira vazia em frente sua mesa.

    O senhor Smith, um ex-capito da marinha mercante americana, estava fraco. Alm de seus longos 85 anos de vida, o cncer que lhe carcomia os ossos lhe doa e o fazia caminhar vacilante. Ajeitou-se na cadeira com dificuldade e manteve seu olhar atento pasta bege de cartolina, que seu mdico estava prestes a abrir para dizer-lhe sobre os resultados de seus ltimos exames.

    O cncer se espalhou, senhor Smith, e no h muito mais a ser feito.

    O velho marinheiro engoliu em seco e, seus olhos, j midos pelo tempo, encheram-se de lgrimas. Tentou falar, mas no conseguiu. Respirou fundo e pigarreou com fora para desatar o n que havia se instalado na garganta.

    Quanto tempo, doutor? sua voz era trmula. No muito, sinto em dizer-lhe retrucou o mdico.

    Quero dizer-lhe que tomei a liberdade de passar o senhor ao nosso programa de hospice.

  • A palavra hospice penetrou-lhe a alma como uma lana afiada. Ele sabia que hospice era um programa paliativo para doentes terminais, cuja doena no tem mais cura e cujos pacientes tm no mximo seis meses de vida. Portanto, com sorte, era esse o tempo que lhe restava neste mundo.

    A morte lhe batia porta com um estrondoso rudo, mas ele no estava preparado para abri-la. Tudo o que havia aprendido navegando pelos mares da Terra, por tantos anos, de nada lhe servia nesse momento to crucial. Ele estava morrendo, e sua frente via apenas guas turbulentas e desconhecidas, prestes a engolfar-lhe o ser e remet-lo impiedosamente s profundezas de um nada negro e desesperador.

    O sinistro prognstico lanou-o ao fundo do abismo da depresso e do medo. A morte era algo em que ele, assim como quase toda a humanidade, jamais havia pensado. Durante todos aqueles 85 anos, ele tinha tido outras coisas mais urgentes e mais agradveis com que se preocupar.

    Mas agora chegara a sua vez, como chegar a de toda a humanidade e, apesar de ter ultrapassado a mdia de longevidade da maioria da populao mundial, ele no estava preparado para morrer. E, nesse momento, quando as crenas religiosas deveriam trazer um auxlio consolador,

  • a que o velho marinheiro seguia, pouco ou quase nada lhe falava sobre sem futuro aps a morte.

    Mas ele queria saber: "Existe vida aps a morte e, se existe, como essa vida, o que me espera, para onde irei?", indagava-se o ex-capito.

    Alm de empenhar-se em aliviar as dores fsicas de seus pacientes, os programas de hospice empenham-se tambm em dar-lhes apoio emocional, psicolgico e espiritual. Na busca de respostas a seu possvel futuro alm do tmulo e para aliviar um pouco a angstia que o iminente fim de seu corpo fsico lhe causava, o senhor Smith pediu a presena da capela para conversar.

    Abrindo o Novo Testamento, em Atos dos Apstolos, 2 Corntios, 4: 16-18, a reverenda leu-lhe essa passagem:

    " por isso que no desfalecemos. Ainda que exteriormente se desconjunte nosso homem exterior, nosso interior renova-se de dia para dia. A nossa presente tribulao, momentnea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glria incomensurvel. Porque no miramos as coisas que se vem, mas sim as que no se vem. Pois as coisas que se vem so temporrias, e as que no se vem so eternas."

  • O senhor Smith ouvia com ateno, mas sua mente, exasperada, vagava: "De que ser que ela est falando?", indagava-se.

    Terminada a leitura, a reverenda complementou: Talvez seja isso que Deus est reservando para o

    senhor. Reservando o qu? O que vai ser do senhor Smith

    aps a morte? Ele ainda no fazia a menor idia. A inteno, tanto da reverenda como a de Paulo, o

    apstolo que proferiu essas palavras, louvvel, mas o sentido obscuro e confuso. Para trazer algum tipo de alvio ao moribundo e dar-lhe esperana, sobretudo a algum que durante toda sua vida jamais parou para refletir sobre a realidade da morte, so necessrias palavras claras, objetivas e diretas.

    Sem dvidas, a passagem que a reverenda cita muito curta para elaborarmos alguma idia sobre a vida aps a morte. No entanto, mesmo que investiguemos as milhares de pginas dos vrios textos sagrados de diferentes religies - a Bblia entre eles no encontraremos explicaes do que nos espera aps a morte, alm das trs clssicas possibilidades: o cu para os bons, o purgatrio para os mais ou menos e o inferno para os maus.

  • A morte batia porta de uma outra paciente dessa bem-intencionada reverenda. Dona Clara, de 74 anos de vida, estava igualmente com seus dias contados. Ao refletir sobre a vida que estava para findar-se, tinha certeza de seu destino: ia direto para o inferno!

    Sua religio lhe havia ensinado isso. Esse era o destino de todos aqueles que se rebelassem contra Deus. E era seu caso.

    De menina, ela e sua me haviam sofrido abusos do pai alcolatra. Inconformada com a complacncia de Deus diante de seu sofrimento e o de sua me nas mos do homem que deveria prov-las e proteg-las, passou a rejeitar ambos o pai e Deus.

    Catlica, havia crescido no preceito do cu, do purgatrio e do inferno. E calculando a extenso de seus pecados, iria diretamente para o inferno! A pobre senhora estava aterrorizada.

    Juntas, reverenda e moribunda, folheavam, em vo, as centenas de pginas de suas Bblias em busca de um consolo. Quem sabe encontrariam a tempo uma brecha nas leis divinas que lhe pudesse dar um habeas-corpus, ou alguma outra opo menos cruel que o inferno, para ajud-la a morrer com um pouco de paz.

  • A reverenda tinha mesmo seus dias cheios. Muitos pacientes pediam sua presena em busca de um alento, um fio de esperana contra o fim que to breve chegaria. E dentre as tantas perguntas que lhe faziam, havia uma em comum: que me esperar aps a morte?

    Reverenda exclamou-lhe dona Ruth, uma paciente de meia-idade, a primeira vez que a viu , minha cristandade simplesmente desapareceu. Que vai ser de mim aps a morte? Sinto-me envergonhada por no encontrar em minha f o conforto de que tanto necessito nessa hora

    confessou ela. Essa senhora havia sido protestante praticante toda

    lua vida adulta. Mas apesar dos tantos sermes que ouviu, dos tantos salmos que havia decorado, de seu orgulho em saber de memria os captulos e versculos de passagens bblicas, nada sabia de seu destino aps a morte.

    A CLAREZA DO ESPIRITISMO E o que diria um bem informado esprita a tantos

    senhores Smiths, Joss, Antonios e Joos; donas Claras,

  • Ruthes, Marias e Aparecidas que recebem semelhantes prognsticos diariamente a fim de prepar-los para a transio da morte, sem rodeios, direta e firmemente?

    Diria: Meus irmos, no h que temerem a morte, porque

    a morte no o fim. A morte do corpo no lhes extinguira a vida. Ao contrrio do que aprendemos, no viemos do p e no retornaremos a ele. O corpo sim, volta ao p, mas o esprito, no. O corpo perecvel e mortal, enquanto o esprito, o que verdadeiramente somos, imortal e eterno. Para experimentar a vida na Terra, precisamos de um traje que nos permita interagir com as coisas da Terra. Nosso corpo fsico esse traje. E assim como vocs continuavam sendo as mesmas pessoas todas as manhs aps se despojarem de seus trajes de dormir, vocs sero as mesmas pessoas aps a morte despojar-lhes o corpo fsico.

    "Vocs continuaro vivendo! Mesmo que se apaguem as luzes de seus olhos fsicos, os olhos de sua alma ainda vero. Mesmo que se desfaam as redes neuronais que os ajudam a pensar e a sentir, vocs continuaro pensando e sentindo - mesmo sem elas! Vocs no so esse corpo que ora habitam e que esto prestes a deixar. Vocs esto usando esse corpo temporariamente!

  • Vocs continuaro ouvindo, sentindo e pensando to lucidamente como o fazem agora e at mais. Vocs no sero aniquilados. Quando seu corpo fsico der seu ltimo suspiro, ou quem sabe antes mesmo disso, vocs estaro em outro corpo, em outra realidade; mas seguiro vivos, mais vivos que agora; e no estaro ss, seus parentes e amigos que partiram antes de vocs viro para ajud-los a desvencilhar-se da priso do corpo fsico e os acompanharo sua nova morada.

    O trabalho de vocs aqui na Terra est por terminar, li chegada a hora de deixarem a vida fsica e regressarem para seu verdadeiro lar, onde continuaro seu progresso. De volta ao mundo dos espritos e esprito o que todos ns verdadeiramente somos vocs analisaro a vida que acabaram de deixar, examinaro os erros cometidos e vero o que ainda lhes falta melhorar; sero orientados, amparados e amados; descobriro por si prprios que a morte nada mais que um renascer, o despertar de um pesadelo angustiante e o retorno ptria-me de onde partiram temporariamente para a grande escola da Terra, e se conscientizaro de que, ao contrrio de ser um nfimo lapso entre o nascimento e a morte, seguiro vivendo e vero que morrer no o fim".

  • E, para encerrar, nossa irm ou irmo esprita poderia at utilizar as palavras da dedicada reverenda. Excluindo o

    talvez, complementaria enfaticamente: " isso que Deus est reservando para vocs!"

    "Pelo Espiritismo", encontramos em A Gnese, item 30, "O homem sabe de onde vem, para onde vai, por que est na Terra, por que sofre temporariamente e v, por toda parte, a justia de Deus".

    Mas infelizmente poucos so os que conhecem essa verdade, e quando a morte bate sua porta, vem o mundo desabar a seu redor. Desesperam-se, buscam freneticamente desvencilhar-se dela, mas como do desgnio de Deus que deixem este mundo, a morte sai vencedora, isto , vence o corpo orgnico, pois este mortal, mas no vence o esprito.

    A morte do corpo, que matria orgnica, portanto perecvel, a realidade mais inequvoca com a qual o ser humano deve conviver. Ao mesmo tempo que comeamos a viver a vida fsica quando nascemos, comeamos tambm a morrer. A cada momento de nossa vida, os trilhes de clulas que compem nossos rgos fsicos morrem e renascem em desenfreado frenesi, mesmo que disso no nos apercebamos. Esse processo parte das leis que regem a vida da matria orgnica. Compor-se, organizar-se,

  • desorganizar-se, reorganizar-se, perecer, renascer... A cada expirao, a cada banho que tomamos, lanamos na atmosfera e lavamos de nossa pele partes mortas de nosso corpo.

