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    MORFOLOGIA DA LNGUA PORTUGUESAMaria das Graas Carvalho Ribeiro

    APRESENTAO

    Caros alunos,

    A disciplina Morfologia da Lngua Portuguesa tem como objeto de estudo

    a descrio do sistema formal do portugus. A morfologia, assim como a sintaxe, a

    fonologia e a semntica, constitui um dos nveis de descrio lingstica, voltando-se

    especificamente para a identificao e para a classificao das unidades formais de

    uma lngua, tendo como objeto de descrio desde sua unidade mnima, o morfema,

    at a unidade maior, a palavra. Partindo dessa compreenso, nossa disciplina tem

    como objetivo trazer para vocs, alunos, o conhecimento da estrutura mrfica da lngua

    portuguesa.

    Orientando-nos por esse objetivo, organizamos o contedo dessa disciplina

    em trs captulos. No primeiro, introduzimos esse estudo situando a morfologia no

    campo da descrio lingstica, voltando-nos para a dupla articulao e para os eixos

    da linguagem. Apresentamos um breve histrico sobre os estudos da morfologia, ao

    longo dos estudos lingsticos. Discutimos os diferentes conceitos de morfologia

    apresentados em nossas gramticas normativas e em alguns manuais de lingstica,

    e ainda conceitos bsicos que fundamentaro os estudos que sero desenvolvidos ao

    longo do curso. No segundo captulo, tratamos da estrutura mrfica das palavras, dos

    princpios auxiliares da anlise mrfica; e dos processos de formao de palavras. No

    terceiro e ltimo captulo, voltamos nossa ateno para a classificao das palavras.

    Tomamos como referncia a classificao apresentada na tradio greco-latina,

    discutimos a posio da Norma Gramatical Brasileira (NGB), assim como algumas

    modernas propostas de classificao, encerrando com a classificao proposta por

    Cmara Junior (1975). Abordamos ainda nesse captulo, a flexo nominal e verbal

    e seus mecanismos de expresso. Encerramos os captulos sempre com atividades

    que devero ser desenvolvidas por vocs alunos. Essas atividades tm como objetivo

    principal a aplicao do conhecimento terico adquirido ao longo do curso.

    Esperamos, desse modo, despertar-lhes o interesse para esse estudo, dada

    sua relevncia para a compreenso da organizao interna das unidades formais da

    lngua, assim como para a anlise dessas unidades e, principalmente, para o seu uso

    em situaes concretas de comunicao.

    MORFOLOGIA DA LNGUA PORTUGUESAMaria das Graas Carvalho Ribeiro

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    UNIDADE IINTRODUO MORFOLOGIA

    1 BREVE HISTRICO

    Uma investigao mais ampla sobre esse assunto nos permite dizer que os

    estudos morfolgicos tm sua origem na tradio gramatical hindu. Na gramtica de

    Panini (sc VI a.C.), j se tratava da estrutura interna das palavras, identificando-se as

    unidades mnimas significativas como razes e afixos. Com a descoberta do Snscrito

    (sc. XVIII), pde-se tomar conhecimento desses estudos que muito contriburam para

    a investigao lingstica moderna na rea da morfologia.

    Na tradio greco-latina, os aspectos morfolgicos faziam parte dos estudos

    gramaticais, que se subdividiam em trs campos: o da flexo, o da derivao e o da

    sintaxe. flexo correspondiam os estudos morfolgicos, em oposio sintaxe.

    J a derivao era colocada em um plano secundrio. O termo morfologia, surgido

    inicialmente no campo da biologia, passou a ser usado na lingstica a partir do sculo

    XIX, abrangendo os processos flexionais e derivacionais.

    No mbito da lingstica moderna, os estudos morfolgicos tiveram grande

    desenvolvimento no estruturalismo americano, cujo representante maior L. Bloomfield.

    Essa corrente voltou-se para o estudo e para a descrio das formas lingsticas,

    privilegiando a identificao dos morfemas e de suas regras de combinao. Segundo

    essa perspectiva, o conhecimento dos morfemas de uma lngua que possibilita

    entender o significado das palavras ainda no ditas e a criar novas palavras nessa

    lngua. No modelo estruturalista norte-americano, a anlise lingstica se deteve no

    estabelecimento de unidades irredutveis, organizadas linearmente, e na definio de

    padres que regiam sua combinao. (ROSA, 2000, p. 38)

    Com o desenvolvimento da teoria gerativa (N. Chomsky), que elegeu a sintaxe

    como seu objeto de estudo, a morfologia comea a ser enfocada dentro do componente

    fonolgico. Morfologia e Fonologia passam, assim, a constituir a chamada Fonologia

    Lexical, defendendo que a sintaxe deveria ser cega morfologia. Essa tese, entretanto,

    passou a ser desconsiderada, pelo menos no que diz respeito morfologia flexional,

    reconquistando, assim, a morfologia seu espao no mbito dos estudos lingsticos.

    Com isso foi retomada a oposio j estabelecida pelo gramtico latino Varro,

    subdividindo-se a morfologia em dois ramos: morfologia derivacional e morfologia

    flexional. Atualmente, essa subdiviso da morfologia vem sendo repensada por alguns

    estudiosos, a exemplo de Gonalves (2005), que prefere falar em um continuum, entre

    a flexo e a derivao.

    UNIDADE IINTRODUO MORFOLOGIA

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    Considerando o objetivo do nosso trabalho, no discutiremos aqui a noo

    de continuum, limitando-nos a apresentar os mecanismos lingsticos (flexionais

    e derivacionais) que se enquadram no campo da morfologia. Procuramos situar a

    morfologia nos nveis de descrio lingstica. o que veremos no prximo item.

    2 SITUANDO A MORFOLOGIA

    2.1 A DUPLA ARTICULAO DA LINGUAGEM

    Situar a morfologia nos nveis de descrio da lngua leva-nos a retomar uma das

    caractersticas da linguagem humana, a sua capacidade de ser duplamente articulada.

    Na primeira articulao, plano do contedo, articulam-se os elementos dotados de

    significao. Nessa articulao, situa-se a morfologia, que trata da articulao do

    vocbulo, e a sintaxe, que se volta para a articulao da proposio. Assim morfologia

    e sintaxe (morfossintaxe) situam-se no campo da significao lingstica. segunda

    articulao pertencem os elementos do plano de expresso da lngua, objeto de estudo

    da fontica e da fonologia.

    Veja o esquema a seguir:

    DUPLA ARTICULAO DA LINGUAGEM

    1 articulao 2 articulao

    anlise plano do contedo anlise plano da expresso

    morfossintaxe fontica e fonologia

    art. do voc. art. do disc. sons da fala sons da lngua

    MORFOLOGIA SINTAXE FONES FONEMAS

    MORFEMA SINTAGMA

    UNIDADES OPERACIONAIS:

    UNIDADE OPERACIONAL DA FONOLOGIA: FONEMA

    UNIDADE OPERACIONAL DA MORFOLOGIA: MORFEMA

    UNIDADE OPERACIONAL DA SINTAXE: SINTAGMA

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    3 CONCEITO, OBJETO E DIVISO DA MORFOLOGIA

    O termo morfologia tem a sua origem na justaposio dos radicais gregos

    morph, (forma) e logos, (estudo), significando, assim, estudo da forma. Em sentido

    amplo, a forma corresponde ao plano de expresso, o qual apresenta dois nveis de

    realizao, o dos sons, que, embora sejam desprovidos de significao, passam a

    constituir as unidades significativas da lngua, o morfema e o da palavra. Ao campo

    da morfologia pertencem, assim, os estudos sobre a estrutura interna dos vocbulos e

    sobre a classificao de palavras. Nesse contexto tem-se definido o vocbulo como um

    termo geral que abrange a prpria palavra. a palavra tratada na sua estrutura fsica,

    como um conjunto de fonemas, sem se levar em conta a significao ou a funo. J

    o termo palavra seria o vocbulo provido de significao externa. H quem considere

    que a palavra sempre uma forma livre. Esse termo tem sido definido levando-se

    em conta diferentes dimenses do estudo da linguagem. Segundo Rosa (2000, p. 74),

    o termo palavra, exceto o uso na escrita, pode ser entendido como: a) uma unidade

    fonolgica; b) o elemento mnimo da estrutura sinttica; c) um elemento do vocabulrio

    da lngua.

    Com o avano dos estudos lingsticos, tem-se discutido a autonomia da morfologia

    em relao sintaxe, resultando da o uso do termo morfossintaxe. Compreende-se

    assim que, ao se estudar, por exemplo, a organizao interna das palavras, em que se

    distinguem as categorias de gnero ou nmero como elementos determinantes, se est

    no mbito da sintaxe. Pode-se perceber, por outro lado, que h determinados aspectos

    sintticos, a exemplo da concordncia, que se manifestam por meio de processos

    morfolgicos flexionais. Dessa forma, no h como negar o ponto de convergncia

    entre morfologia e sintaxe, o que, a nosso ver, entretanto, no permite defender a tese

    de que a morfologia no tem um objeto real e autnomo conforme defende Saussure

    (1957, p.157). Refutando o pensamento saussureano, Cmara Jnior (1972, p. 10)

    defende que possvel fazer uma descrio morfolgica de uma forma lingstica

    sem se recorrer ao aspecto sinttico. Tomando como exemplo a forma pronominal

    ele, esse lingista mostra que por meio da oposio dentro do paradigma possvel

    identificar o valor desse pronome, ou seja, possvel dizer que o ele uma forma

    masculina, singular e de terceira pessoa. Gleason Jr. (1961), em seus estudos sobre os

    constituintes imediatos e sobre a noo de construo, define a morfologia como a

    gramtica interna das palavras e a sintaxe como o estudo de sua gramtica externa

    e das seqncias de palavras, vale ressaltar, entretanto, que para esse autor, as noes

    que distinguem morfologia e sintaxe no so claras.

    A nosso ver, o que se pode dizer que morfologia e sintaxe constituem dois nveis

    de descrio lingstica que, apesar de suas especificidades, se complementam. nesse

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    sentido que o termo morfologia vem sendo definido no contexto da tradio gramatical

    e lingstica. Para Dubois J. et alli (1986, p.421- 422), no contexto da gramtica

    tradicional, a morfologia o estudo das formas das palavras (flexo e derivao),

    em oposio ao estudo das funes ou sintaxe. J no mbito da lingstica, o termo

    morfologia apresenta-se sob duas definies, como descrio das regras que regem a

    estrutura interna das palavras isto , as regras de combinao entre morfemas-razes

    para construir palavras (regras de formao das palavras) e a descrio das formas

    que tomam essas palavras conforme a categoria de nmero, gnero, tempo, pessoa

    e, conforme o caso (flexo das palavras), em oposio sintaxe que descreve as

    regras de combinao entre os morfemas lxicos (morfemas, razes e palavras) para

    constituir frases; b) ou a morfologia a descrio, ao mesmo tempo, das regras da

    estrutura interna das palavras e das regras de combinao dos sintagmas em frases.

