MONOGRAFIA CORRIGIDA

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ESCOLA NACIONAL FLORESTAN FERNANDES – ENFF UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA – UFJF CURSO ESPECIALIZAÇÃO EM ESTUDOS LATINO – AMERICANOS TURMA IV SEBASTIÃO ANTONIO DE ABREU APROPRIAÇÃO DE TECNOLOGIA NA AGRICULTURA CAMPONESA: A EXPERIENCIA EM ASSENTAMENTOS DO MST Projeto de Pesquisa apresentado para qualificação como requisito parcial para o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Estudos Latino Americanos, da Escola Nacional Florestan Fernandes em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora – MG, 1

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ESCOLA NACIONAL FLORESTAN FERNANDES – ENFF

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA – UFJF

CURSO ESPECIALIZAÇÃO EM ESTUDOS LATINO – AMERICANOS

TURMA IV

SEBASTIÃO ANTONIO DE ABREU

APROPRIAÇÃO DE TECNOLOGIA NA AGRICULTURA CAMPONESA: A EXPERIENCIA EM ASSENTAMENTOS DO MST

Projeto de Pesquisa apresentado para qualificação como requisito parcial para o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Estudos Latino Americanos, da Escola Nacional Florestan Fernandes em parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora – MG, orientado pelo Professor Francisco Antonio de Abreu Neto, na área de concentração: Tecnologia Linha de Pesquisa: Agro ecologia.

JUIZ DE FORA - MGJANEIRO - 2014

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1. DELIMITAÇÃO DO PROJETO, HIPÓTESES

Ao estudar as limitações e duvidas a respeito da disseminação da Agro ecologia, ALTIERI (2012), afirma que:

Apesar das evidências e da crescente conscientização sobre as vantagens da Agro ecologia, essa ciência ainda não teve o devido alcance. Então por que a Agro ecologia não se disseminou mais rapidamente e como ela pode ser multiplicada e adotada de forma mais ampla?

Esse problema coloca como hipótese de pesquisa que as diversas causas para a não apropriação generalizada ou mais intensa da tecnologia agro ecológica pelos camponeses são motivadas por:- a tecnologia difundida junto ao camponês não resulta em diminuição do tempo trabalho, às vezes acontece o contrario, onde a prática recomendada aumenta o tempo de trabalho para a família camponesa;Se na relação operário/patrão a técnica empregada objetiva a redução do tempo trabalho, aumentando a exploração do trabalhador pelo aumento da mais valia, para o camponês que detém o meio de produção (terra), a redução do tempo trabalho é fator libertador para execução de outras atividades econômicas, culturais, de lazer, educacionais, etc.- problemas metodológicos, divulgação da tecnologia, que contribuem para a não participação efetiva dos camponeses na sua apropriação.- o pouco entendimento da agricultura camponesa pela maioria das entidades e técnicos que divulgam a tecnologia agro ecológica. Observa-se uma carência de conhecimentos a respeito de um tipo de agricultura que tem um histórico secular de resistência ao latifúndio, de preservação do espaço ambiental e como sujeito de uma construção tecnológica própria, através da vivencia, experimentação e assimilação da realidade onde está inserido e em estado de observação contínua.

2. TRABALHO DE CAMPO2.1 Entrevistas dirigidas

. Sr Valter Borges – Pequeno produtor de Monte Carmelo - dedicou-se à produção de leite até sofrer um acidente. A partir daí passou a explorar a pecuária de recria de machos e fêmeas. Faremos um comparativo do tempo de trabalho da pecuária de leite com a exploração de recria, bem como a analise econômica das duas atividades.

. Sr Manoel – Assentado do PA Emiliano Zapata, Uberlândia – dedica-se à cria e recria de gado nelore. Tal atividade permite ao assentado a militância para o MST, viagens, e outras ações. Analisaremos também o tempo trabalho e rendimento econômico da atividade.

2.2 Entrevistas dirigidas – por amostragem

Elaboração de um roteiro para as entrevistas contemplando os seguintes itens:- dados pessoais, do lote, explorações principais;- como teve conhecimento da agro ecologia;

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- práticas agro ecológicas que aplicou, resultados, sucesso ou frustração, motivos;- práticas agro ecológicas que viu outros assentados aplicar, sucesso ou frustração, motivos;- avaliação junto aos assentados dos principais motivos da aplicação ou não das diversas praticas agro ecológicas de que tem conhecimento;- Avaliação da metodologia empregada para divulgação de práticas agro ecológicas.O questionário será aplicado a vinte famílias de assentados tirados em amostragem do universo de 05 assentamentos do Triangulo Mineiro e da região da Grande BH. Antes da aplicação do questionário será realizada uma reunião com os todos assentados do PA para explicar os objetivos da monografia, o porquê do questionário, etc.

2.3 Avaliação de diversas práticas agro ecológicas

Realizar uma avaliação de campo, dentro da realidade camponesa, do tempo – trabalho de algumas praticas agro ecológicas citadas no capitulo 4: preparo do solo, nutrição vegetal, manejo de pragas e doenças, manejo de invasoras, dentre outras.

3. OBJETIVOS GERAIS, ESPECÍFICOS

OBJETIVOS GERAIS

Pesquisar quais os principais entraves na adoção da agro ecologia por parte dos camponeses, em assentamentos de reforma agrária do Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra.Estudar o embasamento teórico da tecnologia e sua apropriação para melhor compreensão dos embates entre a agricultura camponesa e a agro ecologia e pesquisar a nível regional a prevalência ou não das hipóteses levantadas.

OBJETIVOS ESPECIFICOS- Identificar experiências exitosas e frustradas nos Assentamentos de Reforma Agrária em termos de Agricultura Orgânica e Agro ecológica;- Verificar através de uma pesquisa de campo as causas dos acertos e erros na implantação de explorações orgânicas e agro ecológicas nos Assentamentos;- Identificar na literatura, junto aos assentados ou através de casos concretos, possíveis tecnologias que diminuam o tempo de trabalho da mão de obra do camponês e que sejam facilitadoras do trabalho estafante da atividade agrícola;

4. REFERENCIAL TEÓRICO, PRINCIPAIS CONCEITOS, AUTORES:

1. CONCEITOS DE TECNOLOGIA – RELAÇÃO DE EXPLORAÇÃO ENTRE CAPITALISTA E O PROLETÁRIO?

A tecnologia não está imune a influencias políticas, ideológicas, de dominação econômica, social e cultural. Ao contrário, a tecnologia, como forma de aumento da produtividade e conseqüente aumento da produção de mais valia, pode estar impregnada de todos os vícios capitalistas, sendo importante fator de alienação do ser humano.

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Gaudencio Frigotto, ao tratar do tema, adverte:Mais do que tratar da compreensão etimológica ou do senso comum do termo ‘tecnologia’, torna-se crucial, no atual contexto histórico do capitalismo, entendê-la como uma prática social cujo sentido e significado econômico, político, social, cultural e educacional se definem dentro das relações de poder entre as classes sociais. (FRIGOTTO, 2009).

