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INTRODUÇÃO
Sabe-se que são muitos os distúrbios de aprendizagem que afligem as
crianças na fase escolar. Estes distúrbios têm vários sintomas, e dentre eles
podemos destacar a Dislexia, que é muito mais comum do que se imagina. Vive-
se hoje em um mundo tão moderno onde há professores que ainda não sabem ou
nunca ouviram falar sobre essa diferença de aprendizado. As dificuldades de
aprendizagem se apresentam nas escolas, principalmente aquelas que dizem
respeito à aquisição da leitura e escrita. Porém muitos professores não
conseguem entender porque algumas crianças aprendem e outras não.
Dentro de algumas questões encontra-se uma dificuldade muito comum,
porém pouco discutida. Pensando neste aspecto, este estudo tem por objetivo
enfocasse esta situação e os principais aspectos do distúrbio de aprendizagem
dislexia e como ela interfere na interpretação textual dos alunos.
Neste sentido, como problema de pesquisa questionou-se as dificuldades
na aprendizagem da linguagem escrita e da interpretação textual por parte das
crianças disléxicas.
Para responder a tal questionamento levantamos as seguintes hipóteses: o
educador nem sempre tem clareza sobre os problemas apresentados pelos
alunos; as dificuldades de trabalhar com crianças disléxicas em sala de aula sem
um conhecimento prévio deste distúrbio o que torna o trabalho do professor
moroso no o processo de ensino aprendizagem; a falta de feeling e feed-back em
relação ao educador que atual em sala de aula e finalmente, a necessidade de
conhecer, obter e produzir instrumentos pedagógicos que possam ser utilizados
pelo professor em sala.
Justificamos a intenção da pesquisa, pois acreditamos que as dislexias
estão presentes em muitos indivíduos, no entanto, muitas vezes são
erroneamente e tardiamente diagnosticadas. Diante disso, a falta de preparo dos
professores em compreender as origens desta disfunção do sistema nervoso
central que causam dificuldades de aprendizagem principalmente no que diz
respeito à aquisição da leitura, escrita e interpretação de textos. Ler significa
interpretar símbolos gráficos. Ao contrário da linguagem verbal, a leitura e a
escrita não são processos naturais, automáticos, as crianças precisam ser
ensinadas.
Sendo assim, há a necessidade de conhecer, aperfeiçoar e até mesmo
formular instrumentos metodológicos que indiquem caminhos para o diagnóstico
das dificuldades encontradas em crianças com dislexia. Desta forma o educando
fará o uso da linguagem obtendo habilidades também na escrita e na interpretação
das palavras. Isso é inclusão, é reconhecer a especificidade histórica e social do
cidadão.
Como objetivo geral pretende-se indicar estratégias para o ensino da leitura
e escrita em sala de aula com crianças disléxicas.
Como objetivos específicos buscou-se traçar um panorama geral
descrevendo os pontos principais da dislexia, suas causas, sintomas e as
intervenções possíveis para esta dificuldade de aprendizagem.
Para o desenvolvimento deste estudo foi utilizada pesquisa qualitativa de
caráter bibliográfico.
9
No capitulo 1: Panorama geral da Dislexia abordou-se a conceituação, os
tipos de Dislexia, os principais sintomas e causas do distúrbio.
No capitulo 2: Métodos de ensino da leitura apresentou-se como estratégias
de ensino a Panlexia e a Rota Fonológica para demonstrar como trabalhar de
forma diferenciada com alunos disléxicos na aprendizagem.
No capitulo 3: A dislexia e as dificuldades com a leitura descreveu-se de
que forma esses distúrbio se desenvolve a partir de teorias neurocientíficas e
como o educador necessita posicionar-se frente às dificuldades encontradas em
sala de aula no ensino da língua escrita e na interpretação textual.
Como contribuição este estudo pretende elucidar questões a respeito do
trato com alunos disléxicos no ambiente escolar e apresentar algumas estratégias
de ensinos para facilitar o trabalho do professor.
10
CAPITULO 1: PANORAMA GERAL DA DISLEXIA: CONCEITUAÇÃO
1.1 CONCEITUAÇÕES E PRINCIPAIS SINTOMAS
O saber ler é uma das aprendizagens mais importantes, porque é a chave
que permite o acesso a todos os outros saberes. A leitura e a escrita são formas
do processamento lingüístico. Aprender a ler, embora seja uma competência
complexa, é relativamente fácil para a maioria das pessoas. Contudo um número
significativo de pessoas, embora possuindo um nível de inteligência médio ou
superior, manifesta dificuldades na sua aprendizagem. Pringle Morgan (1896, p.
02) foi o primeiro estudioso a descrever o caso clínico de um jovem de 14 anos
que, apesar de ser inteligente, tinha uma incapacidade quase absoluta em relação
à linguagem escrita, que designou de “cegueira verbal”. Desde então esta
perturbação tem recebido diversas denominações: “cegueira verbal congênita”,
“dislexia congênita”, “estrefossimbolia”, “alexia do desenvolvimento”, “dislexia
constitucional”, “parte do contínuo das perturbações de linguagem, caracterizada
por um déficit no processamento verbal dos sons”...
Segundo Chiland (1973), somente na década de 1960, sob a influência das
correntes psicodinâmicas, foram minimizados os aspectos biológicos da dislexia,
atribuindo as dificuldades leitoras a problemas emocionais, afetivos e
“imaturidade”.
Em 1968, a Federação Mundial de Neurologia, utilizou pela primeira vez o
termo “Dislexia do Desenvolvimento” definindo-a como: “um transtorno que se
manifesta por dificuldades na aprendizagem da leitura, apesar das crianças serem
11
ensinadas com métodos de ensino convencionais, terem inteligência normal e
oportunidades socioculturais adequadas. Em 1994, O Manual de Diagnóstico e
Estatística de Doenças Mentais, DSM IV1, inclui a dislexia nas perturbações de
aprendizagem, utiliza a denominação de “Perturbação da Leitura e da Escrita” e
estabelece os seguintes critérios de diagnóstico :
1 - O rendimento na leitura/escrita, medido através de provas normalizadas,
situa-se substancialmente abaixo do nível esperado para a idade do sujeito,
quociente de inteligência e escolaridade própria para a sua idade;
2 - A perturbação interfere significativamente com o rendimento escolar, ou
atividades da vida quotidiana que requerem aptidões de leitura/escrita;
3 - Se existe um déficit sensorial, as dificuldades são excessivas em relação
às que lhe estariam habitualmente associadas.
