Monografia Simone Sao Tiago

49
MUSEU DA VIDA | CASA DE OSWALDO CRUZ | FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CASA DA CIÊNCIA | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FUNDAÇÃO CECIERJ MUSEU DE ASTRONOMIA E CIÊNCIAS AFINS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIVULGAÇÃO DA CIÊNCIA, DA TECNOLOGIA E DA SAÚDE SIMONE FRANCO DE SÃO TIAGO O SALTO PARA O FUTURO COMO DIFUSOR DE CIÊNCIAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES RIO DE JANEIRO, JANEIRO DE 2010

description

Teste

Transcript of Monografia Simone Sao Tiago

MUSEU DA VIDA | CASA DE OSWALDO CRUZ | FUNDAO OSWALDO CRUZ CASA DA CINCIA | UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FUNDAO CECIERJMUSEU DE ASTRONOMIA E CINCIAS AFINS CURSO DE ESPECIALIZAO EM DIVULGAO DA CINCIA, DA TECNOLOGIA E DA SADE SIMONE FRANCO DE SO TIAGO O SALTO PARA O FUTURO COMO DIFUSOR DE CINCIAS NA FORMAO DE PROFESSORES RIO DE JANEIRO, JANEIRO DE 2010

SIMONE FRANCO DE SO TIAGO O SALTO PARA O FUTURO COMO DIFUSOR DE CINCIAS NA FORMAO DE PROFESSORES MonografiaapresentadaaoMuseuda Vida/CasadeOswaldoCruz/Fundao OswaldoCruz,paraaobtenodocertificado deespecialistaemDivulgaodaCincia,da Tecnologia e da Sade. Orientador: Prof.Dr. Marco Antnio F. da Costa RIO DE JANEIRO, JANEIRO DE 2010

Atodosquesededicamaestaimportantetarefade divulgar os conhecimentos produzidos pela cincia.

AGRADECIMENTOS Aomeu orientador, pela pacincia e confiana. Aos meus filhos e marido, por toda a compreenso. AosamigosdoSaltoparaoFuturo,especialmente AnaMariaMiguel,CarlaRamos, Grazielle Bragana e Rosa Helena Mendona, por toda ateno e interesse minha pesquisa.

Tudo deveria se tornar o mais simples possvel, mas no simplificado. (Albert Einstein)

RESUMO OpresenteestudorealizouumaanlisedoprogramaSaltoparaoFuturo,programade formaodeprofessoresdaTVEscola,canaleducativodaSecretariadeEducao Distncia/MEC, a fim de contextualiz-lo no discurso da divulgao cientfica. Para tanto, foi realizadaumareflexoacercadesuaconcepo,missoeprincpiofilosficoassimcomo umadescriodeseuformato,linguagemedinmica.Destaforma,apesquisaconstituiu-se emumaanlisedescritiva,comabordagemqualitativa,baseadaemfontedocumentale bibliogrfica. Este procedimento nos possibilitou concluir que o programa contribui com um necessriofortalecimentodocarterformativo/educativoquedevepermearasaesquese propemaumaefetivacomunicaodosconhecimentosproduzidospelacincia,ondea prioridade deve estar na formao e no apenas na informao. Palavras-chaves:divulgaocientfica,sociedadecontempornea,formaode professores

SUMRIO 1.INTRODUO......................................................................................................................7 2.OBJETIVOS.........................................................................................................................12 2.1 Objetivo geral................................................................................................................................................122.2.Objetivo especfico........................................................................................................................................12 3. SALTO PARA O FUTURO Um breve histrico...........................................................13 3.1 Proposta filosfica e princpio educativo......................................................................................................17 3.2. Linguagem, gnero e formato o princpio comunicativo..........................................................................22 3.2.1 Finalidade educativa..............................................................................................................................25 4. O CONHECIMENTO CIENTFICO...............................................................................31 4.1 O mito do cientificismo.................................................................................................................................32 4.2 O mito da neutralidade cientfica..................................................................................................................33 4.3 Cincia e Filosofia.........................................................................................................................................344.4 A cincia no "Salto".......................................................................................................................................35 5. DIVULGAO CIENTFICA..........................................................................................40 5.1 A divulgao cientfica no Brasil..................................................................................................................41 6. CONSIDERAES FINAIS.............................................................................................43 7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..............................................................................45 7 1. INTRODUO Nahistriadacivilizao,emdiferentesmomentos,aDivulgaoCientficase manifesta, ainda que no na forma como hoje pensada e praticada. Alguns autores, como o brasileiroJosReis,identificamatividadesdestanaturezadesdeaantiguidadeclssica. Outros, afirmam que a divulgao cientfica nasce com a prpria cincia. Ora, se entendemos aimportnciadosconhecimentosproduzidospelaCincia,epelaTecnocincia,comoalgo inquestionvelparaomundomoderno,aimportnciadacomunicaodestesconhecimentos nodevesermenor,poiselaserocanalquepossibilitaraopblicoleigoaintegraodo conhecimento cientfico sua cultura. SegundoSanchzMora(2003),aCinciaumaproduohumanaquedesempenha um papel indiscutvel no processo de civilizao; uma atividade intelectual cujos resultados tm repercusso em todos os mbitos da existncia. A cincia faz parte da cultura. No entanto, emgeral,tem-seafalsaimagemdequeacinciaumatarefaalheiasoutrasatividades humanas. Encontramoscomumenteemliteraturaespecializadaumaexplicaoparaesse fenmeno, relacionando-o com o avano crescente da Cincia e Tecnologia, principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial, onde a relao Sociedade - Cincia - Tecnologia comea a modificar-sesignificativamente.HumanidadeeCinciasofremumdistanciamento,em contrapartidaaodesenvolvimentocientfico-tecnolgico,eacomunicaoentreambas apresentaumabismoaparentementeintransponvel:asuperespecializaodacincia moderna. oportunolembrarqueacincia,nassuasorigens,estavafortementerelacionadas humanidades e que foram as especializaes, no sculo XIX, que trouxeram ...uma mudana nalinguagemcientfica,criandodificuldadesnacomunicaoentrecientistaseleigos,pela ausncia de uma linguagem comum.(SANCHEZ MORA, 2003, p.21)Numadinmicasocialcrescentementevinculadaaosavanoscientfico-tecnolgicos, 8 asuperaodesteabismoentrecinciaehumanidadetorna-seumaexignciaurgenteea democratizaodessesconhecimentosconsideradafundamental.Nessaperspectiva,um nmerocadavezmaiordepesquisadorestemapontadoaDivulgaoCientficacomo objetivosocialprioritrio,numfatoressencialparaodesenvolvimentodaspessoasedos povos.Enfim,numaformaeficienteedemocrticadeprovocaraapropriao,porparteda sociedade, da cultura cientfica, com sua linguagem, normas e princpios prprios, atravs dos quaisacinciapodeserapresentadacomoumaformadeentendereserelacionarcomo mundo.IdiatambmcompartilhadaporBuenoonde,considerandooelevadondiceda populaoalijadadosassuntoscientficos,afirmaqueapartilhadosaberinclui-se,sem dvida,entreasfunessociaismaisimportantes...noprocessodedemocratizaodo conhecimento. (BUENO,2002, p.229) AindacomSnchezMora(2003),existemduasvertentesquejustificamuma necessriaDivulgaoCientfica,adanecessidadeeadoprazer,unidaspelaidiadeque aquelesquenopossuemconhecimentoscientficosencontram-seemdesvantagem,pois ficamexcludosdeumadasmaioresconquistasintelectuaisdahumanidade.Avertentedo prazer faz referncia desvantagem de no se poder fruir da emoo da cincia; a vertente da necessidade assinala que aqueles que nada sabem de cincia esto excludos de contribuir, de alguma forma sria, para o debate do efeito que ela tem sobre nossas vidas. Diantedisto,observamosumagrandetransformaonosculoXXemrelaoaos meiosdesedifundiridias,oquepossibilitouumaumentosignificativodouniversode pessoasquepassaramareceberinformaes.Oadventodordio,nadcadade20,eda televiso, que passou a atuar maciamente a partir da dcada de 50, transformou o cenrio por completoedeformadefinitiva.Seantesadivulgaodeidiasaconteciaprincipalmente atravs de publicaes das quais pequena parcela da populao tinha acesso, depois do rdio e datelevisoainformaopassouaintegraravidacotidianadepartecadavezmaiorda sociedade.Comisso,adivulgaocientficatemconquistadodiferentesespaossociais, inclusive as escolas e mais especificamente o ensino de cincias, e um aumento significativo deaescomoobjetivodedifundirossaberesproduzidospelacinciatmseevidenciado cada vez mais. Assimsendo,adivulgaocientficafeitaemdiversosmeiosemdiasestcadavez 9 maispresenteemnossocotidianoetemsidoabordadasobrediferentespontosdevista,por diferentes profissionais como jornalistas, cientistas, educadores emcincias, dentro das mais diversas perspectivas tericas e filosficas. Basta observarmos, por alto, aquilo que tem sido consideradocomodivulgaocientfica,desdeexemploshistricoscomoostrabalhosde Galileu,nosculoXVII,escritosemitalianoparapossibilitarqueumnmeromaiorde pessoas tivessem acesso s reflexes desenvolvidas no Sculo das Luzes, ou o grande livro de CharlesDarwin,tratandodaevoluodasespcies,atumasrietelevisivasobrecincias, umacolunadejornal,umapublicaoon-line,umaexposioemummuseuoucentrode cincias,umfolhetoexplicativodoMinistriodaSade,umpoemadecordelabordando temascientficos,umaletrademsicadeGilbertoGilquefalasobrearelaoentre tecnologiaesociedade,etc,soapenasalgunsexemplosquemostramapreocupaode diferentes segmentos da sociedade, em socializar e discutir as idias cientficas. Cabeesclarecerquenestetrabalho,nopretendemosdiscorrersobreasdiferentes definies de divulgao cientfica que tm sido propostas por autores e to pouco sobre suas variaes terminolgicas. Optamos por trazer aquela dada por Jos Reis, considerado por seus parescomoomaisimportantejornalistaedivulgadorcientficobrasileiro.Eleentende divulgao cientfica como o trabalho de comunicar ao pblico, em linguagem acessvel, os fatos e os princpios da cincia..., os mtodos de ao dos cientistas e a evoluo das idias cientficas.