Monografia Bruna Pedagogia 2008

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INTRODUÇÃO A presente Monografia apresenta um trabalho baseado em pesquisa e em análises de dados que nos possibilitou através da observação e aplicação de questionário, bem como da pesquisa bibliográfica pensar acerca da temática entre a experiência de artistas/professores na cidade de Senhor do Bonfim, professores e artistas, a partir desse estudo refletir sobre suas práticas pedagógicas dentro das escolas. Atualmente alguns artistas têm assumido o papel de educador e tem atuado nas escolas como professor. Nosso interesse nesse campo investigativo da arte-educação é percebemos a importância da ocupação desse lugar pelos artistas, uma vez que os mesmos, em suas atuações artísticas, nas experiências de formação que acessam e que já vêm participando nos espaços não-formais de educação, principalmente nos grupos teatrais da qual fazem parte, possibilitam a esses artistas vivências com outros conceitos e práticas de formação, e de educação. Como afirma Ana Mãe Barbosa, o artista não necessariamente é um professor nas instituições de ensino. No entanto, ao ocupar esses espaços, o artista, agora professor, atua com legitimidade nos espaços de educação formal, trazendo consigo toda uma bagagem adquirida ao longo de sua formação artística. Como educador o artista questiona a própria conceituação da realidade. O seu modo de educar é um incessante recomeçar, 10

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Pedagogia 2008

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia apresenta um trabalho baseado em pesquisa e em

análises de dados que nos possibilitou através da observação e aplicação de

questionário, bem como da pesquisa bibliográfica pensar acerca da temática entre a

experiência de artistas/professores na cidade de Senhor do Bonfim, professores e

artistas, a partir desse estudo refletir sobre suas práticas pedagógicas dentro das

escolas.

Atualmente alguns artistas têm assumido o papel de educador e tem atuado

nas escolas como professor. Nosso interesse nesse campo investigativo da arte-

educação é percebemos a importância da ocupação desse lugar pelos artistas, uma

vez que os mesmos, em suas atuações artísticas, nas experiências de formação que

acessam e que já vêm participando nos espaços não-formais de educação,

principalmente nos grupos teatrais da qual fazem parte, possibilitam a esses artistas

vivências com outros conceitos e práticas de formação, e de educação.

Como afirma Ana Mãe Barbosa, o artista não necessariamente é um

professor nas instituições de ensino. No entanto, ao ocupar esses espaços, o artista,

agora professor, atua com legitimidade nos espaços de educação formal, trazendo

consigo toda uma bagagem adquirida ao longo de sua formação artística. Como

educador o artista questiona a própria conceituação da realidade. O seu modo de

educar é um incessante recomeçar, pois ele tem consciência de que a história

humana recomeça em cada novo indivíduo que ele educa. Logo, o artista é um

educador na íntegra da palavra. O artista como educador, busca desenvolver no

aluno a consciência do corpo e aprimorá-lo enquanto instrumento de expressão e de

apropriação do conhecimento.

Esse trabalho conduz a uma reflexão acerca do fazer artístico e do

educacional, e do papel do artista nesse processo. Esse desenvolve uma

metodologia didático-pedagógica diferenciada, como estratégia para um ensino com

arte. E nesse contexto, o artista/professor trabalha buscando no emocional, na

imaginação e na criatividade um maior contanto como os alunos em sala de aula,

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desenvolvendo estratégias para um ensino-aprendizagem mais estimulante e

significativo.

Este trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro capítulo trata-

se do desenvolvimento e apresentação da problemática que nos levou a investigar

sobre esse assunto, o segundo capítulo vem a tratar ao que se refere a

fundamentação teórica em que discorremos sobre de educação, arte e a arte-

educação, buscando uma relação entre tais conceitos e suas possíveis articulações;

neste capítulo faz-se referência à educação com arte, à importância da arte na

formação do homem, a função do artista na escola, o artista/professor no espaço

escolar e como o professor desenvolve suas experiências de ensino-aprendizagem.

No terceiro capítulo é abordada a metodologia, instrumentos de pesquisa,

desenvolvendo-se um campo de discussão teórica de acordo a nossa opção

metodológica, são enumerados os passos que foram seguidos na elaboração do

presente estudo; o quarto capítulo aborda os resultados obtidos na pesquisa, sua

análise e discussão. Finalmente, fazem-se as considerações finais.

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CAPÍTULO I

PROBLEMATIZAÇÃO

O processo de ensino-aprendizagem exige do professor, a criatividade,

flexibilidade, escuta e limite, além de competência acadêmica. Diante de uma

grande massa de informações sobre o crescimento e desenvolvimento humano,

educar torna-se um ato muito complexo e também muito delicado. O ato de ensinar

requer sensibilidade, capacidade de improvisação, imaginação e domínio da

linguagem. Contemporaneamente está havendo um processo de transformação nas

escolas, estas buscam um ensino mais significativo e atraente para o aluno. Diante

disso, torna-se necessário o uso de diferentes ferramentas e estratégias

pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem.

No entanto ao longo da história, a escola foi o lugar do desprazer, da rigidez,

da razão. Pouco ou quase nunca se considerou a emoção, a sensibilidade, os

sentimentos. Os espaços escolares acabam se tornando, mais o lugar de controle,

de medo, do que o espaço de formação que leva em consideração a corporeidade,

as diferentes expressões e sentimentos, elementos fundamentais no

desenvolvimento de uma experiência educativa com arte.

Ensinar é uma arte e para ensinar com arte é preciso que o professor se

aproprie de alguns elementos tratados na arte de um modo geral, como imaginação,

criação, poética, leitura e fruição, o prazer elementos básicos para a materialização

da arte e o exercício artístico na escola formal. Com esse contexto, busca-se do

professor uma outra postura, percebendo a educação a partir de outra perspectiva,

uma perspectiva que leve em conta os aspectos da emoção, da sensibilidade e da

imaginação, disposto a romper com a lógica do racionalismo, e nesse sentido

revestir-se do papel de artista, daquele que imagina, cria, muda, e faz educação com

arte e que fazendo arte na educação, torna o ensino mais motivador.

Pensando no ensino com arte, ou seja, na arte-educação, conduz a uma

reflexão acerca do fazer artístico e do educacional, e do papel do artista nesse

processo, no espaço da escola, acreditando-se que este desenvolva uma

metodologia didático-pedagógica como estratégia para um ensino com arte, sendo a

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aula uma obra de arte. O que seria então a aula como uma obra de arte? É a aula

que incentiva a criação e como os alunos gostam de criar torna-se necessário utilizar

esse prazer como um instrumento de trabalho. Nesse contexto, o artista/professor

trabalha buscando com o emocional, a imaginação e a criatividade e promove um

maior contato com seus alunos em sala de aula, uma vez que esses aspectos na

formação das pessoas tratam-se de linguagens que desencadeiam um movimento

de aprendizagens significativas.

O potencial criativo do ser humano é um fator de realização e de

transformação. Para Fayga (1987, p. 10) “ele afeta o mundo físico, a própria

condição humana e os contextos culturais”. Continua Fayga (1987, p. 12): “[...] os

processos de criação interligam-se intimamente com o nosso ser sensível. Mesmo

no âmbito conceitual ou intelectual, a criação se articula principalmente através da

sensibilidade”. Criar é então, formar algo novo. Logo, todos os seres humanos,

possuem criatividade porque ela é intrínseca ao homem. Através da imaginação se

formam idéias abstratas que se transformam em novos fatos: isso é criatividade!

A arte transforma o ser humano, torna-o mais livre, mais criativo. A literatura,

a história, a música, a corporeidade são necessidades vitais ao ser humano. Quando

se mostra ao aluno um ensino diferente, quando ele utiliza a arte como estimuladora

de seus pensamentos e saberes aprendidos, está aprendendo mais e melhor, de

forma mais prazerosa e com melhor compreensão e integração.

Os artistas que atuam nas escolas como professores incorporam em suas

práticas pedagógicas elementos como a criatividade, a imaginação, a corporeidade

e desenvolvem atitudes de cumplicidade, o que permite um desenvolvimento

psicológico positivo nos alunos, porque essa forma de agir estabelece uma relação

profunda entre eles e os alunos. Alem disso, os artistas/professores possuem muitas

habilidades e talentos e para eles, a sala de aula é um espaço para discussão,

análise e crítica de todos os acontecimentos que acontecem dentro e fora dela.

Geralmente, os profissionais artistas que atuam nas escolas se “sustentam numa

construção autopoética, ou seja, numa ação de produzir a si mesmo mediada por

um trabalho reflexivo sobre o que foi observado, percebido e sentido” (BIASOLI,

1999, p. 48).

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A docência tem sido amplamente procurada por artistas que percebem a

escola como um lugar possível de recebimento e de troca, um local onde se

realizam ações de ensinar e aprender, uma troca de conhecimentos, um

enriquecimento de novos saberes. Eles já perceberam que o espaço escolar é um

ambiente fértil para proliferar o desenvolvimento da criatividade.

Esse trabalho pretende desenvolver uma pesquisa, estudo de caso, de

professores que são artistas e que atuam em escolas particulares na cidade de

Senhor do Bonfim. Neste caso os quatro professores em estudo exercem

principalmente a arte da dramatização: são atores de teatro. Observando esse fato

surgiu a curiosidade em investigar como esses artistas que lecionam em escolas

particulares se sentem dentro de uma sala de aula, fazendo um trabalho diferente

daquele que realizam no teatro. Esse foi o motivo que gerou à execução deste

estudo monográfico. Então, pergunta-se como será que esses atores se vêem no

processo da educação? Como atuarão esses artistas no palco da sala de aula? Eis

as questões norteadoras deste estudo. Para isso estaremos diante da questão:

Como os atores de teatro que trabalham como professores se sentem em uma sala

de aula? E como desenvolvem sua práxis pedagógica?

Nesse percurso investigativo, algumas perguntas contribuem para a busca de

nossas respostas: Quando o artista é trazido para a escola, qual o papel dele? Será

que transformam seus dotes artísticos em métodos didáticos criativos? como

desenvolvem sua práxis pedagógica?

Esse trabalho objetivou investigar a práxis pedagógica dos atores de teatro

que atuam como professores nas escolas Casinha Feliz1, Sacramentinas2 e Centro

Educacional Professora Isabel de Queiroz, analisar os seus pontos de vista diante

do ensino-aprendizagem e como eles realizam o trabalho pedagógico nestas

escolas.

1 Nome como é popularmente conhecida a escola. Seu nome correto é Centro Educacional Sagrado Coração (CESC).2 Nome como é popularmente conhecida a escola. Seu nome correto é Educandário Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento.