    A morfologia se confunde, ento, com a formao das palavras, a flexo e a sintaxe e

    ope-se ao lxico e fonologia. Nesse caso, diz-se, de preferncia, morfo-sintaxe.

    Segundo Santos (1981), a morfologia constitui uma parte da gramtica, ao lado da

    sintaxe, da fonologia e da semntica. Para esse estudioso, em lnguas casuais difcil

    separar morfologia de sintaxe, pois formas e funes sintticas esto intimamente

    relacionadas. Diz esse lingista que em frases como pater filios amat, o nome pater

    ao mesmo tempo nominativo*, sujeito e singular.

    Segundo Cabral (1974, 129), se se considera a morfologia isolada da sintaxe,

    entendendo como unidade mnima o morfema e como unidade mxima a palavra, a

    morfologia a parte da gramtica que descreve as unidades mnimas de significado,

    sua distribuio, e classificao, conforme as estruturas onde ocorrem, a ordem que

    ocupam, os processos na formao de palavras e suas classes.

    Pelos conceitos apresentados, podemos identificar como objeto da morfologia

    o morfema e a palavra, para cujo estudo faz-se necessrio conhecer os dois

    eixos da linguagem: o paradigmtico e o sintagmtico, assunto a que nos

    dedicaremos no item seguinte.

    4 EIXOS DA LINGUAGEM

    Segundo Saussure, (7ed. s/d p. 142), as relaes e as diferenas entre termos

    lingsticos se desenvolvem em duas esferas distintas, cada uma das quais geradora

    de certa ordem de valores; [...]. Essas ordens contribuem para que se compreenda

    melhor a natureza de cada uma delas e correspondem a duas formas de nossa atividade

    mental, sendo ambas necessrias para a vida da lngua.

    De acordo com o pensamento desse lingista, as unidades operacionais da

    (*) Caso do la-tim que equiva-le funo de sujeito ou de predicativo.

    Pelos conceitos apresentados, podemos identificar como objeto da morfologia

    o morfema e a palavra, para cujo estudo faz-se necessrio conhecer os dois

    eixos da linguagem: o paradigmtico e o sintagmtico, assunto a que nos

    dedicaremos no item seguinte.

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    morfologia (morfema) e da sintaxe (sintagma) relacionam-se em dois diferentes eixos

    da linguagem, o paradigmtico e o sintagmtico. As relaes paradigmticas ocorrem

    no sistema morfolgico e decorrem do fato de, em um dado contexto, uma unidade

    poder ocupar o lugar da outra, mas no simultaneamente, por estabelecer entre si

    relao de forma ou de sentido. Essas relaes ocorrem com as unidades que no esto

    presentes no enunciado, so relaes virtuais, mnemnicas, que ocorremin absentia.

    O paradigma constitudo de unidades lingsticas que so agrupadas a partir de um

    trao lingstico permanente, que denominador comum de todas essas unidades.

    J no eixo sintagmtico, as relaes se do com as unidades presentes no

    enunciado, so relaes in presentia que resultam do carter linear da linguagem

    humana, que exclui a possibilidade de pronunciar duas formas lingsticas ao mesmo

    tempo. Numa frase do tipo: Os estudantes propem novo calendrio, as formas

    lingsticas estabelecem relaes entre si. O artigo definido os (termo determinante)

    se relaciona com o substantivo estudantes (termo determinado) na construo do

    sintagma nominal, este por sua vez j se relaciona com o sintagma verbal, propem

    mudanas no calendrio, cujos constituintes se relacionam entre si.

    No eixo paradigmtico, as relaes, como vimos, no se do com os elementos

    presentes no texto, mas com os que esto na memria. Assim, o nome estudantes,

    poderia ser substitudo, por exemplo, pelas formas: aluno e discente porque

    elas mantm entre si uma relao de sentido, pertencendo essas formas, por isso, ao

    mesmo paradigma. Por outro lado, sob o ponto de vista formal, pertencem ao mesmo

    paradigma de estudante formas como: participante, feirante, comerciante,

    por apresentarem um elemento comum (o sufixo nte) que as coloca num mesmo

    paradigma, a classe dos nomes. Pertencem ainda, sob o ponto de vista formal e

    semntico, ao mesmo paradigma as diversas formas do verbo estudar: estudarei,

    estudamos, estudaramos.

    Essas noes esto resumidas no quadro a seguir. Veja.

    QUADRO-RESUMO

    EIXOS DA LINGUAGEMPARADIGMTICO SINTAGMTICO

    relaes virtuais

    relaes in absentia

    relaes efetivas

    relaes in praesentia

    SISTEMA MORFOLGICO SISTEMA SINTTICO

    SIGNIFICANTE NO-EXTENSO SIGNIFICANTE EXTENSO

    (morfema e palavra) (sintagma)

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    5 MORFOLOGIA DERIVACIONAL E MORFOLOGIA FLEXIONAL

    Segundo Borba (1984, p. 160), O conjunto dos morfemas de uma lngua

    mais seus processos combinatrios cumprem uma dupla finalidade: (i) estruturar

    e enriquecer o lxico e (ii) possibilitar a indicao de valores gramaticais. Da se

    poder dizer que h dois grandes setores no campo da morfologia, o da morfologia

    derivacional ou lexical e a morfologia flexional.

    A distino morfologia derivacional e morfologia flexional foi estabelecida

    pelo gramtico latino Varro (Apud Cmara 1996, p. 81). Esse gramtico distinguia

    o processo de derivatio voluntaria, que d origem a novas palavras e o processo de

    derivatio naturalis, mediante o qual se indicam as modalidades especficas de uma

    dada palavra. O mecanismo bsico da primeira a derivao, processo atravs do qual

    so formadas novas palavras, j o da segunda a flexo, processo atravs do qual se

    indicam as categorias gramaticais.

    Compete morfologia derivacional o estudo da estrutura interna das palavras,

    os processos de formao das palavras e as relaes entre paradigmas diferentes.

    morfologia flexional compete estudar a variao de palavras que pertencem a um

    mesmo paradigma. O paradigma constitui-se de um grupo de formas que se relacionam

    flexionalmente a partir de um radical comum, conforme se pode perceber nos exemplos

    abaixo:

    MANDAR BELO

    mandava belo

    mandavas bela

    mandava belos

    mandvamos belas

    mandveis

    Desde a tradio latina, os estudos no campo da morfologia tm procurado

    enfatizar as diferenas desses dois processos: o derivacional e o flexional. Mais

    recentemente, alguns estudiosos tm seguido outra direo, ou seja, tm considerado

    que esses dois campos de estudo no se opem, mas se complementam. No obstante

    essa nova perspectiva, destacaremos aqui algumas caractersticas que so inerentes a

    cada processo.

    A viso dicotmica desses dois processos morfolgicos ainda bastante discutida.

    Ora se defende uma rgida separao, ora se nega a existncia de fronteiras entre esses

    processos, destacando-se semelhanas e diferenas. Segundo Cmara (1970, p. 40), a

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    gramtica greco-latina no resolveu com nitidez e rigor o problema da decomposio

    mrfica do vocbulo, embora percebesse o processo da flexo casual, na declinao

    do nome, e o da criao de um vocbulo mais simples.

    Veja, a seguir, em que aspectos a morfologia derivacional se difere da

    morfologia flexional.

    5.1 FLEXO E DERIVAO: CARACTERES EM OPOSIO

    5.1.1 PROCESSO OBRIGATRIO / PROCESSO FACULTATIVO

    a) FLEXO: processo obrigatrio no sistema, que se impe para o falante.

    Ex.: alun /o/ s estdios /o / s

    b) DERIVAO: processo facultativo, de carter aleatrio, que no se impe

    como obrigao.

    Ex.: Ele comprou um casaro (casinha, casebre)

    5.1.2 PROCESSO SISTEMTICO E COERENTE / PROCESSO NO

    SISTEMTICO

    a) FLEXO: processo sistemtico e coerente que impe severas implicaes

    sintticas.

    Ex.: A alun / a desafiou o mestre que a indagava.

    b) DERIVAO: processo assistemtico, no homogneo, que no obedece a uma

    pauta sistemtica para toda uma classe do lxico.

    Ex.: cantar cantarolar

    saltar saltitar

    combater combate

    falar ?

    chorar choramingar

    pontuar pontuao

    gritar ?

    5.1.3 PROCESSO RIGOROSAMENTE GRAMATICAL / PROCESSO LEXICAL

    a) FLEXO: processo que opera com categorias rigorosamente gramaticais,

    exclusivamente intra classe e que repercutem no sistema fechado da lngua.

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    b) DERIVAO: processo que opera com relaes abertas, ou inter classe.

    Ex.: lei (substantivo)

    legal (adjetivo)

    legalmente (advrbio)

    5.1.4 PROCESSO EXAUSTIVO / PROCESSO NO EXAUSTIVO

    a) FLEXO: processo de carter exaustivo que opera com categorias gramaticais

    que constituem o sistema fechado da lngua.

    Ex.: alun / o alun / a alun /o/ s alun / a /s

    cant / a /va cant / a / sse

    b) DERIVAO: processo no exaustivo, um modelo no exclui o outro.

    Ex.: lei a) legal legalssimo b) legtimo legitimar

    legalmente legitimao

    legalizar legitimamente

    Para se descrever os mecanismos morfolgicos, sejam eles derivacionais ou

    flexionais, faz-se necessrio retomarmos aqui os conceitos de vocbulo fonolgico e

    de vocbulo formal. Veja a seguir.

    6 VOCBULO FORMAL E VOCBULO FONOLGICO

    A descrio do vocbulo formal nos remete ao conceito de vocbulo fonolgico.

