Morikawa,DevanirCabralLima

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO MÉTODOS CONSTRUTIVOS PARA EDIFICAÇÕES UTILIZANDO COMPONENTES DERIVADOS DA MADEIRA DE REFLORESTAMENTO Devanir Cabral Lima Morikawa Campinas, SP, 2006

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO MTODOS CONSTRUTIVOS PARA EDIFICAES UTILIZANDO COMPONENTES DERIVADOS DA MADEIRA DE REFLORESTAMENTO Devanir Cabral Lima Morikawa Campinas, SP, 2006

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO MTODOS CONSTRUTIVOS PARA EDIFICAES UTILIZANDO COMPONENTES DERIVADOS DA MADEIRA DE REFLORESTAMENTO Devanir Cabral Lima Morikawa Orientador: Prof. Dr. Mauro Augusto Demarzo DissertaodeMestradoapresentadaComissodeps-graduaodaFaculdadedeEngenhariaCivil,ArquiteturaeUrbanismodaUniversidadeEstadualdeCampinas,comopartedosrequisitosparaobtenodottulodeMestrenareadeconcentraoemArquitetura e Construo. Campinas, SP, 2006 i FICHACATALOGRFICAELABORADAPELABIBLIOTECADAREADEENGENHARIAEARQUITETURA-BAE-UNICAMP M825m Morikawa, Devanir Cabral Lima Mtodos construtivos para edificaes utilizando componentes derivados da madeira de reflorestamento/ Devanir Cabral Lima Morikawa.--Campinas, SP: [s.n.], 2006. Orientador: Mauro Augusto Demarzo Dissertao (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. 1. Edificaes.2. Casas de madeira.3. Construo de madeira.4. Madeira - Produtos.5. Industria madeireira.6. Reflorestamento.I. Demarzo, Mauro Augusto.II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo.III. Ttulo. TituloemIngls:Thebuildingmethodsforedificationsbyusingreforestationwood derivative components Palavras-chave em Ingls: Building methods, Wood reforestation, OSB plate rea de concentrao: Arquitetura e Construo Titulao: Mestre em Engenharia Civil Banca examinadora: Vitor Antonio Ducatti, Antonio Alves Dias Data da defesa: 30/08/2006 ii DEDICATRIA A famlia que me projetou, queridos pais e irmos. E aquela que projetei: Esposo Mauro Satoshi (co - orientador) E aos meus filhos Mara, Las e rico. Sendo Arquitetura, tem um dilogo benfico com a natureza. Sendo rvore, pareceque sempre esteve ali. Francisco J oo Castro iv AGRADECIMENTOS Famlia maior, Deus, Maria e J esus por este momento especial em minha vida. Aos companheiros de viagem: Em especial ao Professor Doutor Mauro Augusto Demarzo o condutor principal desta viagem, que atravs de seus conhecimentos transmitiu-me segurana e aprendizado, Aos colegas de trabalho do Centro Federal de Educao Tecnolgica de So Paulo pela colaborao e compreenso. Ao Centro Federal de Educao Tecnolgica de So Paulo pelo auxlio financeiro,. Aos Professores, Funcionrios e colegas da Ps Graduao da Universidade Estadual de Campinas pela cooperao e amizade, A todos aqueles que de alguma maneira colaboraram para a elaborao deste trabalho. Renovo meus laos de amizade e companheirismo, dedico a todos vocs esta mensagem: Quem ouve aprende, quem fala doutrina, um guarda, outro espalha. S aquele que guarda, na boa experincia, espalha com xito. Emmanuel v RESUMO MORIKAWA,DevanirCabralLima-Mtodosconstrutivosparaedificaesutilizando componentesderivadosdamadeiradereflorestamento,FaculdadedeEngenhariaCivil, ArquiteturaeUrbanismo,UniversidadeEstadualdeCampinas,SP,2006,Dissertaode Mestrado, 100p. No Brasil, a facilidade na obteno de madeiras nativas a baixo custo, ocasionou algumas conseqncias,entreelas,oatrasotecnolgiconaindstriadeprocessamentomecnicoda madeira. A atual escassez de madeira nativa, aliada s presses ecolgicas e de legislao mais rigorosa,ajudamnabuscadealternativasquesedirecionemnodesenvolvimentodeplantios silviculturais, provocando assim uma revoluo industrial na indstria madeireira, em particular, na de painis de madeira reconstituda. O objetivo deste trabalho realizar preliminarmente o levantamento do Estado da Arte dasedificaesemestruturademadeira,eavaliarqualitativamentemtodosconstrutivosque utilizam a chapa OSB (Oriented Strand Board), constituda de madeira de reflorestamento. O estudo em questo faz referncias do ponto de vista geogrfico, onde as habitaes em madeirasoavaliadas,analisadaseenfocadasemummbitoespacialqueoBrasil, especialmentenaregiosudeste.Comaanliseeinterpretaodosdados,apresenta-seum relatriodeestudodaartesobreadurabilidadeeeficinciadasedificaesemestruturade madeira e seus componentes. Comodesenvolvimentodestetrabalhoeanlisedenovosmateriaisecomponentes acredita-sequeaindstriamadereira,aindstriadaconstruoepesquisadoresreavaliemos tradicionais mtodos e processos construtivos em face das novastecnologias desenvolvidas para obteno de edificaes em curto prazo, com o mnimo de desperdcio, custos compatveis com os tradicionais, gerando edificaes de qualidade e conforto termo-acstico Palavras-chave: mtodos construtivos, madeira de reflorestamento, chapa OSB. vi ABSTRACT MORIKAWA,DevanirCabralLima-Thebuildingmethodsforedificationsbyusing reforestationwoodderivativecomponents,FacultyofCivilEngineering,Architectureand Urbanism, State University of Campinas, SP, 2006, Master Science Dissertation, 100 pages. The facility of obtains native woods at a lower price in Brazil brought as a result, among other things, the technological delay to processing wood industry. The current shortage of the nativewood,togetherboththeecologicalpressuresandrigorouslegislation,arehelpingthe search from alternatives that are going to the silviculturais plantation development, and one are causingsoanindustrialrevolutioninwoodingindustry,inparticular,ontherecycledwood plates.The objective of this work is both carrying out a survey of the Edification Arts State in the wood structure and to value quality building method which use OSB (Oriented Strand Board) from reforestation wood. This study takes geographical angle to reference, where the wood houses are valued, analyzed and is in focus at Brazilian space, especially in southeast. With the analysis and the interpretation, it shows an art report about the durability and efficiency from edifications in wood structure and your components. Withthedevelopingofthisworkandtheanalyzefromthenewbothmaterialsand components,onebelievesthatwoodindustry,thebuildingconstructionsandresearchers reconsider the traditional methodologies and the building processes in face to new technologies to obtaininshorttime,withtheminimalwaste,thecompatiblecostsincomparingwiththe traditional, creating so quality and acoustic-term comforting in edifications. Keywords: building methods, wood reforestation, OSB plate. vii SUMRIO pgina DEDICATRIA..............................................................................................................................iv AGRADECIMENTOS.....................................................................................................................v RESUMO.........................................................................................................................................vi ABSTRACT...................................................................................................................................vii LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................................ix LISTA DE TABELAS...................................................................................................................xii LISTA DE GRFICOS.................................................................................................................xiii 1. INTRODUO........................................................................................................................... 1 2. OBJ ETIVO.................................................................................................................................. 5 3. REVISO BIBLIOGRFICA.................................................................................................... 6 3.1 HISTRICO.......................................................................................................................... 6 3.1.1 Estado da arte das edificaes em estruturas de madeira....................................... 6 3.1.2 Construo industrializada de madeira................................................................. 16 4 MATERIAIS E MTODOS CONSTRUTIVOS....................................................................... 30 4.1 MATERIAIS UTILIZADOS............................................................................................... 30 4.1.1 Conceitos.............................................................................................................. 30 4.1.2 Propriedades e caractersticas da madeira............................................................ 31 4.1.3 O potencial das madeiras de reflorestamento....................................................... 33 4.1.4 A importncia do reflorestamento........................................................................ 38 4.1.5 Chapa OSB (Oriented Strand Board)................................................................... 48 4.2 MTODOS CONSTRUTIVOS.......................................................................................... 51 4.2.1 Wood Frame ......................................................................................................... 51 4.2.2 Madeira empregada.............................................................................................. 57 4.2.3 Casas com estrutura de madeira e paredes em OSB............................................. 59 4.2.4 Steel Frame........................................................................................................... 62 4.2.5 Edificaes em Steel Frame ................................................................................. 77 4.2.6 Projeto pioneiro em Bragana Paulista................................................................. 89 5. CONSIDERAES FINAIS.................................................................................................... 94 6. PROJ ETOS FUTUROS............................................................................................................. 96 7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................................... 