Monólogo Do Oriente - Patrícia Portela

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Era um sonho que eu tinha, ir à Escócia com a Elsa, íamos os dois de carro, atravessávamos o canal, apanhávamos um ferry, e depois outro, íamos juntos, a Elsa também tinha uma cena com a Escócia, falávamos os dois inglês, e íamos juntos, no verão, já estava tudo combinado, chegávamos lá no dia 8 de agosto, no dia do meu aniversário (...) mas depois, em maio, a Elsa acabou comigo depois de 12 anos juntos, saiu de casa, disse que estava confusa e que não se conseguia decidir e que por isso se ia embora. Nunca mais a vi.

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  • Lista de autores, por ordem de sada dos contos:

    Pedro Paixo | Joo Tordo | Rui Zink | Lusa Costa Gomes | Eduardo Madeira | Ins Pedrosa

    Afonso Cruz | Gonalo M. Tavares | Manuel Jorge Marmelo | Mrio de Carvalho

    Dulce Maria Cardoso | Pedro Mexia | Fernando Alvim | Possidnio Cachapa | David Machado

    JP Simes | Rui Cardoso Martins | Nuno Markl | Joo Barreiros | Raquel Ochoa | Joo Bonifcio

    David Soares | Pedro Santo | Onsimo Teotnio Almeida | Mrio Zambujal | Manuel Joo Vieira

    Patrcia Portela | Nuno Costa Santos | Ricardo Adolfo | Ldia Jorge | Srgio Godinho

    Para aceder aos restantes contos visite: Biblioteca Digital DN

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  • Contos Digitais DN

    A coleo Contos Digitais DN -lhe oferecida pelo

    Dirio de Notcias, atravs da Biblioteca Digital DN.

    Autora: Patrcia Portela

    Ttulo: Monlogo Do Oriente

    Ideia Original e Coordenao Editorial: Miguel Neto

    Design e conceo tcnica de ebooks: Dania Afonso

    ESCRITORIO editora | www.escritorioeditora.com

    2013 os autores, DIRIO DE NOTCIAS, ESCRITORIO editora

    ISBN: 978-989-8507-29-7

    Reservados todos os direitos. proibida a reproduo desta obra por qualquer meio, sem o consenti-

    mento expresso dos autores, do Dirio de Notcias e da Escritorio editora, abrangendo esta proibio

    o texto e o arranjo grfico. A violao destas regras ser passvel de procedimento judicial, de acordo

    com o estipulado no Cdigo do Direito de Autor e dos Direitos Conexos.

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  • sobre a autora

    Patrcia Portela Nasceu em 1974. autora de performances e instalaes, entre as quais se destacam a Trilogia Flatland (Prmio Acarte/Madalena de Azeredo Perdigo, Prmio Associao dos Crticos de Teatro Portugueses 2006), WasteBand (Prmio Teatro na Dcada e Meno Honrosa Prmio Acarte/Madalena de Azeredo Perdigo 2003) ou Hortus, em parceria com Christoph de Boeck, em 2012. Escreve para vrios formatos. Publicou Operao Cardume Rosa (1998), Se no bigo no digo (1999), Odlia ou a Histria das Musas Confusas do Crebro de Patrcia Portela (2007), Para cima e no para Norte (2008), Banquete (2012). Miguel Real considerou-a a autora mais desconcertante da literatura portuguesa recente no JL. Vive entre Pao de Arcos e Anturpia.

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  • 6Monlogo do Oriente

    Patrcia Portela

    Ep... Estou to farto de estar aqui, estou mesmo a precisar de frias... h 7 anos que no

    saio do pas, que no passo um fim de semana fora de casa, sempre o trabalho, sempre o trabalho nunca tenho tempo para nada...

    O ano passado quase fui Esccia. Ia l comemorar os meus 40 anos, queria fazer algo marcante para celebrar a data, ia procura das minhas razes, tenho um bisav escocs que nunca conheci.

