Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

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11 INTRODUÇÃO Toda sociedade se transforma ao longo da história, assim também acontece com a língua, já que a mesma é um produto social. Na sociedade brasileira, a partir de 1980 começou-se a repensar o estudo e o ensino da Língua Portuguesa, norteados pelas novas propostas linguísticas com ênfase na funcionalidade da língua, englobando a valorização das diversas línguas ou dialetos e também dos falantes, além do uso dos diferentes gêneros textuais. Embasados no exposto acima, surgiu a inquietação em descobrir se a prática dos educadores de Língua Portuguesa condiz com as teorias linguísticas que fundamentam o ensino da língua na contemporaneidade. A escolha da temática originou-se da relação da pesquisadora com a Língua Portuguesa e a necessidade de estar informada sobre as idéias de teóricos que pesquisam e produzem conhecimento referente à língua. Além disso, é imprescindível conhecer as teorias para depois construir uma nova realidade, desconstruir preconceitos e reconstruir os discursos e a prática de maneira democrática e significativa, oportunizando ao educando o direito de ser autor da sua história. Diante do supracitado, apresentamos uma síntese dessa produção acadêmica dividida em capítulos. No capítulo I inicialmente, desenvolvemos um estudo sobre a problemática da pesquisa, abordamos a proximidade entre linguagem e língua, avançamos para as variações linguísticas, o ensino tradicional e o papel da escola frente ao novo modelo de ensino da língua, tendo como enfoque a valorização dos diferentes saberes linguísticos e os usos reais da língua. Daí surgiu a questão de pesquisa, objetivando identificar e analisar a postura dos educadores diante dos diferentes dialetos dos educandos no Ensino Fundamental.

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INTRODUÇÃO

Toda sociedade se transforma ao longo da história, assim também acontece com a

língua, já que a mesma é um produto social.

Na sociedade brasileira, a partir de 1980 começou-se a repensar o estudo e o

ensino da Língua Portuguesa, norteados pelas novas propostas linguísticas com

ênfase na funcionalidade da língua, englobando a valorização das diversas línguas

ou dialetos e também dos falantes, além do uso dos diferentes gêneros textuais.

Embasados no exposto acima, surgiu a inquietação em descobrir se a prática dos

educadores de Língua Portuguesa condiz com as teorias linguísticas que

fundamentam o ensino da língua na contemporaneidade.

A escolha da temática originou-se da relação da pesquisadora com a Língua

Portuguesa e a necessidade de estar informada sobre as idéias de teóricos que

pesquisam e produzem conhecimento referente à língua. Além disso, é

imprescindível conhecer as teorias para depois construir uma nova realidade,

desconstruir preconceitos e reconstruir os discursos e a prática de maneira

democrática e significativa, oportunizando ao educando o direito de ser autor da sua

história. Diante do supracitado, apresentamos uma síntese dessa produção

acadêmica dividida em capítulos.

No capítulo I – inicialmente, desenvolvemos um estudo sobre a problemática da

pesquisa, abordamos a proximidade entre linguagem e língua, avançamos para as

variações linguísticas, o ensino tradicional e o papel da escola frente ao novo

modelo de ensino da língua, tendo como enfoque a valorização dos diferentes

saberes linguísticos e os usos reais da língua. Daí surgiu a questão de pesquisa,

objetivando identificar e analisar a postura dos educadores diante dos diferentes

dialetos dos educandos no Ensino Fundamental.

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No capítulo II – Trabalhamos a fundamentação teórica com os teóricos que

nortearam essa pesquisa dando-nos subsídios para alcançarmos nossos objetivos.

Dentre os teóricos utilizados, enfatizamos Bagno, Possenti, Damke, Leite, Freire,

Saviani, Melo e Antunes.

No capítulo III – Espaço reservado para os procedimentos metodológicos, os

instrumentos utilizados para recolhimento de dados e elaboração da pesquisa.

No capítulo IV – Foi a etapa que deu sentido à pesquisa de campo, pois foi o

momento de confrontar as idéias dos estudiosos da temática com às dos sujeitos da

pesquisa. Foi a análise e interpretação dos dados colhidos com os pesquisados.

No presente trabalho, apresentamos a conexão que há entre os educadores de

língua Portuguesa e as novas propostas para o ensino da língua. Para concluir,

sintetizamos os principais resultados que tivemos com a execução da pesquisa e

apresentamos reflexões importantes para o estudante, o educador e o pesquisador

da língua que acreditam em uma transformação social.

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CAPÍTULO I

INÍCIO DA JORNADA

Para adentrar na discussão referente à língua, faz-se necessário uma abordagem

sobre a linguagem que é uma atividade inserida não apenas no espaço escolar, mas

em toda interação humana com caráter histórico e social que a torna dependente do

contexto em que é produzida tendo os interlocutores como agentes desse processo,

ela desempenha várias funções, dentre as muitas, a comunicação. “A linguagem

humana tem uma função comunicativa. Mas essa é apenas uma dentre uma série de

outras funções, e nem sempre a comunicação é a função mais importante...

(CAGLIARI, 2001, p.77)”.

Diante do exposto, é interessante enfatizar que a linguagem segundo Saussure (

2001 ), divide-se em langue e parole (língua e fala), ele desenvolveu seus estudos

com enfoque especial na língua, porém o que se sabe é que a mesma só se realiza

plenamente na fala das pessoas. Suas idéias foram importantíssimas para o estudo

da língua, pois o mesmo foi o idealizador da lingüística moderna. Porém surgiram

novos estudiosos que contestaram sua teoria.

Conforme Bagno ( 2007), desses estudiosos destacou-se o norte-americano William

Labov que surgiu na década de 60 com um novo olhar sobre a língua e a fala,

criando a Teoria da Variação ou Sociolinguística, defendendo que não era mais

possível estudar a língua sem levar em conta também a sociedade em que ela é

falada.

A sociolingüística é uma das subáreas da Linguística e estuda a língua em uso no seio das comunidades de fala, voltando a atenção para um tipo de investigação que correlaciona aspectos lingüísticos e sociais. Essa ciência se faz presente num espaço interdisciplinar, na fronteira entre língua e sociedade, focalizando principalmente os empregos linguísticos concretos em especial os de caráter heterogêneos( MOLLICA, 2007, p.9).

Partindo desses pressupostos, e, considerando a escola um espaço de formação e

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responsável pelo processo de ensino-aprendizagem formal, vale salientar o papel

importante da mesma no desenvolvimento das competências dos educandos de

maneira que busque a valorização dos saberes de cada um, principalmente os

diferentes dialetos que os mesmos trazem à escola. A aceitabilidade desses dialetos

por parte do educador e outros indivíduos no espaço escolar é imprescindível para a

inserção e crescimento do aluno das classes menos favorecidas e a indiferença ou

discriminação resulta em evasão escolar e exclusão social fortalecendo as

desigualdades sociais. Diante disso Soares ( 2005), afirma:

A escola, como instituição a serviço da sociedade capitalista, assume e valoriza a cultura das classes dominantes, assim, o aluno proveniente das classes dominadas, nela encontra padrões culturais que não são os seus e que são apresentados como “certos” enquanto os seus próprios padrões são ignorados como inexistentes ou desprezados como “errados” (p. 15).

Houve momento em que o ensino da gramática tornou-se mais importante do que o

estudo e reflexão sobre a própria língua, onde as práticas fundamentaram-se na

gramática normativa, contribuindo pouco ou nada para as compreensões do

enunciado ou do texto como unidade discursiva, explorando apenas palavras e

frases isoladas. Segundo Teixeira (2008), esse pensamento surgiu no renascimento

onde ocorreu a ruptura entre a oralidade e a escrita. Surgiram mais tarde, teorias

lingüísticas voltadas ao ensino da língua, evidenciando a necessidade da adoção de

uma nova perspectiva, visando a aprendizagem da língua, o uso da linguagem,

refletindo e interagindo com o outro, assumindo o seu papel de sujeito-produtor de

significados por meio da linguagem.

A discussão sobre o ensino da Língua Portuguesa na escola tem crescido desde a

década de 80, objetivando melhorar a qualidade da educação no país, porém muitas

mudanças ainda precisam ser feitas. Percebe-se que o fracasso escolar é mais

acentuado no que se refere à leitura e à escrita, daí a urgência em encontrar

caminhos possíveis e eficientes no ensino da Língua Portuguesa já que a mesma é

responsável pelo alicerce da aprendizagem escolar. Diante dessas discussões, vale

enfatizar que a qualidade da educação brasileira depende dentre outros fatores, de

um ensino da Língua fundamentado nos usos reais da mesma que engloba a

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valorização da diversidade lingüística.

O objetivo mais geral do ensino de Português para todas as séries da escola é mostrar como funciona a linguagem humana e, de modo particular, o português; quais os usos que tem, e como os alunos devem fazer para estenderem ao máximo, ou abrangendo metas específicas, esses usos nas suas modalidades escrita e oral em diferentes situações de vida. Em outras palavras, o professor de português deve ensinar aos alunos o que é uma língua, quais as propriedades e usos (...) qual é o comportamento da sociedade e dos indivíduos com relação aos usos lingüísticos, nas mais variadas situações de suas vidas ( CAGLIARI, 2001, p.28).

As atitudes do educador com fundamento nas idéias citadas acima, contribui para

que o educando seja capaz de compreender o que é a língua e a função que a

mesma desempenha e assim se aproxime o fim da dificuldade que a escola

enfrenta no ato de ensinar a ler e a escrever. Partindo desses pensamentos, torna-

se necessário, tecer uma breve explanação do que é a língua. Como afirma Bagno,

(2008):

Toda língua humana viva é, intrinsecamente e inevitavelmente, heterogênea, ou seja, apresenta variação em todos os seus níveis estruturais... é dinâmica, está em constante movimento – toda língua viva é uma língua em decomposição e em recomposição, em permanente transformação (p. 28 e 142).

Por causa dessas transformações que ocorrem na língua, o ensino da mesma

também tem se transformado, apesar de ainda existir práticas tradicionalistas na

escola. O ensino passou por evoluções significativas, resultando na perspectiva da

atualidade que enfatiza a valorização das variações lingüísticas como prática

adequada e necessária para a atuação do educador em sala de aula para que haja

educação de qualidade. Apesar de ainda existir resquícios da educação

discriminatória com relação aos saberes linguísticos das classes menos favorecidas,

os avanços alcançados são significativos.

Os linguistas têm tido grande influência na elaboração dos programas oficiais de ensino (em nível federal, estadual, municipal), têm elaborado estreitamente como as instâncias oficiais de educação para traçar uma política de livro didático coerente com os novos paradigmas científicos educacionais ( BAGNO, 2007, p. 71).

A língua tornou-se subordinada ou dependente da gramática quando essa última

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passou a ser instrumento de poder e controle social gerando um modelo excludente

de encarar os falantes e escritores. “... surgiu essa concepção de que os falantes e

escritores da língua é que precisam da gramática, como se ela fosse uma espécie

de fonte mística invisível da qual emana a língua “bonita”, correta e “pura” (BAGNO,

2008,p.80)”. A língua é um mecanismo que está em constante evolução e nesse

processo é preciso não apenas aprender a língua e sim como fazer uso da mesma

nas diferentes situações ou nos diferentes contextos, pois já não cabe mais pensar

em língua dissociada da contextualização.