(ReisapudBUENO,1985,p.1422).Destaforma,oquepretendemoscoma pesquisaumareflexosobreaspectosfilosficosqueenvolvemasaesdedivulgao cientfica, estendendo elas um carter tambm formativo, educativo,conforme notamos em ampla descrio abaixo: importantefrisarqueadivulgaocientficanoserestringeaocampoda imprensa,noqualainformaoseconstituiemprioridade.Adivulgaocientfica incluiosjornaiserevistas,mastambmoslivrosdidticos,asaulasdecincias,os cursosdeformaoparanoespecialistas,estriasemquadrinhos,documentrios, programasespeciaisderdioeteleviso,comoosdecanaiseducativos,entre outros.(BUENO,1985,p.1422) Nessemesmosentido,JosM.deMelo(1982)apontaparaafunoeducativada divulgaocientficaprincipalmentecomofontedeconhecimentosparaasuperaode situaes problema do cotidiano de toda a populao. Segundo ele, a divulgao cientfica: 10 ...deveserumaatividadeprincipalmenteeducativa.Deveserdirigido grandemassadanossapopulaoenoapenassuaelite.Devepromovera popularizaodoconhecimentoqueestsendoproduzidonasnossasuniversidadese centros de pesquisa, de modo a contribuir para a superao dos problemas que o povo enfrenta.Deveutilizarumalinguagemcapazdepermitiroentendimentodas informaes pelo leitor comum (MELO, 1982, p.21).Assim sendo, a proposta deste trabalho analisar o programa Salto para o Futuro, da TVEscola,canaleducativodaSecretariadeEducaoDistncia/MEC,naperspectivada divulgaocientfica,juntoaoseupblicoalvo.Sendoeste,professoresemformao continuadaouemcursosdegraduao. Aintenodestaanliseresponderseoprograma Salto para o Futuro constitui-se em veculo para a Divulgao Cientfica. Para esta finalidade, temoscomoobjetivos:abordaroprogramaemsuaorigememisso;descreverformato, produoedinmica;verificarainserodesriessobrecinciasemseuacervo; contextualizaroprogramanodiscursodadivulgaocientfica,luzdoreferencialterico adotadopelapesquisa..OobjetivodestaanlisesersituaroprogramaSaltoparaoFuturo nesteuniversodiversodadivulgaodosconhecimentosproduzidospelacincia.Esta anlise,emltimainstncia,propeumadiscussoarespeitodainterfaceentreEducaoe Divulgao Cientfica. Comvistasnoexposto,ametodologiaempregadanestapesquisaconstitui-seem anlisereflexiva,decarterdescritivo,comabordagemqualitativa,baseadaemavaliao documental e bibliogrfica. Desta forma, espera-se contribuir com pesquisas e estudos neste campo, uma vez que compreendemosaimportnciadaconsolidaodestecartereducativodadivulgao cientficaparaaconstruodeumaNaocomprometidacomumprojetode desenvolvimentoquevisevalorizaodesujeitoscrticos,capazesdeintervirnaprpria realidadeequeirotomardecisescomconhecimentodecausa,enoapenasreproduzir padres de comportamentos pr-estabelecidos. Diantedoexposto,professoresassumemumpapelsocialestratgico,como educadores,formadoresdeopinio,multiplicadoresemediadoresnosprocessosde 11 construodeconhecimento.Educaoaquientendidacomoprocessosqueresultamna conscientizaocrticadoconhecimento,provocandomodificaesdeatitudes,interessese valores. O papel da educao, nesse sentido, o de formar o cidado apto a tomar decises e a fazerescolhasbeminformadasacercadetodososaspectosdavidaemsociedadequeo afetam. Isso exige acesso informao e a capacidade de process-la e ressignific-la, ou seja, a formao possibilitando uma adequada apropriao da informao. Caberessaltarquealinhadepensamentoaquiapresentadanodescartanem desvaloriza o papel dos especialistas, mas, apenas defende que o conhecimento cientfico no deveficarrestritoapoucosequecabedivulgaocientficatornaracessveleste conhecimento superespecializado, no na forma de traduo de uma lngua para outra, mas no sentido de criar uma ponte entre cincia e sociedade. 12 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral AnalisaroprogramaSaltoparaoFuturonaperspectivadaDivulgao Cientfica. 2.2. Objetivos especficos - Descrever o programa Salto para o Futuro ( formato, produo, dinmica ) - Compreender o carter formativo do programa - Verificar a insero de temas sobre Cincia nas sries veiculadas - Contextualizar o programa no discurso da Divulgao Cientfica, luz de Re ferencial Terico (Multireferencial) - Analisar o ltimo Relatrio de Avaliao sobre o programa correspondente ao Ano de 2007 - Colaborar com estudos e pesquisas sobre Divulgao Cientfica e Compreenso Pblica da Cincia,a partir da interface com a Educao. 13 3. SALTO PARA O FUTURO Um breve histrico SaltoparaoFuturo,programadeEducaoaDistnciarealizadopelaTVEscola, canaleducativodaSecretariadeEducaoaDistnciadoMinistriodaEducao, (MEC/SEED)eproduzidopela TVBrasil,foicriadocomopropostadepossibilitarodebate sobre diferentes tendncias no campo educacional, contribuindo com a formao continuada e aperfeioamento de docentes que trabalham em Educao, bem como de alunos dos cursos de magistrio. Desde 1991 no ar, o programa, que integra polticas pblicas implementadas pelo GovernoFederalparaaformaodeprofessores,realizadopormeiodeumaao compartilhadacomestados/municpioseemparceriacomoServioNacionalde AprendizagemComercial(SESC-Nacional).Oobjetivodoprogramapossibilitarque professoresdetodoopasrevejameconstruamseusrespectivosprincpioseprticas pedaggicas, repensando o papel que a educao ocupa nos novos modelos de sociedade. Segundo Mendona (2000): O ano era 1991... Na noite de 1 de agosto foi ao ar pela TVE Brasil a primeira edio do Jornal da Educao - Edio do Professor, uma experincia piloto de educao distncia, com recepo organizada em seis estados do pas. Em 1992, j com abrangncia nacional, o programa passou a se chamar Um Salto para o Futuro. Em 1995, denominando-se Salto para o Futuro, foi incorporado grade da TV Escola (canal do Ministrio da Educao).1 Ainda com Mendona (2000), O Salto, como se tornou conhecido entre os professores, desde a sua concepo inicial teve como proposta ser mais do que um programa de televiso, conjugandorecursoscomotextosdeapoio(boletim)ecanaisdecomunicaodireta:caixa postal,fax,telefoneemaisrecentementeaInternet.Tudoissovisandotornarpossvela interatividade com os professores reunidos em espaos de recepo organizada em que, com a mediaodeumorientadordeaprendizagem,oscursistasdiscutiameparticipavamcom questes que se tornaram constitutivas do debate ao vivo com os especialistas. 1Informao citada por Rosa Helena Mendona na pgina do programa Salto para o Futuro www.tvbrasil.org.br/salto criada no ano de 2000

14 Cabe aqui comentar algumas permanncias e mudanas de concepo e formato, com vistasacontribuirparaumaanliseacercadascaractersticasestticasepedaggicasdo programa. Inicialmentepensadoparaofereceraosprofessoresdasquatroprimeirassriesdo EnsinoFundamental(antigas14srie)formaonasreasdoncleocomum( Alfabetizao,LnguaPortuguesa,Matemtica,Cincias,EstudosSciaseEducao Artstica),oprogramaapresentava-seemsriesdeaproximadamente40programaspor semestre. Logo, o Salto para o Futuro extrapolou esse desenho inicial, ao introduzir sries de menordurao,voltadasparatemascomoaLiteraturaInfantil,SadeeSexualidade, EducaodoOlhar,AlfabetizaoparaaLinguagemAudiovisual,EducaodeJovense Adultos,etc.Foiassimque,exibidoapenasnosmesesletivos,oprogramapassouaser veiculado ao longo de todo o ano, inclusive com reprises.Quantoformulaodoscontedoseparticipaonosdebates,umgrupode especialistas(doisporrea),eramcontratadosparaseresponsabilizaremporescreveros textos para os boletins impressos, que seriam distribudos para todos os telepostos do pas, e porparticiparemdosdebates,sempreancoradosporumjornalista,ondeoespecialista responderia s perguntas ao vivo durante o programa e, aps, por telefone e fax.Havia ainda a transmisso radiofnica semanal. Atentooprogramaseguiaumapropostapedaggicaformuladapelaequipede especialistas contratados (concepo de grade, textos, sugesto de gravaes para produo de vdeosedebates).Noprimeirobloco,oscontedoseramapresentados,comlocuoe imagens,utilizava-setambmficoeensaiava-seoformatojornalsticodematrias produzidas em escolas (a maior parte no Rio de Janeiro). ComacriaodaTVEscola,em1995,oprogramapassaaserexibidotambmem canalfechado.Agora,jcomsriesde10programas,emmdia,alternandodivulgaode projetosdediferentessecretariasdoMECcomsriesindependentes,comassuntosvariados nocampodaspesquisasemeducao.Oscontedosagoraso,ento,formuladospor consultores indicados pelo MEC ou convidados pela coordenao do programa, com base em 15 pesquisaseindicaes.Asgravaescomeamaaconteceremdiferentesestados,num