Estas relações de poder é que definirão o sentido da tecnologia empregada. Na sociedade dominada por um capitalismo neoliberal, selvagem e destruidor da natureza, a aplicação da ciência terá a mesma conotação negativa. A esperança positivista de que com o desenvolvimento das ciências haveria a plenitude da evolução econômica, política, social e cultural da humanidade é negada justamente por estas relações de poder e de dominação das classes dominantes. Esta visão , no entanto, não pode ser o fator dominante ao ser analisada a tecnologia. Na evolução do pensamento de Marx e Engels sobre o tema tecnologia, há um encadeamento de definições considerando-a como um meio de economizar trabalho, concorrente mais poderoso do trabalhador, desvalorização da força de trabalho, fator de redução de salários e de enfraquecimento de lutas por melhores condições de vida e de trabalho, substituição do trabalhador, negação da subjetividade do homem que trabalha.Ao formular a noção da mais valia Marx compreende que a maquinaria tem como finalidade a redução apenas do trabalho necessário.A propriedade privada, a apropriação exclusiva do capitalista sobre a tecnologia, é que seriam os fatores predominantes desta visão negativista.Finalizando suas considerações, Gaudêncio Frigotto conclui:

O embate é, pois, para a superação da propriedade privada apropriada dos meios e instrumentos de produção e de vida pelo sistema capital para que a ‘tecnologia’ signifique não meio de ampliação da exploração do trabalho, de mutilação de direitos, de vidas e do meio-ambiente, mas possa se constituir efetivamente em extensão de sentidos e membros humanos para dilatar o tempo livre; vale dizer, tempo para desenvolvimento das qualidades propriamente humanas para todos os humanos. Uma ‘tecnologia” de cuidado com a vida e, por conseqüência com as bases materiais e ambientais da mesma. (FRIGOTTO, 2009).

Nas relações igualitárias entre as classes subalternas, entre camponeses, por exemplo, a tecnologia pode ser importante fator de economia de tempo de trabalho, possibilitando aos mesmos o espaço para o lazer, a cultura, ao trabalho coletivo, dentre outras atividades.

2. TECNOLOGIA NO MUNDO RURAL – O AGRONEGÓCIOAs primeiras menções à agricultura mono cultural, consumidora de agrotóxicos, fertilizantes químicos e de altos empréstimos governamentais descreviam-na como “agribusiness” ou “agricultura verde”.Para Carlos Valter Porto Gonçalves, o termo “agricultura verde“ não foi equivocado ou desprovido de sentido: pelo contrário, fazia parte de uma estratégia política para disseminar a idéia de um tipo de agricultura que “produziria alimentos para toda a humanidade com baixo impacto ambiental (verde)”...Contrapondo a esta inverdade, o autor é citado por Araujo:

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(...) a proposta de desenvolvimento agrícola defendida pelos adeptos da chamada Revolução Verde desconsidera o conhecimento e as técnicas próprias das comunidades tradicionais, sua relação com a terra, com as matas e com os animais que povoam os mais variadas biomas. Práticas agrícolas praticamente independentes de recursos externos como os sistemas consorciados de cultivo, adubação verde e terraceamentos, antes praticadas por populações tradicionais, foram desprezadas em prol da implantação de extensas áreas de monoculturas sustentadas por enormes cargas de insumos químicos. (ARAUJO, 2013).

Este tipo de agricultura, caracterizado pela mono cultura, uso intensivo de fertilizantes altamente solúveis, devastação do meio ambiente e principalmente pelo uso indiscriminado de agrotóxicos, foi fortemente incentivado pelas políticas governamentais da ditadura militar e por todos os governos, sem exceção, após a “redemocratização” do país. Os agro tóxicos foram desenvolvidos durante a Primeira Guerra Mundial e extremamente utilizados na Segunda Guerra Mundial, como arma química. Após o término da guerra, estes passaram a ser usados como pesticidas agrícolas.O primeiro composto dessa classe, denominado DDT, foi fabricado em 1874. Contudo, foi apenas em 1939 que foram evidenciadas suas propriedades inseticidas. A partir de então, o DDT era a principal arma no combate a diversas pragas, até descobrir-se que ele, assim como todos os organoclorados, é um composto cancerígeno, teratogênico e cumulativo no organismo.No período pós-guerra, os vencedores programavam uma ampliação dos seus negócios, partindo das indústrias que se desenvolveram durante a guerra, sendo encontrada dentre elas, a indústria química. A disseminação do uso dos agrotóxicos no Brasil teve o “apoio” impositivo do governo e das fabricas, sendo que o financiamento bancário para o custeio agrícola só era concedido se o agricultor adquirisse também a semente hibrida, o agrotóxico e o adubo, num pacote chamado à época de “insumos modernos”. A partir dos anos 1970, diversas fábricas mundiais foram transferidas para o Brasil.A aplicação da ciência no meio rural, no Brasil, acontece após a Revolução Industrial, quando se inicia a introdução de maquinas e insumos destinados a contrabalançar o êxodo rural, principalmente após a revolução de 1930. Neste período, o governo Vargas inicia o incentivo à industrialização e estabelece as normas para o trabalho urbano, desprezando o trabalhador rural, que passa então a migrar para as cidades em busca de novas oportunidades. Neste período, os latifundiários começam a mecanizar lavouras, substituindo a mão de obra por maquinas e iniciando o processo de eliminação de áreas anexas às sedes das grandes propriedades destinadas ao cultivo de subsistência das famílias camponesas, aumentando assim a saída destas famílias para o meio urbano.Em 1939 é introduzida a semente de milho hibrido no Brasil, inaugurando assim a introdução de praticas que resultariam na perda da diversidade genética e na monopolização da oferta de sementes por parte das empresas transnacionais.Passariam quase quarenta anos para que os latifundiários fossem o alvo preferido das empresas multinacionais de insumos e maquinas agrícolas que infestariam o campo brasileiro.

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A partir da década de 1970 foram introduzidas no Brasil as teorias e praticas do agrônomo norte americano Norman Borlaug que preparou o terreno para as empresas multinacionais dominarem e monopolizarem o mercado com novos cultivares, adubação química, mecanização e agrotóxicos. O primeiro ensaio em larga escala da introdução da “revolução verde” aconteceu em 1974 no município de São Gotardo, numa área desapropriada pela ditadura militar de 50.000 há. O dono deste latifúndio, Antônio Luciano Pereira Filho*, inicialmente lutou contra a perda das terras, mas no final, com a valorização do cerrado, reconheceu que teve lucros, com o restante de terras que lhe coube. O autor da “façanha”, o então Ministro da Agricultura Allyson Paulinelli, esclareceu à época que havendo necessidade de uma área suficiente para abrigar cooperativas e “assentados”, para introdução da “moderna” agricultura, não houve da parte do governo militar reservas quanto à desapropriação.O Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP) foi implantado em 1973 em uma área entre os municípios de São Gotardo, Rio Paranaíba, Ibiá e Campos Altos, Foi o primeiro projeto de colonização do Cerrado implantado no país a partir da década de 1970, servindo de modelo para o Estado brasileiro na elaboração de outros projetos em regiões desse bioma.O projeto instalado pelo Ministério da Agricultura beneficiou cerca de 200 cooperados da Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC), vindos principalmente de São Paulo, a maioria descendentes de japoneses. As lavouras iniciais foram de café, soja, e após alguns anos, milho e hortaliças. Estava dado o passo inicial para o desmatamento em larga escala do cerrado, inclusive com o pioneirismo de não deixar áreas de reserva florestal, sendo consideradas as áreas circunvizinhas como a reserva legal do projeto.Nesta época já existiam diversas concepções para introduzir os novos ditames da agricultura através de diversos programas governamentais destinados aos grandes produtores: Programa de Credito Integrado (PCI), Programa para o Desenvolvimento dos Cerrados (Polocentro), Conselho de Desenvolvimento da Pecuária (CONDEPE), Programa Nacional de Pastagens (PRONAP), Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento dos Cerrados (PRODECER), dentre outros.Estes programas previam o financiamento a longo prazo e juros baixos para desmatamentos, principalmente do cerrado, a introdução de “técnicas modernas” traduzidas como a aplicação de agrotóxicos, a substituição de sementes crioulas pelas hibridas e de introdução de sementes de pastagens importadas (braquiárias principalmente), e a mecanização intensiva. Através da introdução de maquinas foi incrementada a mais valia relativa, através da contração de menor numero detrabalhadores.