    Era um sonho que eu tinha, ir Esccia com a Elsa, amos os dois de carro, atraves-svamos o canal, apanhvamos um ferry, e depois outro, amos juntos, a Elsa tambm tinha uma cena com a Esccia, falvamos os dois ingls, e amos juntos, no vero, j estava tudo combinado, chegvamos l no dia 8 de agosto, no dia do meu aniversrio, tnhamos tudo organizado, os mapas dos stios, as moradas de onde ficaramos a dormir, o roteiro das cidades e vilas que amos visitar, a morada do restaurante do meu bisav, preparmos tudo um ano antes, mas depois, em maio, a Elsa acabou comigo depois de 12 anos juntos, saiu de casa, disse que estava confusa e que no se conseguia decidir e que por isso se ia embora. Nunca mais a vi. Eu fiquei num tal estado que j nem fazia sentido ir Esccia em agosto, conhecer as minhas razes, fazer 40 anos, assim, sozinho, sem mais ningum

    Ep... eu sei que devia ter ido, mas um gajo nunca tem dinheiro que chegue e agora ir assim gastar uma fortuna sozinho... no me pareceu boa ideia... e para chegar l e fazer o qu, sem a Elsa? O Guilherme ainda me desafiou para irmos a Creta, temos l uns amigos a viver, e Creta sempre foi o meu sonho, Creta, a Grcia, amos juntos, ficvamos em

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  • 7casa do Joo, o T tambm ia l ter, todos solteiros ou divorciados, todos homens de barba rija e sem filhos, e eu levava uma tenda para acamparmos no Olimpo, eu relia o Zorba, ou a Odisseia, bebamos s vinho local e falvamos s de cinema, refazia a vida nas frias, passvamos os dias a tirar a foto perfeita e a passear em labirintos, mas depois o T era contra as companhias areas low cost, e eu ainda consegui encontrar uns bilhetes de ltima hora com 3 escalas na Aegenair por um preo razovel, quando o Guilherme me disse que se recusa a voar por causa das emisses CO2. Ainda fizemos as contas e at dava para dividir os custos se fossemos de carro, mas o T enjoa de automvel e tinha pouco tempo de frias, por isso ia l ter de avio e, de carro, s ns os dois, saa 3 vezes o preo de uma viagem de ida e volta s para chegar l. Antes ir Esccia, mas para ir Esccia no tinha companhia e como tinha de acabar um assunto no emprego que estava pendente h mais de um ano acabei por passar as frias em casa, mas a trabalhar, ainda pensei tirar um ou outro fim de semana de frias, nem que fosse para arrumar a casa, at ao final do ano, mas sabes como , sempre complicado, tirar s trs dias de folga para depois estar mau tempo, e depois no se consegue adiantar nada no jardim, depois uma pessoa acorda tarde e quando d por si perdeu o dia, depois a frustrao que acumula domingo noite por no ter aproveitado o fim de semana como deveria e ainda por cima reparar, tarde demais, que no se tem comida em casa e que j est tudo fechado e que agora s pizza, mas eu tambm no posso passar os dias a comer pizza, prometi fazer dieta, e acabo a fazer esparguete com um molho improvisado com o pouco que tenho em casa e a beber um litro de cerveja sozinho e a ver um filme na televiso que me apercebo, a meio, j ter visto, mas sem foras para mudar de canal.

    ... Mas estou mesmo a precisar de frias... Se no descanso, no sei se chego em boa forma ao final deste ano.

    Este vero estive quase para ir para a Islndia. Tive uma oportunidade nica, apaixo-nei-me por uma mulher que ia de frias com o filho para a Islndia uma semana depois de nos conhecermos. Confesso que quase me deu na veneta e comprei um bilhete de avio, cheguei mesmo a pensar meter frias a meio do ms, assim sem mais nem menos, eu at tenho folgas para gastar, nem precisava de gastar dias de frias e aquela semana at tinha dois feriados pelo meio, e o museu onde eu trabalho at fazia ponte num deles e eu tinha terminado o relatrio do ano que o que me retira mais tempo e me cria mais tenso l no escritrio, eu at podia tirar frias sem perguntar a ningum, sou o meu prprio chefe no meu departamento, era s preencher o formulrio e carimbar, e at era um perodo calmo no museu, no havia nenhuma exposio prevista para aquela altura, o edifcio at estava em obras, e tinha sido perfeito, ela at j tinha stio para ficarmos, a Islndia era o pas dos meus sonhos, no tenho l ningum nem conheo nada sobre a Islndia mas sempre l quis ir, mas no me pareceu correto tomar uma deciso to irre-fletida, h 15 anos que trabalho naquele departamento e nunca fiz nada sem pensar duas