Em 2003, a Associação Internacional de Dislexia adaptou a seguinte
definição: “Dislexia é uma incapacidade específica de aprendizagem, de origem
neurobiológica. É caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na
leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas
dificuldades resultam de um Déficit Fonológico, inesperado, em relação às
outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente
podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura
reduzida que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos
1 American Psychiatric Association. DSM IV: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Climepsi Editores, 1996.
12
conhecimentos gerais” Esta definição de dislexia é a atualmente aceita pela
grande maioria da comunidade científica.
Para Martins, (2004), a dislexia é um problema que se detecta em crianças
que sofrem dificuldades de leitura. Os testes psicopedagógicos, com uma relativa
precisão, diagnosticam as dificuldades de aprendizagem relacionadas à
linguagem.
Entende-se por dislexia “um conjunto de sintomas reveladores” de uma
disfunção parietal (o lobo do cérebro onde fica o centro nervoso da escrita),
geralmente hereditária, ou às vezes adquirida, que afeta a aprendizagem da
leitura num contínuo que se estende do leve sintoma ao sintoma grave.
A dislexia atinge crianças com dificuldades específicas de leitura e escrita.
Essas crianças são incapazes de ler com a mesma facilidade que seus colegas da
mesma idade, embora possuam inteligência normal, saúde e órgãos sensoriais
perfeitos, estejam em estado emocional considerado normal, tenham motivação
normal e instrução adequada.
Para Luczinski (2002, p. 134) Dislexia, é muito mais do que uma dificuldade
em leitura, embora muitas vezes, ainda lhe seja atribuído este significado
circunscrito. Refere-se à disfunção ou dano no uso de palavras. O prefixo “dys”,
vem do grego e significa imperfeita como disfunção, isto é, uma função anormal ou
prejudicada; “lexia”, do grego referente ao uso de palavras (não somente em
leitura). Dislexia começou a partir da decodificação do termo criado para nomear
essas específicas dificuldades de aprendizado; que foi eleito o significado latino
dys, como dificuldade; e lexia, como palavra.
13
Mas que é na decodificação do sentido da derivação grega de Dislexia, que
está à significação intrínseca do termo: dys, significando imperfeito como
disfunção, isto é, uma função anormal ou prejudicada; e lexia que, do grego, dá
significação mais ampla ao termo palavra, isto é, como Linguagem em seu sentido
abrangente.
De acordo com a ABD, (Associação Brasileira de Dislexia), ressalta
Luczinski (2002, p. 34) “a definição vem do grego e do latim: Dis, de distúrbio, vem
do latim, e Lexia, do grego, significa linguagem. Ou seja, Dislexia é uma disfunção
neurológica que apresenta como conseqüência dificuldades na leitura e escrita”.
Os Fonoaudiólogos especialistas em voz definem dislexia como a dificuldade
específica que afeta a aprendizagem da decodificação do sistema verbal escrito,
classificada entre as patologias de linguagem, mais especificamente de linguagem
escrita.
A dislexia persiste apesar da boa escolaridade. É necessário que pais e
educadores estejam cientes de que um alto número de crianças sofre de dislexia.
Caso contrário, eles confundirão dislexia com preguiça ou má disciplina. É normal
que crianças disléxicas expressem sua frustração por meio de mal-comportamento
dentro e fora da sala de aula. Portanto, pais e educadores devem saber identificar
os sinais que indicam que uma criança é disléxica - e não preguiçosa pouco
inteligente ou mal-comportada.
A dislexia é apresentada também como uma dificuldade de aprendizado do
nível básico e pode ser resultante da história de vida ou da estrutura
organizacional, porém não tendo sua origem na Linguagem. Criança que,
14
provavelmente, necessite de tratamento não lingüístico ou pré-linguístico. (apud
LUCZYNSKI, 2002, p. 134).
Dislexia também pode ser definida como dislexia do desenvolvimento ou de
evolução é uma desordem na aquisição da leitura e/ou escrita com competência
que acomete crianças com inteligência dentro dos padrões de normalidade, sem
deficiências sensoriais, isentas de comprometimento emocional significativo e com
oportunidades educacionais adequadas. (ELLIS, 1995)
Assim, pode-se afirmar que a dislexia evolutiva se caracteriza como um
transtorno específico nas operações envolvidas no reconhecimento das palavras
que compromete, em maior ou menor grau, a compreensão da leitura. É uma
dificuldade que pode interferir no registro, no processamento da informação ou na
elaboração da resposta, em crianças, jovens e adultos. (LUCZYNSKY, 2001)
Dislexia é uma específica dificuldade de aprendizado da Linguagem: em
Leitura, Soletração, Escrita, em Linguagem Expressiva ou Receptiva, em Razão e
Cálculo Matemáticos, como na Linguagem Corporal e Social. Não tem como
causa falta de interesse, de motivação, de esforço ou de vontade, como nada tem
a ver com acuidade visual ou auditiva como causa primária.
Dificuldades no aprendizado da leitura, em diferentes graus, é característica
evidenciada em cerca de 80% dos disléxicos. Dislexia é um jeito de ser e de
aprender; reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes arguta e até
genial, mas que aprende de maneira diferente. Como a criança disléxica aprende
de maneira diferente é necessário entender que o modo como a criança articula a
linguagem é fundamental para o sucesso da mesma na escola.
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Na primeira infância os disléxicos apresentam os seguintes sintomas:
1 - atraso no desenvolvimento motor desde a fase do engatinhar, sentar e
andar;
2 - atraso ou deficiência na aquisição da fala, desde o balbucio á pronúncia
de palavras;
3 - parece difícil para essa criança entender o que está ouvindo;
4 - distúrbios do sono;
5 - enurese noturna;
6 - suscetibilidade à alergias e à infecções;
7 - tendência à hiper ou a hipo-atividade motora;
8 - chora muito e parece inquieta ou agitada com muita freqüência;
9 - dificuldades para aprender a andar de triciclo;
10 - dificuldades de adaptação nos primeiros anos escolares.