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CAPÍTULO II

A EDUCAÇÃO, A ARTE E A ARTE-EDUCAÇÃO

2.1 Conceituando a Educação

A ação que as pessoas adultas exercem sobre os jovens em sua formação

para a vida em sociedade, é o que se chama de educação. Ela incute e desenvolve

nos mais jovens, valores intelectuais, culturais e morais reclamados pela sociedade

vigente. Para Brandão (1995, p. 16) a “Educação é um dos principais meios de

realização de mudança social ou, pelo menos um dos recursos de adaptações das

pessoas, em um mundo em mudança”.

Pode-se dizer que educação é o ato de ensinar e de aprender, é ensinar a

uma criança a andar ou a falar, a escrever e a ler. Para Freire (1983) a educação é

um encontro entre interlocutores, que procuram no ato de conhecer a significação da

realidade e na práxis o poder da transformação. A educação, segundo Freire (1983),

deve ter como objetivo maior desvelar as relações opressivas vividas pelos homens,

transformando-os para que eles transformem o mundo.

O mais importante no processo de educar não é o conteúdo, mas, é o

processo de formação, o modo e a relação que se constrói nesse processo. Educar

é desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais do ser humano

(RAMAL, 2002). Educação é o processo através do qual os indivíduos podem

adquirir ou desenvolver competências e capacidades em interação com outros, em

contextos organizados, formais ou informais.

Para Freire (1998, p. 54) educar é “capacitar pessoas a lidarem crítica e

criativamente com a sua realidade social, e não simplesmente adaptá-las a ela [...]

um exercício de libertação [...] uma conscientização”. Cada pessoa é única e seletiva

pois aprende aquilo que sente ser importante para a sua existência. Portanto:

Uma educação que apenas pretenda transmitir significados que estão distantes da vida concreta dos educandos, não produz

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aprendizagem alguma. É necessário que os conceitos (símbolos) estejam em conexão com as experiências dos indivíduos. Voltamos assim à dialética entre o sentir (vivenciar) e o simbolizar (DUARTE JUNIOR, 2001, p. 23).

A aprendizagem acontece quando os conhecimentos fazem sentido, tanto

para quem os transmite quanto para quem os recebe. É necessário então, que o

educador e o educando sejam participantes da ação educativa, visto que a

educação é um processo dinâmico que requer um educador e um educando atentos

para as questões que envolvem o processo de educação enquanto uma experiência

de troca e tematização.

Read (1982, p. 24) salienta que:

A educação é o apoio do desenvolvimento, mas à parte a maturação física, o desenvolvimento apenas se manifesta na expressão – signos e símbolos audíveis e visíveis. A educação pode ser definida como o cultivo de modos de expressão – consiste em ensinar as crianças e os adultos a produzir sons, imagens, movimentos, ferramentas e utensílios. Um homem que consegue fazer bem estas coisas é um homem bem-educado. Se pode produzir sons, é um bom orador, um bom músico, um bom poeta; se pode produzir imagens, é um bom pintor ou escultor; se pode produzir bons movimentos, é um bom dançarino ou trabalhador [...]. Todas as faculdades de pensamento, lógica, memória, sensibilidade e intelecto, estão envolvidas nestes processos e nenhum aspecto da educação está aqui excluído. E todos eles são processos que envolvem a arte [...]. O objetivo da educação é por isso a criação de artistas – de pessoas eficientes nos vários modos de expressão.

Pode-se acrescentar que a educação é uma ciência e uma arte, no sentido de

que sendo ciência desenvolve pesquisa e mecanismos que transmitem aos mais

jovens os conhecimentos acumulados até então e sendo arte, no sentido de

acreditar em outras possibilidade da própria educação , que é educação pela arte.

Logo, a educação na perspectiva trabalha o aluno como uma pessoa inteira, com

sua afetividade, suas percepções, sua expressão, seus sentidos, sua crítica, sua

criatividade, afirma Santos (2002).

A educação é o objetivo da escola e já que a escola é o primeiro espaço formal

onde se dá o desenvolvimento dos cidadãos, esta poderia ser também o espaço do

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contato com o universo artístico e suas linguagens: artes visuais, teatro, dança,

música e literatura.

Assim como a educação, a arte sempre esteve presente na historia do individuo

ao longo de seu processo de formação em sociedade. E nessa construção de

valores e saberes agregados de cada individuo, a arte contribui para externaliza e

internalizar conhecimento contribuindo para formação reflexiva do homem.

2.2 Considerações sobre a arte

É impossível separar o homem da arte, pois desde que ele passou a se

conhecer e conhecer mundo que o rodeia passou a representar, em imagens, tudo o

que vive e sente. As criações humanas com valores estéticos, nas quais são

colocadas suas emoções, seus sentimentos e sua cultura são denominadas arte. A

arte é criada pelo homem com o objetivo de divulgar suas crenças e interpretar

objetos e cenas (BOSI, 1999). Portanto:

Um fenômeno comum a todas as culturas – desde as mais ‘primitivas’ às mais ‘civilizadas’, desde as mais antigas às mais atuais – é a arte. A arte do homem pré-histórico, inclusive, é tudo o que restou, integralmente, desses nossos antepassados. Qualquer cultura sempre produziu arte, seja em suas formas mais simples, como enfeitar o corpo com tinturas, seja nas formas mais sofisticadas, como o cinema em terceira dimensão, na nossa civilização. A arte nos acompanha desde as cavernas (DUARTE JUNIOR, 2001, p. 38).

Um campo de habilidades do homem é a arte, que é também uma autêntica e

inequívoca expressão humana. Por servir como registro e informação da sociedade

que a produziu, ela tem um valor antropológico. Além disso, legitima as impressões

sobre tudo que cerca o homem, tendo um grande valor social ao integrar as pessoas

dentro do meio em que vivem. Através dela o homem exprime e externaliza o seu

eu, os seus sentimentos e emoções, ela não transmite significados conceituais, mas

dá expressão ao “sentir”, afirma Basbaum (2003). Ela concretiza os sentimentos de

uma forma tal que todos possam percebê-los.

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Segundo Santos (2007, p. 24):

A palavra “arte” é derivada do latim ars e significa habilidade, ou seja, é um processo em que o conhecimento é usado para realizar determinadas habilidades. Para Saunders (1998, p. 130) a arte é um fenomeno cultural “inventada há milhões de anos pelos seres humanos para satisfazer algumas de suas necessidades”. A arte tem acompanhado as manifestações humanas desde a Pré-história, por meio de manifestações diversas (que vão do trabalho com ferramentas à pintura em cavernas).

A educação, juntamente com a família é a base estrutural de qualquer

sociedade e ela é necessária para humanizar os indivíduos. Um dos instrumentos de

humanização é a arte e se ela humaniza, mais do que nunca deve fazer parte do

contexto escolar, uma vez que esta instituição trabalha com a formação humana na

sociedade de modo geral.

Não há verdadeira educação sem arte e verdadeira arte sem educação

porque tanto a arte como a educação cumpre sua missão que é emancipar um ser.

Juntas, educação e arte podem transformar o mundo tornando-o democrático. A

atuação da arte no espaço educativo é uma das estratégias e um dos principais

instrumentos da transformação do sistema educacional. Ela, no trabalho

pedagógico, dá sentido ao aprendizado, envolve o aluno de tal maneira que estimula

sua participação em atividades que cruzem visão e sensação e que encorajem

conexões múltiplas.

É preciso dirimir dúvidas desde já: arte-educação não significa o treino para alguém se tornar um artista, não significa a aprendizagem de uma técnica, num dado ramo das artes. Antes, quer significar uma educação que tenha a arte como uma de suas principais aliadas. Uma educação que permita uma maior sensibilidade para com o mundo que cerca cada um de nós (DUARTE JUNIOR, 2001, p. 12).

A arte na educação não torna o aluno um artista nem significa a aprendizagem

de técnicas. Ela permite o desenvolvimento de uma maior sensibilidade em relação

ao mundo, transformando os espaços escolares e cria laços de confiança mútua

entre alunos e professores. Almeida (1992) salienta que a arte ensina o aluno a se

expressar e não apenas se comunicar, desperta o seu interesse, estimulando-o para

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que compreenda melhor e desenvolva seus sentimentos. Além disso, permite a

ampliação da imaginação, da criatividade e do interesse.

Segundo Read (1982) só o interesse pode despertar e manter a atenção do

aluno. É uma faculdade que não pode ser subestimada. E a arte cumpre esse papel.

O professor deve levar em consideração a natureza da criança, a sua capacidade de

progredir e os seus interesses.

Conforme Silva (2006) a arte educa pelo desenvolvimento da imaginação,

descobrimento de possibilidades, projetos de transformação, pelo ultrapassar

barreiras de comunicação com outros povos, vivenciando o mundo integralmente em

cada época, vivenciando o imaginário na vida cotidiana. Ela cria sentido para os

alunos através do processo das descobertas de percepções, experiências,

sentimentos, integração, auto-expressão.

As pessoas ampliam o conhecimento sobre si mesmo através das formas

artísticas, ou seja, o seu desenvolvimento, a sua educação. “Através da arte, pode-

se, então, despertar a atenção de cada um para sua maneira particular de sentir,

sobre o qual se elaboram todos os outros processos racionais”, afirma Duarte Junior

(2001, p. 66).

Na escola a arte contribui para a formação integral do homem levando-o a

interagir com o outro, com o mundo, é a socialização. Além disso, educa o sujeito

para a compreensão sensível de fatores culturais e sociais que conduzem a atitudes

e pensamentos inseridos em um determinado tempo/espaço.

Segundo Eco (1995), na escola ao se utilizar a arte, objetiva-se

especificamente o desenvolvimento da criatividade e da auto-expressão do aluno.

Atualmente, quando o foco do processo educativo se deslocou da transmissão de

conteúdos para as necessidades e interesses do educando, todas as atividades têm

como ponto de partida o fazer artístico, estimulando o aluno a criar. Na educação, o

mais importante, não é produzir belas obras de arte e sim, o próprio processo de

criar, o processo pelo qual o aluno desperta seus sentidos em relação ao mundo que

o rodeia, desenvolvendo sua consciência estética.

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Portanto, a arte na educação não significa trabalhar a educação artística nos

currículos escolares. A arte-educação é uma atividade estética e criadora em si

própria e que desenvolve no aluno a harmonia, o belo. Ela é fundamentada na

construção de um sentido pessoal para a vida de cada aluno.