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  • 8vezes ou ponderar muito bem.Pensei melhor e cheguei concluso de que era melhor no ir Islndia, no podia

    ser assim to impulsivo, ainda agora conhecera a Isabel e ia j conhecer a famlia dela, passar uma semana com o filho, que por acaso at gostou de mim logo primeira, e depois se tudo corresse mal, como era? Deito logo este amor por terra sem sequer termos tido a oportunidade de nos conhecermos um pouco melhor no nosso habitat natural? No, no pode ser, por certo teremos outra oportunidade de irmos juntos Islndia. A Isabel insistiu comigo quando lhe disse que tinha decidido ficar em casa, disse-me que gostava muito que eu fosse com ela, mas a sua insistncia ainda me causou mais dvidas, s tantas sentia-se obrigada a levar-me com ela porque me conheceu agora, e eu no quero criar esse tipo de relao, conhecemo-nos h uma semana e j temos de fazer tudo juntos, se calhar melhor ter calma, eu sa h um ano de uma relao, ela tambm, por certo ainda no temos assim tanto espao livre um para o outro, quanto mais para a Islndia... mesmo que seja um pas pequenino, com poucos habitantes e com as paisagens e os cavalos mais raros do planeta...

    Mas estou cansado estou mesmo esgotado, e sinto-me sem energias para continuar a vida que levo.

    H 7 anos que no tenho frias, como que possvel? E agora...No sei, p, acho que alguma coisa tem de mudar, se calhar devia mesmo ir de frias

    sozinho, mas a ir tinha de ser para longe, mesmo para muito longe, sei l, para o sulpodia ser de barco, de avio, de comboio, tanto fazolha, podia ser o Expresso do Orientej viste o que era fazer a rota da seda? Largar tudo e partir, levar s uma malinha e 3

    livros e ir para o outro lado do mundo, assim para um stio onde nunca me passasse pela cabea ir...

    ... gostava de ir para o Pacfico,e levar muito tempo at l chegar, fazer uma daquelas viagens de barco vela que

    do para muitos anos e muitos enjoos, uma daquelas viagens que sempre quis fazer e no fiz porque a Elsa sempre enjoou de barco, sempre teve vertigens e claustrofobia, isso, vou fazer a viagem que nunca fiz e que sempre quis fazer, cheia de perigos e desportos radicais, comprar um bilhete sem regresso num barco com o destino mais oriental e passar dias e dias no meio do mar, no meio do nada, ao sabor do vento, ao ritmo das ondas e das tempestades tropicais,

    isso mesmo, p...Eu preciso de uma tempestade, at j me imagino l no meio e, por baixo de mim,vulces subaquticos,

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  • 9epicentros de possveis terramotos e de potenciais tsunamis, Eu preciso do choque com o clima, com as pessoas, com os cheiros, com as culturas...

    e de viver constantemente atordoado, a stressar com um possvel ataque de piratas para me esquecer dos ataques de pnico que tenho sempre que fao uma apresentao com um power point.

    O melhor mesmo subir a costa oriental toda de barco, at Xangai, isso que era, ir a Xangai,

    A 5000km de distncia da grande muralha, a 5h de avio de distncia de Victorias

    Peak, em Hong Kong, a 500km de distncia de um cruzeiro no rio Yang Tse, entre o rio Wang e o rio Chang,

    ir China, p...Respirar o ar da China, j viste o que era?Ir ver os ltimos pandas,as grutas cheias de estalactites e estalagmites,as florestas de bambu,O exrcito de terracota,As cataratas, Ir a Xangai, na China, era um grande plano...Mas o problema que para ir mesmo sria, China, estava agora aqui a pensar, se