** Nasceu em São Gotardo, no Alto Paranaíba, se transferiu para Belo Horizonte, onde cursou a faculdade de medicina (nunca exerceu a profissão). Travou relações com políticos importantes, como Juscelino Kubitschek e chegou a ser deputado federal, Ao morrer em 1990, aos 76 anos de idade, Antônio Luciano Pereira Filho deixou mulher, três filhos, uma fortuna de 3 bilhões de dólares e uma tremenda confusão sucessória.

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A principal característica da agricultura que assim surgia no Brasil era o mono cultivo, apesar de não ser novidade, levou a extremos que nem a “plantation” ousou utilizar. Diferentemente da monocultura do agro negocio, a plantation, segundo Jacob Gorender, apresentava um nível técnico rudimentar na produção do café, cana, fumo ou outras lavouras mono cultivadas, mas no aspecto de beneficiamento envolvia notável complexidade nos engenhos de açúcar, no armazenamento, transporte, etc. Acresce a tal especificidade a necessidade do emprego de grande parte da mão de obra escrava para a produção de alimentos para os próprios escravos e as famílias proprietárias. Já o agro negocio especializa-se via de regra, a produzir apenas um produto, sem nenhuma diversidade de explorações e com a tendência de terceirizar todas as outras atividades “meio”.Na perspectiva da ditadura militar, também os latifundiários foram beneficiados pelo descumprimento das legislações trabalhistas, que contratavam a titulo precário os trabalhadores volantes que eles mesmos haviam expulsado do campo. Esta contração era feita na condição de diarista, sem quaisquer direitos, sem vínculos empregatícios, com baixos salários e em péssimas condições de segurança no trabalho. Conforme pode ser visualizado no gráfico abaixo, houve desta vez intensa saída do campo dos trabalhadores rurais e pequenos produtores que engrossaram as periferias das cidades próximas, passando a sobreviver como “bóias frias”.Tabela 1. Total da População Rural - Fonte: IBGE (vários censos demográficos)

Total da População (%)

Participação da População Rural no Total da População (%)

Taxa de Crescimento (%)

1950 38.291.775 63,8 0,121960 38.767.423 54,6 0,571970 41.054.053 44,1 -0,641980 38.509.893 32,4 -0,81

Desta forma, à medida que o agronegócio (na época conhecido como “agribusiness”) se firmava, esta expansão era acompanhada pela presença de multinacionais dos insumos e maquinarias. A principio instaladas nas regiões do cerrado e posteriormente em todo o Brasil, estas empresas foram incorporando todas as organizações nacionais que trabalhavam no setor, a ponto de hoje não haver competidoras nacionais neste ramo de negócio.Esta presença das indústrias na agricultura foi prevista por Karl Marx:

A indústria moderna atua na agricultura mais revolucionariamente que em qualquer outro setor, ao destruir o baluarte da velha sociedade, o camponês, substituindo pelo trabalhador assalariado.As necessidades de transformação social e a oposição de classes no campo são assim equiparadas às da cidade. Os métodos rotineiros e irracionais da agricultura são substituídos pelas aplicações conscientes, tecnológicas da ciência. (MARX, 1982, p. 577).

A utilização indiscriminada de agrotóxicos foi o fator preponderante da escalada da agricultura de exportação no Brasil. Trabalhadores e consumidores intoxicados, o meio ambiente, os cursos d’água e o lençol freático são alguns dos danos causados pela tecnologia importada.

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Com a introdução dos cultivares híbridos, iniciou-se uma verdadeira batalha para eliminar as sementes nativas ou de variedades, sendo que há 17 anos, através da Lei de Patentes dos seres vivos nº 9.279/96, iniciava outra investida das multinacionais para concretizar a monopolização da venda de sementes. Após a apropriação desta lei, a legalização do uso dos transgênicos foi apenas mais um passo nesta seqüência. Com os grandes produtores plantando clandestinamente sementes transgênicas, principalmente a soja, o “lobby” da bancada ruralista conseguiu aprovar em 2005 a Lei de Biossegurança que validava o uso dos transgênicos.Resumindo, o agronegócio tem as seguintes características:- Sistema de produção de mono culturas;- Produção de produtos agrícolas basicamente para exportação;- Mecanização intensiva no preparo do solo;- Sistema de plantio direto com alta utilização de herbicidas;- Uso de sementes transgênicas;- Utilização intensiva de adubos químicos altamente solúveis;- Aplicação desregrada de agrotóxicos, muitos deles já proibidos nos países de origem;- Colheitas mecanizadas;- Super exploração do trabalho;- A contaminação do meio ambiente e a destruição de mananciais e cursos d água;- Não possui sustentabilidade econômica e sobrevive à custa de intervenções políticas mantidas pelo Estado na forma de subsídios, perdão de dívidas, juros baixos, etc.Abordando estas peculiaridades, João Edmilson Fabrini conclui:

Entre os movimentos sociais e teóricos progressistas, o agronegócio também é entendido como empresas agropecuárias modernas e produtivas, mas responsável pela “exclusão”, miséria, exploração, pobreza, degradação do ambiente, violência, dentre outras barbáries, em contraposição ao latifúndio atrasado que pouco produzia. Enquanto o agronegócio geraria a “exclusão” pela produção, o latifúndio geraria pela não-produção. (FABRINI, 2008).