Pesquisas científicas neurobiológicas recentes concluíram que o sintoma
mais conclusivo acerca do risco de dislexia em uma criança, pequena ou mais
velha, é o atraso na aquisição da fala e sua deficiente percepção fonética.
Quando este sintoma está associado a outros casos familiares de
dificuldades de aprendizado - dislexia é, comprovadamente, genética, afirmam
especialistas que essa criança pode vir a ser avaliada já a partir de cinco anos e
meio, idade ideal para o início de um programa remediativo, que pode trazer as
16
respostas mais favoráveis para superar ou minimizar essa dificuldade.
A dificuldade de discriminação fonológica leva a criança a pronunciar as
palavras de maneira errada. Essa falta de consciência fonética, decorrente da
percepção imprecisa dos sons básicos que compõem as palavras, acontece, já, a
partir do som da letra e da sílaba. Essas crianças podem expressar um alto nível
de inteligência, "entendendo tudo o que ouvem", como costumam observar suas
mães, porque têm uma excelente memória auditiva.
Portanto, sua dificuldade fonológica não se refere à identificação do
significado de discriminação sonora da palavra inteira, mas da percepção das
partes sonoras diferenciais de que a palavra é composta. Esta a razão porque o
disléxico apresenta dificuldades significativas em leitura, que leva a tornar-se, até,
extremamente difícil sua soletração de sílabas e palavras. Por isto, sua tendência
é ler a palavra inteira, encontrando dificuldades de soletração sempre que se
defronta com uma palavra nova.
Desta forma, sendo a linguagem fundamental para o sucesso escolar ela
está presente em todas as disciplinas como instrumento de transmissão de
informações.
Por isso é necessário que o diagnóstico da dislexia seja precoce. Já nos
primeiros anos da Educação Infantil, entre 4 e 5 anos. Quando não se diagnostica
a dislexia ainda na Educação Infantil, os distúrbios de letras podem levar crianças
a apresentar perturbações de ordem emocional, afetiva e lingüística. Uma criança
disléxica encontra dificuldade para ler e as frustrações acumuladas podem
conduzir a comportamentos anti-sociais e uma situação de agressividade.
17
Por isso, como afirma Mário Ângelo Braggio, orientador educacional,
fundador e membro da diretoria da ABD (Associação Brasileira de Dislexia),
quanto mais cedo for detectada, melhores serão as possibilidade de uma
intervenção terapêutica ajudando a criança a se desenvolver melhor, sendo capaz
de driblar as dificuldades e desenvolver novas habilidades que possam fazer com
que ela não sofra tanto na escola ou em outras situações nas quais depende da
leitura e escrita.
O histórico de dificuldades na família e na escola poderá ser de grande
utilidade para profissionais como psicólogos, psicopedagogos e neuropsicólogos
que atuam no processo de reeducação lingüística das crianças disléxicas.
Os principais sintomas verificados são:
No plano da linguagem, os disléxicos fazem confusão entre letras, sílabas
ou palavras com diferenças sutis de grafia, como "a-o", "h-n" e "e-d".
As crianças disléxicas escrevem com letra muito defeituosa, de desenho
irregular, o que denota perda de concentração e de fluidez no raciocínio.
As crianças disléxicas confundem letras com grafia similar, mas com
diferente orientação no espaço, como "b-d", "d-p", "b-q", "d-b", "d-q", "n-u" e
"a-e". A dificuldade pode acontecer ainda com letras que possuem um
ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos,
como "d-t" e "c-q".
inversões de sílabas ou palavras como "sol-los", "som-mos", bem como
para a adição ou omissão de sons como "casa-casaco", repetição de
sílabas, salto de linhas e soletração defeituosa de palavras..
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Educadores devem estar atentos a dois importantes indicadores para o
diagnóstico precoce da dislexia: a história pessoal do aluno e as suas
manifestações lingüísticas nas aulas de leitura e escrita, pois, como esta é uma
síndrome geralmente detectada na infância, o papel do professor é muito
importante.
Ter o feeling de perceber algo errado com determinado aluno é essencial
para evitar traumas futuros. Porém o que muitas vezes acontece é a falta de
conhecimento sobre a dislexia que pode trazer avaliações distorcidas. Esse
quadro de dificuldade de leitura não tem cura, e acompanha uma pessoa por toda
a vida, do Ensino Fundamental até o Superior.
O professor é capaz de notar que o estudante não está enxergando bem no
dia-a-dia da sala de aula. O mesmo vale para a audição e outras deficiências,
como a própria dislexia ele pode perceber se a criança é inteligente, perspicaz,
criativa, tem facilidades assim como de perceber quando tem dificuldades ao ler,
escrever ou entender textos e contextos.
Com base em Calafange (2004), um dos principais sintomas da dislexia é a
leitura sem modulação, sobre o assunto, a autora descreve que a criança
apresenta, leitura lenta sem modulação, sem ritmo e sem domínio da
compreensão/interpretação do texto lido; confunde algumas letras; sérios erros
ortográficos; apresenta dificuldades de memória; dificuldades no manuseio de
dicionários e mapas; dificuldades de copiar do quadro ou dos livros; dificuldades
de entender o tempo: passado presente e futuro; tendência a uma escrita
descuidada, desordenada e às vezes incompreensível; não utilização de sinais de
pontuação/acentuação gramaticais; inversões, omissões, reiterações e
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substituições de letras, palavras ou silabas na leitura e na escrita, problemas com
seqüenciações.
1.2 TIPOS DE DISLEXIA
Afirma Calafange (2004), que a dislexia existe em vários níveis:
Dislexia Congênita ou Inata: é a Dislexia que nasce com o indivíduo.
Pode ter as mais variadas causas e tem características próprias como por
exemplo, uma comprovada alteração hemisférica cerebral, onde os
hemisférios encontram-se com tamanhos invertidos ou em tamanhos
exatamente iguais, quando o considerado normal é que o esquerdo seja
maior que o direito. Em conseqüência desta alteração, o indivíduo disléxico
tem pouca ou nenhuma habilidade para a aquisição de leitura/escrita,
geralmente não chega a ser alfabetizado e, quando o é, não consegue
ler/escrever por muito tempo e, quando termina de ler/escrever já não se
lembra de nada. Este tipo de Dislexia é incurável, deve ser tratada por uma
junta de profissionais, Tratamento Multidisciplinar, envolvendo sempre
Psicopedagogo, Neurologista e/ou Psiquiatra, dependendo da gravidade do
caso. Em casos onde haja também distúrbios de fala/audição, um
Fonoaudiólogo, caso haja dificuldades motoras e/ou de lateralidade, um
Psicomotricista e, neste caso, também é aconselhável que um Psicólogo
acompanhe o tratamento e desenvolva atendimento paralelo.
