Monografia - Antônio Edson Matos de Oliveira
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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PARANÁ- IFPR INSTITUTO LATINO AMERICANO DE AGROECOLOGIA EDUCAÇÃO E PESQUISA DA
AGRICULTURA CAMPONESA CONTESTADO – ICA ESCOLA LATINO AMERICANA DE AGROECOLOGIA – ELAA
VIA CAMPESINA
ANTONIO EDSON MATOS DE OLIVEIRA
QUINTAIS AGROFLORESTAIS EM ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA NA ILHA DE MOSQUEIRO REGIÃO AMAZÔNICA
Lapa OUTUBRO/2010
ANTONIO EDSON MATOS DE OLIVEIRA
QUINTAIS AGROFLORESTAIS EM ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA NA ILHA DE MOSQUEIRO REGIÃO AMAZÔNICA
Monografia de Conclusão do Curso apresentada ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia para obtenção do grau em Tecnólogo em Agroecológia. Orientador: Prof. Ms. Adebaro Alves dos Reis
Lapa OUTUBRO/2010
Dedico este trabalho aos meus pais Edmilson Carmona de Oliveira e Sebastiana de Souza Matos pelo amor e dedicação. Aos verdadeiros amigos Edesmundo Justino Mesquita Paz e Raimunda Nonata Lima Medeiros, agradeço pela dedicação e carinho a qual me tratam e me incentivam a vencer na vida. Meu muito obrigado!
AGRADECIMENTOS
Sou grato a muitas pessoas e instituições que, de várias maneiras, me ajudaram,
principalmente:
• Ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST; que me
proporcionou a está realizando mais uma faze importante da minha vida
acadêmica.
• À Coordenação Política e Pedagógica da Escola Latina Americana de
Agroecologia/ELAA, pela oportunidade que me proporcionou de fazer este
Curso, em nome do Prof. Jose Maria Tardim, coordenador e educador do
curso.
• Ao Programa Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e
Empreendimentos Solidários, em nome do Prof. Francivaldo dos Santos
Albuquerque coordenador geral do programa; da cooperação e solidariedade
quanto a realização deste trabalho.
• Ao Prof. Ms. Adebaro Alves dos Reis, pelos valiosos ensinamentos, dedicação
e orientação deste trabalho;
• A Prof. Dra. Maria José de Souza Barbosa, pelas conversas construtivas e
sugestões ao longo da realização deste trabalho;
• A companheira de Curso, Ilsa Liliana Castro Franco pela amizade e companheirismo, durante minha caminhada no curso;
• As Famílias: Mamede Gomes de Oliveira e Teófilo da Silva Munis; Roberto
Carlos da Costa Gomes e Raimunda Edileusa Gurjão Martins; Antônio de
Nazareno Ramos e Vanda Clara Miranda; Carlos José da Silva e Regina Maria
C. Cama, que se dispusera em contribuir neste trabalho permitindo que a
pesquisa de campo fosse desenvolvida em seus quintais.
• A todas as lideranças, dirigentes e militância da regional cabana, que me
incentivaram a concluir este trabalho.
• A Todas as famílias dos Assentamentos Paulo Fonteles e Assentamento
Mártires de Abril; que em todas as ocasiões estiveram me apoiando e
incentivando no momento da elaboração e discussão deste trabalho.
• A minha grande amiga e companheira Gidalva Santos Santana; que sempre
me deu força para que eu conseguisse alcançar este feito.
“Reforma Agrária; Por Justiça Social e Soberania Popular” 5º Congresso Nacional do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST/2007
RESUMO
A pesquisa teve como objetivo mostrar a importância dos quintais agroflorestais para o sustento e complemento da renda familiar, cujo universo são dois assentamentos de reforma agrária: o Assentamento Mártires de Abril, com existência a 11 anos, e o Assentamento Paulo Fontelles com 6 anos, os quais têm uma dimensão geográfica de 1882m2, localizados no Distrito de Mosqueiro/Belém capital do estado do Pará. Na pesquisa de campo em quatro (4) Quintais agroflorestais encontraram-se oitenta e uma (81) espécies vegetais, uma média de mil quatrocentos e quarenta e três (1.443) plantas, com uma variedade de frutífera, hortaliça, plantas medicinais, plantas madeireiras, condimentares e ornamentais, integradas a espécies de criação de pequenos animais, entre aves como galinha caipira, patos, suínos da raça pé duro1. A composição vegetal e animal, das espécies cultivadas nos quintais amazônicos foram analisados a partir da estrutura e do uso e de seus produtos. Observou-se que o cultivo é realizado sob a prática de manejo com técnicas voltadas para a agroecológia2. A produção tem quatro (4) destinos: o primeiro, o auto-consumo; segundo, a troca; terceiro à doação e; quarto, o excedente destina-se a comercialização no mercado local ou em feiras orgânicas organizadas pela prefeitura municipal. O planejamento das atividades dos quintais valoriza o trabalho familiar, que vai desde a tomada de decisão, da gestão e da execução das atividades produtiva, bem como da manutenção desses quintais onde há o envolvimento do marido, da esposa e dos filhos.
Palavras-Chave: Reforma agrária, Quintais. Agroecológia. Mosqueiro.
1 Maneira de se referir aos suínos da raça crioula. Aqui referisse à raça piau. 2 Consiste em uma agricultura socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável.
RESUMEN
La investigación tuvo como objetivo demostrar la importancia de las plantaciones agro-ecológicas para el mantenimiento y complemento de los ingresos familiares, aplicado en dos asentamientos de Reforma Agraria: el Asentamiento Mártires de Abril, de 11 años de edad, y el Asentamiento Paulo Fontelles, de 6 años, comprendidos en una dimensión geográfica de 1882 m². Estos asentamientos se encuentran ubicados en el distrito de Mosqueiro en Belém, capital del estado de Pará. Durante el trabajo de campo en cuatro (4) áreas agroecológicas se encontraron ochenta y una (81) especies vegetales, un promedio de mil cuatrocientas cuarenta y tres (1443) plantas por área, con una gran variedad de frutas, hortalizas, plantas medicinales, plantas leñosas, plantas aromáticas y especies ornamentales, incluyendo la cría de animales de tipo aviar y porcino, en concreto, se introdujeron pollos, patos y cerdos de raza pie duro. La composición vegetal y animal de las especies cultivadas en las áreas amazónicas fueron analizados a partir de la estructura y el uso de sus productos. Se observó que el cultivo se realiza a partir de técnicas de manejo agroecológico. La producción tiene cuatro (4) destinos: el primero, el auto-consumo; el segundo, el intercambio; el tercero la donación y; el cuarto, el excedente, que es destinado a la comercialización en el mercado local o en los mercados de productos orgánicos organizados por la administración municipal (ayuntamiento). La planificación de las actividades realizadas en las áreas aumenta el valor del trabajo familiar, desde la toma de las decisiones sobre la gestión y la ejecución de las actividades productivas, hasta la manutención de estas áreas, agrupando así el trabajo del marido, la mujer y de los hijos.
Palabras clave: La reforma agraria, áreas, Agroecología, Mosqueiro.
LISTA DE DESENHOS
DESENHO 1: Croquis orientação técnica para criação de 30 bicos de aves caipira 56
DESENHO 2: Croquis do sistema de criação de Suínos 57
DESENHO 3: Croquis da dimensão do tanque 58
DESENHO 4: Croquis da Área de construção da horta comunitária 60
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 01: horta orgânica dentro do quintal garantia de proteínas na mesa da
família 35
FIGURA 02: Diversidade e integração entre planta e animal, ciclagem de nutriente entre
planta e animal 35
FIGURA 03: quintal agroflorestal proporcionando um espaço de sobriamente em uma região
com o de clima quente 35
FIGURA 04: As famílias usam restos de matéria orgânica como mato e terra preta na
adubação das frutíferas 36
FIGURA 05: Coleta de frutos dentro do quintal agroflorestal pratica adotada pela
família 36
FIGURA 06: Sombreamento, local ideal para criação de pequenos animais, proporcionado
pela formação de quintal agroflorestal__ 36
FIGURA 07: integração entre planta e animal dentro do quintal agroflorestal, utilização de
matéria orgânica para a adubação das frutíferas 37
FIGURA 08: aproveitamento do mato após capina, matéria que serve como alimento para a
planta, uma pratica muita utilizada no manejo dentro do quintal agroflorestal 37
FIGURA 09: caminho que leva a uma sustentabilidade das famílias se utilizando os produtos
do quintal agroflorestal 37
FIGURA 10: O quintal proporciona a família um local de sombra para os momentos de
refeição e descanso___________________ 38
FIGURA 11: Ao redor da casa é constituída uma área arborizada com plantio aleatório, a
família não se preocupa com ordenamento e alinhamento informação do quintal 38
FIGURA 12: A família aproveita toda a matéria orgânica gerada dentro do quintal para
adubação das frutíferas (exemplo são as cascas do coco jogada ao pé da cultura da
bananeira) 38
FIGURA 13: Fluxo da cadeia produtiva integrada dentro dos quatros quintais pesquisados
_________ 50
FIGURA 14: Orientação Técnica; Prestadora de serviço de ATER IDATAN/Atividade de
manejo de animais do Projeto CAAUP/UFPA 51
FIGURA 15: Participação do Curso de Sistema Produtivo Agroecologico/produção de
compostagem/CAAUP/UFPA 51
FIGURAS 16: Demonstração do antes e depois das estruturas montadas após, orientação
técnica do projeto CAAUP 60
FIGURAS 17: Aviário de criação de aves caipira da família José Augusto e
Elza/Assentamento Paulo. 2009/2010 60
FIGURAS 18 A 19: Modificação física das instalações e o espaço natural, para garantia de
um bom manejo ecológico, se utilizando de produtos gerados na própria propriedade Família
Carlos e Regina Assentamento Pulo Fontelles/2006/2010 61
FIGURAS 20 A 21: A família preocupa-se de fazer uma recuperação do espaço com plantas
de adubação verdade que também serve como alimento para os animais. Família Mamede e
Teofila/Lapo/Assentamento Mártires de Abril/2008/2010 61
FIGURAS 22: Comedouro feito de reciclagem de um recipiente aproveitado de produto já
consumido pela família 64
FIGURAS 23: Máquina caseira para produção de ração 64
FIGURAS 24: Armazenamentos de sementes para o próximo plantio 65
FIGURAS 25: Utilização de crueira (material deixado na fabricação da farinha de puba) na
alimentação dos animais 65
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1: Uso e serviço em % das principais espécies cultivadas nos quatros quintais
pesquisado 42
GRÁFICO2: Porcentagens das principais funções desenvolvidas das espécies dentro dos
quintais agroflorestais 45
LISTA DE MAPAS
MAPA 1: Local da área de estudo 28
LISTA DE ORGANOGRAMAS
ORGANOGRAMA 1: Esquema da cadeia produtiva dentro dos quintais 49
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1: Demonstração em quantidade e porcentagem das espécies cultivadas nos
quatro Quintais agroflorestais 43
QUADRO 2: espécies de animais ofertados pelo CAAUP nos Quintais agroflorestais
pesquisados 53
QUADRO 3: Manejo das famílias com animais nos Quintais agroflorestais
pesquisados 54
QUADRO 4: orientação para dimensões dos tanques de piscicultura artesanal 58
LISTA DE TABELAS
TABELA 01: Principais espécies de plantas cultivadas nos quatros Quintais agroflorestais
seu uso e serviço para as famílias 39
TABELA 02: Modo de plantio e estagio de produção de cada espécie 42
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 17
CAPÍTULO I
1 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL 22
1.1 LUTA PELA TERRA NA REGIÃO AMAZÔNIA 24
1.2 O MST E UMA NOVA HISTÓRIA NA ILHA DE MOSQUEIRO 26
1.3 A CONSTITUIÇÃO DOS ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁRIA NA ILHA DE
MOSQUEIRO 28
1.3.1 Assentamento Mártires de Abril 28
1.3.2 Assentamento Paulo Fontelles 29
CAPÍTULO II
2 OS QUINTAIS AGROFLORESTAIS: uma alternativa na produção de alimentos
saudáveis e complemento de renda para família camponesa 32
2.1 OS QUINTAIS AGROFLORESTAIS: conceitos e realidade 32
2.2 AS ESPECIFICIDADES DE CADA QUINTAL AGROFLORESTAL
PESQUISADO 33
2.2.1 O Quintal Agroflorestal do senhor Mamede Gomes de Oliveira e da senhora
Teófela da Silva Muniz 34
2.2.2 Quintal do senhor Roberto Carlos da Costa Gomes e a senhora Raimunda
Edileusa Gurjão Martins 35
2.2.3 Quintal Agroflorestal do senhor Carlos José da Silva e a senhora Regina Maria
C. Cama 36
2.2.4 Quintal Agroflorestal do senhor Antonio Nazareno e senhora Vanda
Clara 37
2.3 O CULTIVO EM QUINTAIS AGROFLORESTAIS: a experiência nos
Assentamentos de Reforma Agrária em Mosqueiro 38
2.4 MANEJO DOS QUINTAIS AGROFLORESTAIS 44
CAPÍTULO III
3 CADEIA PRODUTIVA AGROECOLÓGICA NOS QUINTAIS AGROFLORESTAIS: a
experiência do Centro de Apoio a Agricultura Urbana e
Periurbana/CAAUP 47
3.1 SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: a garantia de alimentos saudáveis nos
quintais 50
3.2 CENTRO DE APOIO A AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA – CAAUP: a
introdução de animais nos Quintais agroflorestais pesquisados 52
3.2.1 Assistência Técnica para os sistemas produtivos do CAAUP 53
3.2.1.1 Sistemas de produção Criação de pequenos animais 54
3.2.1.1.1 Criação de Galinha Caipira Orgânica 54
3.2.1.1.2 Criação de Suínos 55
3.2.1.1.3 Piscicultura artesanal criados em tanque construídos no quintal da casa 57
3.2.1.1.4 Produção de Hortaliças Orgânicas 58
3.2.2 O papel da assistência técnica na troca de conhecimento técnico científico e o
conhecimento popular 59
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO: AS PERSPECTIVAS DENTRO DOS QUINTAIS
PÓS, PROJETO CAAUP 61
3.3.1 Aumento na introdução de animais dentro dos Quintais agroflorestais 61
3.3.2 O uso de hortaliça na alimentação familiar 61
3.3.3 Utilização de insumos gerados pelos animais que serve como adubo para as
plantas 61
3.3.4 Consumo de produtos de boa qualidade 62
3.3.5 Aumento na renda familiar através da comercialização do excedente da
produção 62
3.3.6 Introdução de raças caipira no quintal agroecológico 62
3.3.7 Capacidade de gestão 62
3.3.8 Aperfeiçoamento de técnicas para manejo da produção 63
3.3.9 Conhecimento de técnicas com princípios agroecológicos 63
3.3.10 Os desafios deixados, após termino do projeto 64
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 66
REFERÊNCIAS 67
17
INTRODUÇÃO
Os quintais agroflorestais3 na Região Amazônica têm a importância de
complementar o sustento das famílias desta região, preservando conhecimentos repassados
de pais para filhos. BRITO, M; COELHO, M (apud VIANA, 1996) afirmando que na
Amazônia existem diversos sistemas agroflorestais em uso há muito tempo, desenvolvidos
por comunidades indígenas, caboclas e ribeirinhas, principalmente para fins de subsistência.