esforo conjunto de incentivo diversidade, por meio da presena de paisagens socioculturais variadas, to caractersticas e definidoras do pas. Aospoucos,aspropostastemticasvoganhandofora,medidaqueoformato minissrie, decincoprogramas, vai se fortalecendo. A produo se complexifica ecomeaa existir,efetivamente,umcompromissocomadiversidadedetemas,deconvidadosede matrias. Aolongodetodoesseprocesso,ainteratividadesemantmcomoumamarcado programa. a participao dos professores que traz uma marca especial, ela que reafirma o sentidodeumaconstruodeconhecimentoemrede,aquestodapolifonia,dasmltiplas vozesesotaques,dandoumformatohipertextualaoSalto.Contribuindocomessa concepo, Mendona (2000) acredita que a caracterstica que mais se destacou no programa foiadepreservaradimensododilogocomoespaosdeinteraestoricasquanto imprevisveis.EfoijustamenteesteaspectoainteratividadequetornouoSaltoum programa que, a cada dia, era feito com a participao dos professores. Ao longo desses 18 anos, ininterruptamente no ar, o programa vem se reconfigurando naperspectivadesermaisumespaodeformaocontinuadadeprofessores,almde constituir-se como uma instncia de mediao no dilogo entre escola e universidade.O cotidiano escolar apresenta-se como objeto de investigao para pesquisadores e, ao mesmo tempo, professores produzem saberes e conhecimentos que realimentam as pesquisas. So muitas as reflexes de professores do mbito universitrio sobre temas relevantes, como formao de professores, currculos, espaos e tempos escolares, entre outros. Dessaforma,oSaltoparaoFuturovemseconsolidandocomoumespaode divulgaodepropostasdediferentesuniversidadesdopas,utilizandoopotencialdamdia na difuso de pesquisas. Acompanhandoaaceleradaofertaderecursostecnolgicoseaspossibilidadesde comunicao geradas por esses recursos, o Salto em 2009 assume o formato Revista / Debate. Agora,desegundaaquarta,oprogramaumaRevistaEletrnica,comvariadosquadros 16 comoreportagens,registrosdesituaesemespaosformaiseno-formaisdeeducaoem diversos estados, entrevistas com diferentes especialistas, entre outros, inteiramente gravados e editados. Quinta-feira o programa constitudo por trs entrevistas de 15 minutos, uma em cadabloco,ondeosentrevistadoscontribuemcomoutrosolharessobreotemadasrie,que noforamexploradosaolongodaRevista.OformatoDebate Ao Vivo,desegundasexta, quepredominoudurantetodosestesanos,foimantidoapenasnasexta-feira,encerrandoa srie, onde os espectadores podem dialogar com os especialistas, enviando suas questes.Algicadoprogramacontinuaaprivilegiaraunioentreformaoeinformao, porque,segundoMendona(2000),umprogramadeformaotemcomoumdosseus principais objetivos trabalhar com essas duas instncias de maneiras consoantes. Assim como preservar o enfoque filosfico do dilogo com a diversidade, tendo como meta contribuir para aformaodeprofessoresedemaisespectadores,respeitandoaautonomiadasescolase abrindo espaos para trocas ricas e indispensveis.Comoresultadodessasinteraes,oSaltoproduziu,aolongodessesanos,umrico acervoaudiovisual,quepodeserconsideradocomoumaverdadeirafontehistricade informaesacercadaEducao,guardando,porisso,uminestimvelvalorformativo. Afirmaoqueacadaanoconfirma-sepormeiodosRelatriosAnuaisdeAvaliao2, encomendadospeloMECeproduzidoporequipeespecializadaempesquisasqualitativae quantitativa. Estes relatrios apresentam dados obtidos atravs dos instrumentos de avaliao enviados ao longo do ano para os coordenadores de educao a distncia, para os orientadores deaprendizagemeparaoscursistas,detodooPas.NosRelatriostambmconstamdados paraalmdosinstrumentosdeavaliao,taiscomo:formasdeparticipaoaovivo, identificando as escolhas dos veculos de interatividade (telefone, fax ou e-mail), participao de professores que no se referem recepo organizada, pedidos de copiagem, levantamento no google, utilizao do frum de debate na pgina3, utilizao do programa e do boletim4 em atividadesdiversificadas,entreoutros.Dessamaneira,oSaltoveiosesolidificando,ese fortalecendo, a cada ano, no s como um curso de formao de professores distncia, mas, principalmente, como um campo democrtico de debate de idias e de mediao entre escola sociedadeuniversidade,visandoumaformaoparaacidadaniae,conseqentemente, 2Ver Relatrio de Avaliao 2008 3Ver pgina do Salto - www.tvbrasil.org.br/salto4Ver boletins eletrnicos disponveis na pgina do Salto 17 promovendoainclusosocial.Evidencia-se,peloexposto,queesteacervotenhapotencial paraserutilizadonosmaisvariadosprocessosdeaprendizagem,comofontedeinformao, de consulta e de fomento discusso. Fatos que tm garantido, ao longo destes quase 20 anos, o interesse do poder pblico em manter, renovar e atualizar esta produo.AssriesproduzidaspeloSaltoabordamtemasvariadoscomoCincia,Tecnologia, Sade,FormaodeProfessores,Currculo,EducaoInfantil,Cotidiano,CulturaPopular, CulturaUrbana,CinemaeEducao,entreoutras.Mas,caberessaltarqueestetrabalhose limitar quelas que se propem a uma abordagem na concepo de uma Educao Cientfica. 3.1. Proposta filosfica e princpio educativo OprogramaSaltoparaoFuturo,desdesuaorigem,esteveintimamentevinculado misso de formar cidados crticos, capazes de intervir na prpria realidade e tomar decises comconhecimentodecausa,ouseja,formarcidadosmodernos,quecompreendamos desafios dos novos tempos, abarcando os anseios das novas geraes, perscrutando os rumos dofuturo.SegundoDemo(2004,p.21)Sermodernosercapazdedialogarcoma realidade, inserindo-se nela como sujeito ativo e criativo. Como critrio fundamental para tais intentos, o programa sempre primou pela ateno aosprocessosdeconstruodeconhecimentos,dandoaoscursistasposiodeagentes responsveis e ativos em tais processos. Nesteponto,faremosumabreveanlisefilosficacercadasteoriasdo conhecimento.Nocabeaquidiscorrersobreasinmerasteoriasquesurgiramaolongoda histriadascivilizaes,pordiferentesfilsofosepensadores.Aintenocomesta abordagemapenasrefletirsobreaconcepofilosficadoprograma,afimde compreendermossuaproposta.Paratanto,aopofeitafoiapartirdedoisestudos,que discorremos a seguir. Segundo Aranha (2005) h muitos modos de conhecer o mundo, os quais dependem da posturadosujeitodiantedoobjetodeconhecimento:omito,osensocomum,acincia,a 18 filosofiaeaarte. Todoselessoformasdeconhecimento,poiscadaum,aseumodo,busca desvendar os segredos do mundo, atribuindo-lhe um sentido. Segundoaautora,omitoproporcionaumconhecimentoquemgico,porqueainda vem permeado pelo desejo de atrair o bem e afastar o mal, dando segurana ao ser humano; o sensocomum,ouconhecimentoespontneo,aprimeiracompreensoracionaldomundo, resultantedaheranadogrupoaquepertencemosedasexperinciasatuaisquecontinuam sendoefetuadas;acincia,procurandodesvendaranaturezaapartir,principalmente,das relaesdecausaeefeito,aspirapeloconhecimentoobjetivo,isto,fundadosobreas caractersticas do objeto, com interferncia mnima do sujeito; busca o conhecimento lgico, fazendo uso de mtodos desenvolvidos para manter a coerncia interna de suas afirmaes. A aplicaodacinciaresultanoconhecimentotecnolgico;afilosofia,porsuavez,prope oferecerumtipodeconhecimentoquebusca,comtodoorigor,aorigemdosproblemas, relacionando-osaoutrosaspectosdavidahumana,semserestringiraumanicaesferado conhecimentoouaumnicoaspectodoobjeto;joconhecimentoproporcionadopelaarte, nos d no o conhecimento de um objeto, mas o de um mundo, interpretado pela sensibilidade doartistaetraduzidonumaobraindividualque,pelassuasqualidadesestticas,recuperao vivido e nos reaproxima do concreto. Contribuindo com este debate, Edgard Morin (2003), filsofo francs contemporneo, vaialmconsiderandoqueexisteumainadequaocadavezmaisgraveentreos conhecimentosdivididos,compartimentados,easrealidadeseosproblemasglobais,prope que o conhecimento adequado para o mundo contemporneo deve ser contextualizado, global, multidimensional e complexo. Ocontextodacomunicaooquedsentidoaqualquerinformaorecebida.A contextualizao do conhecimento determina as condies de sua insero em uma situao e de sua validade. Oglobaldizrespeitosrelaesentreotodoeaspartes.maisdoqueocontexto, porque tem um cunho organizacional: a sociedade, por exemplo, o todo organizador de que fazemos parte. Segundo Morin (2003, p.39) impossvel entender o indivduo (a parte) sem 19 entender a sociedade (o todo) e vice-versa.. A sociedade, por meio da lngua, dos costumes, dasnormas,estpresentenosindivduos;ecadaumdelescontribuiparaamanutenoea transformao da sociedade a partir de seus atos individuais. Oconhecimentodeveainda,paraofilsofo,reconhecereacolhera multidimensionalidade,tantodoserhumano(biolgico,histrico,cultural...)quantoda sociedade,cujasparteseconmicas,social,poltica,religiosaetc.nopodemserisoladas umas das outras. E, por ltimo, Morin defende o carter complexo do conhecimento, ou seja, o fato de queoconhecimentocomoumtodoconstitudoporelementosdiferenteseinseparveis, tecidosdeformainterdependenteeinterativa:amudanaemumocasionaamudanaem outros. E finaliza, Por isso, preciso aprender cincia tanto quanto humanidades, incluindo entre elas a arte(MORIN,2003, p. 40). Essa breve reflexo filosfica importante na medida em que nos faz pensar sobre as finalidadesdoconhecimentoqueprocuramosedaeducaoqueoferecemos,emfunodo tipodemundoquedesejamosconstruir.Comestesquestionamentos,retornaremosaoponto inicial,sendoesteamissodoprogramaSaltoparaoFuturo,paracompreendercomoas concepes de educao e conhecimento esto intrinsicamente relacionadas nesta proposta de formao de professores. Reforandoacentralidadenosprocessosdeconstruodoconhecimento,oSalto prima,emseusfundamentosterico-metodolgicos,porumaconcepodialgicae interdisciplinar,ondeprofessoresepesquisadoresdetodooBrasil,dialogametrocam experincias,constituindoassim,umaverdadeiraredecoletivadeconstruode conhecimentos. Segundo Lck (2003), o enfoque interdisciplinar, no contexto da educao, manifesta-se como uma contribuio imprescindvel para a reflexo e o encaminhamento de soluo s dificuldadesrelacionadasaoensinoepesquisa,quedizemrespeitomaneiracomoo conhecimento tratado em ambas as funes do processo educacional. 