Dislexia Adquirida: é a Dislexia que vem através de um acidente qualquer.
Como exemplo, temos "Anoxia Perinatal", "Anoxia" (falta de oxigenação no
cérebro) por afogamento, Acidente Vascular Cerebral e outros
20
acidentes/distúrbios que podem causar uma Dislexia Adquirida. Neste caso,
o indivíduo que antes lia e escrevia normalmente, passa a ter
períodos/fases de Dislexia. Nestes períodos, ele não consegue ler/escrever
ou o faz com muita dificuldade, tem falhas de memória e pode também
apresentar problemas de lateralidade. Dependendo do grau de dificuldade
que o indivíduo apresente é também necessário um Tratamento
Multidisciplinar, mas neste caso, é bem provável que somente o
Psicopedagogo e o Neuro ou Psiquiatra sejam solicitados. Caso o acidente
tenha afetado também a lateralidade, um Psicomotricista será necessário.
Se a fala/audição estiver comprometida, também o Fono e, assim por
diante. Neste caso, se o indivíduo já tinha uma profissão, deverá apenas
adaptar-se para enfrentar os períodos em que "estiver disléxico" e seguir
seu tratamento, podendo obter cura ou boa melhora, já que sua dislexia
não envolve alterações hemisféricas.
Dislexia ocasional: É a Dislexia causada por fatores externos e que
aparece ocasionalmente. Pode ser causada por esgotamento do Sistema
Nervoso/estresse, excesso de atividades, e, em alguns casos considerados
raros por TPM e/ou hipertensão. Se este tipo de Dislexia for diagnosticado,
não há a necessidade de grandes tratamentos. Apenas repouso, talvez
umas boas férias, uma mudança de horários/rotina e tudo voltará ao
normal. Dentro destes tipos existem variações que parecem tornar cada
caso um caso, cada disléxico, único. Portanto não dá mais para admitir
generalizações.
21
Sobre generalizações Calafange (2004), também destaca que é preciso
parar definitivamente de imaginar que a Dislexia faça trocar letras. O que acontece
com o disléxico é que, na maioria dos casos, ele não identifica sinais
gráficos/letras ou qualquer código que caracterize um texto. Portanto ele não troca
letras porque seu cérebro sequer identifica o que seja letra. Inverte-se
letras/sílabas é simplesmente por nem saber o que são.
1.2.1 Principais causas
A partir de uma leitura atenta do histórico da dislexia, Ballone (2001),
ressalta que, a Dislexia tem sempre como causa primária a relação espacial
alterada, fazendo com que a criança não consiga decifrar satisfatoriamente os
códigos da escrita. O diagnóstico da Dislexia exige quase sempre uma equipe
multidisciplinar, formada por neurologista, psicólogo, psiquiatra e psicopedagogo.
Esta equipe tem a função básica de eliminar outras causas responsáveis pelas
trocas de letras e outras alterações de linguagem.
As causas da dislexia são neurobiológicas e genéticas. A dislexia é herdada
e, portanto, uma criança disléxica tem algum pai, avô, tio ou primo que também é
disléxico em alguns casos. Diferentemente de outras pessoas que não sofrem de
dislexia, disléxicos processam informações em uma área diferente de seu cérebro;
não obstante, os cérebros de disléxicos são perfeitamente normais.
A dislexia parece resultar de falhas nas conexões cerebrais. Felizmente,
existem tratamentos que curam a dislexia. Estes tratamentos buscam estimular a
capacidade do cérebro de relacionar letras aos sons que as representam e,
posteriormente, ao significado das palavras que elas formam.
22
Alguns pesquisadores acreditam que quanto mais cedo é tratada a dislexia,
maior a chance de corrigir as falhas nas conexões cerebrais da criança. Em outras
palavras, a dislexia, se tratada nos primeiros anos de vida da criança, pode ser
curada por completo.
23
CAPITULO 2: MÉTODOS DE ENSINO DA LEITURA
2.1 A PANLEXIA
De acordo com LUCZYNSKI (2007) Panlexia é um método de orientação
diagnóstica e um programa abrangente de assistência pedagógica ao indivíduo
disléxico. É o resultado de longos anos de pesquisas e experiências
compartilhadas por diferentes fontes de informação. E se torna interessante
perceber que muitas dessas influências vieram do trabalho cooperativo de
profissionais ligados a domínios nos quais crianças disléxicas eram observadas e
assistidas.
Dentre as primeiras influências que alicerçaram a construção progressiva
do Método PANLEXIA, destaca-se o trabalho de um professor de lingüística da
Yale University, Leonard BLOOMFIELD, cujo filho era disléxico. Ele formulou o
conceito de que seria melhor ensinar leitura a estudantes disléxicos, através da
introdução de elementos consistentes do idioma escrito primeiramente, e só então,
depois de estabelecidas essas conexões, ir acrescentando, paulatinamente, os
padrões menos comuns de soletração.
Ele deu o nome de "Lingüística Estruturada" a essa forma de abordagem
pedagógica. E desde então (1933), muitos pesquisadores vêm investigando os
inúmeros aspectos da Dislexia e diferentes programas remediativos de ensino têm
sido publicados nos Estados Unidos. Luczynski (2007), enfatiza que já na década
de 1960, o Dr. Jesse GRIMES, Ph. D da Harvard University, foi convidado pelas
Escolas Públicas Newton, em Newton, Massachusetts, EUA, para investigar qual
seria o melhor dentre os três métodos de iniciação à leitura que eram, então,
24
formas típicas de ensino utilizadas em programas de leitura: fonético -
visual/global – lingüístico estruturado.
Essa pesquisa realizada pelo Dr. Grimes incluiu 30 salas de aula,
envolvendo 10 classes em cada uma das três abordagens típicas de leitura, e foi
desenvolvida com a seguinte orientação prognóstica: bons leitores - leitores em
nível médio - pobres leitores.