    J desencarnamos vezes incontveis, e mesmo assim continuamos vivos! Intactos! Como se nada tivesse acontecido! Mas mesmo assim fugimos da idia da morte com todas as nossas foras.

    Somos mais sensveis morte dos nossos entes que-fidos. A desencarnao daqueles a quem no conhecemos no nos incomoda tanto. Ao contrrio, muitas vezes at deliramos com a morte alheia. Ao ver um filme de ao, por exemplo, ou nas novelas, vibramos com a morte dos viles, e quanto mais violenta e cruel, mais emocionante.

    Mas quando se trata da nossa prpria morte, ainda que j tenhamos ultrapassado a mdia de longevidade e estejamos gravemente adoecidos, quanto desespero, quanto malabarismo para esconder ou negar sua realidade.

    No final de janeiro de 2007, um tio querido meu foi internado em um hospital do interior de So Paulo. Ele tinha 72 anos de idade. Fizeram-lhe uma cirurgia e retiraram-lhe do intestino um tumor maligno de trs quilos. Descobriram tambm que o cncer havia se alastrado a outros rgos, e no havia como deter a metstase. Seu

  • estado era terminal. Mas ele nunca soube disso, desencarnou sem saber de qu. Com a conivncia do mdico, disseram-lhe que havia sido operado de uma hrnia e que logo estaria bem! Mas ele mostrava grande dificuldade em entender por que tantas sondas em seu corpo, por que no lhe davam comida e por que tantos semblantes chorosos, tristes e sombrios dos parentes que iam visit-lo, por conta de uma simples hrnia!

    E este caso est longe de ser um exemplo isolado. Muitos parecem ainda crer que se no pronunciarem a palavra morte ou esconderem de entes queridos sua iminncia, como no caso desse tio, conseguiro, se no evit-la, pelo menos adi-la por tempo indeterminado.

    Mas isso um grande engano. Temos de estar sempre conscientes de que morrer da natureza de nosso corpo, e quando no mais servir para nosso trabalho na Terra, independente de sermos jovens ou velhos, perecer. Isso uma lei de Deus!

    Mas se a morte algo to natural, por que a simples meno do termo capaz de lanar muitos ao desespero?

    Eis por qu: O no saber, o no querer saber ou o no crer se h

    vida alm da vida fsica a falta de f em nossa imortalidade causa essa dor. A ignorncia de nossa

  • verdadeira natureza de que somos espritos eternos torna-se um veneno para a alma quando a morte bate porta. Esse veneno corri as entranhas do ser at o feliz momento em que o corpo perde suas foras e permite ao esprito entrever sua vida futura, pois na passagem desta vida outra, como veremos nos captulos seguintes, todos reconheceremos nossa verdadeira natureza e saberemos sem nenhuma sombra de dvida de que seguiremos vivos. "Depois da morte fsica, o que h de mais surpreendente para ns o reencontro da vida", elucidou Andr Luiz.

    Poderamos saber disso antes, se no encarssemos a morte com tanto horror, e se nos empenhssemos em educar-nos para ela, uma vez que morrer nosso destino e a maior certeza que o ser humano pode ter ou conceber. E uma vez preparados, sabendo que a morte nada mais que a liberao do esprito encarcerado na priso do corpo, e que a vida continua ininterrupta mesmo sem o corpo fsico, em lugar de angustiados, ficaramos felizes.

    Os indgenas norte-americanos, por exemplo, acreditam que a morte nada mais que uma mudana de um mundo para outro, e para um mundo melhor. Portanto, como eles dizem, "hoje um bom dia para morrer", no importa se jovem ou velho, pois eles sabem que continuaro existindo em outra realidade; crem que sua

  • vida no cessar. A extino do corpo orgnico, para esses chamados selvagens, um processo natural da vida. Mas no seu fim e no h por que tem-la.

    Osceola, cacique da tribo dos Seminoles na Flrida, pressentindo sua morte, pediu sua esposa preferida que lhe trouxesse seu traje de guerra completo mocassins, cinturo, balas para o rifle, facas, trs penas de avestruz, seu turbante e esporas de prata. Vestiu-se a carter e pintou o rosto como se fosse a uma importante cerimnia. Minutos antes de morrer, deu a mo a cada um dos presentes; em seguida, deitou-se ao cho, em silncio, repleto de serenidade e confiana em sua imortalidade, e esperou a morte, que no tardou a vir.

    Mas poucos sabem que so imortais. Ningum, ou quase ningum, se preocupa em educar-se para a morte. E quando ela bate sua porta, ao contrrio do bravo Osceola, so coibidos totalmente desprevenidos, e em lugar de serenidade,

    o desespero vem e lhes dilacera a alma. Agora vm as perguntas inevitveis: como pode o

    esprita ter tanta certeza de que o que ele diz a respeito da vida aps a morte verdade? Por que pode ele ou ela falar com tamanha autoridade sobre algo que adeptos de

  • crenas milenares no conseguem? De onde vem esse conhecimento?

    As respostas so simples: os ensinamentos espritas so claros, modernos e seu linguajar no confunde o adepto. E aqui cabe repetir novamente a passagem de A Gnese, que vimos h pouco: "Pelo Espiritismo, o homem sabe de onde vem, para onde vai, por que est na Terra, por que sofre temporariamente e v, por toda parte, a justia de Deus".

    O Espiritismo nos esclarece tambm sobre os diferentes mundos, fsicos e extra-fsicos, ou espirituais; revela o que a alma, o esprito e como ele sobrevive morte do corpo fsico; explica-nos a natureza da vida no mundo espiritual, se seremos felizes ou infelizes, se sofreremos ou se nos regozijaremos quando l estivermos ou quando retornarmos novamente vida terrena; ensina-nos os "cornos" e os "porqus" dessas experincias.

    Os ensinamentos espritas tiram as quimeras do encontro com Deus aps a morte e do cio eterno a Seus ps e nos mostram uma realidade no muito diferente da vida que acabamos de deixar, tudo de acordo com o estgio de nossa evoluo e de nossa capacidade de entendimento.

    Uma vez libertos da matria, no seremos apenas, como dizem os prprios espritos, "um ponto, uma

  • abstrao, mas um ser limitado, ao qual falta apenas ser visvel e palpvel para ser igual aos seres humanos".

    Mas mesmo que se saiba desta verdade, por que imensa maioria da humanidade a morte ainda causa tanto terror?

    2. POR QUE TEMEMOS A MORTE H tempos Rita vinha sentindo umas pontadas na

    regio do fgado. No era sempre que dava e, como a dor logo passava, no tinha motivos para se preocupar. "Devem ser gases", deduzia. Trs anos depois, percebeu que as pontadas se tornavam mais intensas e mais frequentes. s vezes at gemia de dor. Percebeu tambm que seu abdmen estava um pouco inchado e decidiu procurar um mdico.

    Imediatamente o mdico percebeu a gravidade do caso e disse que havia suspeita de cncer. Rita tremeu ao som dessa temvel palavra. O mdico deu-lhe uma lista de exames para lazer e pediu para voltar uma semana depois.

  • noite antes do retorno ao mdico foi um horror. Rita no conseguia dormir. Rolava na cama e rezava a Deus para que os resultados no fossem positivos. Mas ela mesma j suspeitava o pior.

    A dor e o desconforto j haviam piorado desde a semana anterior.

    E ela no estava equivocada. Desabou a chorar assim que o mdico pronunciou as primeiras palavras sobre a precria condio de seu fgado. E, para piorar, j havia clulas cancergenas em outros rgos tambm. O mdico lhe disse que no havia como oper-la e, por isso, a submeteria a sesses de quimioterapia. Mesmo assim, seu prognstico era desconsolador.

    Rita tinha pouco mais de 40 anos, havia feito aniversrio pouco tempo antes, porm no chegaria ao prximo. Mas isso ela no podia aceitar. O mdico e os exames certamente estavam equivocados. Ela no podia estar morrendo.

    As reaes antagnicas do ser humano iminncia da morte so comprovadas sistematicamente. Ainda que a morte traga a libertao do sofrimento fsico e conduza o ser de volta sua verdadeira origem, ele ainda reluta em aceit-la e trava contra ela uma batalha feroz para livrar-se dela.

  • O exemplo de Rita tpico nos casos em que a pessoa v-se face a face com a realidade da morte fsica e no pode fazer nada para impedi-la ou procrastin-la.

    A doutora Elizabeth Kbler Ross (j desencarnada), psiquiatra sua radicada nos Estados Unidos, trabalhou por mais de quatro dcadas com pacientes terminais. Em 1958, quando veio para a Amrica percebeu que os mdicos relutavam em falar para o paciente, s vezes omitindo at mesmo de seus familiares, sobre sua verdadeira condio. E ela queria saber o porqu. Seria para o bem-estar emocional dos pacientes ou de suas famlias? Ou seria porque os prprios mdicos temiam a realidade da morte? Desafiando os tabus, ela atacou de frente a questo da morte e do morrer e comeou a conversar franca e diretamente com centenas de pacientes terminais e seus familiares. A partir da, desenvolveu uma srie de palestras voltadas a mdicos, alunos de medicina, enfermeiros e enfermeiras e, nessas palestras, levava consigo seus pacientes terminais para que eles prprios compartissem com a classe mdica suas necessidades, seus medos, suas esperanas, enfim, tudo o que se passava na cabea de uma pessoa que sabia que estava morrendo.

    A doutora Kbler Ross publicou o resultado desse trabalho pioneiro em seu livro Sobre a morte e o morrer,

  • lanado nos Estados Unidos em 1969 e traduzido para o portugus em 1987, um best-seller e um clssico nessa rea. Em seus vrios anos de trabalho com pacientes terminais, ela identificou cinco estgios emocionais ou psicolgicos que o ser humano atravessa ao saber que sua vida fsica est se findando.

    OS CINCO ESTGIOS DO MORRER O primeiro estgio a negao. Nesse estgio,

    quando o paciente descobre que seu estado terminal, ele nega veementemente a aceitar a veracidade do diagnstico.

    "No, isso no est acontecendo comigo. Esse mdico no sabe nada", contesta.