97 LISTA DE FIGURAS Figura n 1 Casa de troncos (log house)........................................................................................7 Figura n 2 Detalhe interno da Casa de troncos (log house)..........................................................7 Figura n 3 Detalhe dos encaixes...................................................................................................8 Figura n 4 Diferentes tipos de conexes utilizados......................................................................8 Figuran5IgrejaortodoxaEslovquia/Ucrniacomplacasverticaisderevestimento (madeira)...........................................................................................................................................9 Figura n 6 Detalhe construtivo de peas de madeira longas.....................................................9 Figura n 7 Detalhe Construtivo de peas de madeira curtas...................................................10 Figura n 8 Detalhe trama estrutural revestida externamente na horizontal ou vertical..............11 Figura n 9 Sistema Balo............................................................................................................12 Figura n 10 Casa construda (Alemanha) no Sistema Balo......................................................12 Figura n 11 Sistema Plataforma.................................................................................................13 Figura n 12 (a) Montagem da base (piso) sobre o radier, (b) Amarrao das paredes internos e externos...........................................................................................................................................14 Figura n 13 (c) e (d) Montagem das paredes..............................................................................15 Figura n 14 (e) Montagem do telhado........................................................................................16 Figura n 15 Montagem de casa Schwaben da empresa Galastojas (Eslovquia)..................17 Figura n 16 Detalhe dos painis sanduche................................................................................18 Figura n 17 Painel de cobertura estressada................................................................................19 Figura n 18 Casa de madeira pr-fabricada................................................................................20 Figura n 19 (a) Detalhe interno e (b) Detalhe escada.................................................................21 Figura n 20 Detalhe externo.......................................................................................................22 Figura n 21 Detalhe das colunas e paredes.................................................................................22 Figura n 22 Casa em estrutura mista..........................................................................................24 Figura n 23 Casa pr-fabricada modelo Girassol...................................................................25 Figura n 24 Casa pr-fabricada modelo Papoula....................................................................25 Figura n 25 Casa de eucalipto do IPT.......................................................................................26 Figura n 26 Sistema Icoma.........................................................................................................27 ix Figura n 27 Sistema Pratica........................................................................................................27 Figura n 28 Prottipo (60m2) - Casa contempornea Brasileira, FEHAB 1999.........................28 Figuran29Prottipo(100m2)-CasacontemporneaBrasileira,FeiraCONSTRUIR 1999................................................................................................................................................28 Figura n 30 - Cadeia produtiva da madeira...................................................................................39 Figura n 31 Critrios para plantao florestal............................................................................45 Figura n 32 Chapas OSB (Oriented Strand Board)................................................................49 Figura n 33 Esquema do processo de fabricao de OSB..........................................................50 Figura n 34 - Condomnio Porto Primavera, Curitiba...................................................................52 Figura n 35 Detalhe de montagem das peas estruturais com a chapa OSB..............................52 Figura n 36 Detalhe do Radier.....................................................................................................54 Figura n 37 Detalhe da estrutura em Wood Frame......................................................................54 Figura n 38 Fechamento externo em OSB..................................................................................55 Figura n 39 Revestimento de siding............................................................................................55 Figura n 40 - Detalhe de Instalaes.............................................................................................56 Figura n 41 - Detalhe das esquadrias.............................................................................................56 Figura n 42 - Detalhe de piso de laje em OSB..............................................................................58 Figura n 43 Utilizaes da chapa OSB.......................................................................................60 Figura n 44 Wood Frame............................................................................................................62 Figura n 45 Steel Frame................................................................................................................62Figura n 46 Detalhe de montagem da estrutura em Steel Frame...............................................63 Figura n 47 Detalhe da cobertura tipo shingle............................................................................63 Figura n 48 Detalhe do siding....................................................................................................63 Figura n 49 Siding (vinil, alumnio, pvc ou madeira).................................................................64 Figura n 50 Siding (argamassa)..................................................................................................64 Figura n 51 Siding (tijolo vista)...............................................................................................65 Figura n 52 (a) e (b) Sequncia de montagem do Steel Frame..................................................66 Figura n 53 (c), (d) e (e) Sequncia de montagem do Steel Frame............................................67 Figura n 54 (f), (g) e (h) Sequncia de montagem do Steel Frame............................................68 Figura n 55 (i) Sequncia de montagem do Steel Frame...........................................................69 Figura n 56 Detalhe da utilizao dos perfis..............................................................................69 x Figura n 57 Detalhe do contraventamento em X em edificao de dois pavimento..................70 Figura n 58 Detalhe da estrutura do telhado...............................................................................70 Figura n 59 Corte esquemtico da parede..................................................................................71 Figura n 60 Esquema tpico da estrutura em Steel Frame..........................................................73 Figura n 61 Pelcula impermevel para cobertura......................................................................75 Figura n 62 (a) Detalhe externo da estrutura em ao..................................................................77 Figura n 63 (b) Detalhe externo e (c), (d) Detalhe interno da estrutura em ao.........................78 Figura n 64 (e), (f), (g) Detalhe interno da estrutura em ao......................................................79 Figura n 65 (h), (i) Detalhe interno e (j) Detalhe de instalaes................................................80 Figura n 66 (k), (l) Detalhe de instalaes e (m) Detalhe interno acabado................................81 Figura n 67 (n), (o), (p) Detalhe interno acabado.......................................................................82 Figura n 68 (q), (r), (s) Detalhe interno acabado........................................................................83 Figura n 69 (t), (u), (v) Detalhe externo.....................................................................................84 Figura n 70 (x), (y), (w) Detalhe externo acabado......................................................................85 Figura n 71 (z) Detalhe externo acabado.......................................................................................86 Figura n 72 Pizza Hut Restaurante Rua dos Pinheiros So Paulo.......................................89 Figura n 73 (a), (b) Edifcio Colina das Pedras em Steel Frame................................................90 Figura n 74 (c) Edifcio Colina das Pedras em Steel Frame......................................................91 xi LISTA DE TABELAS Tabela n 1 Desempenho das madeiras de reflorestamento.(Fonte: NBR7190/1997)................35 Tabela n 2 rea reflorestada com espcies de eucalipto e pinus no Brasil (ha) at 2000..........36 Tabela n 3 Exportao de produtos Florestais do Brasil............................................................40 Tabela n 4 Propriedades do OSB...............................................................................................59 Tabela n 5 Tabela de espessuras.................................................................................................59 Tabela n 6 Subsistemas, caractersticas e vantagens do Steel Frame........................................88 xii LISTA DE GRFICOS Grfico n 1 Distribuio mundial da cobertura florestal............................................................41 Grfico n 2 Ecossistemas Brasileiros.........................................................................................41 Grfico n 3 Florestas plantadas para uso industrial....................................................................42 Grfico n 4 Reflorestamento existentes no Brasil em 2000.......................................................43 Grfico n 5 Produtividade de florestas de folhosas....................................................................44 Grfico n 6 Produtividade de florestas de conferas...................................................................44 xiii 1. INTRODUO A madeira representa para o Brasil um recurso abundante e renovvel, com espcies de rpido crescimento, abrigando uma das maiores reservas florestais do mundo, sendo o 4 maior produtordeprodutosflorestaiseo14emexportaesnorankingmundial.Apresentando qualidades, como fcil trabalhabilidade, possibilidade de projetos altamente racionalizados que podem ser pr-fabricados, compostos de componentes para simples montagem no canteiro, at modelostridimensionais,amadeira,nosetordaconstruocivilnocenriomundialtem apresentadograndeinteresseemsuautilizao,principalmentepeloseualtopotencial sustentvel. Um dos caminhos que pode ser visualizado o incentivo ao uso de materiais base de fontesrenovveis,umdelesamadeiradereflorestamento,que,emcomparaoaoaoeo concreto, representa uma alternativa mais vivel do ponto de vista ambiental. A madeira um importanteexemplodeimplantaodebiotecnologiaspreventivas,ouseja,tecnologiaque substitua materiais de alto impacto ambiental (MOREIRA, 1999). Amadeiradesempenhaumimportantepapelnoestoquedecarbono,e,porrequerer menor consumo energtico em seu processamento, contribui para reduzir a emisso de gases que contribuem ao efeito estufa (CO2) - indicador importante para classificao dos materiais em relao ao impacto ao meio ambiente. Outro aspecto relevante a possibilidade de reutilizao ou reciclagem do material, no final do processo de produo, ou mesmo em cada uma das etapas da cadeia produtiva, resultando na menor quantidade de resduos slidos produzidos. A utilizao da madeira como produto da construo civil amplamente difundida no exterior, principalmente nos pases do Norte Europeu, Estados Unidos, Canad e J apo, e sua 1utilizao est baseada em processos industriais consolidados, os quais asseguram a qualidade desde a matria prima at o produto final (BITTENCOURT, 1995). A histria dos EUA mescla-se com o desenvolvimento de um sistema construtivo em madeiradenominadoBallomFrame,quetevegrandeimportncianaconquistadooeste americano. Segundo GIEDION (apud ARAKAKI, 2000), desde Chicago at o Pacfico tanto nas regiesdepradariascomonasgrandescidades,noapareciamcasasnaproporocomo apareceramsenofossemporestetipodeconstruo.SegundoBENEVENTE(1995),os Estados Unidos em 1995 apresentava 80% das casas em madeira. Em relao ao Brasil, CRUZEIRO (1998) coloca que o uso reduzido do material pode ser explicado pela falta de tradio, caracterizado por aspectos histricos. O pas foi colonizado pelos portugueses cuja cultura construtiva baseava-se na utilizao de materiais como pedra ou terra (adobe e taipa). Existe um aspecto muito importante no emprego da madeira: a energia solar responde pela formao da madeira, e a usinagem requer baixo consumo energtico. Em relao questo energtica, KOCH, citado por BENEVENTE (1995), apresenta um estudo comparativo sobre o acrscimo de consumo energtico e dixido de carbono na atmosfera devido substituio da madeira por outros materiais de construo. NaEuropa,50%damadeiradisponveldestinadaconstruocivil.Em1999,o Brasil apresentou um de seus maiores volumes de vendas, incluindo madeiras brutas, serradas e industrializadas, sendo um total de US$ 1,39 bilho, o que representa um volume de exportaes de 52,3% em relao ao ano de 2001. Um dos fatores que levaram a essa alta foi a desvalorizao cambial e o incentivo do governo e de vrias instituies privadas, visando orientar e preparar as empresas para a exportao. As novidades inseridas no mercado esto permitindo a construo de casas de madeira cada vez mais sofisticadas. A construtora gacha Modern Homes (2002) lanou a primeira casa do pas com a utilizao de painis OSB (Oriented Strand Board). 