A avaliação do resultado dessa pesquisa deixou claro que a Leitura
Lingüística Estruturada obteve os melhores resultados em todas as categorias.
Entretanto, desde que nessa abordagem lingüística foram incluídos métodos
específicos de ensino desenvolvidos e supervisionados pelo Dr.Grimes, e não tão
somente a técnica de leitura segmentada em elementos lingüísticos, seus
resultados foram ignorados àquela época.
Em virtude disso, não ficou estabelecido o conceito de que o ensino da
leitura em séries lingüísticas era mais eficiente em si, e por si mesmo. Porém,
ficou evidenciado que os métodos de ensino de leitura desenvolvidos pelo Dr.
Grimes, constituíam-se na chave-mestra do grande sucesso do Programa
Estruturado em Leitura Lingüística.
O filho e o neto do Dr Grimes eram disléxicos, e ele desenvolveu esses
métodos de ensino para ajudá-los no aprendizado da leitura. Ele havia sido
treinado, inicialmente, em métodos baseados em técnicas Orton-Gillinghan de
ensino para estudantes disléxicos, porém desenvolveu e aprimorou outras
técnicas que ele comprovou serem essenciais para ensinar o disléxico a ler.
Dentre essas técnicas está incluído o treinamento para desenvolvimento da
consciência fonológica, que somente nos últimos poucos anos têm sido
25
reconhecido por pesquisadores famosos como um componente-chave do sucesso
alcançado no aprendizado de leitura e soletração. Essas técnicas pedagógicas
com base em ensino terapêutico em lingüística estruturada, em que está
alicerçado o Método Panlexia, tiveram comprovada sua eficiência para ensinar o
disléxico.
2.2 A ROTA FONOLÓGICA
A partir do estudo de crianças em aquisição de leitura e escrita e de
pacientes neurológicos com distúrbios em tal aquisição, diversos pesquisadores,
como Frith (1990) e Morton (1989), descreveram os três estágios pelos quais a
criança passa no processo de domínio da linguagem escrita: logográfico,
alfabético e ortográfico.
No estágio logográfico, a criança trata a palavra escrita como se fosse
uma representação pictoideográfica e visual do referente, não atentando à sua
característica alfabética, ou seja, ao código de correspondências entre letras e
combinações de letras (grafemas) e seus respectivos sons da fala (fonemas).
Neste estágio, a leitura consiste no reconhecimento visual global de algumas
palavras comuns que a criança encontra com grande freqüência, como seu próprio
nome e os nomes de comidas, bebidas e lugares impressos em rótulos e cartazes.
A escrita também se resume a uma produção visual global, sendo que a
escolha e a ordenação das letras ainda não estão sob controle dos sons da fala. A
manutenção de tal estratégia de leitura logográfica exigiria muito da memória
26
visual e acabaria levando a uma série crescente de erros grosseiros, como trocas
de palavras (paralexias) visualmente semelhantes. Frente ao crescente contato
com material escrito e às instruções sobre a linguagem escrita, a criança começa
a ingressar no segundo estágio, o alfabético.
No estágio alfabético, as relações entre o texto e a fala se fortalecem e,
com o desenvolvimento da rota fonológica. Neste estágio, a criança aprende o
princípio da decodificação na leitura (isto é, a converter as letras do texto escrito
em seus sons correspondentes) e o da codificação na escrita (converter os sons
da fala ouvidos ou apenas evocados em seus grafemas correspondentes). De
início, tal processo é muito lento e a criança tende a cometer erros na leitura e
escrita de palavras em que há irregularidade nas relações entre letras e sons.
No entanto, à medida que a criança tem maior contato com a leitura e a
escrita, ela vai se tornando cada vez mais rápida e fluente em tais habilidades, e
vai cometendo cada vez menos erros envolvendo as palavras irregulares, desde
que as encontre com uma certa freqüência. Com a prática, a criança não apenas
deixa de hesitar, como também passa a processar agrupamentos de letras cada
vez maiores, em vez das letras individuais, chegando a processar palavras inteiras
se estas forem muito comuns e lendo-as de memória. Neste ponto, a criança está
deixando o segundo estágio e entrando no terceiro, o ortográfico.
No estágio ortográfico, a criança aprende que há palavras que envolvem
irregularidade nas relações entre os grafemas e os fonemas. Ela aprende que é
preciso memorizar essas palavras para que possa fazer uma boa pronúncia na
leitura e uma boa produção ortográfica na escrita. Tendo já passado pelo estágio
27
alfabético, em que aprendeu as regras de correspondência entre grafemas e
fonemas, agora, no estágio ortográfico, a criança pode concentrar-se na
memorização das exceções às regras (isto é, na ortografia das palavras
grafofonemicamente irregulares), na análise morfológica das palavras que lhe
permite apreender seu significado, e no processamento cada vez mais avançado
da sintaxe do texto. Neste ponto, seu sistema de leitura pode ser considerado
completo e maduro, conseguindo ler as palavras familiares com cada vez maior
rapidez e fluência, por meio do reconhecimento visual direto (isto é, pela estratégia
lexical).
É importante ressaltar que, ao chegar a este último estágio, só porque a
criança passa a ser capaz de fazer uso da estratégia lexical, não significa que ela
abandone as estratégias anteriores. Em verdade, as três estratégias de leitura
ficam disponíveis o tempo todo à criança, sendo que ela aprende a fazer uso da
estratégia que se revelar mais eficaz para um ou outro tipo de material de leitura e
escrita.
De acordo com os estudiosos a rota fonológica que predomina no segundo
estágio, o alfabético, é essencial para o desenvolvimento da leitura. E, para que a
rota fonológica seja competente, é essencial a consciência de que a fala tem uma
estrutura fonêmica subjacente. Isto porque, quando a criança consegue perceber
que a fala é segmentável em sons e que esses sons são mapeados pela escrita,
ela passa a usar um sistema gerativo que converte a ortografia em fonologia, o
que possibilita a leitura de qualquer palavra nova, desde que envolva
correspondências grafofonêmicas regulares.