Muitos sistemas de produção, praticados por estes povos tradicionais, nunca foram bem-
descritos e podem constituir um conhecimento que corre o risco de ser perdido para sempre
(BRITO e COELHO, 2000, p. 2)
Na Amazônia encontramos a formação dos quintais agroflorestais nas agrovilas dos
agroecossistemas4 dos projetos de Assentamentos de Reforma Agrária. Estes por sua vez
geram alimento para o sustento das famílias alem de gerar uma pequena renda quando
comercializado o seu excedente. Segundo Edileusa moradora do Assentamento Mártires de
Abril na ilha de Mosqueiro/PA afirma que: a idéia do quintal é resgatar as culturas dos
nossos antepassados, cultivando uma diversidade de plantas e animais perto de casa, para
gerar alimento e renda para nossa família.
Esse tipo de atividade produtiva pode ser identificado nos quintais agroflorestais, os
quais também têm papel de recuperar as paisagens de áreas antes ocupadas com grandes
projetos de monoculturas agropecuários. Os cultivos perenes que compõem esses sistemas,
segundo BRITO, M; COELHO, M (apud NASSER et al.1993) modificam o ambiente,
proporcionando sombra, funcionando como quebra-ventos, melhorando a infiltração da
água, produzindo biomassa que se transforma em matéria orgânica, criando, desse modo,
um microclima que permite manter uma variedade mais ampla de espécies. (BRITO e
COELHO, 2000, p. 10).
As famílias ao cultivarem uma produção de pequeno ciclo em seus quintais utilizam
várias técnicas do manejo agroecológico a fim de garantir a sucessão destes sistemas,
dentre eles a diversidade de plantas e animais. Ao deixar o mato roçado espalhado pelo
campo já existe um aproveitamento de matéria orgânica que forma grande quantidade de
3 O quintal agroflorestal, é uma área de produção, localizados perto de casa, onde é cultivada uma mistura de espécies agrícolas e florestais, envolvendo também, a criação de pequenos animais domésticos (galinhas, patos, porcos, gatos e cachorro) ou animais domesticados (paca, capivara, porco-do-mato). (DUBOIS/out. 1996, p 53.) 4 Uma unidade de trabalho no caso de sistemas agrícolas, diferindo fundamentalmente dos ecossistemas naturais por ser regulado pela intervenção humana na busca de um determinado propósito. Os agroecossistemas possuem quatro propriedades: produtividade, estabilidade, sustentabilidade e equidade, que avaliam se os objetivos do sistema – aumenta o bem-estar econômico e os valores sociais dos produtores. (HART, R.D. Agrosistemas; Conceptos básicos. Turrialba, CATIE, 1980, p.211).
18
biomassa. Nestes quintais agroflorestais as famílias priorizam cultivar plantas nativas da
região, usando sementes crioulas, produção de adubos e fertilizantes caseiros, além de
ocorrer neste local um fluxo de nutrientes entre plantas e animais, as famílias também usam
plantas medicinais, cultivadas nos quintais, para cura a muitas enfermidades.
Essa realidade pode ser observada no Assentamento Mártires de Abril e no
Assentamento Paulo Fontelles, aonde 85 e 60 famílias respectivamente vivem em áreas
conquistadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, localizados na
ilha de Mosqueiro, Distrito de Belém, capital do estado do Pará. Para ABE (2004, p.75) “[...]
embora fazendo parte da capital, apresenta características rurais com atividades
econômicas voltadas para a agricultura, criação de pequenos animais, extrativismo e pesca
artesanal.
Os projetos de Assentamento de Reforma Agrária se contrapõem ao projeto do
grande capital, que vêem a terra apenas como uma fonte de produção de lucro. Diferente
das famílias organizadas pelo MST, que ao ocuparem estas áreas preocupam-se, no
primeiro momento, em produzir alimento para o seu auto-consumo, e posteriormente para a
produção de excedente voltado à comercialização. As famílias passam a ter parte de sua
independência do mercado, pois muito que deveriam comprar é produzido no quintal
agroflorestal. Segundo BRITO, M; COELHO, M, a função econômica dos quintais
agroflorestais está representada, principalmente, pela produção de alimentos para auto-
consumo e para comercialização, podendo contribuir para a melhoria da alimentação das
populações rurais e urbanas de baixa renda (BRITO; COELHO, 2000, p. 8).
Os quintais agroflorestais nas áreas de assentamento de reforma agrária na
Amazônia têm um grande potencial para a geração de alimento e para a geração de renda
de muitas famílias, tendo em vista se constituírem como agroecossistemas de floresta
tropical, onde existe maior diversidade de espécies animal e vegetal do mundo. São
sistemas que garantem produtos diversificados, portanto, ricos e saudáveis.
A biodiversidade das regiões tropicais, tanto de espécies quanto de ecossistemas5, permitiu que as populações locais desenvolvessem um sistema integrado de produção agrícola composto por atividades de coleta dessa grande diversidade de recursos vegetais e animais, pelo manejo e enriquecimento dos ecossistemas naturais e pela lavoura de subsistência, principalmente de mandioca, arroz e milho, estando um dos componentes
5 Um ecossistema é definido como um sistema funcional de relação complementares entre organismo vivos e seu ambiente delimitando por fronteira escolhido arbitrariamente, as quais, no espaço e no tempo, parece manter um equilíbrio dinâmico porem estável. A sim, um ecossistema tem parte física com suas relações particulares – a estrutura do sistema -, que juntas participam de processos dinâmicos – a função do sistema. (GLIESSMAN 2001; Agroecologia; Processo Ecológicos em Agricultura Sustentável, p. 61)
19
deste sistema integrado representado pelos quintais agroflorestais. (BRITO; COELHO, 2000, p. 2).
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância dos quintais
agroflorestais, no sustento e complemento na renda de famílias residentes nas áreas de
assentamentos de reforma agrária na região amazônica. A pesquisa foi realizada nos
Projetos de Assentamento Mártires de Abril e Paulo Fontelles, localizados no Distrito de
Mosqueiro/Belém/PA.
A pesquisa contou com a participação de quatro famílias que haviam sido
abordadas na disciplina “Desenho Agroecológico do Agroecossistema”, disciplina
assessorada pelo educador José Maria Tardin da Escola Latino Americana de
Agroecológia da Via Campesina Internacional do Curso de Tecnologia em Agroecológia
do Instituto Federal do Paraná/IFPA. Nosso marco inicial foi junho/2008, quando foram
selecionados quatro quintais agroflorestais, a fim de caracterizar sua composição,
estrutura e função. Tal escolha baseou-se na necessidade aliadas no reconhecimento
geral dos assentamentos localizados em território de ilha, com grande potencial
produtivo. Por vez pesquisou-se as características das famílias dos dois projetos de
Assentamento de Reforma Agrária, a fim de analisar suas atividades produtivas como
complemento da alimentação. Ainda que saiba que, exista uma comercialização do
excedente desta produção, não foi dado muito importância a essa atividade dentro dos
quatros quintais. Também observamos as diversas maneiras e técnicas adotadas pelas
famílias no manejo dos Quintais agroflorestais.
Utilizou-se de questionários e planilhas para o inventário das espécies vegetais
e animais, a fim de caracterizar as atividades socioeconômicas dos quintais
agroflorestais pesquisados, proporcionando um estudo da organização espacial,
composição e função das espécies vegetais e animais e sua função dentro dos quintais.
As espécies vegetais identificadas nos quintais foram classificadas pelos seus
nomes vulgares, nomes científicos, nativas ou exóticas e seu o uso e serviços. Esses dados
foram colocados em tabelas, apresentação de gráficos representando em porcentagem os
dados apresentados em cada tabela.
As famílias contribuíram com seus depoimentos referentes às espécies vegetais
e animais e com informação sobre a participação familiar no manejo dos quintais. Alem
disso, as técnicas adotadas para conter ataque de animais indesejáveis e doenças
indesejadas dentro dos quintais.
Realizou-se, para a apreensão do conceito sobre quintais agroflorestais uma
revisão das leituras existentes e perceberam-se inúmeras denominações para tal tipo de
sistema. No entanto, para efeito da pesquisa a denominação de “Quintal” é uma típica
20
utilizada pelos povos que vivem na Amazônia, isto porque é assim que os pequenos
espaços de produção são conhecidos e chamados.
Partiu-se da hipótese que os quintais agroflorestais se caracterizavam por uma
diversidade de plantas e animais, que possibilitavam a produção de alimento de boa
qualidade para o consumo humano e o respeito os princípios ecológicos da floresta
amazônica. Isto porque nos quintais agroflorestais é cultivada uma diversidade de plantas
em consórcio com pequenos animais, utilizando-se de um pequeno espaço da moradia, com
a produção destinada ao autoconsumo familiar e a comercialização do seu excedente.