Seguindo esse pensamento, a escolha do lócus perpassou pela curiosidade de

descobrir a postura dos educadores diante das Variações Linguísticas, o espaço

escolhido para essa pesquisa foi o Centro Educacional de Ponto Novo que está

inserido no contexto social da pesquisadora, sendo a instituição onde a mesma

cursou o Ensino fundamental II e também o Ensino Médio, um campo ideal para

desvendar as inquietações referente a temática. Essa escola recebe alunos de

vários bairros da cidade, principalmente, os menos favorecidos, onde as variedades

linguísticas são mais diversificadas e possibilitam uma maior aproximação desse

tema que é instigador e tão necessário de ser discutido e também valorizado na

prática.

Diante do exposto, surge a inquietação em identificar a postura dos educadores

diante da nova perspectiva do ensino da língua originando a questão de pesquisa:

Qual a postura dos educadores diante dos diferentes dialetos dos educandos do

Ensino Fundamental? O objetivo geral é identificar e analisar a postura dos

educadores diante dos diferentes dialetos dos educandos do Ensino Fundamental.

A relevância dessa pesquisa encontra-se no fato de proporcionar um novo olhar

sobre o ensino da Língua Portuguesa que até algum tempo vinha sendo trabalhada

em sala de aula de maneira descontextualizada e de forma excludente. Acredita-se

que a escolha da temática é pertinente diante da realidade que vivenciamos, ou

seja, percebe – se que ainda há por parte de muitos educadores o apego pelas

concepções tradicionais e desenvolvendo práticas equivocadas, daí surgiu a

inquietação e o interesse em desenvolver esta pesquisa que posteriormente servirá

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de instrumento complementar para educadores que queiram compartilhar e

aperfeiçoar seus conhecimentos acerca dos novos olhares sobre o ensino da Língua

Portuguesa.

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CAPÍTULO II

NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM PORTUGUÊS

Nesse capítulo trabalhamos com as idéias dos teóricos que forneceram subsídios

para essa produção, dentre muitos destacamos Bagno e Antunes que foram

imprescindíveis para a fundamentação das palavras – chave norteadoras desse

trabalho. São elas: Variações Lingüísticas, Língua Portuguesa, Educador e Ensino

Fundamental.

2.1 VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS

Nem só de norma padrão vive a Língua, mas de toda variação que sai da boca dos falantes (Cida Lima).

Para problematizar a temática desse trabalho monográfico, enfocamos a importância

de se trabalhar com as diferentes variedades linguísticas da Língua Portuguesa no

Ensino fundamental, é necessário, contudo, uma explicação mais nítida,

conceituando e exemplificando o que são variações.

A variação linguística constitui fenômeno universal e pressupõe a existência de formas linguísticas alternativas denominadas variantes. Entendemos então por variantes as diversas formas alternativas que configuram um fenômeno variável... a concordância entre o verbo e o sujeito, por exemplo, é uma variável lingüística ( ou um fenômeno variável), pois se realiza através de duas variantes, duas alternativas possíveis e semanticamente equivalentes... ( MOLLICA, 2007, p. 11).

São incontáveis os exemplos de variações da língua que podem acontecer na

fonética, na ortografia, etc, porém para um melhor entendimento dessas mudanças e

variações é preciso um estudo atentando para a diacronia ( evolução da língua no

tempo) e a sincronia ( aspecto estático da língua – ou estado da língua ). “Para

Saussure, sincronia está para “um estado de língua”, assim como diacronia para

“uma fase de evolução”( CLG, 96 apud CARVALHO, 2003, p. 82)”.

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Seguindo a diacronia ou variação diacrônica podemos perceber a evolução das

seguintes palavras: igreja, Brás, praia, frouxo, escravo do Latim para outros idiomas

inclusive o Português.

LATIM FRANCÊS ESPANHOL PORTUGUÊS

ecclesia église iglesia igreja

Blasiu Blaise Blás Brás

plaga plage playa praia

fluxu flou sclavo frouxo

(BAGNO, 2008, p. 44).

Através dos estudos diacrônicos podemos perceber a diferença de um texto escrito

durante o início da “colonização” do Brasil em 1530 e os atuais. Abaixo veremos

fragmentos de um texto escrito por Pero Lopes, integrante da expedição de Martim

Afonso, que escreveu sobre Diogo Álvares (O Caramuru) e os índios tupinambá

encontrados no litoral da cidade de Salvador – Ba.

Nesta Bahia, achamos hum homem português, que havia vinte e dous annos que estava nesta Terra (...). Os principais homens da terra vieram fazer obediência ao capitam, e nos trouxeram muito mantimento, e fizeram grandes festas e bailes, amostrando muito prazer por aqui ser vindos. O capitam lhes deu muitas dádivas ( TAVARES, s/d p.24 apud DIEZ, 1998, 9. 25).

Os nomes que estão em negrito na citação são grafados na atualidade de maneira

diferente, o hum perdeu o h e tornou – se um, o dous trocou o u pelo i e

transformou – se em dois, o m de capitam foi substituído por o, capitão. Para a

origem do ditongo final ao que temos no português, Carvalho e Nascimento (1969)

apresentam as formas do português arcaico am, ã, om, õ, os quais correspondem

às terminações latinas anu, ane, one, udine, ant, unt, conforme se observa nos

seguintes exemplos: veranu > verão > ; pane > pão> dant > dão; sunt > são.

Transportando para o século XIX e XX destacamos a escrita de outras palavras que

hoje já não são mais usadas como antes. “(...) na virada do século XIX e XX se

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escrevia elle, na primeira metade do século XX já se escrevia êle e agora, no século

XXI, se escreve ele! ( BAGNO, 2008, p. 157)”.

Ao aprofundarmos nos estudos diacrônicos da língua, é notório que toda língua varia

e evolui no decorrer dos anos tanto nos aspectos internos quanto externos, por

esses motivos muitas línguas são transformadas e até mesmo extintas, outras

transformam - se em novos dialetos. O estudo dessas variações ocorre por

intermédio dos estudos diacrônicos que compreende a história externa (evolução

sociolingüística) e a história interna (evolução estrutural). As variações lingüísticas

são frutos de um processo histórico e atendem às necessidades dos falantes de uma

comunidade, porém quando as necessidades deixam de ser supridas, de maneira

inevitável ocorrem as transformações na língua.

Recorrer a história da língua é uma tentativa que faço de mostrar que a Língua Portuguesa, em todas as suas variedades, continua em transformação, continua mudando, caminhando para as formas que terá daqui a algum tempo. Da mesma maneira como o Latim foi se transformando lentamente até resultar nas diversas línguas românicas hoje existentes (..), também cada uma delas continua a se transformar (BAGNO, 2006,p.35).

Todas as línguas mudam e variam, por isso é necessário o estudo diacrônico da

mesma para compreender as mudanças que ocorrem no tempo e no espaço. Nesse

processo de transformação da língua, vale volvermos os olhos para a Grécia e

buscarmos a origem de vários aspectos da língua que usamos, incluindo o que hoje

conhecemos como padrão. Toda língua tem o seu padrão defendido pelos

detentores do poder. Esse termo surgiu quando a língua Grega tinha se tornada

internacional e houve a necessidade de normatizar a mesma para que servisse de

instrumento cultural e para a política. “Essa tarefa de constituição de uma norma

unificada, de um padrão de correção, foi empreendida pelos sábios que trabalhavam

justamente na Biblioteca de Alexandria, os filólogos... (BAGNO, 2007, p.63)”

Estudar a evolução da língua no tempo é fundamental para se compreender os

aspectos sincrônicos ou variações sincrônicas que são as mudanças no espaço.

Com o enfoque sincrônico é possível notar as variações lingüísticas comparando a

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fala de jovens x idosos, das mulheres x homens, dos moradores da zona rural x

moradores dos centros urbanos, dos não-escolarizados x escolarizados, entre

profissionais de diferentes profissões, etc. Um dos tipos de fatores que produzem

diferenças na fala de pessoas são externos à língua. Os principais são fatores

geográficos, de classes, de idade, de etnia, de profissão, etc. ( POSSENTI, 1996,p.

34).

Essas diferenças resultantes dos vários fatores, recebem conceitos também

diferentes. Segundo Carvalho (2003), as variedades podem ser divididas da

seguinte forma: Diastráticas que estão relacionadas às diferenças culturais, podem

ser divididas em norma padrão, língua coloquial e popular, existem também as

Diafásicas, dizem respeito aos diversos tipos de modalidade (familiar, estilística, de

faixa etária, etc), já as variações diatópicas ou geográficas são aquelas que

apresentam variantes regionais, o falar gaúcho, o mineiro, o nordestino, etc.

Bagno (2007) enfoca além das variações mais conhecidas, a Variação Diamésica

que é aquela que se apresenta na comparação entre a língua falada e a língua

escrita. É preciso, contudo, entender que nem tudo na língua varia.

Ao falar da variação (...), ela pode se verificar em todos os níveis da língua:

fonético – fonológico, morfológico, sintático, semântico, lexical, estilístico –

pragmático. A essa altura, pode surgir uma dúvida: tudo o que existe numa

língua pode estar em variação? A resposta é não ( BAGNO, 2007, p. 49)

São muitos os aspectos da língua que não apresenta variação: a anteposição do

artigo com relação ao substantivo, a pronúncia da consoante f, diferente do que

acontece com o s que de acordo com o contexto em que é empregado tem som de

z, etc. outro aspecto que não muda na língua são os verbos regulares que têm

sempre uma terminação – o na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo (eu

canto, eu bebo, eu parto). Esses são apenas alguns exemplos. Assim, fica entendido

que em uma língua além de haver diferenças no repertório lingüístico dos falantes,

existem também as regras que não variam.

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2.1.1 Dialetos

Os diferentes modos de falar são os dialetos que estão presentes em todas as

línguas.

Uma língua se define por suas características diferenciadoras. As diversas variantes adotadas regionalmente são denominadas dialetos, e frequentemente um deles, por motivos políticos, históricos ou culturais, se impõe para servir como base da língua culta e literária. Do ponto de vista histórico, considera – se também que toda língua é um dialeto em relação àquela de que provém. Assim, todas as línguas românicas, como o português, o espanhol e o francês, seriam dialetos do latim ( PORTAL EMDIV, 2008 apud LIMA, 2009, p. 10).

Podemos exemplificar dialetos com as seguintes palavras: favela, falada em são

Paulo e Rio de Janeiro, malocas em Porto Alegre e Mocambos em Recife, palavras

com grafias e pronúncia diferentes para designar uma mesma coisa que nesse caso

é um conjunto de habitações populares, muitas vezes construídas em morro.

Dialeto é um termo usado há muitos séculos, desde a Grécia Antiga, para

designar o modo característico de uso da língua num determinado lugar,

região, província, etc. muitos lingüistas empregam o termo dialeto para

designar o que a sociolingüística prefere chamar de variedade ( BAGNO,

2007, p. 48).

Dentre os muitos dialetos de uma língua, um consegue se destacar passando de

dialeto a norma-padrão de língua Padrão. Partindo desses pressupostos, vale frisar

que durante muitos anos, o modelo de língua utilizado em sala de aula foi o modelo

de origem grega que valorizava apenas a norma-padrão ou língua da elite sem levar

em consideração os diversos dialetos que existem, mas graças às lutas e

discussões de lingüistas tais como Antunes, Bagno, Cagliari e outros, muita coisa

mudou e hoje já é realidade trabalhar a língua de forma democrática, valorizando as

diferenças lingüísticas além de trabalhar com as diferentes gramáticas.

2.1.2 As três Gramáticas

Segundo Possenti (1996), existem três tipos de gramática: a Normativa ou

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Prescritiva refere – se ao conjunto de regras que devem ser seguidas, apresenta a

linguagem padrão, é a definição adotado por muitos anos pelos livros didáticos e

pelas gramáticas pedagógicas. A Gramática Descritiva refere – se ao conjunto de

regras que fundamenta os trabalhos dos lingüistas, são as regras utilizadas pelos

falantes. Por fim, a Gramática Internalizada refere – se ao conjunto de regras que o

falante domina, ou seja, são aquelas regras que todo ser humano aprende desde

criança. São regras que as crianças levam para a escola, aprendidas no cotidiano,

regras essas que permitem à criança construir enunciados dentro de uma

construção possível da Língua.