20 Evidencia-se, para a pesquisadora, que o conhecimento vem sendo produzido de modo fragmentado,dissociando-secadafragmentodeconhecimentodocontextodequeemerge, criando-se, desse modo, um conhecimento limitado, ao mesmo que se produz um mosaico de informaes,deconhecimentosparalelos,desagregadosunsdosoutros,eatmesmo antagnicos. Lck(2003,p.21)aindaacrescenta:Noensino,afaltadecontatodoconhecimento comarealidadepareceserumacaractersticamaisacentuadaainda:oqueseaprendena escola, no tem nada a ver com a realidade. Paraaautora,valelembrarqueaquestointerdisciplinaremergetambmcomo orientaodasuperaodadicotomiaentrepedagogiaeepistemologia,entreensinoe produo de conhecimentos cientficos, da porque sua maior complexidade e necessidade de superao da perspectiva fracionada e setorizada do ensino. NestaconcepooSaltoimbuiu-sedaresponsabilidadesocialdepromovera formao para a cidadania, a partir da compreenso da necessidade de reorganizao do modo deproduoeelaboraodoconhecimento,deformaquesediminuamasdistncias estabelecidas entre o homem e o conhecimento produzido, promovendo, assim, uma formao orientada para a viso globalizada da realidade e uma atitude contnua de aprender a aprender. O que nos parece um caminho para o desenvolvimento. DeacordocomDemo,aeducaocomponentesubstancialdequalquerpolticade queviseodesenvolvimento,comoamaiseficazinstrumentaodacidadania.Ahiptese fundamental que educao no deve perder tempo em temer a modernidade. Deve procurar conduzi-la e ser-lhe o sujeito histrico. Nesse sentido, modernidade na prtica coincide com a necessidade de mudana social.(DEMO,2004, p.21) Segundo Demo: Aeducaoprecisaeducaramodernidadeapartirdaconscientizaode sujeitos modernos. Ser moderno , em primeiro lugar, resolver as questes-chave da 21 educao,paraconduziroprocessodemodernizao,sermodernosercapazde definir e comandar a modernidade.(2004, p.17) Odesenvolvimento,almdemoderno,careceserprprio.Estaassertiva,entretanto, no estabelece apenas o reconhecimento de que educao faz parte do processo emancipatrio (construo de um projeto prprio de desenvolvimento), mas igualmente o reconhecimento de que a modernidade passa pela educao. Um dos fatores mais decisivos para as oportunidades dedesenvolvimentoaproduodeconhecimentoprprioesuadisseminaopopular (cinciaetecnologia),oquetornaeducaorelevantenosomenteemtermospolticos (cidadania), mas tambm em termos econmicos (produtividade). Colaborandocomessepensamento,Gentili(2004)acreditaqueemtermosde desenvolvimento, nas sociedades contemporneas, a vantagem comparativa mais expressiva dos povos , hoje, o domnio da cincia e tecnologia, e a educao universal e de qualidade. Este patrimnio decide cada vez mais as chances histricas, na pretenso de escolher o tipo de desenvolvimento que se quer. Omaisimportantedadiscussoestnoganchoquepermitevalorizaoda educao,cinciaetecnologiacomopatrimniodiferencialnabuscadodesenvolvimento modernoeprprio.Tornando-se,assim,estratgicoenfrentardemododefinitivo,questes relacionadas qualidade da educao. DeacordocomPerrenoud(2000,p.133),porqualidadeeducativaentende-seo acesso universalizado a conhecimento bsico educativo, capaz de garantir a todos, condies departicipareproduzir.Pararesumir,trata-sedeformaobsicanecessriaquedeveria estar ao alcance de todos. Esta base educativa comum, ultrapassa desde logo a expectativa conservadora do mero ler eescrever. Esta no mais que mero pressuposto. O desafio agoraaloja-se, sobretudo, naquestodainformaoedacomunicaosocial,emergindocomoanalfabeto,no propriamenteoiletrado,masodesinformado.Acapacidadedeinformar-se,entretanto, assenta-sesobredoishorizontescomplementares:acessoaoconhecimentodisponvele 22 capacidade de reconstruir todo dia o horizonte informativo. Esta base educativa comum passa atercomofinalidadedotarapessoadecapacidadedepensarcrticaecriativamente, habilitando-aalereainterpretarsuarealidadeeseuentorno,edemanter-seemestado ininterrupto de atualizao. Por trs deste desafio existe, entre outras, a questo do papel moderno da cincia. Esta no se reduz a estoque adquirido no tempo de estudo. Na opinio de Santos (1988), Cincia, especificamente,inovaocomoprocesso.Significa,primeiro,queformar-seereciclar-se tornaram-se sinnimos. Resultados cientficos, assim como especializaes, envelhecem cada vez mais rapidamente. Ao repto de saber, une-se o de revisar e refazer o saber, o que significa podersempreinformar-seconvenientemente.Paratanto,atbuadesalvaoaformao, mirantedoqualsepodeveropanoramaenelemovimentar-se,reservaculturalaquese recorreparasondaralternativas,patrimnioeducativoquefundacrtica,autocrticae criatividade. Em resumo, condio do aprender a aprender. Parasealcanar,comxito,afunosocialdaeducaoedosprocessosformativos, Demo(2004,p.135)nosapontaocaminhomaisefetivo,emboraalongoprazoseria: valorizaodoprofessorcomoprofissoestratgicaesuperao,notempo,demodelos arcaicos de formao. Estabrevereflexotemcomoobjetivoprincipalesclarecerqueprincpiosfilosfico-educativostmorientadoosprocessosqueconstituemaproduodassrieseducativasdo programa Salto para o Futuro. 3.2. Linguagem, gnero e formato o princpio comunicativo Astecnologiasdainformaoedacomunicaooferecempossibilidades extraordinriaseducao,presencialoudistncia. Aeducaopresencialbeneficia-seda qualidadequeaquelastecnologiaspodemadicionarrelaoprofessor/aluno. Aeducao distncia,almdeabsorveressasqualidadesparareduziroisolamentodeprofessorese alunos, amplia o alcance e a eficcia do processo educativo. 23 E neste captulo, pretendemos discorrer, mesmo que de forma no muito aprofundada, sobreasescolhasdeformatoelinguagem,nestanovafasedestaproduo,nocaso,o programaSaltoparaoFuturo,queprocuraagregarformaorecursosaudiovisuais.Para tanto, iniciaremos trazendo alguns pontos de vista, de alguns estudiosos no assunto, sobre as possibilidades deste recurso tecnolgico. Como a mdia em questo na presente pesquisa a TV, cabe comentar sobre o estudo de Aronchi (2006, p.7) que diz: A forma de uma coisa diz tanto sobre suas possibilidades quanto sobre suas limitaesDesdeofimdosculoXIX,asconquistascientficasetecnolgicaspermitirama reproduodeimagens,possibilitandoasuatransmissodistnciaacopladaaosom. Vivemoshojeimersosemimagens.Paramuitosautores,umimperativodamodernizao desenvolveracapacidadededifundircriticamentesaberesetecnologiasquepermitam examinar o mundo por meio das representaes iconogrficas. Astecnologiasdecomunicaoeinformaoqueutilizamosdiariamente,comoa televiso,porexemplo,equeconstitui-seemobjetodeinteressenestapesquisa,oferecem formasnovasdeaprendizagem.SegundoFiorentinieCarneiro(2001),ateleviso,como tecnologia,umfatordemudanaquehmuitotempoabandonousuascaractersticasde mero suporte e criou sua prpria lgica, sua linguagem e maneiras particulares de comunicar-secomohomempormeiodesuascapacidadesperceptivas,emocionais,cognitivase comunicativas. DeacordocomAlmeida(1999),aTVfalaprimeiroaossentimentos,semoes. Mostraqueasidiasestoembutidasnaroupagemsensorial,intuitivaeafetiva.Imagem, palavra e msica integram-se dentro de um contexto comunicacional afetivo, de forte impacto emocional,quefacilitaepredispeaaceitarmaisfacilmenteasmensagens.Ateleviso combinaimagensestticasedinmicas,imagensaovivoegravadas,imagensdecaptao imediata,imagensreferenciais(registradasdiretamentecomacmera)comimagenscriadas por um artista no computador. Junta imagens sem ligao referencial (no relacionadas com o real)comimagensreaisdopassado(arquivo,documentrio)emistura-ascomimagens reaisdopresenteeimagensdopassadono-reais.Passacomincrvelfacilidadedoreal para o imaginrio, aproximando-os em frmulas integradoras. 24 Para o autor, a fora da linguagem audiovisual est em conseguir dizer muito mais do quecaptamos,chegarsimultaneamentepormaiscaminhosdoqueconscientemente percebemos.Encontradentrodensumarepercussoemimagensbsicas,centrais, simblicas, com as quais nos identificamos ou que se relacionam conosco de alguma forma. Televisoexploratambmover,ovisualizar,oterdiantedensassituaes,as pessoas,oscenrios,ascores,asrelaesespaciais(prximo-distante,alto-baixo,direita-esquerda,grande-pequeno,equilbrio-desequilbrio).Desenvolvemumverentrecortadocom mltiplos recortes da realidade, por meio dos planos, e muitos ritmos visuais. Contribuindocomestareflexo,Marcondes(1989)pensaqueoverest,namaior parte das vezes, apoiando o falar, o narrar, o contar. A fala aproxima o vdeo do cotidiano, de comoaspessoassecomunicamhabitualmente.Osdilogosexpressamafalacoloquial, enquantoonarrador(normalmenteemoff)costuraascenas,asoutrasfalas,dentroda norma culta, orientando a significao do conjunto. Para o mesmo autor, a msica e os efeitos sonoros servem como evocao, lembrana, ilustrao. O vdeo tambm escrita. Os textos, as legendas, as citaes, aparecem cada vez mais natela,principalmentenastradues.Ogeradordecaracterespermitecolocarnatelatextos coloridos,devriostamanhosecomrapidez,fixandoaindamaisasignificaoatribuda narrativa falada. Para os autores, televiso e vdeo combinam a comunicao sensrio-cinestsica com aaudiovisual,aintuiocomalgica,aemoocomarazo.Integraoquecomeapelo sensorial, pelo emocional e pelo intuitivo, para atingir posteriormente o racional. ParaBabin (1989), pensador francs, o sentir antecede o compreender nessa cultura; fala-se mais do que se escreve, v-se mais do que se l. H um novo modo de compreender. 