    Este vocbulo definido a partir da presena do acento. No portugus, o acento tem

    uma dupla funo: uma distintiva e uma demarcativa. A funo distintiva a que

    serve para distinguir palavras como fbrica (subs.) e fabrica (verbo); exrcito (subs.)

    e exercito (verbo) jaca (fruta) jac (tipo de cesto), funcionando, assim, como um

    processo gramatical para distinguir padres morfolgicos. A funo demarcativa a

    que serve para marcar a existncia de um vocbulo fonolgico. No portugus do Brasil,

    h uma pauta acentual para cada vocbulo. As slabas classificam-se de acordo com a

    posio do acento em tnicas e tonas, sendo essas subclassificadas em pretnicas e

    postnicas. De acordo com Cmara Jnior, as tnicas so marcadas com tonicidade 3,

    as pretnicas, com 1 e as postnicas, com 0. Isoladamente, os vocbulos apresentam

    essa pauta acentual. Tomemos como exemplo, os vocbulos(:) cadernos, novos e

    cinco

    a) Ca / der / nos

    1 3 0

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    b) no / vos

    3 0

    cin / coc)

    3 0

    Constituindo esses vocbulos um grupo de fora, ou seja, uma seqncia de

    vocbulos sem pausa, conceito apresentado por Paul Passy (apud Cmara Jnior,

    1975 p. 63), a pauta acentual desses vocbulos modifica-se, permanecendo apenas

    com tonicidade 3 o ltimo vocbulo do grupo, passando as demais slabas tnicas dos

    vocbulos precedentes tonicidade 2.

    Veja:

    cin / co ca / der / nos no vos

    2 0 1 2 0 3 0

    trs gran / des ho / mens

    2 2 0 3 0

    Faz-se necessrio destacar que no existe coincidncia absoluta entre o vocbulo

    fonolgico e o vocbulo formal. Nas chamadas palavras compostas por justaposio,

    como por exemplo, em guarda-chuva, porco-espinho e passatempo, h dois vocbulos

    fonolgicos e um s vocbulo formal. H dois acentos em cada palavra, um acento

    de tonicidade 2 e outro de tonicidade 3, conforme podemos constatar na descrio

    abaixo.

    guarda chuva porco espinho passatempo

    2 0 3 0 2 0 1 3 0 2 0 3 0

    J nas formas verbais com pronome procltico ou encltico em que a forma

    dependente se junta a uma forma livre, como em se fala (fala-se) ou se comenta

    (comenta-se) por exemplo, tem-se um s vocbulo fonolgico e dois vocbulos formais.

    Vejamos, a seguir, os conceitos de forma livre, forma presa e forma dependente.

    7 FORMA LIVRE, FORMA PRESA E FORMA DEPENDENTE

    Segundo Camara Jnior (1975, p.69), os vocbulos formais de uma lngua

    classificam-se em formas livres, formas presas e formas dependentes. De acordo com

    esse lingista, o vocbulo formal a unidade a que se chega quando no possvel

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    nova diviso em duas ou mais formas livres.

    So formas livres as que podem funcionar isoladamente como comunicao

    suficiente, conforme o advrbio bem no exemplo: Como voc est? Bem. A forma livre

    tem autonomia formal e autonomia fonolgica, constituindo-se, assim, um vocbulo

    fonolgico. As formas presas so as que s funcionam agregadas a outras formas

    lingsticas. So exemplos de formas presas os morfemas flexionais e derivacionais

    como os destacados em: certeza, desleal, cantamos, estudava. As formas presas, ao

    contrrio das formas livres, no possuem nem autonomia formal nem autonomia

    fonolgica, no constituindo, assim, um vocbulo formal nem vocbulo fonolgico.

    As formas dependentes, por sua vez, so definidas como as que no so livres, porque

    no podem funcionar isoladamente como comunicao suficiente, mas tambm no

    so presas, uma vez que entre esta e a forma livre com a qual ela constitui o vocbulo

    fonolgico podem-se intercalar novas formas, o que se pode constatar no exemplo:

    encontrar um livro, em que se pode intercalar entre a forma dependente um e a forma

    livre livro outras formas livres, como por exemplo, em: um bom e excelente livro.

    As formas dependentes apresentam autonomia formal, mas diferentemente da livre,

    no apresenta autonomia fonolgica, no constituindo assim um vocbulo fonolgico.

    Veja exemplos de formas livres, formas presas e de formas dependentes, na estrofe a

    seguir:

    E as vinte palavras recolhidas

    nas guas salgadas do poeta

    e de que se servir o poeta

    em sua mquina til.

    (Joo Cabral de Melo Neto. Auto do Frade)

    So exemplos de formas livres: palavras, recolhidas, guas, salgadas,

    poetas, servir, mquina e til; de formas presas: -s, que marca o plural dos nomes

    substantivos e adjetivos (morfema de plural nos nomes), e -a, vogal temtica nominal

    nos nomes: poeta e mquina; e de formas dependentes: e, as, de, que, se, o.

    QUADRO-RESUMO

    autonomia

    formal

    autonomia

    fonolgicaForma livre + + = vocbulo fonolgicoForma dependente + - = no voc. fonolgicoForma presa - - = no voc. fonolgico70

    QUADRO-RESUMO

    autonomia

    formal

    autonomia

    fonolgicaForma livre + + = vocbulo fonolgicoForma dependente + - = no voc. fonolgicoForma presa - - = no voc. fonolgico

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    Resta ainda observar que as formas livres, assim como as formas dependentes,

    podem ser constitudas de um s elemento mrfico, sendo por isso indivisveis (mar,

    sol, f) ou de mais de elemento mrfico (leal-dade, in-fiel, calm-a-ment-e), sendo,

    portanto, passveis de uma diviso em unidades significativas, ou seja, em morfemas.

    Os vocbulos formais da lngua (formas livres, formas presas e formas

    dependentes) se distribuem em dois subsistemas: o sistema aberto e o sistema

    fechado.

    8 SISTEMA ABERTO E SISTEMA FECHADO

    Como vimos, os vocbulos formais, de que se constitui um idioma se distribuem

    em dois grupos, o sistema aberto e o sistema fechado.

    O sistema aberto assim definido pelo fato de seu nmero de palavras ser

    ilimitado, podendo ser ampliado ao longo do tempo. A esse sistema pertencem as

    classes dos nomes (substantivo, adjetivo e advrbio) e dos verbos, em outras palavras,

    a classe dos lexemas, para Pottier ou dos semantemas para Vandryes. Esse sistema

    representa a quase totalidade do saber lingstico, sendo impossvel sua assimilao

    total e seu conhecimento dispensvel para a identificao dos sintagmas em que

    ocorrem. So exemplos de palavras que pertencem ao sistema aberto as destacadas

    nos versos abaixo. Veja.

    Eu no tinha este rosto de hoje,

    assim calmo, assim triste, assim magro

    nem estes olhos to vazios,

    nem o lbio amargo.

    (MEIRELES, Ceclia. Retrato, In: ___. Os melhores poemas de Ceclia Meireles.

    Seleo de Maria Fernanda. 11 ed. So Paulo: Global, 1999, p.13).

    O sistema fechado assim denominado por ter limitado seu nmero de

    palavras, no podendo, assim, ser ampliado. Pertencem a esse sistema as classes

    dos pronomes, dos numerais, dos artigos, das preposies e das conjunes. So, na

    terminologia de Pottier, os gramemas, e na de Vandryes, os morfemas. possvel sua

    assimilao, uma vez que o nmero de palavras relativamente pequeno, uma srie de

    curtas listas de unidades da lngua, cuja ocorrncia se d com maior repetio no texto.

    O conhecimento prvio das palavras desse sistema indispensvel para a identificao

    dos sintagmas em que ocorrem. So exemplos de palavras que pertencem ao sistema

  • 72

    fechado as destacadas nos versos abaixo. Veja.

    Eu no tinha estas mos sem fora,

    To paradas e frias e mortas

    Eu no tinha este corao

    Que nem se mostra.

    (MEIRELES, Ceclia. Retrato, In: ___. Os melhores poemas de Ceclia Meireles.

    Seleo de Maria Fernanda. 11 ed. So Paulo: Global, 1999, p.13).

    9 A UNIDADE OPERACIONAL MORFOLOGIA: MORFEMA / MORFE

    No primeiro momento dos estudos estruturalistas, o morfema foi definido

    por Bloomfield (1933) como uma forma (significativa) recorrente que no pode, por

    sua vez, ser analisada novamente em formas (significativas) recorrentes menores.

    Em outras palavras, o morfema considerado como uma unidade mnima dotada de

    significao, que apresenta o mesmo trao semntico. De acordo com essa concepo,

    o morfema apresenta trs caractersticas bsicas: a) ter um trao semntico recorrente

    e b) no poder ser dividida em formas significativas menores e c) no poder apresentar

    semelhana fontico-semntica com nenhuma outra forma.

    Vejamos: cas /a / s cas / eiro

    cozinh / a/ s cozinh / eiro

    Nesses exemplos, identificamos formas mnimas que apresentam o mesmo

    trao semntico em todas as ocorrncias, -a vogal temtica nominal; s marca de

    plural dos nomes; eiro, sufixo formador de substantivo, significa agente ou profisso.

    Considerando os pares casa/caseiro; cozinha/cozinheiro, observa-se que os morfemas

    lexicais cas-, cozinh-, mantm seu significado nas palavras derivadas.

    Com o desenvolvimento dos estudos lingsticos, mais exatamente com Lyons

    (1970) e Matheus (1974), o termo morfema passou a ser definido como uma abstrao

    que envolve significados e possibilidades combinatrias (CARONE, 1991, p.23). A

    partir da passou-se a fazer distino entre morfema e morfe, definindo-se o morfe

    como segmento mnimo significativo recorrente que representa um dado morfema.

    (LAROCA, 1994, p.32). Segundo Lopes, (1995, p. 170). O morfe pode ser definido

    como cada realizao concreta de um mesmo morfema, ou seja, cada interpretao

    fonolgica do mesmo contedo. Essa distino contribuiu para a compreenso de

    fenmenos como neutralizao, alomorfia, cumulao, conforme veremos de modo

    mais detalhado no segundo captulo.

  • 73

    Os morfemas de uma lngua so divididos em morfemas lexicais, que se situam

    no lxico e em morfemas gramaticais, que se situam na gramtica. Estes ltimos se

    subdividem em: classificatrios, flexionais, derivacionais e relacionais.

    Os morfemas classificatrios tm como funo enquadrar os vocbulos nas

    classes dos nomes e dos verbos. So as vogais temticas nominais (-a, -e, -o) e verbais

    (-a, -e, -i). Nos nomes terr-a, pent-e e livr-o, so as vogais tonas finais que classificam

    essas formas na classe dos nomes. J as formas verbais cant-a-r, vend-e-r e part-i-r tm

    como elemento caracterizador da conjugao as vogais a, -e, -i. As formas lingsticas

    desprovidas desse elemento mrfico so chamadas de atemticas. No caso dos nomes,

    so atemticos os terminados por consoante (mar, fssil, revolver) ou por vogal tnica

    (caj, caf, cip). So exemplos de formas verbais atemticas a primeira pessoa do

    presente indicativo (canto, vendo e parto), todas as pessoas do presente do subjuntivo

    (cante, cantes, cante, cantemos, canteis, cantem) entre outras formas.