    eu quiser mesmo tirar partido desta viagem, tenho de aprender a falar chins. No faz sentido deslocar-me at to longe e depois s conseguir viajar pelos caminhos tursticos onde falam ingls ou francs e no ter a oportunidade de ver a China real e profunda; j pesquisei uns quantos cursos online e se me dedicar durante um ano e meio a estudar Mandarim duas vezes por semana, e fizer dois cursos intensivos, um em dezembro, um no vero, em dois anos estarei a ler romances leves, jornais e outros documentos com relativa facilidade e a poder usar a lngua no dia-a-dia. No vou conseguir entender a poesia de Tang nem ler os escritos originais de Mencius, dizia o site, mas para viajar com algum grau de liberdade penso que d, e eu nem sequer gosto muito de poesia. O melhor at era combinar as frias com algum trabalho ou alguma pesquisa que eu pudesse fazer na China para o Museu onde trabalho, sempre bom um contacto com os locais ou atravs de um amigo que esteja a viver no pas que se quer visitar, para tornar a estadia mais aliciante, colorida por certos pormenores do quotidiano que um turista normal no consegue viver quando segue uma excurso ou quando no fala a lngua. Mas se quero fazer uma viagem que de facto valha a pena e que me marque para o resto da vida, tenho de escolher de antemo qual a zona do territrio chins que desejo visitar para poder escolher aprender mandarim ou cantonense, at porque mandarim aprende-se em qualquer lado mas cantonense no lngua oficial e s mesmo com aulas privadas, talvez

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  • 10

    na Misso de Macau consiga arranjar algum, ou at, quem sabe, chegar China via Macau, talvez at seja uma boa ideia, comeo a viagem numa zona que j foi portuguesa, a arquitetura reconhecvel, vendem pastis de nata e croquetes e uma pessoa assim no sofre logo um embate quando chega, vai passando de Portugal para o ex-imprio britnico e s depois de ter aprendido algumas palavras e algumas expresses, passa para a verdadeira China.

    Pois , isto de ir China tem muito que se lhe diga, e eu at s queria ir de frias, para mim podia ser um stio qualquer, mas se comear a estudar a lngua depois tenho de ir at ao fim, at porque depois no s a lngua, preciso planear muito bem uma viagem destas para no ir na altura errada, por exemplo, se quiser aprender cantonense e ir para o Sul da China, tenho de ter em ateno o perodo das mones, entre outubro e maro, que vm l dos planaltos da Monglia, atravessam a Sibria e perdem fora medida que se aproximam do sul, provocando um inverno seco e frio com variaes trmicas de quase 40 graus centgrados entre o Norte e o Sul da China, mesmo funda-mental no escolher uma poca errada para ir China, uma pessoa pode constipar-se ou, pior, apanhar uma pneumonia atpica, ou uma bronquite, que muito mais grave, e para alm de tudo isto todos me dizem que a melhor altura para ir China o outono, mas nessa altura eu no posso mesmo tirar frias, tenho sempre imenso trabalho, a abertura da nova temporada, para alm disso ainda li numa revista especializada em viagens al-ternativas que preciso ter ateno s pragas de insetos, que so muito frequentes na China, e por essas e por outras que conveniente tomar umas vacinas 4 a 6 semanas antes da viagem, pelo menos as vacinas contra a raiva e contra a febre de Deng, que so as mais importantes, mas tambm so as que do mais efeitos colaterais, cansao, dores de cabea, vmitos, diarreia, e se eu comeo a tomar estas vacinas um ms e meio antes e depois no consigo ir trabalhar vai ser um problema, no consigo terminar o que tenho a fazer antes de partir e a mim ningum me substitui no emprego quando vou de frias, e se me ponho a levar todas as outras vacinas que me faltam para ter tudo em dia e para estar prevenido como gosto sempre de estar em todas as ocasies, ainda tenho de levar a vacina contra a malria, contra a clera, a difteria, o ttano, as hepatites A, B, a japonesa, e a C, e ainda precaver-me contra a encefalite, a poliomielite, a gripe atpica, a gripe das aves, que j no est muito na moda, j no se fala muito desta gripe mas foi l que tudo comeou, e nunca se deve acreditar s nos media, e ainda contra a rubola, que nunca tive, contra a meningite, que j tem uma vacina, contra a febre-amarela e contra a febre aftosa, ningum liga nenhuma a esta ltima, mas tambm muito importante, e segundo os meus clculos vou perder uma semana de trabalho s em folgas para conseguir lidar com tanta injeo, primeiro porque nunca se consegue marcar estas vacinas todas no mesmo stio, cada uma num laboratrio de um hospital diferente da cidade, depois porque nunca se consegue marcar todas para o mesmo dia, ou se at conseguimos marcar