2.3 A função do artista na escola

Na pré-história, o artista era o feiticeiro, que tinha por função atrair as boas

energias e neutralizar as más (PERROTI, 1995). Naturalmente, tal atividade não

poderia ser denominada “artística”, no significado que hoje se atribui a essa palavra.

Com a evolução da humanidade, o artista confundiu-se com o sacerdote das civilizações agrárias, que já não eram dependentes de meras invocações ou rituais, mas, que possuíam uma bagagem de informações e conhecimentos qualificados de pré-científicos. Mais tarde, o artista assume uma função particular: a de ilustrar os mitos coletivos, ou a de celebrar a sacralização do poder público. Só lentamente, à medida que a aristocracia principia a se formar, nasce um novo tipo de arte: a que confere fausto e brilho aos “novos ricos” da época, o que se vê, por exemplo, nas mastabas do Egito, e bem mais tarde, na arte santuária romana (BACHELARD, 1986, p. 13).

No período do Renascimento o artista assume um papel que contribui com a

produção do conhecimento naquela época, bem como faz um trabalho solicitado

pela sociedade que busca as interpretações do artista em suas diversas formas

artísticas como a escultura, pintura, desenho, etc., sua arte acaba sendo submetida

aos donos do poder, que eram os mercadores. Essa situação se modifica no início

da civilização moderna, na qual os valores dominantes são os direitos do homem. O

artista então, passa a viver do que produz. A partir do século XX a sua função

passou a ser unicamente produzir obras de arte. “Tão cheio de si ou do universo, o

verdadeiro artista está sempre pleno para se utilizar da poesia, das coisas que não

servem para nada” (BARBOSA, 1986).

Contemporaneamente, a função do artista no mundo globalizado acaba sendo

paradoxal, onde sua arte é expressa de acordo com seus ideais, mesmo na

sociedade em que ele vive. Porém é fato que devido uma questão de sobrevivência

o artista muitas vezes usa criatividade em função de interesses econômicos

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capitalistas. O sistema capitalista acaba por influenciar o comportamento das

pessoas gerando um mecanismo de estímulo ao consumo, bem como de atitudes de

padronização de gostos em relação a um determinado tipo de produção social e

cultural.

O artista abre espaço para a existência de um outro a partir de suas

entranhas. Essa é a sua função social e seu papel na sociedade. Ele estimula o

pensamento sobre a existência, vislumbrando possibilidades de vida mais reais. O

artista traz o inconsciente de suas emoções e de suas ações para o consciente.

Portanto:

O artista deve estimular a criação artística, valorizando os processos criativos existentes na sociedade, não cedendo a pressões oriundas do mercado, do poder ou de qualquer discriminação de caráter cultural (ARAUJO, 1994, p. 73).

A função de todo artista é sacudir a inércia, é colocar na vida, o que está

escondido no seu interior, o seu dom de criar. É desenvolver uma educação

saudável, voltada ao humano, à natureza artística, ao prazer de expressão do belo.

Para o artista, educar é reconhecer arte na vida e fazer do dia-a-dia uma verdadeira

obra de arte. Segundo Ernst (1987, p. 14) “para conseguir ser um artista é

necessário dominar, controlar e transformar a experiência em memória, a memória

em expressão, a matéria em forma”.

2.3.1 O artista professor no espaço escolar

O ato de criar supõe a imaginação. E a imaginação é a mola propulsora do

surgimento de novas idéias. Quando a imaginação conduz à concretização dos

elementos do “sentir”, está criada uma obra de arte. E o seu criador é chamado de

artista. O artista tem um poder especial. É capaz de sintonizar com o universo e

trazer um pouco de sua beleza para o mundo que o cerca. O professor também é

um criador, logo, ele também é um artista (DUARTE JUNIOR, 1988).

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O homem pode exercer deferentes funções. Um indivíduo, a ele é possível

ser um poeta, um homem de ciência e um político. No caso de nossa pesquisa

estamos nos referindo ao fato de ser artista e de ser professor ao mesmo tempo,

uma função não tira a outra. Pode ser uma experiência em que uma demande

desafio pra outra e/ou construam possibilidades de produção do saber e do

pensamento reflexivo e da criatividade. O trabalho artístico e a docência são

distintos entre si, mas, perfeitamente compatíveis. Eles são distintos na forma como

o conteúdo é aprendido e/ou ensinado. A aprendizagem realizada fora da escola não

é estruturada, nem planejada e o tempo dessa aprendizagem não é previamente

fixado, respeitando-se as diferenças para a absorção dos conteúdos. Na

aprendizagem dentro da escola tudo é planejado, organizado e estruturado, novo

conhecimento vai sendo acrescentado e aperfeiçoa o conhecimento já adquirido.

A arte trabalha com a reflexão, com o pensamento. Assim, o artista quando

atua na sala de aula, torna-se um provocador que leva o aluno a pensar.

Empenhado em cativar os alunos na sala de aula, ele cria uma didática própria e

divertida. Quando o artista exerce a função de professor, geralmente transmuta-se

em ator para abrir a cena e transformar a aula em um palco iluminado. Mistura razão

e emoção. O artista é criativo como deve ser todo professor e a partir do momento

em que ele cria alguma coisa, consegue se aproximar do aluno que também começa

a criar conhecimentos.

Para Biasoli (1999, p. 105) “reflexão significa reconhecimento de que a

produção de conhecimento sobre o que deve ser ensinado e como deve ser

ensinado não é propriedade exclusiva das universidades” e que os professores têm

suas próprias teorias que contribuem para a aquisição do conhecimento. Diante

disso, torna-se inquestionável a capacidade docente de um artista.

Devido à exigüidade do mercado de trabalho, muitos artistas são obrigados a

exercer uma segunda atividade, geralmente ligada à docência. Atualmente, é

significativa a quantidade de artistas que, desamparados pelas políticas públicas que

envolvem atividades culturais e artísticas, buscam o caminho do ensino, nas

escolas, nas academias e nas Organizações Não-Governamentais (ONGs).

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Exercedo paralelamente a docência e a prática artística. Exercer a docência

torna-se uma garantia financeira para o artista, é a sua estabilidade financeira. É

comum ver artistas de teatro, dançarinos, artistas independentes, sem nenhuma

ligação anterior com a educação, procurar na escola a garantia de sua manutenção.

Muitos artistas buscam a área educacional para atuarem e se manterem, em

virtude de que não conseguiram se realizar financeiramente através da sua arte. O

aumento do número de artistas atuando nas escolas como docentes, reflete uma

insustentabilidade econômica do profissional vinculado à arte, como também o

abandono de um preconceito, ainda recente, de que “artista que é artista” não faz

outra coisa que não seja o seu trabalho artístico (RODRIGUES, 1968).

Eles exercem concomitantemente as duas profissões: artista e professor!

Pergunta-se então: como são recebidos pela escola os artistas/professores? Será

que eles conseguem se adequar à nova situação? Será que o artista quando chega

no espaço escolar consegue desenvolver bem o processo de ensino-aprendizagem?

O artista conhece o processo de ação-reflexão-ação por estar envolvido em prática

educativa fora da escola.

A docência agrega a experiência, os conhecimentos e os saberes

pedagógicos. Para alguns estudiosos a docência é a profissão do professor, ou seja,

é aquele que realiza práticas educacionais. Uma prática educativa, mas nem toda

prática educativa é docência, como por exemplo, as relações familiares, afirma

Zabala (1998). A educação acontece tanto dentro como fora da escola, em

diferentes setores como na família, igrejas e profissão. A prática educacional dentro

da escola utiliza métodos e técnicas diferentes de ensino e trabalha com memórias,

saberes, identidades e conhecimentos repassados em seus conteúdos

programáticos. A educação não-formal, ou seja, aquela que os artistas possuem

antes de chegar à escola, é a prática educacional organizada e sistemática que,

normalmente, se realiza fora dos quadros do sistema formal de ensino.

Geralmente a escola formal não trabalha com a emoção e a intuição, que são

inerentes ao artista. O trabalho que os artistas participantes deste estudo realizam

fora do espaço escolar é o teatro, que também é uma experiência educativa, embora

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seja uma educação não-formal. Ao atuarem em uma peça teatral, muitos artistas

estão adquirindo sua intelectualidade ao longo do tempo, considerando que a arte é

também uma atividade intelectual. Duarte Júnior (2003), citando Maffesoli diz que é

preciso considerar que o conhecimento do mundo é uma mistura de rigor e poesia,

razão e paixão, lógica e mitologia, lógicas e estéticas, intelectuais e estésica,

científicas e artísticas.

A criatividade, a imaginação, os conteúdos lógicos são elementos

fundamentais na aquisição dos conhecimentos. No processo de criação artística, o

nível mental também se faz presente, desempenhando importante papel, pois,

quando se cria, costuma-se também pensar no para que se está criando, afirma

Sergio C. B. Farias3.

A educação deve priorizar o interesse dos alunos em adquirir novos

conhecimentos e diante disso, a sala de aula deve ser um espelho do atelier de um

artista ou do laboratório de um cientista. Neles deverão ser desenvolvidas

pesquisas, técnicas que são criadas e recriadas, e o processo criador toma forma de

maneira viva, dinâmica, afirmam Fusari & Ferraz (1992). A pesquisa e a construção

do conhecimento é um valor tanto para o educador quanto para o educando,

rompendo com a relação sujeito/objeto do ensino tradicional. Dessa forma, o ensino

estará intimamente ligado ao interesse de quem aprende. Então, cabe aos

professores/artistas comprometidos com a educação fazer com que o ensino se

torne um grande espetáculo na escola.

A atividade artística e a docência são atividades distintas, porém compatíveis.

Entre o fazer artístico e o fazer pedagógico existem afinidades, pois sendo

atividades humanas, procuram criar usando a emoção e a razão, partem sempre em

busca do aperfeiçoamento e do crescimento.

A escola por ser um espaço que propicia convivência e debate é muito

procurada pelos artistas, por vislumbrarem ali um novo ambiente de reflexão e de

formação, que é um espaço coletivo por excelência, raramente encontrado em outro

3 Doutor em Artes pela USP e Professor da UFBA.

24

Page 16: Monografia Bruna Pedagogia 2008

contexto. O artista faz não apenas seu trabalho artístico, como também se engaja

em muitas outras questões da sociedade, sejam políticas ou sociais, denunciando

injustiças e contribuindo para fazer de seu país um ambiente democrático. Quantos

artistas na época da repressão foram exilados, porque através de suas músicas, de

suas peças teatrais, de suas poesias, denunciavam o sistema político!