3. TECNOLOGIA CAMPONESA – ANTROPOFAGIA X ANIQUILAÇÃO

Para a identificação e estudo da tecnologia camponesa, faz-se necessário situar o conceito de camponês. Ao conceituar o termo camponês, Teodor Shanin começa a caracterizá-lo nas formas de ocupação autônoma, de trabalho familiar, com controle dos meios de produção, de subsistência, de pluralidade nas ocupações e pela auto exploração. Também suas atividades se moldam por um sistema de exploração ecológico e equilibrado entre a agricultura, o extrativismo e o artesanato.Continuando, o autor relata como típicos em todos os países a hegemonia da reflexão tradicional e conformista, o papel da tradição oral, as tendências ideológicas camponesas e dos padrões de cooperação, confrontação e liderança políticas. Nas relações entre seus pares e dominadores, situam-se sistemas de intermediação e apadrinhamento, a tendência a padrões de interações políticas com os proprietários de terra e representantes das burocracias externas. Também universais são os padrões internos típicos de interação e/ou exploração, dentro das pequenas unidades compostas, que os camponeses geralmente compartilham com os

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trabalhadores rurais, artesãos, pequenos burocratas e pequenos capitalistas, que são característicos e altamente repetitivos, assim como a posição subserviente geral das unidades sociais camponesas, dentro da rede mais ampla de dominação política, econômica e cultural. O ritmo de vida da aldeia e do grupo doméstico camponês reflete, nitidamente, os principais ciclos “naturais”, ou seja, o ano agrícola.Concluindo, o professor russo afirma:

(...) a comercialização tem resultado, em geral, inicialmente em um estágio de “agriculturação” do camponês, fazendo com que suas tarefas não-agrícolas anteriores sejam assumidas pela produção industrial em massa. Do outro lado, a coletivização levou a uma variedade de padrões especificamente camponeses e de ação e reação, por exemplo, os padrões diferenciais de produção no terreno doméstico em oposição à área coletiva e seu impacto sobre as atuais esferas sociais da agricultura. Pode-se também mencionar, aqui, a recorrente surpresa diante da tenacidade das formas sociais camponesas (o “problema do não desaparecimento e mesmo a recamponesização de algumas áreas”).

Apesar de todas as previsões sobre o seu desaparecimento, os pequenos produtores no Brasil perfazem um total de 90,41% das categorias de agricultores, apesar de ocupar apenas 21,42% das áreas, conforme quadro abaixo:Tabela 2. Número e área total dos estabelecimentos agropecuários com declaração de área, conforme três estratos de área e condição do produtor. Censo Agropecuário, 2006.

Condição do produtor

Menos de 10 há de 10 há a 100 há Mais de 100 ha Total

N° Área(1000 há)

N° Área(1000 há)

N° Área(1000 há)

N° Área(1000 há)

Proprietário 1.787.949 6.285 1.724.015 55.615 434.312 244.948 3.946.276 306.848Arrendatário 156.836 361 58.170 1.811 15.104 6.834 230.110 9.005Parceiro 124.512 252 14.993 440 3.026 1.293 142.531 1.985Ocupante 407.774 901 174.399 5.027 19.375 6.175 601.548 12.104TOTAL 2.477.071 7.799 1.971.577 62.893 471.817 259.250 4.920.465 329.941

O último censo agropecuário, realizado em 1996, aponta que a pequena agricultura tem uma significativa colaboração na produção total de alimentos e emprega a grande maioria dos agricultores, apesar das políticas públicas beneficiarem em particular os latifundiários, em detrimento dos pequenos agricultores, que quase sempre ficam sem apoio institucional.Apesar destes benefícios governamentais, o agronegócio produz basicamente produtos para exportação, os pequenos agricultores produzem os alimentos que são à base da alimentação dos brasileiros, conforme relação abaixo:Dados do censo agropecuário do IBGE - 2006: Pecuária:Bovinos – 38%Eqüinos- 59%Asininos – 87%Muares – 63%

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Caprinos – 78%Coelhos – 93%Suínos – 87%Ovinos – 56%Aves – 88%Agricultura:Mandioca – 92%Feijão- 79%Milho - 54%Tomate - 76%Trigo - 61%Banana - 85%Cacau- 75%Café- 70%Caju- 72%Laranja - 51%Mamão- 60%Extrativismo Borracha - 60%Carvão vegetal - 50%Castanha do Brasil - 79%Erva mate - 68% Outro dado importante é o comparativo entre o emprego de mão de obra entre o latifúndio e a agricultura camponesa. Segundo os dados do IBGE – 2006, na agricultura as pequenas propriedades empregavam 86,6% da mão de obra, na bovinocultura, 37,7%, e na suinocultura e avicultura, 87% do total da mão de obra rural empregada no país.Estes camponeses, no tocante à tecnologia, também têm no Brasil uma epopéia singular.Ao contrario da submissão acrítica do latifúndio à tecnologia importada e predatória, o camponês, ao lutar contra sua aniquilação desde os tempos de colônia, magistralmente soube resistir através de uma ação antropofágica sobre as tecnologias adotadas pelos coronéis e colonizadores.Ser antropofágico, segundo Maria Augusta Fonseca, em sua biografia sobre Oswald de Andrade é:

“(...) ser tupi, é voltar às origens do homem primitivo, devorando e assimilando sua cultura. Por isso a antropofagia é um ritual que deve ser entendido no nível da valorização que lhe dava o índio, no sentido de comer para assimilar as qualidades do guerreiro ou da pessoa morta. Na paródia de Hamlet ('tupi or not tupi, that's the question), portanto, não se coloca a dúvida, mas uma justificativa de escolha, pois entre ser ou não (tupi) a opção é pelo primeiro. O não ser implica a aceitação da cultura importada, contra a qual Oswald lança o verbo. Implica aceitar a 'catequese' da 'raça superior' que impôs ao índio brasileiro, ao índio da América, sua moral repressora, castrando sua cultura, 'vestindo suas vergonhas'.” (FONSECA, 1982).

Com relação a esta apropriação da tecnologia, coube ao camponês a observação da tecnologia empregada pelo latifundiário, uma vez que não foram direcionadas para ele a pesquisa e os ensinamentos externos da universidade e outras fontes. Ao longo dos