2A casa foi construda atravs do mtodo "wood frame" (ou estrutura de madeira), que trsvezesmaisrpidodoqueousualeutilizavriosprodutosemumamesmaestrutura.A parede um sanduche de isopor, OSB, l de vidro, madeira e gesso acartonado. Para erguer a construo da residncia so necessrios apenas quatro homens trabalhando no perodo de 70 dias. Entreasvantagensdestemtodoconstrutivo esto: preo competitivo, consistncia e qualidadeuniforme,ausnciadeespaosvaziosnointerior,denssoltosouquebradosede laminao. Tambm h o total aproveitamento da placa alm de ser resistente a impactos e ao fogo e possuir propriedades de isolamento termo-acstico. Essa metodologia de "obra seca no exige manipulao de cimento e gua, e suas obras se reduzem montagem de componentes modulares que chegam da fbrica nas quantidades e dimenses exatas. As instalaes eltrica e hidrulica so executadas de forma industrial: elas so "embutidas" nos mdulos, que tm espao reservado para tanto, feita, concomitantemente ao levantamento das paredes, como nos edifcios erguidos de maneira industrial. Um dos mtodos construtivos que est se impondo com grande rapidez no mercado por conta principalmente desta flexibilidade o steelframe, uma estrutura de perfis leves de ao galvanizado com divisrias internas de gesso acartonado. Algumas empresas estruturam a laje de pisocompainisdeOSB(placasdefibrasorientadas),leveseresistentes,quetambmso empregados no fechamento, e usam telhas do tipo shingle (telhas mais longas e com encaixes), alm de instalaes hidrulicas de polietileno reticulado. De acordo com CEOTTO (2005), a construo civil responde por uma fatia expressiva doPIBbrasileiro16%,masonicosetordaeconomianacionalqueaindanose industrializou. Algunsanosatrs,ossetoresqueresistiamindustrializaonoBrasilerama agricultura, o txtil e a construo civil. A agricultura se modernizou e hoje responsvel pelo supervitdabalanacomercialbrasileira,osetortxtilconseguiupreosinternacionalmente 3competitivosehojeexportaseusprodutos,jaconstruocivilcontinuautilizandomtodos arcaicos e ultrapassados, lembra CEOTTO (2005). A necessidade de inovao tecnolgica no est relacionada apenas construo de mais habitaes.Segundoogovernofederal(2005),oBrasiltemumdficitde5,4milhesde habitaesurbanas.Noentanto,nasregiescentraisdascidadeshcercade4,6milhesde habitaes vagas, que poderiam voltar a serem ocupadas. Na Europa, cerca de 60% das atividades da construo civil esto direcionadas para a recuperaodeimveis.Apesardeserumatendnciamundial,apenas5%dasconstrutoras brasileiras atuam neste mercado. SegundoAGOPYAN(2005),asconstrutorasbrasileirasnoperceberamquea recuperao de reas degradadas um filo de mercado, e, se no acordarem em tempo, essas oportunidades podero ser exploradas por grupos estrangeiros. De acordo com o pesquisador, a sociedadeestexercendofortepressoparaaconstruocivildiminuiroimpactodesuas atividades no meio ambiente. Nesse contexto, a inovao tecnolgica, seja em mtodos ou produtos, um elemento estratgico no s para o desenvolvimento do setor como do prprio pas. A construo civil est diante de uma grande oportunidade de avano; caber ao setor decidir por qual caminho ir trilhar, diz CEOTTO (2005). No desenvolvimento deste trabalho, ns realizamos no Condomnio J ardim das Paineiras em Cotia So Paulo, construdo pelo mtodo steel frame, uma avaliao tcnica por observao; fizemosentrevistascomosusurios;pesquisascomfabricanteseconstrutorasobjetivandoa apresentao de relatrio que relacionasse indicativos de manuteno, recomendaes de projeto e produo, e que concluisse com uma avaliao qualitativa dos mtodos e sistemas construtivos envolvidos. 4 2. OBJETIVO O objetivo desta pesquisa o de fazer preliminarmente o levantamento do Estado da Artedas edificaes em estruturas de madeira. A partir da, elaborar uma avaliao qualitativa dos Mtodos Construtivos que utilizam a Madeira de Reflorestamento. 5 3. REVISO BIBLIOGRFICA 3.1 HISTRICO 3.1.1 Estado da arte das edificaes em estruturas de madeira Autilizaodamadeiranaconstruodecasaspermitiuaevoluodastcnicasde montagem, culminando na industrializao de componentes ou de casas inteiras. O uso da madeira na construo tem suas razes histricas plantadas na Pr-Histria. As tcnicas evoluram durante a Antiguidade, em vrias civilizaes, passaram pela Idade Mdia, assistiram ao nascimento do capitalismo e chegaram at os dias atuais incorporando inovaes proporcionadas pela indstria. Na Idade Mdia, a madeira passou a ser utilizada mais sistematicamente, tornando-se o material de construo mais usado na Europa e dando origem a diversas formas de construo. Os sistemas construtivos artesanais da Idade Mdia serviram como base de desenvolvimento para as prticas construtivas recentes e estas, para a industrializao das construes em madeira. DeacordocomROSRIO(1996),historicamente,entreosmtodosmaisutilizados durante a Idade Mdia Europia encontram-se: 6-Log-house(Casadetroncos)-Consistedetroncoscilndricosouaplainados(Pinho Nrdico ou Abeto), vide Figuras n 1 e 2, empilhados horizontalmente e encaixados nos cantos(Figuran3).Asparedespossuemfunoportante,separaodeambientese isolao ambiental. s frestas so preenchidas com adobe para evitar infiltraes. um tipo de construo muito utilizada em reas rurais na Rssia, na Europa Central, pases escandinavos, e na Amrica do Norte. Figura n 1 Casa de troncos (log house). (Fonte www.logdomus.pt - acesso em 20/05/2005). Figura n 2 Detalhe interno da Casa de troncos (log house). (Fonte www.logdomus.pt - acesso em 20/03/2005). 7 Figura n 3 Detalhe dos encaixes. (Fonte www.logdomus.pt - acesso em 20/03/2005) -Casasestruturadasemmadeira-Tcnicaartesanalqueexigeapresenade marceneirosespecializadosnaconstruo.Aestruturadascasascompostadepanos portantesfeitosdepeasdemadeira,montadoscomdiferentestiposdeencaixese conexes(Figurasn4e5).Ovaziodoesqueletopreenchidoposteriormentecom alvenaria,adobeoumadeiramacia.umtipodeconstruorpidaeflexvel, possibilitando vrias solues e diversos andares. Ao final, a estrutura pode ser aparente ou revestida, ficando semelhante s edificaes de alvenaria. Figura n 4 Diferentes tipos de conexes utilizados. (Fonte: Rosrio, L. C., 1996). 8 Figura n 5 Igreja ortodoxa Eslovquia/Ucrnia com placas verticais de revestimento (madeira). Fonte: Rosrio, L. C., 1996. -Peas longas - A estrutura feita por montantes (peas verticais) que sobem contnuos da fundao at o telhado (Figura n 6). As peas horizontais so encaixadas entre si e os montantes, por conexes. O sistema apresenta o inconveniente de ser pesado, demandar troncos de grandes comprimentos, dificuldade de montagem entre as peas verticais e as peas horizontais de suporte do piso, difcil adaptao a lugares estreitos e limitaes para a construo em diversos nveis. Figura n 6 Detalhe construtivo de peas de madeira longas. (Fonte: Rosrio, L. C., 1996). -Peascurtas-Ascolunasdoscantosnopossuemalturamaiorqueumandarese interrompem a cada nvel, para a colocao das vigotas de suporte do piso (Figura n 7). 9Esta uma construo mais leve que a anterior, e os encaixes entre as peas horizontais e verticaisformamumesqueleto.Possuitambm a vantagem de poder utilizar peas de menorcomprimento,menosretasemaisfcildetransportar.Essasduasvariaesde casas com estrutura em madeira so muito similares aos sistemas em trama de madeira (ou sistema 2x4), hoje utilizados na Amrica do Norte e na Europa. Figura n 7 Detalhe Construtivo de peas de madeira curtas. (Fonte: Fonte: Rosrio, L. C., 1996). -Trama de madeira - Desenvolvida na Amrica do Norte, a tecnologia muito utilizada na construo de casas de madeira. As peas de madeira provenientes de serraria possuem uma seo mais reduzida (geralmente 2cm x 4cm ou 5cm x 10cm) e servem como base de apoio para as placas de recobrimento das paredes, suporte para os pisos, tetos e telhados. Aspeassopregadas,coladas,grampeadasouparafusadasentresi,dispensandoa presena de marceneiros especializados. Inicialmente, a trama estrutural (Figura n 8) era revestida apenas exteriormente por pranchas de madeira serrada.10

Figura n 8 Detalhe da trama estrutural revestida externamente na horizontal, vertical ou diagonal. (Fonte: Rosrio, L. C., 1996). Comodesenvolvimentotecnolgico,orevestimentoexternoseaperfeiooueas construespassaramarecebertambmrevestimentoeacabamentointerior(placasde compensado, de partculas de madeira aglomeradas, Wafferboard, OSB, placas de gesso, entre outros) e isolamento trmico entre as duas faces (l mineral, l de vidro, espuma de poliestireno e poliuretano, l vegetal, entre outros) como resultado de uma maior preocupao com o conforto ambiental. A construo em trama de madeira possui verses: -SistemaBalo(ouBalloonFrame)-Baseia-senosistemade"peaslongas",mas incorpora pregos no lugar de encaixes e peas com sees mais reduzidas, produzidas em serrarias.Nessetipodeconstruo,oselementosverticaisexternos(montantes),es vezes tambm os elementos internos, vindos da viga de base, so contnuos, passando pelo piso e terminando na prancha de suporte dos caibros da cobertura (Figuras n 9 e 10). Os montantes e as vigotas de piso trreo apiam-se na prancha de fundao e na viga central.Asvigotasdepisodosegundopavimentosopregadasnosmontantese suportadas numa prancha interna localizada na face interna dos montantes internos. Nesse tipo de construo, no existe, entre os montantes, nenhuma prancha horizontal de suporte para as paredes, e o espaamento entre os montantes no ultrapassa 60 cm.11-As caractersticas do "BalloonFrame" no permitem pr-fabricao da construo e a tornammaisdifcildesermontadanocanteiro de obras. Por outro lado, esse sistema minimizaasmudanasdimensionaisemconseqnciadaalturadasparedes,sendo preferido, portanto, quando a parede exterior feita em alvenaria. Figura n 9 Sistema Balo. (Fonte: Rosrio, L. C., 1996). Figura n 10 Casa construda (Alemanha) no Sistema Balo. (Fonte: Rosrio, L. C., 1996). Sistema Plataforma similar ao sistema de "peas curtas". Da mesma maneira que o Sistema Balo, as peas possuem dimenses mais reduzidas e so pregadas entre si.12Neste sistema, os montantes possuem a altura de um pavimento e as vigotas de piso so montadas independentementedasparedes(Figuran11).Dessaforma,criadaumaplataformaacada nvel de piso, onde as paredes e parties podem ser montadas e erigidas: o entramado de parede pode ser montado no piso do canteiro e erguido at o lugar de destino. As paredes so conectadas ao piso e cobertura por pranchas de base e de topo. Essas pranchas, componentes do entramado de parede, tambm so o suporte dela no recobrimento e no acabamento. O sistema plataforma consome maior quantidade de madeira que o Sistema Balo, mas as suas caractersticas permitem a pr-fabricao das paredes fora do canteiro de obras, propiciando uma economia considervel no custo final da construo. Os dois sistemas, relativamente simples, mas com o predomnio do Plataforma,empregammateriaisleves,norequeremumaequipedetrabalhoaltamente especializada e, conseqentemente, podem ser executados por pequenas empresas. Normalmente, a trama estrutural no pr-fabricada e a maior parte do trabalho de montagem, como pregar e erguer as paredes, feita no canteiro de obras. O mais importante que, por ser um sistema de construo a seco, ou seja, que no demanda gua durante a montagem das paredes, o trabalho contnuo e a construo se torna mais rpida. Figura n 11 Sistema Plataforma. (Fonte: Rosrio, L. C., 1996). 