As idéias da gramática internalizada dialogam com os ideais freireanos, pois ambos

valorizam os conhecimentos que os educandos já possuem, ou seja, permitem um

trabalho a partir da realidade em que o sujeito está inserido, dessa forma facilita a

aprendizagem nesse processo de ensinar – aprender. A educação na visão de

Freire (1996), acontece de maneira dialógica, onde o conhecimento é construído na

interação de educador – educando, nesse processo, acontece o conhecimento da

realidade, indispensável na construção de um mundo mais humanizado, dessa

forma se opõe à Educação Tradicional, onde o professor é o dono do conhecimento.

Conhecer, previamente, as aspirações, o nível de percepção dos educandos, sua visão de mundo é exigência da natureza dialógica da educação. É, pois, a partir desse conhecimento que Freire considera ser possível organizar um conteúdo programático libertador. ( DAMKE, 1995, p. 85.).

Para que se promova uma educação democrática e libertadora, é imprescindível a

valorização dos diversos usos da língua e, principalmente, a valorização dos

falantes. Assim, podemos frisar o que afirma Bagno (2008):

A variação lingüística tem que ser objeto e objetivo do ensino de língua: uma educação lingüística voltada para a construção da cidadania numa sociedade verdadeiramente democrática não pode desconsiderar que os modos de falar diferentes grupos sociais constituem elementos fundamentais da identidade cultural da comunidade e dos indivíduos particulares, e que denegrir ou condenar uma variedade lingüística equivale a denegrir ou condenar os humanos que a falam, como se fossem incapazes, deficientes ou menos inteligentes ( p. 16).

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Ao longo dos anos, a Educação Tradicional reproduziu a discriminação, quando

exigia o uso apenas da “língua padrão”, enfatizando que a mesma seria a forma

correta de se falar. Essa atitude fortaleceu ao longo da história o preconceito que

para muitos é apenas lingüístico, porém temos consciência de que é muito mais

complexo, pois tudo tem início no preconceito social, onde discriminado é o falante e

não a língua.

2.1.3 Preconceito lingüístico:

A gente estuda a Língua Portuguesa, mas temos que falar que nós estudamos e não a gente estuda ou nois estuda, pois os “sábios” da língua exigem que a gente fale assim correto (CIDA LIMA).

A diferença ao longo dos anos tem se transformado em muro, quando na verdade

deveria tornar-se ponte. A humanidade tem alimentado intolerância gerando um

clima de conflitos desde os pequenos atos até as terríveis guerras. Em muitos

aspectos da sociedade, o ser diferente é relacionado à inferioridade. Em se tratando

da língua Posssenti (1996) afirma: “Os grupos que falam uma língua ou um dialeto

em geral julgam a fala dos outros a partir da sua e acabam considerando que a

diferença é um defeito ou um erro (p. 29)”.

É necessária uma luta constante em busca da valorização dos falantes de diferentes

dialetos para que assim possa ser mudado algo que é tão opressor na sociedade

brasileira: o fato de que as classes privilegiadas fazem uso do dialeto-padrão para a

manutenção do poder, dessa forma criam leis que estão fundamentadas em uma

linguagem inacessível às classes menos favorecidas que em sua maioria, domina

apenas o dialeto não-padrão do meio em que estão inseridos e por causa disso,

ficam incapazes de lutar pelos seus direitos. Conforme BAGNO (2008):

... a constituição afirma que todos os indivíduos são iguais perante a lei, mas essa mesma lei é redigida numa linguagem que só uma parcela reduzida de brasileiros consegue entender. A discriminação social começa, portanto, já no texto da constituição (...), falantes das variedades estigmatizadas deixam de usufruir diversos serviços por não compreender a linguagem empregada pelos órgãos públicos ( p.31).

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Essa é uma realidade que precisa ser transformada para que os termos cidadania e

democracia passem a ter sentido.

É notório que o preconceito existe em todos os contextos em que haja dominantes e

dominados, incluindo o preconceito lingüístico. Os indivíduos que detêm o poder

político e econômico são falantes de variedades de prestígio criadas e mantidas

pelos mesmos, daí todos os dialetos que não se enquadram nos padrões elitistas,

são tidos como inferiores e os falantes que não fazem parte das classes

privilegiadas são discriminados e dominados. Para aclarar essas idéias buscamos

subsídios em Bagno (2008) que afirma:

...Indivíduos que detêm o poder no Brasil: não são ( quando são) apenas falantes das variedades urbanas de prestígios , mas são sobretudo, em sua grande maioria, homens brancos , heterossexuais, nascidos, criados na porção Sul – Sudeste do país ou oriundos das oligarquias feudais do nordeste( p.91 – 92).

Em todas as línguas há variantes e variedades mais prestigiadas que outras. Há

aquelas que são estigmatizadas, onde seus falantes são vítimas constante de

preconceito lingüístico que é um fruto do preconceito social, já que os falantes dos

dialetos de menor prestígio são os indivíduos oriundos das classes menos

favorecidas.

Além do preconceito contra os menos favorecidos inseridos em uma mesma região

ou em um grupo, existe também o preconceito contra os falares de alguns estados.

Com relação às cinco Regiões do Brasil, uma região é lembrada sempre por uma

ótica negativa: a Região Nordeste.

2.1.3.1 Preconceito lingüístico contra os nordestinos

O preconceito lingüístico reflete o preconceito social, por isso, quando um nordestino

fala uma palavra num dialeto diferente, é tido como ignorante e matuto, o segredo

não está na construção lingüística e sim no indivíduo que está falando, por pertencer

a uma região esquecida e desprezada pela classe detentora do poder político e

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econômico, os sudestinos e sulistas. Essa região apesar de ser importantíssima em

vários aspectos, ainda não alcançou o respeito merecido que pregam os linguistas.

Para os mesmos, “todo homem é igual não só perante a lei, mas também frente a

sua capacidade lingüística ( LEITE, 2005,p.7)”.

Em sala de aula é possível promover reflexões significativas com temas necessários

de serem discutidos, referentes às variações lingüísticas, enfatizando as regionais e

o preconceito lingüístico presentes nas novelas e filmes que reforçam estereótipos

nordestinos, principalmente contra os baianos apresentando personagens que são

na maioria das vezes homens preguiçosos, traficantes e assassinos e mulheres

casadas que vivem em constante adultério. Durante meses ao ser exibida a novela

das 19:00 hs na Rede Globo, intitulada “Caras e Bocas” onde as personagens

Antenor, um homem nordestino que foi morar com a amante Ivonete também

nordestina, fingiam ser irmãos, além disso era sustentado pelo esposo da amante,

Fabiano, reforçando assim o estereótipo de que o baiano é preguiçoso.

É imprescindível que se trabalhe em sala de aula de diversas maneiras, dentre elas

o teatro e a produção de músicas, poesias, etc. promovendo reflexões, visando

desconstruir os mitos e os preconceitos, principalmente os referentes ao Nordeste

que é a nossa realidade.

Por causa dos preconceitos que vigoram na nossa sociedade, algumas variedades lingüísticas sofrem mais discriminações que as outras: as rurais frente às urbanas, as nordestinas frente às não – nordestinas ( quando o falante vive fora do nordeste), as dos homens frente às das mulheres, as das classes desfavorecidas frente às das classes favorecidas e por ái vai. Tudo isso deve ser analisado e devidamente criticado, para que o trabalho na escola não reproduza os mesmos estereótipos e as mesmas discriminações que vigoram na sociedade em geral ( BAGNO, 2007,p.128).

Diante disso, muitos artistas: cantores, poetas, repentistas, atores e outros

desempenham trabalhos belíssimos de conscientização e luta contra o preconceito

tanto social quanto lingüístico. Merecendo destaque o cantor Flávio José com suas

canções marcantes sobre as lutas e conquistas dos sertanejos, Luís Gonzaga

também com canções inteligentes sobre os nordestinos, o poeta Patativa do Assaré

com sua literatura de cordel que enfatiza o uso da linguagem popular que dentro da

Page 17: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

27

nova perspectiva para o ensino da língua portuguesa, é ponto fundamental sendo

um dialeto tão importante quanto os outros. O fragmento de uma música nordestina

que ergue a bandeira da valorização do nordeste e de seu povo e tece crítica aos

dominantes diz o seguinte:

Eu quero cantar o nordeste que é grande que cresce e você não conhece doutor, de um povo guerreiro, festivo e ordeiro, de um povo tão trabalhador, por isso não pise, viaje e pesquise. Conheça de perto esse chão. Só pra ver que o Nordeste agora é quem veste , é quem veste de orgulho a nação ( FLÁVIO JOSÉ).

Nessa música, o autor faz uso da linguagem coloquial para se dirigir a um doutor, ou

seja não seguiu a norma – padrão da língua usando o pronome você, foi uma forma

de contestação ao modelo ideal de língua ditado pelas elites. São imprescindíveis

esses trabalhos de valorização da nossa cultura, principalmente no tocante aos

dialetos, para que assim os falantes nordestinos sejam reconhecidos pelo valor que

os mesmos possuem e não pelo fato de falarem “engraçado” na concepção de

alguns.

Para mostrar que a fala nordestina nada tem de “engraçada” ou ridícula, vamos fazer uma pequena comparação. Na pronúncia normal do sudeste, a consoante que escrevemos T é pronunciada tch em (...). Esse fenômeno chama – se palatalização. (...) os falantes do sudeste pronunciam tchitchia a palavra escrita titia. E todo mundo acha isso perfeitamente normal, ninguém tem vontade de rir quando um carioca, mineiro ou capixaba fala assim. Quando, porém, um falante do Sudeste ouve um falante da zona rural nordestina a pronunciar a palavra escrita oito como oitcho , ele acha isso “muito engraçado”, “ridículo” ou “errado”. Ora, do ponto de vista meramente lingüístico, o fenômeno é o mesmo - palatalização... ( BAGNO, 2008,p. 60 – 61).

As produções dos artistas abordados anteriormente, são importantes para que sejam

trabalhados em sala de aula, onde o educador pode promover momentos de

aprendizagens significativas, instigando o educando a conhecer a fundo as obras de

grandes artistas da Região Nordeste ,através de pesquisas em livros, revistas,

DVDs, televisão, internet e outros meios de comunicação. Muitos artistas dessa

região produziram e produzem trabalhos artísticos importantes voltados às questões

nordestinas, visando a politização, a desconstrução de mitos e a desmascaração

dos preconceitos. Essas atividades são pertinentes durante as aulas de Língua

Page 18: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

28

Portuguesas.

2.2 LÍNGUA PORTUGUESA

Com fundamento no estudo diacrônico das línguas, torna-se necessário enfatizar a

influência de outras línguas na formação da língua Portuguesa.

2.2.1 Do Latim Vulgar ao Português Vulgar

Tudo começou com as chamadas línguas indo-européias de onde se originou o

Latim, língua morta na atualidade, nascida numa região da Itália chamada “Latium”,

entre o povo humilde, com a união de diversos falares itálicos tornou-se língua

nacional do Império Romano. Afirma Lima ( 2009): “As origens do latim remontam ao

século VII a.C, enquadrando-se historicamente, no período de 753 a.C. ano da

fundação de Roma, até à queda do Império romano em 476 d.C, SéculoV d.C... (

p.33 – 34)”.