25 3.2.1. Finalidade educativa Nestapesquisatrataremosespecificamentedeprogramascomfinalidadeeducativa, considerandoreceptorescomaintenodeformao,apartirdautilizaodemateriais audiovisuais. Propomos uma discusso que busque compreender como o programa Salto para o Futuro utiliza-se dos recursos audiovisuais com finalidade educativa. SegundoFiorentinieCarneiro(2001),aconcepodominantedeprogramas educativosrelaciona-seescola.Refere-se,diretaouindiretamente,asituaestradicionais de comunicao em sala de aula: objetos escolares, linguagem do livro, exposio professoral. Para o autor, associa-se a presena da inteno educativa explcita em programas de televiso exigncia de subservincia da modalidade expressiva (cinematogrfica, televisiva, artstica) e, conseqentemente, perda da especificidade desta modalidade. Da programas de televiso intencionalmenteeducativosseremvistoscomogneroinferior,incompatveiscoma linguagem da televiso e do cinema: Sempreumpoucoenvergonhadodenoserverdadeiramentecinema entendemoscinemaficcionalounarrativo-,ofilmepedaggicoprocuraoubem parecercomofilmeficcionalerejeitaserdidticoparanoseraborrecedor,oubem viraascostasaocinemaficcionaleaceitaseraborrecedorporserseguramente didtico. (FIORENTINI e CARNEIRO,2001, p.36) OprogramaSaltoparaoFuturodesafiaessaseparaoaproximandolinguagem audiovisual e finalidade educativa. Fato que denota avano, visto que a crtica mais freqente quantoaousodetelevisonaeducaotemsidoofatodenoseremexploradasas possibilidadesdalinguagemdeTV,reduzindo-aasuporte,eveculo,deexposio professoral. O Salto transps estes limite ao incluir no programa recursos tais como: trechos de filme, imagens de arquivos, fotografia, desenhos, quadrinhos, cartelas, computao grfica, diagramas,mapas,msica,sons,associadostcnicasderegistrodetransmisso,como entrevistas gravadas, palestras, trechos de aulas. Oprogramatembuscadoencontraroutraslinhasdeformao,encarandoovdeo comoumdosmaisimportantesmeioseducativos.Comoemgeralsovdeoscurtos, 26 possibilitaadiscussoeaelucidaoemgruposdetrabalho,ouindividualmente.Procura proporcionaracadaespectador,pelapossibilidadedeidentificaroscheioseosvaziosno vdeo, nas suas mltiplas possibilidades de apreenso, criar sua prpria constelao, na qual poder incluir uma nova viso sobre conjuntos anteriormente estabelecidos, entendendo que possvelalterarasrelaeseformularnovashiptesesouprojetos.Ovdeoaquiencarado comoestratgiapedaggicaparamotivaraprendizados,suscitarinteresses,problematizar contedos, informar. Em relao aprendizagem do receptor, desde o incio, o programa foi composto por documentostextuaisintegrados(boletinsinicialmenteimpressose,atualmente,eletrnicos), evitandoasimplesjustaposiodetextosevdeos.Istodenotaqueexisteapreocupaode no apenas informar, mas tambm formar. Uma das maneiras de viabilizar esse propsito pode ser observada na estratgia de promover o aprender pelo dilogo reflexo ao, que estimulaoaprendercrticoecriativo,presentedevriasmaneirasnosboletinsenos programas televisivos. Como motivar os cursistas a esse papel ativo de protagonista e oferecer condies para aconstruo,adesconstruoeareconstruodesentidoscertamentevemsendoumdos grandes desafios pedaggicos e um rico processo de aprendizagem da prpria equipe. Comoestratgiageral,oprogramaprocuraexploraraforapedaggicadavivncia cotidianadentrodessespadresdeaprendizagem.DeacordocomFiorentinieCarneiro (2001),aatuaorotineiradossujeitosdentrodedeterminadasestruturasdeparticipao sociallevaaumaintrojeodepadres,comportamentos,normas,valores,atitudes,valores, articuladas a estruturas cognitivas relacionadas realizao de tarefas. Essa tendncia tambm estpresentenoambienteescolar,eoatoeducativoesttoimpregnadopelasatitudes,por exemplo,queestasorientamepodemdeterminarapercepo,aaprendizagemdetodosos tipos de contedos, sejam eles conceituais, procedimentais ou atitudinais. Diantedisso,valedizerqueumadasprincipaispreocupaesdaequipedeproduo doprogramaconsisteembuscarestratgiasquepermitamestabelecerpontesentreoqueos cursistasjsabiameonovomaterialaaprender,levandoemcontaqueasnovas 27 aprendizagensnoseproduzempelasimplessubstituiodasaprendizagensprvias,oque denominamosaculturao,esimtomandoestascomopontodepartidaparaseu aprofundamento, apropriao e ressignificao, o que denominamos enculturao. Conceitos afirmados pelo estudo de Carvalho (2008) concluindo que enculturao significa apropriao de uma nova cultura sem, entretanto deixar de lado a cultura original. Esse um conceito que nasceuemoposioaculturao,queseriaasubstituiodeumaculturaporoutra.Com isso,observamosqueoprogramaconsideraaautonomiadosujeitoeasespecificidadesdos contextos culturais que permitem a reelaborao do significado das mensagens. Vale lembrar o que Paulo Freire (1986) nos diz sobre a melhor maneira de transformar aprtica:adepens-laapartirdoexistente,procurandoaoladodedescrever,informar, confrontar, reconstruir e realizar a transformao. Seporumladoaaprendizagemassimdesenvolvidapossibilitamaiorautonomiaao aprendizevitandoreduzi-loaummeroconsumidordeidiasprontaseacabadas-oqueo PauloFreire(1986)denominadeeducaobancria-,poroutrolado,supeumaatitudeessencialdocursistadeimplicar-seativaeparticipativamentenesseprocessodeconstruo conjuntadeconhecimentosesignificadosestardisponvelparaaprenderaaprender, aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conviver. Essemododepensarexercegrandeinflunciasobreaconcepo,elaboraoe produo dos programas e dos boletins. Desta forma, procura-se evitar a mera transposio da mensagemparaoutrosmeiossemodevidoaproveitamentodasvaliosascaractersticas expressionaisdecadaumdessesinstrumentos(programaeboletins).Osmesmospossuem caractersticas prprias que interferem na maneira como a equipe se comunica com o cursista, eessainfluncianopoderiaserminimizada,umavezquesepretendeumaproduo integrada para uma aprendizagem significativa, crtica e criativa. Emrelaoaosboletins(inicialmenteimpressoseatualmenteeletrnicos),ostextos sosempreescritosporespecialistasepesquisadores,sobreostemasdasrie,detodoo Brasil.Normalmente,pesquisadoresdegrandesuniversidadespblicas,quedesenvolveram ou desenvolvem pesquisa sobre algum dos eixos temticos que a srie abarca. Neste boletins 28 soexploradosdetalhadamenteosconceitos,asteorias,osprincpios,osfatoseasprticas. Istosedevecompreensodaimportncia,paraaformaodosprofessores,dadivulgao das pesquisas que desenvolvem-se nas instituies de pesquisa, assim como o contato, para a devidaapropriao,comalinguagemacadmica.Porisso,osboletinsproduzidoscomo instrumento de apoio, constituem-se em ricas fontes de informao e formao. Outroaspectofundamental,quegaranteaqualidadeeseriedadedestaproduo,diz respeitoformaodaequiperesponsvel.SegundoAronchi(2006),nosanosde1940e 1950,afirmava-sequequalquerumquepretendessefazercinemaoutelevisoparaa educaoteriadeter,primeiramente,formaopedaggica.Quasetodoomaterial desenvolvidosobessanicacondionochegouaserpedaggico,nemasercinemaou televiso. Asdiscussesemtornodessetemaprolongaram-seaolongodotempo.Hoje,h umainversodessaviso,pretendendo-sequeoscomuniclogosresolvamaquesto.O resultado que o material obtido tambm no cinema, nem televiso, nem vdeo educativo. Diantedessaquesto,arespostaencontradapeloprogramafoiacriaodeequipes multidisciplinares,quepossibilitamaproduoemconjunto,sabendosepararfunese respeitar objetivos e especialidades. Pois acredita-se que um bom programa de televiso com intenoeducativa,quevisaaformao,deveriarespeitaropedaggicoparadeterminara qualidade da informao que pode ser ofertada. Apsestareflexo,serfeitaumadescriodonovoformatodoprograma,como objetivo de possibilitar uma relao do que foi dito anteriormente com a prtica. Aps 18 anos com o formato Debate Ao Vivo, onde de segunda sexta, 3 especialistas eramrecebidosnoestdiodoprogramaparaagravao,oSaltoganhaaresdeRevista Eletrnica. Nesse novo formato, o audiovisual ganha mais espao. Salto Revista surge com a propostadeserumarevistadesegundaquarta,ondecadadiaconstitui-seemumeixo temticodentrodograndetema(queogeradordasrie).Nessestrsdiasoprograma apresenta grandes reportagens, entrevistas e diversos quadros. s quartas- feiras o programa constitudodetrsentrevistasde15minutos,umaemcadabloco,comtrsespecialistas diferentes,gravadasnoestdiodoprograma.Esteprograma,denominadoOutrosOlhares, 29 temafunodeenriquecerodebatecomassuntospertinentessrie,masquenotenham sido abordados nas revistas. s sextas-feiras,encerrandoa srie, o Salto retoma seu formato Debate Ao Vivo, recebendo trs convidados, entre especialistas, pesquisadores, professores de formaobsica,representantesdeinstituiescivis,ongs,etc,quepossamtrazersuas contribuiesparaodebateerespondersquestesenviadaspeloscursistas.Este