    Ou ento: "No estou doente coisa nenhuma, eles trocaram os resultados com o de outro paciente".

    normal, tambm, e com razo, procurar uma segunda opinio. E quando esta confirma o diagnstico, ele luta contra a morte, busca alternativas, muda hbitos alimentares e comportamentais na esperana de continuar vivo por mais tempo.

  • Passado esse primeiro impacto, vem o segundo estgio, a indignao. No h mais como negar: ele est morrendo e no h nada que possa fazer.

    "Por que isso est acontecendo comigo? Que foi que eu fiz a Deus para merecer tal castigo? Que injustia essa? O Joo 'da Esquina', aquele intil, est saudvel, por que Deus no o leva em vez de mim?", questiona, indignado.

    Mas nem sua negao ou ira capaz de reverter seu cruel prognstico. A verdade nua e crua. Sua hora est chegando.

    Ento ele entra no terceiro estgio a negociao. "Deus, dai-me outra chance, ajude-me a sair dessa.

    Afaste de mim esse clice e prometo ser a melhor pessoa do mundo. Redimirei todos os meus erros, serei o ser mais caridoso da Terra, prometo dedicar o resto da minha vida louvando-O", ou algo nesse sentido.

    Mas a morte tem de arrebatar-lhe o corpo. seu trabalho na evoluo e crescimento espiritual do ser humano. Terminado nosso tempo na Terra, temos de partir; e no adianta negar, indignar-se ou negociar.

    Certo de que a morte o espreita de bem perto, ele entra em depresso o quarto estgio. Ele se d conta de que no h melhora em seu quadro de sade. O tratamento

  • no tem resultado. Est ficando cada vez mais fraco, seu corpo est definhando. No tem mais fome. A dor e o desconforto so Intensos. "Parece que no tem jeito mesmo", ele se d conta e se conforma. Ento...

    Entra no quinto estgio, a aceitao. "Bem, j que no h nada mais a fazer mesmo, estou pronto, seja o que Deus

    quiser; livrai-me deste sofrimento". Aqui comea a prostrao do corpo e o renascimento do esprito (os estgios podem no

    ocorrer nessa ordem: h a possibilidade de se intercalarem ou at mesmo ocorrer dois ou trs ao mesmo tempo).

    AS DUAS NATUREZAS DO SER HUMANO O Espiritismo nos ensina que o ser humano possui

    duas naturezas: a do corpo e a do esprito. Pelo corpo, ele participa da natureza dos animais cujos

    instintos lhes so comuns; e pela alma, participa da natureza dos espritos.

    Em nosso atual estgio evolutivo, ainda participamos da vida mais pela "natureza dos animais", pelos instintos,

  • do que pela natureza dos espritos. A "natureza dos animais" traz em si o instinto de preservao, que um componente necessrio para a evoluo fsica das espcies. Nosso corpo fsico evoluiu de espcies inferiores. O corpo fsico do ser humano j atingiu o cume de sua forma, mas sua conscincia ainda est em evoluo. Por isso ainda conserva boa parte dos instintos primitivos de sua era animal.

    Muitas existncias ainda lhe sero necessrias para seu despertar consciencial, para a obteno da maturidade espiritual que lhe permitir reconhecer em seu ntimo que no um corpo mortal, mas sim um esprito eterno.

    O objetivo final de cada um de ns atingir a angelizao, um estado de perfeio espiritual que nos desprendera totalmente da natureza fsica e, conseqentemente, dos instintos. Nesse novo estado passaremos a nos identificar com a nossa essncia, que o nosso esprito, e nos livraremos do medo da morte, pois j no habitaremos mais corpos orgnicos perecveis. Mas isso poder levar muito tempo, inmeras encarnaes e muito sofrimento, at que possamos compreender o que verdadeiramente somos seres imortais a caminho da luz.

    Apesar de j havermos progredido muito na intelectualidade desde os primrdios dos tempos, pouco

  • progredimos moral e espiritualmente. Por essa razo ainda participamos da vida mais pela natureza dos animais do que pela natureza dos espritos. E isso muito fcil de ver. Basta analisarmos o comportamento geral da humanidade, as guerras, os ataques terroristas, os seqestras, os homicdios, os estupros etc.

    A violncia a mais animalesca de nossas atitudes. com esse instinto que os animais preservam seus territrios, protegem sua prole e, no caso dos carnvoros, obtm seu sustento. Para eles, os animais, esse instinto um instrumento necessrio para sua sobrevivncia. O homem j no precisa mais dele para sobreviver, mas ainda no conseguiu despojar-se dele e usa-o com freqncia, um claro sinal de que em muitos aspectos ainda mantm um p tenazmente fincado em seu primitivismo, a uma poca quando ainda precisava recorrer fora bruta para sua sobrevivncia.

    O medo da morte faz parte desse primitivismo ancestral, do instinto de preservao prevalente na natureza animal. A esse instinto primitivo, prprio da natureza dos animais, Freud denominou id. O id a manifestao dos desejos primitivos, animalescos. A fome, a sede, o desejo sexual, a ira e todas as paixes inferiores relacionadas aos desejos carnais so prprias do id. O id

  • hedonista, irracional e quer continuar gratificando seus prazeres a qualquer custo, pois ele no quer morrer.

    V-se claramente a manifestao do id no estgio da negao aquele em que o ser humano mergulha ao saber que portador de uma doena terminal , identificado pela doutora Kbler Ross como a primeira reao contra a iminncia da morte. O id no quer deixar de existir e ele nega veementemente a realidade do nefasto prognstico. Mirando severamente aquele mdico que acaba de dar-lhe a terrvel notcia, ele pode vir at a afirmar: "Certamente o senhor est enganado, esse resultado de outro paciente, no o meu!" Muitas pessoas reagem: outro paciente, no importa quem seja, pode morrer, mas elas no!

    No segundo estgio, o da indignao (que pode ocorrer juntamente com o da negao), o id comea a conscientizar-se, muito contra sua vontade, da realidade da morte que se aproxima. Mas ele no a aceita, obviamente, e enfurece-se, sendo Deus quase sempre o primeiro alvo de sua ira. O id no admite culpa e, alm do mais, orgulhoso. Mesmo sabendo que seus excessos podem ter sido os causadores dos distrbios que ora lhe arrebata a vida fsica, ele os nega.

    Certa senhora que morria de enfisema pulmonar, culpava os caros no ar que respirava ou alguma doena

  • que teve em sua infncia pelo doloroso mal que a matava, inocentando assim o seu vcio de fumar exageradamente por vrias dcadas.

    Todos so culpados o meio ambiente, a famlia, o trabalho, Deus... Menos a sua imprevidncia e excessos. Se Deus fosse realmente justo, contesta e protesta, isso no lhe estaria ocorrendo. Mas o id astuto. Percebendo que nem a negao ou a indignao foram capazes de mudar o rumo de seu destino, ele entra no terceiro estgio, o da negociao. Ele passa a negociar com Deus ou com qualquer outra fora oculta que acredita ser capaz de interceder a seu favor. Humildemente ele faz promessas de reforma , ser uma pessoa exemplar, vai se dedicar a caridade, a melhora do mundo em troca de uma prolongao de vida, de mais tempo na Terra. Esse j o primeiro sinal de que o id est perdendo fora, seus laos com a matria j esto afrouxando. Mas quando o id percebe que suas splicas negociadoras no esto dando resultados, ele entra em depresso, quarto e penltimo estgio. Ele j se deu conta de que perdeu a batalha pela preservao do corpo fsico que comandava, e ao qual to tenazmente se apegava: est jogando a toalha, por assim dizer. No mais possvel recuperar seu vigor fsico para

  • continuar vivendo. Suas foras se desvanecem apesar dos esforos para manter-se neste lado da vida.

    Ele sabe que est morrendo e nada mais pode fazer para impedir seu fim.

    Aqui, a primeira das naturezas do ser humano, a do corpo, est obedecendo a uma das mais sagradas leis da criao a da renovao. Mesmo que o corpo se desintegre, nenhum tomo que compe os trilhes de clulas que o formam ser perdido. Todos aqueles diminutos centros de energia que se desprendero delas faro parte de outras formas de vida.

    E o esprito sabe disso. Portanto, no quinto e ltimo estgio, da aceitao da morte iminente, essa parte primordial da natureza do homem ganha proeminncia o esprito comea a preparar sua libertao dessa jornada que se finda. D-se o incio sua sada da priso corporal.

    Uma ou duas semanas antes da morte, o moribundo dorme a maioria do tempo. Os olhos parece que se recusam a permanecer abertos. Com o corpo quase exaurido de energia vital, as freqncias das ondas cerebrais baixam para alfa e teta, aguando assim seus sentidos psquicos. Nesse estgio, a pessoa j comea a "ver" com os olhos da alma.

  • PASSANDO AO MUNDO DOS ESPRITOS E o que veremos na hora da morte? Na maioria das

    vezes, alguns dias, horas ou momentos antes da morte, a pessoa v e conversa com os espritos de parentes e amigos j falecidos, que se fazem presentes ao seu redor. Esses espritos esto ali para auxili-la em sua transio. Com a ajuda destes, ela tambm capaz de vislumbrar o lugar no mundo espiritual para onde ir assim que deixar o corpo fsico.

    "Nossos parentes e amigos vm algumas vezes ao nosso encontro quando deixamos a Terra?"

    " Sim, eles vm ao encontro da alma que estimam. Felicitam-na como no retorno de uma viagem, se ela escapou dos perigos do caminho, e a ajudam a se despojar dos laos corporais. E a concesso de uma graa para os bons Espritos quando aqueles que amam vm ao seu encontro, enquanto o infame, o mau, sente-se isolado ou apenas rodeado por Espritos semelhantes a ele: uma punio."

  • Mas seria tal fenmeno verdade, ou apenas uma quimera, um consolo para aliviar o temor morte? E se for verdade, haveria como comprovar o que veremos na derradeira hora?

    No s h como comprovar, mas j o foi, e comprovado diariamente. '

    3. O QUE VEREMOS NA HORA DA MORTE Como ele est, doutor? perguntou a filha ao mdico

    antes de entrar no quarto para ver seu velho pai. O mdico franziu a testa e meneou a cabea: Sinto

    dizer-lhe, mas no creio que ele passe de hoje. Quando a filha entrou no quarto, viu o pai com o olhar

    fixo em uma cadeira vazia e solitria em um canto da parede. O velho abriu um sorriso em seu rosto cansado e sussurrou:

    Ah, voc est aqui! A filha, que queria estar com o pai em seus ltimos

    momentos de vida, tomou-lhe a mo magra e enrugada.