A docência tem sido amplamente procurada pelos artistas em virtude deles

perceberem que a escola é um lugar possível de discussão e troca, por que vêem

nela um fórum de discussão e convivência, dois aspectos fundamentais para o

exercício da arte. Campos (1993) ressalta que a escola se configura como um

ambiente fértil para intersecções de outras instâncias do conhecimento, e ferramenta

útil na articulação de diferentes conceitos envolvidos na prática artística. O artista,

por ocupar um papel ativo e presente na reflexão artística, busca outras áreas de

atuação e a sala de aula pode tornando-se um ambiente de ativismo cultural e

político exercido por ele.

Zabala (1998) enfatiza que a Pedagogia Cultural conduz para que todos se

tornem muito menos "escolares" e muito mais "culturais", nesse sentido, favorece o

desenvolvimento de uma prática pedagógica produzida num contexto da diversidade

cultural, que vai interagir com as produções coletivas e individuais de cada aluno.

Isto modifica a prática de formação do intelectual da educação, que atua de forma

mais engajada, envolvendo questões de mobilizações sociais e mudança políticas.

O intelectual artista, geralmente atua nesse cenário de debate e proposições de

mudanças, uma vez que tem condições de pensar, dizer e fazer algo diferente com a

sua docência neste mundo culturalmente pluralizado.

De acordo com Strazzacappa & Morandi (2006) a docência deveria ser

artística, por que ela cria e inventa, que, ao educar, reescreve os roteiros rotineiros

de outras épocas. Ela desenvolve práticas pedagógicas ainda inimagináveis, que

desfazem a compreensão, a fala, a visão e a escuta das mesmas coisas, dos

mesmos sujeitos, dos mesmos conhecimentos. Estimulam outros modos de ver e

ser visto, dizer e ser dito, representar e ser representado, acabando com a mesmice.

25

Page 17: Monografia Bruna Pedagogia 2008

Quando um artista se encontra atuando na docência, enche-se de alegria ao

trabalhar nas fronteiras entre as disciplinas e as pós-disciplinas, os sujeitos e os

não-sujeitos, os sentidos e os sem-sentidos. Recriam, fazem coisas que renovam e

singularizam o seu trabalho cultural de Educação, ressaltam Fusari e Ferraz (1993).

Promovem o auto-despreendimento, implicado no questionamento dos próprios

limites, desenvolvem a docência artística. É o que se denomina “educar artistando”.

Todo professor deveria desenvolvê-la!

O educar artistando significa ter prazer em criar novas metodologias, assumir

o risco de educar diferente, tornar o ensino mais prazeroso, transformar o processo

educacional em algo belo e atraente, e praticar a arte-educação. A arte-educação

não é ensinar trabalhos manuais nem dar aulas de artesanato, não é promover

eventos de arte, não é a utilização da arte como ferramenta de ensino de outras

disciplinas, não é fazer teatrinho nas aulas de história. De acordo com Mae Barbosa

a arte-educação valorizava o desenvolvimento da auto-expressão, da criatividade e

da autodescoberta, essa experiência se torna efetiva a partir da Proposta Triangular

que envolver três vertentes básicas: o fazer artístico, a leitura da imagem (obra de

arte) e a história da arte de forma contextualizada (1991). Segundo Fusari e Ferraz

(1993) a arte-educação tem propostas que vão além do ensino de uma técnica, seja

artesanal ou artística. E essa expressão de acordo com as autoras não é somente

“expressão do eu” ou da “individualidade” tampouco.

Na arte-educação o professor tem que fazer o papel de artista, entretendo e

despertando o interesse dos alunos, por que quando o aluno está insatisfeito a

aprendizagem está em perigo. Existem vários tipos de professor, segundo Campos

(1993, p. 38):

O professor se apresenta sob diversas faces. O professor-instrutor, sempre transmite orientações, conselhos, respostas prontas. O professor-capataz exige frequência, distribui tarefas, cobra desempenho, dá suas broncas. O professor-sábio, distante, especialista, profundo conhecedor da sua matéria, cuja última preocupação é saber se alguém quer aprender ou não. Há também o professor-treinador, atento à realidade do aluno, preocupado em tornar o saber apreensível, assimilável, praticável. Existe ainda o professor-artista que é um poeta em ação.

26

Page 18: Monografia Bruna Pedagogia 2008

O professor precisa ser um artista, tornando suas aulas atraentes e

interessantes. Nas suas aulas não deve haver lugar para o tédio. Ele deve possuir

criatividade e determinação para manter uma realidade encantada, para tornar o

espaço escolar mais bonito e mais alegre.

Uma aula cheia de graça e irreverência rompe as barreiras entre “o lugar”

professor e “o lugar” aluno, desenvolvendo uma práxis pedagógica que desestabiliza

certas relações de poder, despertando uma consciência política da dignidade, o

lirismo na condição humana. Essa postura decerto promove uma outra relação entre

aluno e conhecimento. O fazer artístico abre outros caminhos para o curioso, o

singular, para misturas e idéias novas, ressalta Eagleton (1990).

O professor-palhaço ou professor-clown como é chamado por Hudson,

(1974), faz tudo seriamente. Para esse autor ele:

É paradoxalmente, a encarnação do trágico, pois assume, sem as máscaras que nós usamos no cotidiano (falsos rostos, mais falsos do que as verdadeiras máscaras), a fraqueza da humanidade, a nossa condição de seres que praticamente tudo desconhecem. O professor-artista assume o que é cômico e risível, assume o risco de alguém misturar marmelo com chuchu (HUDSON, 1974, p. 18).

Para o professor-artista a aula é um espetáculo na qual ele utiliza recursos

cômicos para fazer rir, para fazer pensar, para despertar. O cômico é legítima

categoria artística, e tem o poder de iluminar os caminhos da aprendizagem. Ao

utilizar um trocadilho, uma frase ambígua, um gesto que ninguém esperava ver

numa sala de aula, o professor faz o aluno arregalar os olhos, abrir os ouvidos,

despertando nele novas reações (PERISSÉ, 1994).

Quando o artista-professor usa a graça, a irreverência em suas aulas,

transforma-as em aulas encantadoras, quebrando a rotina, questionando as práticas

pedagógicas tradicionais. Os alunos durante essas aulas são despertados

intelectualmente, brotando neles o desejo de absorver mais e mais conhecimentos.

O autêntico professor-artista, relativiza normas e verdades sociais que se demonstraram insuficientes, espanta o medo de viver no plano da criatividade, não leva a sério a idéia da punição. Sofre, mas

27

Page 19: Monografia Bruna Pedagogia 2008

não desiste de ridicularizar a idiotice humana, o sadismo humano que consiste em reprimir o humano que existe dentro de cada um (STRAZZACAPPA & MORANDI, 2006, p. 48).

Ele tem como premissa de que a missão do artista é não aborrecer, é

mostrar, de forma lúcida que se pode olhar o mundo com uma visão crítica e ao

mesmo tempo, divertida, maneira viva, lúdica, lúcida, como podemos olhar o mundo

com uma visão crítica e divertida, apaixonada e trágica. Ele brinca com as

instituições e valores oficiais com seriedade.

Almeida (1992) afirma que todo docente usa máscaras de tristeza ou euforia,

de timidez ou orgulho, de superioridade ou inferioridade, máscaras que ocultam sua

verdadeira personalidade. E, atrás dessas máscaras existe sempre uma criança, um

palhaço, um formador de opiniões e desencadeador de conhecimentos. O professor-

artista transforma a sala de aula em um picadeiro, em um palco, e com essa

postura de teatralidade e provoca atitudes que vão revelar nos alunos

comportamentos relacionados a atitudes de “revoltas” e alegria. Essa revolta diz

respeito à consciência de si mesmo nas relações diante das situações vivenciadas e

o rompimento e/ou enfrentamento das relações que causam certos tipos de

opressão.

O artista-professor estreita os laços pessoais com os alunos, o que permite

melhores condições para trabalhar coletivamente e encontrar soluções para os

desafios da prática pedagógica, no contexto onde essa prática se insere. Ele

estabelece diálogos sem censuras com seus alunos, se permitindo conversas

descompromissadas e verdadeiras, como um bate-papo que flui naturalmente após

um espetáculo (ALMEIDA, 1992).

Muitos artistas têm seu talento artístico voltado para o ensino e por isso resolvem abraçar a profissão de educador. Estes profissionais que possuem talento híbrido (artístico e pedagógico) devem ser valorizados. Porém, o que geralmente acontece é que eles muitas vezes não encontram espaços de trabalho, pois não são artistas convencionais nem professores tradicionais e acabam rechaçados tanto no mundo da arte quanto no mundo da escola. Deve-se enfatizar a maravilha que é um artista/professor ser um pedaço do mundo da arte que penetra no espaço escolar (STRAZZACAPPA & MORANDI, 2006, p. 81).

28

Page 20: Monografia Bruna Pedagogia 2008

A sala de aula pode ser um lugar significativo de conhecimento de arte,

portanto, é interessante que o artista/professor monte uma coreografia para dançar e

discutir com seus alunos, traga suas pinturas para a sala de aula, toque uma peça

ou cante uma canção para que os alunos também entrem em cena, recite um poema

ou faça uma leitura de um texto teatral para os alunos, afirma Abramovich (1998).

Essa encenação por meio de significados imagísticos, causa o efeito de atribuição

de significados de um termo a outro. De acordo com Ianni (2000, p. 17) “a

comparação permite enriquecer a percepção das configurações e movimentos da

realidade”. O artista tem o poder de canalizar os sentimentos mais profundos, o que

lhe confere um poder de comunicação muito grande. E o artista/professor tem o

poder de sensibilizar o aluno através de uma dramatização, de um canto, de uma

dança.

Ianni (2000, p. 18) afirma que para Max Weber a reflexão sobre a realidade

social “compreende sempre a comparação [...] por meio da qual se torna possível

observar, analisar e interpretar a complexidade da realidade social”. Ao encenar em

sala de aula o artista/professor conduz o aluno a “flutuar pelo mundo afora, de modo

a desprender-se e se despertar, distanciar-se e clarificar-se, mergulhar em sua

reflexão e soltar a imaginação” (IANNI, 2000, p. 25). Isso quer dizer que o

artista/professor utiliza a metáfora como uma metodologia de ensino bem atraente

aos olhos do aluno.

A metáfora é então a compreensão de um domínio através de outro e se

caracteriza por criar uma relação entre um domínio fonte e um domínio alvo. A

metáfora objetiva relacionar os conteúdos curriculares com situações do fazer

artístico para facilitar a compreensão destes conteúdos. Ela é uma das formas de

linguagem que possibilitam o resgate do cotidiano e a interação dos sujeitos que

constroem o conhecimento, em um ambiente livre de tensões, melhorando o

processo de ensino-aprendizagem. A metáfora governa tanto a construção, quanto o

desenvolvimento de conceitos, pois o pensamento passa primeiro pelo significado

para depois passar pela palavra (PONTES, 2003).