consideradoumdosmomentosmaisenriquecedoresdasrie,ondediferentessegmentosda sociedade,dediferentesregiesdoBrasil,conseguem,emrede,propiciarumaconstruo coletiva e colaborativa de conhecimento. Vale ressaltar que neste momento, pesquisadores de grandesinstituiesdepesquisaecentrosdeproduodeconhecimento,assumemuma importantefunosocialdedemocratizaredivulgarsuaspesquisas,associandoseus resultados aos mais diversos contextos sociais e polticos trazidos pelos cursistas. O formato da Revista requer dinamismo de linguagem e na organizao dos contedos que sero levados aos cursistas. Para isso, vrios quadros foram inseridos para, cada um com suas especificidades, atender demandas diversificadas; tanto em termos de linguagem quanto de temas que podero ser discutidos. AdistribuiodequadrosdentrodecadaediodaRevistanosegueumaordem rgida.Damesmaforma,nonecessrioquecadaediodoprogramaapresentetodosos quadros. O rodzio entre essas sesses garante frescor ao formato.Nessanovafase,tambmganharelevnciaositedoprograma.Nele,oprofessor poderencontrarsugestesdeatividades,teracessoaosboletins,participardosfrunsde discussocomprofessoresdediversaslocalidades,trocandovaliosasexperincias,enviar perguntas, assistir entrevistas do programa que foram editadas na ntegra, etc. ParaFiorentinieCarneiro(2001),aeducao,nessecenrio,fortaleceosentidode valorizaodoserhumanoedesuaspotencialidadesparaviveremsociedadeetrabalhar, produzir.Nessaperspectiva,cresceaimportnciadosprofessores,eumamudanaemseu perfil e forma de atuao faz-se urgente. Diante disso, o papel do professor no atual estgio da sociedadevolta-separaaconstruodeumasociedadequetenhaainclusosocialcomo prioridadeabsoluta,portantoaformaodeprofessorespassaaservistacomoelemento 30 estratgico para a construo de uma nao soberana. 31 4. O CONHECIMENTO CIENTFICO Nestecaptulo,voltaremosnossaatenoparaoobjetodeinteressedestapesquisa, sendoesteassriesproduzidaspeloprogramaSaltoparaoFuturoquesepropemauma educaocientfica.Oobjetivodestaanlisetentarmoscompreenderaformacomoo programa comunica as questes da cincia, o que ser feito a partir da exposio de algumas abordagens que podem ser conferidas nos boletins, nos quais encontram-se os textos escritos pelosespecialistasepesquisadores.Esteboletimrefletealinhadasrie,suaintenoassim comoasinopsedecadaprograma.Paratanto,iniciaremoscomumabrevereflexosobreo conhecimento cientfico. As cincias da natureza so uma forma de conhecimento relativamente recente, porque surgiramnoinciodosculoXII,quandoGalileuestabeleceuosnovosmtodosde investigaodafsicaedaastronomia,inaugurandoacinciamoderna.Sena Antiguidadee naIdadeMdiaosaberestavavoltadoparaacompreensodesinteressadadarealidade,na Idade Moderna, buscou-se o saber ativo, o conhecimento capaz de atuar sobre o mundo para transform-lo.Posteriormente,outrascinciasaprimoraramseusmtodos,comenorme repercusso sobre a tecnologia, de maneira que o novo saber ampliou a capacidade humana de agir sobre a natureza e transform-la. Segundo Aranha(2005),atosculoXII,oconhecimentoeraproduzidoapartirdo bomsensoedousoespontneodarazo.Entretanto,comonovomtodocientfico inaugurou-seumaformadeinvestigaomuitomaisrigorosa,quepermitealcanarum conhecimentosistemtico,precisoecommaiorobjetividade.Vejamosmelhoroque significam estas caractersticas, na opinio da autora. A cincia aspira pela objetividade ao tentar superar as concluses subjetivas, marcadas pelanossasensibilidadeouidiossincrasias.Soobjetivasporquecinciaumainstituio social em que as atividades de cada cientista, como membro de uma comunidade intelectual, esto sujeitas crtica dos demais. Isso possvel, porque os cientistas trabalham com hipteses testveis, que podem ser 32 submetidasexperimentao,demodoaseremconfirmadasourejeitadas.Ouseja,a cincia constituda por corpos de conhecimento organizado cujas investigaes sistemticas esto empiricamente fundamentadas pelo controle dos fatos.(LACEY, 1998, p.79) Uma vez confirmadas, as explicaes cientficas so formuladas em enunciados gerais (as leis), capazes de distinguir e separar certas propriedades e descobrir relaes entre outras, unificando um grande nmero de fatos que pareciam dspares. DeacordocomLacey(1998),aobjetividadedacinciatambmdecorredesua linguagem rigorosa. Enquanto na conversa do dia-a-dia usamos termos vagos, a cincia torna preciso seus conceitos, evitando ambigidade. Paraoautor,nosltimosquatrosculos,acinciaeatecnologiaforamcapazesde alterarafacedomundo,commudanastoradicaiscomonuncasetevenotciaantes.Era inevitvel que se criasse uma aura em torno desse saber e desse poder, fazendo surgir, l onde sepensavaapenasexistiremasluzesdarazo,algumasregiesnebulosas,-osmitosda cincia. Esses mitos atingem a sociedade como um todo tanto os leigos como os cientistas -, que se maravilha com o rigor do saber e a eficcia da tcnica, sempre que os critrios da razo instrumentalpassamainterferirnosdomniosdavidaafetiva,fazendocomquecinciae tcnica se desviem de sua destinao humana. 4.1. O mito do cientificismo De acordo com Duhem (1989), medida que a cincia se mostrou capaz de explicar os fenmenosdemaneiramaisrigorosa,aofazerprevisescapazesdetransformaromundo, passouaservistacomoconhecimentosuperior.Porconseqncia,minimizou-sea importnciadosdemaismodosdecompreensodarealidade,taiscomoomito,areligio,o bom senso da vida cotidiana, as instituies da vida afetiva, a arte e a filosofia, consideradas formas menores de conhecimento. 33 A confiana total na cincia pressupe apenas a racionalidade cientfica. Fato que vem sendoalvodecrticas,queacusamocientificismodeseroresponsvelporumaviso distorcidatantodanaturezaquantodoserhumano.Comoexemplo,ofilsofoalemoMax Weber(1864-1920)percebeuqueaformalizaodarazo,tendoemvistaorendimentoea eficcia, caminha ao lado do desencantamento do mundo, agora despojado de seus aspectos mticos, sagrados, para ser examinado como um mundo mecnico e casual. Lacey(1998)corroboracomessepensamentoeacrescentaqueomitodo especialista,frutodocientificismo,temcomoconseqnciaatecnocracia,segundoaqual apenasotcnicocompetentecapazdedeciso;ouseja,dessemitosepodeconcluirque saber poder. 4.2. O mito da neutralidade cientfica A cincia um tipo de saber capaz de superar a subjetividade do prprio cientista e os preconceitosdosensocomum.Origordomtodopermiteatingirumaltograude objetividade, porque seus procedimentose produtos podem ser verificados com iseno pela comunidade cientfica. Emdecorrncia,muitospensamqueacinciaumsaberneutro,ouseja,queas pesquisas cientficas no sofrem influncia social ou poltica e visam apenas ao conhecimento puroedesinteressado.Porconsideraraatividadecientficamargemdasquestes histricas,nocaberiaaocientistadiscutirousopolticodesuasdescobertas.Ocientistase ocuparia com a descrio dos fenmenos, e no com juzo de valor. Paraambososautorescitadosanteriormente,sabemosquenobemassim,na opiniodeLacey(1998,p.80),ahumanidadecorreriscosdiantedoaprendizde feiticeiro incapaz de discutir os fins que se destinam suas pesquisas. Para o autor, a bomba atmica, por exemplo, no pode ser apenas o resultado do saber sobreaenergiaatmicanemdasimplestcnicadeproduzirexploso,mastrata-sedeum saber e de uma tcnica que dizem respeito vida e morte de seres humanos. As indagaes 34 ticas se estendem a inmeros outros campos, refletindo-se, por exemplo, na discusso sobre aclonagemdeanimaiseapossibilidadedeessatcnicaseraplicadaaossereshumanos.Se essaltimavemcarregadadetemores,autilizaodasclulastroncoparafinsteraputicos tem despertado a esperana para o tratamento de doenas at ento incurveis. ParaAranha(2005),essaambigidadeserefleteeminmerossetores.Sepodemos reconhecer os benefcios do progresso, nem por isso deixamos de indagar sobre os valores do indivduourbanoecivilizadoquesofrededesconfortoscomoapoluioambiental.Isso nos leva a questionar o mito do progresso, que justifica as iluses e os preconceitos dos povos civilizadosaosejulgaremsuperioresaosmenosdesenvolvidos.(AulereDelizoicov, 2001) Osautorescitadosconcordamque,diantedessasqustes,nohcomosustentara neutralidadedacincia.Aindaqueseusprocedimentosmetodolgicosbusquema objetividade,cabeaocientistaaresponsabilidadesocialdeindagarsobreosfinsaquese destinamsuasdescobertas,semalegariseno,umavezqueaproduocientficanose realiza fora de um determinado contexto social e poltico. 4.3. Cincia e filosofia De acordo com Aranha (2005), uma das funes da filosofia analisar os fundamentos da cincia. O prprio cientista j coloca questes epistemolgicas quando se pergunta em que consiste o conhecimento cientfico e qual a validade do mtodo que utiliza, assim como deve formular questes ticas e polticas, ao indagar sobre a sua responsabilidade social quanto s aplicaeseconseqnciasdesuasdescobertas.Porissoimportantequeocientistase disponhaafilosofar,afimdeinvestigarospressupostoseasimplicaesdoseu saber.(ARANHA, 2005, p. 175) ]Almdisso,naopiniodaautora,afilosofiabuscarecuperaravisodetotalidade, fragmentada diante da multiplicidade das cincias particulares e da valorizao do mundo dos especialistas. 35 Paraconcluir,podemosdestacaropapeldafilosofiaaoacompanhardepertoas condiesemqueserealizamaspesquisascientficas,investigarosentidoeafinalidadeda cincia, bem como avaliar suas prioridades e conseqncias. 