  • Sim, papai, eu estou aqui. No, filha ele respondeu, sorrindo, sem tirar os

    olhos da cadeira vazia. o tio Jernimo (seu irmo); jamais pensei que fosse v-lo novamente.

    A filha olhou atentamente para a cadeira vazia, mas tudo o que viu foi cadeira vazia. Ela estranhou, mas no achava que o pai estivesse endoidando, pois estava lcido, e sua fala era coerente.

    A filha viu o sorriso do pai ampliar-se ainda mais; sua face velha e sofrida parecia iluminar-se:

    Meu Deus. A mame tambm est aqui, e a tia Lucila... Esto me dizendo que vieram me buscar. Voc no os v, filha? Eles esto maravilhosamente bem!

    Voltando-se filha, o pai deu lhe um sorriso; seus olhos murchos encheram-se de lgrimas. Ela sentia que o pai estava dizendo adeus. Aproximando-se para dar-lhe um beijo de despedida, viu seus olhos se fechando devagar, o sorriso se desvanecendo de seu rosto sofrido.

    O velho soltou um longo suspiro... E foi juntar-se a seus entes queridos que o esperavam

    na entrada do mundo dos espritos. Sheila Mendonza enfermeira-chefe da unidade de

    terapia intensiva (UTI) de um grande hospital do Texas. Certa noite ela cuidava muito atentamente de um paciente

  • que havia sido internado alguns dias antes. Embora estivesse na UTI, seu caso no era considerado de muita gravidade. Por volta de 20 horas, o homem comeou a conversar sozinho, mas lucidamente, com uma pessoa querida de quem aparentava ter saudades. Sheila no sabia com quem o homem conversava, mas pareceu-lhe bvio que no se viam havia muito tempo. A impresso que ela teve foi de que se tratava de algum que j havia falecido. Em seguida, o paciente adormeceu. Por volta de uma hora e meia mais tarde, ele voltou a falar sobre aquela pessoa novamente, e seus sinais vitais comearam a deteriorar-se.

    Uma junta mdica socorreu-o imediatamente, mas ele entrou em coma. Logo depois recobrou os sentidos e mostrou-se extremamente lcido outra vez, um caso comum entre muitas pessoas que se aproximam da morte. Dirigindo o olhar a um lado onde no havia ningum, fixou-o no vazio. Era como se algum estivesse ali, uma presena que s ele via. De repente, seu semblante iluminou-se e um radiante sorriso demonstrava que se tratava de um ser querido que regressava.

    O amor e a serenidade que seus olhos irradiavam comoveram os mdicos e as enfermeiras que o atendiam, a ponto de arrancar-lhes lgrimas de emoo. "No havia dvidas. Algum estava ali para mostrar-lhe o caminho",

  • disse Sheila. O homem desencarnou pouco depois dessa viso, em um estado de sublime paz e felicidade.

    Lady Barret foi chamada s pressas; Doris B., sua paciente, estava prestes a dar luz. Quando chegou maternidade, o trabalho de parto j havia se iniciado. Sem tempo a perder, ps-se a ajudar a jovem a ter o seu beb. Terminado o trabalho, lady Barret foi visitar outras pacientes e, antes de retornar sua casa, voltou ao quarto de Doris.

    O beb estava bem, mas Doris estava tendo serssimas complicaes cardacas, mais exatamente encontrava-se beira da morte.

    Vendo lady Barret a seu lado, Doris levantou as mos mdica e disse:

    Obrigada, muito obrigada pelo que fez por mim... por ter me ajudado a dar luz o meu beb. Lady Barret tomou a sua mo e Doris, que ainda no

    havia visto o beb, indagou: E menino ou menina? Doris agarrou a mo de lady Barre! Com firmeza e

    implorou: No me deixe, no v embora, por favor! O cardiologista chegou para examin-la, e Doris

    sentou-se na cama. Passados alguns minutos, ela se deitou.

  • Em seguida, fixando atentamente o olhar em um canto bastante iluminado do quarto, disse:

    Oh, no deixe escurecer; est escurecendo tanto... Est cada vez mais escuro.

    Desviou o olhar por alguns momentos e logo voltou a fix-lo novamente no mesmo vazio; e agora um radiante sorriso iluminou todo o seu semblante.

    Oh, que lindo, que lindo! dizia. O que lindo, Doris? indagou lady Barrei. O que vejo - respondeu, em tom baixo, mas intenso. E o que voc v? Um brilho lindo seres maravilhosos! Lady Barret impressionava-se com o senso de

    realismo que Doris demonstrava ao descrever aquelas vises que mais ningum percebia.

    Doris voltou o olhar a outro lugar no quarto, seu semblante irradiou-se ainda mais, e uma espcie de grito de felicidade saltou-lhe dos lbios:

    o papai! Oh, ele est to feliz que estou indo... Ele est to feliz. Seria perfeito se o Walter pudesse vir tambm! disse, referindo-se ao marido.

    Doris pediu para ver o beb e o trouxeram. A senhora acha que devo ficar com o beb, para o

    bem dele? perguntou Doris a lady Barret.

  • Doris no esperou resposta e voltou o olhar novamente para a viso naquele ponto do quarto.

    Mas no posso ficar, no posso ficar; se a senhora pudesse ver o que vejo, saberia que no posso ficar.

    Voltando-se ao esposo que acabara de chegar, suplicou:

    Voc no deixar o beb ir com ningum que no o amar, deixar?

    Novamente, sem esperar resposta, empurrou-o gentilmente a um lado e disse:

    Deixe-me ver essa linda luz. De repente, um ar de surpresa tomou o semblante de

    Doris. Vida est com o papai! exclamou. Eles esto

    vindo ao meu encontro. Vida era sua irm, invlida, falecida 18 dias antes.

    Devido sade precria de Doris, a famlia decidiu no revelar sobre a morte da irm para poup-la do choque que a notcia poderia lhe causar.

    Doris B. faleceu uma hora aps ter essas vises. VISES NO LEITO DE MORTE A CINCIA

    COMPROVA O QUE O ESPIRITISMO ENSINA

  • Vises no leito de morte foi a denominao que sir

    William Barret, esposo de lady Barret, deu para essas vises que aquele senhor, e os pacientes de Sheila Mendonza e lady Barret tiveram pouco antes de morrer. Ele foi tambm o pioneiro no estudo sistematizado de tais experincias. O que levou esse professor de fsica e co-fundador da Sociedade para Pesquisas Psquicas da Inglaterra a dedicar-se averiguao desse fenmeno foi justamente o relato de sua esposa sobre a experincia de Doris B. Mas de todo o relato, um aspecto em especfico chamou sua ateno, e foi isso que o intrigou e o motivou a levar a cabo Cal estudo.

    "Como pde Doris B. ver sua irm, de cuja morte no tinha conhecimento, junto do pai, este sim morto? E por que ela viu a irm, a quem acreditava estar viva, mas no viu outro familiar vivo? Que tipo de alucinao era essa, ou no era alucinao, mas sim a presena verdadeira de espritos que teriam vindo, como nos ensina o Espiritismo, a seu encontro quando deixavam a Terra? E seria o caso de Doris B. um caso isolado, ou outras pessoas que deixam a Terra diariamente por ocasio da morte fsica tambm teriam tais vises?"

  • Em 1926, sir William Barret publicou o resultado de seus estudos sobre o fenmeno em seu livro Death-bed visions (Vises no leito de morte). Suas descobertas mostraram um fato inequvoco: as vises no leito de morte so experincias comuns em pessoas que esto prximas a retornar ao mundo dos espritos.

    Mas quo comuns e... Quo universais? Quem fez essas perguntas foi o doutor Karlis Osis,

    eminente psiclogo e parapsiclogo da Universidade Duke nos Estados Unidos, aps ler Death-bed visions, de sir William Barret, 30 anos aps a sua publicao.

    Para melhor responder s questes, o doutor Osis acreditava que era necessrio estudar uma quantidade maior de casos, utilizando mtodos cientficos e sistematizados modernos. Com esses mtodos modernos e um considervel nmero de relatos, ele achava que poderia determinar se tais experincias eram mesmo universais, ou seja, se em todas as partes do mundo as pessoas prximas da morte teriam tais experincias e se poderia ainda comparar a semelhana entre elas.

    O doutor Osis e sua equipe elaboraram um questionrio e o enviaram, entre 1959 e 1960, a dez mil mdicos e enfermeiras em vrios estados americanos. O retorno foi menos que o esperado: apenas 640 respostas,

  • possivelmente em razo da natureza sobrenatural do fenmeno. Mas o nmero de observaes relatadas por esses mdicos e enfermeiras foi impressionante: 35.540 casos.

    Aqui cabe um importante esclarecimento. Nem todos os desencarnantes tm (ou relatam) essas vises. Estudos recentes sugerem que apenas dez por cento aproximadamente dos moribundos esto conscientes no momento da morte e, destes, uma mdia de 60 por cento relatam vises de lugares espirituais ou de espritos de parentes e amigos.

    Muitos dos pacientes inconscientes podem estar assim devido aos fortes efeitos de medicao, mas e os outros, que no estariam sob os efeitos de medicao, por que no esto conscientes na hora da morte?

    Uma pergunta feita por Allan Kardec aos espritos de ordem elevada (O Livro dos Espritos, questo 156) pode explicar-nos o porqu:

    "A separao definitiva da alma do corpo pode ocorrer antes da completa cessao da vida orgnica?", foi-lhes indagado.

    " Na agonia", responderam eles, "a alma, algumas vezes, j deixou o corpo. Nada mais resta nele do que a vida orgnica. O homem no tem mais conscincia de si

  • mesmo e, entretanto, ainda h nele um sopro de vida orgnica. O corpo uma mquina que o corao faz mover. Existe, enquanto o corao faz circular o sangue em suas veias, e no tem necessidade da alma para isso".

    Dentre as 35.540 observaes anteriormente citadas, o doutor Osis encontrou 753 casos de exaltao de nimo; 884 de vises de lugares espirituais; e 1318 casos de aparies, e dessas, 90 por cento eram de entes queridos pais, mes, cnjuges, irmos e filhos.

    E que faziam esses espritos ali? A resposta que os prprios pacientes davam era

    unnime: para ajud-los na transio e acompanh-los ao mundo espiritual!

    Entusiasmado com os resultados, o doutor Osis quis ampliar as pesquisas e buscar mais dados para comparaes. De 1961 a 1964 enviou mais um lote de cinco mil questionrios a mdicos e a enfermeiras de cinco estados americanos. Desta feita, 1004 questionrios foram respondidos, relatando em torno de 50 mil observaes de desencarnes!