Este trabalho aborda a problemática da importância dos quintais agroflorestais para
o desenvolvimento sustentável dos assentamentos. Em seguida, faz-se a revisão da
literatura a partir de estudos e pesquisas que analisam as categorias e conceitos para a
compreensão sobre os quintais agroflorestais. Posteriormente mostra os quintais
agroflorestais como alternativa para a produção de alimentos saudáveis e complemento de
renda para famílias camponesa.
No último capítulo, trata-se do Centro de Apoio a Agricultura Urbana e
Periurbana/CAAUP, projeto vinculado à política nacional de segurança alimentar e
nutricional coordenada pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome –
MDS. E executado sob o regime descentralização de recursos para a Universidade
Federal do Para. Mas especificamente pelo Programa de Ensino, Pesquisa e Extensão
da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares e Empreendimentos
Solidários/PITCPES, da Universidade Federal do Pará/UFPA.
O CAAUP tem como objetivo combater a fome por meio do incentivo a
agricultura urbana e periurbana sob a base da agroecologia6. Além de contribuir para a
agricultura de curto circuito e a introdução de animais em diversos quintais, visando
proporcionar às famílias envolvidas uma produção, no primeiro momento, para o seu
autoconsumo e, posteriormente, à comercialização do excedente, garantido também um
produto de boa qualidade, pois o projeto trabalha sob o princípio da Segurança
Alimentar7.
Nas conclusões, colocam-se os resultados da pesquisa, sugestões e
recomendações para a continuidade e adoção dos quintais agroflorestais para
6 A Agroecologia é entendida como um enfoque científico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos convencionais de desenvolvimento rural e de agricultura para estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas sustentáveis (CAPORAL; COSTABEBER, 2000; 2001; 2002; 2004). 7 A UFPA se propõe contribuir no acesso de agricultores urbanos e periurbanos a processos produtivos de qualidade sob a égide da Lei n. 11346/2006, que rege sobre a Segurança Alimentar e Nutricional “Condição em que a população, de maneira contínua, tem acesso físico e econômico a um alimento inócuo, em quantidade e valor nutritivo adequados para satisfazer às exigências alimentares e garantir uma condição de vida saudável e segura”
21
sustentabilidades dos assentamentos estudados. Espera-se que esse estudo ajude a
compreender a complexa realidade socioambiental na amazônica brasileira e que achados
possam contribuir efetivamente o desenvolvimento das famílias existentes na região.
22
CAPÍTULO I
1 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL
A questão agrária é o conjunto de problemas relativos ao desenvolvimento da
agropecuária e das lutas de resistência dos trabalhadores, que são inerentes ao processo
desigual e contraditório das relações capitalistas de produção (FERNANDES, 2001, p.3). O
Brasil tem se constituído como um espaço territorial em que a economia é historicamente
desenvolvida sob os grandes ciclos de “explorações”. Isto vem ocorrendo desde sua
“invasão”, quando a colônia portuguesa garantiu o domínio deste espaço e passou à
exploração das riquezas naturais, matéria-prima, as chamadas drogas do sertão para a
exportação e comercialização no continente europeu. Os Portugueses que aqui chegaram e
invadiram nosso território, em 1500, o fizeram financiados pelo nascente capitalismo
comercial europeu e se apoderaram do território por sua supremacia econômica e militar,
impondo as leis e vontade política da monarquia portuguesa. (STEDILE, 2005, p.19).
Já no limiar do século XXI, o Brasil vivencia um novo momento histórico, não muito
diferente dos demais séculos, com modificações. A questão agrária tem se constituído como
uma das principais estratégias de lutas, articuladas pelos movimentos sociais do campo
contra o projeto da concentração fundiária, apoiado pelo Estado, em face das contradições
do atual sistema de produção.
O debate a respeito da questão agrária contém antigos e novos elementos que têm como referências: as formas de resistência dos trabalhadores na luta pela terra e a implantação de assentamentos rurais simultaneamente a intensificação da concentração fundiária. No centro desse debate, desdobra-se uma disputa política por diferentes projetos de desenvolvimento do campo (FERNANDES, 2001, p.1)
No primeiro momento da derrota da ditadura militar, os movimentos sociais do
campo têm como estratégia, no seu plano político, a reforma agrária no intuito de pressionar
o primeiro governo da chamada Nova República, que em seu primeiro governo criou o Plano
Nacional de Reforma Agrária, mas que não se concretizou devido o poder das elites
tradicionais, que historicamente se privilegiaram da estrutura fundiária concentrada.
Assim, a maior parte dos assentamentos implantados durante esse governo foi
resultado das ocupações. Ainda nesse período, os trabalhadores conquistaram o Programa
Especial de Crédito para a Reforma Agrária – PROCERA (FERNANDES, 2001, p.1).
No em tanto, a luta pela terra se massificou cada vez mais, já no então governo
Collor e Itamar Franco foram criados várias áreas de assentamento sob a pressão dos
movimentos de trabalhadores do campo. Em resposta, os governos, já citados, criavam
23
políticas para tratar da questão agrária, as quais não beneficiavam os movimentos sociais. A
questão agrária no Brasil é militarizada devido à criminalização das lutas dos trabalhadores
e os interesses que envolvem a terra. Na década de 90 pode-se observar a emergências de
uma nova “cerca” em torno da questão agrária: a judiciarização da luta pela terra
representada pela intensificação da criminalização das ocupações e na contínua impunidade
de mandantes dos assassinos dos trabalhadores (FERNANDES, 2001, p.2).
Em 1994, com o governo de FHC, há uma pequena diferença em relação aos três
primeiros governos da Nova República, embora continue a tratar a questão agrária a partir
do fortalecimento do “(...) modelo de desenvolvimento econômico para a agropecuária,
atendendo aos interesses e privilégios da agricultura capitalista” (FERNANDES, 2001). A
questão agrária passa a ser vista não como “um entrave de desenvolvimento ao país”, para
isso o estado cria um novo projeto político e estratégico, em que uma nova forma de
observar a questão agrária passa a ser realizada sob um pretenso “pacto entre a classe
trabalhadora do campo e a burguesia fundiária”.
Este projeto teve como objetivo liquidar todas as formas de luta dos movimentos
sociais do campo. Trata-se do “Novo Mundo Rural”, o então governo FHC inaugura uma
nova “roupagem” para dizer que a questão agrária no Brasil estaria resolvida. No entanto, o
que aconteceu foi uma intensificação da questão agrária sob novas diretrizes de governo.
Neste projeto, cabe o Estado definir o modelo e a determinação de política as quais os trabalhadores deverão se interagir. Em acepção predominam políticas como, por exemplo: Banco da terra, ou seja, as negociações são definidas no território político-econômico da lógica do capital. Nesse sentido, qualquer forma de “enfrentamento ao capital” acontece apenas no campo de luta resultada (FERNANDES, 2001, p.9).
A política adotada pelo governo FHC teve como base a criação do Banco da Terra,
que pagava uma indenização às terras obtidas para fins de reforma agrária, não havendo
vistoria nas terras ocupadas, mas criando um cadastro de assentados, pelo correios,
excluindo assim os assentados que apoiavam novas ocupações e, ao mesmo tempo,
criando uma nova forma de acesso ao crédito da reforma agrária em substituição ao
Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária – PROCERA, ou seja, o Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF. Todas essas medidas foram
criadas não somente para se contrapor aos grandes avanços da conquista da terra pela
classe trabalhadora do campo, mas uma forma de criar um novo paradigma dos
trabalhadores do campo, como a então hoje conhecida “Agricultura Familiar”, que “[...] tem
como principal referência o papel central do Estado como gestor de projetos para a
integração dos camponeses ao mercado” (FERNANDES, 2001. P. 3).
24
A luta pela terra nunca foi tão intensa no Brasil a partir dos anos 80 marcado por
mobilizações da classe camponesa e a classe operaria, que se organizaram em movimentos
de massa, para reivindicar o que lhes é de direito.
[...] elementos estruturais da questão agrária foram interpretados pelos cientistas, que apresentaram diferentes visões a respeito do desenvolvimento do capitalismo no campo. Entre os elementos estruturais que se encontram no centro da questão, estão os problemas relativos à diferenciação do campesinato (FERNANDES, 2001. P.5).
O debate, de um lado, afirma que no Brasil já não existe campesinato, mas um
pacto com a hegemonia dos capitalistas na relação com o “assalariado do campo”, em que o
primeiro se utiliza da força – de - trabalho, e o segundo para dele ganhar uma renda mínima
com restituição da utilização da força de trabalho e da mais-valia, sob a base do assalariado
no campo. Do outro, há aqueles que acreditam na existência de práticas não capitalistas,
dentro da atual relação capitalista de produção.
[...] premonição dos que acreditam na destruição do campesinato e uma possível hegemonia da condição de assalariamento; de outro os que defendem a tese da persistência de relações não capitalistas de produção, no contexto das desigualdades e das contradições das relações capitalistas de produção (FERNANDES, 2001. P. 5).
1.1 LUTA PELA TERRA NA REGIÃO AMAZÔNIA
O processo de ocupação da região amazônica, no período de 1966 – 1985, se deu
por meio de grandes projetos de infra-estruturas, agrominerais e agropastoris planejados
para o desenvolvimento deste território, considerado pelos órgãos do governo autoritário,
centralizado na capital, como um espaço vazio. Estes projetos visavam construção de
grandes rodovias, hidrovias e ferrovias para o escoamento da produção de matérias-primas.
O Estado tomou a si a iniciativa de um novo e ordenamento do ciclo de devassamento
amazônico, sob as diretrizes geopolíticas erguidas com base da doutrina de segurança
nacional, cujo slogan do discurso ideológico era “integrar para não entregar”. A partir dessa
estratégia houve a desestruturação da economia local por uma acelerada “modernização”
da sociedade nos espaços do atraso em do território nacionais. Nesse projeto, a ocupação
da Amazônia assumiu prioridade por várias razões (BECKER 2001, p. 137).
O espaço foi ocupado por grandes empresas com a extração de super lucros
devido às facilidades do crédito a fundo perdido e a isenção de impostos. Devido as
características agroexportadoras e minero - metalúrgicas, as matérias-primas (grandes
jazidas de minérios naturais; exploração madeireira), além da agropecuária extensiva.
25
Segundo ABE (2004) o Programa Grande Carajás, no governo do presidente
Figueiredo, no início dos anos 80, consistia na implantação de um modelo de
desenvolvimento, cuja premissa era a industrialização da Amazônia através da mineração,
da agropecuária e da exploração de Madeira. (ABE, 2004, p. 20)
Neste período, a região amazônica vivencia uma grande onda migratória, com o
deslocamento de trabalhadores oriundos das diferentes regiões do Brasil, principalmente da
região nordeste. A abertura da Transamazônica intensifica esse movimento de migração,
com grandes números de trabalhadores rurais desempregados e camponeses sem terra,
vindos do Nordeste, Sul e Sudeste do país em busca de terra de trabalho (ABE, 2004, p.
20).
A ocupação da região amazônica passa hoje por um novo “ciclo de exploração”.
Agora com interesse não somente no minério, pecuário e madeireiro, entra no cenário as
grandes corporações internacionais, com objetivo de explorar o solo para a exploração de
grande extensão de terras voltadas a plantios monoculturas de oleaginosa e cultura de ciclo
curto, para atender o mercado internacional.
Essa situação torna a região uma área de acirramento do conflito agrário entre os
pequenos agricultores e os grandes latifundiários. O primeiro sem apoio de políticas pública
que possa sanar os problemas decorrentes da falta de políticas públicas voltadas a pequena
produção, e o segundo, pelo contrário, as políticas públicas estão a serviço do grande
capital, com apoio direto aos grandes latifundiários, que se utilizam deste apoio para
explorar e destruir a floreta, através dos seus grandes projetos.