Durante as conquistas do Império Romano, o Latim tornou-se a língua oficial do

Império, porém assim como todas as línguas apresentava variações lingüísticas,

tendo a língua da elite e a língua do povão. O chamado latim vulgar deu origem o

Português também vulgar. O latim vulgar foi influenciado por outros dialetos surgindo

as dez Línguas românicas ou neolatinas: Francês, Italiano, Espanhol, Provençal,

Catalão, Romeno, Dalmático, Reto – romano, Sardo e Português. A história da

Língua Portuguesa está intimamente ligada à história da Península Ibérica onde

surgiu Portugal. Com a romanização dessa península, a dominação romana

alcançou a política, o poder militar e no aspecto cultural impondo sua língua, o Latim,

reforçando a atitude dos dominantes ao longo da história que é explorar as classes

dominadas impondo seus ideais a todo custo, isso antes do Português surgir como

língua Nacional.

A Península Ibérica, após anos de lenta e progressiva assimilação dos costumes da civilização romana, no século V da era cristã, já estava completamente romanizada, o que significa que pertencia politicamente ao Império romano e linguisticamente falando a língua de Roma, o Latim ( LIMA, 2009, p. 40)

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29

Segundo Lima ( 2009), com as invasões de outros povos, o latim “vulgar”, como

era chamado de maneira preconceituosa o dialeto dos grupos menos favorecidos, foi

absorvendo outros dialetos, originando o dialeto : Galego – Português. Nesse

dialeto, os escritos eram apenas em forma de canção devido à quantidade de

analfabetos que existia na época.

Segundo Sartorelli ( 2008), a canção ou cantiga de amor mais antiga que se tem

conhecimento é a Canção da Ribeirinha, que foi escrita pelo segundo Rei de

Portugal D. Sancho I que dedicou a composição à dona Maria Paes Ribeiro, bela

dama da corte e amante do mesmo. Não se sabe ao certo em escrita em 1189 ou

1198. Citada abaixo está fragmento dessa canção escrita em galego-português e

também no Português.

No mundo non me sei parelha, mentre me for’como me vai, Ca já moiro por vós – e ai, mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi em saia! Mao dia me levantei, que vos enton num vi fea! E, mia senhor, dês aquel d’, ai! Me foi a mim muin mal! E vós, filha de Don paai, Moniz, e bem vos semelha, d’aver eu por vós guarvaia, Pois eu, mia senhor, d’alfaia Nunca de vós ouve nem ei Valia d1ua Correa. No mundo ninguém se assemelha a mim Enquanto a minha vida continuar como vai Porque morro por vós, e aí Minha senhora de pele alva e faces rosadas, Quereis que vos descreva Quanto eu vos vi sem manto Maldito dia! Me levantei Que não vos vi feia E, minha senhora, desde aquele dia, ai Tudo me foi muito mal E vos, filha de Dom Pai Moniz, e bem vos parece De ter eu por vós roupas luxuosas Pois eu, minha senhora, como prova de amor De vós nunca recebi algo, mesmo que sem valor ( SARTORELLI, 2008,p.182 – 183).

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30

Ainda falando em canção escrita em galego-português, escolhemos uma cantiga de

amor, escrita no século XX e cantada pelo grupo Legião Urbana que buscou nesse

dialeto antigo a inspiração para sua música. O fragmento dessa canção diz o

seguinte:

Pois nasci nunca vi o amor E ouço Del sempre falar Pero sei que me quer matar Mas rogarei a mia Senhor Que me mostr’ aquel matador Ou que m’ampare Del melhor (SARTORELLI, 2008,p.175)

Quando cresce o domínio de Portugal sobre o sul originaram diferenças nesse

dialeto, ocorrendo a divisão do mesmo em línguas diferentes: O Galego hoje é a

língua oficial da Galícia e o Português tornou-se a língua atual com a Independência

de Portugal, e a sua evolução continua no tempo e no espaço. Segundo Coutinho

(1981, p. 65), os documentos mais antigos da Língua Portuguesa datam do século

XII. São um Auto de Partilha (1192), Um Testamento (1193), uma notícia de torto

(1206?), uma cantiga de Pai soares de Taveirós (1189).

Segundo Lima (2009), entre 1536 e 1547, foram publicadas as gramáticas de Língua

Portuguesa com a tentativa de impor as línguas modernas em substituição ao Latim.

Segundo Lima (2009), durante o século XVI, a língua Portuguesa enriqueceu seu

acervo lexical, expandiu – se e conquistou outros continentes. O fato é que a língua

Portuguesa espalhou – se pelo mundo com as expansões marítimas, as

colonizações, o comércio e a catequização dos nativos.

Atualmente a língua Portuguesa é língua oficial de vários países: Portugal,

Moçambique, Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial (desde 2007).

além de ser falada em ex- territórios da Índia Portuguesa e outros. De acordo com o

site do Ministério da Educação de Portugal, o Português é a sexta língua materna

falada pelo maior número de pessoas junto com as cinco primeiras: mandarim,

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31

espanhol, inglês, bengali, hindu. O português é também a terceira língua mais falada

do mundo em número de países, perdendo só para o inglês e o Espanhol. A Língua

Portuguesa assim como foi imposto em outras colônias, também foi imposta às

colônias africanas e lá existe disputando espaço com os dialetos nativos.

2.2.2 E a história se repete

Assim como o Latim foi imposto em Portugal, a língua Portuguesa foi imposta aos

habitantes da colônia posteriormente chamada Brasil. Quando aqui chegaram os

portugueses massacraram os verdadeiros donos das terras invadidas não apenas

nos aspectos físicos, políticos e sociais, mas, principalmente, cultural com a

imposição da religião e língua do dominador. Essa língua assim como o latim que

chegou a Portugal, não era o Português clássico ou da Elite e sim o vulgar falado

pelo povo, mesmo assim passou a ser a língua oficial. Podemos afirmar que a

história da Língua Portuguesa do Brasil está intimamente ligada à história política do

país.

2.2.3 A língua Portuguesa do Brasil

É notório que o idioma oficial do Brasil, foi formado inicialmente a partir das

contribuições das línguas: Portuguesa, indígenas e africanas, mas com o passar dos

anos outras línguas também foram permeando essa língua. “As relações entre

portugueses, africanos e orientais aumentaram o acervo lexical do português (LIMA,

2009, p. 156)”. Dos Portugueses herdamos a própria língua, das línguas indígenas

denominações geográficas: Itaparica, animais: sabiá, tucano, arara, siri, frutas:

jabuticaba, pitanga, caju e outras. Das africanas vocábulos referentes à culinária:

acarajé e outros, às crenças: orixás,etc.

Ainda de acordo com Lima (2009), a língua Portuguesa herdou vocábulos pré-latinos

dos quais destacamos alguns: caminho, carro de origem celta, anjo, bolsa de origem

grega.

Page 22: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

32

2.2.4 Ensino da Língua Portuguesa no Brasil

Segundo Lima (2009), Durante quase todo o período colonial no Brasil, não existia

Universidade e os estudiosos da época, buscavam o conhecimento nas instituições

de nível superior na Europa. Diante dessa realidade a língua no Brasil estava

dividida em língua dos bacharéis, padres e doutores e língua vulgar, como era

denominada de maneira preconceituosa, a língua do povo.

Diante do exposto, vale frisar que o ensino da Língua Portuguesa no Brasil, ao longo

dos anos seguiu o modelo do dominador, até pouco tempo, mas os discursos sobre

o assunto desde a década de 80 tem promovido muitas transformações, dentre elas

o trabalho com as diferentes línguas faladas no Brasil que são os dialetos enfocando

a valorização dos falantes.

É possível e necessário ensinar a norma padrão já que ela faz parte das situações

da vida, porém sem humilhar o falante dos outros dialetos. Segundo Possenti (1996),

o comum é se pensar no ensino da língua como o ensino da gramática e o ensino da

gramática como o ensino de regras. Porém, ensinar gramática vai, além disso, é

ensinar regras e as variedades de usos da língua. Dessa forma será trabalhada não

apenas a gramática tradicional ou normativa responsável pela escrita oficial, mas

também a descritiva e internalizada, é nessa última gramática onde a língua se

apresenta de maneira dinâmica através da fala.

Foi pensando em rever essas questões que a década de 80 como já foi mencionada,

tornou-se um período em que as propostas oficiais do ensino de Português

começaram a fazer parte dos escritos, refletindo as discussões que já vinham

acontecendo nos seminários, cursos, encontro de professores, com equipes das

Secretarias de Educação de vários estados e também de municípios, com

contribuições de textos das áreas de Psicologia, Educação e Linguística. Foi em São

Paulo onde essas discussões começaram a provocar algumas mudanças.

... desde então, a Secretaria de Educação de São Paulo adotou propostas inovadoras, porém contraditórias, pois ao mesmo tempo que enfatizava o

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33

trabalho com variações lingüísticas dando oportunidade de os alunos apresentarem suas variedades lingüísticas, falava em corrigir os erros da linguagem errada ( FIAD, 1997, p. 48 – 50)

Vale salientar que desde a década de 70 já existiam textos tematizando a

diversidade lingüística e o ensino influenciado pela Sociolinguística que surgiu na

década de 60, porém muitas propostas desses textos só estão sendo trabalhadas

atualmente. A maioria das discussões que envolvem resolver problemas e criar

propostas para o país, acontece no meio em que a elite nacional está inserida, no

Sudeste e Sul, e, em se tratando de política, em Brasília, daí as decisões que são

tomadas nesses espaços demoram muito tempo para alcançar espaços dominados

como o Nordeste e outras regiões.

Assim, as propostas para a mudança no ensino da Língua Portuguesa estão a

pouco tempo fazendo parte da realidade de escolas do Nordeste, principalmente do

local onde ocorreu a pesquisa. Essas propostas estão inseridas nos Parâmetros

Curriculares Nacionais - PCNs, desde 1997, porém os professores passaram muito

tempo sem uma ampla compreensão de como trabalhar por falta de políticas

públicas que estivessem voltadas à capacitação desses professores, uma vez que

os mesmos não foram preparados para essa nova realidade. Os livros didáticos até

pouco tempo não estavam adequados à nossa realidade, apresentando conteúdos

descontextualizados, por serem produzidos por pessoas que não conhecem a fundo

as peculiaridades dessa região, mas agora já notamos uma mudança com relação a

essa questão e outras.

Aos poucos a luta contra o preconceito está alcançando resultados positivos nos

âmbitos nacional e internacional.

Desde 1996 circula pelo mundo, sob patrocínio da Unesco, A declaração Universal dos Direitos Linguísticos, proclamada naquele ano na cidade de Barcelona ( Espanha). Todo país que se pretenda genuinamente democrático tem que estabelecer uma política lingüística racional e transparente, voltada para o bem de todos os cidadãos ( BAGNO, 2008,p.24 – 25).

O respeito ao modo de falar é um direito de todos, por isso deve ser respeitado

Page 24: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

34

também por todos. Que bom será no dia em que os homens poderão dizer que os

direitos humanos estão sendo respeitados. Será que isso vai acontecer? Não

sabemos, mas podemos seguir lutando.

Apesar de no Brasil ainda não existir uma política oficial bem planejada e

comprometida com os direitos lingüísticos assim como existe várias políticas de

combate ao racismo. Vale enfatizar que já houve um avanço considerável através

das iniciativas do Ministério da Educação – MEC. Diante do exposto, vale frisar que

a Lei de Diretrizes e Bases – LDB Lei n. 9394 de 20 de dezembro de 1996, que

apresentou mudanças a respeito do ensino da Língua, posteriormente surgiu

também os PCNs que trouxeram a proposta de se trabalhar em uma perspectiva

diferente e mais democrática que é valorizar os diferentes saberes lingüísticos que o

educando internaliza no decorrer da sua vida e também o uso dos gêneros textuais

que são essenciais para uma maior compreensão da língua.