13Seqncia da montagem do Sistema Plataforma (Figuras n 12, 13 e 14): (a) (b) Figura n 12 (a) Montagem da base (piso) sobre o radier. (b) Amarrao das paredes internos e externos. Fonte: www.compensadosboqueirao.com.br/manual.htm - acesso em 13/07/2005. 14 (c) (d) Figura n 13 (c) e (d) Montagem das paredes.(Fonte: www.compensadosboqueirao.com.br/manual.htm - acesso em 13/07/2005. 15 (e) Figura n 14 (e) Montagem do telhado. (Fonte: www.compensadosboqueirao.com.br/manual.htm - acesso em 13/07/2005. 3.1.2 Construo industrializada de madeira Segundo ROSRIO (1996), a industrializao das casas de madeira desenvolveu-se a partir do Sistema Plataforma, nos pases da Amrica do Norte e da Escandinvia, onde o uso maisdifundidoeguardousuascaractersticasoriginais,demaneiraqueapr-fabricaose restringe ao material bsico (peas de madeira e painis de revestimento), sendo a maioria das casaserguidamanualmente.NaEuropaOcidental,aconstruo"insitu"maisraraea industrializao da construo em madeira, mais comum. Os tipos de construo industrializada diferem um do outro em funo das diferentes maneirasemqueasparedessofabricadas,etambmpelograudeindustrializaoquea construo recebe na fbrica. Conforme o tamanho das peas, a construo pode ser liberada, na fbrica, em mdulos pequenos (painis de parede cujo comprimento varia de 1,20 m a 1,80 m e 16altura entre 2,50 m e 3,25 m) ou mdulos grandes, quando metade ou o total do comprimento da parede produzido em usina. Este ltimo tipo demanda o uso de guindastes no canteiro de obras. A construo pode ser liberada em mdulos tridimensionais: trs ou quatro "volumes" saem da fbrica completamente prontos, inclusive com acabamentos, e so apenas fixados na obra. Em uma variao, a construo uma mistura do Sistema de Mdulos e do Sistema de Elementos(pequenosegrandes).Aspartesmolhveisdaconstruo(banheirosecozinhas) formam uma unidade fechada nica, e a construo se desenvolve ao seu redor, por meio da montagem dos demais componentes. Em um outro tipo de variao, conhecido como Sistema por Dobradura, os painis so montados em elementos tridimensionais (parede, piso e telhado), dobrados em forma de pacotes e assim transportados at o canteiro, onde o pacote desdobrado por um guindaste e colocado no lugar, junto com as outras unidades do edifcio (Figura n 15). Figura n 15 Montagem de casa Schwaben da empresa Galastojas (Eslovquia). (Fonte: Rosrio, L. C., 1996). OtipodeisolamentofeitopeloSistemaSanducheconsistedeumpainelestrutural composto de um ncleo de isolamento leve (espumas de poliestireno ou poliuretano, entre outros) 17com alta resistncia transmisso de vapor d'gua, laminados entre duas faces finas e fortes - geralmente madeira compensadas ou aglomerados. Freqentemente faixas de madeira so colocadas ao longo do permetro para reforar o ncleo e facilitar a montagem junto dos painis rgidos, o que permite obter uma camada isolante sem descontinuidade. Os painis-sanduche so mais leves que outros tipos e o ncleo de espuma umbomisolantetrmico,massomaiscarosedevemserpr-fabricadosindustrialmente (Figura n 16). Figura n 16 Detalhe dos painis sanduche.(Fonte: www.casasprefabricadas.net - acesso em 13/07/2005) A tecnologia dos stressed skin panels (Figura n 17) classificada entre os sistemas de mdulospequenos.Elasebaseianasubstituiodoentramadodemadeiradasparedespor painis pr-fabricados, feitos geralmente de peas de madeira montadas em uma estrutura em forma de caixa. Ospainissocompostosdeumatramainterna,comelementoshorizontais (encabeadores nas extremidades e bloqueadores no centro), verticais (montantes) e a prpria 18cobertura.Osencabeadoresebloqueadoresservemparaalinharosmontantes,suportara cobertura e ajudar a distribuir cargas concentradas. Figura n 17 Painel de cobertura estressada. (Fonte: Rosrio, L. C., 1996). A cobertura pode ser feita de diferentes chapas derivadas de madeira, como laminadocompensado, chapas de partculas aglomeradas, OSB (OrientedStrandBoard), entre outros. Os painis podem apresentar, ou no, isolamento trmico internamente. A largura normal dos painis fica em torno de 1,20 m e a espessura e altura dependem do uso pretendido. Ospainissoconectadosentresinocanteirodeobraspormeiodeumsarrafode madeira,pelosistemamacho-fmeaouporpregos,parafusos,entreoutros.Finalmente,os elementos estruturais so completados por carpintaria tradicional, o mesmo acontecendo com as portasejanelas.Notopodospainiscolocadaumapranchademadeira,queservepara distribuir as cargas provenientes da cobertura ou dos pavimentos superiores, como no Sistema Plataforma. Os stressed skin panels so pr-fabricados, o que permite uma considervel reduo do tempodetrabalhodaconstruo.Podemsermanejadoseposicionadosnaobracomrelativa facilidade, propiciando maior velocidade ao trabalho. A etapa de montagem pode ser realizada por uma equipe reduzida, sem a necessidade de mquinas pesadas. 19No Brasil, a industrializao est longe de ser completa, mas j visvel o ingresso dos kitsdeconstruo,amaioriadelesdeorigemnorte-americana.Asempresasbrasileirasj integramummovimentodenacionalizaodessessistemasconstrutivosetentamvenceras muitas barreiras apresentadas pelo mercado nacional - barreiras tcnicas, econmicas e culturais. O modelo para a industrializao norte-americano (nos EUA e Canad, a grande parte das casas so pr-fabricadas). Ou seja, o sistema mostra competncia em um mercado exigente. No processo americano, as casas so compradas em catlogo e a construtora providencia o kit pronto (Figuras n 18, 19, 20 e 21). A montagem feita com o nmero determinado de itens de cada componente: Em um canteiro com pr-fabricados no h mistura nem desperdcio de materiais. Isso d uma previsibilidade total dos custos e completo controle sobre a obra. Para chegar a esse estgio, a empresa e seus fornecedores tm de conhecer os padres dos sistemas em detalhes. Algumas empresas avanaram muito nesse ponto, mas, no geral, ainda falta alguma coisa, planejamento e estratgia de produo ou de projeto, diz THOMAZ (2000), pesquisador da Diviso de Engenharia Civil do IPT. Figura n 18 Casa de madeira pr-fabricada. (Fonte: www.ns2000.com.br - acesso em 04/02/2005). 20 (a) (b) Figura n 19 (a) Detalhe interno e (b) Detalhe escada.(Fonte: www.ns2000.com.br - acesso em 04/02/2005). 21 Figura n 20 Detalhe externo. (Fonte: www.ns2000.com.br - acesso em 04/02/2005). Figura n 21 Detalhe das colunas e paredes. (Fonte: www.ns2000.com.br - acesso em 04/02/2005). 22 Umacaractersticadaconstruoindustrializadaadeterminaodecadapassodo processo construtivo ainda na fase de projeto, sem que possa haver alteraes com a obra em andamento. "O projeto deve estar bem especificado, pois o sistema integrado e mudanas em algunsdetalhesalteramtudo.Mas,arquitetnicaeconstrutivamente,aspossibilidadesso grandes, afirma MARIUTTI (2000), arquiteto da Construtora Seqncia. Paraqueosprojetossejamlevadosrisca,amo-de-obrautilizadadeveser especializada.Porisso,asconstrutorasouasempresasresponsveispelainstalaodecada sistemaadotamtrabalhadorestreinados.Ocustoportrabalhadoraumenta,masogrupo reduzidoetrabalhamenostempo,jqueaobramaisrpida,tornando-seinsignificantea diferena em gastos com pessoal, em comparao com os mtodos tradicionais. O mesmo no acontece com os materiais, pelo menos nesse momento. Como a demanda ainda pequena, os fabricantes tm de elevar o preo do produto ou, em alguns casos, arcar com os custos do material importado. Uma soluo adotada pelas empresas para diminuir esse efeito aumentar a escala de produo,masonicomeiovivelfazervriascasasevend-lasdepois.Opreosfica acessvelquandoenvolvemmaioresvolumes(porexemplo:apartirdecincounidadesas residncias passam a ter um valor competitivo). Arquitetonicamente, muitas casas tm um "estilo estrangeiro"; isso no significa que no existam outras possibilidades. Como forma de contornar a resistncia do mercado brasileiro, as empresas esto partindo para duas solues. A mais comum oferecer sistemas industrializados que imitam alvenaria; outra adotar sistemasmistos,incorporandomateriaiscomotijolosdebarro,ouetapasnoindustriais,em partes da edificao (Figura n 22). No h restries tcnicas para isso, tanto que alguns sistemas j pressupem o uso arquitetnico de alvenaria ou lajes moldadas in loco, diz THOMAZ (2000). 23 Figura n 22 Casa em estrutura mista. (Fonte: www.reidascasas.com.br/fcasas.htm - acesso em 18/08/2005). Uma soluo tradicional so as casas pr-fabricadas de madeira mostradas nas Figuras n 23e24,queemalgumascidadessofrempreconceitopelasupostafaltadedurabilidadeede segurana, de acordo com FRANCO (2000), pesquisador da Diviso de Produtos Florestais do IPT. 24 Figura n 23 Casa pr-fabricada modelo Girassol. (Fonte: www.reidascasas.com.br/fcasas.htm - acesso em 18/08/2005). Figura n 24 Casa pr-fabricada modelo Papoula. (Fonte: www.reidascasas.com.br/fcasas.htm - acesso em 18/08/2005). 25AcasadeeucaliptodoIPT/IEE(Figuran25)foiconstruda(1995)paraadaptaro sistema norte-americano "lightframeconstruction" ao Brasil. O eucalipto do tipo grandis foi escolhido por ser reflorestado e permitir a industrializao. Antes da montagem dos painis, a madeirapassaporumatanalizao,tratamentoparadeix-laresistenteainsetosxilfagose impermevel a gua. Figura n 25 Casa de eucalipto do IPT. (Fonte: www.usp.br/jorusp/arquivo/1999/jusp482/manchet/rep_res/rep_int/pesqui3.htmlAcesso em 18/07/2005). Asconstruesemmadeirasomaisutilizadasnapraiaenocampo,ouseja,como "segunda casa". A desconfiana com relao durabilidade inibe os consumidores a adotarem a madeira como material para a moradia principal, exceo do sul do pas por causa da cultura trazida pelos imigrantes alemes e poloneses. Um sistema adotado por empresas como a Icoma (Figura n 26) e Casa Prtica (2000), vide Figura n 27, usam placas de concreto pr-moldado. Mais simples, o mtodo possui painis e peasdeencaixeemconcretoarmadocomEPS(isopor)emseuinterior,oquedmaior isolamentotrmico.Oacabamentodacasapodeserfeitocommateriaistradicionaisou industrializados. O sistema no permite o uso de paredes curvas, segundo Luiz Roberto Kzan (2000), diretor tcnico da Icoma. 26 As construtoras vendem as casas prontas ou disponibilizam um catlogo de projetos para os consumidores. A mo-de-obra especializada e fornecida pelas empresas. Como nas casas de madeira, as construes em concreto pr-moldado so mais utilizadas para veraneio, embora o mtodotenhasedesenvolvidobastanteemhabitaespopularesnosanos70e80dosculo findo.

Figura n 26 Sistema Icoma. (Fonte: www.bswcorp.com.br - acesso em 18/07/2005).