    Os morfemas flexionais traduzem as categorias gramaticais, de gnero e de

    nmero, nos nomes e alguns pronomes, e de modo tempo, nmero e pessoa, nos

    verbos. Os morfemas flexionais se subdividem em: aditivo, permutativo, subtrativo,

    substitutivo e morfema-zero.

    Morfema aditivo: o morfema que, sendo constitudo por um ou mais fonema,

    se acrescenta ao morfema lexical ou radical: professor / professora, diretor / diretora,

    aluno/ alunos, luz / luzes etc.

    Morfema permutativo: o morfema que se realiza por meio da troca de um

    segmento fnico por outro, assinalando uma oposio: aluno / aluna, gostoso / gostosa,

    belo / bela, cantava / cantasse, cantamos / cantais etc.

    Morfema subtrativo: o morfema que opera por meio da supresso de algum

    segmento fnico: irmo / irm, rfo / rf etc.

    Morfema substitutivo: o morfema que se realiza por um processo de

    substituio ou alternncia de vogais: fiz / fez, tive / teve, pode / pde etc.

    Morfema-zero: o morfema que no se faz representar por nenhum morfe para

    indicar uma categoria gramatical: bola singular marcado por morfema-zero; cantor

    masculino marcado por morfema-zero; falamos (pretrito perfeito) modo e tempo

    marcados por morfema-zero.

    Morfema supra-segmental: o morfema que resulta da variao de intensidade

    que pode funcionar como elemento diferenciador: secretria / secretaria, fbrica /

    fabrica etc. Nesses casos, tem-se a oposio (tnico) / a (tono).

    A alternncia voclica pode funcionar como trao secundrio na distino de

    gnero e de nmero, podendo ser considerada como uma alternncia submorfmica,

    uma vez que enfatiza a distino que se estabelece entre duas formas por meio de

    morfemas, como ocorre nos pares famoso / famosa, em que a distino de gnero

    se estabelece pela permuta dos morfemas -o por a, sendo essa distino acentuada

  • 74

    pela alternncia voclica - e -; ou entre os pares porco / porcos, em que a distino

    singular/plural marcada pelo morfema de plural s e acentuada pela alternncia

    voclica / .

    Veja mais alguns exemplos de morfemas flexionais:

    a) aditivo: diretor/diretor-a;

    b) permutativo: alun-o/alun-a;

    c) subtrativo: rfo/rf;

    d) alternativo: gostoso/gostosa /;

    e) morfema zero: cantas/canta-.

    f) morfema supra-segmental: hspede/hospede

    Os morfemas derivacionais so os que criam novas palavras na lngua.

    Tradicionalmente so denominados de afixos e classificados como prefixos e sufixos.

    So exemplos: reler, im-prprio, a-cfalo, livreiro, lealmente, famoso.

    Os morfemas relacionais so os que ordenam as formas lingsticas nas frases,

    sendo responsveis pela organizao dos morfemas lexicais entre si. So exemplos

    de morfemas relacionais as formas lingsticas destacadas no seguinte enunciado:

    Os mestres que se prepararam para o concurso foram aprovados. So morfemas

    relacionais na lngua portuguesa: preposies, conjunes e pronomes relativos.

    ATIVIDADES

    CAROS ALUNOS,

    PONHAM EM PRTICA OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS NESTA

    UNIDADE, RESOLVENDO AS ATIVIDADES PROPOSTAS A SEGUIR.

    1) Com base nos estudos desenvolvidos, apresente um conceito para o termo

    morfologia.

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    2) A partir das caractersticas apresentadas, estabelea distino entre morfologia

    derivacional e morfologia flexional.

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    ATIVIDADES

    CAROS ALUNOS,

    PONHAM EM PRTICA OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS NESTA

    UNIDADE, RESOLVENDO AS ATIVIDADES PROPOSTAS A SEGUIR.

  • 75

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    ____________________________________________________________________

    3) Aps ler os versos abaixo, identifique, nos vocbulos destacados, fenmenos de

    flexo e de derivao.

    Na feiralivre do arrabaldezinho

    Um homem loquaz apregoa balezinhos de cor

    O melhor divertimento para as crianas!

    Em redor dele h um ajuntamento de menininhos pobres

    Fitando com olhos muito redondos os grandes balezinhos muito redondos.

    (BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 2. ed. Jos Olympio, 1970, p. 98)

    4. Identifique com V a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e com F, a(s) falsa(s).

    4.1 ( ) A unidade operacional da morfologia o morfema.

    4.2 ( ) A morfologia trabalha com unidades pertencentes primeira articulao

    da linguagem.

    4.3 ( ) Compete morfologia estudar a organizao interna dos vocbulos

    e a classificao das palavras.

    4.4 ( ) Forma livre e a forma dependente possuem autonomia formal e fonolgica.

    4.5 ( ) A forma presa e a forma dependente possuem apenas autonomia formal.

    4.6 ( ) S a forma livre possui autonomia formal e fonolgica.

    4.7 ( ) S as unidades pertencentes ao sistema fechado da lngua respondem

    com eficincia pela identificao do real sistema da lngua.

    4.8 ( ) O sistema aberto de uma lngua pode ser sempre ampliado com a criao

    de novas palavras

    4.9 ( ) Ao sistema aberto pertencem os lexemas, ou seja, as classes dos nomes

    e dos verbos.

    4.10( ) Ao sistema fechado pertencem os gramemas, ou seja, as classes dos pronomes

    e dos vocbulos conectivos.

    5) Classifique as formas destacadas nos versos a seguir em formas livres, formas presas

    e formas dependentes:

    O poeta um fingidor

    Finge to completamente

  • 76

    Que chega a fingir que dor

    A dor que deveras sente.

    (PESSOA, Fernando. Obra potica. Rio de Janeiro: Aguiar, 1969)

    a) formas livres: __________________________________________________

    b) formas presas: __________________________________________________

    c) formas dependentes: ______________________________________________

    6) As palavras destacadas nos versos abaixo pertencem ao sistema aberto e, ao

    sistema fechado da lngua, identifique-as.

    Dizem que finjo ou minto

    Tudo que escrevo. No.

    Eu simplesmente sinto

    Com a imaginao.

    No uso o corao.

    Tudo o que sonho ou passo,

    O que me falha ou finda,

    como que um terrao

    Sobre outra coisa ainda.

    Essa coisa que linda.

    (PESSOA, Fernando. Obra potica. Rio de Janeiro: Aguiar, 1969)

    a) Sistema aberto: ____________________________________________________

    ____________________________________________________

    ____________________________________________________

    b) Sistema fechado: __________________________________________________

    __________________________________________________

    __________________________________________________

    7. Identifique com V a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e com F, a(s) falsa(s)

    ( ) O morfema lexical responde pela significao da palavra, servindo ao mesmo

    tempo como base para a formao de novas palavras.

    ( ) O morfema gramatical tem por funo enquadrar o morfema lexical dentro de

    uma categoria da lngua.

  • 77

    ( ) Os morfemas classificatrios formam os temas nominais e os temas verbais.

    ( ) Os morfemas flexionais indicam as categorias gramaticais de gnero e nmero dos

    nomes e as categorias gramaticais de: modo, tempo, nmero e pessoa dos verbos.

    8. Classifique os morfemas destacados nos vocbulos a seguir, atentando para a

    distino: morfemas lexicais e morfemas flexionais.

    a) crianas

    b) garotinhas

    c) pobreza

    d) mundo

    e) belssimo

    9. Classifique os morfemas flexionais (aditivos, subtrativos, permutativos, alternativos)

    e classifique-os

    a) aluno / aluna

    b) diretor / diretora

    c) av / av

    d) irmo / irm

    e) mestre / mestra

    10. D exemplos de palavras que apresente, na sua estrutura mrfica, morfema-zero:

    a) _________________

    b) _________________

    c) _________________

    d) _________________

    e) _________________

  • 78

  • 79

    UNIDADE II

    A ESTRUTURA DOS VOCBULOS E OS PROCESSOS DE FORMAO DE PALAVRAS

    1. ANLISE MRFICA: PRINCPIOS BSICOS E AUXILIARES

    Anlise mrfica consiste na depreenso das formas mnimas que constituem

    os vocbulos formais de uma lngua. Segundo Camara Jnior (1975, p.72), por meio

    desse processo que se procede descrio rigorosa das formas de uma determinada

    lngua.

    O princpio bsico da anlise mrfica a comutao, tcnica que consiste,

    segundo esse autor, na substituio de uma invariante por outra, de que resulta novo

    vocbulo formal. Para compreendermos melhor esse princpio, tomemos como exemplo

    a forma verbal cantvamos, cujos elementos mrficos so: cant- (radical), -- (vogal

    temtica); -va- (sufixo modo temporal) e mos (sufixo nmero pessoal). A substituio,

    por exemplo, do sufixo modo-temporal va por outros do mesmo paradigma (-sse, -ra,

    -ria), ou seja, a comutao desse morfema por outros ter como resultado, um vocbulo

    formal diferente. Comparando-se as formas cantasse, cantara e cantaria, observamos

    que essas formas apresentam-se em tempos e modos diferentes, respectivamente,

    pretrito imperfeito do subjuntivo, mais-que-perfeito do indicativo e futuro do pretrito

    do indicativo. Por outro lado, se comutarmos a desinncia nmero-pessoal mos por

    s ou is, tendo-se em razo disso, as formas cantaras e cantasses, observamos que

    essas formas correspondem a pessoas gramaticais diferentes, respectivamente, 2 do

    singular e 2 do plural. Nesses casos, mantm-se apenas a significao lexical. Por

    outro lado, comutando-se, o morfema lexical cant-(cantava), por exemplo por and-

    (andar) e estud- (estudar), resultando da as formas andava e estudava, mantm-se o

    mesmo tempo e modo verbal, alterando-se a significao lexical.

    Segundo (KOCH & SILVA, 2005, p.27), a comutao consiste em uma

    operao contrastiva por meio de permuta de elementos para o qual so necessrias:

    a) a segmentao do vocbulo em subconjuntos e b) a pertinncia paradigmtica

    entre os subconjuntos que vo ser permutados.

    Os princpios auxiliares da anlise mrfica so: a alomorfia, a neutralizao,

    e a cumulao. A alomorfia (llos/outro e morph/forma) consiste no fato de um

    morfema poder ser representado por morfes diferentes, por configuraes fonemticas

    diferentes. Em outras palavras, um morfema no representado obrigatoriamente por

    um segmento fnico imutvel, sendo passvel de variao. Pode-se verificar que nas

    formas verbais cantava / cantveis, o morfema modo-temporal representado por

    UNIDADE II

    A ESTRUTURA DOS VOCBULOS E OS PROCESSOS DE FORMAO DE PALAVRAS

  • 80

    mofes diferentes va/-ve, sendo o morfe ve alomorfe de va. Na forma flores, a

    marca de plural s est representado pelo alomorfe es.