Para Bosi (1999) é significativa a contribuição da experiência artística na

atividade docente, por parte do artista que também é professor, uma vez que tanto a

29

Page 21: Monografia Bruna Pedagogia 2008

atividade artística como a docente, são atividades criadoras que se conjugam numa

perspectiva de educação libertadora. A mesma emoção que o artista sente ao criar

uma obra de arte é sentida também no trabalho com os alunos em sala de aula.

Eco (1995) salienta que o artista-professor, tendo a vivência teórico-prática do

fazer artístico, tem a facilidade de compreender o processo de criação dos seus

alunos e, também, a possibilidade de desenvolver uma prática pedagógica em que a

emoção estética seja um elemento mediador significativo entre o ensinar e o

aprender.

2.3.1 Como o professor atua?

Fica na responsabilidade do professor a formação integral das pessoas e não

apenas a sua formação intelectual. Atualmente, o conhecimento assume novas

configurações, modifica-se constantemente por causa das novas descobertas e

precisa ser sempre atualizado. Portanto, as aulas devem ser prazerosas e atraentes

aos olhos dos alunos, para que eles passem a gostar cada vem mais do espaço

escolar.

Nesse contexto, o trabalho do docente deve ser estratégico, abrangendo um

raio de atuação cada vez maior. Assumindo um novo perfil, projetando juntos com os

estudantes os caminhos que estes percorrerão até alcançar uma formação

completa. Ele precisa ser um dinamizador de grupos, responsável não mais por

“formar alunos isoladamente, mas por constituir comunidades de aprendizagem

capazes de desenvolver projetos em conjunto, se comunicar e aprender

colaborativamente” (RAMAL, 2002, p. 32)

Com uma mentalidade e expressão artística em sua experiência pedagógica,

utilizando uma linguagem figurada e emocional que é mais loquaz, marcará muito

mais fortemente o aprendizado, afirma Santos (2002). Uma vez que a arte é um fator

de grande importância para o homem, o educador que utiliza os seus recursos para

auxiliá-lo na sua tarefa educativa assume junto aos alunos outra perpsctiva da

educação. Assim a arte reestrutura a concepção do saber e abarca todos os tipos de

inteligências. Ela possibilita ao professor, a procura por maneiras diferentes de

30

Page 22: Monografia Bruna Pedagogia 2008

transmitir uma mesma mensagem. O professor deve ainda estimular o raciocínio e a

compreensão dos seus alunos. Assim:

No processo de ensino-aprendizagem devem ser estimulados não somente os processo analíticos, que dividem, mas os de síntese, que integram. Cada hemisfério cerebral é responsável por uma dessas dimensões. O esquerdo pelo mundo analítico e racional e o direito, pela dimensão da síntese, da intuição, da criatividade, da arte (RAMAL, 2002, p. 2).

Para Duarte Junior (1988) o docente deve compartilhar suas experiências com

os alunos, o que contribuirá para a compreensão dos problemas vivenciados na sala

de aula e para a construção de sua prática pedagógica conjuntamente com os

demais envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, durante o qual, várias

vozes poderão ser ditas e trocadas, entendidas e confrontadas, e em conjunto

poderão buscar saídas possíveis.

A liberdade de ensinar para o docente torna-se o fator vital para sua realização

no desenvolvimento de sua práxis pedagógica, pois a aprendizagem do aluno vai

depender dessa liberdade. Mas, o que é ter liberdade de ensinar? É a liberdade de

externar suas práticas pedagógicas sem a vigilância da administração da escola, é

ter livre arbítrio para criar, para inovar, para escolher as metodologias que considera

melhor para seus alunos (CHIOVATTO, 2000).

Para que haja liberdade no processo de ensino-aprendizagem, devem ser

asseguradas ao professor, condições para ensinar, instruir, transmitir conhecimento,

através de suas exposições e dos recursos materiais disponíveis nas instituições de

ensino. Quem ensina com liberdade, educa. Quem ensina com liberdade desenvolve

integralmente o educando. Portanto:

Quem tem liberdade de ensinar transforma suas aulas em muito mais do que lições, mas em artes de ensinar, de tal modo que a liberdade de ensinar revela-se, em muitos professores, como a liberdade de pôr em prática uma idéia, valendo-se, para tanto, de sua competência técnica. Quando os professores transformam suas aulas em artes revela-se, que sob a liberdade de ensinar, podem obter resultados, no processo escolar, de modos diferentes, de formas pedagógicas das mais diversas (CHIOVATTO, 2000, p. 3).

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Page 23: Monografia Bruna Pedagogia 2008

Uma das competências do docente deve ser a capacidade de decidir sobre a

qualidade e a quantidade de conhecimentos, idéias, conceitos e princípios a serem

explorados nas suas atividades escolares, estabelecendo uma relação intrínseca

com a realidade social em que o aluno está inserido. “Uma pequena qualidade de

conhecimento consolidado é mais utilizável e transferível do que uma grande

quantidade de conhecimento instável, difuso e completamente inútil”, afirma Ausubel

(1980, p. 78).

Ao professor cabe possuir também a competência de perceber que os

conteúdos só possuem significados para o aluno se estiverem vinculados à sua

realidade existencial, se contribuirem para a resolução de seus problemas

cotidianos. Ele deve atuar na educação como um artista atua no palco durante uma

cena de teatro, porque na realidade, todo professor é no fundo, um ator, ressalta

Zabala (1998).

O artista-professor traz consigo experiências de vida nas suas relações

humanas que ao logo da vida no palco contribuem para seu bom desempenho na

sala de aula, tornando assim sua aula uma representação do seu saber artístico.

Nesse sentido é importante que o professor/artista:

[...] assuma também, sem susto e sem medo, sua função de artista, de produtor, de pesquisador e de apreciador de arte. Esta é uma das grandes riquezas a serem vividas e discutidas com os alunos. É importante que o professor se torne um professor-artista, e não um mero passador de técnicas ou informações (ZABALA, 1998, p. 48).

Transformar as aulas em momentos prazerosos, e não de chateação, é um

dos grandes trunfos do professor para que as relações entre o processo de ensino e

o de aprendizagem, não sejam relações ingênuas, passivas ou reprodutoras, mas

sim participativas, criativas e transformadoras.

CAPÍTULO III

32

Page 24: Monografia Bruna Pedagogia 2008

METODOLOGIA

Realizar um estudo sobre determinada questão, ou seja, pesquisar é

reconstruir um conhecimento partindo do que já existe para se chegar a outro

patamar à frente. Uma pesquisa no processo educativo é um processo investigativo

que busca a compreensão de determinado fenômeno. Este trabalho é o resultado de

uma curiosidade em relação à atuação de atores de teatro que também trabalham

em algumas escolas como professores. Para investigar sobre essa temática foram

realizados estudos teóricos em extenso material bibliográfico.

Para a realização deste trabalho, inicialmente fez-se uma pesquisa

bibliográfica, no período de fevereiro a abril de 2008, na biblioteca da Universidade

do Estado da Bahia (UNEB), na base de dados on-line e em outros locais diversos.

O embasamento teórico foi ampliado por meio de buscas a referências bibliográficas

dos estudos relevantes. Diversas referências foram selecionadas, atendendo a

esses critérios. Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, foram realizadas

observações e entrevistas, às quais levaram a obter dados satisfatórios para a

presente investigação.

As bases epistemológicas da metodologia que sustentaram nossa pesquisa

dialogam intimamente com a pesquisa qualitativa assumindo uma perspectiva em

que “preocupa-se com os processos que constituem o ser humano em sociedade e

em cultura e compreende esta como algo que transversaliza e indexaliza toda e

qualquer ação humana” (MACEDO, 2006). Os sujeitos são considerados como

atores e autores sociais, uma vez que não são descartáveis, com valor meramente

utilitarista.

Acreditamos que a pesquisa não se apresenta em perspectiva neutra ou

objetiva, até porque a opção teórico-metodológica que optamos se constitui em uma

pesquisa qualitativa, nessa ótica se configura em uma abordagem conceitual de

implicação. Nosso envolvimento com o campo de pesquisa está em nossas

vivências pedagógicas, bem como com o envolvimento e participação nos grupos de

artistas que trabalham com teatro na região.

33

Page 25: Monografia Bruna Pedagogia 2008

Nossa pesquisa caminha numa abordagem fenomenológica, considerando

que o fenômeno, a práxis pedagógica do artista professor, torna-se uma experiência

co-participativa de sujeitos em experiências vividas permitindo partilhar

compreensões e interpretações, “interessados em descrever para compreender, o

pesquisador fenomenólogo sempre está interrogando: o que é isto?” (MACEDO,

2006).

No caso específico de nossa pesquisa, é importante ressaltar o nosso

convívio cotidiano nos ambientes de atuação dos artistas professores, tanto nas

escolas como no teatro, bem como a partir de nossa própria atuação, favoreceu de

forma diferencial a realização da pesquisa. Vivências essas que nos possibilitaram

observação desse movimento que foi se contornando e se tornando o nosso objeto

de pesquisa.

Para isso as ferramentas utilizadas como questionários, observações e

interações em diálogos nas escolas onde as experiências acontecem nos deram

suporte para construir um discurso, um texto contextualizado, que junto ao

referencial bibliográfico selecionado favoreceram com as produções dos resultados

da pesquisa.

3. 1 Pesquisa utilizada

A pesquisa que busca entender um fenômeno específico em profundidade,

chama-se pesquisa qualitativa. Nela, “o pesquisador é um interpretador da

realidade” (BRADLEY, 1993, p. 15) e não se investiga em razão de resultados,

mas o que se quer obter é "a compreensão dos comportamentos a partir da

perspectiva dos sujeitos da investigação" (BOGDAN e BIKLEN, 1994, p.16).

Esse tipo de pesquisa contribui na identificação de questões e entender

porque estas são importantes. Além disso, trabalha com uma amostra heterogênea

de pessoas, revela áreas de consenso, tanto positivo quanto negativo, nos padrões

de respostas, determina quais idéias geram uma forte reação emocional. A pesquisa

34

Page 26: Monografia Bruna Pedagogia 2008

qualitativa não deve ser usada quando o que se espera é saber quantas pessoas

irão responder de uma determinada forma ou quantas terão a mesma opinião. A

pesquisa qualitativa não é projetada para coletar resultados quantificáveis.