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anos, trabalhando para os donos das propriedades como meeiro, parceiro, arrendatário ou assalariado, ele foi observando as técnicas empregadas e quando tinha a oportunidade de ter uma área própria ou arrendada, sua intuição lhe mostrava que seria impossível a utilização da tecnologia patronal. Assim, foram sendo feitas adequações tecnológicas específicas às suas condições, aos seus sistemas de produção, na ocupação racional de pequenos espaços de terra, além da observação conseqüente de que não poderia explorar a gleba detonando o meio ambiente como fazia o latifundiário.A tecnologia empregada pela agricultura camponesa tem as seguintes características: 1) Preparo do solo – Nas primeiras ocupações de áreas para plantio, no Brasil colônia, era realizada a pratica de “roça de toco” onde os trabalhadores realizavam o desmate, queimada e plantio direto, durante três a cinco anos. Após este período a área ficava com baixa fertilidade e infestada de plantas invasoras. Assim, esta gleba ficava em sistema de pousio durante dez a quinze anos. Com a pressão do aumento da população e a diminuição de áreas de florestas, foi necessário o plantio em áreas abertas, com a introdução de arados de tração animal. Estes arados, tipo aiveca, não efetuavam o reviramento do subsolo para a superfície, sendo, portanto menos danoso à fertilidade e não expondo em demasia ao sol, o que afetaria também a micro biologia dos solos. Mais uma vez a pressão da população e da abertura de novas áreas fez com que fossem desenvolvidos nos países europeus maquinas para preparo de solo que fosse mais eficiente principalmente nas características dos plantios pós inverno, onde há a quase petrificação do solo e necessidade de expô-lo ao sol. Na Europa, já em 1892, John Froelich montou o primeiro trator com motor de combustão interna, sendo que em 1913 foi fundada a primeira indústria de tratores e em 1932 foi produzido o primeiro trator com pneus.Foi somente a partir da II Guerra Mundial que foram aumentadas as importações de tratores no Brasil. Antes de 1945, consta-se a existência de aproximadamente3000 maquinas operando no território nacional e com o passar do tempo houve a completa disseminação da prática de preparo do solo mecanicamente. Um dado de 1985 registra o numero de 650.000 tratores no território nacional.Os pequenos agricultores geralmente utilizam maquinas para preparo do solo através das prefeituras municipais ou o uso coletivo de tratores e implementos adquiridos por associações comunitárias. A diferenciação principal entre esta categoria e os latifundiários é que estes, por possuírem disponibilidade das maquinas, as utilizam para o preparo do solo e também para aplicação de herbicidas, mesmo após o plantio (pelo uso de transgênicos), para aplicação de agrotóxicos e também maquinas para colheitas. Mesmo com a prática do plantio direto, os herbicidas, agrotóxicos e colheitas mecanizadas fazem com que haja a compactação do solo, o que obriga os produtores a utilizarem a pratica de preparo do solo a cada três/quatro anos em média. Existem diversas experiências agro ecológicas para plantio direto com uso de leguminosas e tração animal, que serão discutidas no capitulo 4.2) Uso de sementes – neste particular, o milho foi o mais impactante pela ação das empresas produtoras. A introdução do milho hibrido foi o ponto de partida para a

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perda das sementes de variedades plantadas e preservadas pelas comunidades, inclusive indígenas. Por pertencer ao grupo de espécies vegetais alógamas*, os cultivares híbridos de milho foram cruzando com as variedades crioulas, fazendo com que estas fossem pouco a pouco perdendo a pureza genética. Apenas comunidades isoladas ficaram imunes a esta contaminação e hoje, através de diversos movimentos de camponeses e entidades, estão sendo implantados diversos projetos de resgate e multiplicação de sementes de variedades.As sementes das plantas autógamas**, devido às suas características, foram melhor preservadas pelos agricultores. Assim, o feijão, o arroz, a pimenta, dentre outras, tiveram seu material genético menos exposto. A exceção é observada nas sementes plantadas pelo agronegócio, tais como soja, trigo, que através da propaganda e da ação de técnicos ligados às multinacionais, introduziram espécies que dominaram e acabaram com a diversidade antes existente. As espécies propagadas vegetativamente como a mandioca, cará, inhame, batata doce, ficaram imunes à perda da diversidade, e hoje são encontradas nos plantios realizados pelos camponeses toda a diversidade das espécies cultivadas há séculos, sem contaminação. Interessante notar que por serem estas culturas peculiares aos pequenos agricultores, onde a pesquisa não investe ou investe pouco, a permanência inclusive dos sistemas de plantio originários possibilitou até o presente momento a não existência de pragas e/ou doenças que afetem a produção destas culturas. Conservado o material genético primitivo, com maior rusticidade, estes cultivares convivem com algumas espécies de insetos, fungos e bactérias sem que haja uma incidência que as caracterize como pragas ou doenças. Exceção, semelhante à soja, é a batata, que originalmente teve origens na America Latina, mas foi plantada em larga escala na Europa desde o século XVI e de onde vieram cultivares para plantios no Brasil e outros países. Esta introdução de variedades importadas e não adaptadas às nossas condições de clima e solo causou a não resistência a pragas e doenças, sendo hoje uma das culturas em que mais agrotóxicos são utilizados.3) Uso de fertilizantes – Originalmente o sistema de cultivos dos primeiros agricultores não demandava adição de adubos, uma vez que os solos eram utilizados durante 4 a 5 anos, quando a fertilidade natural decaia, passavam para outras áreas, só voltando à original após 10 a 15 anos. Com o aumento da população e conseqüente necessidade de maiores áreas de plantio, os camponeses a principio utilizaram os adubos orgânicos, ainda em pequena quantidade, uma vez que realizavam o sistema de multicultivos, ondepela diversidade de espécies plantadas e baixa exposição das áreas cultivadas ao sol, havia menor necessidade de repor a fertilidade dos solos. Com a introdução de fertilizantes químicos os agricultores absorveram em parte esta pratica, e muitos até hoje realizam a adubação mista, utilizando tanto o orgânico como o químico.4) Uso de agrotóxicos – Como é o próprio camponês e sua família que trabalha e que efetua a aplicação, sendo assim a vitima do uso de pesticidas, o uso é menos intenso que

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* são aquelas plantas que realizam preferencialmente polinização cruzada.** as plantas autógamas são aquelas que realizam preferencialmente auto fecundação (acima de 95%).na grande propriedade, onde o latifundiário transfere para os trabalhadores os riscos da utilização dos agrotóxicos. Outro fator é a diversidade natural de atividades e a preservação ambiental que faz com que a ocorrência de inimigos naturais das pragas, diminua a ocorrência de pragas, ao contrario do latifúndio, onde coexistem a monocultura e devastação do meio ambiente.Neste particular de controle de pragas e doenças a antropofagia predomina, desde a observação feita pelos pequenos agricultores das causas visíveis das grandes infestações nas grandes lavouras, até a prática holística em suas pequenas plantações e criações. Existem diversas pesquisas que, a exemplo do uso dos fitoterápicos para uso humano, também comprovam o acerto do uso de diversos defensivos naturais para controle de pragas e doenças tanto nas plantas como nos animais.Resumindo, a agricultura camponesa tem como características principais:- Sistema de poli cultivos;- Produção agrícola basicamente para auto consumo e para abastecimento do mercado interno;- Mecanização mínima, o suficiente para as operações básicas;- Uso de sementes próprias ou melhoradas, resistência ao uso de transgênicos;- Utilização moderada de adubos químicos e quando em disponibilidade, uso de adubos orgânicos;- Aplicação mínima de agrotóxicos e utilização de defensivos alternativos;- Colheitas manuais ou mecânicas (quando há disponibilidade de colheitadeiras);- Possui elevados níveis de sustentabilidade em suas múltiplas atividades.Com relação à preservação ambiental, Victor M. Toledo, discorrendo sobre a resistência ecológica do campesinato mexicano, afirma: “Em contraste com os mais modernos sistemas de produção rural, as culturas tradicionais tendem a implementar e desenvolver sistemas ecologicamente corretos para a apropriação dos recursos naturais.”