Nesta luta social compreendem-se de um lado as pastorais sociais, com seus agentes e padres comprometidos com uma justiça social, sindicalistas, advogados, movimentos sociais, a população sem-terra, Organizações Não Governamentais (ONGs), professores, estudantes, e outros agentes sociais comprometidos com a causa dos excluídos. De outro, está para fazer frente a esta luta o Estado, com seus aparelhos repressivos, as polícias civil, militar e federal, o exército, os “donos” de terra, a mídia, o poder judiciário, as madeireiras, e a grande empresa que se apropriou de grande extensão de terras (SILVA, 2009, p.9).
Diversos movimentos sociais que atuam no campo e periferias das grandes
cidades, assim também como Organizações Não Governamentais – ONGs articulam-se
entre si, na perspectiva de modificar esta situação de “misera” em que vive grande parte da
população amazônica. ABE (apud, Gzybowski 1991) referindo-se a esses movimentos de
camponeses, dá ênfase à sua diversidade e destaca quatro frentes da luta pele terra:
Movimento dos posseiros, Movimento dos Sem Terra, Movimentos das Barragens e as lutas
indígenas (ABE, 2000, P. 40).
26
Destaca-se neste cenário o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra –
MST, que se insere na região nos anos 90 para ocupar os latifúndios, inicialmente, do
estado do Maranhão, na região nordeste, e posteriormente, se expandido aos estados da
região norte. Toda está luta gerou a morte de muitas lideranças que foram assassinadas, no
confronto direto com os latifundiários da Amazônia. No entanto, o movimento dos sem terra
“é o que apresenta maior grau de articulação interna entre os movimentos de luta pela terra
e, por isso, revela maior homogeneidade nas formas de luta em seus vários confrontos
particulares” (GZYBOWSKI, 1991, p.22).
Hoje o MST está presente nos estados do Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins,
Mato Grosso, Maranhão. No estado do Pará, a luta do MST pela terra tem se intensificado
cada vez mais, para enfrentar os problemas dos crimes que envolvem os grandes
latifundiários contra a floresta, “o trabalho escravo” e a criminalização das mortes de
trabalhadores rurais, a exemplo o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, que gerou o
assassinato de mais de 19 Sem Terra.
Deve-se ressaltar que seus embates conquistaram outros espaços como, por exemplo, o campo jurídico, o poder judiciário acaba sendo um entrave na luta pela terra, porque aliado ao Estado criminaliza às ocupações, ratifica ações de despejos no qual ocorre violência por parte do aparelho repressivo do Estado, isto sem falar, no próprio Massacre de Eldorado de Carajás (1996) que ainda fere o movimento e a sociedade por não haver um resultado aceitável pela sociedade (SILVA, 2009, p.9).
Nas áreas sob responsabilidade do MST são experimentadas ações e atividades
agroindustriais sob a base da política de desenvolvimento sustentável, buscando resgatar
processos de organização social, política e econômica dos trabalhadores do campo, cuja
história vem sendo completamente transformada pela destruição do capitalismo no seu
plano de invasão do território amazônico. No entanto, essa dinâmica é confrontada pelos
grandes latifúndios, uma vez que a estes não interessa a reforma agrária.
Assim, o objetivo do MST é pressionar o governo para realizar a reforma agrária
que leve em consideração o uso racional da floresta e do solo amazônico, respeitando,
culturas e hábitos dos povos que vivem nesta região.
1.2 O MST E UMA NOVA HISTÓRIA NA ILHA DE MOSQUEIRO
A ilha de Mosqueiro foi habitada inicialmente pelos povos indígenas Morubiras e
Tupinambás. Estes povos desenvolviam práticas extrativistas – coleta de fruto caça e
pesca artesanal. Nos meados do século XVIII a ilha passou a ser explorada povos
aventureiros, como Pedro Teixeira e Francisco Caldeira Castelo Branco, considerados
27
respectivamente os primeiros incursos voltados a ocupação da Amazônia, sendo o
último considerado fundador Belém, capital do estado do Pará.
Mapa 1: Local da área de estudo Disponível em: http://www.mosqueiro.com.br/mapas/index.htm
Nas últimas décadas do século XIX e do XX, teve início o ciclo da borracha na
Amazônia, momento em que a região teve um intenso processo de modernização. Neste
período a ilha de Mosqueiro passou a ser estruturada enquanto um espaço usado como
refúgio dos finais de semana da população. É deste período, grande parte dos
monumentos históricos existentes na cidade de Belém e na Ilha de Mosqueiro.
Pela ilha passaram aventureiros do porte de Pedro Teixeira e Francisco Caldeira Castelo Branco, que fundou a capital Belém em 1616. Usufruiu do fausto período proporcionado pelo ciclo da borracha na Amazônia e, ao mesmo tempo, ofereceu lazer sadio as famílias que elegeram a ilha como refugio nos finais de semana e nas ensolaradas férias de julho (http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Mosqueiro&action=edit§ion=3)
A origem do nome Mosqueiro segundo os historiadores tem haver com as práticas
adotadas pelos pescadores, que traziam seus peixes e animais da ilha do Marajó8 e os
colocavam em moqueio, um processo de defumação da carne de animal através da
queimada da folha de moquém. Como no período não havia gelo então se utilizava esta
técnica para a conservação de alimento; com o passar do tempo e também por causa da
8 A ilha de Marajó é uma ilha brasileira do estado do Pará localizada na foz do rio Amazonas no arquipélago do Marajó. Destaca-se pelos montes artificiais, nomeados "tesos", construídos ainda em seu passado pré-colombiano pelos índios locais. De acordo com relato de Sir Walter Raleigh, no século XVI a ilha era também chamada de Marinatambal pelos indígenas. Em tempos coloniais foi denominada como Ilha Grande de Joannes. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Maraj%C3%B3.
28
linguagem da população local o nome do lugarejo foi se modificando de Musqueira, depois
Musqueia e finalmente Mosqueiro.
Há várias hipóteses para a origem do nome da Ilha do Mosqueiro, porém a mais provável é a de que ele se origina do fato de suas praias serem usadas para o moqueio do peixe e da caça que vinham do Marajó para serem comercializados em Belém. Esse processo numa época em que não havia gelo servia para a conservação dos alimentos e consistia em defumá-los sobre uma grelha chamada de moquém. Daí o nome de Ilha do Moqueio e com o decorrer de muitos anos, talvez séculos, por um processo de linguagem passou a chamar-se Musqueira, depois Musqueia e finalmente Mosqueiro(http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Mosqueiro&action=edit§ion=3).
A ocupação da ilha se intensificou no ano de 1976 com a construção da ponte
sobre o rio “furo da marinha” (nome dado a ponte sobre o rio Pará), que divide a ilha de
Mosqueiro do território da cidade de Belém, na medida em a ilha é um de seus distritos.
A construção da ponte facilitou o acesso à ilha, proporcionando um novo ciclo de
desenvolvimento. A ilha se caracteriza hoje como um ponto turístico, mas também de
moradia de diferentes segmentos sociais com distintos níveis sócio-econômicos.
Com a rodovia veio a travessia das balsas pelo furo das marinhas. A ligação definitiva com o continente foi feita pela ponte denominada Sebastião Oliveira, erguida sobre o furo com 1.457,35 metros. Inaugurada em 12/01/1976, pelo então presidente da república, general Ernesto Geisel, a ponte encurtou a distancia e deixou Mosqueiro muito mais acessível à população (http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Mosqueiro&action=edit§ion=3).
1.3 A CONSTITUIÇÃO DOS ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁRIA NA ILHA DE MOSQUEIRO
1.3.1 Assentamento Mártires de Abril
No ano de 1999, precisamente na madrugada do dia 03 de maio, a ilha de
Mosqueiro vivencia um novo marco histórico, ABE, 2004 [...] antes do nascer do sol, ainda
na penumbra, ocuparam a antiga fazenda TABA, acontecendo assim à primeira ocupação
de terra pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, na ilha de Mosqueiro.
O MST não via a ilha como mero local de turismo, mas sim, com grande potencialidade de
atividades agropecuária, uma localidade de fácil acesso à capital e ao escoamento da
produção agrícola.
Depois de uma intensa mobilização e trabalho de base do MST, na periferia da
capital Belém, no ano de 1999, se criou as condições organizacionais para esta primeira
ocupação. Foram mais de 200 famílias. A área ocupada, conhecida como fazenda TABA de
propriedade da empresa aérea Taba – Empresa Aérea de Aviação, era usada para o
29
monocultivo de coco e à exploração de matéria mineral – extração de areia para construção
civil.
Em entrevista a Manaças (2002) ABE, afirma em 2004, que o objetivo, era criar uma possibilidade rápida de fazer mobilização na capital, mas também criar (nós, inclusive trabalhamos com essa lógica), nós precisamos criar um cinturão verde em torno da capital, criar assentamento só onde fosse possível para poder garantir o abastecimento da cidade, renda para o trabalhador rural e, conseqüentemente baratear o preço da alimentação que na maioria dos casos são importadas para em Belém. Então, essa situação motivou a fazer o acampamento; essa é um pouco da trajetória da ocupação (ABE, 2004, p. 88).
Depois de muita luta e resistência para a ocupação da área, as famílias passaram a
enfrentar o preconceito da sociedade mosquerense, mas devido a resistência, em 2001 foi
constituído o primeiro assentamento de reforma agrária na ilha de Mosqueiro, colocando
abaixo o grande projeto da burguesia Belenense que via a ilha como mera área de
exploração turística.
A história vai se construindo com a sua formalização, em novembro de 2001, após três anos de resistência das famílias que ocuparam a fazenda TABA. São assentadas 91 famílias de acordo com o levantamento realizado em novembro de 2002. Nem todos se fizeram presente desde inicio da ocupação, pois algumas desistiram e, outras, foram se somando as famílias que buscavam a construção de uma nova vida. (ABE, 2004, p. 110)
Os atuais 10 anos de ocupação e resistência das famílias no Assentamento Mártires
de Abril mostram uma configuração diferenciada do espaço geográfico, político, ecológico,
social e econômico da ilha de Mosqueiro. Isso levou a ocupação de mais duas áreas, que
também foram desapropriadas para fins de reforma agrária, respectivamente, Assentamento
Elizabeth Teixeira e Assentamento Paulo Fontelles todos vinculados organicamente ao MST.
1.3.2 Assentamento Paulo Fontelles
Após a desapropriação da segunda área de assentamento na ilha de Mosqueiro, ou
seja, o Assentamento Elizabeth Teixeira, houve uma forma de sorteio para a escolha das
famílias que iriam ser beneficiadas com um lote de terra desta área. As famílias que não
conseguissem seu terreno, naquele momento, iriam fazer uma nova ocupação em outro local
dentro da ilha de Mosqueiro.
Foi então que no dia 06 de outubro de 2002, mais de 100 famílias ocuparam a
fazenda Baia do Sol, área de propriedade de um militante do Partido Trabalhista – PT. Com
sua morte seu filho, Paulinho Fontelles, indicou a área ao MST, garantindo não haver
dificuldade para sua desapropriação.
30
No entanto, no primeiro momento da ocupação houve a retirada das famílias da
área, mas precisamente, para eventual vistoria, coordenado pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária – INCRA/SR 01. Logo após um ano da primeira ocupação, as
famílias reocuparam a fazenda forçando o INCRA a desapropriar a área. Foi então que no
ano de 2005, após a macha de Goiás a Brasília em um dos decretos assinado pelo então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve a desapropriação desta fazenda para o MST.
O CDR, a instância técnica máxima em cada superintendência, também decidiu pela
criação do Assentamento Baía do Sol, na ilha de Mosqueiro, município de Belém, em uma
área de 927,9 hectares reivindicada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra –
MST.
Antes da desapropriação houve a assinatura de um termo de compromisso entre
órgãos federais, estadual e municipal para a criação do Projeto de Assentamento com
objetivos de trabalhar os princípios agroecologicos, já que o local tinha mais de 90% de sua
área ainda preservada. No final este acordo não foi cumprido, prejudicando as famílias que
até hoje vive a mercê das colaborações do INCRA, como único órgão que se responsabiliza
pela implantação de infra-estrutura no referido assentamento.