3.1.1 Os ambientes-palcos da pesquisa

Embora os sujeitos entrevistados atuem em espaços concretos escolares, o

enfoque desta pesquisa privilegiou a práxis pedagógica dos artistas/professores.

Portanto privilegiou-se o espaço simbólico que se dá como “não lugar”. Isto se

explica pelo fato de que o objeto e contexto de estudo se movem no campo do

mundo simbólico, que não se aprisiona nos estreitos limites do mapa enquanto

espaço geográfico. Neste sentido pode-se falar de uma dominância simbólica, em

que os significados e as representações se dão enquanto meta-lugar. As falas dos

artistas ouvidos se articulam a partir de situações que transcendem o tradicional

conceito de mapeamento físico.

Nesse sentido pensar a práxis pedagógica implica pensarmos os princípios

epistemológicos e políticos que alicerçam as experiências com a educação. Implica

também pensar um conceito de educação que viabilize as expressões das culturas,

das experiências, das esperanças e dos sonhos, onde se possa problematizar o

contexto político onde a práxis pedagógica se realiza. O conceito de práxis aqui

discutido é numa perspectiva freiriana. FREIRE, falando sobre a pedagogia do

oprimido diz:

Enquanto houver um único ser humano oprimido no mundo este livro terá validade, se enriquecerá com os aprendizados a partir da prática da libert-ação e cumprirá sua missão messiânica: a de permitir os cativos se libertem e os que não-são, sejam como humanos sensíveis, críticos, criativos, éticos, fraternos e espirituais (1992, p. 08).

Nesse contexto o conceito de educação vem como um “ato político” e nessa

perspectiva expõe a produção do conhecimento como possibilidade de produção de

experiências significativas, desenhadas nas trajetórias dos artistas professores, que

atuam também na sala de aula.

35

Page 27: Monografia Bruna Pedagogia 2008

Os cenários onde a pesquisa foi desenvolvida foram os colégios Centro

Educacional Sagrado Coração (CESC), Educandário N. Sra. do SSmo. Sacramento

(Sacramentinas) e Centro Educacional Professora Isabel de Queiroz. O Centro

Educacional Sagrado Coração (CESC) fica localizado à Praça Luis Viana, n. 182.

Possui 13 salas de aula e seu quadro de pessoal é formado por 48 funcionários,

sendo 38 professores, 1 Diretora, 1 Vice-diretora, 2 Coordenadores Pedagógicos, 1

Secretária e 5 serventes. A coordenação pedagógica segue o SISTEMA COC

ENSINO, utilizando módulos Funciona nos três turnos, assim distribuídos:

O Educandário N. Sra. do SSo. Sacramento (Sacramentinas), fica localizado à

Rua Manoel Vitorino, n. 42, centro, em Senhor do Bonfim, Bahia. Possui 42 salas de

aula, 92 professores, 1850 alunos e 62 funcionários que atuam nos diversos setores

do referido colégio. Nele funcionam a Educação Infantil, O ensino fundamental I e II

e o Ensino Médio. A Educação Infantil funciona nos turnos matutino e vespertino, o

Ensino Fundamental I no turno vespertino e o Ensino fundamental II no turno

matutino. A maioria dos professores são graduados e outros estão cursando o 3º

grau.

O Centro Educacional Professora Isabel de Queiroz fica localizado à Praça

Simões Filho, n. 222, no centro da cidade de Senhor do Bonfim. Possui 13 salas

onde funcionam o Ensino Fundamental I e II e o Ensino Médio no turno matutino e o

3º grau de Licenciatura em história e Letras no turno noturno. Seu quadro de

funcionários é composto por 54 funcionários, sendo que destes, 22 são professores

regentes. Esse estabelecimento de ensino é freqüentado por 350 alunos.

É a escola o lugar atuante dos artistas–professores, onde se busca a

investigação quanto à práxis pedagógica dos mesmos, que se mantém, de certa

forma, livre de alguns moldes fixos das limitações do espaço escolar dos mesmos,

uma vez que trazem consigo, diante de suas experiências, o potencial de lidar com a

imaginação e criatividade e linguagens, diferentes expressões e corporeidade.

36

Page 28: Monografia Bruna Pedagogia 2008

3.2 Sujeitos da pesquisa

O estudo foi desenvolvido com quatro professores da rede particular de

ensino. Realizou-se um questionário semi-dirigido com quatro professores,

denominados A- B- C e D, artistas que atuam nessas escolas como professores de

arte. Eles atuam no teatro e também trabalham como docentes nas seguintes

escolas: 02 professores que lecionam na Casinha Feliz, 01 professor lotado no

Colégio das Sacramentinas e outro professor lotado no Centro Educacional Isabel

de Queiroz. Os professores lotados no CESC, lecionam na Educação Infantil e nas

1ª às 8ª séries do Fundamental I e II.

     Previamente, foi realizada uma conversa informal com os entrevistados com o

objetivo de familiarizá-los com o pesquisador. Em seguida, os sujeitos receberam

explicações sobre o significado, importância e objetivo do estudo. Todos

responderam o questionário no mesmo momento, na quadra dos colégios. O

procedimento para preencher o questionário foi elucidado e, quando houve dúvidas,

estas foram esclarecidas. O tempo médio para o preenchimento dos instrumentos foi

de 45 minutos aproximadamente.

3. 2.1 Instrumentos da pesquisa

 Coletaram-se os dados mediante o preenchimento dos questionários semi-

dirigido, que foram instrumentos elaborados especificamente para este estudo.   Nas

questões fechadas foi feita a caracterização dos sujeitos e nas questões abertas os

dados foram analisados qualitativamente, com o objetivo de apreender, através do

discurso dos envolvidos, as questões importantes para este estudo.

Foi elaborado um questionário contendo 3 questões fechadas e 7 questões

abertas. A formulação das perguntas voltou-se a questões sobre o fazer docente do

artista/professor, por compreender que, como explicado anteriormente, a experiência

artística traz um diferencial na práxis pedagógica. A práxis pedagógica dos

artistas/professores é o conjunto de atividades que eles realizam na sala de aula.

37

Page 29: Monografia Bruna Pedagogia 2008

Foi aplicado um questionário semi-dirigido. Num contacto entre o investigador

(entrevistador) e o investigado (entrevistado) durante o qual aquele formula

perguntas sobre um determinado assunto que lhe interessa conhecer. Este método

permite obter informações e conhecer o comportamento do entrevistado através de

um diálogo planificado entre investigadores e investigados. Neste contexto elaborou-

se antecipadamente as questões, o que permitiu recolher dados sobre a

problemática em questão. As entrevistas podem ter o caráter exploratório ou ser de

coleta de informações.

3.2.2 A coleta dos dados e sua análise

Esta é a fase da pesquisa em que se reúnem dados através de técnicas

específicas. Neste estudo, os dados foram coletados no período de 02 a 20 de maio

de 2008, através da aplicação de questionários. Alguns dados foram colocados em

tabelas, gráficos e outros foram transcritos na íntegra e em seguida foram

interpretados e analisados.

Análise é o processo de ordenação dos dados, organizando-os em padrões,

categorias e unidades básicas descritivas; a interpretação envolve a atribuição de

significado à análise, explicando os padrões encontrados e procurando por

relacionamentos entre as dimensões descritivas (PATTON, 1980).

38

Page 30: Monografia Bruna Pedagogia 2008

CAPÍTULO IV

RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

   Neste capítulo serão abordados os dados que o autor do presente trabalho

conseguiu obter. São informações a respeito do trabalho docente realizado por

pessoas que também são artistas (atores).

Os resultados estão sendo apresentados de duas maneiras. A primeira

contém informações gerais sobre o perfil dos pesquisados que foram transformadas

em tabela para facilitar a visualização. A segunda maneira são as falas que contêm

as informações fornecidas pelos entrevistados sobre sua atuação na sala de aula e

o que eles pensam sobre esse fato. Dos quatro professores que receberam o

questionário, todos o responderam.

4.1 O perfil dos entrevistados

Dentre os quatro professores (Tabela 1) pesquisados, três (3) pertencem ao

sexo masculino e apenas um (01) ao sexo feminino. Um deles possui nível superior

completo (Pedagogia) e os demais estão cursando na UNEB, sendo que um

freqüenta o Curso de biologia e os demais o Curso de Pedagogia.

Dois (02) professores atuam há mais de cinco anos na docência e o demais

(02) há menos de 5 anos. Estes professores foram escolhidos porque realizam o

trabalho na docência e também atuam no teatro, apresentando trabalhos de

dramatização.

Quanto à atividade artística realizada pelos investigados, todos afirmaram ser

o teatro, a dramatização, a encenação. Eles são atores que realizam suas atividades

em peças teatrais. O teatro está ligado diretamente ao ser humano, independente da

área que atua, trabalha com a reflexão, com o pensamento. Ele auxilia o aluno a

desenvolver um processo de comunicação eficaz.

39

Page 31: Monografia Bruna Pedagogia 2008

Tabela 1. O perfil dos professores/artistas

Sexo Capacitação profissional

Tempo de atuação Na docência

Atividadeartística

Prof. A M Biologia + de 5 anos Teatro

Prof. B M Pedagogia - de 5 anos Teatro

Prof. C M Pedagogia - de 5 anos Teatro

Prof. D F Pedagogia + de 5 anos Teatro

4.2 O discurso dos professores/artistas

4.2.1 Em relação à prática docente instigar a prática artística

Quando se perguntou aos professores se a prática do docente estimulava a

prática artística, a maioria respondeu afirmativamente, variando apenas nas suas

justificativas, mas todos concordaram em um ponto de vista: o de que a prática em

sala de aula prepara o docente para exercer qualquer atividade em qualquer setor,

porque desenvolve o raciocínio, a eloqüência, a iniciativa e a criatividade. Um dos

entrevistados acha que a prática docente só instiga a prática artística se o professor

não se prender aos métodos prontos. Um outro entrevistado não justificou sua

afirmativa. Eis a a fala dos professores:

“Acredito que sim, pois a prática do arte-educador proporciona um despertar criador que se revela na prática artística” (PROFESSOR A).

“[...] tudo depende da formação de cada sujeito. Se o arte-educador se limitar à reprodução de métodos prontos, dando conta dos conteúdos exigidos sem intervenções mais profundas, provocando o processo criativo, não será de forma nenhuma instigado à descoberta de novos insigt artísticos” (PROFESSOR B).

“Sim, acredito que o artista estando na sala de aula provoque essa situação” (PROFESSOR D).