Figura n 27 Sistema Pratica. (Fonte: www.casapratica.com.br - acesso em 18/07/2005). Para mostrar ao pblico o desempenho e as possibilidades da construo industrializada, a empresadeConsultoriaSomaidealizouoquevemsendochamadadeCasaContempornea Brasileira(CCB).Oprottipo(Figuran28)deumaunidadequeincorporavriassolues 27tcnicas foi exposto pela primeira vez na FEHAB (10 e 14 de maio de 1999) e na feira carioca CONSTRUIR (24 a 28 de novembro de 1999) conforme Figura n 29. A idia inspirada na "New American Home", criada em 1984 pela National Association of Home Builders. Nessa feira, a CCB foi erguida em cinco dias, teve dois pavimentos com salas de estar e jantar, dois quartos, banheiro, cozinha, rea de servio e garagem para um veculo, dispostos em 100 m2. Figura n 28 Prottipo (60m2) - Casa Contempornea Brasileira, FEHAB - 1999. (Fonte: www.arcoweb.com.br - acesso em 08/03/2005). Figura n 29 Prottipo (100m2) - Casa Contempornea Brasileira, Feira CONSTRUIR, 1999. Fonte: Revista Tchne n 44 (2000). 28 NoBrasil,ascasasindustrializadastmseugrandepblico,atualmente(2004),nas classesmdiaealta.Masessaumasituaoatpicanocasodeprodutospadronizados.A tendnciadequeaproduoemmaiorescalaresultenareduodecustoseossistemas atendam justamente s faixas populares. Como uma das vantagens construir vrias unidades em pouco tempo, o Brasil possui um dos maiores mercados para a construo pr-fabricada, justamente para habitao popular. Entretanto, exatamente esse fato que denigre o material, pois d a sensao que, pelo uso social, a madeira um material de qualidade inferior. Segundo as empresas envolvidas na construo industrializada, o processo caro, em boa parte, pelo gasto em materiais importados como a chapa OSB e a pelcula impermevel. Se criada uma demanda, os materiais passariam a ser produzidos aqui, barateando a casa. Um problema para o uso de sistemas industrializados na habitao popular a falta de certificao dos materiais. Por falta de iniciativa das empresas, no so feitos ensaios e no h conhecimento do desempenho de muitos componentes dos sistemas, tornando difcil a aprovao dosmtodospelosprogramashabitacionais.Asempresasargumentamqueosrgos responsveis por esses programas so conservadores por que a lei estaria defasada e ignoraria as diferenas entre os mtodos pr-fabricados e as especificaes de cada um. Sistemas industrializados j foram utilizados para a construo de casas populares no final de1970enoinciode1980porincentivodoBNH(BancoNacionaldaHabitao).Coma extinodoprogramaem1986,diversasconstrutorasdosetorfecharameoutraspassarama construir casas para a classe mdia-alta, sobretudo de veraneio. 29 4 MATERIAIS E MTODOS CONSTRUTIVOS 4.1 MATERIAIS UTILIZADOS 4.1.1 Conceitos De acordo com CSAR (2002), os conceitos de sistemas construtivos empregados de uma forma direta ou indireta de tcnica, mtodo, processo e sistema construtivo, corno tambm desubsistemas,elementosedecomponentes,verifica-seanecessidadedeapresentarestes conceitos, para ento abordar os mtodos construtivos utilizados. SABBATINI(1989)conceituatcnica,mtodo,processoesistemaconstrutivocomo sendo: -Tcnica Construtiva - um conjunto de operaes empregadas por um particular oficio para produzir parte de uma construo; -MtodoConstrutivo-oconjuntodetcnicasconstrutivasinterdependentese adequadamenteorganizadas,empregadonaconstruodeumaparte(sub-sistemaou elemento) de uma edificao; -ProcessoConstrutivo-umorganizadorebemdefinidomododeseconstruirum edifcio. Um especfico processo construtivo caracteriza-se pelo seu particular conjunto de mtodos utilizados na construo da estrutura e das vedaes do edifcio; -Sistema Construtivo - um processo construtivo de elevados nveis de industrializao e deorganizao,constitudoporumconjuntodeelementosecomponentesinter-relacionados e completamente interligados pelo processo. 30Para sub-sistema, elemento e componente, adotou-se os conceitos da ISO 6241 (1984), a qual coloca como sendo: -Sub-Sistemaapartedeumedifciocompostadevrioselementosconstrudos, preenchendoumaouvriasfunesnecessriasaocumprimentodasexignciasdo usurio; -Elemento-oconjuntodecomponentesutilizadosjuntamente,montados,fixadose acabados no canteiro; -Componente-oprodutomanufaturadoemunidadesdepr-fabricaocomouma unidade distinta para servir a uma funo especfica ou vrias funes. Em relao ao conceito de Material, segundo o ConseilInternacionalduBtiment (CIB-1972), o termo Material se aplica para materiais misturados que adquirem sua forma final e caractersticas quando moldados e aplicados. Um material sempre ter muitos tipos de uso. A partir destes conceitos tm-se subsdios para melhor entendimento do que vem a ser abordado em termos de mtodos construtivos empregados nas edificaes de madeira. 4.1.2 Propriedades e caractersticas da madeira A madeira um material higroscpico (absorve gua ou umidade). Para as condies locaisdeumidaderelativadoaredatemperaturaambiente,elaapresentaumcoeficiente conhecido como Umidade de Equilbrio (EquilibriumMoistureContent). Devido variao de umidadeexistemmudanasnaturaisdasdimenses, provocando o fenmeno conhecido como "trabalho"damadeira.Sovariaesdimensionais,queprecisamseracomodadasparaevitar danos estrutura. Por isso, as casas de madeira so particularmente sensveis chuva, umidade e s variaes de temperatura. A chuva impregna as partes exteriores das construes, e a umidade penetra atravs de juntas, fissuras e elementos constitutivos do material (vasos traquedos, parnquinas, etc.) por presso,capilaridade,gravidade,entreoutros.Algumassoluesarquitetnicas,comobeirais largos e bandas, diminuem o efeito das guas nas fachadas. Outras medidas necessrias so: -utilizar madeira e derivados secos a uma umidade prxima de servio; -evitar estoques no protegidos dentro dos canteiros; 31-proteger o material em relao a fungos, insetos, fogo e umidade; -estudar a geometria dos elementos exteriores, assim como as conexes, de maneira que a gua seja sistematicamente removida, utilizando-se superfcies inclinadas, drenos, entre outros; -proteger a madeira externa com pintura, vernizes, entre outros. Renovar periodicamente a proteo; -utilizarrevestimentosexterioreseinterioresnodiretamentedependentesdaestrutura subjacente; -fazer com que as peas de madeira repousem em uma fundao no mnimo 20 cm a 30 cm acima do nvel do solo. -evitarpontesdeconduodeumidadeutilizandoventilaoedetalhesconstrutivos adequados. Adotadosessescuidados,asconstruesemmadeirapodemalcanardurabilidadee bom desempenho, como provam alguns edifcios tradicionais existentes na Europa e Oriente. Dentre os fatores de restrio em relao ao uso da madeira na habitao, INO et al (1998) apresentam as frases mais comuns que se ouve no dia-a-dia: "a madeira apodrece";"a madeira pega fogo";"a madeira no dura";"a madeira empena"; "... frgil";"... cara";"a casa de madeira quente";"na casa de madeira se escuta a conversa do outro lado da parede". Todavia, para cada tipo de "preconceito" j existem estudos e recomendaes tcnicas voltadas a solucionar e esclarecer os problemas apontados. Alm destes fatores de resistncia em seadquirirumacasademadeira,podemsercitadosoutrosquetambmcontribuemcoma manuteno de uma faixa de mercado pequena desse sub-setor de edificaes: 32a)imagem de material no durvel e descartvel, quando comparado freqentemente com alvenaria e estruturas de concreto armado, sem levar em conta a manuteno peridica que qualquer material requer; b)material perecvel e degradvel por agentes biolgicos e pelo fogo; c)imagemnegativadomaterialdecorrentedeseuempregoemobrasprovisriascorno tapumes, andaimes, barraces de obras e barracos de favelas; d)rotulao da madeira como material para populao de baixa renda segregao social pelo material; e)construes de madeira apresentam problemas tcnicos no nvel do projeto e do processo de produo, conseqentemente ocorre a insatisfao do cliente, propagando uma imagem negativa do material; f)poucos pesquisadores voltados ao estudo da habitao de madeira, desproporcional em relao ao potencial brasileiro; g)pesquisas na rea de madeira esto ainda com enfoque muito centrado na caracterizao domaterial,anlisedeestruturasdemodogeralehabitaoparapopulaodebaixa renda; h)poucosestudosnareadahabitaoqueenfocamousurioesuasnecessidadesem relao a este produto; i)habitao de madeira ainda vista como uma opo de casa de praia e campo, pela maioria da populao de maior poder aquisitivo. Neste universo de limitaes em relao casa de madeira, no Brasil, ela se caracteriza como primeira moradia para as classes sociais de menor poder aquisitivo, enquanto que a maioria das edificaes de madeira adquiridas pela populao de classe mdia e mdia alta aparece como segunda moradia, para ocupao em perodo de lazer da famlia. 4.1.3 O potencial das madeiras de reflorestamento comum escolher-se uma madeira por aparncia, textura ou tons. Propriedades como resistnciacompresso,durabilidadeemassaespecficavariamdeacordocomaespcie botnica.Soessesaspectosquedevempautaroprojetodeumaedificaodemadeira.Em princpio,todasasespciessoadequadasdesdequeascaractersticasdedesempenhosejam 33respeitadas(Tabelan1),comoocorrenaespecificaodecimentosouconcretoscom propriedadesdiversas.AnormabrasileiraNBR7190/1997adotaoconceitodeclassesde resistncia justamente para permitir a utilizao de vrias espcies de propriedades similares em um mesmo projeto. Peladisponibilidadeefacilidadededesdobro,asmadeirasdereflorestamentosoas mais empregadas em edificaes. A industrializao permite peas prontas para cada utilizao, reduzindo o tempo de execuo. Alm das propriedades mecnicas, o projeto deve considerar aspectos de durabilidade, como o nvel de exposio da madeira e o tipo de ambiente com que o materialmantmcontato.Hrecomendaesdetratamentoparacadaclassederisco,Um projetobemdetalhadopodeevitarproblemasdeumidadeouexposiosolardemasiada,por exemplo, afirma CALIL (2003). Uma das vantagens do uso de madeira reflorestada o grande conhecimento a respeito daspropriedadeseocontrolenaproduo.Nesseaspecto,destaca-seapossibilidadede tratamento contra ataques biolgicos, como cupins e fungos. 34 Tabela n 1 Propriedades de madeiras de reflorestamento.(Fonte: NBR7190/1997). 