Muita coisa ainda precisa avançar, mas já podemos notar um avanço significativo,

fruto das discussões internacionais. É preciso também que os educadores, a escola

e instituições voltadas a cultura, estejam aptos e prontos para a desconstrução de

muitos mitos que ainda envolvem a língua Portuguesa e o seu ensino e reconstruir

conceitos e atitudes, buscar soluções para o preconceito que ainda vigora e criar

mais políticas públicas que venham enriquecer o ensino da Língua Portuguesa.

Como já foi mencionado, os órgãos oficiais tanto nacional quanto internacional já

criaram algumas políticas rumo à valorização das variações linguísticas. É

interessante frisar mais uma vez a contribuição dos PCNs que afirma:

A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de uma unidade de muitas variedades (PCNs, 1998 apud BAGNO, 2008, p.35)

É notório que a Língua na sala de aula já está sendo encarada com um novo olhar,

com respeito. Diante disso, é importante que o educador continue aperfeiçoando

seus conhecimentos sobre as discussões e mudanças que ocorrem na língua a nível

nacional e até mesmo internacional como o atual Acordo Ortográfico.

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35

2. 2. 5 Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).

É notório que as leis tanto no Brasil quanto em outros países são lentas, torna – se

pior quando vários países se juntam para o mesmo fim. Um retrato disso é o Acordo

Ortográfico da Língua Portuguesa que segundo Lima (2009), foi assinado no ano de

1990 em Lisboa e no Brasil foi aprovado somente em 1995 entrando em vigor

internacional somente no dia 1º de Janeiro de 2007, mas até 2012 coexistirão duas

formas de ortografia, a que estava sendo usada e a que foi estabelecida

recentemente. Defendendo uma unidade na ortografia essencial na língua

portuguesa para uma melhor difusão internacional da língua, esse acordo foi

assinado pelos países lusófonos.

Art. 1º: O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, entre os governos da República de Angola, da República Federativa do Brasil, da República de Cabo Verde, da República de Guiné – Bissau, da República de Moçambique, da República Portuguesa e da República Democrática de são

Tomé e Príncipe... (LIMA, 2009, p.97).

O trabalho em sala de aula com essas novas regras para o ensino da língua é muito

importante, porém exige o cuidado de estar atento para não adentrar num ensino

somente gramatical como ocorreu ao longo dos anos, que essa mudança não sirva

de pretexto para os professores continuarem com sua antiga prática ou até mesmo

regressar para uma atitude já ultrapassada. O acordo precisa ser explorado dentro

das funções ou usos reais da língua e não simplesmente dentro da gramática

normativa e provocadora de discriminações. Para isso, é necessário um educador

consciente e engajado em uma educação transformadora.

2.3 EDUCADOR

Podemos conceituar Educador, como um mediador do conhecimento, aquele

comprometido com uma educação libertadora, capaz de provocar reflexões e

desconstruir mitos, lutar contra os estereótipos impostos pela classe dominante,

possibilitando assim o desenvolvimento da conscientização por parte dos

educandos. Como afirma Feracine (1990, p.75), “libertar o educando (a) das

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36

amarras que lhes embargam o acesso aos conteúdos que liberte suas

potencialidades de auto – realização e de participação ativa na vida da comunidade”

Complementando essas ideias, enfatizamos o perfil de educador na concepção

freireana, como aquele que assume uma educação Libertadora, contrapondo-se à

educação oficial e bancária ministrada pela classe dominante. É um profissional que

aderiu ao modelo de educação progressista que visa a transformação da

mentalidade da classe dominada na busca da libertação social, econômica, política e

cultural, através da contextualização problematizando os conteúdos com palavras

geradoras.

Dessa forma, trabalhar com os temas geradores significa possibilitar a articulação do trabalho pedagógico com a realidade sociocultural das pessoas em aprendizagem curricular, seus interesses, com os conhecimentos acumulados historicamente pela humanidade a que todos têm direito de acesso. (MACEDO s/d, p.102).

Nesse modelo de educação defendido e propagado por Freire, incumbe o educador

na função de valorizar os conhecimentos que provém do educando, atentando para

o levantamento de questionamentos, partindo do local em que está inserido, das

suas necessidades, até alcançar os conhecimentos globais, pois compreendendo o

seu meio é mais fácil compreender o mundo e transformar sua realidade. Ele

discorre sobre a importância da ação do educador na formação e assunção do

educando, os sujeitos são preparados criticamente pela interação com o professor,

podem alcançar a transformação do estado de ingenuidade para o de politizado

capaz de enfrentar e transformar o seu contexto.

O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos. ( FREIRE,1996, p. 86).

Nessa perspectiva o educador é aquele engajado numa luta social e política, com o

objetivo de promover a conscientização da massa para que lute contra o modelo de

dominação imposto pela classe dominante. Ele defende uma educação dialética que

esteja a serviço dos dominados como uma esperança para a libertação, e, quando

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37

isso não acontece, não está desempenhando verdadeiramente seu papel de

educador, mas reproduzindo a educação dominante. Como afirma Melo (1998, p.75)

Educar nessa sociedade é tarefa de partido, isto é, não educa realmente aquele que ignora o momento em que vive, aquele que pensa estar alheio ao conflito que o cerca. É “tarefa de partido” porque não é possível ao educador permanecer neutro: ou educa a favor dos privilégios da classe dominante ou contra eles, ou a favor das classes dominadas ou contra elas(...).

No decorrer da história, a educação segue atendendo aos objetivos políticos tanto

da classe dominante quanto da classe dominada, muitos educadores passaram a

aderir um novo modelo de educação, esquecendo de questionar o que é pertinente e

o que não é tornando assim um mero receptor de novos modelos e transmissores

dos mesmos, reproduzindo o que é ditado pelo sistema dominante. Diante dessa

problemática, é necessária uma conscientização que só será alcançada mediante à

leitura de mundo. Além disso, vale frisar que no tocante à língua, os educadores

precisam estar atrelados à interdisciplinaridade, pois no momento histórico em que

vivemos não cabe a idéia de se ensinar conteúdos em disciplinas isoladas sem uma

interligação com as outras.

Todo professor é professor de língua, já que ele se serve da língua como meio de transmissão dos conteúdos que lhe cabe ensinar. Por isso, a transformação do modo de encarar as variedades não padrão tem de ser feita em todos os campos da educação, sendo uma tarefa de todos e não apenas dos professores de Língua Portuguesa (BAGNO, 2006,p.29).

O educador não deve ver apenas uma face dos modelos educacionais, precisa se

comprometer de maneira crítica, pois ensinar exige reflexão da prática , esse

processo envolve a dialética entre o fazer e o pensar sobre o fazer. Dessa maneira,

pensando a prática de ontem e hoje é possível melhorar a de amanhã e assim

trabalhar a serviço de uma escola que atenda às necessidades das classes

dominadas.

2.3.1 Educador de Língua portuguesa

Page 28: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

38

O educador de língua Portuguesa tem uma árdua missão: tornar o ensino dessa

disciplina prazerosa, despertando no aluno o gosto pela aprendizagem da língua,e,

para que isso aconteça, é preciso que ofereça desafios e questões interessantes

para os alunos, explorando constantemente a criatividade.

Quando o educador segue uma prática pedagógica atraente e instigante, ele consegue aproximar – se do educando e com laços afetivos e segurança no que faz, levá-lo à aprendizagem autônoma e crítica, com ênfase na livre expressão do pensamento, na reflexão de suas ações e na visão ampla da realidade, em busca da transformação positiva de si mesmo e da sociedade ( ANTUNES, 2003, p.81).

Para que haja transformação da sociedade, é imprescindível que os educadores, a

escola e instituições voltadas a cultura, estejam aptos e prontos para a

desconstrução de muitos mitos que envolvem a Língua Portuguesa e o seu ensino, é

preciso reconstruir conceitos e atitudes, reconhecendo a diversidade lingüística do

Brasil e de cada educando. A Língua na ótica da Sociolinguística está sempre em

desconstrução e reconstrução, por isso, “a professora e ao professor de Língua

Portuguesa cabe o trabalho da reeducação sociolingüística de seus alunos e de

suas alunas (BAGNO,2007,p.82)”.

É pertinente que o educador de Língua Portuguesa tenha conhecimento de que há

alguns anos, tanto as provas de vários concursos quanto as do Enxame Nacional de

Ensino Médio – ENEM trazem as questões de Português dentro da perspectiva das

variedades lingüísticas.

A evolução da língua está ligada à evolução intelectual, social, econômica da

sociedade, pois dessa forma evoluem também as necessidades comunicativas. Com

base nisso, enfatizamos o desenvolvimento da informática e internet, fez surgir a

necessidade de novos sentidos para palavras já existentes na própria língua (

computador, teclado, disco rígido e outras, além das palavras emprestadas do

inglês.

Nessa sociedade do conhecimento, o educador de Língua Portuguesa, deve estar

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39

informado através de revistas, jornais, televisão e através das novas tecnologias da

informação e comunicação – TIC, estar “por dentro” do que acontece pelas

diferentes formas em que se apresenta a Língua Portuguesa, pois assim será mais

fácil e produtivo o trabalho no Ensino Fundamental.

2.4 ENSINO FUNDAMENTAL

O Ensino Fundamental é uma etapa mais longa da Educação básica. Conforme o

Art. 32 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira LDB/96 tinha duração

mínima de oito anos, obrigatória e gratuita, inclusive para aqueles que não tivessem

acesso na idade própria. Essa modalidade de educação passou por mudanças nos

últimos anos. Segundo Saviani (2008), a implantação da Lei n. 11.274 que alterou o

artigo 32 da LDB, dividiu o ensino fundamental em nove anos alcançando crianças

com a faixa etária de seis à catorze anos e os municípios teriam um prazo de

implantação desse novo formato até 2010.

Vale enfatizar a proposta para o Ensino Fundamental que é:“ ... assegurar a todos a

formação comum indispensável para o exercício da cidadania e oferecer-lhe meios

para progredir no trabalho e em estudos posteriores (LDB 9394/96, ART, 22)”.

Pensar em cidadania é pensar em respeito principalmente às diferenças lingüísticas.

Com relação à língua: “O Ensino Fundamental regular será ministrado em Língua

Portuguesa, assegurando às comunidades indígenas a utilização de suas línguas

maternas e processos próprios de aprendizagem (LDB 9394/96, ART, 32, III 3º)”. É

notório que tanto nos PCNs quanto na LDB, há uma preocupação com o ensino da

Língua.

Percebemos que as políticas públicas para a educação ainda não alcançaram a

realidade desejada, mas já promoveram muitas mudanças significativas.

É durante o Ensino Fundamental que há a necessidade de investimentos no ensino

produtivo e eficaz, aquele que trabalha os usos reais da língua para que assim haja

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40

um ensino mais igualitário e o respeito à verdadeira democracia, assim estaremos

bebendo da fonte Freireana com suas idéias de libertação e transformação social,

tendo o educando como agente produtor do conhecimento e das transformações

mediadas pelo educador.

É nesse nível de ensino que há o espaço ideal para a seguinte conclusão: no meio

do caminho tinha um português, parafraseando a idéia do grande escritor da

literatura modernista, Carlos Drummond de Andrade que escreveu o seguinte: no

meio do caminho tinha uma pedra. É pertinente afirmar que a pedra da qual falava

Drummond já não se apresenta mais como antes, ou seja, o modelo padrão de

língua já não é o único importante, assim sendo, podemos enfatizar que na trajetória

da educação brasileira, o português padrão era uma pedra no caminho dos falantes

de dialetos não-padrão, mas agora o português de cada dia ou as outras línguas

brasileiras também têm espaço para cumprirem suas funções.