    A alomorfia pode ser de natureza a) mrfica, privativa da primeira articulao

    da linguagem, como a que se percebe em noite / noturno; trazer / trouxe; caber /coube;

    b) fonolgica, em que se tem como exemplo a alomorfia da vogal temtica dos verbos

    de 1 conjugao, quando conjugados no pretrito perfeito do indicativo, a exemplo

    de andar / andei / andou; e ainda c) de natureza gramatical, como a que se d com

    as formas do particpio de verbos abundantes, em que o uso de uma forma ou outra

    determinado por uma regra da gramtica. A regra gramatical determina que com os

    auxiliares ter e haver deve-se usar a forma do particpio regular, tinha expressado e

    com os auxiliares ser e estar a forma do particpio irregular, tendo-se a expresso foi

    expresso.

    Um outro princpio auxiliar da anlise mrfica o da neutralizao ou

    homonmia. Tem-se aqui um processo inverso ao da alomorfia. Na neutralizao, um

    nico morfe representa dois ou mais morfemas diferentes, cujas oposies fonolgicas

    foram eliminadas. Em outras palavras, os diferentes significados de dois morfemas

    se anulam no plano de expresso, mantendo-se a distino no plano do contedo. o

    que se pode perceber nos exemplos: a) menin a s e cant a s, em que os morfes

    a e s apresentam o mesmo plano de expresso, mas so diferentes no plano do

    contedo. Enquanto o a de meninas representa o morfema de gnero e o s, morfema

    de nmero plural, uma desinncia (sufixo) nominal de nmero, em cantas, o a um

    morfema classificatrio, uma vogal temtica verbal, e o s, uma desinncia (sufixo)

    nmero pessoal que indica a 2 pessoa do singular. A neutralizao morfolgica pode

    resultar de uma neutralizao fonolgica, em que se elimina a oposio entre dois

    fonemas, a exemplo do que ocorre com as formas verbais vende e parte, tornando

    indistinta a segunda e a terceira conjugaes, fato que resulta da neutralizao dos

    fonemas // e /i/, em posio tona final.

    guisa de concluso podemos dizer que a neutralizao consiste em fazer

    desaparecer a oposio fonolgica entre dois morfes que representam morfemas

    distintos.

    2 ESTRUTURA MRFICA DOS VOCBULOS

    Como vimos na primeira unidade, os vocbulos formais so constitudos de

    diferentes elementos mrficos denominados de morfemas. No mbito mais geral, esses

    morfemas so classificados em morfemas lexicais, os que do conta da significao

    externa, e em morfemas gramticas (flexionais, classificatrios e derivacionais), os

    que vo se reportar significao interna ou gramatical. Analisando-se as estruturas

    nominais como: sol, terra, garotas, menininhas, beleza, desleal, deslealmente,

  • 81

    casamento, podemos constatar que os nomes em portugus apresentam diferentes

    estruturas mrficas, podendo ser constitudos, por exemplo, de:

    1. morfema lexical: sol,

    2. morfema lexical + morfema classificatrio (vogal temtica nominal - VTN): terr-a,

    3. morfema lexical + morfemas flexionais (DNG +DNN): garot-a-s,

    4. morfema lexical + morfema derivacional (sufixo derivacional) + morfemas flexionais:

    menin-inh-a-s

    5. morfema lexical + morfema derivacional + morfema classificatrio: bel-ez-a,

    6. morfema derivacional (prefixo) + morfema lexical: des-leal

    7. morfema derivacional + morfema lexical + morfema derivacional + morfema

    classificatrio: des-leal-ment-e

    8. morfema lexical + morfema classificatrio + morfema derivacional + morfema

    classificatrio: cas-a-ment-o

    Considerando a estrutura mrfica das formas verbais no portugus, Cmara

    (1975, p. 104) apresenta uma frmula geral, cuja representao : T (R+VT) SF (SMT

    +SNP). O elemento mrfico T, que corresponde ao tema, constitudo de outros

    elementos, o morfema lexical tradicionalmente definido como radical e o morfema

    classificatrio, neste caso, correspondendo vogal temtica verbal (VT). Ao tema (T)

    se agregam os morfemas flexionais (SF), tradicionalmente denominados de desinncias

    modo-temporal e nmero-pessoal.

    Analisando-se as formas verbais estudssemos e cantarias, observamos que a

    estrutura de cada uma dessas formas corresponde ao modelo apresentado por Cmara.

    Vejamos:

    ESTUDSSEMOS

    estud R (radical, morfema lexical)

    a VT (vogal temtica)

    estuda T (tema)

    sse SMT (sufixo modo-temporal / desinncia modo-temporal)

    mos SNP (sufixo nmero-pessoal / desinncia nmero-pessoal)

    CANTARIAS

    cant R

    a VT

    canta T

    ria SMT

    s SNP

  • 82

    Na anlise de determinadas formas verbais, h, entretanto, a necessidade de se

    levar em conta fenmenos como o da alomorfia, da neutralizao e do morfema zero,

    fato que veremos mais adiante ao tratarmos do mecanismo da flexo verbal.

    3 PROCESSOS DE FORMAO DE PALAVRAS

    Estudando-se o lxico da lngua portuguesa, observamos que este se

    constitui, em sua grande maioria, de palavras herdadas do latim; de palavras que

    provm de outras lnguas, como por exemplo: ingls, francs, espanhol; e finalmente

    de palavras de formao verncula. Este ltimo recurso de enriquecimento do lxico

    conta basicamente de dois processos gerais de formao de palavras: a derivao

    e a composio. O estudo desses processos de formao parte de uma perspectiva

    sincrnica, considerando a existncia de palavras simples e compostas. As simples

    podem ser primitivas e derivadas, sendo estas formadas a partir daquelas.

    Vamos conhecer esses processos de formao de palavras.

    A derivao pode ser definida como um processo de formao de palavras que

    consiste na juno de um afixo (prefixo ou sufixo) a um morfema lexical ou radical.

    A palavra derivada constituda, assim, de um radical e um afixo. So exemplos de

    palavras derivadas: recontar, afnico, irreal, bebedouro, eufonia, ansioso, poluio

    etc.

    A composio pode ser definida como um processo de formao de palavras

    que consiste na juno de dois ou mais radicais que se combinam. So exemplos de

    palavras compostas: guarda-roupa, amor-perfeito, pr-do-sol, p-de-meia etc.

    So trs basicamente os tipos de derivao:

    prefixal,a) que consiste na juno de um prefixo a um morfema lexical

    (radical): reler, ilegal, amoral, dispnia etc.

    sufixal,b) que consiste na juno de um sufixo a um morfema lexical: surdez,

    escrevente, suavizar, pureza etc.

    parassntese, c) que consiste na juno simultnea de prefixo e sufixo a um

    morfema lexical, um processo por meio do qual se formam, basicamente,

    verbos: ajoelhar, esfarelar, engarrafar, embainhar etc.

    H dois outros tipos de formao de palavras que so considerados, no mbito

    da gramtica tradicional e da lingstica, como derivao: a derivao regressiva e a

    derivao imprpria ou converso. Esses processos, entretanto, fogem ao conceito

    de derivao. No primeiro caso no h uma juno de um afixo a um radical, mas

    a subtrao de um morfema. So exemplos desse tipo de derivao: combate (de

    combater), castigo (de castigar), caa (de caar), luta (de lutar) etc. J o segundo tipo

  • 83

    resulta da mudana da classe de palavra, como por exemplo, o uso de um adjetivo na

    funo de advrbio: falar alto, descer redondo, custa caro. Considerando a classificao

    de palavras proposta por Cmara Jnior (1975), torna-se sem sentido considerar as

    formas: alto, redondo e caro, nos exemplos dados, como um tipo de derivao. Na

    realidade, os nomes podem assumir as funes substantiva, adjetiva e adverbial, sendo

    essa funo definida no contexto em que o nome est inserido. Retomaremos esse

    assunto na terceira unidade.

    Alguns lingistas, a exemplo da Cmara Jnior (1968, p.292) e Macambira

    (1978, p. 69), tm assumido uma postura diferente em relao derivao prefixal.

    Esses autores consideram a prefixao no processo da composio. O argumento

    apresentado por esses estudiosos o da independncia vocabular, uma vez que alguns

    prefixos como com, (compor), contra (contrapor), entre, (entreabrir) passaram

    a funcionar como preposio, adquirindo assim autonomia formal. No mbito da

    gramtica tradicional, entretanto, impera a classificao da prefixao como um caso

    de derivao.

    Diferentemente da derivao, a composio um processo de formao de

    palavras que se d por meio da juno de dois ou mais morfemas lexicais. Desse

    processo resulta quase sempre uma palavra nova com significado diferente do daquelas

    que lhe deram origem. O apagamento do significado das palavras que serviram de base

    para a composio pode ser parcial ou total, uma vez que o significado dessas palavras

    pode ou no apresentar uma relao de sentido com o todo, conforme exemplificam os

    compostos: amor-perfeito, ganha-po, p-de-meia, passa-tempo, saca-rolha, papel-

    moeda.

    Do ponto de vista fonolgico, h dois tipos de composio: a justaposio

    e a aglutinao. Na composio por justaposio, tem-se a juno dos morfemas

    lexicais, mantendo esses elementos autonomia fonolgico. Tem-se aqui, como vimos

    na 1 unidade, a falta de coincidncia entre vocbulo formal e vocbulo fonolgico.

    No composto por justaposio, h um vocbulo formal e dois fonolgicos. Veja os

    exemplos apresentados no pargrafo anterior.

    Na composio por aglutinao, tem-se, igualmente, a juno de dois morfemas

    lexicais ocorrendo, entretanto, a perda da autonomia fonolgica de um desses

    componentes, como ocorre em boquiaberto, pernalta, vinagre, por exemplo. Aqui h

    um vocbulo formal e um vocbulo fonolgico, havendo assim uma correspondncia

    entre esses dois planos: o fonolgico e o formal.

    Alm da derivao e da composio, existem outros processos de ampliao

    do lxico, dos quais os mais citados nas gramticas tradicionais e nos manuais de

    lingstica so: hibridismo, siglas e abreviao vocabular.

    Hibridismo a denominao dada aos compostos ou derivados que resultam

    da juno de elementos de lnguas diferentes: burocracia (francs / grego); sociologia

  • 84

    (latim/grego); goiabeira (tupi / portugus).