4. AGRO ECOLOGIA As bases teóricas e praticas de onde provem a ciência da agro ecologia surgem desde quando as mulheres iniciaram o semeio de frutas, passando da fase da coleta para os primórdios da agricultura. Desde então os camponeses acumularam conhecimentos que interligavam o cuidado com a natureza e a necessidade de produzir alimentos.No inicio da década de 1970 foi iniciada uma intensa oposição aos modelos de agricultura convencional na Europa, que culmina na criação, na França, da Internacional Federation on Organic Agriculture (IFOAM). Agrupando 400 entidades ambientalistas, foi a primeira entidade criada para fortalecer o modelo de agricultura alternativa. Esta organização tinha como finalidade a troca de informações entre associados, a adequação de normas técnicas e certificação de produtos orgânicos.No Brasil, pesquisadores como Ana Maria Primavesi, Adilson Paschoal, Luis Carlos Machado, José Lutzemberger, dentre outros, iniciaram a contestação ao modelo vigente da agricultura da adubação química e do uso uso de agrotóxicos pautado pela

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“agricultura verde” e a organizar uma frente contra o avanço da “agricultura verde”. Em 1976, Lutzemberger lançou o "Manifesto ecológico brasileiro: fim do futuro?", que propunha uma agricultura mais ecológica, influenciando profissionais e pesquisadores das ciências agrárias, produtores e a opinião pública em geral.Com a publicação em 1979 de ”Pragas, praguicidas e crise ambiental”, Paschoal demonstra que o uso indiscriminado de agrotóxicos vinha provocando o aumento do numero de pragas nas lavouras, devido ao desequilíbrio ambiental causado por esta pratica. Este trabalho e os de outros autores despertaram o interesse da opinião pública pela questão ambiental, crescendo também o interesse pelas propostas alternativas para a agricultura brasileira.Na década de 1980 foram realizados três Encontros Brasileiros de Agricultura Alternativa (EBAAs), com participação de ONGs, pesquisadores, produtores, o que ajudou ainda mais tanto na discussão das propostas alternativas como para divulgação das mesmas. Também foi um fator importante e de grande impacto foi chegada dos exilados políticos em 1979l, principalmente com Jean Marc van der Weid (engenheiro químico, pertenceu aos quadros da Ação Popular. Foi presidente eleito da UNE em 1969. Nesse mesmo ano foi preso e banido do Brasil, indo para o Chile e depois para a França. Graduou-se em Economia Agrícola na França em 1976, na época do exílio).Jean Marc organizou a Rede Projeto Tecnologias Alternativas – PTA (atualmente AS-PTA – Assessoria e Serviços – Projeto Agricultura Alternativa) – que implantou sistemas de produção alternativos em diversas partes do país e que através de metodologias democráticas e participativas efetuou o treinamento tanto de técnicos como de produtores nas praticas de uma agricultura ecológica e sustentável. O termo “alternativa” era usado para contrapor à agricultura convencional do “agribusiness” e englobava ensinamentos e praticas da agricultura orgânica, principalmente. Nos anos seguintes foram evoluindo a conceituação, passando a denominar genericamente de agricultura ecológica ou agro ecologia. Segundo Altieri,

(...) a agro ecologia geralmente incorpora idéias mais ambientais e de sentimento social cerca da agricultura, focado não somente a produção, mas também a sustentabilidade ecológica dos sistemas de produção. Este pode ser chamado o uso “normativo” ou “prescrito” do termo agro ecologia, por que implica um numero de fatores sobre sociedade e produção que estão alem dos limites da agricultura. Mais estreitamente, agro ecologia se refere ao estudo de fenômenos puramente ecológicos que ocorrem nos campos das culturas, tais como relações predador//predado, ou competição cultura/invasoras. (ALTIERI, 1989).

Indo para a questão ética, Caporal argumenta que “(...) a agro ecologia tem como um de seus princípios a questão da ética, tanto no sentido estrito, de uma nova relação com o outro, isto é, entre os seres humanos, como no sentido mais amplo da intervenção humana no meio ambiente”(CAPORAL, Francisco Roberto, 2006).Ao incorporar em seus princípios os aspectos sociais e políticos, a agro ecologia deu um passo importante para a separação entre a tecnologia camponesa e a latifundiária, uma vez que é possível a existência de um grande produtor de orgânicos, inclusive com

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alta exploração da mão de obra, mas que não se enquadra como produtor agro ecológico.

A agro ecologia*, como um conjunto de técnicas a ser empregado pelos agricultores, emprega os princípios básicos de diversos tipos de exploração agrícola e também a apropriação dos saberes pelos camponeses. Analisando a agro ecologia e a produção camponesa, Marcos Flávio da Silva Borba, em texto publicado para a Via Campesina, relata:

Do ponto de vista da ecológico podemos encontrar na produção camponesa:(...) normas de produção geradoras de poucas externalidades negativas (contaminação ambiental, erosão da biodiversidade, destruição dos recursos naturais, exclusão social etc.) e de externalidades positivas de alto interesse da sociedade (preservação dos recursos naturais, da diversidade cultural, da diversidade biológica e genética, das paisagens, do conhecimentotradicional, etc.), além de produtoras de produtos alimentícios e matérias primas de elevada qualidade; qualidade não só de produtos, mas fundamentalmente de processos. Aqui o conceito de qualidade deveria ser tratado como construção social (subjetivo, portanto) e não como algo objetivo determinado por padrões convencionais (cor, forma, embalagem, publicidade etc.). (SILVA BORBA, 2004).

Vale destacar a apropriação técnica e política da agro ecologia por parte do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que leva a todos os acampamentos e assentamentos as noções da pratica agro ecológica, tornando-a sua principal linha de frente tanto no tocante à tecnologia quanto aos padrões éticos das questões de gênero, etnia, relações cooperativistas, etc.Dentre os diversos sistemas de produção empregados pela agro ecologia, destaca-se:- Agricultura orgânica - Este sistema de produção, que exclui o uso de fertilizantes, agrotóxicos e produtos reguladores de crescimento, tem como base o uso de estercos animais, rotação de culturas, adubação verde, compostagem e controle biológico de pragas e doenças. Utiliza ainda a manutenção da estrutura e da profundidade do solo, sem alterar suas propriedades por meio do uso de produtos químicos e sintéticos.- Agricultura ecológica - Alem de promover a exploração econômica da propriedade, objetiva a conservação dos solos e ao equilíbrio do meio ambiente. O enfoque da propriedade deve ser seja, integrado, completo, visando a diversificação das atividades produtivas e da integração entre elas. - Agricultura biodinâmica - Na agricultura biodinâmica, não se extirpa ervas daninhas. O essencial neste tipo de agricultura são os preparados biodinâmicos, compostos à base de sílica, de esterco animal, e de origem vegetal.- Agricultura racional - Seria uma transformação da agricultura convencional, até chegar ao ponto em que, o solo seja recuperado, descompactado, isento de pragas, ou seja, bioestabilizado. - Agricultura biológica - Seria aquela que usa quaisquer produtos na agricultura, desde que não sejam químicos (sintéticos).

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* Nas próximas citações será considerado como termo “agro ecologia” apenas os aspectos tecnológicos. Assim, a menos que haja uma explicação necessária, ao ser citado o termo agro ecologia, este representará apenas a tecnologia ecológica.

- Permacultura - A ênfase está na aplicação criativa dos princípios básicos da natureza, integrando plantas, animais, construções e pessoas em um ambiente produtivo e com estética e harmonia.- Agricultura natural – Nesta agricultura, tudo deve estar dentro de um equilíbrio dinâmico e, portanto interfere-se o menos possível no ecossistema, já que a agricultura em si é considerada uma violência ao meio-ambiente. Atualmente já faz parte do curriculum de algumas faculdades de Agronomia, a disciplina Agro ecologia, conquista após anos de lutas dos estudantes, o que veio a acrescentar ainda mais o caráter científico da matéria.