Page 31: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

41

CAPÍTULO III

3. PERCORRENDO CAMINHOS

Para alcançar o objetivo da pesquisa que foi Identificar e analisar a postura dos

educadores diante dos diferentes dialetos dos educandos do Ensino fundamental,

utilizamos a investigação de cunho descritivo, pois é usada para registrar, interpretar

fatos e analisar, visa detalhar a realidade dos sujeitos dentro do contexto em que

estão inseridos, possibilitando a compreensão do nível de criticidade e

conscientização que os sujeitos apresentam referente ao tema durante a pesquisa.

Como afirma Demo (1999) pesquisa significa:

(...) diálogo crítico e criativo com a realidade, culminando na elaboração própria e na capacidade de interação. Em tese a pesquisa é atitude do “aprender a apreender” e como tal faz parte de todo processo educativo. (p. 128).

Essa é a parte da pesquisa que requer muita dedicação para que possa ser

desenvolvida de maneira eficaz e interativa. É preciso fazer uso de instrumentos

eficientes para o sucesso da mesma. Essa etapa do trabalho permite “descobrir

respostas para as questões, por meio da aplicação de métodos científicos

(MARCONI; LAKATOS, 1990, p.15).” É por meio da investigação que encontramos

as respostas para as nossas inquietações.

3.1 Tipo de Pesquisa

A metodologia perpassou pela pesquisa qualitativa, por permitir a interação do

conhecimento, com a troca de informações e a integração entre pesquisador e

pesquisado e por ser a abordagem adequada às pesquisas sociais. “A pesquisa

qualitativa supõe o contato prolongado com o ambiente e a situação que está sendo

investigada, via de regra, através do trabalho intensivo de campo (BOGDAN E

BIKLEN, 1982 apud LUDKE E ANDRÉ, 1986)”. Dessa forma, é possível

compreender a realidade do objeto de estudo interagindo com o mesmo.

Page 32: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

42

Este modelo de pesquisa foi relevante porque nos permitiu trabalhar compreensões,

valores e atitudes dos sujeitos referente à temática Variações Linguísticas no Ensino

Fundamental, pois é um tema que exige muitas reflexões, por isso tornou-se

necessária essa abordagem qualitativa e levando em consideração o objeto de

estudo, optamos pela pesquisa de campo pois a mesma é imprescindível para

responder a questão de pesquisa.

3.2 Desbravando novos horizontes

O lócus escolhido para o desenvolvimento da pesquisa foi o Centro Educacional de

Ponto Novo, mantido pelo poder público municipal, situada na sede do município de

Ponto Novo – BA. A escolha desse espaço aconteceu por acreditarmos que seria o

ambiente mais viável para a realização da pesquisa por vários motivos: está situado

próximo da residência da pesquisadora e por ser a escola de Ensino Fundamental

que apresenta o maior número de professores de Língua Portuguesa, O corpo

docente responsável pela disciplina de Língua Portuguesa é formado por oito

professores para os três turnos. Além disso, a diversidade cultural ali existente é

mais marcante que em outras escolas tornando assim um campo fértil para a

pesquisa com as Variações Linguísticas.

Essa escola recebe alunos inseridos em contextos diversificados, da zona urbana e

da rural, portanto, foi o ambiente adequado para a descoberta das respostas para a

nossa inquietação.

3.3 Sujeitos

Com a temática voltada às Variações Lingüísticas, foi imprescindível pesquisar os

educadores de Língua Portuguesa, daí os escolhidos foram os oito que trabalham no

Centro Educacional de Ponto Novo – Ba, um número suficiente para atender os

nossos objetivos. São educadores oriundos de contextos diversificados, com

diferenças políticas, econômicas, sociais e culturais, alguns com graduação em

Letras, outros com Graduação em Pedagogia e especialização em Psicopedagogia,

Page 33: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

43

por conta disso, foi o ambiente ideal para a descoberta das respostas para as

nossas inquietações, pois as atitudes e compreensões dos sujeitos variam de acordo

com o contexto em que estão inseridos, ou seja, um graduado em Pedagogia tem

uma visão diferente de um graduado em Letras, um pós-graduado tem uma visão

diferenciada com ralação a um graduado. Outro motivo da escolha desses sujeitos

foi pela oportunidade de dialogar com educadores que são profissionais

comprometidos com uma educação de qualidade.

3.4 Instrumento de coleta de dados

Os instrumentos de coleta são peças fundamentais para o sucesso da pesquisa.

Partindo desse entendimento, na pesquisa utilizamos como instrumento de coleta de

dados a observação participante, questionário semi-aberto e entrevista semi-

estruturada.

Tanto quanto a entrevista, a observação ocupa um lugar privilegiado nas novas abordagens de pesquisa educacional. Usada como principal método de investigação ou associada a outras técnicas de coleta, a observação possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado, o que apresenta uma série de vantagens”. (LÜDKE; ANDRÉ,1986,p.26).

Optamos por esses instrumentos de coleta de dados, pois nos permitiriam um maior

aprofundamento da temática junto aos sujeitos e por ser os instrumentos adequados

à pesquisa educacional e também por possibilitar um contato direto com o

entrevistador e entrevistado, possibilitando assim uma maior compreensão dos fatos

pelo pesquisador.

3.4.1 Observação participante

O primeiro momento da pesquisa foi a observação participante, a mesma é de

fundamental importância, pois permite várias maneiras de ser desenvolvida pelo

pesquisador, através de vários recursos que posteriormente poderá analisá-las

minuciosamente. A observação é uma técnica de coleta de dados indispensável em

Page 34: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

44

toda pesquisa científica, pois através da mesma faz-se uso dos sentidos na

descoberta de conhecimentos sobre o objeto, possibilita um contato maior com os

sujeitos, proporcionando uma experiência direta entre pesquisador e pesquisados.

A observação pode ser flexível e utilizada dentro da qualquer pesquisa (...) Porém, o bom observador é aquele que, ao decidir-se pela observação deverá preparar o seu desenvolvimento, o seu emprego e formas de registro. As técnicas fotográficas de filmagens são importantes como formas de registro da observação feita. Assim, posteriormente, os fatos poderão ser analisados com cuidado, com mais tempo. (BARROS; LEHFELD, 1990, p.77).

Utilizamos a observação participante por possibilitar várias formas de registros dos

fatos pesquisados e por acreditar ser um instrumento imprescindível na coleta de

dados, podendo assim ser de grande valia para alcançar o objetivo da nossa

questão.

3.4.2 Questionário Fechado

O segundo momento da pesquisa foi a aplicação do Questionário Fechado que

permitiu o levantamento do perfil dos sujeitos pesquisados, proporcionando-nos um

levantamento mais objetivo referente ao assunto pesquisado.

O pesquisador deve ter uma preocupação constante quanto à maneira pela qual as questões do questionário serão regidas. Da redação e da formatação das perguntas depende em grande parte o sucesso da pesquisa.Uma redação descuidada pode conduzir a sentidos ambíguos e dificuldades de compreensão do que se pretende mesmo saber. É fundamental estar familiarizados com o tipo e nível de linguagem dos sujeitos a serem pesquisados (BARROS; LEHFELD, 1990,p.74)

Optamos pelo questionário Fechado para traçar o perfil dos sujeitos e por ser um

instrumento de fácil aplicação e análise das respostas.

3.4.3 Entrevista Semi – estruturada.

No terceiro momento, objetivando conhecer as idéias dos sujeitos entrevistados,

utilizamos a entrevista semi-estruturada composta por oito questões, uma

quantidade que acreditamos ser suficiente para alcançar o objetivo do trabalho, onde

Page 35: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

45

pudemos abordar o tema da pesquisa de maneira mais abrangente e produtiva. A

entrevista possibilitou o desvendar de realidades que envolvem o tema abordado e a

interpretação de conceitos, além disso, permitiu a obtenção de respostas relevantes

que permitirão e nortearão outras investigações de fenômenos sociais.

A entrevista é o encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social”. (MARCONI E LAKATOS, 1996 p.84).

Optamos pela entrevista semi-estruturada para identificar de maneira mais subjetiva

a compreensão que os sujeitos têm sobre o objeto pesquisado por favorecer a

descrição dos fenômenos sociais e a compreensão da sua totalidade e também por

oferecer uma maior liberdade de expressão aos sujeitos, além disso, daria mais

abrangência às nossas inquietações referente à temática pesquisada.

Page 36: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

46

CAPÍTULO IV

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Essa é uma etapa muito importante da pesquisa, pois é nela onde relatamos os

resultados das nossas inquietações.

Analisar dados qualitativos significa “trabalhar” todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos de observação, as transcrições de entrevista, as análises de documentos e as demais informações disponíveis (LUDKE E ANDRÉ, 1986, p.45).

Para complementar essa discussão, buscamos subsídios em Minayo (1994),

segundo a mesma, primeiramente deve-se interpretar a conjuntura sócio-econômica

e política do contexto em que o sujeito está inserido, a história desse grupo que já

deve ser definida desde a fase exploratória, é o momento de leitura de textos,

estabelecendo interrogações para identificar o que é relevante e finalmente

estabelecer articulações entre dados e os referenciais teóricos, respondendo ás

questões da pesquisa com fundamento em seus objetivos, porém a partir daí surgem

novas inquietações, pois na pesquisa qualitativa não se esgota o objeto de estudo.

4.1 Traçando o perfil dos sujeitos

Por intermédio de um questionário fechado obtivemos os seguintes dados:

Dos oito educadores entrevistados, seis pertencem ao sexo feminino. 25 % são

solteiros os demais são casados, 75% estão entre 24 e 31 anos os demais estão

entre 32 a 39 anos.

50% são graduados em Letras e os outros 50 % graduados em Pedagogia, desses

25% com especialização em Psicopedagogia.

50 % dos pesquisados afirmaram que tem entre doze a catorze anos que lecionam e

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47

também informaram que tem entre oito a 10 anos que atuam na disciplina de Língua

Portuguesa. Os 50 % restantes afirmaram que tem mais de catorze anos que

exercem a profissão de educador, e, desses, 25 % sempre trabalhou com Língua

Portuguesa. Os outros 25% tem entre doze a catorze e anos que exercem a função

de educador de Português.

25% dos pesquisados lecionam apenas um turno. 50 % afirmaram que trabalham

dois turnos e 25 % trabalham nos três turnos.

50 % afirmaram que entraram em contato com as variações lingüísticas através da

graduação em Letras, 25% através de pesquisas autodidatas e os outros 25% por

meio de curso de capacitação.

Os pesquisados foram identificados como educador 1,2,3,4,5,6,7 e 8.

4.2 Buscando compreensões

A partir das respostas obtidas da observação participante e entrevista semi-

estruturada, apresentamos os resultados obtidos.

4.2.1 Conceito sobre as Variações Linguísticas.

EDUCADOR 1: “São os diferentes dialetos presentes em uma língua”. EDUCADOR

2 “ São as variadas maneiras de falar “. EDUCADOR 3 “São as diferentes formas

utilizadas pelos falantes de uma língua” .EDUCADOR 4 ““São os diferentes dialetos

que há em uma língua”.

Ao perguntar sobre a compreensão de variações lingüísticas, 100% dos educadores

enfatizaram que as mesmas fazem parte da língua e todas são fundamentais para o

funcionamento de todas as línguas. Complementando essas idéias enfatizaremos o

que Bagno (2007) afirma sobre as variações: “... uma variedade lingüística é um

dos muitos “modos de falar” uma língua ... esses diferentes modos de falar se

correlacionam com fatores sociais como lugar de origem, idade, sexo, classe social,

grau de instrução, etc. ( p. 46)”.