O Assentamento Paulo Fontelles está organizado socialmente em 8 núcleos de
base, que juntos à associação articulam a organicidade sob o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra – MST. As famílias exercem suas atividades visando aumentar quantitativa
e qualitativamente o potencial produtivo da área, através da limpeza e conservação dos
ramais, estrada, rios, lagos, furos e igarapés; da construção de infra-estruturas para o uso
coletivo como paióis, armazéns, portos de saúde, escola, agroindústrias, área lazer, assim
como compras de máquinas agrícolas para manutenção dos agroecossistemas coletivo e das
áreas individuais; plantio de espécies adaptadas a exemplo de sistema agroflorestais (SAF);
recomposições das essências florestais de valor econômico, com o propósito de gerar rendas
as famílias; plantio de culturas anuais sob o sistema de policultura para a conservação e
manutenção do solo.
Deste processo organizativo 5 há, por núcleo, foram destinados para a exploração
produtiva, distribuídos da seguinte forma: 2 hectares destinados exclusivamente para a
produção de alimentos sob princípios de segurança alimentar; 2 hectares de espécies de
transformação a exemplo a mandioca, cana-de-açúcar, algodão dentre outros; 1 hectare para
área de plantio de hortaliças e de criação de animal de pequeno porte.
O projeto de assentamento Paulo Fontelles já recebeu do governo federal os
primeiros créditos de apoio9, todos usados pelas famílias que destinaram o recurso em;
construção de pequenas agroindústrias, principalmente, “casas de farinha”, compras de aves
9 Crédito do Fomento e compra de ferramentas; credito de habitação.
31
caipiras, compras de mudas para plantio das áreas abertas, com a divisão dos
agroecossistema para cada família, compras de adubo orgânico (cama de aviário). Sobre a
infra-estrutura do projeto de assentamento foi construído um ramal para dar acesso à rodovia
que liga o assentamento ao mercado local da Ilha de Mosqueiro e à Belém capital do estado
do Pará; para a implantação da rede elétrica a margem do ramal de 4,5 km possibilitando o
uso de energia elétrica às famílias do Assentamento.
As famílias vivem hoje essencialmente da produção de culturas anuais, plantados
sob sistemas de policulturas, pesca artesanal, coletas de frutos no sistema agroextrativista.
Já o credito do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar/PRONAF “A”, será
destinada a compra de animais de pequeno porte; piscicultura, apicultura, suinocultura,
produção de hortaliças e complementarem os cultivos de frutíferas já existentes no
agroecossistemas.
Os Assentamentos de reforma agrária na ilha de Mosqueiro modificaram os espaços
geográficos de cada área ocupada, formando um sistema produtivo de quintais agroflorestais
nos espaços anteriormente ocupados com plantio de monoculturas e pastagens. A
diversificação é realizada sob a base de consórcio na plantação de árvores de frutíferas,
hortaliças domésticas, plantas ornamentais, plantas medicinais intercaladas com criação de
pequenos animais. Para o autoconsumo e parte para gerar renda das famílias.
32
CAPÍTULO II
2 OS QUINTAIS AGROFLORESTAIS: uma alternativa na produção de
alimentos saudáveis e complemento na renda para famílias camponesa 2.1 OS QUINTAIS AGROFLORESTAIS: conceitos e realidade
Os quintais agroflorestais, são sistemas complexos de cultivos de pequenas áreas
onde se agrega uma grande diversidade de plantas intercaladas a pequenas criações,
localizados ao redor das habitações familiares. Portanto, são pequenas áreas que se
localizam ao redor da casa do agricultor, abrigando cerca de 80 a 125 espécies de plantas
úteis, sendo a maioria para alimentação e uso medicinal (ALTIERI, 2004, p. 22).
Os quintais agroflorestais proporcionam uma área de pomar e jardinagem. Neste
sistema são trabalhados vários cultivos como plantas ornamentais, medicinas, hortaliças,
madeireiras, frutíferas, criando assim um Sistema Agroflorestal – SAF. Aqui o conceito de
SAF como uma forma de uso e manejo da terra, na qual as árvores ou arbustos são
utilizados em associação com cultivos agrícolas ou com animais de uma mesma área, de
maneira simultânea ou em seqüência temporal. Aplica-se ainda a práticas de manejo
compatível com padrões cultural de população local, para melhor aproveitamento do fator
mão- de - obra e ajudando na fixação do homem no campo (HUXLEY, 1983; YOUNG 1991;
NAIR, 1993; BENAVIDES, 1994; KITAMURA, 1994b; ENGEL, 1999).
Os Quintais agroflorestais têm um papel importante no sustento familiar, pois é
desses sistemas que as famílias retiram grande parte do seu autoconsumo, mas também
para a comercialização do excedente.
A família divide seu agroecossistema de acordo com a necessidade alimentícias
para o seu sustento. NORDER 2004 descreve a composição da produção de alimento para
uma família de cinco pessoas ocuparia uma área de aproximadamente 4,77 hectares como
cultivo (consociado), de arroz (0,6 ha), feijão (0,29), milho (3,82 ha), mandioca (186 m²),
cana (900 m²) e café (300 m²); com a criação de galináceas (35 galinhas e 3 galos), suínos
(2 fêmeas), caprinos (6 cabeças), e com a formação de uma horta (10 m² por pessoa)
complementada por outros gêneros alimentícios. (NODER, 2004, p.204).
Os quintais agroflorestais são sistemas que contribuem para o bom uso da terra,
pois os insumos e matérias utilizados na sua manutenção são oriundos do próprio local. A
alta diversidade de espécies nos SAFs pode contribuir na redução do ataque de pragas e,
também, para a utilização mais eficiente de nutriente do solo.
As técnicas são de conhecimentos próprios das famílias, as quais são passadas de
gerações a gerações, são costumes incontestáveis e valorizado pelas famílias. O fato de
esses sistemas dependerem de fontes de conhecimento e tecnologia locais, sendo,
33
geralmente, compatíveis com as práticas culturais das populações, é uma vantagem.
BRITO, M; COELHO, M citam ANDERSON 1985, por serem geralmente baseadas em
técnicas baratas e facilmente disponíveis. Essas práticas são amplamente usadas pela
comunidade e potencialmente transferíveis a outros ambientes similares (BRITO e
COELHO, 2000, p.2). As famílias vêem neste sistema, uma forma de contribuição para o
alimento e para a saúde, pois são as ervas medicinas plantadas no quintal que servem
como remédios caseiros à cura de muitas doenças e males.
Neste sistema costuma-se fazer uma integração entre plantas e animais para
melhor aproveitamento do espaço e um bom ciclo de nutriente, aproveitamento de energia.
Estes sistemas baseiam-se no princípio ecológico denominado biodinâmico da sobrevivência, proporcionando o máximo aproveitamento da energia solar vital, através da multiestratificação diferenciada de uma grande diversidade de espécies de usos múltiplos, as quais exploram os perfis vertical e horizontal da paisagem, visando à utilização e recirculação dos potenciais produtivos dos ecossistemas (COSTANTIN, 2005, p. 44).
Os quintais são sistemas típicos dos trópicos, pois são favorecidos pelo clima e
pela ecologia do território e condicionado por um fator que contribui para a prática de
economizar na compra de insumo oriundo do mercado externo. Assim, as famílias que
vivem em condições de pobreza econômica e social optam em criar sistemas com um
mínimo de gasto de energia.
2.2 AS ESPECIFICIDADES DE CADA QUINTAL AGROFLORESTAL PESQUISADO
Cada quintal agroflorestal tem sua especificidade no que se refere ao manejo das
espécies cultivadas, produção consumida. Por isso é necessário destacar cada informação
para se constatar as diferentes maneiras do manejo em cada quintal. Mas se percebe que
todos compartilham das mesmas técnicas quando se referem ao manejo e destino da
produção. São técnicas usadas a muito tempo por seus antepassados ou as adquiridas nos
momentos de formação e capacitação, onde são presenciadas a troca entre o empírico10 e o
técnico científico.
10 É o conhecimento que adquirimos no decorrer do dia. É feito por meio de tentativas e erros num agrupamento de idéias. É caracterizada pelo senso comum, pela forma espontânea e direta de entendermos. Essa forma de conhecimento, é adquirida também por experiência que vivemos ou que presenciamos que, diante do fato obtemos conclusões. É uma forma de conhecimento superficial, sensitiva, subjetiva, acrítica e assistemática. Aquele que não precisa ter comprovação científica e esta também não tem importância. O fato é que se sabe e pronto, não precisa ter um motivo de ser (http://www.alunosonline.com.br/filosofia/conhecimento-empirico/2010).
34
Para ALTIERI 2006, deve haver uma reorientação do ensino, pesquisa e extensão
rural, com propósitos de elaborar projetos para enfrentar os obstáculos existentes em cada
aspecto desse tipo de produção, principalmente no que se trata da fragilidade dos
ecossistemas e da exclusão da agricultura familiar. Ainda segundo este autor, a troca de
conhecimento é uma forma de resistência da agricultura ecológica, onde se respeita o bem
estar entre homem e natureza, apontando rumos para que as famílias possam superar os
obstáculos colocados pela agricultura agressiva que se vivencia hoje.
Os quatro quintais agroflorestais, na sua particularidade, também trazem uma série
de conhecimento no que se refere às técnicas usadas na sua formação.
2.2.1 O Quintal Agroflorestal do senhor Mamede Gomes de Oliveira e da senhora
Teófela da Silva Muniz
O Quintal Agroflorestal destaca-se por ser planejado sob a estratégia ecológica
para fins educativos e com o propósito se ser usado como área de pesquisa e troca de
conhecimento, além de ser construído de forma coletiva. O senhor Mamede destaca: “aqui
têm inúmeras contribuições de companheiros e companheiras que trouxeram espécies de
plantas para que eu pudesse formar o que hoje existe aqui neste quintal. Portanto não é
uma construção individual só da minha família, mas de todos que contribuíram para esta
realização”.
Este quintal hoje tem aproximadamente sete (7) anos de existência e já pode ser
considerado um quintal auto-sustentável no que se refere a utilização de insumo externo
para sua manutenção. Nele existem mais de mil e quatro sentas (1.400) plantas na sua
maioria em faze de produção para o consumo familiar, doação, troca e comercialização do
excedente, além das plantas existentes na criação de aves caipira como galinhas e patos da
raça caipira e um pequeno criatório de peixe.
O uso de técnica para seu manejo é de forma tradicional sem o uso de produtos
agressivo a natureza, são técnicas e conhecimentos usada no manejo agroecológico dos
agroecossistemas. Nas figuras 01 a 03 mostra-se a importância do quintal agroflorestal para
a família do senhor Mamede e dona Teófela.
Figura 01: horta orgânica dentro do quintal garantia de proteínas na mesa da família.
Figura 02: Diversidade e integração entre planta e animal, ciclagem de nutriente entre planta e animal.
Figura 03: quintal agroflorestal proporcionando um espaço de sobriamente em uma região com o de clima quente.
35
2.2.2 Quintal Agroflorestal do senhor Roberto Carlos da Costa Gomes e a senhora Raimunda Edileusa Gurjão Martins
A proposta da formação do Quintal Agroflorestal surgiu da necessidade de uso da
área de produção da família que ainda não tinha sido ocupada, após a desapropriação da
área. Como a família decidiu deixar a moradia na agrovila e morar no lote de produção a
três (3) km da agrovila, também veio à necessidade de construir um pomar ao redor da
casa, com finalidade de fornecer além de alimento para o consumo familiar, além de um
local de sombreamento dentro do quintal que serviu para a introdução de pequenos animais,
e, por último, com o propósito de gerar uma pequena renda para a família.
As espécies de plantas usadas na construção do Quintal Agroflorestal na sua
maioria foram produzidas no viveiro de mudas da própria família outras foram doadas por
vizinhos ou retiradas da área de patrimônio do assentamento, poucas delas foram
compradas, são mais de trezentas e nove (309) plantas, consociadas com a criação de aves
caipira. As plantas e animais, ainda estão em fase de crescimento, mas a sua maioria já
está em fase de produção, gerando alimento para a mesa familiar, doação, para a troca com
os vizinhos, e do excedente sua comercialização.