35As maiores "armas" so o arseniato de cobre cromatado (CCA) e o amoniacal (ACA), que penetram na madeira, tornando-a resistente lixiviao (que a retirada dos sais por meio de lavagem). A aplicao se d por vcuo-presso, no qual a madeira seca e tem todo o ar interior retirado. Depois, o material protetor colocado sob presso, preenchendo cada espao no interior da madeira (processo de clula vazia). Alm de evitar o ataque contra insetos xilfagos e fungos, o tratamento aumenta a durabilidade da madeira no contato com a umidade. A madeira de reflorestamento (Tabela n 2) conta com duas caractersticas que facilitam a produoemlargaescala..Aadoodepinuseeucaliptossedpelocrescimentorpidoda rvore (a partir de 12 anos possvel cortar) e por se adaptarem bem ao clima e solo brasileiros. Tabela n 2 rea reflorestada com espcies de eucalipto e pinus no Brasil (ha) at 2000. (Fonte: Sociedade Brasileira de Silvicultura, 2005). Estado reaEucalipto (ha) rea Pinus (ha) rea Total (ha) Minas Gerais1.535.290143.4101.678.700 So Paulo574.150202.010776.160 Bahia213.400238.390491.790 Esprito Santo152.330-152.330 Rio Grande do Sul115.900136.800252.700 Mato Grosso do Sul80.00063.700143.700 Paran67.000605.130672.130 Par45.70014.30060.000 Santa Catarina41.550318.120359.670 Amap12.50080.36092.860 Outros128.06037.830165.890 Total2.965.8801.840.0504.805.930 Comoamadeiraummaterialdeorigemorgnica,nopossuiauniformidadede desempenho de materiais industrializados. Em muitos casos a melhor soluo tcnica utilizar 36maisdeumaespcienoprojeto.Casoaestticaaindasejadeterminante,tratamentospodem alterar a aparncia da madeira. Segundo HELLMEISTER e BITTENCOURT (1995), respeitar o meio ambiente antes, durante e aps a construo tarefa complicada e exige ateno do empreendedor. Cada instncia dopoderexecutivoseconcentraemdiferentesquestesrelacionadasaoimpactoambiental causado pela construo civil. Consideradaumadasgrandespoluidorasdoramoindustrial,segundoaCivil EngineeringResearchFoundation(CERF),ligadaaoAmericanSocietyofCivilEngineers (ASCE), dos Estados Unidos, a construo civil responde por 15 a 50% do consumo dos recursos naturaisextrados;utilizacercadedoisterosdamadeiranaturalextrada(muitasvezessem manejoadequado)e,paracadatoneladadeclnquer(materialqueentranacomposiodo cimento), 600 kg de CO2 so lanados na atmosfera. Fundamentalcompreenderseossignificadosatribudoshabitaoemmadeiraso universaisoufazempartededeterminadasculturasenveisdedesenvolvimentotecnolgico. Sabe-se que os padres construtivos de conforto e segurana da habitao em madeira dos pases como USA, J apo e do Norte Europeu, no deixam nada a desejar s habitaes tradicionais em alvenaria. Portanto, se estas respondem s exigncias habitacionais e de conservao, acredita-se queaperenidadedaconstruoadquireumvalorsecundrio,levandoemconsiderao principalmente a qualidade de vida e o poder aquisitivo destas populaes. A dificuldade para entender tal posicionamento est na compreenso da habitao como um valor de uso e um bem de consumo. ConformeYUBA(2002),oprocessodedesdobro,secagem,beneficiamentoe tratamentopreservativotambminfluenciamfortemente a qualidade do produto final, ou seja todo o seu processo de produo desde a escolha de mudas para o plantio florestal at durante o 37seu uso nas edificaes, lembrando que o projeto das edificaes em madeira contribui muito para determinar a maior ou menor durabilidade das edificaes. De acordo com INO e SHIMBO (2002), a madeira tem a vantagem de ser renovvel, contribuindo para absoro de CO2 da atmosfera. Atualmente a preocupao ambiental uma questo muito mais ampla do que o desmatamento para extrao de madeira. A associao entre rvore e madeira muito mais direta do que entre rvore e ao. Por exemplo, para a produo do ao, utiliza-se carvo vegetal que vem da madeira. Sobre o aspecto ecolgico, a madeira uma fonte limpa, pois sua extrao no requer derivados de petrleo e nem a escavao do solo, o que j no acontece no caso da areia, da pedra e de outros recursos minerais. Ela renovvel, bastando uma atuao direta do homem neste sentido. Aqui, a legislao de acordo com o Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis s pode explorar a madeira aquele que apresentar (e cumprir) um plano de manejo sustentvel da floresta repondo mais do que se tira - o que pode significar uma luz no fim do tnel e apontar uma tendncia preservao ambiental no Brasil, sem prejuzo ao desenvolvimento. 4.1.4 A importncia do reflorestamento AquestoflorestalnoBrasil,emgeral,abordadaparcialmenteatravsdosdiversos setores que utilizam a madeira como insumo principal freqentemente o de celulose e papel ou sob a perspectiva ambiental. O setor florestal e a atividade de extrao de madeira possuem uma dinmica especfica, determinada pela oferta de madeira e pela produtividade das florestas. Um outro ponto a dimenso econmica do setor florestal. As florestas, mais do que matria-prima, so um ativo de alta liquidez. O Brasil, alm de possuir a segunda maior cobertura florestaldomundo,desenvolveutecnologiaavanadaparaaexploraodeflorestaseparaa transformao industrial da madeira.38Paraefeitodeanliseeadotandooconceitoutilizadopormuitasorganizaes internacionais, a atividade florestal ser definida como a extrao de madeira para fins industriais edegeraodeenergia,excluindo-seosprodutosnomadeireiros.Acadeiaprodutivada madeira, conforme a Figura n 30, contempla a produo de madeira para energia (carvo vegetal e lenha), serrados, painis e polpa para a produo de papel e outras finalidades. Figura n 30 - Cadeia produtiva da madeira. (Fonte: O setor florestal no Brasil e a importncia do reflorestamento, 2002). DeacordocomaFoodandAgricultureOrganizationofUnitedNations(FAO),em 1999, a produo mundial do setor florestal atingiu US$ 450 bilhes sendo o setor da celulose e papel responsvel por 62% desse valor. No Brasil, a atividade florestal de grande importncia, no s pela extensa cobertura de florestas existentes no pas, mas tambm pela capacidade de gerao de emprego e renda no setor. DadosdaSociedadeBrasileiradeSilvicultura(SBS)indicamque,em2001,oPIB florestal brasileiro atingiu R$ 21 bilhes e as exportaes, US$ 4 bilhes, com a gerao de 2 milhes de empregos diretos e indiretos (Tabela n 3). 39Tabela n 3 Exportao de produtos Florestais do Brasil (Fontes: Bracelpa, Abipa, Abimci, e Abimvel, 2001). (Em US$ Milhes) PRODUTOS19971998199920002001 Slidos de Madeira1130967127513611349 Madeira Serrada411410483519532 Painel de Compensado264134345374360 Lminas9764544937 Chapa de Fibra Comprimida7964565462 Outros Produtos de Madeira279295337365358 Mveis366338385489484 Celulose947970119216031248 Papel966924901941942 Total34093199375343944023 Acoberturaflorestaldoterritriobrasileiro,associadasexcelentescondies edafoclimticas (solo e clima) para a silvicultura, confere ao pas grandes vantagens comparativas para a atividade florestal. Esses fatores, aliados ao desenvolvimento tecnolgico no plantio de florestas, transformam as vantagens naturais em competitividade real. Essequadrofavorvelameaadopeloiminentedficitdeofertainternademadeira, conhecido como "apago florestal, que atingir mais drasticamente as regies sul e sudeste e os segmentos de serraria e laminao, incluindo a indstria moveleira. A situao no sul/sudeste/nordeste diferenciada por ter sido a cobertura florestal original dessas regies explorada exausto e por ter se reduzido o ritmo dos reflorestamentos. Na regio norte, onde ainda h uma grande extenso de florestas nativas, o problema que se coloca a explorao sustentvel dessas florestas, envolvendo proteo s espcies ameaadas, mtodos de explorao menos invasivos e aumento de produtividade no processamento industrial. Acoberturaflorestalnomundosoma3,9bilhesdehectares(2002),dosquais47% correspondem s florestas tropicais, 33% s boreais, e 11% s temperadas e 9% s subtropicais. Considerando-se a distribuio regional, Europa e Amrica do Sul concentram 50% das florestas 40mundiais, sendo a outra metade dividida entre frica, sia, Amrica do Norte e, com pequena participao no total da Oceania, conforme Grfico n 1. Grfico n 1 Distribuio mundial da cobertura florestal (Fonte: FAO, 2002). Dos 886 milhes de hectares que esto no continente latino-americano, 61% encontram-se noBrasiltornandoopasosegundoemcoberturaflorestalnomundo,superadoapenaspela Rssia. Os principais ecossistemas existentes em territrio brasileiro so a amaznia, a caatinga, a mata atlntica, o cerrado, o pantanale os campos sulinos conforme Grfico n 2. A amaznia, alvo freqente de denncias de devastao, possui 85% de cobertura original. Grfico n 2 Ecossistemas Brasileiros (Fonte: Ministrio do Meio Ambiente - MMA, 2000). 41Asregiesnorte,sulesudeste,ondeesto concentrados 85% da populao brasileira, foram as mais atingidas por desflorestamentos provocados pelas necessidades de urbanizao e crescimento econmico. Ocupadasoriginalmentepelamataatlntica,pelacaatingaepeloscampossulinos, atualmente(2000),avegetaonativaremanescentenessasregiesestprotegida,sendoa explorao legal restrita aos reflorestamentos. Dados do Ministrio do Meio Ambiente (2000) indicam que 69% (374,6 milhes de hectares) da cobertura florestal do territrio nacional tem potencial produtivo. Essas florestas encontram-se em sua maior parte sob o domnio privado, 67% do total, o que enseja a necessidade de uma regulamentao consistente com a explorao produtiva e a preservao. As florestas privadas constituem-se basicamente de florestas nativas, mas existem 6,4 milhes de hectares de florestas plantadas. O Brasil situa-se entre os dez maiores pases em florestas plantadas do mundo, contando com 6,4 milhes de hectares, conforme Grfico n 3. A maior parte da rea reflorestada existente nopasformou-senasdcadasde1970e1980,quandodavignciadoFISET(Fundode Incentivo Setorial). Grfico n 3 Florestas plantadas para uso industrial (Fonte: FAO, 2001). 42Cerca de 80% (4,8 milhes de hectares) das florestas plantadas brasileiras so de pinus e eucalipto, conforme Grfico n 4. Grfico n 4 Reflorestamento existentes no Brasil em 2000. Fonte: Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), 2001. O eucalipto (inserido na categoria das folhosas), principal matria-prima do processo de produo da celulose de fibra curta, ocupava em 2001, aproximadamente 3 milhes de hectares, localizados em sua maior parte na regio sudeste e no Estado da Bahia. J o pinus (inserido na categoria das conferas), utilizado como insumo para a produo de celulose de fibra longa, painis de madeira e na indstria moveleira, entre outros, tem 78% de seu plantio nas regies sul e sudeste do pas, onde o clima mais favorvel. Atualmente, o corte raso de eucalipto para celulose ocorre com sete anos e o desbaste de pinus com o mesmo fim comea a ocorrer entre nove e dez anos. Para a indstria moveleira, esses prazos so maiores: a exigncia mnima de que o eucalipto tenha doze anos e o pinus, entre quinze e dezoito anos, para que a tora possa ter bom aproveitamento. possvel observar nos Grficos 5 e 6 que o diferencial de produtividade das florestasbrasileirasdefolhosas,frenteseuropias,muitosignificativo,evidenciandoa adaptaodessaespcieaoterritriobrasileiroeosucessodosexperimentosdemelhoria gentica. 