    Os resultados dessas novas observaes foram semelhantes s primeiras: exaltao de nimo pouco antes do desencarne, vises de paisagens espirituais e presena de espritos de entes queridos e amigos.

  • Finalidade da presena deles? A mesma respondida na primeira pesquisa: nas

    prprias palavras dos desencarnantes, seria ajud-los na transio e acompanh-los a seu novo mundo.

    Mas exaltao de nimo na iminncia da morte? Como poderia algum sentir-se exaltado sabendo que

    em alguns instantes "deixar de existir"? O que levaria Doris B., por exemplo, a querer "morrer" para acompanhar seu pai e ir para aquele lugar que s ela conseguia ver?

    Atente para essa pergunta de Kardec aos espritos (O Livro dos Espritos, questo 157):

    "No momento da morte, a alma tem, s vezes, um desejo ou um xtase que lhe faz entrever o mundo em que vai entrar?"

    A resposta: " Muitas vezes a alma sente desfazerem-se os laos

    que a prendem ao corpo, ento, faz todos os seus esforos para romp-los completamente. J em parte desprendida da matria, v o futuro desdobrar-se sua frente e desfruta, por antecipao, do estado de Esprito".

    Eis aqui a explicao. Ironicamente, na hora da morte, todos descobriremos nossa imortalidade!

    Como ambas as pesquisas haviam sido levadas a cabo nos Estados Unidos, um pas tradicionalmente cristo, onde

  • a Bblia seu livro sagrado, o doutor Osis quis saber se moribundos em alguma cultura no-crist tambm teriam tais experincias. Em parceria com outro eminente estudioso e pesquisador de fenmenos paranormais e da vida aps a morte, o islands Erlendur Haraldsson lanou um projeto de investigao em uma cultura totalmente diferente da americana na ndia, onde o doutor Haraldsson havia vivido durante um ano. Entre 1972 e 1973, eles estudaram os relatos obtidos em 704 questionrios de desencarnantes indianos e os compararam com os 1004 da segunda pesquisa americana.

    Concluso: a freqncia e a natureza das vises dos moribundos indianos era marcadamente semelhante s relatadas pelos norte-americanos prestes a desencarnar.

    "E por que esses espritos estavam l?", foi a pergunta feita pelos pesquisadores.

    As respostas dos indianos foram unnimes e exatamente iguais ao que nos ensina a Codificao Esprita:

    Ajud-los na transio da morte e acompanh-los de regresso ao mundo dos espritos!

    COMPROVANDO POR NS MESMOS

  • As vises no leito de morte so comuns e dirias. E cada um de ns poder tambm comprovar isso pessoalmente; basta prestar ateno aos nossos entes queridos ou amigos que esto em fase terminal e conscientes pouco antes ou at mesmo na hora da morte. A grande maioria tem tais vises.

    Em minha famlia houve trs casos nos ltimos quatro anos. Um primo que padecia de cncer de garganta, poucos dias antes de falecer, via minha me, que foi sua madrinha, falecida em 1990; via tambm nossa av materna, falecida em 1996. Ambas estavam presentes em sua casa, a quem somente ele via. No hospital, momentos antes de falecer, ele via um lugar lindo e pessoas vestidas de branco, "mdicos", que, segundo disse sua esposa, o esperavam no outro lado da vida.

    O segundo caso foi o de outro primo, este padecendo de cncer pulmonar. Acamado em sua casa, disse ter visto dois "anjos" pairando sua frente. Como eu j o havia alertado para tais presenas, ele me perguntou se isso significava que estava para morrer. Eu disse que se fosse sua hora, sim; mas, se no, eles poderiam estar l para ajud-lo em sua cura.

    Alguns dias depois, ele precisou ser internado, pois sua sade se deteriorava rapidamente. Seus ltimos dias

  • foram de muito sofrimento, especialmente por estar longe de seus filhos. Quando chegou o momento de seu desencarne, ele falava de um lugar lindo para onde iria, e assim como meu outro primo, falou dos "mdicos" vestidos de branco que o esperavam.

    O caso mais recente foi em 2006. Um tio querido em estado terminal, pouco antes de desencarnar, sentava-se cama de braos abertos dizendo que o filho, seu primognito que havia falecido em um acidente automobilstico em 2002, estava ali para busc-lo.

    Os trs personagens reais que vimos no primeiro captulo, o senhor Smith, e as donas Clara e Ruth desencarnaram sem medo e em paz aps terem sonhos com o mundo espiritual e vises semelhantes ao que acabamos de ver.

    E as crianas, teriam tais experincias? O que elas vem na hora da morte?

    E o que veremos a seguir... 4. O QUE AS CRIANAS VEM NA HORA DA

    MORTE

  • A pequena Hattie estava morrendo e ela sabia disso. Mas, antes de despedir-se deste mundo, tinha algumas providncias a tomar: queria dividir seus pertences com suas primas e amiguinhas suas bonecas, seus livros, seus brinquedos etc.

    Sentando-se na cama, chamou a me para perto de si e comeou a dar-lhe instrues para a diviso de suas coisas. No meio da conversa, Hattie fez um repentino silncio e fixou seu olhar em um ponto prximo ao teto de seu quarto; sua expresso era de que estava vendo e ouvindo algum que s ela era capaz de ver.

    Meneando a cabecinha, ela disse: Sim, vov, j estou indo, espere s mais um

    pouquinho, por favor. Hattie, voc est vendo a vov? - indagou o pai. A pequena mostrou-se surpresa com a indagao. Sim, papai, estou. Por que voc pergunta, voc no

    est? Levantando o bracinho enfraquecido, apontou com o indicador um lugar prximo ao teto: Ela est l, esperando por mim.

    Hattie voltou-se me e continuou suas instrues para a distribuio de seus pequenos tesouros de criana. De repente, parou de falar e olhou novamente para aquele

  • mesmo lugar. Franzindo a testa, falou para a viso, com voz firme e um tanto impaciente:

    Sim, vov, eu j estou indo. D para a senhora esperar eu terminar, por favor?

    Terminada suas instrues, olhou para as pessoas que ali se encontravam, me, pai, irmos e amigos. E com a voz fraca e a vida j se extinguindo do seu corpinho, despediu-se de cada uma delas. Acomodando-se novamente na cama, passou rapidamente o olhar em cada um dos presentes, depois o fixou naquele ponto do teto. Suas plpebras comearam a descer sobre seus olhinhos j quase sem vida. Antes de dar o derradeiro suspiro, pronunciou suas ltimas palavras:

    Pronto. Vamos, vov. E assim desencarnou. A av de Hattie havia falecido algum tempo antes, e

    naquele momento estava l para ajudar a netinha a desprender-se do corpo fsico e acompanh-la sua nova morada. As duas eram muito apegadas, e certamente continuariam assim tambm do outro lado da vida.

    Anna tinha apenas dois aninhos de idade quando descobriram que tinha leucemia. Os dolorosos tratamentos aos quais se submetia s vezes faziam a doena desaparecer, renovando as esperanas de que talvez

  • permanecesse nesta vida por mais tempo. Mas, em seguida, a cruel doena voltava.

    Essa agonia da pequena e de sua famlia durou cinco anos. Aos sete anos de idade, j no havia mais como controlar a leucemia. A nica opo era deixar que tomasse seu curso at que extinguisse a vida do corpinho sofrido e, assim, libertar 0 esprito imortal que o usava para aquela experincia na Terra. Sua curta misso na vida fsica j estava terminada e havia chegado a hora de retornar sua verdadeira ptria-me.

    Mas certamente no iria s, pois Deus jamais desampara Seus filhos, sobretudo na hora de seu regresso ptria espiritual aps uma difcil jornada de aprendizado e crescimento espiritual, que a caracterstica de nossa experincia na Terra. Ao encontro da pequena Anna, Deus mandaria seus anjos para traz-la de regresso ao mundo dos espritos.

    Com esforo, sentou-se na cama do hospital onde estava internada, apesar das dores que sentia. Seu olhar subiu a um ponto vago do seu quarto. Um sorriso abriu-se em seu rostinho magro e plido. A voz j quase no lhe saa. Falava baixinho e com muito esforo. Com o olhar fixo em algo que somente ela via, Anna sussurrou:

  • Os anjos, eles so to lindos! Voc os v, mame? Voc os ouve cantar? Jamais tinha ouvido msicas to lindas!

    Anna deitou-se novamente; o sorriso ainda adornando-lhe os lbios; seu semblante envolto em luz e paz; dando seu ltimo suspiro, seguiu os anjos que a estavam para escolt-la.

    Para a famlia de Anna, a viso do que esperava sua filhinha no outro lado da vida depois de tanto sofrimento foi uma consolao, vinda diretamente de Deus.

    Daisy Irene tinha dez anos de idade quando sua misso na Terra se encerrava. Quatro dias antes de atravessar a fronteira invisvel deste mundo ao mundo dos espritos, fixou seu olhar em um ponto sobre o batente da porta.

    Que foi, Daisy? indagou seu pai. O que voc est olhando, filha?

    um esprito, papai; Jesus. Ele est me dizendo que eu vou ser um de seus cordeiros.

    Claro, querida! confirmou o pai. Espero que voc seja mesmo um de seus cordeiros.

    Oh, papai! exclamou a pequena. Eu vou para o cu, vou a Ele.

  • Apesar da pouca idade, a pequena Daisy, assim como sua famlia, era muito religiosa. Quando saudvel, todos os domingos participava das aulas de evangelizao de sua igreja. Mas agora, impedida de se locomover, costumava pedir famlia que lhes lessem a Bblia. Certa vez, a me leu-lhe aquela passagem do Evangelho de So Joo que ns, espritas, tanto temos ouvido: "Se me amais, guardareis meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dar outro Consolador, para que fique eternamente convosco.

    Finda a leitura, Daisy olhou para a me com um semblante angelical e lhe disse:

    Mame, quando eu partir o Consolador vir at a senhora; e quem sabe Ele me deixar vir junto tambm algumas vezes. Allie est dizendo que eu posso vir, mas a senhora no vai saber que eu estou aqui, somente me ouvir falar em seu pensamento.

    Para essa me, o Consolador j se fazia presente. Allie era seu filho, que havia falecido quando tinha apenas seis anos de idade e que agora estava ali para ajudar a irmzinha a desvencilhar-se dos laos da matria. A presena de Allie naqueles ltimos dias era constante.