Acredita-se que realmente a prática artística estimula uma docência

diferenciada, no sentido de que o professor é antes de mais nada, um ator e que

utiliza-se de trejeitos teatrais, que envolve a corporeidade, a valorozação das

emoções, contribuindo para uma prática pedagógica significativa.

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Page 32: Monografia Bruna Pedagogia 2008

Os dados acima são corroborados por Perissé (1994, p. 19) quando ele

afirma:

O professor-ator compreende que, por trás das aparências de uma sala de aula, na qual os alunos estão "sedentos de conhecimento", esconde-se uma outra verdade. Os alunos estão é sedentos de vida, e, se o conhecimento não for vital, os alunos manifestarão seu desagrado na forma de dispersão, de conversas paralelas e até mesmo de sono.

Se ele agir somente como um simples reprodutor de idéias, dificilmente

chamará a atenção de seus alunos. Ele tem conhecimento de que aulas

organizadas, com começo, meio e fim, com cada passo previsto, cada tema

devidamente abordado, não atrai a atenção do aluno.

4.2.2 Em relação à complementação da prática docente com a prática artística

e vice-versa.

Alguns entrevistados, conforme a transcrição das falas abaixo, afirmaram que

as referidas práticas se complementam porque os melhores professores geralmente

são ótimos atores. O professor usa a entonação, a gesticulação, a postura corporal e

a dramaticidade para enfatizar conceitos e transmitir informações. Ele entra na sala

de aula e assume um comportamento (o papel de professor) e diante dessa postura

assumida já é um ator. Um dos entrevistados, apenas respondeu “às vezes” e não

justificou sua resposta. Um dos entrevistados acha que elas só se complementam se

a prática artística não se submeter aos ditames sociais da educação formal.

A diversidade de posturas é ressaltada por Tardif e Gauthier (2001, p. 18):

Todos os indivíduos têm centenas, se não milhares de comportamentos-papéis ao longo de um único dia. Qualquer indivíduo tem comportamentos-papéis diferenciados ao assumir uma representação: uma duplicidade, por representar um papel com uma comunicação adequada ao papel desempenhado. Um professor só é um professor em sala de aula porque assume a postura de professor e se comunica como um professor. Assim, quer queira ou não, um indivíduo para ser professor terá que representar e falar um professor em sala de aula, este é o primeiro caminho para ser ator.

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Page 33: Monografia Bruna Pedagogia 2008

Eis o que disseram alguns entrevistados:

“As duas práticas se complementam, uma vez que a relação entre elas é intima e até sincronizada. Para quer as duas se complementem, é necessário que o arte-educador/artista traga conteúdos e métodos que provoquem os alunos para uma reflexão e depois um construir artístico que acaba sempre na produção de um produto” (PROFESSOR A).

“A práxis do artista está relacionada com as questões mais subjetivas do ser humano, não ficando por isso, submetida a certos ditames sociais, muitas vezes impostos no contexto da educação, mais especificamente, da educação formal. Ambas podem se complementar, caso uma ou outra, resolva envolver elementos próprios em suas funções: seja artística ou educativa” (PROFESSOR B).

“Sim, uma prática complementa a outra.” (PROFESSOR D).

Como se percebe diante da opinião dos entrevistados, as práticas do

professor e do ator são indissociáveis, pois uma amplia a outra. É uma associação

complexa, sutil e instável, na qual se dialoga com experiências, vivências e

conceitos dos dois ambientes. O professor produz e pesquisa ao mesmo tempo,

artística e academicamente.

As atividades de ensino implicam de maneiras diferenciadas na produção

artística, até porque produzir arte significa construir conhecimento, de forma prática

e teórica, onde processos ou investigações artísticas desdobram-se em reflexões e

vice-versa. Deste modo, “produzir academicamente e artisticamente co-implicam-

se”, afirma Perissé (1994, p. 21).

4.2.3 Quanto à forma como são conduzidas as produções artísticas e

educacionais.

Com referência a esta questão, as opiniões divergiram. Enquanto alguns

disseram que a docência é mais aberta e mais flexivel e que o fazer artístico é mais

técnico e mais rígido, outro professor/artista afirmou o contrário. Um terceiro

professor já afirmou que elas estão interligadas, dependendo de como são

conduzidas. Eis o que eles disseram:

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Page 34: Monografia Bruna Pedagogia 2008

“Para mim a produção artística é mais livre que o sistema mais fechado da produção educacional que exige entre outras coisas uma nota determinada, o que às vezes em artes é um inconveniente. Instigo a produção artística e tento contextualizar a mesma, ao mesmo tempo que a produção educacional surge dentro da outra prática” (PROFESSOR A).

“Dentro do contexto da educação, principalmente da educação formal, os conteúdos estudados têm um sentido prático racional. A prioridade é adquirir conhecimento para um aprimoramento de saberes e dominação de códigos, que permitam o acesso aos diversos meios culturais, relacionando produção educacional diretamente com a necessidade de saber, para se incluir nos espaços formais de geração de renda e valores sócio-econômicos. A produção artística tem tudo a ver com a subjetividade! Produzir artisticamente é promover e adquirir cultura para se afirmar social e emocionalmente, propondo mudanças significativas na sociedade” (PROFESSOR B).

“A produção artística exige uma postura mais profissional, mais ‘técnica’. Já a produção educacional precisa de flexibilidade” (PROFESSOR C).

“Está tudo ligado, seja uma produção artística ou educacional. A questão é como você conduz a atividade. Voce acaba orientando pedagogicamente também um espetáculo quando está no papel do diretor” (PROFESSOR D).

  A afirmação do professor C é concordante com o pensamento de Tardif e

Gauthier (2001) quando eles afirmam que o professor deve ser um ator racional, isto

é, deve ser capaz de desenvolver estratégias pedagógicas, como um fazer singular

que funde e confunde a idéia de aula como obra de arte e sua problemática. Assim:

É indispensável, como efeito, que toda expressão espontânea seja seguida de uma reflexão a o seu respeito, reflexão que permita analisa-la, aprofundar os seus dados e, através de uma série de tomadas de consciência, trazer à tona as alienações que pesam sobre o indivíduo: alienações congênitas, “carências de ser”, mas também alienações sociais, econômicas, políticas, culturais. A revelação dessas alienações desenferruja e desperta as necessidades do indivíduo, desce à raiz dos desejos, libera todos os apetites profundos e indica as fontes em que eles podem ser saciados. (PORCHER, 1982, P. 135).

A afirmação do professor B ajuda-nos a pensar que, através do estimulo em

torno das emoções, pode se gerar reflexões das experiências, que favorecem a

produção de um novo conhecimento. Nesse sentido Porcher nos ajuda a perceber o

que vem a ser uma educação que tem como alicerce a problematização, que

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Page 35: Monografia Bruna Pedagogia 2008

envolve outros aspectos do ser humano para além da racionalização, na busca de

uma transformação em diferentes dimensões da existência, individual e coletivo.

4.2.4 Como a docência influencia o fazer artístico ou vice-versa

De acordo com os resultados obtidos, transcritos abaixo, alguns professores

afirmaram que são os ditames artísticos que influenciam o ensino em sala de aula.

Entretanto, outros informaram que ambos estão integrados um ao outro, ou seja, o

fazer artístico influencia a produção educacional, tanto quanto a educação influencia

a atividade artística.

Esta afirmação é ratificada por Araújo (1994) quando salienta que isto quer

dizer que o professor com todo o seu instrumental de informação, traz para a

experiência do artista uma dimensão de diálogo muito grande, de reflexão sobre o

processo criativo de uma maneira mais ampla e também de sistematização destas

experiências.

No espaço escolar acontecem contatos com as linguagens expressivas, logo,

o teatro e a expressão corporal têm objetivos educacionais porque estimulam a

imaginação, organizam o pensamento que é abstrato, como o teatro.

“Acho que a relação é recíproca e tem que ser. A produção educacional no seu contexto tem ampla influencia sobre o fazer artístico e acredito, devido a minha prática, que o fazer artistico pode e deve influenciar o ensino, pos bem trabalhado serve p/ derrubada de velhos conceitos educacionais” (PROFESSOR A).

“A arte traz em si uma bagagem muito grande, causando muitas vezes, um desconforto nas coisas estabelecidas e tidas como certas. A arte exerce com sua postura libertina, um diálogo entre as linguagens do mundo, é provocada e provoca mudanças, pensando e fazendo pensar a partir da educação” (PROFESSOR B).

“Acho que os ditames artísticos é que interagem com o ensino, porque foi a arte que me levou a pensar que poderia ser professor e me estimulou a sê-lo. Acredito que não haveria sentido em minha produção como professor sem uma produção artística e sem uma relação com o campo artístico ” (PROFESSOR C).

“A questão é aquela velha história: que o professor de artes tem jeito para tudo, é animador. A visão deturpada que algumas instituições

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Page 36: Monografia Bruna Pedagogia 2008

tem do trabalho do arte-educador é que se mostra negativa” (PROFESSOR D).

4.2.5 Quanto à atuação em sala de aula

Os professores/artistas acham que em alguns momentos agem como se

estivessem apresentando uma peça teatral. Em outros momentos se sentem

tolhidos, até porque o sistema educacional limita o trabalho do docente, não lhe

dando autonomia para realizar um trabalho aberto, para criar livremente, para

colocar em prática metodologias inovadoras.

O que disseram os professores/artistas entrevistados neste estudo:

“Antes, no inicio me sentia muito mal, quase num pesadelo. Mas hoje, com uma certa experiência, me sinto muito a vontade e livre para programar o conteúdo a ser trabalhado” (PROFESSOR A).

“Como educador tenho uma natureza artística, e preciso desenvolver uma oralidade agradável aos ouvidos de quem me escuta; isso é música! Assim, sinto-me como um músico. Contudo, é necessária uma atenção contextualizada, pois não depende somente do trabalho individual realizado na sala de aula. O educador precisa entender que sua tarefa separadamente não terá resultados satisfatórios, sendo imprescindível o trabalho coletivo interdisciplinar desfragmentado e flexível. É dentro da certeza que encontramos os caminhos que construimos” (PROF. B).

“Um tanto quanto ‘preso’, pois o modelo de escola que temos, ainda, não está apto a uma boa aula com um arte-educador. Por exemplo: os professores das salas vizinhas precisam de silêncio. Para a escola, silêncio é sinônimo de ordem, organização, e barulho é o contrário. Isso se torna um pouco complicado, já que a proposta é a conquista da autonomia e criticidade” (PROFESSOR C).

“Às vezes me sinto como se estivesse num palco quando o momento é prá contar uma história, e ao mesmo tempo, tem momentos que me sinto como uma professora longe de ser artista” (PROFESSORA D).