As espécies de plantas e animais selecionados pela família foram de forma
aleatória, com o propósito de cultivar espécies que proporcionasse produtos para uma rica e
boa alimentação, além de recuperar a área degradada devido a plantação da monocultura
de coco11.
Todas as técnicas adotadas para o manejo no quintal são usadas de uma forma a
preservar a natureza, utilizando-se de insumos orgânicos com o propósito de preservar o
solo, também economizar na compra de insumo; por isso a família trabalha com a lógica da
agricultura agroecológica, utilizando sempre conhecimentos populares na hora do cuidado
do quintal. Nas figuras de 04 a 06, estão demonstradas as atividades desenvolvidas pela
família dentro do quintal agroflorestal.
Figura 04: As famílias usam restos de matéria orgânica como mato e terra preta na adubação das frutíferas.
Figura 05: Coleta de frutos dentro do quintal agroflorestal pratica adotada pela família.
Figura 06: Sombreamento, local ideal para criação de pequenos animais, proporcionado pela formação de quintal agroflorestal
11 Este projeto já existia antes mesmo da ocupação das famílias, onde hoje é o projeto de assentamento Mártires de Abril.
36
2.2.3 Quintal Agroflorestal do senhor Carlos José da Silva e a senhora Regina Maria C. Cama
Esse Quintal Agroflorestal passou por uma etapa bastante complexa até chegar ao
que está hoje. A família recebeu uma área com vegetação secundária bem desenvolvida,
isto é, plantas já em estágio bem avançado; eram árvores e arbustos com idade de 20 anos.
Isso levou a família fazer, no primeiro momento, uma derruba e posteriormente utilizar o
costume tradicional, ateando fogo; a madeira retirada na derruba foi utilizada para a
construção de estrutura como casa, de galinheiros, cercas etc., logo em seguida foi
produzida as mudas no próprio quintal, com sementes colhidas na área, patrimônio do
assentamento, outras mudas foram oriundas de localidade diferentes, principalmente
doadas por amigos; e sementes de espécies cultivadas em outros atados, poucas foram as
espécies compradas.
Neste Quintal Agroflorestal foram identificadas mais de mil quinhentos e sete
(1.507) plantas, consociadas com a criação de pequenos animais: galinha e patos da raça
caipira. São espécies que ainda estão em fase de crescimento, mas boa parte já está
produzindo produtos para a mesa familiar, doação, troca e o excedente para a
comercialização.
As técnicas adotadas pela família para o manejo do quintal são de conhecimento
popular, agredindo a natureza ao mínimo, na medida em que se pensa na preservação do
solo, além de uma diversidade de plantas e animais, proporcionando a este quintal um
equilíbrio ecológico. A família tem uma concepção de que se deve trabalhar com
conhecimento de princípios agroecológicos, para o bom desenvolvimento e sustentabilidade
do quintal. Nas figuras 07 a 09 mostram a importância de praticas que valorizam o trabalho
da diversidade para uma boa manutenção dentro dos quintais.
Figura 07: integração entre planta e animal dentro do quintal agroflorestal, utilização de matéria orgânica para a adubação das frutíferas.
Figura 08: aproveitamento do mato após capina, matéria que serve como alimento para a planta, uma pratica muita utilizada no manejo dentro do quintal agroflorestal.
Figura 09: caminho que leva a uma sustentabilidade das famílias se utilizando os produtos do quintal agroflorestal.
37
2.2.4 Quintal do senhor Antonio Nazareno e senhora Vanda Clara
Esta família se viu na necessidade de ocupar a área de produção, já que a moradia
da agrovila fica distante. Foi aí que começou a produção de muda de plantas de espécies
nativas. A produção no primeiro momento foi realizada no quintal da casa da agrovila,
posteriormente na área de produção. As mudas serviram para a formação do quintal ao
redor da habitação, construída em uma área distante 2 km da agrovila do assentamento.
Neste quintal existem mais de 270 plantas, em consócio com espécies de pequenos
animais: galinha, patos e suínos da raça caipira12. As espécies de plantas cultivadas são
oriundas da produção de mudas produzidas no próprio quintal, bem como, de doações de
vizinhos ou são coletadas na área de patrimônio do assentamento. Boa parte das espécies
ainda está em fase de desenvolvimento, porém a maioria já está produzindo alimento para a
família, para doação e troca, o excedente é destinado à comercialização.
As técnicas adotadas no manejo são desenvolvidas desde o preparo das mudas ao
preparo da área, passando pela colheita. A família utiliza técnicas voltadas à agroecologia,
pois entende ser a melhor maneira de trabalhar na terra, sem que ela se desgaste na
produção de produtos de boa qualidade. Para isso a família participa de cursos de formação
e capacitação com conteúdos voltados a essa técnica, aplicada no quintal.
O bom manejo dos quintais com introdução de espécies nativas de plantas e
pequenos animais, proporciona a recuperação da área degradada, antes da constituição do
projeto de assentamento, pois são áreas que a muito tempo eram utilizadas no plantio de
monocultura ou uso predatório de pasto para criação de grande animais. As figuras de 10 a
12 mostram a importância do quintal como uma área de sobriamente e local onde gera
insumo orgânico que serve como adubo para as frutíferas.
Figura 10: O quintal proporciona a família um local de sombra para os momentos de refeição e descanso.
Figura 11: Ao redor da casa é constituída uma área arborizada com plantio aleatório, a família não se preocupa com ordenamento e alinhamento na formação do quintal.
Figura 12: A família aproveita toda a matéria orgânica gerada dentro do quintal para adubação das frutíferas (exemplo são as cascas do coco jogadas ao pé da cultura da bananeira).
12 Denominação para raça crioulas.
38
2.3 O CULTIVO EM QUINTAIS AGROFLORESTAIS: a experiência nos assentamentos de reforma agrária em Mosqueiro
Os Quintais agroflorestais dos Assentamentos Mártires de Abril e Paulo Fontelles
foram formados em espaços geográficos diferentes. No Assentamento Mártires de Abril os
quintais existem em dois locais: na agrovila formando os pomares ao redor da habitação e
outros são os quintais dos “lotes de produção”, onde muitas famílias optaram em morar por
medida de segurança. Já no assentamento Paulo Fontelles o quintal está localizado no “lote
de moradia” onde também se localiza o “lote de produção”, esta decisão foi tomada pelas
famílias quando formaram os lotes de produção. Os Quintais agroflorestais têm em media
4.100 m², onde são cultivadas várias espécies de árvores frutíferas associadas à criação de
pequenos animais.
Na pesquisa de campo foram levantadas inúmeras espécies de vegetais e animais
cultivados em quatro Quintais agroflorestais, destacando-se com maior importância as
frutíferas e a criação de pequenos animais, os quais em sua maioria servem para a
alimentação das famílias, e em segundo plano, as hortaliças e as plantas medicinais,
também para o uso doméstico. Somente o excedente de algumas espécies é
comercializado. Os Quintais agroflorestais são divididos em subsistemas que interagem
entre si para sua manutenção diária e o aproveitamento de nutrientes gerado em cada um
deles. Com isso as famílias economizam em gastos de insumos comprados no mercado. Na
tabela 01 estão especificadas as principais espécies de plantas cultivadas nos quatro
Quintais agroflorestais pesquisados:
Tabela 01: Principais espécies de plantas cultivadas nos quatros Quintais agroflorestais seu uso e serviço para as famílias
Nome vulgar Nome científico Família Nativa/ Exótica
Uso e serviços principais das Espécies
Abacate Persea americana Lauraceae E FR-OR-CM-MD Abacaxi Ananas comosus Bromeliaceae E FR-MD-AE Abiu Pouteria caimito Sapotácea N FR-AL Abricó-do-pará Mammea americana Gutiferácea E FR-MD Açaí Euterpe oleraceae Arecaceae N AL (palmito) FR-FA-PL-FT-
OR Acerola Malpighia glabra Malpighiaceae E FR-CO Ajiru chysobalanus icaco chaysobalanaceae N FR-AL Alfavaca Ocimum basilicum Labiadas E MD-CM-AL Algodão Gossypium hirsutum Malvaceae E MD-ML-
Amora Morus alba Moráceas E FO-FR-MD + alimentação do bicho da ceda
Andiroba Carapa guianensis Meliácea N M1-M2-OL-MD-FA Araçá Bóio Eugenia stipitata Mitáceae N FR Aroeira Schinus terebinthifolius Anacardiáceas E FR – LN – M2 Ata Annona squamosa Anonácea E FR-AL
Babaçu Orbygnya phalerata Palmeira N AL e palmito CS-LN-FT-OL-CC
Babosa Aloe babadensis Arecaceae E MD-IN Bacaba Oenocarpus bacaba Arecaceae N FR-AL-palmito-FAM3-AR-OL
39
Nome vulgar Nome científico Família Nativa/ Exótica
Uso e serviços principais das Espécies
Bacabi Oenocarpus distichus Arecaceae N FR-AL-palmito-AR Bacuri Platonia insignis Clusiaceae N FR-FA-M2-OR Banana Musa spp. Musaceae E FR-AL-FT-SO-FO Bastão do Imperador Etlingera elatior Zingiberáceas N ML-AR-CM-OR
Biriba Rollinia mucosa Annonaceae N FR Boldo Vernonia condensatas Asteraceae E MD Cacau Theobroma cacao Sterculiaceae N Chocolate – FRD – M - FA Café Coffea arábica Rubiáceas E AL-CO
Caju Anacardium occidentale
Anacardiaceae N FR-AL-OL-FA-MD
Cana de açúcar Saccharum officinarum Graminea E AL-AE-MD Canela Ocotea sp. Lauraceae E IN-ES-CO Castanha do Pará Bertholletia excelsa Lecythidaceae N CS-FA-AR-MD Ceriguela Spondias purpurea Anacardiaceae E FR-CO Cidreira Kyllinga odorata Ciperaceae E MD-IN Côco Cocos nucifera Arecaceae E AL-FR-OL-SO-MD-OR Condessa Annona reticulata Annonaceae E FR-AL
Crotalaria Crotalaria juncea Fabáceas (sinonímia:
Leguminosas) E FT-ML
Cumaru Dipteryx odorata fabaceae N M2-NL
Cupuaçu Theobroma grandiflorum
Sterculiaceae N FR-LN-FO-FT
Dendê Elaceis guineensis Palmeira E OL Feijó Cordia goeldiana Boragineceae E LN-MD Gengibre Zingiber officinalis Zingiberaceae E MD-CM-ES Genipapo Genipa americana Rubiaceae N AL-FR Gergelim Sesamum indicum Pedoliaceae E AL-IN Gliricídia Gliricídia Fabaceae E FT Goiaba Psidium guayava Mirtácea E FR-FA-LN-MD Graviola Annona muricata Anacardiaceae N-? FR-MD Guandu Cajanus cajan Fabaceae N FT-SO (animais) Heliconia Heliconia rostrata Heliconiaceae N Ornamental Ingá-cipo Inga edulis Mart Mimosaceae N FR-FT-OS-ML-LN-FA-FO Ipê Tabebuia serratifolia Bignoniaceae N ML
Jaca Autocarpus integrifolia Forst
Moraceae E AL-CS-FR-M2-OR
Jambo Syzygium malaccense Mytaceae N FR Jucá Caesalpinia ferrea Leguminosas E MD Laranja Citrus sinensis Rutaceae E FR-MD-OE Laranja da Terra Citrus aurantium Rutaceae E FR-MD Leucena Leucaena leucocephala Fabaceae E FT-LN Lima Citrus aurantifoia Rutácea E FR Limão Galego Citrus aurantifolia Rutaceae E FR-MD-ES Limão Gravo Citrus limonia Rutáceas E FR-MD-ES
Limão Taiti Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle
Rutaceae E FR-MD-AL-ES
Mamão Carica papaya Caricaceae E FR-CO Manga Mangifera indica Anacardiaceae E FR-FO Mangustão Garcinia mangostana Clusiáceas N-? FR Maracujá Passiflora edulis Passifloraceae E FR–CO
Mogno Swietenia
macrphyllaSwietenia macrphylla
Meliaceae N M1-FR
Murici Byrsonima crassifolia Malpighiaceae N FR Neem Azadirachta indica Maliaceas E IN Noni Morinda citrifolia Rubiácea E MD-FR Oiti Licania tomentosa Chrysobalanaceae N FR-LN Patchouli Pogostemon patchouli Laliadaceae N AR-CO Pequiá Cayocar vilosum Cariocarácea N M2-CS-AL-FA
40
Nome vulgar Nome científico Família Nativa/ Exótica
Uso e serviços principais das Espécies
Pião Branco Jatropha curcas Euforbiácea E OL-MD-CO Pimenta do reino Piper nigrum Piperaceae E Tempero Pitanga Eugenia uniflora L Myrtaceae E FR Pitomba Eugenia michelii Mirtácea N FR-MD Priprioca Cyperus articulatus bromeliáceas N Pupunha Bactris gasipaes H.B.K. Arecaceae N AL-OL-AR-SO-FA-FO Rosa vermelha Rosa gallica Rosaceae E Tamarindo Tamarindus indica leg.cesalpinácea E FR-FO-M3-OR
Tangerina Citrus nobilis var. deliciosa
Rutácea E FR
Tapereba Spondias mombim Anacardiaceae N FR-MD-M3 Urucum Bixa orellana Bixácea E CO-MD Vinagreira Hibiscus sabdariffa Malvaceae E ES Fonte: Adaptação DUBOIS/out. 1996)
Fonte: Adaptação DUBOIS/out. 1996)
Percebe-se que há uma vasta variedade de espécies de plantas cultivadas nos
quintais agroflorestais, no total são 82 espécies das quais as famílias podem utilizar-se,
sendo que a maioria serve para alimentação e nativas da região, principalmente as plantas
frutíferas e madeireiras. Com suas funções para: consumo familiar, comercialização,
formação de pomar, sombreamento ao redor da casa, adubadeiras e repelentes contra
ataque de animais indesejados, lenha, madeira para fabricação de móveis e as que
proporcionam uma quantidade de matéria orgânica para o solo. A demonstração do uso e
serviços das principais espécies representadas na tabla 01 é uma observação feita de
revisão de leituras. No entanto as famílias de áreas de assentamento de reforma agrária
adotam a maioria desses usos e serviços. Os quintais agroflorestais têm uma imensa
importância devida sua produção ser tal intensiva por tratar de uma pequena área de
produção, a qual oferece uma grande quantidade de produto, pois alem de satisfazer as
necessidades de muito agricultor e sua família, também satisfaz a necessidade da natureza.