5. A DIFUSÃO E A APLICAÇÃO DA AGRO ECOLOGIA

Após estas décadas de tentativas de contrapor ao modelo de agricultura do agronegócio, a agro ecologia não conseguiu implantar como uma corrente apropriada pela grande maioria dos camponeses. Miguel Altieri reconhece estas dificuldades:

Apesar dos avanços obtidos por movimentos agro ecológicos, anda existem muitos fatores que têm limitado ou restringido sua plena disseminação e implementação. Grandes reformas devem ser feitas nas políticas, nas instituições e nos programas de pesquisa e desenvolvimento para assegurar que essas alternativas se disseminem deforma massiva, equitativa e acessível, de modo que os benefícios por elas gerados sejam direcionados para a conquista da segurança alimentar Apesar das evidencias e da crescente conscientização sobre as vantagens da Agro ecologia, essa ciência ainda não teve o devido alcance. Então por que a agro ecologia não se disseminou mais rapidamente e como ela pode ser multiplicada e adotada de forma mais ampla? (ALTIERI, (2012).

Ao analisar as causas destes limites, o autor cita como principais entraves “ os poderosos interesses econômicos e institucionais que continuam respaldando a pesquisa e o desenvolvimento da agro ecologia” (ALTIERI, (2012).Porém, toda instituição, ONG ou técnico que tem por meta a divulgação da agro ecologia em seus contatos com os camponeses, esbarra na dificuldade de transmissão e adoção das diversas tecnologias ecológicas por parte destes mesmos agricultores. Apesar deste comprometimento das instituições de pesquisa e dos órgãos divulgadores e de difusão com o agro negócio, nestas décadas passadas desde o inicio da implantação do modelo agro ecológico, foram criados diversos Centros de Agricultura Alternativa em Minas Gerais:- Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas  em Montes Claros;- Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica em Turmalina;- Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da  Mata em Viçosa.Diversas Universidades têm instituições e departamentos em Minas Gerais têm trabalhado com o tema:

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• Universidade Federal de Lavras -  Grupo de Extensão Yebá Ervas & Matos que promovem atividades ligadas a Agro ecologia, Sistemas Agro florestais, Plantas Medicinais;• Universidade Federal de Viçosa com o Programa de Extensão Universitária TEIA, com o GAO (Grupo de Agricultura Orgânica) e com o APÊTI (Grupo Agro florestal);• UNIMONTES|Campus Janaúba/MG com o NERUDA (Núcleo de Estudos em Extensão Rural e Desenvolvimento Agro ecológico);• FEAB (Federação Estudantes de Agronomia do Brasil) e ABEEF(Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal) possuem núcleos específicos para esse debate;Universidades em outros estados que implantaram cursos de Agro ecologia: - Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul com o Curso Tecnológico Superior em Agro ecologia;- Instituto Federal da Paraíba Campus Sousa - o Curso Superior "Tecnologia em Agro ecologia";- Universidade Estadual da Paraíba, que oferece graduação em Agro ecologia;- Instituto Federal de Brasília - Curso Tecnológico Superior em Agro ecologia; - Instituto Federal do Acre - Curso Tecnológico Superior em Agro ecologia; - Instituto Federal do Espírito Santo - Campus de Alegre, - pós graduação em agro ecologia; - Universidade Federal de São Carlos - Mestrado em Agro ecologia e Desenvolvimento Rural e graduação em Agro ecologia;- Universidade Federal do Oeste do Pará - bacharelado interdisciplinar em Agro ecologia - Universidade Estadual do Maranhão - curso de Mestrado em Agro ecologia. Faz parte de todas as entidades e organizações não governamentais que trabalham com Assentamentos de Reforma Agrária a divulgação da tecnologia ligada à agro ecologia. Porem, mesmo nos assentamentos é notória a dificuldade na adoção das praticas agro ecológicas. Apesar de haver uma grande quantidade de técnicas agro ecológicas à disposição dos agricultores, há necessidade de comprovação da eficácia das mesmas. Na maioria das vezes o ônus da experimentação fica a cargo do agricultor e as frustrações acabam por induzir à não adoção das diversas praticas à disposição.Muitas das tecnologias à disposição dos agricultores têm componentes que revertem em maiores custos, o que faz com que haja duvidas quanto à adoção e receios quanto aos retornos dos investimentos. Uma grande parte da tecnologia agro ecológica levada aos camponeses não são poupadoras de trabalho. Este último fator é a principal causa da dificuldade de adoção, como veremos nos levantamentos junto aos agricultores.Ao contrário da suposição de que no mundo camponês há abundancia de mão de obra, e por isso é possível disponibilizar tecnologias que demandam muito trabalho manual, há uma tendência contraria, devido principalmente ao êxodo rural seletivo, em relação aos jovens, que têm uma atração pelo mundo urbano.Há uma propensão tanto à diminuição como ao envelhecimento da população rural, segundo dados consolidados pelo IBGE, no período de 1940 a 2000:

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Tabela 3 - Distribuição percentual das pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas na agricultura, pecuária e silvicultura, por grupos de idade - Brasil - 1940/2000

      idade  

período10 a 19anos

20 a 29anos

30 a 39anos

40 a 49anos

50 a 59anos

60 anosou mais

1940 30,9% 25,8% 16,8% 12,8% 7,9% 5,7%2000 16,9% 22,3% 20,6% 17,1% 13,3% 9,9%

Na observação da composição por idade de 1940, 56,7% das pessoas ocupadas no setor de atividade da agricultura, pecuária e silvicultura estavam na faixa até os 29 anos de idade, enquanto, em 2000, essa participação foi reduzida para 39,1%. A partir dos 30 anos de idade, as participações reveladas em 2000 são sempre superiores às de 1940. (IBGE, 2007, p. 74).

Este êxodo seletivo de jovens, se não revertido, poderá causar problemas para a pequena agricultura, conforme afirma Cristiane Maria e outros autores:

A reprodução da agricultura familiar ocorre de forma endógena, sendo tradicionalmente um dos integrantes da família o sucessor da unidade produtiva. (...) a continuidade da agricultura familiar está associada à disposição, dos jovens filhos dos agricultores familiares, em suceder seus pais. O processo do êxodo de jovens do rural para as cidades e é um entrave para o desenvolvimento da agricultura familiar. (TONETTO GODOY, 2010, p. 3).

Tabela 4 - População presente, por situação do domicílio

Período População total População urbana População rural1940 41 169 321 12 877 647 28 291 6742000 169 799 170 137 953 959 31 845 211

Em 1940, o contingente de população urbana no Brasil correspondia a 12,8 milhões de habitantes e, em 2000 atingiu 137,9 milhões, tendo tal acréscimo de 125,1 milhões de habitantes urbanos resultado no aumento do grau de urbanização, que passou de 31,3%, em 1940, para 81,2%, em 2000. A incorporação de áreas que em censos anteriores eram classificadas como rurais, o crescimento vegetativo nas áreas urbanas e a migração no sentido rural-urbano, das regiões agrícolas para os centros industriais, estão entre as causas atribuídas ao incremento ocorrido no período. (IBGE, 2007, p. 19)

Portanto, ao levar uma inovação no meio rural têm que ser considerados estes fatores, tanto da diminuição (carência) de mão de obra quanto do envelhecimento da população. Dentre os fatores do esvaziamento da população jovem no campo, além de outros fatores, como educação, lazer, situa-se também seguramente o fator trabalho pesado e a má remuneração auferida pelos rendimentos oriundos das produções agrícolas.