O que se pôde entender diante das respostas acima, é que o professor/artista

fica inibido diante de todo o processo pertinente ao ensino, fica dividido entre a

complexidade do sistema acadêmico gerido pelos moldes atuais e entre a

simplicidade do sistema artístico. Para esse profissional a sala de aula pode muitas

45

Page 37: Monografia Bruna Pedagogia 2008

vezes se transformar em o palco de um teatro, como também o palco de um teatro

pode se transformar numa divertida sala de aula.

Campos (1993, p. 48) se posiciona sobre esse fato ao afirmar que:

O professor é também o ator na medida que além do pensar, do idealizar, atua na transmissão do conhecimento para difundir idéias, formar novos pensadores capazes de dar nova continuidade à arte da criação e assim dinamizar o processo educacional , o processo de transformação social com vistas ao progresso e ao desenvolvimento da nação.

4.2.6 Quanto à questão “suas vivências artísticas influenciam no seu processo de ensino-aprendizagem?”

A maioria dos entrevistados responderam afirmativamente. Disseram que o

fazer artístico não é apenas um entretenimento, mas também uma ferramenta para a

formação crítica dos alunos, porque tem o poder de transformar pessoas comuns em

cidadãos conscientes do seu papel na sociedade. Assim se manifestaram:

“Totalmente. Creio que se não fosse artista nem professor seria. Ser artista e lecionar é complementar para mim, acho que o lugar da educação deveria ser ocupado por artistas” (PROFESSOR A).

“O processo de ensino aprendizagem não é restrito política e geograficamente, portanto não é possivel separar um ser humano de si mesmo. Se alguém faz arte, onde estiver vai estar pensando em arte. Se essa pessoa trabalha no processo educacional, também estará ensinando e aprendendo, consciente ou inconscientemente” (PROF. B).

“Muito. Por que eu sou um artista e é este artista que vai para a sala-de-aula” (PROFESSOR C).

“Acredito que 80% da minha vivência artística tenha influenciado muito para essa atividade” (PROFESSORA D).

A afirmativa dos professores acima, confirma o que Eco (1995) diz: quando se

exerce uma atividade artística, os órgãos dos sentidos se tornam apurados. O

artista/professor desenvolve um olhar muito intenso, o que o ajuda, como professor,

a avaliar o que o aluno precisa desenvolver mais. Portanto:

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Page 38: Monografia Bruna Pedagogia 2008

Um artista/professor tem muito poder transformador em suas mãos, pois exercita e exerce de forma integrada os distintos papéis: influencia o seu público, altera o seu meio e propõe principalmente, outras formas de ver e de viver (ECO, 1995, p. 36).

É evidente que o fazer artístico influencia o processo de ensino-

aprendizagem, uma vez que, todo professor precisa se caracterizar de ator para

abrir a cena e transformar a sala de aula em um palco, misturando razão e emoção,

apelando para a imaginação e criatividade dos alunos, incentivando a sua

curiosidade. O caráter pedagógico de uma aula dramatizada, mais do que uma

simples técnica, é uma estratégia de grande alcance.

4.2.7 Quanto à existência de diferenças entre uma sala de aula e um palco

A maioria dos entrevistados acha que sim, que existem diferenças entre atuar

em uma sala de aula como docente e atuar em um palco como ator. Um dos

entrevistados afirmou que nem sempre as diferenças existem e que depende do

momento da atuação. Veja-se os seus posicionamentos:

“Totalmente. O planejamento para a sala de aula é direcionado para um público fixo e possui uma continuidade ao longo do ano. No palco, estar-se preocupado com o produto artístico final, no meu caso, teatro tem sempre um público variado de pessoas e quantidades” (PROFESSOR A).

“Depende do ponto de vista em que se pretende citar a atuação e o que se pensa sobre atuação... O que parece claro é que, se um trabalho artístico estiver focado no contexto de uma categoria cênica, pode ser diferente uma vez que o espaço influencia na apresentação. Se a proposta for para teatro de sala ou palco italiano, a atuação é uma, teatro de rua é outra. Logo, na sala de aula, por ser um espaço menor, mais intimista, a atuação apresentará outros elementos, outra atmosfera, cheiros, luzes, sombras e cores diferentes. Porém, pretendendo-se citar uma atuação dentro de um campo mais amplo, por exemplo, tentando dizer que logo que tudo que se constrói é culturalmente pensado e portanto, quem fala está consciente de sua ação e por isso está atuando; No entanto, pode-se concluir que, se fragmentamos os saberes a fim de simplificá-los, perde-se a noção do contexto mais amplo ao qual estamos ligados e que paradoxalmente não nos pertence mesmo sendo nosso” (PROF. B).

“Sim. Às vezes acho que sim e em outros momentos acho que não. É contraditório” (PROFESSOR C).

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Page 39: Monografia Bruna Pedagogia 2008

“Claro que sim. Quando estamos encenando, o público está atento mas não tem uma participação verbal naquilo que está apreciando. Na sala de aula é o contrário pois o aluno pode interromper e até mesmo modificar o conteúdo daquilo que foi programado. Isso no caso da Educação Infantil” (PROFESSOR D).

Pelos dados obtidos acima ficou claro que a atuação em sala de aula diverge

da atuação em um palco. No cotidiano de uma sala de aula a prática se desenrola

com os saberes obtidos na formação acadêmica do professor e o público-alvo

possui quase sempre as mesmas características intelectuais e de conhecimento. Na

sala de aula o professor é independente ao ministrar seus conhecimentos, não

precisa seguir à risca as determinações do Diretor ou do Coordenador.

No palco, o público é heterogêneo com relação a idade, formação intelectual

e objetivos, portanto, é mais complexo para se trabalhar nele. “No palco, o ator age,

transforma, joga, cria imagens, traduz, expressa, sintetiza, transcende” afirma

Koudela (1990, p. 22). Para ele é importante dominar seu corpo e sua técnica de

atuação seja ela qual for, saber o que ocorre com seu corpo e saber se expressar

verbalmente. Na sala de aula, o professor não é tão exigido, não precisa ser tão

complexo.

No palco, é exigido do ator, que ele corresponda às expectativas do grupo

heterogêneo que o assiste. Ele não é independente, tem que seguir as orientações

do Diretor, do contra-regra, dentre outros. Precisa de técnica. Requer de

generosidade para distribuir sua alma para a platéia. Precisa de inteligência para

perceber o que os autores querem dizer com aquelas palavras.

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Page 40: Monografia Bruna Pedagogia 2008

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Procurou-se, através da análise das falas transcritas, tomar conhecimento do

ponto de vista dos professores que também são atores e que realizam os dois

trabalhos: na docência e na educação.

A análise dos resultados obtidos permitiu concluir que a prática na sala de

aula estimula o fazer artístico e esses dois fazeres se complementam. Segundo os

resultados obtidos, o trabalho docente realizado na sala de aula pelo artista, recebe

influências do seu trabalho artístico, especificamente neste estudo, quando os

entrevistados iniciaram como atores de teatro e só depois ingressaram na área de

educação.

Comprovou-se que os artistas/professores que participaram dessa pesquisa,

se sentem muito bem atuando na sala de aula, pois para eles a docência possui

muitas semelhanças com a atividade que eles desempenham no palco. Eles trazem

do teatro a criatividade, a auto-estima, a eloqüência, a facilidade de se comunicar

com o público. O fazer artístico foi uma preparação para que eles pudessem se sair

bem como docentes.

Vale ressaltar que apesar da inter-relação entre as duas atividades, os

entrevistados acham diferenças entre o trabalhado desenvolvido na sala de aula e o

trabalho desenvolvido no palco. Impressionante foi constatar que eles se sentem

mais à vontade quando estão atuando no teatro do que dentro de uma sala de aula,

apesar de no teatro, não serem totalmente independentes, pois têm que seguir as

orientações do Diretor da peça teatral. Os motivos alegado foram que as escolas

não lhes dão liberdade para agir da maneira que acham melhor, ou seja, na escola

(apesar de ser mais flexível que o teatro) eles não têm autonomia para usar sua

metodologia.

Acredita-se que isso ocorra porque as escolas temem que os

artistas/professores provoquem desorganização e bagunça, agindo com a

irreverência que lhes é peculiar. É importante ressaltar que aqueles que

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efetivamente agem com irresponsabilidade não estão sendo nem professores nem

artistas, mas sim distorcendo o ensino. Para que isso não ocorra torna-se

necessário que as escolas não reprimam a ousadia das práticas dos professores-

artistas nem punam suas iniciativas. As escolas precisam compreender o papel

transformador exercido pelo artista/professor na sociedade atual.

O que se pôde perceber também é que o artista/professor está procurando

exercer a docência, fazendo cursos voltados para a Educação, pois os entrevistados

estão freqüentando atualmente Cursos de Graduação em Licenciatura. Isso sinaliza

que a procura pela Licenciatura por parte dos artistas, deve-se às semelhanças

entre a prática docente e a prática artística, ou será que a grande maioria dos

artistas não tem outra opção senão exercer uma segunda atividade, habitualmente

ligada à docência?

Sugere-se que sejam realizados mais estudos sobre essa temática no intuito

de informar aos professores sobre as semelhanças entre a docência e o fazer

artístico, neste caso, o teatro, para que eles tomem conhecimento de que o

professor precisa ser um bom ator para melhor desenvolver o seu trabalho.

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Page 42: Monografia Bruna Pedagogia 2008

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Page 46: Monografia Bruna Pedagogia 2008

APÊNDICES

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APÊNDICE A- QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ARTISTAS/PROFESSORES DA CIDADE DE SENHOR DO BONFIM, BAHIA.

A) Perfil do entrevistado

1. Sexo

[ ] Masculino [ ] feminino

2. Tempo de atuação na docência

[ ] Até 5 anos [ ] Mais de 5 anos

3. Capacitação profissional

[ ] Magistério [ ] Graduação [ ] Pós-graduação

4. Atividade artística realizada

[ ] Canto [ ] Dança [ ] Teatro

B) O discurso dos entrevistados

1) A prática do professor instiga a prática artística?

2) Elas se complementam? Como se complementam?

3) Como você conduz o problema: produção artística e produção educacional?

4) De que forma a produção educacional influência os ditames artísticos, ou é o

contrário, os ditames artísticos influenciam o ensino?

5) Como você se sente atuando dentro de uma sala de aula?

6) Suas vivências artísticas influenciam no seu processo de ensino-aprendizagem?

7) Existem diferenças entre a atuação em sala de aula e a atuação no palco? Se

existirem, quais são essas diferenças?

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