Abaixo no gráfico 01 se demonstra a porcentagem do uso e da função de todas as
espécies cultivadas nos quatros quintais pesquisados.
Legenda Para Identificação dos Símbolos E Exótica N Nativa AE Antierosiva IN Plantas Inseticidas ou Repelentes AL Alimentação Humana LN Lenha AR Artesanato M1 Madeira de Luxo Mais para Exportação CC Folha P/ Cobertura de Casa M2 Madeira Comercial Muito Procurada no Mercado Nacional CM Cosméticos M3 Idem, Menos Procurada CO Corante MD Plantas Medicinais CS Castanhas, Nozes ML Plantas Melíferas ES Especiarias Condimentos OE Óleos Essenciais FA Alimentação Para A Fauna OL Óleos Comestíveis FI Fibras OR Plantas Ornamentais FO Forrageiras OS Plantas para a Proteção do Solo FR Frutas RE Resinas Breus FT Plantas Adubadoras SO Plantas Para Sombreamento
41
Gráfico 01: Uso e serviço em % das principais espécies cultivadas nos quatros quintais pesquisado
Fonte: Pesquisa de campo para elaboração de TCC, Oliveira/2008/2009
O gráfico 01 mostra que 22% ou seja, 46 espécies são frutíferas as mais cultivadas,
ficando em segundo lugar as plantas medicinais com 14 % com um numero de 29 espécies.
E em baixa escala estão às espécies de segundo plano, não menos importante segundo as
famílias. Um exemplo são as hortaliças com baixo nível de cultivo na sua maioria para o
consumo familiar. As plantas em baixa porcentagem são aquelas que as famílias não vêem
com o propósito de geração de renda, mas como fonte de nutriente e energia na sua mesa
ou ainda para alternativas desenvolvidas nos quintais.
A tabela 02 mostra a quantidade de espécies, bem como a maneira de plantio, e
seu estágio de produção em cada quintal pesquisado. O levantamento foi realizado junto às
famílias, nos anos de 2008 a 2009, que não tiveram dificuldades em quantificar as espécies
plantadas. A família justificou que o fato de ser ela mesma a iniciar o cultivo devido se tratar
de uma área em processo de sucessão vegetal, na medida em que antes a área era
ocupada com plantio de monocultura.
Tabela 02: Modo de plantio e estagio de produção de cada espécie
Nome Quintal 0:1 Mamede e Téofela Quintal: 02 Roberto e Edileusa Quintal: 03 Carlos e Regina Quintal: 04 Antonio e Vanda
Quant. F.P Produção Quant. F.P Produção Quant. F.P Produção Quant. F.P Produção Abacate 8 Muda N.P 4 Muda NP 11 Muda N.P 3 Muda Abacaxi 60 Direto CF-V-D 50 Direto CF-D-V 30 Direta CF-D-V Direto Abiu 4 Muda NP 4 Muda NP 3 Muda N.P 3 Muda Abricó-do-Pará
1 Muda NP
Açaí 500 Muda CF-D 100 Muda CF-D 200 Muda CF 20 Muda
42
Acerola 15 Muda CF-V-D 5 Muda CF-D-V 8 Muda CF 1 Muda CF-D Ajiru 2 Muda N.P 4 Muda CF Alfavaca 10 Muda CF-D 5 Muda CF-D-AL 50 Muda CF-D 100 P/N CF-D Algodão Direta 1 CF-D 2 Direto CF Amora 10 Muda CF-D 3 CF-D 1 Mudas Andiroba 5 Muda N.P 8 Muda NP 80 NP 20 Muda NP Araçá Bóio 10 Muda CF-D Muda Aroeira 1 Muda N.P Muda Ata 5 Muda CF-D Muda 4 CF-D 1 CF-D Babaçu 3 Muda NP
Babosa 15 Direta CM Direta 3 Direto CF/COS/
MD Bacaba 4 Muda NP 1 Muda NP 50 Muda NP/CF Bacabi 1 Muda NP 30 Muda NP Bastão do Imperador
2I Tubérculo OR 5 Tubérculo
NP
Biriba 8 NP 2 CF-D-V 3 Muda NP Boldo 2 Galho CF-D-MD 1 Galho CF-D Cacau 4 Muda NP 5 Muda CF-D 10 Muda NP 10 Muda CF-D Café 20 Muda NP 4 Muda CF-D Caju 15 Muda CF-D 5 Muda CF-D 10 Muda CF-D 5 Muda CF-D Cana de açúcar
5 T Direto CF-D 5 Direto CF-D
Canela 4 Muda CF-D 1 Muda CF-MD-AL
1 Muda CF-D 1 CF-D
Castanha do Pará
2 Nativo NP 5 Muda NP
Ceriguela 2 Muda CF-D Cidreira 20 Direto CF-D-MD 2 Nativo CF-D 1 Muda CF-D 10 CF-D Côco 30 Muda CF-D-V 30 Muda CF-D-T-V 150 Muda NP/CF 8 CF-D-V Condessa 4 Muda CF-D Crotalaria 50 Galho AV-MO Cumaru 2 Muda NP 5 Nativo NP
Cupuaçu 50 Muda CF-D 30 Muda CF-D-V-P 170 Muda CF-D 15 Muda CF-D-V-
P Dendê 1 Muda CF Feijó 2 Direto NP 6 Direto NP Gengibre 3 Tubérculo CF-D-MD Genipapo 2 Muda NP 3 Muda NP Gergelim 50 Direto CF 10 Direto CF-D 5 Direto CF Gliricidia 30 Direto AV-MO Goiaba 8 Muda CF-D 6 Muda NP 4 Muda CF-D 3 Muda CF-D Graviola 10 Muda CF-D 1 Muda CF-D 1 Muda NP Guandu 100 Direto AV-MO Heliconia 2 I Direto OR 5 Direto OR Ingá-cipo 50 Muda AV-MO 15 Muda CF-D-V 1 Muda CF-D 5 Muda CF-D-V Ipê 25 Muda NP 20 Muda NP Jaca 2 Muda NP 4 Muda NP 3 Muda NP Jambu 2 Muda CF-D 3 Muda NP 2 Muda NP Jucá 2 Muda NP 1 Muda NP Laranja 8 Muda CF-D 15 Muda NP 20 Muda NP 3 Muda NP Laranja da Terra
2 Muda NP 10 Muda NP
Leucena 4 Direto AV-MO Lima 1 Muda CF Limão Galego
3 Muda CF-D 3 Muda NP 4 Muda CF-D 3 Muda NP
Limão Gravo
2 Muda CF-D 1 Muda NP 5 Muda NP
Limão Taiti 9 Muda CF-D-V Mamão 15 Muda CF-D 5 Muda CF-D 1 Muda CF-D Manga 20 Muda CF-D 10 Muda NP 4 Muda NP 3 Muda NP Mangustão 3 Muda NP 15 Muda NP
Maracujá 50 Muda CF-D-V 30 Muda 3 Muda CF-D-PR-V
Mogno 4 Muda NP 3 Muda NP Murici 6 Muda CF-D 3 Muda CF-D 6 Muda CF-D Noni 6 Muda CF-D-MD 10 Muda CF-D 2 Muda CF-D Oiti 8 Muda NP Patchouli 5 Raiz OR-CM 1 Raiz NP Pequiá 7 Nativa CF-D Pião Branco
3 Direto CF-MD
Pimenta do reino
10 Muda CF-D 5 Muda NP
Pitanga 2 Muda CF-D 4 Muda NP Pitomba 3 Muda NP Priprioca 2 Tubérculo CM 1 Tubérculo PR-COS Pupunha 30 Muda CF-D 6 Muda NP 20 Muda CF-D 3 Muda NP Rabotam 17 Muda CF-D Rosa 5 Galho OR 3 Galho OR 10 Galho OR
43
Fonte: Pesquisa de campo para elaboração de TCC, Oliveira/2008/2009
Quadro 01: Demonstração em quantidade e porcentagem das espécies cultivadas nos quatro Quintais agroflorestais
Quintal 01 02 03 04 Área do Quintal 37 x 110= 4.070m² 37x100=3.700m² 80x150=12.000m² 20x55=1.100
Plantas e Espécies Planta: 1.443
Espécies: 70
Plantas: 451
Espécies: 44
Plantas: 1057
Espécies: 60
Plantas: 270
Espécies: 36
Destino da produção Especificidade do destino da produção dos quintais
Quintal 01 02 03 04
Sigla Significado Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
NP Não Produz 22 18% 17 27% 31 37% 8 14%
CF Consumo Familiar 36 30% 17 27% 28 33% 20 36%
V Venda 5 4% 6 10% 1 1% 4 7%
D Doação 34 28% 16 25% 20 24% 16 29%
CM Cosméticos 3 3% 0 0% 0 0% 1 2%
OR Ornamental 4 3% 0 0% 1 1% 2 4%
AV Adubação Verde 5 4% 1 2% 1 1% 1 2%
MO Matéria Orgânica 5 4% 1 2% 1 1% 1 2%
MD Medicinal 4 3% 1 2% 1 1% 2 4%
ES Especiarias Condimentos 1 1% 1 2% 0 0% 0 0%
T Troca 0 0% 1 2% 0 0% 0 0% P Processamento 1 1% 2 3% 0 0% 1 2%
Fonte: Pesquisa de campo para elaboração de TCC, Oliveira/2008/2009
No quadro 01 percebe-se que a maioria das espécies de plantas, principalmente, as
frutíferas já em fase de produção e uma pequena porcentagem ainda em fase de
desenvolvimento. Isso ocorre pelo fato dos quintais ainda terem uma idade de três (3) a
cinco (5) anos. Existe uma diferença de destinação da produção, as famílias utilizam a
produção na maioria para o consumo familiar. E, em segundo lugar, para a comercialização
que gera uma pequena renda familiar.