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Para analisar esta particularidade – inovações poupadoras de trabalho – é necessário examinar quais são as linhas de proposições das tecnologias agro ecológicas, com a necessária verificação da demanda de tempo de trabalho para concretizar cada técnica recomendada. Tomamos como base os procedimentos recomendados e de uso restrito da agricultura orgânica. (INSTITUTO AGRONOMICO DO PARANA)- Preparo do solo:A utilização de tratores é de uso corrente para os camponeses. Nota-se apenas que a maioria dos agricultores depende de patrulhas mecanizadas das administrações municipais e devido ao numero grande de usuários, muitas vezes há atraso nos serviços de aração e gradagem, sendo que é comum o plantio de lavouras somente a partir de dezembro, com prejuízos nas produções devido a este atraso.Existem experiências principalmente em Santa Catarina, onde se iniciou o uso do plantio direto utilizando mucuna plantada no terceiro mês pós plantio do milho, na seguinte seqüência:Plantio convencional do milho semeio mucuna após três meses colheita do milho corte da leguminosa período floração rolo faca antes plantio Na safra seguinte já é realizado o plantio direto, sobre a palha, repetindo o semeio da leguminosa no terceiro mês pós plantio.Esta técnica já é base de diversos estudos e experimentações, inclusive com variantes, utilizando plantios em aléias. (MOURA, 2006) Também foram desenvolvidas semeadeiras para plantio direto com tração animal e semeadeiras manuais (matracas).- Nutrição vegetal:A fertilidade do solo é o tema mais intensamente debatido e pesquisado por todo tipo de agricultura alternativa. Na transição para a agro ecologia, é a operação mais difícil e demorada de se conseguir. Há relatos de transição para conseguir a adubação totalmente orgânica foram necessários dezoito anos para conseguir o equilíbrio entre os elementos do solo e a quantidade correta;As principais recomendações para uma adubação alternativa à fertilização química são:a) Compostagem - O agricultor para fazer este fertilizante orgânico, necessita recolher pelo menos duas vezes por semana o esterco de animais e fazer leiras de vegetais/esterco, com irrigações freqüentes. Para completar o processo até a bioestabilização na pilha, serão necessários aproximadamente 90 dias;b) Biofertilizantes - A produção de biofertilizantes envolve a fermentação aeróbica e/ou anaeróbica da matéria orgânica e são  formados a partir de resíduos finais de decomposição de compostos orgânicos. O processo envolve de 15 a 60 dias, variando com o material utilizado e temperatura ambiente;c) Bokashi - Existem dois métodos de preparo de bokashi, o conhecido pelo mesmo nome que é de fermentação aeróbica e o kenki bokashi, que é o de fermentação anaeróbica. As duas variações de bokashi tem a mesma finalidade: estimular, diversificando, aumentando e recuperando a atividade biológica do solo, resultando em melhoria das condições físicas (porosidade: maior capacidade de reter água), biológicas (melhor equilíbrio biológico e menor infestação de doenças) e químicas (menor perda e maior disponibilidade de nutrientes) do solo;

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d) Vermi composto - É um composto orgânico  resultante da digestão da matéria orgânica pelas minhocas. Esta matéria orgânica é proveniente de estercos, de restos de vegetais e outros resíduos orgânicos;e) Fosfatos naturais e semi-solubilizados, calcário, farinha de ossos, termo fosfatos, escórias e outras fontes de baixa solubilidade – procedimentos técnicos recomendados;f) Super fosfato simples, micro elementos – procedimentos técnicos de uso restrito.- Manejo de pragas e doenças:Dentre os procedimentos recomendados e de uso restritos, são citados:a) Diversificação dos sistemas produtivos (evitar monocultura)b) Utilização de variedades adequadas à região e variedades resistentes; sementes e mudas isentas de pragas e doenças;c) Manejo da cultura, utilizando rotação, consorciação; cultivo em faixas, plantio antecipado ou retardado; plantas repelentes ou companheiras; preservação de refúgiosnaturais d) Manejo biológico de pragas por meio de técnicas que permitam o aumento da população de inimigos naturais ou a introdução dessa população reproduzida em laboratório;e) Métodos físicos e mecânicos como o emprego de armadilhas luminosas, barreiras e armadilhas mecânicas, coleta manual, adesivos, proteção da produção (ensacar frutos) em campo e uso de processos físicos como som, calor e frio;f) Cultivo em casa de vegetação para plantas muito suscetíveis à pragas.g) Pulverização à base de enxofre simples;h) Uso de calda bordalesa, calda sulfocálcica, calda viçosa, emulsões ou soluções à base de óleo mineral, querosene e sabão;i) Extratos, caldas e soluções de produtos vegetais como piretro, nicotina, rotenona, etc.;j) Emprego de iscas convencionais em forma de armadilha, desde que não poluam o ambiente;k) Uso de produtos naturais bioestimulantes como aminoácidos, preparados biodinâmicos, etc.l) Iscas formicidas (protegidas).- Manejo de plantas invasoras:a) Uso de práticas que coloquem as culturas à frente das invasoras; plantio na época recomendada; adubação verde, rotação e consorciação de culturas; evitar ressemeadura de invasoras após colheita da cultura;b) Uso de cobertura morta, viva e plantas de efeito alelopático (supressor de invasoras);c) Adoção de práticas mecânicas recomendadas (arações superficiais, roçadas, capinas manuais, cultivador, etc.);d) Uso de sementes comprovadamente isentas de sementes de invasoras;e) Controle biológico ou uso de produtos naturais; f) Uso de materiais de cobertura inerte (plástico), que não proporcione contaminação ou poluição do solo e água.Manejo da cultura:Espécies e variedades de plantas adaptadas às condições ambientais locais;

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a) Espécies rústicas e variedades resistentes à pragas e patógenos, e mais competitivas com as ervas;b) Sementes e mudas produzidas organicamente; c) Sementes e mudas provenientes de sistemas convencionais, quando não existirem outras fontes disponíveis;Manejo e conservação do solo e da água:a) Uso preferencial de implementos que não invertam a camada arável e não pulverizem o solo;b) Cultivo mínimo e plantio direto (sem herbicidas);c) Cobertura morta e viva (evitar exposição do solo);d) Manejo dos restos culturais e resteva, incorporando ou deixando a matéria orgânica na superfície;e) Máquinas e implementos agrícolas leves e uso de tração animal;f) Diversificação da exploração agrícola, rotação e consorciação de culturas;g) Reflorestamentos e proteção de mananciais;h) Não há restrição à práticas de irrigação e drenagem, desde que feitas corretamente e com água de boa qualidade.

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