43Nocasodasconferas,aprodutividadebrasileirasuperiordosdemaispaisesdo mundo, mas a diferena no to acentuada, principalmente se comparada com a do Chile e Nova Zelndia. Grfico n 5 Produtividade de florestas de folhosas. Fonte: Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), 2001. Grfico n 6 Produtividade de florestas de conferas. Fonte: Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS), 2001. Um outro fator de grande importncia para a melhoria da tecnologia de explorao das florestas plantadas e nativas foi a exigncia da certificao ISO 14001 e de bom manejo florestal. ApercepodequeoseloFSC(Conselhode Certificao Florestal) no pode ser a nica alternativa para assegurar a sustentabilidade da atividade florestal levou outros pases do mundoacriaremseusprpriossistemasdecertificaoeabuscaremoreconhecimento internacional.Finlndia,Noruega,Sucia,IndonsiaeMalsiasoalgunsdospasesque 44investememurnacertificaonacional,sendoquealgumasdessasjsoreconhecidas internacionalmente. O Brasil tambm tem caminhado nessa direo, atravs da estruturao de um sistema de certificao e criao de um selo de manejo florestal sustentvel, o Cerflor. Iniciativa das entidades de classe ligadas produo, comercializao e consumo de produtos florestais, alm deuniversidades,instituiesdepesquisaergosgovernamentais,oCerflorfoilanadono segundo semestre de 2002, com a seguinte estrutura (Figura n 31): Inmetro - Estabelece os critrios para credenciamento de organismos de certificao. ABNT - Estabelece os princpios, critrio e indicadores do manejo florestal e da cadeia de custdia. SCT (Certificao Florestal) - Estabelece regras especficas para a operacionalizao da certificao pelo organismo credenciado a realiz-la. PRINCPIOS, CRITRIOS E INDICADORES PARA PLANTAES FLORESTAIS ABNT/CEET - 00:001.39-001 Princpio 1 Cumprimento da Lei - 3 critrios e 11 indicadoresPrincpio 2 Busca da sustentabilidade dos recursos florestais e racionalidade no uso a curto, mdio e longo prazos - 4 critrios e 11 indicadoresPrincpio 3 Zelo pela diversidade biolgica - 6 critrios e 27 indicadoresPrincpio 4 Respeito s guas, solo e ar - 4 critrios e 24 indicadoresPrincpio 5 Desenvolvimento ambiental, econmico e social das regies em que se insere a atividade florestal - 2 critrios e 14 indicadores Figura n 31 Critrios para plantao florestal. (Fonte: O setor florestal no Brasil e a importncia do reflorestamento, 2002). 45Observe-se que vrias empresas brasileiras buscaram a certificao ISO 14001 para suas florestas, a qual garante o cumprimento de normas tcnicas de produo/explorao. Existem, atualmente, cerca de 912 mil hectares de florestas em conformidade com essa norma, entre as quais esto as de propriedade das maiores empresas de celulose e papel. Visando atender s necessidades de implantao, explorao e conservao de florestas, foi lanado em 2000, atravs de Decreto Presidencial, o Programa Nacional de Florestas (PNF). Esseprogramanasceucomapreocupaodeinseriroplanejamentodousodasflorestas brasileiras no mbito do planejamento macroregional. Esto explcitos na formulao do PNF, que prope: -estimular o uso sustentvel de florestas nativas e plantadas; -fomentar as atividades de reflorestamento, notadamente em pequenas propriedades rurais; -recuperar reas de preservao permanente, de reserva legal e alteradas; -apoiarasiniciativaseconmicasesociaisdaspopulaestradicionaiseindgenasque vivem nas florestas; -reprimirdesmatamentosilegaiseaextraopredatriadeprodutosesubprodutos florestais; -prevenir e conter queimadas e incndios florestais. Alguns resultados j podem ser atribudos a essa iniciativa: -a instalao do Frum de Competitividade da Cadeia Madeira-Mveis, coordenado pelo Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio ; -acriaodoCerflor,sobacoordenaodo MinistriodaCinciaeTecnologia,mas envolvendo, tambm, outros Ministrios e a iniciativa privada; -a criao do Pronaf-Florestal, em uma parceria do MMA com o Ministrio da Reforma Agrria, os Ministrios da rea econmica e o BNDES; -a incluso da silvicultura no crdito rural, pelo Ministrio da Agricultura. O Estado de Santa Catarina merece destaque pela criao de um programa de incentivo ao reflorestamento para pequenos produtores rurais, que j beneficiou cerca de 14.000 famlias de 4668%dosmunicpiosdoEstado.Estima-sequejtenhamsidoplantados9.614hectares.O programaconsistenaconcessoderecursosparaimplantaoecusteioporquatroanosena garantia de assistncia tcnica; os recursos so concedidos sob a forma de crdito e a amortizao feita em produto, ou seja, em madeira, em trs pagamentos, aos 12, aos 16 e aos 21 anos. Os dados apresentados evidenciaram que o Brasil detm avanada tecnologia no plantio de florestas e um imenso macio florestal nativo com potencial de explorao econmica. Outras indstrias, como a de painis de madeira, tambm se beneficiaram da tecnologia de plantio de florestas,expandindosuaproduoe,foramestimuladaspelaelevadaprodutividade, internalizando novas tecnologias industriais de processamento de madeira. ocaso,porexemplo,daintroduodepainiscomoMDFeoOSBnomercado brasileiro. Geradoras de receitas e com destaque na pauta de exportaes do Brasil, as atividades de base florestal so importantes tambm para o desenvolvimento regional. Os vrios produtos pertencentes cadeia produtiva da madeira esto ligados a diferentes estruturasdeproduo,asquaisrequisitampadresdiferenciadosdecapitalemo-de-obra. Nesse sentido, a importncia do setor florestal no est apenas na gerao de renda e de emprego em termos agregados, mas tambm na irradiao dos benefcios de seu crescimento por todas as regies do pas e por vrias camadas sociais. Agrandeameaacompetitividadedosetorflorestal,contudo,aofertadesua principalmatria-prima,amadeira.Osprodutoresqueexigemflorestashomogneasparaa obteno de qualidade e produtividade adequadas a seus mercados tm investido, ao longo dos ltimos trinta anos, no reflorestamento e no desenvolvimento de tecnologia florestal. Esseocasodasindstriasdecelulose,papelepainisdemadeira,especialmente reconstituda. A maior parte das empresas produtoras desses produtos possui florestas prprias e tem seu abastecimento garantido pela reforma e expanso de suas reas reflorestadas. 47Aausnciadeummercadoflorestalquedesvinculeaproduodeflorestasda transformaoindustrialdamadeiraimpedequeprodutoresruraiseinvestidoresemgeral vislumbrem as possibilidades de retorno da aplicao de recursos no plantio de florestas. 4.1.5 Chapa OSB (Oriented Strand Board) No mercado mundial desde 1978, o OrientedStrandBoard (OSB) nasceu nos Estados Unidoscomoumasegundageraodowaferboard,produtodesenvolvidoem1954peloDr. J ames Clarke. Enquanto no waferboard as tiras eram menores e aplicadas em todas as direes, o OSB utiliza tiras maiores e orientadas. A partir da sua introduo no mercado americano, a chapa estruturalfoirapidamenteaceita,substituindoosdemaispainisnosegmentodeconstruo residencial. OspasesquemaisutilizamestaschapassoosEstadosUnidoseoCanad,com destaque para o uso na construo civil, devido s suas caractersticas fsicas e mecnicas que possibilitam seu emprego para fins estruturais. Nestes pases, a partir da dcada de 90 do sculo findo, o OSB passou a competir em larga escala com as chapas de compensado. Este avano se deve principalmente a quatro fatores: -melhoraproveitamentodastorasdemadeira(OSButiliza96%contra56%do compensado),otimizandoocustoeproporcionandoumprodutoecologicamentemais eficiente; -possibilitaautilizaodetorasmaisfinas(6 anos para o OSB contra 14 anos para o compensado) e de menor valor comercial; -produtividademaiordevidoaoprocessodefabricaototalmenteautomatizadoede grande escala (a fbrica existente no Brasil, utiliza 24 pessoas em 3 turnos para operar uma linha de produo de 350.000 m/ano. Uma fbrica de compensado necessita de mais de 200 pessoas para produzir em torno de 80.000 m/ano); -o processo de produo em grande escala e automatizado proporciona s chapas qualidade absolutamente uniforme. 48A chapa OSB um painel de madeira reflorestada com uma liga de resina sinttica, feita de camadas prensadas com tiras de madeira ou strands, alinhados em escamas, de acordo com a EN300 OSB (Norma Europia). Dependendo do tipo da liga, o Eurostrand OSB pode ser usado em condies secas (OSB/2) ou midas (OSB/3 e OSB/4) de acordo com o DIN 68800-2 (Norma Alem) preservao da madeira. O OSB (Figura n 32) produzido a partir de toras que so descascadas e cortadas em tiras ao longo de sua fibra. Estas tiras so secas, peneiradas e misturadas com a composio de resinas de colagem prova dgua, parafina e cupinicida. Seguem para as formadoras onde sero produzidas as camadas orientadas, depois para a prensagem em alta temperatura e presso, onde sero formados os painis e, finalmente, para o corte definitivo. Todo este processo totalmente automatizado, com a monitorao de cmeras e computadores.

(a) (b) Figura n 32 Chapas OSB (Oriented Strand Board). (Fonte: (a)www.portalosb.com.br e (b)www.osb-info.org acesso em 12/04/2005). A aplicao de cola lquida assegura um equilbrio do contedo de umidade similar umidade predominante de 83%. Vide processo de fabricao (Figura n 33). 49

(1) Descarregamento das toras(2) Transporte pela esteira(3) Descascador (4) Separador de tiras (5) Umidificador(6) Secador (7) Misturador

(8) Formador de tiras (9) Prensa (10) Corte(11) Expedio Figura n 33 Esquema do processo de fabricao de OSB. (Fonte: www.osbguide.com/osbtour.html - acesso em 12/04/2005). AutilizaodechapasOSBvemcrescendoeocupandoespaoantesexclusivode compensados, em virtude de fatores como: -reduo da disponibilidade de toras de qualidade para laminao; -o OSB pode ser produzido de toras de qualidade inferior e de espcies de baixo valor comercial; -a largura das chapas OSB determinada pela tecnologia de produo e no em funo do comprimento das toras como no caso de compensados. A geometria das partculas strand, a sua orientao e formao em trs camadas (face-centro-face)conferemschapasOSBmaiorresistnciamecnica(flexoesttica)emelhor estabilidade dimensional, diz CLOUTIER (1998). 50Autilizaodemadeirasdebaixadensidaderesultaemchapasdealtarazode compactao e maior rea de contato entre as partculas, resultando em melhores propriedades de flexo esttica e ligao interna, segundo pesquisadores MOSLEMI (1974); MALONEY (1993); KELLY (1997). O OSB oferece as seguintes vantagens: -ausncia de espaos vazios em seu interior; -ausncia de ns soltos;-sem problemas de fendilhamento; -sem problemas de laminao; -qualidade consistente e uniforme; -espessura perfeitamente calibrada (menos perdas);-resistncia a impactos;-excelentes propriedades de isolamento termo-acstico;-preo competitivo;-estabilidade de oferta esteticamente atrativa a arquitetos e designers. Em2000,aprimeiraenicafbricanacional,aMasisadoBrasil,comeouaser instalada em Ponta Grossa (PR). Finalizada em dezembro de 2001, a produo nacional iniciou-se em janeiro de 2002. 4.2 MTODOS CONSTRUTIVOS 4.2.1 Wood Frame O conceito e a tecnologia vieram dos Estados Unidos. O WoodFrame chegou ao Brasil comoumaalternativaemsistemasconstrutivosindustrializados,sobretudoparahabitaode interesse social. O mtodo foi empregado (2002) no Condomnio Porto Primavera (Figura n 34) em Curitiba. 