Page 38: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

48

4.2.2 Importância do trabalho com as variedades lingüísticas em sala de aula

EDUCADOR 1: “ é de fundamental importância o trabalho com variedades

lingüísticas para compreender o funcionamento da língua, pois não existe só o

modelo padrão de língua”.EDUCADOR 2 : “é importante trabalhar as variações

lingüísticas, pois já não é adequado para a contemporaneidade ensinar apenas a

norma padrão”. EDUCADOR 3 : “é necessário trabalhar as variedades para lutar

contra o preconceito, EDUCADOR 4: “ é importante trabalhar as variedades para

compreender o funcionamento da língua e lutar contra o preconceito”.

100 % dos entrevistados afirmaram que o trabalho com as variedades lingüísticas é

imprescindível. 25 % informaram que é importante para lutar contra o preconceito

lingüístico. 25 % afirmaram que é essencial para entender que todas as variedades

são importantes, basta ser adequadas ao contexto em que estão inseridas, dessa

forma a norma padrão não é a única que deve ser respeitada. 25 % enfatizaram que

as variações são importantes para entender a língua que está em constante

evolução e os 25% restante salientaram que é necessário o estudo e ensino das

mesmas, pois não é cabível em plena contemporaneidade, práticas que valorizem

apenas o modelo padrão, pois o ensino atual da língua está atrelado aos usos reais

e também às reflexões.

... a reflexão sobre a língua deve ser feita por meio da investigação de fatos lingüísticos reais, em manifestações faladas e escritas autênticas, e por meio do confronto crítico e entre as teorias científicas mais recentes. ( BAGNO, 2008, p.15)

Durante a Observação que aconteceram em dias que não estavam marcados,

constatamos que durante o tempo que houve a observação em sala de aula, os

educadores trabalhavam com as variedades de forma dinâmica e reflexiva.

4.2.3 O preconceito lingüístico influencia no desenvolvimento do educando e

na evasão?

Page 39: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

49

EDUCADOR 2: Sim . Não é o único motivo para um baixo rendimento e para a

evasão, mas é um dos fatores”. EDUCADOR 3: “Sim. Muitos alunos sentem-se

envergonhados quando os seus saberes linguísticos são menosprezados e chegam

até a abandonar a escola por conta disso”. EDUCADOR 4: “Sim. O preconceito

lingüístico inibe o educando de se expressar por medo de cair no ridículo”.

EDUCADOR 7: “Sim. E quando não abandonam a escola, tornam-se alunos

tímidos, passivos e não alcançam o sucesso que alcançariam em uma outra

situação”.

É notório que na escola pesquisada, os diferentes falares são respeitados e

trabalhados adequadamente, por isso, não há espaço para o preconceito lingüístico

como fator responsável pela evasão e baixo rendimento dos educandos. Mesmo

assim, foi constado que 100 % dos educadores acreditam que o preconceito pode

ser uma das causas da evasão escolar onde o mesmo for praticado, 25 % ainda

acreditam que os alunos são impedidos de desenvolver a oralidade e criticidade por

conta disso. Para fundamentar essa discussão Aquino ( 1999) afirma:

... não é por acaso que muitas crianças deixam a escola ou se recusam a expandir sua capacidade lingüística já que sua fala, sua origem, a produtividade de sua língua materna não conseguem moedas nesse câmbio com o discurso escolar ( p. 223).

Embora reconheçam a influência negativa do preconceito lingüístico, os educadores

afirmaram que não assumem a postura preconceituosa e pudemos confirmar a

veracidade das falas dos mesmos através da Observação Participante, eles estão

com o pensamento em sintonia com os teóricos da linguística.

4.2.4 A diferença do ensino de Língua Portuguesa do passado e da atualidade.

EDUCADOR 1: “ O positivo do ensino da Língua Portuguesa no passado é que os

alunos aprendiam num espaço de tempo menor” e o negativo é que o ensino era

descontextualizado”. EDUCADOR 2: “O ponto negativo do passado era que o aluno

era obrigado a estudar muitas coisas que não eram úteis para eles, além disso a

discriminação era constante”. EDUCADOR 3: “O ponto positivo das idéias atuais é

que a língua está sendo ensinada de forma que tenha sentido para o educando

Page 40: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

50

”.EDUCADOR 4: “O positivo de hoje é que a língua perpassa pelos usos reais da

mesma através das variedades e gêneros textuais e a valorização dos falantes”.

75% dos educadores afirmaram que tanto no passado quanto na atualidade, existem

pontos positivos e negativos e 25% afirmaram que na atualidade está melhor. 25 %

afirmaram que o positivo no passado era que os educandos aprendiam em um

espaço menor de tempo. 100 % apontaram como negativo o modelo de ensino

tradicional, utilizando apenas a norma-padrão que sempre foi a língua da elite, dessa

forma o que se aprendia nem sempre era útil para o dia-a-dia, os conteúdos eram

trabalhados de maneira descontextualizada. O que imperava em sala de aula era o

uso exagerado da gramática normativa com as infinitas regras, além disso, quem

não falava de acordo com os dialetos não-padrão, eram corrigidos e tidos como

ignorantes que não sabiam falar. Buscamos subsídios em Possenti (1996) que vem

discordar da visão antiga de ensino da língua:

Saber falar significa saber uma língua. Saber uma língua significa saber uma gramática (...), saber uma gramática não significa saber de cor algumas regras que se aprendem na escola, ou saber fazer algumas análises morfológicas e sintáticas... ( , p. 3).

O pensamento anteriormente citado fundamenta a compreensão dos pesquisados

que acreditam na superioridade do ensino de hoje. 25 % dos professores

salientaram que hoje o ensino está bem melhor e não apresentaram pontos

negativos, os 50 % salientaram que o negativo da atualidade é que nem todos os

professores fazem uso das mudanças de maneira correta, ainda existem aqueles

que passam a acreditar que a norma padrão perdeu um pouco o seu valor. 25 %

afirmaram que os alunos de hoje passam muito mais tempo na escola para aprender

comparado ao passado. 100 % afirmaram que o positivo é que agora é mais fácil

entender a língua com a perspectiva dos usos reais da mesma e para isso são

explorados as variações lingüísticas e também os diversos gêneros.

A prioridade absoluta , no ensino de língua, dever ser dada às práticas de letramento, isto é, as práticas que possibilitem ao aprendiz uma plena inserção na cultua letrada, de modo que ele seja capaz de ler e de escrever textos dos mais diferentes gêneros que circulam na sociedade.( BAGNO, 2008, p. 13).

Page 41: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

51

Percebemos que os sujeitos da pesquisa estão em conformidade com o modelo

atual de ensino da Língua Portuguesa.

4.2.5 Trabalho em sala de aula com as Variações Linguísticas.

EDUCADOR 1: “Trabalho sempre com os vários dialetos através dos diversos

gêneros que me permite trabalhar o poema, música, charges, gibis”. EDUCADOR 2:

“Trabalho textos e outras situações de acordo com as falas dos alunos e outras

situações, sem esquecer o trabalho para o domínio da norma culta que acho

imprescindível para o aprendizado da Língua Portuguesa”. EDUCADOR 5:

“Trabalho sempre com variedades lingüísticas, utilizando também os gêneros para

complementar, dessa forma fica mais fácil compreender os usos reais da língua e

também combater o preconceito lingüístico”.EDUCADOR 7: “Sempre que surge a

oportunidade de trabalhar as variedades lingüísticas eu trabalho, partindo da

linguagem de cada um, enfatizando o adequado e inadequado diante dos discursos

e contextos”.

25% dos educadores afirmaram que sempre que surge a oportunidade de trabalhar

as diferentes forma de falar, eles aproveitam de maneira reflexiva e dinâmica. Os 75

% trabalham sempre aproveitando a oportunidade para refletir sobre a língua e

enfatizar que o interessante é saber adequar a fala ao momento e as pessoas do

discurso, pois não existe certo e errado, mais bonito ou mais feio, mais pobre ou

menos pobre, e sim adequado e inadequado. Em se tratando dos usos lingüísticos,

é interessante enfatizar que tanto a norma padrão quanto os dialetos não-padrão

possuem regras complexas.

Por mais distante que a linguagem do aluno esteja da variedade padrão, ela é extremamente complexa, articulada, longe de ser um falar rudimentar e pobre ( que o digam os linguistas que se dedicaram à tarefa de escrever variedades regionais e sociais, ou mesmo linguagem infantil).... ( POSSENTI, 1996, p83)

Essas respostas deixam nítido que esses educadores são conhecedores das idéias

da lingüística contemporânea, estão de acordo com os linguistas que se dedicam ao

estudo dessa ciência, além disso, na prática houve a comprovação das falas.

Page 42: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

52

4.2.6 Para você, as novas propostas para o ensino da língua portuguesa

possibilita um trabalho eficaz?

EDUCADOR 3 : “Sim. Possibilita, pois nem só as variedades de dialetos como

também os diversos gêneros nos possibilitam trabalhar aquilo que tem sentido para

o aluno”. EDUCADOR 4: “Sim. As novas propostas levam em consideração a

contextualização que é muito importante”.EDUCADOR 6 : “Sim. Trabalhar com a

perspectiva das variedades lingüísticas e também com os gêneros, é muito

gratificante e lúdico”.EDUCADOR 7: “Sim. Trabalhar com as variedades lingüísticas

é muito interessante, contribui de maneira significativa para o desenvolvimento da

criticidade do aluno.

100 % dos educadores confirmaram que as novas propostas para o ensino da língua

Portuguesa possibilitam um trabalho de qualidade, pois permitem trabalhar partindo

dos conhecimentos dos educandos, ou seja, a contextualização. Dessa forma torna-

se mais fácil compreender a língua, pois a mesma passa a ter sentido para o

educando, além disso, os diversos gêneros textuais e discursivos permitem trabalhar

com as variedades de forma produtiva e lúdica. É notório que trabalhar a língua

nessa perspectiva é estar fundamentado nos ideais de Freire que enfoca tanto a

contextualização, a problematização e a conscientização.

Quanto mais se problematizam os educandos, tanto mais se sentirão desafiados. Tão mais desafiados, quanto mais obrigados a responder ao desafio (...) , a compreensão resultante tende a tornar – se crescentemente crítica, por isto cada vez mais desalienada ( FREIRE, 1987, p.70).

Os educadores pesquisados apresentam conhecimentos referente ao pensameno

do teórico citado e também da proposta atual para o ensino da língua.

4.2.7 Você considera a norma – padrão a única forma certa de língua e a única

a ser ensinada na escola?

EDUCADOR 3: “Não. A norma-padrão ou língua padrão precisa ser explorada

minuciosamente na escola, pois precisamos da mesma para alcançar os espaços

elitizados: concursos, vestibulares e outros, mas as outras variedades precisam

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53

também ser trabalhadas e respeitadas”. EDUCADOR 5: “Não. Podemos dizer que

existem muitas línguas dentro de uma língua: são os chamados dialetos, não existe

um certo e outros errados, existe apenas o adequado a cada contexto de interação –

comunicativa”.

EDUCADOR 6: “Não. Uma língua é composta por muitos dialetos e todos devem

ser ensinados na escola de acordo com cada necessidade. A língua- padrão não é a

única certa, ela é a adequada para os momentos formais”. EDUCADOR 7 : “Não. A

língua padrão não é a única correta, ela é a adequada para as situações formais,

existem as outras variedades que são importantes para outras situações e devem

ser todas respeitadas, pois todas cumprem uma função, todas são complexas e

possuem lógica”.