  • Dois dias antes de sua passagem, Daisy recebeu a visita de sua professora de evangelizao e conversou com ela franca e abertamente sobre sua morte iminente.

    Bem, Daisy - disse ela antes de deixar a pequena -, logo, logo voc estar atravessando o "rio escuro".

    Que ela quis dizer com "rio escuro?" indagou ao pai depois que a professora se foi.

    O pai comeou a explicar-lhe e, assim que entendeu o significado, ela o interrompeu dizendo:

    Ela est errada; no tem rio nenhum, nem cortinas, nem sequer tem uma linha que separa esta vida da

    outra. Levantando as mozinhas, Daisy fez um gesto e disse: Est aqui e est ali; eu sei que assim, pois consigo

    ver todos vocs aqui, e os vejo (os espritos) ao mesmo

    tempo. E como esse mundo, Daisy? indagou a me. No sei como descrever; diferente, difcil de

    explicar com palavras. Quando seu desencarne se aproximava, Daisy fixou

    seu olhar ao longe e perguntou a seu pai: O senhor est ouvindo, papai? Ouvindo o qu, Daisy?

  • Os anjos cantando. O senhor precisa ouvi-los; esto todos aqui; eu os vejo todos; so tantos...

    Voltando-se irm, disse: No estranho, Lulu? Ns sempre achamos que os

    anjos tinham asas! Mas estvamos enganadas; eles no tm asas.

    Mas eles tm de ter asas contestou a irm. Seno como fariam para voar do cu at a Terra?

    No, eles no voam; eles apenas vm. Basta eu pensar em Allie disse referindo-se ao esprito do irmo e ele est aqui.

    E como voc v os anjos, filha? perguntou a me. No os vejo toda hora; mas quando os vejo, parece

    que as paredes da casa desaparecem, e eu consigo ver muito longe; nem d para contar quantas pessoas eu vejo; algumas esto bem perto e eu as reconheo; mas, outras, nunca as vi.

    Daisy pediu me que lhe trouxesse um espelho. Quando ela o entregou, segurou-o com ambas as mos e ps-se a olhar o rosto plido e magro com calma e tristeza, dizendo enquanto se olhava:

    Este corpo j no me serve. E como o vestido velho da mame pendurado no guarda-roupas, j no lhe

    tem serventia. Eu no vou mais usar este corpo; um corpo

  • espiritual (perisprito) vai substitu-lo. Eu j estou nesse corpo, pois com os olhos do esprito que eu vejo o mundo para onde vou.

    Daisy falava sobre sua morte com imensa naturalidade. Para ela no havia mais mistrios: suas vises davam-lhe a certeza da continuidade da vida e, em lugar de tem-la, a esperava com ansiedade.

    Era noite e Daisy olhou para o relgio e anunciou para a famlia:

    Agora so 20h30, quando for 23h30, o Allie vir me buscar.

    Daisy gostava de sentar-se no colo do pai e encostar a cabea em seu peito. Voltando-se a ele, disse:

    Papai, quero morrer em seu colo. Quando chegar a hora eu lhe falo.

    Sua irm, Lulu, estava com sono. Antes de ir para a cama, deu um beijo em Daisy e lhe desejou boa noite. Daisy tomou a mo da irm, com a outra acariciou-lhe o rosto e disse boa noite.

    Quando Lulu estava subindo as escadas do seu quarto, Daisy chamou a irm e lhe disse:

    Boa noite e adeus, minha doce e querida Lulu. Quando o relgio marcava 23hl5, ela disse ao pai:

  • Pode me pegar agora, papai. Allie j est aqui para me levar.

    Acomodando-se no colo do pai, pediu para que cantassem. Um dos presentes pediu que chamassem Lulu, mas ela no deixou:

    Ela est dormindo, no vamos incomod-la. Quando o relgio marcou 23h30, exatamente a hora

    que havia previsto, ela levantou as duas mos como se as oferecesse a algum e pronunciou suas ltimas palavras:

    Vamos, Allie. Deu seu ltimo suspiro e desencarnou. Enquanto o pai

    deitava seu corpinho inerte com ternura sobre a cama, ela, agora em esprito, seguia viva e alegre, com seu irmo e seus anjos, de regresso ao seu verdadeiro lar, para dar incio a uma nova modalidade de vida.

    Como se d o fenmeno A cincia materialista atribui as vises no leito de

    morte a miragens criadas por um crebro beira da extino, a alucinaes causadas pela desagregao dos neurnios. No h como ela ir alm dessas explicaes, pois no consegue ultrapassar as barreiras do crebro fsico. Para ela, o crebro secreta nossa conscincia e nossos pensamentos; morrendo o crebro, morre tudo. Portanto, aqueles seres queridos que j morreram e que

  • dizem estar a para ajudar os moribundos em sua transio (e que estes dizem ver) no existem. E, se no existem mais, no podem estar a; portanto, nada mais so que miragens de um crebro beira da extino, alucinaes causadas pela desagregao dos neurnios.

    J os espritos de ordem elevada - eles mesmos sobreviventes da morte e livres das idias preconcebidas, dos preconceitos e do orgulho escravizador nada tinham e nada tm a perder. Portanto, podiam falar claramente e sem rodeios como se d o fenmeno.

    Chamam-no de segunda ou dupla vista. E o que isso? A resposta vem diretamente dos espritos:

    " Tudo isso a mesma coisa. O que chamais de dupla vista ainda o Esprito que est mais livre, embora o corpo no esteja adormecido. A dupla vista a vista da alma". (O moribundo est consciente quando fala dessas experincias.)

    "(...) e quanto mais fraco estiver o corpo, mais livre ele estar". E mais facilmente v e ouve coisas que os sentidos fsicos no so capazes de perceber.

    Complementam os espritos: "Elas tambm ocorrem quando se est em perfeita

    sade; que, na doena, os laos materiais esto mais frouxos; a fraqueza do corpo possibilita mais liberdade ao

  • Esprito, que entra mais facilmente em comunicao com os outros Espritos".

    Parece at que a pequena Daisy Irene retirou a explicao de como via os dois mundos dessa passagem! Mas isso no ocorreu, pois ela era evanglica e sua religio no ensinava isso. O que ela relatava era o que via naquele momento. J quase liberta da matria, que tanto limita os sentidos espirituais, a menina via e interagia com os dois mundos com a mesma lucidez.

    O leitor notou que no momento em que o moribundo percebe a presena de um esprito ou espritos, ele fixa o olhar num ponto vazio do local onde se encontra, como se estivesse olhando para o nada.

    Agora atente ao que o Espiritismo ensina sobre isso: "No momento em que se produz o fenmeno da dupla vista, o estado fsico do indivduo sensivelmente modificado; o olhar tem algo de vago: olha sem ver; a fisionomia toda reflete um ar de exaltao. Constata-se que os rgos da vista ficam alheios ao processo porque a viso persiste, apesar dos olhos fechados". (As pessoas que os vem aos espritos se encontram muito amide num estado prximo do de xtase, estado que lhes faculta uma espcie de dupla vista. Os que vem os espritos julgam ver com os olhos,

  • mas, na realidade, a alma quem v e prova disto que os podem ver com os olhos fechados.)

    Universalidade das vises no leito de morte. Em um artigo escrito para o jornal de Oncologia

    Peditrica em 2005 sobre o resultado de sua extensa pesquisa de dito fenmeno, a doutora Angela M. Ethier diz que as vises no leito de morte foram relatadas atravs dos tempos, por pessoas de todas as culturas, religies, raas, idades, sexo, camadas socioeconmicas e de todos os nveis intelectuais, entre os mais ignorantes e os mais cultos.

    As doutoras Patrcia Kelley e Maggie Callanan trabalharam com doentes terminais por mais de dez anos. Elas atenderam centenas de pacientes terminais e estiveram presentes nos seus ltimos momentos de vida. Em seu livro Gestos finais: como compreender as mensagens, as necessidades e a condio especial das pessoas que esto morrendo, publicado em 1994, elas relatam as experincias de vises que seus pacientes tiveram antes de desencarnarem. Em suas prprias palavras, "a experincia dos moribundos freqentemente incluem vislumbres de outro mundo e de pessoas que ali os esperam; eles falam da paz e da beleza desse lugar e conversam com pessoas que s eles vem".

  • A psicoterapeuta e capela de hospice por mais de trs dcadas, a doutora Dianne Arcangel, em seu livro After life encounters (Encontros aps a morte), relata uma coletnea de experincias de vises no leito de morte que presenciou. Ela conta que todos os pacientes cuja morte presenciou estavam acompanhados de uma pessoa invisvel. "Ningum morre sozinho", afirma ela.

    E como "morremos" e renascemos? Como a alma se desliga do corpo fsico?

    5. COMO A ALMA SE DESLIGA DO CORPO De repente, uma atmosfera fina, suave e luminosa

    envolveu a cabea da senhora que desencarnava. Vi naquele instante o crebro e o cerebelo expandindo suas partes mais ntimas e encerrando as funes galvanizantes pelas quais eram responsveis e tornando-se extremamente saturados de eletricidade e magnetismo vital.

    Vi em seguida, naquela atmosfera espiritual que emanava e circundava a cabea do corpo fsico da senhora,

  • um contorno indistinto da formao de outra cabea! Essa nova cabea foi-se tornando cada vez mais completa. Em seguida, vi a formao natural e em ordem progressiva do pescoo, dos ombros, do torso, at a organizao completa de seu corpo espiritual (perisprito).

    Ao mesmo tempo que esse novo corpo se formava e fazia-se totalmente visvel s minhas percepes espirituais, percebia tambm o que ocorria no corpo fsico enquanto este morria. Havia sintomas de desconforto e de dor. Mas eram sintomas ilusrios, que ocorriam em funo da retirada das foras vitais e espirituais das extremidades e das vsceras e que se dirigiam ao crebro para dar nascimento ao corpo espiritual.

    Aprendi que h uma correspondncia absoluta e completa entre o nascimento de uma criana neste mundo e o nascimento do esprito no mundo espiritual, at mesmo com o cordo umbilical, este representado por um cordo de energia vital (cordo fludico) que, por alguns minutos, ligava um corpo ao outro.

    Em seu novo corpo, vi-a inalar profundamente as energias pertencentes atmosfera espiritual, energias estas que interpenetravam a atmosfera terrestre. Seu corpo espiritual possua todas as propores fsicas exteriores do corpo fsico do qual acabava de se retirar; era idntico em

  • todos os aspectos possveis, embora melhorado e mais bonito.