28
Esta geratividade, característica das ortografias alfabéticas, permite a auto-
aprendizagem pelo leitor, pois, ao se deparar com uma palavra nova, ele a lerá
por decodificação fonológica. Tal processo aos poucos contribuirá para criar uma
representação ortográfica daquela palavra. É a constituição dessa representação
ortográfica que permite com que tal palavra, daí por diante, possa ser lida pela
rota lexical. Logo, essencialmente, é o próprio processo fonológico, que depende
da consciência fonológica, que permitirá anteriormente a leitura e a escrita lexicais
competentes.
Assim, como a consciência fonológica e a decodificação são pré-requisitos
para o domínio da linguagem escrita, pessoas com dificuldades para desenvolver
a consciência fonológica (como ocorre com grande parte dos disléxicos)
apresentam dificuldades na alfabetização.
Diversas pesquisas têm buscado desenvolver procedimentos para avaliação
de leitura, escrita e habilidade relacionadas, bem como de intervenção em
dificuldades com a linguagem escrita. Nosso grupo de pesquisa tem
disponibilizado instrumentos de avaliação e de intervenção. Os procedimentos de
intervenção encontram-se disponibilizados em Capovilla e Capovilla (2005, 2004,
2003).
Quanto aos procedimentos de avaliação, estudos têm mostrado que as
habilidades de consciência fonológica, especialmente manipulação e transposição
silábicas e fonêmicas, e a consciência sintática, que avalia a capacidade da
criança de refletir sobre a sintaxe da língua, são as mais fortemente
correlacionadas com a habilidade de leitura (Demont, 1997). Muter, Snowling e
29
Taylor (1994) apontaram as tarefas de consciência fonológica, especialmente
segmentação fonêmica e rima, e tarefas de conhecimento de letras. Outros
estudos mostraram a importância de se avaliar também memória fonológica de
curto-prazo (Hulme & Roodenrys, 1995), discriminação auditiva (Masterson,
Hazan & Wijayatilake, 1995), nomeação de figuras (Locke, 1980) e repetição de
palavras e pseudopalavras (Vance, 2004). Dentre os instrumentos disponíveis no
Brasil, pode-se citar:
Teste de Competência de Leitura de Palavras (Capovilla, Viggiano,
Capovilla, Raphael, Mauricio, & Bidá, 2004);
Teste de Competência de Leitura de Sentenças (Capovilla, Viggiano,
Capovilla, Raphael, Bidá, Neves, & Mauricio, 2005).
Prova de Consciência Fonológica por Produção Oral (Capovilla &
Capovilla, 1998, 2000): avalia a habilidade das crianças de manipular sons da
fala, expressando oralmente o resultado dessa manipulação.
Prova de Consciência Sintática (Capovilla, Soares & Capovilla, 2004):
avalia as habilidades de julgamento gramatical, correção gramatical, correção
gramatical de frases agramaticais e as semânticas e categorização de
palavras.
Teste de Vocabulário por Imagens Peabody (Capovilla & Capovilla,
1997): avalia as habilidades de compreensão de vocabulário, de crianças
entre 2 a 6 meses até 18 anos de idade.
Lista de Avaliação de Vocabulário Expressivo (Capovilla & Capovilla,
30
1997): avalia vocabulário expressivo, quais palavras uma criança fala,
destinada a crianças a partir de 2 anos de idade, com o objetivo de avaliar
atraso de linguagem.
Ao usar procedimentos de avaliação e de intervenção cientificamente
validados, os profissionais da educação poderão acompanhar o desenvolvimento
da leitura e da escrita em crianças, bem como detectar e intervir de forma mais
eficaz no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.
Estudos realizados demostraram que os métodos de intervenção são
eficientes e devem ser aplicados às crianças disléxicas que apresentam
dificuldades na memória auditiva e visual bem como dificuldade de automatização
Os métodos de ensino multissensoriais ajudam as crianças a aprender utilizando
mais do que um sentido, enfatizam os aspectos cinestésicos da aprendizagem
integrando o ouvir e o ver, com o dizer e o escrever. A Associação Internacional
de Dislexia promove ativamente a utilização dos métodos multissensoriais e indica
os princípios e os conteúdos educativos a ensinar:
Aprendizagem Multissensorial: A leitura e a escrita são atividades
multissensoriais. As crianças têm que olhar para as letras impressas,
dizer, ou subvocalizar, os sons, fazer os movimentos necessários à
escrita e usar os conhecimentos lingüísticos para aceder ao sentido das
palavras.
Os Métodos Fonomímicos-Multissensoriais utilizam simultaneamente
os diversos sentidos. As crianças ouvem e reproduzam os fonemas,
memorizam as lengalengas e os gestos que lhes estão associados
31
ativando assim em simultâneo as diferentes vias de acesso ao cérebro.
Os diversos neurônios estabelecem interligações entre si facilitando a
aprendizagem e a memorização.
Estruturado e Cumulativo: A organização dos conteúdos a aprender
segue a seqüência do desenvolvimento lingüístico e fonológico. Inicia-se
com os elementos mais fáceis e básicos e progride gradualmente para
os mais difíceis. Os conceitos ensinados devem ser revistos
sistematicamente para manter e reforçar a sua memorização.
Ensino Direto, Explícito: Os diferentes conceitos devem ser ensinados
direta, explícita e conscientemente, nunca por dedução.
Ensino Diagnóstico: Deve ser realizada uma avaliação diagnóstica das
competências adquiridas e a adquirir.
Ensino Sintético e Analítico: Devem ser realizados exercícios de
ensino explícito da “Fusão Fonêmica”, “Fusão Silábica”, “Segmentação
Silábica” e “Segmentação Fonêmica”.
Automatização das Competências Aprendidas: As competências
aprendidas devem ser treinadas até à sua automatização, isto é, até à
sua realização, sem atenção consciente e com o mínimo de esforço e de
tempo. A automatização irá disponibilizar a atenção para aceder à
compreensão do texto.
32
O disléxico tem um ritmo diferente dos não-disléxicos. Portanto, é preciso
evitar submetê-lo a pressões de tempo ou competição com os colegas. É
importante estimulá-lo e fazer com que acredite na sua capacidade.
A criança disléxica deve ser avaliada por uma equipe multidisciplinar,
composta por vários profissionais de diversas áreas. Após um diagnóstico, o
professor deve usar diferentes estratégias até mudar o método de ensino para
adaptá-la objetivando uma melhoria da aprendizagem do aluno com dislexia.