4.4. A cincia no Salto OprogramaSaltoparaoFuturotemcomopressupostofundamentalavalorizaoda formaodoprofessor,acreditandoserestavalorizaoessencialparaamelhoriada educao,e,emparticular,daeducaocientfica,nopas.Objetivandocontribuircomessa formao,oSaltoproduzanualmente,entreoutrassries,quelasquetrazemparaodebate temasvariadosrelacionadosCincia,comafinalidadeprincipaldepossibilitarque professoresdetodoopasrevejamereconstruamseusprincpioseprticaspedaggicas, dentro e fora de sala de aula. OprincpioquenorteiaassriesdoSaltodequenummundocadavezmais permeado por cincia e tecnologia, o conhecimento de seus processos de produo passa a ser fundamentalparaentendermosomundoquenoscerca.Acompreensodacinciae tecnologia,hoje,elementoindispensvelparaainclusosocialeaampliaodacidadania dapopulao.Nessecenrio,oSaltoparaoFuturo,enquantoespaodesocializaoe disseminaodeconhecimentocientfico,vemganhandoumpapelaindamaisimportantee fundamental. No contexto dos conhecimentos produzidos pelacincia, o Salto se defronta com um grandedesafio:ocrescentedescompassoentreacapacidadedeabsorverinformaeseo crescimento do conhecimento produzido. Segundo Meis (2006, p.7), impossvel dominar mais de uma rea do conhecimento e manter-se atualizado em cada uma delas nos tempos modernos. A quantidade macia de novos conhecimentos gerada a cada ano nos obriga superespecializao acadmica. Nessaviso,oprogramacompartilhacom AulereDelizoicov(2001)apremissade quenoscabedivulgaocientficaaaquisiodeconhecimentoeinformao,mas, 36 principalmente, a produo de uma reflexo crtica relativa ao papel da cincia, sua funo na sociedade,seusriscosecontrovrsias,suasimplicaes,astomadasdedecisescorrelatas, etc.Paratanto,oprogramaprocura,atravsdesuassries,ofereceraoprofessor possibilidades para que tais reflexes ocorram. Apartirdesuadinmica,oprofessortemapossibilidadededialogarcom pesquisadoresdediferentesinstituies,oqueconfereaoprogramaumcarterde conhecimentoconstrudoemrede.Ocorreefetivamenteumdilogoentreuniversidade-escola sociedade, que, para os professores, possibilita uma aproximao com acincia em sua linguagem e mtodo, a partir da fala de quem a produz, o que garante a confiabilidade das informaes,eaospesquisadorespossibilitaoexercciodeumaimportantefunosocial, sendo esta a divulgao e socializao de seus conhecimentos, de forma contextualizada com asdiferentesdemandasdenossopas.Dessaforma,oqueestsendoenfatizadopelo programa uma educao para a cincia, a formao do cidado no sentido em que ele possa teropinieseumavisocrticadetodooprocessoenvolvidonaproduodeconhecimento cientfico. PodemosdizerqueoprogramaSaltoparaoFuturoconstitui-senumcampoabertoe democrticodeidias,oquesepodefacilmenteconstatarapartirdavariedadede especialistas,pesquisadoreseprofissionaisdediferentesreasdoconhecimentoque participam de cada srie. O que permite ao programa a capacidade de contemplar as diferentes vises, controvrsias e aspectos envolvidos na produo dos conhecimentos cientficos. Desta forma, o programa procura promover a Alfabetizao Cientfico-Tecnolgica (ACT), que cada vezmaistemsidopostuladaenquantodimensofundamentalnumadinmicasocial crescentemente relacionada ao desenvolvimento cientfico-tecnolgico, assim como contribuir com a insero de professores no que podemos chamar de Cultura Cientfica. DeacordocomestudosdeAulereDelizoicov(2001),aAlfabetizaoCientfico-Tecnolgica,podeserconcebidasegundoduasperspectivas,sendoestasareducionistaea ampliada. Naperspectivareducionista,reduz-seaACTaoensinodeconceitos,bemcomoao 37 entendimentodosartefatostecnolgicosecientficosnumadimensoapenastcnica, internalista,oque,segundoosautores,contribuiparaamanutenodemitosligados CinciaeTecnologia(CT).Nessaperspectivareducionista,espera-sequeoscontedos operemporsimesmosoucomoumfimemsi. Almdisso,essaperspectivaparececonter aproximaescomodenominadomodelodedficitcognitivo,utilizadoparaaavaliao sobreoentendimentopblicodacincia.Sobreestemodelo,Rosa(2000)acreditaqueo mesmo estabelece como meta a transmisso unidirecional do conhecimento cientfico, estando implcito,nessaformadeACT,umatentativadepreservare,sepossvel,ampliaroapoio recebidopelacincia.Fundamenta-senumaposturapoucocrticaemrelaosimplicaes da CT na sociedade. Segundo a autora, nesse modelo, esto implcitos trs princpios bsicos: a)Opblicoignorantesobrequestescientficasetecnolgicas.Ascontrovrsias pblicassobrequestescientficasetcnicassoatribudasaumentendimentoinadequado, por parte do pblico, e no devido ao funcionamento da cincia em si; b)Avisodemundooferecidopelacinciaconsideradanicaeprivilegiada, constituindo um fator essencial para a melhoria das condies humanas e ambientais; c)Acinciaretratadacomoumaatividadeneutra,desprovidadevalores.As condiessobreasquaisoconhecimentocientficoconstrudoevalidadonoso questionadosecinciaatribudoumcarterdeatividadedesprovidadeambigidadee contradies. Rosa (2000) alerta que, nessa viso o que se pretende , na verdade, evitar a necessria problematizao da cincia, dos cientistas e das instituies cientficas. Fazendoumarelaodestaperspectivareducionistacomoscurrculosescolares, podemosperceberqueosmesmosrefletemestaviso.Istoseevidencianoestudode Krasilchik(2000)sobrecurrculoeensinodecincias,ondeeladizqueoscontedose grandestemasincludosnocurrculodasdisciplinascientficasrefletemconcepeseidias 38 correntesobrecincias.Falandosobreestasconcepes,aautoranosdizque:Acincia consideradaumaatividadeneutra,isentandoospesquisadoresdejuzodevaloressobreo queestofazendo.Ecomplementa:Odebatesobreasimplicaessociaisdacincia devem estar contemplados nas propostas curriculares.(KRASILCHIK,2000, p.89) OprogramaSaltoparaoFuturo,alternativamenteaomodelodedficitcognitivo apresentado,colaboracomaperspectivaampliadade ACT,queproblematizamaCTesuas instituies,ondeaproximaescomoreferencialfreiriano(Freire,1987,1986),podem contribuirparaasuperaodosmitos.Paraoeducador,aperspectivaproblematizadorae dialgica fundamental, particularmente no processo de formao de professores. ParaFreire,educaorelaciona-secomconhecimentocrticodarealidade,com uma leitura crtica domundo. Esse se constitui no ponto central dessa aproximao: Para umaleituracrticadomundo,paraodesvelamentodarealidade,aproblematizao,a desmistificaodosmitosconstrudos,historicamente,sobreasinteraesentreCincia Tecnologia Sociedade (CTS), fundamental. No entender de Freire, a alfabetizao no pode se configurar como um jogo mecnico dejuntarletras.Alfabetizarmuitomaisdoquelerpalavras,devepropiciaraleiturado mundo.Leituradapalavraeleituradomundodevemserconsideradasnumaperspectiva dialtica.Alfabetizarnoapenasrepetirpalavras,masdizerasuapalavra. Contemporaneamente,cadavezmais,adinmicasocialestrelacionadaaosavanosno campo da CT. Nesse sentido, consideramos que uma reinveno da concepo freiriana deve incluirumacompreensocrticasobreasinteraesentreCTS,dimensofundamentalpara essaleituradomundocontemporneo.UmavanoparaalmdeFreire,tendo-ocomo inspirador. OprprioFreiremanifestouestanecessidade:Nunca,talvez,afrasequasefeita exercerocontrolesobreatecnologiaep-laaserviodossereshumanostevetanta urgnciadevirarfatoquantohoje,emdefesadaliberdademesma,semaqualosonhoda democracia se esvai.(FREIRE, 1992, p.133) 39 Colaborandocomestaconcepoacercadosignificadode ACTparaasociedade,o programa Salto para o Futuro pretende contribuir tambm com o debate a cerca dos contedos que norteiam o prprio ensino das disciplinas cientficas, dentro das escolas. 40 5. DIVULGAO CIENTFICA Pormuitotempo,houveumconceitobastantedifundidodequecaberiadivulgao cientfica preencher uma lacuna de informao que o leigo no tem em relao cincia, isto ,queoleigo,portanto,analfabetocientificamente.Idiaquegerouotermoscientific literacy,quealfabetizaocientfica,isto,tornaroleigoinformadodasquestesda cincia.SegundoDurant(2005),essaidiasurgecomoformadesuprirodficitde informaodapopulaoleigaemrelaocincia.Idiaquegerouomodelodedficitda divulgaocientfica,onde,segundooautorsobessepontodevista,sercientificamente alfabetizado quer dizer estar bem familiarizado com os contedos da cincia; isto , significa saber muito sobrecincia (DURANT, 2005, p.15). Ainda na opinio doautor, este modelo de dficit, centrado na quantidade de contedo, o que predomina nos currculos e nos cursos escolares.Eleacreditaqueamaiorpartedosestudantes,namaioriadoscursosformaisde cincias, tem pouco tempo para qualquer outra coisa alm de memorizar a quantidade exigida de conhecimento cientfico. Com o decorrer das atividades em vrios pases, na Inglaterra, na Frana, na Europa de modogeral,ecomreflexosempasescomooBrasil,essateoriadodficitfoisendo substitudaporumavisomaisdemocrticadopapeldadivulgaocientfica.Nessanova viso, no cabe divulgao cientfica apenas levar a informao, mas tambm atuar de modo a produzir as condies de formao crtica do cidado em relao cincia. O pressuposto dequesevocoferececondiesdeacessodemocrticoinformaoatodaapopulao, viabiliza um conhecimento que tem a fora para socializar, portanto, para produzir o chamado fenmenodainclusosocialdopontodevistadainformao.claroquequestosocial uma questo de fundamento material e econmico. Mas, com relao informao, essa nova perspectivaatribudasaesdedivulgaocientficaeapropostadeculturacientfica,so inclusivos, pois promovem informaes reflexivas e de qualidade sobre cincia. Sobre essa concepo de divulgao cientfica, Durant (2005) compartilha da idia de queparaentenderacincia,opblicoprecisadealgoalmdoquemeroconhecimentode fatos. Precisa, tambm, mais do que imagens idealizadas da atitude cientfica e do mtodo cientfico. O que ele necessita, uma percepo sobre o modo sobre o qual o sistema social 41 dacinciarealmentefuncionaparadivulgaroqueusualmenteconhecimentoconfivela respeito do mundo natural. O pblico precisa compreender que s vezes a cincia funciona, noporcausade,mas,sim,apesardosindivduosenvolvidosnoprocessodeproduoe disseminao de conhecimento.