    A sigla ou acrossemia, segundo Lemos, (1991, p. 174), consiste num processo de

    reduo em que longos ttulos ficam reduzidos s letras iniciais das palavras constitutivas

    desse ttulo: UFPB, (Universidade Federal da Paraba); UAB (Universidade Aberta do

    Brasil), EAD (Educao a Distncia).

    Lemos (1991, p. 174) denomina de braquissemia o processo de formao de

    palavras visto pela tradio gramatical como abreviao vocabular. Esse processo

    consiste no emprego de parte de um vocbulo pelo vocbulo. A parte subtrada pode ser

    inicial, (afrese), medial (sncope) ou final (apcope). So exemplos desse processo

    de formao de palavras: foto (fotografia), auto (automvel), plio (poliomielite), inox

    (inoxidvel).

    ATIVIDADES

    CAROS ALUNOS,

    PONHAM EM PRTICA OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS NA

    NESSA UNIDADE, RESOLVENDO AS ATIVIDADES PROPOSTAS A

    SEGUIR.

    Leia as estrofes a seguir e resolva as atividades propostas.

    Na feira-livre do arrebaldizinho

    Um homem loquaz apregoa balezinhos de cor:

    O melhor divertimento para as crianas!

    Em redor dele h um ajuntamento de menininhos pobres,

    Fitando com olhos muito redondos os grandes balezinhos muito redondos.

    No entanto a feira burburinha.

    Vo chegando as burguesinhas pobres,

    E as criadas das burguesinhas ricas,

    E as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.

    (BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 2ed. So Paulo: J. Olympio, 1970, p.

    98).

    ATIVIDADES

    CAROS ALUNOS,

    PONHAM EM PRTICA OS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS NA

    NESSA UNIDADE, RESOLVENDO AS ATIVIDADES PROPOSTAS A

    SEGUIR.

  • 85

    1. Faa a anlise mrfica dos vocbulos abaixo:

    a) crianas: __________________________________________________________

    b) olhos: ____________________________________________________________

    c) mulheres: _________________________________________________________

    d) pobres: ___________________________________________________________

    e) burburinhas________________________________________________________

    f) ajuntamento: _______________________________________________________

    h) balezinhos: _______________________________________________________

    i) redondos: _________________________________________________________

    j) ricas: _____________________________________________________________

    l) lavadeiras: ________________________________________________________

    2. Segmente as formas verbais em seus elementos mrficos e, a seguir, classifique-os.

    a) apregoa: ___________________________________________________________

    b) fitando: ___________________________________________________________

    c) criava: ____________________________________________________________

    d) chegssemos: ______________________________________________________

    e) divertiu: ___________________________________________________________

    f) venderias: __________________________________________________________

    3. Identifique o processo de formao das palavras abaixo:

    a) divertimento: _______________________________________________________

    b) ajuntamento: _______________________________________________________

    c) lavadeiras: _________________________________________________________

    d) empobrecer: _______________________________________________________

    e) feira-livre: _________________________________________________________

  • 86

  • 87

    UNIDADE III

    CLASSIFICAO DE PALAVRAS:DA TRADIO GRAMATICAL S MODERNAS PROPOSTAS DE CLASSIFICAO

    1. A CLASSIFICAO DE PALAVRAS NO CONTEXTO DA TRADICIO GRAMATICAL

    O estudo das classes de palavras remonta tradio greco-latina. Em sua

    reflexo sobre a linguagem, Plato (apud, NEVES, 1987 ) identificou duas partes

    do discurso, noma (nome) e rhema (verbo), sendo assim a lngua constituda de um

    sistema binrio. Esse filsofo buscava descobrir a relao entre o homem e a linguagem,

    e entre a linguagem e o mundo, ou seja, como o homem fazendo uso da linguagem

    dizia o mundo. A preocupao deste filsofo no era, na realidade, a linguagem em si,

    mas a linguagem como forma de dizer o mundo.

    A partir da reflexo platnica, Aristteles (Apud, NEVES, 1987) chegou

    noo de linguagem como representao do mundo. Para este filsofo, havia

    uma relao entre a organizao do universo e a organizao da linguagem. No

    universo havia substncias, que sofriam acidentes e esses ocorriam em determinadas

    circunstncias. Em correspondncia a essa organizao, havia, na linguagem, categorias

    que representavam as substncias, chamadas de substantivos; outras que traduziam

    os acidentes, os adjetivos; e, ainda, havia as que expressavam as circunstncias,

    os advrbios. Em sua teoria das partes do discurso, Aristteles distingue termos

    categoremticos e termos sincategoremticos, os primeiros representam as categorias

    (substantivos, adjetivos, e advrbios) e os segundos tm por funo estabelecer relao

    entre os termos categoremticos.

    As categorias aristotlicas foram redefinidas na Tchne grammatik de

    Dionsio da Trcia. Segundo Dionsio, havia, no grego, oito partes do discurso: nome,

    pronome, verbo, advrbio particpio, conjuno, preposio e artigo. Tomando base a

    descrio gramatical dos gregos, a gramtica latina apresenta, num primeiro momento,

    oito classes de palavras: nomes, pronomes verbos, advrbios, particpios conjunes e

    interjeies. Comparando-se essas descries, percebe-se que ao partir da gramtica

    grega, a gramtica latina exclui a classe dos artigos e introduz a interjeio como uma

    classe de palavra. No perodo medieval, a classe dos nomes foi subdividida em duas

    outras classes, a dos substantivos e dos adjetivos, introduzindo-se, ainda, uma outra

    classe, a dos numerais. A classificao da gramtica greco-latina foi retomada por

    muitas outras lnguas, principalmente pelas neolatinas como o portugus, o espanhol,

    UNIDADE III

    CLASSIFICAO DE PALAVRAS:DA TRADIO GRAMATICAL S MODERNAS PROPOSTAS DE CLASSIFICAO

  • 88

    o francs, italiano etc.

    Esse modelo de classificao vem, desde o sculo XIX, sendo objeto de crticas

    de muitos estudiosos da linguagem. J em 1980, Hermann Paul referia-se a essa

    classificao como uma taxionomia ecltica, pelo fato de ela se fundamentar em trs

    diferentes aspectos: a) a significao; b) a funo das palavras na organizao da orao

    e c) a forma das palavras. Em outras palavras, esse estudioso chamava a ateno para

    a complexidade que resultou da juno dos critrios: semntico, sinttico e mrfico.

    Ao estudarmos, porm, a proposta de classificao apresentada pelo lingista Mattoso

    Cmara, podemos ver que, na realidade, ao o problema no bem este. Para esse

    lingista como para muitos outros, uma proposta de palavras precisa levar em conta

    o sentido, a forma e a funo, cada um a seu tempo. A proposta de classificao de

    palavras desse lingista ser estudada neste captulo.

    Em seus estudos sobre A estrutura morfo-sinttica do portugus, Macambira

    (1974, p.17)) diz que as palavras existentes em qualquer lngua distribuem-se em

    vrias classes, conforme as formas que assumem ou as funes que desempenham ,

    e para alguns autores conforme o sentido que expressam. (grifo do autor). Segundo

    esse autor, a forma pode ser constituda de um ou mais fonema ao qual se junta um

    sentido. Assim, so exemplos de forma a conjuno e e o adjetivo s, que expressam,

    respectivamente, a idia de adio e de solido. Apesar de privilegiar o aspecto formal

    e de colocar o aspecto semntico como o ltimo a ser considerado, esse estudioso no

    pde deixar de chamar ateno para o aspecto semntico, retomando, para tanto, o

    pensamento saussureano de que na lngua no se pode isolar o som da idia, nem a

    idia do som.

    Segundo Macambira, o critrio bsico para a classificao de palavras o critrio

    mrfico ou formal, considerando-se, assim, as oposies formais que as palavras podem

    assumir para indicar as categorias gramaticais (flexo) ou para criar novas palavras

    (derivao). Principalmente para lnguas que apresentam uma abundncia de formas

    como o caso do portugus. Observa, entretanto, Macambira que h lnguas em que as

    palavras so pobres sob o ponto de vista formal, o que torna invivel considerar esse

    critrio como a base para a classificao das palavras.

    Neste ltimo caso, em que no se pode contar com o aspecto formal, deve-se

    partir ento do critrio funcional ou sinttico. Neste caso, a funo que a palavra

    exerce em um grupo de palavras, a relao com outras formas lingsticas que deve

    orientar a classificao. De acordo com esse estudioso, s em ltimo caso deve-se

    considerar o critrio semntico.

    Ressalta, ainda, Macambira que a tradio gramatical greco-latina se

    fundamentou nos critrios mrfico, sinttico e semntico, privilegiando ora um, ora

    outro critrio, sem estabelecer, entretanto, uma hierarquia entre esses critrios. , na

    realidade, o que se pode constatar ao se analisar a classificao de palavras apresentada

  • 89

    nas gramticas normativas de lngua portuguesa. Vejamos.

    De acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), as palavras da

    lngua portuguesa se dividiam em dois grandes grupos: a) o das palavras variveis e b)

    o das palavras invariveis. O primeiro grupo constitudo das classes dos substantivos,

    dos adjetivos, dos pronomes e dos verbos. O segundo, das classes dos advrbios, das

    preposies, das conjunes e das interjeies. Em 1959, a NGB alterou a classificao

    de palavras, subdividindo a classe dos pronomes, criou a classe dos artigos e dos

    numerais. O artigo era uma das classes de palavras da lngua grega, mas no constava

    na lista de palavras da lngua latina. No portugus, como, vimos, resultou de uma

    subdiviso dos pronomes.

    Assim, de acordo com a NNGB (Nova Nomenclatura Gramatical Brasileira) so

    dez as classes de palavras em portugus, seis variveis: substantivo, adjetivo, artigo,

    numeral pronome e verbo; e quatro invariveis: advrbio, preposio, conjuno e

    interjeio. O critrio que fundamentou as duas propostas foi o mrfico, j que se

    levou em conta a possibilidade de variao da estrutura formal da palavra.

    Ao conceituar as chamadas classes de palavras, passou-se a considerar,

    aleatoriamente, ora o critrio semntico, ora o critrio mrfico, ora o critrio sinttico.

    o que se pode constatar a partir da anlise de alguns conceitos como o de substantivo

    e de advrbio apresentados nas gramticas tradicionais da lngua portuguesa. O

    substantivo definido como palavra varivel que serve para nomear os seres em

    geral; e o advrbio como palavra invarivel que serve para determinar o verbo,

    o adjetivo ou outro advrbio. No primeiro caso, os critrios privilegiados foram o

    mrfico e o semntico, no segundo, o mrfico e o sinttico. Ao se analisar os conceitos

    das demais classes de palavras, percebe-se que tambm nesse contexto, a exemplo da

    tradio greco-latina, no se estabeleceu uma hierarquia entre os critrios. Permanecem,

    assim, nas gramticas normativas do portugus a mesma complexidade das gramticas

    que lhe deram origem.