Não é o aluno que necessita se adaptar a apreensão do conhecimento, mas
o sistema escolar necessita se moldar ao problema buscando juntamente com a
comunidade escolar, diferentes meios para que o processo de ensino-
aprendizagem se concretize de forma a não discriminar o disléxico. A
compreensão e a parceria são essenciais para garantir esse direito garantido por
lei.
33
CAPITULO 3: A DISLEXIA E AS DIFICULDADES COM A LEITURA
A Dislexia é uma síndrome que acomete o ser humano. Porém, é
perfeitamente possível, que ele desenvolva-se e tenha uma aprendizagem
satisfatória. Para isso é preciso ter sensibilidade em lidar com o educando com
dificuldades de leitura.
Quando se fala em dislexia, existem dois componentes que devem ser
levados em conta: ler e compreender o texto. Quem tem dificuldade de leitura, tem
problemas em ler um texto em voz alta e, conseqüentemente, em compreendê-lo.
É importante que os professores dêem atenção especial a esses indivíduos,
que fiquem atentos aos sintomas da dislexia como dificuldades na leitura e escrita,
Pessoas cem dislexia têm dificuldade de leitura e, conseqüentemente, levam mais
tempo para ler, interpretar e resolver os enunciados. A pessoa disléxica é capaz
de ler, mas não é capaz de entender o que lê de maneira eficiente.
Têm sido formuladas diversas teorias em relação aos processos cognitivos
responsáveis por estas dificuldades. Nos estudos sobre as causas das
dificuldades leitoras a hipótese aceita pela grande maioria dos investigadores, é a
hipótese do Déficit Fonológico defendidas por estudiosos como Muter, Snowling
e Taylor (1994). Outros mostraram a importância da memória fonológica como
Hulme & Roodenrys (1995), Masterson, Hazan & Wijayatilake (1995), Locke
(1980) e Vance (2004).
De acordo com esta hipótese, a dislexia é causada por um déficit no
sistema de processamento fonológico motivado por a uma “disfunção” no sistema
neurológico cerebral, ao nível do processamento fonológico. Este Déficit
34
Fonológico dificulta a discriminação e processamento dos sons da linguagem, a
consciência de que a linguagem é formada por palavras, as palavras por sílabas,
as sílabas por fonemas e o conhecimento de que os caracteres do alfabeto são a
representação gráfica desses fonemas.
A leitura integra dois processos cognitivos distintos e indissociáveis: a
decodificação (a correspondência grafonemica) e a compreensão da mensagem
escrita. Para que um texto escrito seja compreendido tem que ser lido primeiro,
isto é, descodificado. O déficit fonológico dificulta apenas a decodificação. Todas
as competências cognitivas superiores, necessárias à compreensão estão
intactas: a inteligência geral, o vocabulário, a sintaxe, o discurso, o raciocínio e a
formação de conceitos.
Sally Shaywitz et al, (1998) estudaram o funcionamento do cérebro, durante
as tarefas de leitura e identificaram três áreas, no hemisfério esquerdo, que
desempenham funções chave no processo de leitura: o girus inferior frontal, a área
parietal-temporal e a área occipital-temporal.
35
FIGURA 01- Áreas de processamento da leitura no cérebro
A região inferior-frontal é a área da linguagem oral. É a zona onde se
processa a vocalização e articulação das palavras, onde se inicia a análise dos
fonemas. A subvocalização ajuda a leitura fornecendo um modelo oral das
palavras. Esta zona está particularmente ativa nos leitores iniciantes e disléxicos.
A região parietal-temporal é a área onde é feita a análise das palavras.
Realiza o processamento visual da forma das letras, a correspondência grafo-
fonêmica, a segmentação e a fusão silábica e fonêmica. Esta leitura analítica
processa-se lentamente, é a via utilizada pelos leitores iniciantes e disléxicos.
36
A região occipital-temporal é a área onde se processa o reconhecimento
visual das palavras, onde se realiza a leitura rápida e automática. É a zona para
onde convergem todas as informações dos diferentes sistemas sensoriais, onde
se encontra armazenado o “modelo neurológico da palavra”. Este modelo contém
a informação relevante sobre cada palavra, integra a ortografia “como parece”, a
pronúncia “como soa”, o significado “o que quer dizer”. Quanto mais
automaticamente for feita a ativação desta área, mais eficiente é o processo leitor.
Os leitores eficientes utilizam este percurso rápido e automático para ler as
palavras. Ativam intensamente os sistemas neurológicos que envolvem a região
parietal-temporal e a occipital-temporal e conseguem ler as palavras
instantaneamente (em menos de 150 milésimos de segundo).
Os leitores disléxicos utilizam um percurso lento e analítico para
descodificar as palavras. Ativam intensamente o girus inferior frontal, onde
vocalizam as palavras, e a zona parietal-temporal onde segmentam as palavras
em sílabas e em fonemas, fazem a tradução grafo-fonêmica, a fusão fonêmica e
as fusões silábicas até aceder ao seu significado. Os diferentes sub-sistemas
desempenham diferentes funções na leitura. O modo como são ativados depende
das necessidades funcionais dos leitores ao longo do seu processo evolutivo.
As crianças com dislexia apresentam uma “disfunção” no sistema
neurológico que dificulta o processamento fonológico e o conseqüente acesso ao
sistema de análise das palavras e ao sistema de leitura automática. Para
compensar esta dificuldade utilizam mais intensamente a área da linguagem oral,
região inferior-frontal, e as áreas do hemisfério direito que fornecem pistas visuais.
37
A leitura é uma competência cultural específica que se baseia no
conhecimento da linguagem oral, é, contudo uma competência com um grau de
dificuldade muito superior à da linguagem oral.
A linguagem existe há cerca de 100 mil anos, faz parte do nosso patrimônio
genético. Aprende-se a falar naturalmente sem necessidade de ensino explícito.
Os sistemas de escrita, sendo produtos da evolução histórica e cultural, são
relativamente recentes na história da humanidade, existem apenas há cerca de 5
mil anos.
A escrita utiliza um código gráfico que necessita ser ensinado
explicitamente. Para decifrar o código escrito, é necessário tornar consciente e
explícito, o que na linguagem oral era um processo mental implícito.