51 Figura n 34 - Condomnio Porto Primavera, Curitiba. (Fonte: Revista Tchne n 59, 2002). Osmateriaissopredominantementenacionais;apenasoOSBnofoiproduzidono Brasil (Figura n 35). Como a produo do composto resistente a cupins no havia comeado na poca em que se iniciou as obras do segundo mdulo, a Construtora Malacon foi obrigada a usar o material importado da Alemanha. O OSB anticupim s passou a ser produzido no Brasil no incio de 2002. Com insumos madeinBrazil, o custo relativo do sistema cai e se torna mais competitivo em comparao construo de alvenaria. "Estimo que tenha sado 20% mais barato do que em alvenaria", afirma MALAFAIA (2002). Figura n 35 Detalhe de montagem das peas estruturais com a chapa OSB.(Fonte: Revista Tchne n 59, 2002). 52Divididos em dois mdulos, os oito apartamentos possuem 50 m2 distribudos em dois dormitrios, sala, cozinha, banheiro e rea de servio. O bairro de Vila Hauer, a 8 km do centro de Curitiba, tem um padro econmico de classe mdia. O modelo de comercializao do empreendimento j procura se adequar ao pblico com renda mais baixa. Por isso, as unidades no foram vendidas inicialmente. "Ainda h uma certa resistncia no Brasil a casas de madeira e, se eu tentasse vender, poucos comprariam e eu teria de baixarmuitoopreo",dizMALAFAIA(2002).Porisso,aconstrutorapreferiualugaras unidades. Como forma de controlar o desempenho da edificao, o contrato de aluguel prev a vistoria peridica por parte da empresa. O conceito bsico do Wood Frame existe h cerca de 150 anos nos Estados Unidos. De l para c, as mudanas limitaram-se a pequenos aperfeioamentos e modernizao de alguns materiais. O principal motivo da longevidade do sistema seria a solidez das edificaes, levando-se em conta que as condies ambientais - como variaes de temperatura, ventos e terremotos - so mais agressivas nos Estados Unidos do que no Brasil. Almdisso,aflexibilidadedoprojetodariaumacertapolivalnciaaomtodo construtivo, que poderia ser empregado em edificaes de diversos formatos e estilos. "O projeto simplesdeencomendar,hprogramasdecomputadorousitesdainternetquefazemisso rapidamente", comenta MALAFAIA (2002). "O importante, na verdade, executar certo. Como em boa parte das casas industrializadas, o nico elemento moldado in loco o radier da fundao (Figura n 36), a pea possui 10 cm de espessura com concreto de 18 MPa e baldrames com 30 cm de largura, 15 cm de altura e armados com vergalhes de 20 mm na parte inferior. Soboradierfoiutilizadalonavinlica, comobarreiradeumidadeeumacamadade pedrabritada.Todaaestruturaeosfechamentossoconstitudospormadeira.Aestrutura compostaporframesdeconfera(araucria)eosfechamentosexternossochapasde compensadodepinosnomdulo1eOSBnomdulo2.Todasaspeasdemadeiraforam tratadasemautoclavecompreservativoCCA(arseniatodecobrecromatado)paratom-las resistentes a cupins e umidade. 53 Figura n 36 Detalhe do Radier. Fonte: www.metalica.com.br, acesso 01/07//2005. A estrutura de cada sobrado foi erguida em quatro dias, o contraventamento realizado por chapas de OSB (Figura n 37) pregadas na parte externa dos montantes e por fitas de ao galvanizadoconstituindotirantesemformade"x".Ofechamentoexternodechapasde compensado ou OSB (Figura n 38) pregadas estrutura e revestidas com siding(fechamento externo) de madeira nas fachadas frontal e posterior. Nas laterais, externamente ao frame, adotou-se alvenaria aparente de tijolos apenas para efeito esttico (Figura n 39). A impermeabilizao das paredes externas constituda por papelo alcatroado, grampeado sobre a chapa OSB antes do revestimento final. Figura n 37 Detalhe da estrutura em Wood Frame. (Fonte: www.cwc.ca, acesso 01/07/2005). 54 Figura n 38 Fechamento externo em OSB. (Fonte: www.cwc.ca, acesso 01/07/2005). Figura n 39 Revestimento de siding. (Fonte: www.cwc.ca, acesso 01/07/2005). As instalaes eltricas e hidrulicas (Figura n 40) so introduzidas nos vos internos aos montantes. Foi utilizado PVC em vez de polietileno reticulado, porque no h tubulao de gua quente, j que as casas contaram com chuveiro eltrico. A mudana no tipo de calha foi motivada 55por questo esttica. O produto com desenho tpico das casas norte americanas de alumnio, no de PVC, diz MALAFAIA (2002). Outro componente alterado foi a cobertura originalmente de shingles que elevariam o preo da obra; foi alterada para telha asfltica.

Figura n 40 - Detalhe de Instalaes (Fonte: www.cwc.ca, acesso 01/07/2005). As esquadrias so de PVC (Figura n 41), pouco comuns em empreendimentos de baixo e mdiopadro.AsjanelasdePVCsofixadascomconectoresmetlicosaparafusadosnos montantes do frame s portas, j com as guarnies, so preliminarmente grampeadas parede e depois travadas com espuma expansiva.

Figura n 41 - Detalhe das esquadrias (Fonte: www.cwc.ca, acesso 01/07/2005). 56Por contar com madeira na estrutura e nos fechamentos, o cuidado com a proteo ao fogo deve ser redobrado no projeto. O OSB s pode entrar em combusto depois de exposto a chamas entre uma hora e uma hora e meia, de acordo com as normas norte americanas. Umartifciosimplesfreiaodesenvolvimentodofogonumeventualincndio:a colocaodebarreirascontrafogoentreosmontantes.Aspeashorizontaisentreospilares diminuemavelocidadedepropagaodaschamasefuncionamcomobarreira.Oprincpio simples: o fogo rompe o OSB ou gesso acartonado e ataca a parte de baixo da estrutura. Com as barreiras, todo oxignio consumido dentro da parede antes que o fogo danifique gravemente a estrutura.Aedificaoscorreriscoderuirquandooincndiosealastrarportodaacasa, incluindo a parte de cima dos pilares. A idia dos norte-americanos no deixar a casa inteira intacta, mas permitir que os moradores saiam ilesos e o corpo de bombeiros tenha tempo de chegar e apagar o incndio, afirma MATOS (2002), que trabalhou na montagem desse tipo de casas nos Estados Unidos e presta consultoria no Brasil. No adiantaria a casa ter materiais resistentes a vrias horas de incndio se o mtodo favorecesse a rpida propagao do fogo enfatiza o consultor. 4.2.2 Madeira empregada Materialcompostodefibrasdemadeirafazosfechamentosetemfunoestrutural. Apesar de sua aparncia lembrar chapas de aglomerado, a resistncia do OSB permite o uso at em elementos estruturais. Em lajes, as chapas de 18 mm com espaamento entre vigas de 40 cm (Figura n 42) tm capacidade de suportar 950 daN/m2. Em paredes e revestimento de telhados, usando-seomaterialcom12mmdeespessuraeespaamentoentresuportesde61cm,a capacidade de suporte atinge 90 daN/m2. O processo de produo o principal responsvel por essas caractersticas (Tabelas n 4 e 5). Depois de descascadas, as toras so alinhadas e seguem para a viruteira, que formar as 57tiras. Estas tiras vo para o umedecedor, que homogeneza a quantidade de gua em cada uma, j que cada tora tem um ndice diferente. Astiras,secascomumidadeentre3e5%,seguemparaomisturador,ondeso envolvidas por resinas sintticas, parafina e cupinicida. O formador de camadas coloca a primeira e a quarta camadas no sentido longitudinal e a segunda e a terceira no sentido transversal. A pea transportada para a prensa contnua de 44 m, onde prensada a quente (temperatura de 190C) em espessuras que podem variar de 6 a 40 mm; o resultado um material compacto. Figura n 42 - Detalhe de piso de laje em OSB ( Fonte:Revista Tchne n 59, 2002). Os maiores cuidados relativos ao OSB devem aparecer na fase de execuo. O risco maiordomaterialnoestarcompletamenteisoladodaumidade,oquepoderiaprovocara proliferao de fungos. Deve-se envelopar a casa, ou seja, instalar papelo alcatroado em todas as paredes externas", recomenda MORAIS (2002), supervisor tcnico de produto da Masisa. Segundo ele, um cuidado no uso no lavar pisos desprotegidos, como os das salas e quartos, com gua. "Utilizamos as dosagens verificadas na preparao das placas que se prestaram a esses ensaiosparaumaproduoinicial,atomomentoemqueasempresaschegassemssuas prprias dosagens de veneno", explica MORAIS (2002). Os cupinicidas so adicionados resina de colagem.58ComooOSBnopossuicamadasdecolacomoocompensado,poisasubstncia misturada e prensada com as tiras, os insetos xilfagos ficam mais expostos ao veneno. Tabela n 4 Propriedades do OSB (Fonte Masisa, 2002). Resistncia flexo (N/mm2) Espessura da chapa (mm) Retilinidade (mm/m) Densidade(kg/m2) Umidade(%) Maior eixo Menor eixo Resistncia trao (N/mm2) Inchamento24h 6 a 100,34 11 a 180,32 19 a 25 64040 0,30 26 a 40 1,5mm/m 580 944,81,9 0,30 12% Tabela n 5 Tabela de espessuras (Fonte: Masisa, 2002). AplicaoEspaamento entre montantes Espessuras das chapas OSB Horizontal40 cm18 mm Vertical40 cm11 a 12 mm Horizontal60 cm18 mm Vertical60 cm12 mm Para revestimento com reboco Horizontal40 cm12 mm Vertical40 cm12 mm Horizontal60 cm128 mm Vertical60 cm15 mm 4.2.3 Casas com estrutura de madeira e paredes em OSB Conforme MALAFAIA (2002), a pr-fabricao de elementos construtivos cada vez mais adotado para provimento de moradias nos pases industrializados. Este sistema construtivo podeempregar,almdemateriaisaindapoucotradicionaisemedificaesresidenciais, 59elementos comumente encontrados em qualquer canteiro de obras do pas, como cimento, tijolos, madeira, ao e telhas. O uso de alguns materiais tradicionais tem mais o intuito de satisfazer o desejo do consumidor (os consumidores ainda vinculam solidez ao uso de materiais tradicionais ou "pesados"). Neste sistema construtivo, o OSB utilizado de vrias formas (Figura n 43): a)Vigas I a chapa de OSB pode servir como a alma da viga I, enquanto as flanges podem ser de madeira macia; b)Pisos - colocado em cima do vigamento, o painel d suporte para o revestimento final; c)Telhado - o painel serve de base de fixao no caso de se utilizar cobertura de telhas shingles; d)Fechamentodefachada-utilizadonoexteriorstructuralsheatingouseja, fechamento externo estrutural. Figura n 43 Utilizaes da chapa OSB. (Fonte: www.portalosb.com.br - acesso em 12/04/2005). 60AmaioriadosfabricantesdeOSBsebaseiamnasespecificaesdaAPA(Amrica Association), que classifica o produto para trs usos: -cobrimento para pisos, paredes e telhados (APA Rated Sheating); -laje (APA Rated Sturd-I-Floor);-uso externo (APA Rated Siding). Esse critrio de classificao foi estabelecido pelas seguintes caractersticas: adequao estrutural, estabilidade dimensional e durabilidade do adesivo. O critrio de desempenho de cada uma das categorias foi estabelecido por cdigos norte-americanos de construo: -UBC (Uniform Building CodeTM) for prefabricated wood I - joists, 1997; -AC 14 (ICBO ES) Acceptance Criteria for Prefabricated Wood I-joists, July 2000; -IBC (IntemationalBuildingCode) Seo 2303.1.2 e R502.1 of the IRC (International Residential CodeTM) 2000; -ICBO PFC-5317. Performance Rated I-joist. Umasegundaclassificaocomrespeitoexposiodopainelsintempries categoriza-os em dois grupos: -Exterior: fabricado com cola prova dgua pode ser utilizado permanentemente em ambientes midos ou exposto ao tempo; -Exposio 1: fabricado com cola prova d'gua, mas deve prever algum revestimento. Aproximadamente 95% dos painis so fabricados com esta designao. A utilizao de lquidospoucodensosedefcilpercolaoporsubstratosporososnalimpezacotidianado imvel deve