100% dos professores afirmaram que não existe um único dialeto certo, todos os

dialetos desempenham suas funções, não esquecendo de enfatizar o adequado e

inadequado e não o “certo” e o “errado”. Outro fator importante é que deve ser

combatida a idéia de que um dialeto é superior ao outro, assim sendo, a língua

padrão ou norma padrão não é a única certa, mesmo sendo necessário ser

ensinada, pois ela é adequada para alguns momentos, como as situações formais

da escrita e fala, mas não é adequada para todos os momentos, além disso, é

necessário também trabalhar a reflexão da língua. Resumindo, todas as variedades

precisam ser trabalhadas.

... o papel da escola não é o de ensinar uma variedade no lugar da outra, mas de criar condições para que os alunos aprendem também as variedades que não conhecem, ou com as variedades que não conhecem, ou com as quais não têm familiaridade, aí incluída, claro, a que é peculiar de uma cultura mais “elaborada”. É um direito elementar do aluno ter acesso aos bens culturais da sociedade. (POSSENTI, 1996,p83)

Ainda discutindo o ensino da língua padrão, Bagno ( 2006) pontua:

Em suma, sou a favor do ensino da norma-padrão, mas de um ensino crítico da norma-padrão, de um ensino que mostre que essa norma-padrão, não tem, linguísticamente, nada de mais bonito, de mais lógico, de mais coerente que as variedades usadas pelos falantes menos cultos ou analfabetos ( BAGNO, 2006,p.185).

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54

Vale enfatizar que as idéias dos professores são condizentes com as dos teóricos na

teoria e na prática.

4.2.8 Qual a sua postura diante de um educando que tenha uma forma de falar

totalmente diferente da norma – padrão ou diferente de todos os educandos?

EDUCADOR 1: “Procuro trabalhar as variedades mostrando que todas são

importantes de acordo com o contexto de comunicação e que a variação não

acontece apenas no meio rural, mas em todas as classes”. EDUCADOR 2 : “Enfatizo

que falar diferente não é falar errado, pois a língua é para ser adequada à situação,

assim como usamos uma roupa para cada situação”. EDUCADOR 5: “Busco

sempre trabalhar o adequado e inadequado, enfatizando que falar outros dialetos

que não é o padrão não significa falar errado, por isso, é necessário que todos

respeite a maneira diferente da fala de cada um”. EDUCADOR 8 : “Procuro sempre

trabalhar na perspectiva do adequado e inadequado, conscientizando – os que a

sociedade ainda atribui valores aos indivíduos de acordo com a fala de cada um”.

100 % enfatizaram que sempre trabalham com conscientização mostrando que falar

diferente não é falar errado e sim adequado ou inadequado, mas também mostram

aos alunos que a sociedade não aceita dessa forma, pois a mesma atribui valores às

pessoas de acordo com o nível cultural e econômico de cada falante. Essas

compreensões estão de acordo com o linguista Cagliari (2001) que afirma:

A escola também deve mostrar aos alunos que a sociedade atribui valores sociais diferentes aos diferentes modos de falar a língua e que esses valores, embora se baseiam em preconceitos e falsas interpretações do certo e errado lingüístico, tem conseqüências econômicas, políticas e sociais muito sérias para as pessoas p.82 – 83).

Diante do exposto, é preciso enfatizar que as variedades existem não apenas no

meio rural ou entre as pessoas menos esclarecidas, mas está presente em todas as

classes, sendo apenas adequada de acordo com as exigências de cada contexto e

situação . Bagno (2008):

É preciso evitar a prática distorcida de apresentar a variação como se ela existisse apenas nos meios rurais ou menos escolarizados, como se também não houvesse variação ( e mudança) lingüística entre os falantes

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urbanos, socialmente prestigiados e altamente escolarizados, inclusive nos gêneros escritos mais monitorados (p.16).

Para os resultados das entrevistas fossem comprovados, utilizamos Observação

Participante e por intermédio da mesma, percebemos que os discursos dos

professores são condizentes com a prática, além de apresentarem o conhecimento

das teorias que regem o ensino da Língua Portuguesa na atualidade, dessa forma a

comunidade estudantil só tem a ganhar e o restante da sociedade também.

A pranta dos brasileiros e o ingrês de Camões

Na escola pesquisada, mesmo de maneira rara ainda foi possível encontrar alguém

que fale pranta no lugar de planta, isso para muitos pode parecer ridículo, mas a

verdade é que essa pessoa está usando a língua da forma que era usada há muito

tempo em Portugal, na época em que Camões ( escritor renomado do período

literário Classicismo português) falava com r as palavras que hoje no português

brasileiro falamos com l, ele seguia o modelo de Língua Portuguesa da época que

apresentava forte ligação com o Latim, dessa forma, também era usado ingrês e não

inglês como é utilizado atualmente no Brasil, nesse tempo era correto e fazia parte

da norma culta usar o r no lugar que hoje utilizamos l. pela fato de toda língua variar

no tempo e no espaço, ocorreu uma mudança na Língua Portuguesa denominada de

rotacismo. Como afirma Bagno (2006):

Existe na língua Portuguesa uma tendência natural em transformar R em L dos encontros consonantais, e o fenômeno tem até um nome complicado: rotacismo (... ) o que era l em latim (...) permaneceu L em francês e em espanhol, mas em Português transformou – se em R... (p.46)

O rotacismo fez parte da formação da Língua Portuguesa e ainda é marcante nas

classes sociais estigmatizadas, daí surgiu o preconceito contra os falantes que às

vezes são tachados de incapazes de falar corretamente a língua. Esse fenômeno já

estava presente na obra “Os Lusíadas” do poeta português Luís de Camões, escrita

há muito tempo, durante o período do Classicismo. O fragmento da obra citada

abaixo, enfatiza a rotacização do l nos encontros consonantais. “Era este Ingrês

Page 46: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

56

potente( VI, 46). Onde o profeta jaz, que a lei pubrica ( VII, 34). Doenças, frechas,

trovões ardentes ( X, 46). Nas ilhas de maldivas nasce a pranta (X, 136).( BAGNO,

2008, p. 45)”.

O episódio do rotacismo que aconteceu na sala de aula durante a pesquisa, foi

trabalhado pela educadora de maneira interessante, pois a explicação para os

educandos foi uma novidade e criou situações de aprendizagem de maneira criativa

e lúdica. É trabalhando a língua do aluno que a aprendizagem acontece com mais

facilidade e de forma prazerosa para os educandos. Os educadores pesquisados

estão trilhando o caminho certo e os resultados certamente serão gratificantes.

Page 47: Monografia Maria Aparecida Pedagogia 2011

57

FINAL DA JORNADA

Trabalhar a temática Variações Lingüísticas no ensino fundamental possibilitou-nos

conhecer mais profundamente as suas especificidades e estimulou a reflexão sobre

a importância da mesma no contexto educacional, contribuindo para a socialização

do homem na sua relação com o mundo.

É entendido que por muitos anos perdurou a prática tradicional nas aulas de Língua

Portuguesa sem atentar para a contextualização e ainda há resquícios dessa prática

em alguns contextos, porém durante a pesquisa, ficou evidenciado que no lócus

onde a mesma foi executada, a prática dos educadores pesquisados está em

conexão com a teoria que rege o ensino da Língua Portuguesa na atualidade, ou

seja, os educadores trabalham as Variedades Linguísticas valorizando-as e também

os falantes, combatendo assim o preconceito lingüístico que ainda existe em outros

espaços. Foi constatado que a norma-padrão não é encarada como única forma

certa de utilizar a língua, mas é tão importante quanto os dialetos ou línguas não-

padrão que são utilizadas na fala.

Durante as aulas observadas houve momentos em que os educadores trabalhavam

a norma-padrão, outros em que foram comparados textos em língua normativa com

poemas em língua não-padrão enfatizando a importância dos mesmos para cada

contexto em que estejam adequados, produção de textos adequados a

determinadas realidades e quando surgiam formas diferentes na fala dos alunos

eram aproveitadas para o enriquecimento da aula. Em nenhum momento aconteceu

alguma forma de discriminação contra os dialetos dos educandos.

O ensino produtivo e eficaz é aquele que trabalha o uso real da língua, dentre eles

as gramáticas, a valorização dos diferentes dialetos para que assim haja um ensino

mais igualitário e o respeito à verdadeira democracia, assim estaremos bebendo da

fonte Freireana com suas idéias de libertação e transformação social, tendo o

educando como agente produtor do conhecimento e das transformações com a

mediação do educador.

No novo perfil de Professor de Língua Portuguesa não há espaço para professor

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58

repetidor, passivo que espera formas prontas, que espera que lhe indique

exatamente como deve agir. O momento é para aqueles educadores-pesquisadores,

atualizados com as demandas do momento para que assim estejam preparados

para mostrar ao aluno os conhecimentos mais necessários para a construção da

cidadania e a preparação para os desafios da vida no campo profissional.

É pertinente que o educador de Língua Portuguesa prepare os educandos desde o

ensino fundamental visando a aproximação dos mesmos com as exigências da

sociedade, aproveitando o máximo a riqueza dos diversos dialetos que podemos

chamar de línguas brasileiras, sem esquecer que a língua-padrão também é

importante, pois é através da mesma que conseguimos a inserção na sociedade

letrada e no campo profissional.

É de fundamental importância a compreensão da formação e evolução da nossa

língua para que a mesma possa ter sentido para quem estuda. Para que isso

aconteça é imprescindível que o educador enfatize que a Língua Portuguesa do

Brasil, surgiu a partir da junção do Português de Portugal, das línguas indígenas e

das africanas, posteriormente de outras nações que imigraram para o Brasil,

desmascarando o mito da unidade linguística no Brasil. É necessário capacitar o

cidadão brasileiro para o exercício fluente, adequado e relevante da linguagem

verbal: oral e escrita. Além disso, o educador precisa lutar contra o preconceito

lingüístico de maneira que compreenda e também estimule os educandos a

refletirem sobre essa questão que não é um problema linguístico e sim social.

Na prática educativa de um educador de Língua Portuguesa, precisa estar atrelada

ao estudo, pesquisa e reflexão da língua tanto por parte dele quanto por parte do

aluno. O educador produz conhecimento com o aluno e não para o aluno, é aquele

que descobre e redescobre sempre, construindo, desconstruindo e reconstruindo.

Nessa sociedade do conhecimento os educandos precisam ser leitores críticos e

pessoas capazes de expressar-se por meio da escrita e fala para assumir a palavra

e serem autores de uma nova ordem das coisas.

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Para complementar, salientamos que vivenciar na prática as teorias estudadas é de

fundamental importância para a vida profissional de um educador que está iniciando

nessa jornada árdua e ao mesmo tempo gratificante. Resumindo, a pesquisa de

campo foi uma etapa muito importante e necessária para a experiência do educador

que estar deixando a academia para adentrar em um mundo de desafios e

possibilidades. Foi desafiante, produtiva, cansativa, mas acima de tudo um momento

de muitas aprendizagens e reflexões.

Diante de tudo isso, enfatizamos que essa etapa acadêmica além de ter sido

enriquecedora foi também uma experiência prazerosa, trabalhamos com mais

dedicação e produtividade porque produzimos a partir de situações com as quais

temos afinidades. A questão de pesquisa foi respondida satisfatoriamente e

possibilitou-nos criar novas inquietações que poderão ser sanadas em um outro

momento, pois sabemos que o conhecimento é inacabado assim como o próprio

homem, dessa forma nunca chegaremos a uma verdade absoluta e imutável, nessa

jornada sempre encontraremos situações que exigirão afirmar-confirmar-reafirmar

as verdades.

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