Para Sally Shaywitz et al, (1998), os processos cognitivos envolvidos na
produção e compreensão da linguagem falada diferem significativamente dos
processos cognitivos envolvidos na leitura e na escrita. Aprender a ler não é um
processo natural. Contrariamente à linguagem oral a leitura não emerge
naturalmente da interação com os pais e os outros adultos, por mais estimulante
que seja o meio a nível cultural. Para aprender a ler é necessário ter uma boa
consciência fonológica, isto é, o conhecimento consciente de que a linguagem é
formada por palavras, as palavras por sílabas, as sílabas por fonemas e que os
caracteres do alfabeto representam esses fonemas.
Para os autores, a consciência fonológica é uma competência difícil de
adquirir, porque na linguagem oral não é perceptível a audição separada dos
diferentes fonemas. Quando ouvimos a palavra “pai” ouvimos os três sons
38
conjuntamente e não três sons individualizados. Para ler é necessário conhecer o
princípio alfabético, saber que as letras do alfabeto têm um nome e representam
um som da linguagem, saber encontrar as correspondências grafo-fonêmicas,
saber analisar e segmentar as palavras em sílabas e fonemas, saber realizar as
fusões fonêmicas e silábicas e encontrar a pronúncia correta para aceder ao
significado das palavras.
Para realizar uma leitura fluente e compreensiva é ainda necessário realizar
automaticamente estas operações, isto é, sem atenção consciente e sem esforço.
A capacidade de compreensão leitora está fortemente relacionada com a
compreensão da linguagem oral, com o possuir um vocabulário oral rico e com a
fluência e correção leitora. Todas as competências têm que ser integradas através
do ensino e da prática. As dificuldades na aprendizagem da leitura têm origem na
existência de um déficit fonológico. As crianças com dislexia embora falem
utilizando palavras, sílabas e fonemas, não têm um conhecimento consciente
destas unidades lingüísticas, apresentam um déficit a nível da consciência dos
segmentos fonológicos da linguagem, um déficit fonológico.
Sendo a dislexia como uma perturbação da linguagem, que tem na sua
origem dificuldades a nível do processamento fonológico podem observar-se
algumas manifestações antes do início da aprendizagem da leitura. Existem
alguns sinais que podem indiciar dificuldades futuras. Se esses sinais forem
observados e se persistirem ao longo de vários meses os pais devem procurar
uma avaliação especializada. A intervenção precoce é provavelmente o fator mais
importante na recuperação dos leitores disléxicos. A identificação e intervenção
39
precoce são o segredo do sucesso na aprendizagem da leitura. A identificação de
um problema é a chave que permite a sua resolução. Quanto mais cedo um
problema for identificado mais rapidamente se pode obter ajuda.
Como já referido acima os resultados dos estudos de Sally Shaywitz et aL
(1998) provam que é possível “reorganizar” os circuitos neurológicos se for
implementado um programa reeducativo concebido com base nos novos
conhecimentos neurocientíficos. Os novos conhecimentos sobre o modo como os
leitores iniciantes aprendem a ler e sobre os déficits que impedem o sucesso
nesta aprendizagem tiveram implicações importantes nas práticas educativas.
Atualmente verifica-se um grande consenso quer em relação aos princípios
orientadores, estratégias educativas, quer em relação aos conteúdos, o que
ensinar.
Enfim, leitura e escrita são uma coisa só, um gesto de descoberta e de
aprofundamento, através da expressão escrita podem oferecer a possibilidade de
o leitor produzir matéria-prima para criar mundos para si. São uma aventura que
não estará nunca refletida no boletim escolar, mas no reconhecimento do que se
ganhou, do que se aproveitou e se ampliou na existência. Nesse sentido, Gardner
(1994), sugere uma reflexão que pode contribuir para as práticas pedagógicas. Se
os processos mentais põem em funcionamento as operações centrais da
linguagem, não há como desconsiderar tal expediente no circuito escolar, já que
ele pode oferecer benefícios ao desenvolvimento das potencialidades lingüísticas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
40
A convivência em sala de aula com crianças que apresentam distúrbio de
leitura exige, inegavelmente, um nível de preparo mais especifico do professor,
que vai além dos níveis atuais. O professor precisa ter consciência da
necessidade de se conhecerem as possibilidades e limites do portador de déficits
de linguagem, procurando ampliar-lhe, assim, o potencial.
Pensando neste aspecto, decidiu-se elaborar um estudo que enfocasse
esta situação. Com esta pesquisa descobriu-se os principais aspectos do distúrbio
de aprendizagem dislexia, assim o estudo foi focado nas dificuldades de alunos e
professores, já que são esses os maiores prejudicados.
O objetivo principal foi descrever os pontos principais da dislexia, bem como
enfatizar suas causas, sintomas e as intervenções possíveis para esta dificuldade
de aprendizagem especificando o que é a dislexia, quais seus principais sintomas,
causas, assim como, descrever as principais formas de intervenções que
educadores podem utilizar em sala de aula para melhorar a capacidade de leitura,
escrita e interpretação textual destes educandos.
O uso de instrumentos diferenciados para a avaliação da leitura e escrita
pode apresentar vantagens para a realização de um diagnóstico diferencial e
preventivo de transtornos relacionados a Dislexia e as dificuldades de
interpretação textual.
É necessário estabelecer um panorama das condições de aprendizagem
dos alunos com tais dificuldades visando um bom desempenho dos mesmos em
sua vida escolar, uma vez que, a Dislexia não é causada por fatores ambientais,
mas necessita das condições em que o disléxico está inserido.
41
Portanto, uma educação que reconheça as dificuldades específicas destes
educandos pode contribuir para o seu desenvolvimento associando um tratamento
interdisciplinar, a escola e a família, instituições que exercem um papel
fundamental para que a dislexia não se torne mais um fator de impedimento no
crescimento acadêmico.
O professor é indispensável neste caminho, pois é ele quem identifica o
distúrbio, em um primeiro momento, e pode assim, compreender e auxiliar esses
indivíduos em seu processo educativo.
Desta forma, os resultados deste estudo poderão auxiliar no conhecimento
e na compreensão dos melhores métodos de intervenção de ensino para crianças
com dislexia e dificuldades interpretativas.
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