    Situando os pontos mais nevrlgicos da questo, o lingista Cmara Jnior

    (1975) apresenta uma nova proposta de classificao de palavras para o portugus.

    Antes de discuti-la, vejamos outras modernas propostas de classificao de palavras

    que, certamente, tiveram influncia nos estudos de Cmara Jnior.

    2. MODERNAS PROPOSTAS DE CLASSIFICAO DE PALAVRAS

    Identificadas as deficincias do modelo tradicional, gramticos e lingsticas tm

    apresentado novas propostas de classificao de palavras. guisa de exemplificao,

    comentaremos rapidamente as propostas apresentadas por Pottier, Vandryes, Jespersem

    e Hjelmslev (apud, BIDERMAM, 1978).

  • 90

    Fundamentando-se no critrio semntico, Pottier e Vandryes apresentam

    uma proposta de classificao de palavras em que dividem as palavras da lngua a

    partir de sua significao (lexical ou gramatical). Para Pottier, as palavras de uma

    lngua classificam-se em trs grandes grupos: a) o das palavras com lexema, b) o

    das palavras sem lexema e c) o das palavras oriundas do contexto da fala. Pertencem

    ao primeiro grupo os substantivos, os verbos e os adjetivos e seus substitutos. Ao

    segundo pertencem as preposies, as conjunes os quantificadores e os advrbios.

    De acordo com Vandryes, h dois grupos de palavras, a) o dos vocbulos-semantema

    e b) o dos vocbulos-morfema. Pertencem ao primeiro grupo os nomes (que podem

    ser substantivos, adjetivos e advrbios de modo) e os verbos. Pertencem ao segundo

    grupo as preposies, as conjunes o artigo/pronome. Analisando-se essas propostas,

    pode-se constatar que, alm de ser de base semntica, elas se assemelham mais teoria

    das classes de palavras, tendo por objetivo distribuir os constituintes do lxico em

    classes paradigmticas.

    Os lingistas Jespersen e Hjelmslev assumem uma postura diferente em relao

    classificao de palavras. Fundamentando-se no critrio funcional ou sinttico, em

    que se leva em conta a organizao da orao e a posio assumida por cada palavra,

    numa ordem hierrquica, Jespersen distribui as partes da orao considerando-as

    em trs nveis: a) papel primrio: substantivo; b) papel secundrio: adjetivo e verbo

    e c) papel tercirio: advrbio. Seguindo a mesma orientao, Hjelmslev defende que

    h quatro categorias fundamentais: c) semantema de funo primria: substantivo; b)

    semantema de funo secundria: adjetivo e verbo; c) semantema de funo terciria:

    advrbio e d) pronome. Como se observa, essas propostas assemelham-se mais teoria

    aristotlica das partes do discurso, uma vez que visa definir as categorias gramaticais

    do discurso e classificar os constituintes da proposio, considerando, assim, o eixo

    sintagmtico da lngua.

    SNTESE DAS PROPOSTAS:

    1. POTTIER 2.VANDRYES

    a) Palavras com lexema a) vocbulo-semantema

    substantivo nomes (substantivo, adjetivo, verbo)

    verbo

    adjetivo verbo

    b) Palavras sem lexema b) vocbulo-morfema

    preposio preposio

  • 91

    conjuno conjuno

    quantificador artigo / pronome

    advrbio

    c) Palavras oriundas dos contexto da fala

    3. JESPERSEN

    a) Papel primrio: substantivo

    b) Papel secundrio: adjetivo e verbo

    c) Papel tercirio: advrbio

    4. HJELMSLEV

    a) Semantema de funo primria: substantivo

    b) Semantema de funo secundria: adjetivo

    c) Semantema de funo terciria: advrbio

    PARA APROFUNDAR SEU CONHECIMENTO SOBRE ESTE ASSUNTO,

    LEIA BIDERMAN (1978), TERCEIRA PARTE: CAPTULOS 1 e 2.

    3 PROPOSTA DE CLASSIFICAO DE PALAVRAS DE CAMARA JNIOR

    Considerando as teorias que fundamentaram as propostas de classificao de

    palavras na tradio greco-latina, a teoria das partes do discurso e a teoria das classes

    de palavras, Camara Jnior (1975) apresenta uma proposta de classificao que leva em

    conta os critrios semntico, mrfico e sinttico, estabelecendo, entretanto, entre eles

    uma hierarquia. Partindo do pressuposto de que uma forma lingstica constituda

    basicamente de forma e de sentido (o signo lingstico de Saussure), Camara parte de

    um critrio compsito em que se observam, em primeiro lugar, os aspectos semntico

    e mrfico da palavra. Com base nesse critrio, morfossemntico, esse lingista divide

    as palavras em quatro classes fundamentais: nomes, verbos, pronomes e vocbulos

    conectivos.

    Considerando o ponto de vista funcional, Camara subdivide as classes dos

    nomes e dos pronomes em: substantivo, adjetivo e advrbio. Essa classificao depende

    da funo que o nome ou o pronome assume no sintagma. Ser classificado como

    substantivo o nome ou pronome que aparece como termo determinado; ser adjetivo o

    PARA APROFUNDAR SEU CONHECIMENTO SOBRE ESTE ASSUNTO,

    LEIA BIDERMAN (1978), TERCEIRA PARTE: CAPTULOS 1 e 2.

  • 92

    nome ou o pronome que aparece como termo determinante de um nome substantivo; e

    ser classificado como advrbio o nome ou pronome que funciona como determinante

    de um verbo. Passemos aos a alguns exemplos: homem alto, garoto esperto, livro caro

    Nesses sintagmas, os termos homem, garoto e livro so de funo substantiva, uma

    vez que so termos determinados pelos nomes alto, esperto e caro, que, como termos

    determinantes, funcionam como adjetivo. J em falar alto e vender caro, os nomes alto

    e caro funcionam como advrbio, uma vez que so determinantes de verbos.

    Para esse lingista, o critrio que distingue nitidamente a classe dos nomes da

    classe dos verbos em portugus o critrio mrfico. Os nomes so passveis de flexes

    de gnero e nmero, alm de admitirem variao em graus graus aumentativo e

    diminutivo para os nomes substantivo; e graus comparativo e superlativo para os nomes

    adjetivos. Os verbos esto sujeitos s flexes de modo, tempo, nmero e pessoa, noes

    gramaticais que so representadas por morfemas cumulativos, alm de possurem a

    marca da vogal temtica, como indicativo da conjugao verbal. Apresentam ainda os

    verbos marcas distintivas de outras categorias de voz e de aspecto.

    Sob o critrio semntico, a distino entre nomes e verbos mais atenuada, uma

    vez que os nomes embora se caracterizem por sua natureza esttica, servindo para

    representar as coisas, os seres assemelham-se aos verbos por apresentar assim como

    esses uma natureza dinmica, o que acontece com os nomes deverbais, dos quais so

    exemplos: ocupao/ocupar; concluso/concluir; realizao/realizar; modificao/

    modificar.

    Cmara Jnior distingue a classe dos nomes da classe dos pronomes. Aqui a

    distino eminentemente de base semntica. Os nomes so providos de significao

    lexical, so, por isso, entidade simblica. Como diz Cmara, os nomes tm uma

    significao intrnseca, so lexemas, pertencendo, assim, ao sistema aberto. J

    os pronomes nada dizem sobre as propriedades intrnsecas de um ser, ou seja, so

    desprovidos de significao lexical. So entidades mostrativas ou diticas, limitando-

    se a demonstrar o ser no espao, tomando como referncia o falante. Os pronomes,

    diferentemente dos nomes, so gramemas, pertencendo, em razo disso, ao sistema

    fechado.

    A quarta e ltima classe fundamental a dos vocbulos conectivos. Esses

    vocbulos tm como funo estabelecer relao entre os nomes, os verbos e os

    pronomes. Essa relao pode ser de coordenao ou de subordinao. Na coordenao,

    estabelece-se uma relao entre termos sem tornar um dependente do outro, como

    ocorre nos exemplos: livros e cadernos, entrou e saiu, voc e ele. J na subordinao,

    um dos termos passa a determinante de outro, como ocorre nos exemplos: casa de

    palha, homem de negcio, selva de pedra. Nesses casos, as locues de palha, de

    negcio e de pedra funcionam como determinantes, respectivamente, dos substantivos:

    casa, homem e selva. Os conectivos subordinativos se subdividem em subordinativos

  • 93

    de vocbulos (preposies) e de sentenas (conjunes). Camara Jnior (1975, p.79-

    80) inclui ainda nessa classe os pronomes relativos. Segundo esse autor, h conectivos

    subordinativos oracionais, ou conjunes subordinativas que se reportam a um nome

    ou pronome, cujo lugar substituem na enunciao. O pronome relativo tem uma funo

    semelhante a das conjunes subordinativas, uma vez que inicia, a exemplo dessas, uma

    orao subordinada. Observa ainda Camara que, diferentemente dos outros vocbulos

    conectivos, o pronome relativo exerce uma funo, pelo fato de substituir na orao

    adjetiva o termo que o antecede.

    Para Camara Jnior, os nomes e os verbos nocionais so lexemas, pertencendo,

    em razo disso, ao universo simblico da lngua; os pronomes, por sua vez, so

    gramemas, pertencendo ao campo mostrativo da lngua; e os vocbulos conectivos

    so igualmente gramemas, mas, diferentemente dos pronomes, pertencem ao campo

    estruturativo da lngua.