(DURANT, 2005, p.25) 5.1. A divulgao cientfica no Brasil Os ltimos anos tm sido marcados por inmeras experincias de divulgao cientfica noBrasil,comoobjetivodefortalecerumavisomaisdemocrticaatribudaaestas atividades.De acordo com Valrio (2005), o fortalecimento e a expanso da divulgao cientfica socomprovadosporiniciativaseminstituiespblicasbrasileiras,algumasenglobandoa cincia e a divulgao cientfica, tais como as reunies anuais da Sociedade Brasileira para o Progresso da Cincia (SBPC), e mais a criao de dezenas de centros e museus de cincia, a presenamaisconstantedacincianamdia,oestabelecimentodeumdepartamentono Ministrio da Cincia e Tecnologia voltado para a popularizao e a difuso da C&T, ligado SecretariadeinclusoSocial,oProgramaCinciaMvelcomitinerncianacionalde exposies, entre outras. SegundoMoreira(2004),algunsobjetivosgeraisparaorientarumapolticanacional comeamaserdesenhados,sendoestes:aumentaraapreciaocoletivadovaloreda importncia da C&T;estimular acapacidade criativa e de inovao, emespecial dos jovens; proporcionarumamaiorpresenadaC&Tbrasileiranosmeiosdecomunicao;contribuir para a melhoria e atualizao do ensino das cincias; estimular o uso e a difuso da C&T em aesdeinclusosocial;estimularqueasatividadesdedivulgaocientficaincorporem tambmascinciassociais;promoverumamaiorinteraoentrecincia,culturaearte, valorizando os aspectos culturais e humansticos da cincia; estimular a participao popular no debate sobre os impactos resultantes da C&T. Diante deste cenrio atual, algumas aes esto sendo implementadas. Entre elas, vale destacar,oestabelecimentodaSemanaNacionaldeCinciaeTecnologia,desde2004,pelo 42 Departamento de Difuso e Popularizao da Cincia do Ministrio de Cincia e Tecnologia. Asatividadesreneminmerasinstituiesdeensinodeensinoepesquisa,emtodasas regiesbrasileiras,comoobjetivodedivulgarepopularizaracinciaeatecnologiaparaa sociedade em geral e, assim, contribuir com a incluso social. SegundoMoreira(2004),ampliaremelhoraraqualidadedadivulgaocientficano pas importante no sentido de fortalecer uma cultura cientfica. Mas o autor destaca que esta tarefa s ser possvel a partir de um amplo processo coletivo envolvendo diversos segmentos da sociedade tais como, instituies de pesquisa, universidades, sociedade cientfica, governo, comunicadores, educadores e estudantes. 43 6. CONSIDERAES FINAIS A partir destas reflexes, podemos concluir que o programa Salto para o Futuro, da TV Escola, canal educativo da Secretaria de Educao Distncia/MEC, insere-se no contexto da divulgaocientfica,sendomaisumveculoquepossibilitaacomunicaodos conhecimentosproduzidospelacincia,paraseupblicoalvo,sendoesteprofessoresde graduao ou que encontram-se em processo de formao continuada. De acordo com a concepo que orienta as aes de divulgao cientfica, no cenrio atual,apresentadaporestapesquisa,podemosconcluirqueiniciativasnasquaisquestes relacionadasaoimpactodacincianasociedadepodemseramplamentedebatidos,numa abordagemcrticaeparticipativa,sobem-vindas. Assimsendo,podemosincluiroSalto nestediscursodadivulgaocientfica,umavezquepercebemosfatoresdeterminantesao longo desta anlise, que nos permitem tal afirmao. Primeiramente,atravsdadescriodeseuformatoedinmica,percebemosque ocorre, efetivamente, um dilogo entre universidade, cientista, professores e outros segmentos dasociedade.OSaltopermitequeseupblicotorne-seumprotagonistaimportantena disseminaodasinformaesdecincia,permitindoqueassumamumaposturacrticaem relao ao papel do conhecimento nos processos decisrios. Constituindo-se numa verdadeira rededeproduodeconhecimentocoletivo.Destaforma,evidencia-seumgrande afastamentodomodelodedficit,tambmutilizadocomoformadecomunicarcincia,mas que funda-se principalmente, na transmisso massiva, unidirecional, de grande quantidade de contedos e informaes. OSalto,contrariamente,priorizaaformaoemdetrimentodainformao,pois acredita que ser atravs das experincias vivenciadas em seus processos de formao que os sujeitosiroadquiriracapacidadedeseapropriaremdainfinidadedeinformaesqueso produzidasnomundomoderno,afimdecontextualiz-las,atribuir-lhessignificado, tranform-las. Outroaspectorelevantequedevemosconsiderar,dizrespeitopreocupaodo 44 programa em contribuir com a desmistificao da cincia e do cientista, o que se evidencia no prpriodiscursodospesquisadores,nostextosquecompemoboletimassimcomonas propostasdassries.Peloqueobservamos,nestapesquisa,aquelesqueencontram-sehoje engajados no movimento crescente de divulgao e popularizao cientfica, compartilham da mesmapreocupao,poisentendemquefoiexatamenteestaimagemdeturpadadacinciae docientista,construdahistoricamente,umadasresponsveispelograndeafastamentoentre cincia e humanidade, precisando, desta forma, ser reconstruda. Diantedoquefoiexpostoeanalisadonestetrabalho,recomenda-sequeoutras pesquisas sobre veculos que se propem a aes que possibilitem a interface entre divulgao cientficaeeducao/formao,sejamrealizadas,umavezqueasmesmasaindaso incipientes.Damesmaforma,espera-sequeestetrabalhopossafomentarestetipode reflexo, contribuindo, assim, para o fortalecimento deste carter formativo, e to necessrio, das diversas aes neste campo fecundo e promissor da divulgao cientfica. 45 7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ALMEIDA,MiltomJosde.Aeducaovisualdamemria.Vol10.p.925.Campinas: Unicamp / Fac. Educao, 1999. ARANHA,Maria Lcia Arruda. Temas de Filosofia. So Paulo:Moderna, 20 ARONCHI, J.C. TELEVISO, GNEROS E LINGUAGENS. Proposta Pedaggica. Boletim 10, Salto para o Futuro. SEED / MEC . Junho, 2006. AULER,DcioeDELIZOICOV,Demtrio.Alfabetizaocientfico-tecnolgicapara que.Ensaio Revista em Educao em Cincias,v.3,n.1,p1-13, 2001 BABIN,P.,KOULOUMDJIAN,M.F.Osnovosmodosdecompreender:ageraodo audiovisual ao computador. So Paulo:Paulinas, 2000. BUENO,W.daC.Jornalismocientficocomoresgatedscidadania.In:MASSARANI,L.; MOREIRA,I.deC.;BRITO,F.Cinciaepblico:caminhosdadivulgaocientficano Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Cincia, UFRJ, 2002.p. 229-23 ________.Jornalismocientfico:conceitosefunes.Cinciaecultura,vol.37,n.9,pp.1420-1427,1985. CARVALHO,AnnaMariaP.de.,EnculturaoCientfica:umametadoensinodecincias. Texto apresentado no XIV ENDIPE, Porto Alegre. pp. 1 12, 2008. CAZELLI,S.eFranco,C.AlfabetismoCientfico:novosdesafiosnocontextoda globalizao. Ensaio Revista em Educao em Cincias, v.3, n.1, pp1-16, 2001. DUHEN,Pierre.Algumasreflexesacercadafsicaexperimental.In:CinciaeFilosofia. 46 So Paulo, n.4, 1989, p. 87 88. FIORENTINI,L.M.R.eCARNEIRO,V.L.Q.Tecnologiaseeducao:desafioseaTV Escola. Braslia: Editora Universidade de Braslia, 2 ed., 2001. FREIRE, P. Pedagogia da Esperana: Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1992. ________Pedagogiada Autonomia:saberesnecessriospraticadocente.RiodeJaneiro: Paz e Terra, 1996._________Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1987. GENTILI,Pablo(Org.)Pedagogiadaexcluso:crticaaoneoliberalismoemeducao. Petrpolis: EditoraVozes, 2001.KRASILCHIK, Myriam. Reformas e Realidade: o caso do ensino de cincias. So Paulo em Perspectiva, vol.14, pp.85 93, 2000. LACEY,Hugh. Valorese atividades cientficas. So Paulo, Discurso Editorial, 1980, p. 79 80. LUCK,Helosa.Pedagogiainterdisciplinar:fundamentosterico-metodolgicos. Petrpolis: Editora Vozes, 1994. MARCONDES FILHO, CIRO. Televiso: a vida pelo vdeo. So Paulo: Moderna, 2006. MARTIN-BARBERO, J.Novos regimes de visualidade e descentralizaes culturais. Braslia: Secretaria de Educao Distncia / MEC, , 1999. 47 MASSARANI, Luisa, TURNEY, Jon & MOREIRA, Ildeu de Castro (orgs.) Terra incgnita: a interface entre cincia e pblico. Rio de Janeiro: Casa da Cincia: UFRJ, 2005. MEIS, Leopoldo. MTODO CIENTFICO E ENSINO DE CINCIAS. Proposta Pedaggica. Boletim 12, Salto para o Futuro. SEED / MEC. Agosto, 2006. MELO, Jos Marques de. Impasses do Jornalismo Cientfico. Comunicao e Sociedade, n.7, pp. 19-24, 1982. MENDONA,R.H.SALTOPARAOFUTURO:umatrajetriadedilogo.Disponvelem http://www.tvbrasil.org.br/salto . Acesso em 08 de dezembro de 2009. MOREIRA, I. De C., A divulgao cientfica no Brasil. FAPEMIG, n 18, pp 1 2, 2004. MORIN, Edgard. Os sete saberes necessrios educao do futuro. 8 ed. So Paulo/Braslia: Cortez / Unesco, 2003. p. 39 40. DEMO,Pedro. Desafios modernos da educao Petrpolis: Editora Vozes, 2004 PERRENOUD, Philippe. Pedagogia Diferenciada: das intenes ao. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2000. ROSA,V.L.Genticahumanaesociedade:conhecimentos,significadoseatitudessobrea cincia da hereditariedade na formao de profissional de sade. Florianpolis: CED / UFSC, 2002. SNCHEZMORA, AnaMara.Adivulgaodacinciacomoliteratura.RiodeJaneiro: Casa da Cincia, Editora da UFRJ, 2003. SANTOS, B.S. Um discurso sobre as cincias. So Paulo, Afrontamento, 1998. 48 VALERIO,P.M.C.M.Peridicos cientficos eletrnicos e novas perspectivas de comunicao e divulgaoparaacincia.2005.Tese(DoutoradoCinciadaInformao)-CNPq/IBICIT-ECO/UFRJ,Rio de Janeiro.