MORFEMA zero e alomofes.docx

4
KEHDI, Valter. Morfemas do português. 6. ed. São Paulo: Ática, 2005. Resenhado por Mônica Simões de Almeida O livro Morfemas do português é constituído sete capítulos, e através deles, o autor Valter Kehdi traduz sua experiência e fundamentação sobre a classificação dos morfemas e técnicas eficazes para segmentar os vocábulos de diversas classes. O capítulo escolhido para análise é o quarto (4) intitulado como “Alomorfes e morfema zero” onde o autor a princípio faz a diferença entre alofones e alomorfe;distingue alomorfe de morfema e morfema Ø de alomorfe Ø. De acordo com autor certos fonemas da língua portuguesa podem realizar-se de maneiras diferentes como por exemplo, o fonema / l / que possui um valor fonético diferente se colocado em posição pré-vocálica ou pós-vocálica o que chamamos alofones e afirma que nem sempre os morfemas são caracterizados por uma única forma e em relação aos morfemas também podemos observar que existem variações, como exemplo o morfema in- que antes de radicais iniciados por l-, m- e r- será representado apenas pelo i- ; fenômeno este que chamamos alomorfia ou alomorfe Em relação a alofone ou morfema, Kehdi propõe o elemento semântico como sendo de fundamental importância para compreendê-los, tendo como exemplo a palavra amável/amabilidade,-vel e –bil apresentando o mesmo sentido, o que nos leva a dizer que são alomorfes e afirmar que as

Transcript of MORFEMA zero e alomofes.docx

Page 1: MORFEMA zero e alomofes.docx

KEHDI, Valter. Morfemas do português. 6. ed. São Paulo: Ática, 2005.

Resenhado por Mônica Simões de Almeida

O livro Morfemas do português é constituído sete capítulos, e através deles, o

autor Valter Kehdi traduz sua experiência e fundamentação sobre a classificação

dos morfemas e técnicas eficazes para segmentar os vocábulos de diversas classes.

O capítulo escolhido para análise é o quarto (4) intitulado como “Alomorfes e

morfema zero” onde o autor a princípio faz a diferença entre alofones e

alomorfe;distingue alomorfe de morfema e morfema Ø de alomorfe Ø.

De acordo com autor certos fonemas da língua portuguesa podem realizar-se

de maneiras diferentes como por exemplo, o fonema / l / que possui um valor

fonético diferente se colocado em posição pré-vocálica ou pós-vocálica o que

chamamos alofones e afirma que nem sempre os morfemas são caracterizados por

uma única forma e em relação aos morfemas também podemos observar que

existem variações, como exemplo o morfema in- que antes de radicais iniciados por

l-, m- e r- será representado apenas pelo i- ; fenômeno este que chamamos

alomorfia ou alomorfe

Em relação a alofone ou morfema, Kehdi propõe o elemento semântico como

sendo de fundamental importância para compreendê-los, tendo como exemplo a

palavra amável/amabilidade,-vel e –bil apresentando o mesmo sentido, o que nos

leva a dizer que são alomorfes e afirmar que as palavras altura/altitude são

morfemas distintos porque contém siginificados diferentes. Assim será o sentido o

principal critério para a classificação de um alomorfe ou de um morfema.

Conforme Kehdi existem três condições básicas para se postular um morfema

zero são elas:

1- Deve corresponder a um espaço vazio.

2- Esse espaço vazio deve se opor a um ou mais segmentos.

3- A noção expressa pelo morfema (f) tem que ser pertinente à classe gramatical do

vocábulo.

O morfema zero, representado pelo símbolo Ø, consiste na ausência

significativa de morfema. Kehdi menciona que, ao compararmos estas duas formas

verbais:Falávamos;Falava Ø;.quanto a falávamos, destacamos o morfema /–mos/,

indicativo de primeira pessoa do plural. Em relação a falava, sabemos que

representa a primeira ou terceira pessoa do singular. No entanto, não existe nesse

Page 2: MORFEMA zero e alomofes.docx

vocábulo nenhum segmento que exprima essas noções. É a ausência de marca que,

aqui, indica a pessoa e o número. Nesse caso, falamos em morfema zero.

No exemplo citado anteriormente, as noções de número e pessoa existem,

obrigatoriamente,em qualquer forma verbal portuguesa. Contudo, no par:

Fiel;Fielmente,não podemos considerar a ausência do sufixo /–mente/ no vocábulo

fiel como um morfema Ø, porque, em português, morfemas como –mente não são

atribuídos a todos os adjetivos. Não há formas, em nossa língua, como

vermelhamente.Mas, no par a seguir esse fato não acontece: Casa Ø;Casas pois a

palavra casa no singular é a ausência do morfema de plural. Dessa forma, temos,

aqui, um exemplo de morfema Ø (de singular), porque a noção de número é inerente

a qualquer substantivo de nossa língua. O singular, em português, caracteriza-se

pela ausência de morfema de número, isto é, pelo morfema zero, enquanto o plural

apresenta morfema.

Finalizando o capítulo Kehdi fala sobre os alomorfes e diz que se, houver a

ausência de um traço formal significativo num determinado ponto da série, podemos

denominar de alomorfe Ø essa ausência. Como exemplo, podemos utilizar a palavra

pires, que apresenta a mesma forma tanto para o singular como para o plural, não

tendo nesse vocábulo, um morfema que indique o plural, assim palavra deverá ser

compreendida num contexto: o pires novo (singular);os pires novos (plural).

Kehdi conclui estabelecendo parâmetros para diferenciarmos morfema Ø de

alomorfe Ø como: o primeiro ocorre numa série de morfemas enquanto o segundo

ocorre numa série de alomorfes.

Em seu livro “Morfemas do português”, Valter Kehdi utiliza uma linguagem

simples e de fácil entendimento o que possibilita ao leitor uma leitura prazerosa e

esclarecedora. O capítulo escolhido “Alomorfes e morfemas zero” se mostra sucinto

e bastante objetivo e em comparação com outros autores com conteúdo similar

evidencia-se uma linguagem aproximada porém com resultados que diferem em

alguns aspectos, ou seja, não há entre os autores consenso na conceituação desse

morfema,observados nos fragmentos a seguir:

Concordando com Kehdi Evanildo Bechara diz :

O morfema zero consiste na ausência de uma marca de oposição em relação

a outro termo marcado. “Só haverá morfema zero se a noção por ele expressa for

inerente à classe gramatical em que ele ocorra”.

Porém Freitas (2007),entre outros:

Page 3: MORFEMA zero e alomofes.docx

Considera a inexistência e não apenas a ausência de traço flexional como

ocorrência do morfema zero. Assim, para esse autor pires é um exemplo de

morfema zero e não de alomorfe zero.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37a ed. Ver.e ampl. Rio de Janeiro : Lucerna, 1999.