    Em seguida, ela saiu do quarto e caminhou para a sala, e da para o quintal. L fora havia dois espritos amigos sua espera. To logo ela os reconheceu, na mais graciosa maneira, comearam a subir obliquamente pelo envelope etreo de nosso globo terrestre. Caminhavam to natural e fraternalmente que mal me dava conta de que eles caminhavam no ar. Parecia que subiam uma gloriosa e familiar montanha. Permaneci observando-os at que desapareceram de minha vista."

    Essa narrativa foi feita por um extraordinrio mdium vidente americano, precursor do movimento espiritualista nos Estados Unidos, ao observar uma amiga sua que desencarnava, em seu livro Death and the after life (Morte e vida aps a morte). Para se ter uma idia melhor da clarividncia de Andrew Jackson Davis, ele, em transe, diagnosticou, prescreveu tratamento e curou milhares de pessoas dos mais diferentes males; psicografou os mais importantes livros do movimento espiritualista americano e previu a inveno do automvel e do avio. Era conhecido como o "Joo Batista" do Espiritualismo americano.

  • A INCRVEL VISO DO DOUTOR HOUT Narrou o mdico e clarividente americano: "Minha tia

    estava prestes a desencarnar e eu estava no quarto com ela. De repente, senti que algo estava acontecendo, algo que meus sentidos fsicos no podiam perceber. Repentinamente, vi alguma coisa pairando sobre o seu corpo fsico, mais ou menos a meio metro de altura. A princpio, percebi apenas um vago perfil de uma substncia opaca, parecida com neblina. Era um tipo de vapor, imvel, suspenso no ar. Olhando mais atentamente, percebi que esse vapor ia gradualmente se densificando, tornando-se mais slido, como se estivesse se condensando. Atnito, vi que essa substncia vaporosa tomava uma forma humana.

    De sbito, notei que aquele corpo se assemelhava ao corpo fsico de minha tia. Esse corpo astral (ou perisprito) pairava horizontalmente sobre o corpo fsico e estava quieto, sereno e em repouso. Mas o corpo fsico estava ativo, em movimentos reflexivos e espasmos subconscientes de dor. Permaneci observando e vi o corpo espiritual formar-se completamente. Distinguia claramente os traos de seu rosto, Eram similares ao rosto fsico, exceto que agora possua um brilho de paz e vigor, em

  • lugar da velhice e expresses de dor do corpo fsico. Os olhos estavam fechados como se ela dormisse um sono tranqilo; uma luminosidade emanava de seu corpo espiritual.

    Chamou-me a ateno uma substncia prateada que conectava a cabea do corpo fsico cabea do corpo espiritual. Era um cordo. 'O tal do cordo fludico ', pensei. Ento, pela primeira vez, descobri o seu significado. Assim como o cordo umbilical une a criana me, aquele cordo fludico unia o corpo fsico ao espiritual. Suas extremidades estavam conectadas protuberncia occipital, a base do crnio (nuca), de cada um dos corpos. Da base da nuca, saam fios de energia em forma de leque, que se juntavam e formavam um cordo arredondado de aproximadamente dois centmetros e meio de dimetro. (Essa grande densidade em funo da proximidade dos corpos; medida que o perisprito se distancia do corpo fsico, o cordo se afina, chegando ao ponto de ficar da espessura de uma finssima linha, quando muito distante; mas apenas se rompe com a morte do corpo fsico.) A cor era de um prateado transluzente, luminoso e radiante. Uma energia vibrante parecia dar vida ao cordo. Pulsaes de luz saam do corpo fsico e percorriam a extenso do cordo, dirigindo-se ao corpo espiritual. A cada pulsao do

  • cordo, o corpo espiritual tornava-se mais vivo e mais denso, enquanto o corpo fsico tornava-se mais quieto, quase sem vida.

    Agora a vida estava toda no corpo espiritual: o corpo fsico havia cessado seus movimentos, estava imvel, na iminncia da morte. As pulsaes no cordo pararam, e os fios de energia na base da nuca comearam a se romper, um por um. Ao romper o ltimo fio, dois fenmenos ocorreram simultaneamente: o corpo fsico morreu e o corpo espiritual se libertou, renasceu.

    O corpo espiritual se moveu; levantando-se, ps-se ereto atrs da cama, onde pausou momentaneamente antes de iniciar o vo ascendente que o levaria para fora do quarto. Os olhos, que at ento estavam cerrados, se abriram, e um sorriso adornou seu radiante semblante. Meu tio, esposo dessa tia e um filho deles, ambos falecidos, estavam no quarto sua espera. Minha tia olhou para mim, deu-me um sorriso de adeus e desapareceu de minha vista.

    Presenciei tudo isso de maneira totalmente objetiva. As formas espirituais que vi, vi-as com meus olhos fsicos. Esses eventos duraram 12 horas, durante as quais presenciava, comentava e movia-me enquanto ocorriam. "

  • O QUE ENSINA O ESPIRITISMO "Quando o Esprito deve se encarnar num corpo

    humano em via de formao, um lao fludico, que no outra coisa seno uma expanso de seu perisprito, liga-o ao germe para a qual se acha atrado por uma fora irresistvel desde o momento da concepo. A medida que o germe se desenvolve, o lao se aperta; sob a influncia do princpio vital material do germe, o perisprito, que possui certas propriedades da matria, se une, molcula a molcula, com o corpo que se forma: de onde se pode dizer que o Esprito, por intermdio de seu perisprito, lana, de alguma sorte, raiz nesse germe, como uma planta na terra. Quando o germe est inteiramente desenvolvido, a unio completa, e, ento, ele nasce para a vida exterior.

    Por um efeito contrrio, essa unio do perisprito e da matria carnal, que se cumpria sob a influncia do princpio vital do germe, quando esse princpio deixa de agir, em conseqncia da desorganizao do corpo, a unio, que era mantida por uma fora atuante, cessa quando essa fora deixa de agir; ento o perisprito se desliga, molcula a molcula, como estava unido, e o Esprito se entrega sua

  • liberdade. Assim, no a partida do Esprito que causa a morte do corpo, mas a morte do corpo que causa a partida do Esprito."

    Nesses relatos, o leitor pode notar a naturalidade com que o esprito se retira do corpo fsico e passa de um mundo a outro. Pode perceber tambm que, na realidade, o esprito no passou de um mundo a outro, mas de um estado a outro saiu do estado fsico e adotou o estado espiritual. V ainda quo longe a morte est de ser aquele episdio aterrorizador que os incrdulos dizem que nos remeter ao nada absoluto e que tanto a humanidade teme.

    Indagados por Kardec se a separao da alma e do corpo era dolorosa, os espritos de ordem elevada, responsveis pelas Obras Bsicas de Allan Kardec, lhe responderam:

    "- No; o corpo sofre muitas vezes mais durante a vida do que no momento da morte: a alma no toma nenhuma parte nisso.

    Os sofrimentos que s vezes ocorrem no momento da morte so uma alegria para o Esprito, que v chegar o fim de seu exlio".

    E Kardec complementou:

  • "Na morte natural, a que acontece pelo esgotamento dos rgos em conseqncia da idade, o homem deixa a vida sem se dar conta disso: como um foco de luz que se apaga por falta de suprimento".

    Nosso curioso codificador quis saber mais sobre o processo de retirada da alma do corpo orgnico. E os espritos lhe explicaram como este se d:

    "- Quando os laos que a retinham se rompem, ela (a alma) se desprende (do corpo)".

    Mas Kardec queria mais detalhes: "A separao se opera instantaneamente e por uma

    transio brusca? H uma linha de demarcao nitidamente traada entre a vida e a morte?"

    " No", responderam os espritos, "a alma se desprende gradualmente e no se escapa como um pssaro cativo subitamente libertado. Esses dois estados se tocam e se confundem de maneira que o Esprito se desprende pouco a pouco dos laos que o retinham no corpo fsico: eles se desatam, no se quebram."

    O DESLIGAMENTO DA ALMA SENTIDO PELO

    MORTO

  • O doutor Wiltse atravessou os portais da morte, mas,

    como no era a sua hora, voltou e contou aos presentes como o morrer:

    "Senti e ouvi o romper de inumerveis diminutos fios. Lentamente comecei a retirar-me a partir dos ps em direo cabea, e sa pelas suturas do crnio. Lembro-me distintamente como eu parecia ter a cor e a forma de uma gua-viva. Sa pela cabea, como se fosse uma bolha de sabo saindo do fornilho de um cachimbo, flutuei para cima, para baixo, para os lados, at que, finalmente, com imensa leveza, pousei no cho. Eu tinha o corpo de um homem, de aparncia translcida e meio azulada e estava totalmente nu.

    Ao virar-me, meu brao tocou o brao de um homem que estava parado junto porta; passei por ele sem a menor resistncia. Olhei para seu rosto imediatamente, mas me pareceu que ele nada percebera. Olhei para o meu corpo morto, deitado sobre a cama, meio tombado direita, os ps juntos, as mos cruzadas sobre o peito. A palidez de seu rosto tomou-me de surpresa.

    Tentei chamar a ateno das pessoas prximas ao leito para dizer-lhes que eu estava vivo, mas ningum

  • percebia a minha presena. Achei tudo to engraado que comecei a rir. Elas olhavam para algo que pensavam ser a minha pessoa. Mas no era. Eu no estava morto, estava "vivinho da silva". Quo bem me sentia! Alguns instantes antes eu estava muito doente. Da veio a mudana, que chamamos "morte", que eu tanto temia. Mas a morte veio e l estava eu, ainda um homem, pensando to claramente como antes, sentindo-me maravilhosamente bem. No mais adoeceria, no mais morreria..."

    O doutor Wiltse havia sido declarado morto pelo doutor Raynes, mdico que o atendera, e a notcia havia percorrido o vilarejo onde vivia. Os sinos da igreja j dobravam em respeito a seu passamento, quando, para espanto de todos os presentes em seu quarto, aps 30 minutos sem respirao detectvel, voltou vida fsica, pois, como ele prprio constatara, continuaria vivendo mesmo sem o corpo orgnico.

    Essa experincia foi um dos primeiros relatos detalhados da chamada experincia de quase-morte EQM.