    PROPOSTA DA CLASSIFICAO DE PALAVRAS DE CAMARA JNIOR

    (1975)

    QUADRO-RESUMO

    CLASSES FUNESNOME SUBSTANTIVO

    ADJETIVO

    PRONOME ADVRBIO

    VERBO

    VOCBULOS CONECTIVOS COORDENATIVOS SUBORDINATIVOS:

    a) DE VOCBULOS: PREPOSIES

    b) DE SENTENAS: CONJUNES E

    PRONOMES RELATIVOS

    Aps analisarmos a proposta de Camara Jnior, podemos constatar que, ao

    estabelecer uma hierarquia entre os critrios semntico, mrfico e sinttico, esse

    lingista permite esclarecer alguns equvocos da descrio gramatical, como por

    exemplo, considerar substantivo o adjetivo e advrbio como classes de palavras, ao

    lado da classe dos pronomes para depois, no captulo dedicado ao estudo desta classe,

    subdividi-lo, de acordo com sua funo, em pronomes substantivos e pronomes adjetivos

    confundindo, assim, classe e funo. Outro equvoco da classificao tradicional

    associar a funo substantiva, adjetiva e adverbial palavra. No momento em que

    se faz distino entre classe e funo, compreende-se que no existe uma relao

    obrigatria entre ser substantivo, adjetivo e advrbio e ser palavra. O que seria ento

    uma orao subordinada substantiva, adjetiva, e adverbial? Ou uma locuo adjetiva e

    PROPOSTA DA CLASSIFICAO DE PALAVRAS DE CAMARA JNIOR

    (1975)

    QUADRO-RESUMO

    CLASSES FUNESNOME SUBSTANTIVO

    ADJETIVO

    PRONOME ADVRBIO

    VERBO

    VOCBULOS CONECTIVOS COORDENATIVOS SUBORDINATIVOS:

    a) DE VOCBULOS: PREPOSIES

    b) DE SENTENAS: CONJUNES E

    PRONOMES RELATIVOS

  • 94

    locuo adverbial seno uma estrutura de funo adjetiva e adverbial? Assim, quando

    se diz: O anel ureo belo., O anel de ouro seu. e O anel que voc me

    deu belo, as expresses destacadas, independentemente de estarem representada

    por uma palavra, uma locuo ou uma orao, so de funo adjetiva, so atributos,

    desempenhando sob o ponto de vista sinttico a funo de adjunto adnominal. O

    mesmo ocorre nos exemplos: Ele chegou tarde, Ele chegou tarde e Ele chegou

    quando entardecia, em que as estruturas destacadas funcionam igualmente como

    advrbios, exercendo a funo de adjunto adverbial, independentemente de serem

    palavra, locuo ou orao.

    4 O SISTEMA NOMINAL PORTUGUS

    O sistema nominal da lngua portuguesa tem sua origem no sistema nominal do

    latim. Vem das trs declinaes que passaram a constituir este sistema na passagem do

    latim clssico para o latim vulgar. Da 1 declinao vieram os nomes de tema em a,

    so quase sempre femininos: rainha, mesa, estrela, rosa. Os nomes masculinos, de

    tema em o, por sua vez, vieram da 2 declinao: templo, amigo, servo, livro. J da

    3 declinao vieram os nomes de tema em e. Estes so do gnero masculino: pente,

    dente, gigante, lote; ou feminino: corrente, gente, gripe, fonte.

    Os nomes masculinos de tema em e, quando substantivos, admitem flexo de

    gnero, como o caso de: mestre / mestra, parente / parenta, presidente / presidenta.

    J em funo adjetiva, esses nomes so uniformes, ou seja, no admitem essa flexo:

    menino alegre, menina alegre, homem triste, mulher triste.

    H ainda no sistema nominal do portugus os nomes atemticos. Uns resultam

    da queda da vogal temtica -e, tona final, na passagem do latim para o portugus:

    raiz (e), mar (e), funil (e), ms(e). Essa vogal volta a constituir o tema (tema terico)

    quando esses nomes flexionam-se no plural. Retomaremos esse assunto no estudo do

    plural dos nomes. Em outros casos, ocorre a fuso (processo da crase) da vogal temtica

    e com a vogal do radical, do que resultou nomes terminados em vogal tnica: f (fee),

    m (maa), n (noo), nu (nuu).

    Resumindo, podemos dizer que no sistema nominal do portugus, tm-se nomes

    temticos, os terminados em a, e e o, vogais tonas finais (vogal temtica): rosa,

    mestre e aluno; e nomes atemticos, os terminados em consoantes: matriz, colher,

    farol; ou vogais tnicas: caj, caf e cip, p, p e p.

    Como observa Gomes (1981), o o e o a que funcionam como vogal temtica

    nos nomes substantivos, nos nomes adjetivos funcionam como desinncia nominal de

    gnero, ou, segundo Cmara Jnior, sufixo flexional de gnero.

    carr - o bonit - o cas - a bel - a

  • 95

    vt dng (sng) vt dng (sng)

    J os nomes adjetivos terminados em e so uniformes, funcionando sempre esse

    e como vogal temtica nominal: homem doente, atitude decente, criana contente.

    H ainda os nomes invariveis, esses so de origem latina e funcionam como

    advrbios ou como intensivos. Do latim vieram formas como: longe, hoje, cedo, tarde.

    Outros so nomes derivados da forma feminina do adjetivo mais o sufixo mente:

    possivelmente, arduamente, ferozmente, decididamente.

    Passemos a seguir ao estudo da flexo dos nomes em portugus.

    4.1 MECANISMO FLEXIONAL DOS NOMES

    Ao tratar do mecanismo da flexo em portugus, Cmara Jnior (1975, p.81-96)

    estabelece distino entre flexo e derivao. A partir dessa distino, ele considera que

    os nomes flexionam-se em gnero e nmero, podendo ainda apresentar uma variao

    em grau. O gnero uma categoria inerente aos nomes, dividindo-os em masculinos e

    femininos. O sufixo flexional de gnero a desinncia a.

    Embora a diferena entre substantivo e adjetivo seja nitidamente sob o

    ponto de funcional, h nomes que so essencialmente substantivos e outros que so

    essencialmente adjetivos, havendo assim uma ligeira diferena formal. Os substantivos

    de tema em o apresentam um feminino em a, ocorrendo o mesmo para a maioria dos

    substantivos de tema em e, aluno/ aluna, mestre / mestra. J os nomes adjetivos de

    tema em e (concretamente em e) como triste, alegre, ou teoricamente em e, como

    feliz(e) no apresentam flexo de feminino. Flexionam-se em gnero, pelos mesmos

    processos dos nomes substantivos, os adjetivos de tema em o , gostoso / gostosa,

    estudioso / estudiosa.

    Segundo Camara Jnior, a descrio do gnero nas gramticas do portugus

    confusa e incoerente. Isso decorre, em primeiro lugar, por uma incompreenso

    semntica de sua natureza, que terminou por confundir gnero com sexo. O gnero,

    entretanto, uma categoria gramatical que abrange todos os nomes em portugus,

    sejam estes animados ou inanimados, j o sexo uma categoria semntica. H ainda a

    se observar que mesmo para os nomes que se referem a animais ou pessoas pode no

    haver coincidncia entre essas duas categorias. So exemplos dessa discrepncia entre

    gnero e sexo, os nomes: criana, que mesmo sendo uma forma feminina, pode se

    referir a uma pessoa do sexo masculino ou feminino, e cnjuge, que, mesmo sendo

    uma forma masculina, pode se referir ao esposo (masculino) ou esposa (feminino).

    Outra incoerncia apontada por esse autor diz respeito falta de distino entre

    o mecanismo de flexo usado para indicar o gnero e os outros processos lexicais

    ou sintticos utilizados para indicar o sexo. A marca de gnero em portugus a

    desinncia, a, ou, segundo Camara Jnior, o sufixo flexional a. com alguns casos

  • 96

    de alomorfia.

    Para a descrio da flexo de gnero, bom retomar os estudos desenvolvidos

    na segunda unidade, em que tratamos dos tipos de morfemas gramaticais. A seguir,

    apresentamos os principais processos por meio dos quais se expressa o gnero dos

    nomes em portugus. Para tanto, nos fundamentaremos na proposta de descrio

    apresentada por Gomes (1981).

    4.1.1 FLEXO DE GNERO

    Os nomes em portugus flexionam-se em gnero, basicamente, mediante o uso

    da desinncia nominal de gnero -a, o que se d por meio de diferentes processos. Fora

    o mecanismo flexional, o gnero em portugus indicado por processos derivacional

    e lexical. Segundo Camara Jnior (1975, p.89), a flexo de gnero uma s, com

    pouqussimos alomorfes: o acrscimo, para o feminino, do sufixo flexional a (/a/

    tono final, com a supresso da vogal temtica quando ela existe no masculino: lob(o)

    + -a = loba; autor + -a = autora. Vejamos, a seguir, os processos por meio dos quais

    se expressa a categoria de gnero.

    4.1.1.1 A INDICAO DE GNERO POR MORFEMAS FLEXIONAIS

    a) Processo permutativo: consiste na permuta da vogal temtica (VT) o

    (marca do masculino) pela desinncia do feminino a: garoto / garota, presidente /

    presidenta.

    Os nomes adjetivos de tema em e, como vimos, no apresentam flexo de

    gnero, ou seja, so uniformes: laranja doce, criana alegre, melodia suave, atitude

    nobre.

    b) Processo aditivo: consiste no acrscimo da desinncia a aos nomes

    atemticos, os que terminam em consoantes ou vogal tnica: professor/ professora;

    general / generala; peru/perua; fregus / freguesa.

    c) Processo alternativo: por alternncia voclica: / / - / /: av av

    d) Processo permutativo mais alternncia voclica (submorfmica): consiste na queda da vogal temtica o ou e, e acrscimo da desinncia a, ocorrendo

    ainda a passagem da vogal tnica fechada // ou // para vogal tnica aberta // ou //:

    porco / porca; este / esta.

    e) Processo de permuta mais ditongao: consiste na retomada do tema,

  • 97

    mais permuta da vogal temtica, mais alongamento da vogal tnica: hebreu / hebreo

    hebria; europeu / europeo / europia.

    f) Nomes terminados em o: de acordo com o tema terico, h trs processos distintos:

    leo retomada do tema terico (leone), queda da VT ( le),

    perda do travamento nasal e acrscimo da desinncia de gnero

    a = leoa.

    choro retomada do tema terico (chorone / choroN),

    acrscimo da desinncia de gnero a = chorona.

    pago perda da VT o = pag.

    4.1.1.2 CASOS ESPECIAIS

    a) Derivao sufixal: na formao de nomes substantivos derivados, determinados sufixos tm uma funo adicional de marcar o gnero: duquesa (duque),

    atriz (ator), condessa (conde) sacerdotisa (sacerdote), baronesa (baro).

    b) Substantivos epicenos: nomes com um nico gnero gramatical para se

    referir a ambos os sexos dos animais: cobra, tigre, jacar, ona, avestruz etc.

    c) Substantivos sobrecomuns: nomes com um nico gnero gramatical para

    designar pessoas de ambos os sexos: testemunha, cnjuge, mascote, testemunha,

    criana etc.

    d) Nomes substantivos comuns-de-dois: nomes com uma s forma para

    designar pessoas de ambos os gneros: jovem, consorte, dentista, testemunha, atleta,

    guia etc.

    e) Nomes substantivos heternimos: pares de nomes autnomos que se

    correspondem sob o ponto de vista semntico em relao aos dois sexos: genro/nora,

    homem/mulher, bode/cabra, boi/vaca etc.

    f) Nomes substantivos com oposio metassmica: nomes com uma s forma cujo gnero depende do