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  • 11

    duas ou trs no mesmo dia sempre a horas diferentes, cada mdico tem o seu calendrio e o pior de tudo que tenho medo de agulhas para alm de ter uma tendncia para fazer alergias a todo o tipo de medicamentos que tomo, seja por via oral ou cutnea, e por isso que conto sempre com um ou dois dias para descansar e para ir farmcia comprar os antibiticos que me prescrevem a seguir a qualquer consulta mdica, ah, e por falar em farmcias, tambm no me posso esquecer de levar algo contra o herpes labial. E se isto fosse tudo, eu at acho que ainda ia China este ano mas ainda h a questo do visto, e se quero ter a oportunidade de decidir a qualquer momento das frias se quero que a viagem dure mais de 90 dias, preciso de ter um visto de longa durao, e nem sempre fcil obter um visto de longa durao s para turismo para estes pases, mas nesse caso at posso fazer como um casal amigo meu fez, vou primeiro at Tailndia e na embaixada em Banguecoque peo um visto para a China. Depois espero 5 dias na ilha Phuket enquanto bebo cocktails, fao umas aulas de mergulho que sempre sonhei fazer e apanho banhos de sol enquanto leio sobre o Marco Plo ou sobre o que os chineses pensam sobre o que o Slavoj Zizek pensa sobre a China, um livrinho pequenino mas muito denso e difcil de ler, e quando receber o visto dirijo-me primeira agncia de viagens e marco um voo direto na Catay Pacific at Xangai, e o problema fica resolvido. Se alguma vez precisar de renovar o visto, posso sempre regressar a Banquecoque, e consequentemente a Phuket, e consequentemente leitura nas praias e ao mergulho. Mas no s o visto que preciso organizar para ir China, no se vai assim para a China de qualquer maneira, sem saber ao que se vai, h sempre o problema da adaptao real e prtica ao pas mesmo que se tenha lido muito sobre o assunto, mesmo que se tenha tratado de toda a papelada ne-cessria com a devida antecedncia, e seria uma pena perder uns dias de frias s para uma pessoa se adaptar aos hbitos, aos costumes e alimentao na China, antes de partir descoberta propriamente dita. E eu estive a pensar seriamente nesta viagem e acho que mesmo melhor ir primeiro a Londres, a China Town, s para ver como , s para ter a experincia. Posso ir num fim de semana e uma dupla vantagem: no gasto dias de frias para me habituar China porque vou num fim de semana e os voos para a Tailndia e mesmo para a China so mais baratos a partir da Gr-Bretanha, e acho que muito importante ir primeiro China Town de Londres s para ver como , s para ter uma sensao mais palpvel do que a China pode ser, vou l comer comida chinesa, com pauzinhos, comprar ch verde, incenso, ir ao ervanrio, fazer uma sesso de acupuntura e outra de tai chi, outra de karate, fazer um workshop sobre traduo de Haikus...

    China Town um bom plano, at tem um canal com uma pontezinha tpica...Estou decidido a ir China, at acho que esta era uma viagem de que a Elsa ia gostar,

    sei que os tempos no so os melhores, a vida est difcil e a Elsa nunca vir comigo, mas eu no vou desanimar, mesmo que os voos para Londres sejam caros, eu posso sempre ir a um restaurante chins que h ali no Martim Moniz e que, j me disseram, o

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  • 12

    melhor de Lisboa, e comeo j a treinar, como como se estivesse na China, e peo todas as especialidades da casa: chop suey de lulas, galinha com amndoas, porco agridoce, ma pa-si e, no final de tudo, oferecem-me uma aguardente de rosas ou de lagarto num daqueles copinhos pequeninos que do para ver uma mulher nua l dentro e ainda me oferecem um calendrio com um man para colocar no frigorfico com 12 fotos de di-ferentes ngulos da Muralha da China, uma para cada ms, e com um buda que se pode riscar com uma moedinha no cantinho da ltima pgina at se verem uns nmeros que podem dar direito a participar num sorteio que oferece uma viagem China...

    E talvez tenha sorte Ep, obrigado por esta conversa, h muito que no desabafava assim. Desta vez estou

    mesmo determinado a no passar mais um ano sem ir de frias. Mas at l, e porque hoje estou cansado para ir at ao Martim Moniz a estas horas quando amanh tenho de me levantar cedo, vou aqui at ao chins da minha rua comprar um takeaway de chao min e alugar uns filmes do Bruce Lee, s para no dizer que no comecei a preparar-me...

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