    A EQM ocorre em casos em que o paciente tem morte clnica, ou seja, no tem batimento cardaco, no respira e o eletroencefalograma (EEG) no registra nenhuma atividade cerebral, podendo ocorrer tambm em conseqncia de acidentes ou em estado de coma. Casos

  • de EQMs vm sendo relatados com mais freqncia na atualidade por causa do aprimoramento de tcnicas de reavivao cardaca.

    A pessoa que tem uma experincia de quase-morte geralmente se v fora do corpo fsico, assim como relata o doutor Wiltse, percebe que est pairando no ar e observa abaixo o prprio corpo inerte sobre o leito, ou solo ou no carro, em caso de acidentes. Nessa condio, com plena conscincia e lucidez, ela v tudo o que se passa no local onde est. Observa, por exemplo, no caso de ter sofrido parada cardaca, mdicos tentando reavivada e posteriormente d detalhes precisos sobre os procedimentos utilizados e as conversas que ouviu entre os membros da equipe, para espanto destes, pois, segundo a medicina materialista, estando a pessoa inconsciente, seria impossvel ver ou ouvir qualquer coisa.

    Em muitos casos de EQM, os pacientes deixam o recinto onde esto, alguns viajam por um tnel em altssima velocidade e so levados a lugares espirituais, onde encontram entes queridos desencarnados ou seus protetores.

    Relatos descrevendo o processo de desligamento do perisprito semelhante descrio do doutor Wiltse sobejam na literatura sobre experincias de quase-morte.

  • Embora eu no tenha tido EQM, conheo pessoalmente a sensao do desligamento do perisprito por meio do desdobramento ou projeo astral, como este fenmeno tambm conhecido. Eu j o havia sentido algumas vezes antes de encontrar as passagens citadas por Andrew Jackson Davis e pelo doutor Wiltse.

    No desdobramento consciente, comum a instalao do chamado "estado vibracional". O estado vibracional um processo de vibrao interno que parece atingir todas as molculas do corpo. A funo do estado vibracional de desprender as molculas perispirituais das fsicas para facilitar a retirada do perisprito. A sensao de um formigamento generalizado em todo o corpo, mas que no desagradvel nem doloroso.

    O estado vibracional costumeiramente o precursor do desdobramento. A medida que o perisprito comea a deixar o corpo fsico (em minhas experincias, a retirada iniciou-se pelas extremidades dos ps), a vibrao vai cessando e possvel sentir a frieza e a rigidez nas partes de onde a energia perispiritual se faz ausente. Esse processo de frieza e rigidez a chamada catalepsia, qual se inclui tambm a diminuio dos batimentos cardacos e da respirao.

  • Esse tipo de desdobramento que experimentei abundantemente corroborado em relatos na literatura sobre as experincias fora do corpo. Iniciando-se pelas extremidades dos ps, o desdobramento vai-se dando em direo ascendente, at chegar cabea e retirar-se do corpo fsico.

    Nessa ordem, medida que a vibrao de um determinado rgo vai cessando - ps, pernas, coxas, quadris etc, esses rgos vo esfriando e entram em catalepsia (para que o leitor saiba, as mos e os ps so os primeiros rgos a esfriarem em algum que est prestes a desencarnar). Ao se retirarem, as "energias" espirituais que vitalizam as molculas, clulas e rgos vo se acumulando, juntando-se como uma bola de neve, e seguindo em direo cabea.

    Quando todo o corpo j est catalptico, a energia retirada fica momentaneamente acumulada na cabea, causando uma presso muito forte e um ruidoso zumbido. Apesar da presso e desse zumbido (s vezes mesclados com vozes, risos, msicas etc), as faculdades do pensamento e da conscincia permanecem intactas, isto , ainda somos capazes de pensar, de discernir e de tomar decises. Ainda estamos aptos a manter plena conscincia

  • da presena do corpo fsico, mesmo que este j esteja em estado catalptico total.

    Sabendo que o perisprito est prestes a se desdobrar do corpo fsico, possvel planejar, pelo pensamento e pela vontade, para onde nos dirigir assim que deixarmos o corpo fsico. E por esse processo que o "esprito" das pessoas que acabam de desencarnar aparecem, geralmente na mesma hora que morreram, a parentes ou amigos. Relatos sobre aparies vistas por parentes e amigos no exato momento em que seus entes queridos desencarnaram transbordam na literatura sobre o fenmeno.

    Em uma de minhas experincias de desdobramento consciente, eu quis visitar minha irm que mora em um bairro na Zona Norte da capital paulista. O tempo para percorrer os 6500 quilmetros que separam Miami da cidade de So Paulo, a partir do desdobramento, foi mais curto que um piscar de olhos. Bastou pensar "vou a casa dela", e vi-me no p da escada que leva porta de sua sala.

    Ciente de que estava fora do corpo e que podia atravessar objetos slidos, meti-me pela porta de madeira, atravessei-a como se estivesse escancarada e fui at o quarto onde dormia minha irm. E tal qual aprendemos no

  • Espiritismo, seu perisprito flutuava sobre seu corpo adormecido.

    Leve como uma penugem flutuei sobre sua cama e dei-lhe um gostoso abrao perisprito a perisprito; disse-lhe que havia vindo visit-la e trocamos algumas palavras, tudo isso na mais plena conscincia de minha condio fora do corpo, em total lucidez.

    Logo que amanheceu, por volta de sete horas da manh em Miami, telefonei para ela e perguntei-lhe se ela havia "sonhado" comigo, mas ela no se recordava de "sonho" nenhum.

    No desdobramento, a libertao do perisprito parcial, uma vez que segue conectado ao corpo fsico pelo cordo fludico e, findo o desdobramento, o perisprito volta sua "base", que o corpo fsico, pois seu trabalho na Terra ainda no est encerrado.

    VISUALIZANDO O RENASCER DO ESPRITO Na imagem seguinte vemos uma ilustrao artstica do

    perisprito afastando-se do corpo fsico. Nesse caso, a

  • retirada d-se pelo chacra ou centro de fora gstrico, tambm conhecido como plexo solar, na regio abdominal. Nas descries de Andrew Jackson Davis e do doutor Wiltse, sua retirada deu-se pelo centro coronrio, no topo da cabea.

    Segundo a literatura hindu, o desencarne pode ocorrer at mesmo pelo centro gensico, o mais primrio dos centros de fora, se a pessoa viveu uma vida muito promscua e imoral. Nesse caso, o perisprito do desencarnante estaria impregnado de vibraes grosseiras e isso impossibilitaria sua sada por meio de centros cujas vibraes so mais sutilizadas.

    Note o cordo fludico ligando os dois corpos. Uma vez

    rompido o cordo, o corpo fsico inicia sua decomposio e o perisprito ganha liberdade total. Aqui bom lembrar que

  • h casos semelhantes em que o esprito, geralmente aquele muito apegado ao corpo fsico ou algum que cometeu suicdio, pode permanecer junto a seus restos mortais e at mesmo sentir sua decomposio, como j temos visto na literatura esprita.

    Para relembrar o leitor, os chacras, que em snscrito quer dizer "rodas", so vrtices ou pequenos redemoinhos que captam energia do todo universal (energia vital ou csmica) e a redistribui tanto para nossos corpos energticos como para o corpo fsico.

    So sete os principais centros de fora do ser humano. Em direo ascendente, so eles: centro gensico (localizado na regio genital); gstrico ou plexo solar (na regio abdominal); esplnico (na regio do bao); cardaco (na regio do corao ou trax); larngeo (na regio da garganta); cerebral ou frontal (no centro da fronte, entre os olhos) e o coronrio (no topo da cabea), considerado o principal centro de fora.

    A imagem seguinte permitir ao leitor visualizar claramente a localizao desses centros de fora.

  • Observe o papel e o dinamismo do centro coronrio:

    no topo da cabea, o mais elevado dos centros de fora tem como manifestao fsica a glndula pineal, considerada a "antena" que conecta o ser humano encarnado com o mundo espiritual.

    Em seu livro Evoluo em dois mundos (psicografado por Francisco C. Xavier e Waldo Vieira), o Esprito Andr Luiz explica que o centro de fora coronrio exerce "influncia decisiva sobre os demais centros vitais, governando o crtice enceflico na sustentao dos sentidos, marcando a atividade das glndulas endocrnicas e administrando o sistema nervoso, em toda a sua

  • organizao, coordenao, atividade e mecanismo, desde os neurnios sensitivos at as clulas efetoras".*

    Ainda Andr Luiz, em Missionrios da luz, de Francisco C. C. Xavier, traz-nos o seguinte esclarecimento sobre a presena e o papel dos centros de fora na composio do ser humano. Diz ele:

    "Nosso corpo de matria rarefeita (sutil) est intimamente regido por sete centros de fora (coronrio, cerebral, larngeo, cardaco, esplnico, gstrico e gensico), os quais se conjugam nas ramificaes dos plexos e que, vibrando em sintonia uns com os outros, ao influxo do poder diretor da mente, estabelecem para nosso uso um veculo de clulas eltricas, que podemos definir como sendo um campo eletromagntico, no qual o pensamento vibra em circuito fechado".

    E o corpo que temos antes de nascer para a vida fsica e o que voltaremos a ter aps deix-la por ocasio da morte. E medida que o esprito vai evoluindo, esse corpo vai se tornando cada vez mais rarefeito, mais sutilizado, at chegar ao ponto em que deixar de existir, ficando apenas o esprito puro, livre de qualquer influncia material.

    O Espiritismo nos ensina que "na morte o Esprito se despoja do corpo fsico, mas no do segundo envoltrio, ao qual damos o nome de perisprito. Esse envoltrio

  • semimaterial, que tem a forma humana, constitui para ele um corpo fludico, vaporoso, que, embora invisvel para ns em seu estado normal, no deixa de possuir algumas propriedades da matria. O Esprito no , portanto, um ponto, uma abstrao, mas um ser limitado, ao qual falta apenas ser visvel e palpvel para ser igual aos seres humanos. (5)Bem, sabendo ento que emergiremos da morte vencedores, intactos e cheios de vida... para onde vamos depois dela?

    * Clulas efetoras so um tipo de linfcito (glbulo

    branco no sangue) que segregam anticorpos para combater corpos estranhos no organismo. (N.A.)

    6. PARA ONDE VAMOS DEPOIS DA MORTE Deleitava-me, agora, contemplando os horizontes

    vastos, debruado nas janelas espaosas. Impressionavam-me, sobretudo, os aspectos da natureza. Quase tudo, melhorada cpia da Terra. Cores mais harmnicas, substncias mais delicadas. Forrava