Nesta tabela abaixo é mostrada as diferenças entre os quintais, no que se refere às
quantidades de plantas e às espécies cultivadas. Assim como o estágio de
desenvolvimento, de uso e serviço, com pouca quantidade para as práticas de
beneficiamento.
O beneficiamento das plantas é feito com o propósito de agregar valor ao produto
principalmente quando é destinado à comercialização. Outro momento é quando a família
faz o uso deste beneficiamento para seu consumo: bolos, sucos, doces, compotas, cremes,
licores, xaropes, saladas e muitos outros produtos que as famílias usam o serviço de
beneficiamento. Abaixo o gráfico 02 mostra em porcentagem (%), os detalhes do uso e
serviço das principais espécies cultivadas dentro dos quatro quintais agroflorestais.
vermelha Tamarindo 3 NP 2 NP 5 Mudas NP Tangerina 4 Muda NP 2 Muda NP 4 Muda NP Tapereba NP 1 Muda NP 2 Muda NP 1 Muda NP Urucum 20 Muda CF-D-P 2 Muda CF-D 4 Muda CF-D 3 CF-D Vinagreira 20 Muda CF-D-ES 2 Nativo CF-CO 4 Muda CF
44
Gráfico 02: Porcentagens das principais funções desenvolvidas das espécies dentro
dos quintais agroflorestais.
Fonte: Pesquisa de campo para elaboração de TCC, Oliveira/2008/2009
O gráfico 02 mostra em que estágio as plantas se encontram, nos quatros quintais
agroflorestais pesquisados. Desta, 36% serve para o consumo familiar, 29% para doação,
14% não produz 7% para venda, 4% para ornamental e medicinal, 2% são para
processamento, cosméticos, adubação verde e matéria orgânica, 0% troca e especiarias
condimentares. Como estamos tratando de um gráfico que mostra a porcentagem para os
quatros (4) quintais aprece nas últimas espécies com 0%, destinado a produção para troca e
especiarias condimentares. No entanto, quando se observa os quintais individualmente há
uma grande porcentagem a uso desse serviço, principalmente quando se refere ao serviço
da troca, pois é através dessa prática que as famílias também conseguem parte daquilo que
não se produz dentro do quintal.
A composição de espécies dos quintais agroflorestais permite a combinação de culturas agrícolas e árvores de múltiplos usos, de forma a atender à maioria das necessidades básicas das populações locais, enquanto a configuração e a alta diversidade de espécies dos quintais ajudam a reduzir a deterioração ambiental, comumente associada aos sistemas de produção monocultorais. Além disso, os sistemas agroflorestais vêm produzindo colheitas sustentáveis por séculos, utilizando os recursos ambientais, na maioria das vezes, de forma eficiente. (BRITO; COELHO, 2000, p.21).
2.4 MANEJOS DOS QUINTAIS AGROFLORESTAIS
O manejo dos quintais agroflorestais é um trabalho cotidiano, feito com técnicas
tradicionais, isto é, se utilizando dos conhecimentos populares, no entanto hoje vem sendo
introduzido novas técnicas, para melhor facilitar o manejo dentro dos quintais, por isso se
fala na troca de experiência entre o conhecimento popular e o conhecimento acadêmico.
45
Essa realidade decorre do fato das famílias participarem de cursos de formação e
capacitação ministrados pelo MST, mas também por ONGs e Universidades. Esses
conhecimentos são aplicados quando as famílias utilizam técnicas como: poda,
aproveitamento do capim roçado que serve como matéria orgânica para as plantas; na
capina os matos são deixados no solo, mas também quando é usado o método de enxerto
para propagação de plantas. Neste último caso é feito coroamento nas plantas para conter a
invasão de plantas indesejáveis. Na parte animal as técnicas de castração e cura de
doenças são feitas de forma tradicional e natural. Na alimentação são usados produtos do
próprio quintal como: frutas, plantas que sejam palatáveis aos animais e grãos de milho,
feijão e arroz.
Na adubação das plantas as famílias utilizam restos de materiais deixados da roça,
adubo cama de aviário, compostagem, planta adubadora (feijão de porco, guandu, gliricidia
etc.), restos de casca de frutas e fertilizantes produzidos pelas famílias.
No controle de ataque de animais indesejáveis, as famílias utilizam defensivos
naturais como: gergelim, cravo de defunto, batata doce, citronela, neem, que serve como
repelente natural. Nos quintais se vê pouco ataque de doenças devido à diversidades de
espécies.
O plantio de espécies é feito no período de inverno, quando são utilizadas
sementes crioulas, mudas produzidas no próprio quintal, mudas e sementes doadas por
outros vizinhos ou por pessoas de outras regiões.
A produção de mudas é uma técnica realizada na própria propriedade. Esse
preparo proporciona economia às famílias, desde o início até o fim, quando as planas são
deslocadas para o local definitivo. Isto porque as mudas exigem muito cuidados antes de
serem levadas ao local definitivo. Elas são produzidas e cuidadas pelas famílias que utilizam
terra preta, esterco de galinha (cama de aviário), se utilizam de técnicas tradicionais quando
necessário a produção das mudas antes do plantio nos agroecossistemas, reutilizando
sacolas e sacos dos produtos comprados no comercio.
Todas essas técnicas de manejo voltado à produção são consideradas práticas
agroecológicas, pois se utiliza de técnicas tradicionais que não prejudicam a natureza,
devido se utilizarem poucos produtos externos à própria natureza. Na realidade trata-se da
re-utilização de diferentes produtos, portanto, trata-se de uma grande reciclagem de
nutriente.
Essas práticas são realizadas com técnicas de conhecimentos antigas, portanto, já
consolidados em termos de utilização e preservação. São conhecimentos passados pela
tradição oral, um meio de ensino-aprendizagem que é transmitido de geração a geração.
46
Esses conhecimentos fazem parte da cultura popular, do senso comum, são conhecimentos
usados mesmo em famílias de áreas urbanas. Todos têm uma experiência.
Além da grande variedade de espécies vegetais usadas nos quintais as famílias
também aproveitam para intercalar esse tipo de produção, com a criação de pequenos
animais, na sua maioria aves caipira e animais de pequeno porte, como suíno da raça pé
duro, considerado animais de raça crioula.
47
CAPÍTULO III
3 CADEIA PRODUTIVA AGROECOLÓGICA NOS QUINTAIS AGROFLORESTAIS: a experiência do Centro de Apoio a Agricultura Urbana e Periurbana / CAAUP
O Centro de Apoio a Agricultura Urbana e Periurbana – CAAUP é um projeto da
política nacional de segurança alimentar e nutricional do Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate a Fome – MDS, lançado em outubro de 2008 executado pelo Programa
Incubadora de Cooperativas Populares e Empreendimentos Solidários – PITICPES,
vinculado ao Instituto de Ciências Sociais Aplicadas – ICSA/UFPA, de forma direta e indireta
através de cursos de formação e capacitação e fomento nas linhas de produção de
hortifrutigranjeiro, e tem como objetivo:
Possibilitar o acesso dos agricultores familiares urbanos e periurbanos a processos produtivos de qualidade, sustentáveis, participativos e que respeitem as suas realidades socioespaciais, com vistas melhora do auto-consumo, comercialização dos excedentes como forma de geração de renda, e apropriado de saberes e de espaços coletivos de organização social através da formação, assistência técnica e o fomento, bem como, contribuir para a consolidação da Rede Nacional da Agricultura Urbana, na perspectiva do fortalecimento da Política Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana, como parte integrante do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Projeto centro de apoio a agricultura urbana e periurbana de Belém, 2008, p 3).
O CAAUP teve como objetivo específico, nas áreas de assentamento de reforma
agrária, trabalhar com as linhas de produção hortifrutigranjeiras através da introdução de
pequenos animais: galinha, peixe e suínos nos quintais, tendo em vista que as famílias já
desenvolvem tais práticas. Assim, passou a somar e fortalecer as atividades dos Quintais
agroflorestais, com o propósito de combater a fome sob o princípio da produção orgânica
com finalidade da segurança alimentar, desta forma, foram adquiridos os insumos para
produção de animais de raça caipira no caso das aves e dos suínos.
A agroecologia e a conservação de recursos naturais têm sido meta deste Programa e, conseqüentemente, será do Centro de Apoio a Agricultura Urbana e Periurbana, pois se trata de um dos princípios da economia solidária que busca associar o conhecimento técnico-centífico ao conhecimento popular para o fortalecimento das cadeias produtivas dos produtos agroalimentares, mas também do comércio justo na Amazônia. (Projeto centro de apoio a agricultura urbana e periurbana de Belém, 2008, p 9).
A ação principal do CAAUP é o desenvolvimento de uma cadeia produtiva integrada
nos quintais, visando a diversificação da produção em um espaço pequeno e de fácil
manejo, sob a prática voltada para uma agricultura urbana e periurbana. A diversificação da
48
produção em quintais de assentamentos da reforma agrária tem como perspectiva gerar um
fluxo de produtos e insumos voltados para a sustentabilidade familiar, tendo em vista uma
agricultura menos agressiva a natureza.
A cadeia produtiva é composta basicamente por quatro segmentos/elos: sistema
produtivo, processamento, distribuição e consumo. Do ponto de vista físico a composição do
sistema inclui áreas de lavoura, áreas de cultivo mais intensivo e áreas de instalações para
a criação de pequenos animais. Normalmente há também áreas que podem ser
aproveitadas para coleta, mesmos nos sistemas bastante intensivos (KHATOUNIAN, 2002,
p. 259).
Organograma 1: Esquema da cadeia produtiva dentro dos quintais
Fonte: Elaboração do Autor (2010)
Nos quintais prioriza-se o processo de produção, beneficiamento e/ou
comercialização em sistemas integrados de produção, através de atividades
agroalimentícias destinadas à consumo e/ou à geração e renda por meio da comercialização
do excedente, seja ele de forma in natura ou processada por meio de atividades de
implementação de pequenas unidades de agroindústria familiar e ou comunitária.
Segundo informativo do programa da agroindústria familiar/RS, a agroindústria familiar possibilita aos agricultores familiares agregar valor aos seus produtos, bem como melhorar a renda e as condições gerais de vida de suas famílias, promovendo o desencadeamento de um processo de descentralização do desenvolvimento. (Programa Agroindústria Familiar/RS; Out.2009)
49
pFigura 13: Fluxo da cadeia produtiva integrada dentro dos quatros quintais pesquisados
Fonte: Elaboração do Autor (2010)
A estrutura organizacional dos quintais é baseada nos princípios do planejamento
estratégico e da gestão familiar, quando há a participação de todos membros da família, do
início ao fim do processo produtivo. A unidade doméstica é caracterizada por usar mão-de-
obra familiar e a não utilização de tecnologias modernas, portanto com pouca participação
no mercado e dispor de capital de baixa intensidade (CARDOSO, GAMEIRO, 2003).
A combinação de estudos e pesquisas orientada por meio de assistência técnica,
cursos, oficinas, encontros e seminários que proporcionam à família a fim de introduzir
novas técnicas agrícolas nos quintais.
50
Figura 14: Orientação Técnica; Prestadora de serviço de ATER IDATAN/Atividade de manejo de animais do Projeto CAAUP/UFPA
Figura 15: Participação do Curso de Sistema Produtivo Agroecologico/produção de compostagem/CAAUP/UFPA
A cadeia produtiva integrada nos quintais se sustenta com um mínimo de insumos e
produtos. Neste sistema, a diversidade de plantas e animais proporciona um fluxo de micros
e macros nutrientes para garantia da produção e reprodução de plantas e animais
(REIJNTJES, HAVERRKORT E WATERS, 1999).
A exploração dessa diversidade cria funções complexas que resultam em um
sistema de produção em estabelecimentos agrícolas integrados, que fazem uso ótimo dos
recursos e dos insumos disponível (Idem, p. 74). A família, em muitos casos, recorre a
trocas com vizinhos e/ou pessoas de outras comunidades, quando se refere a uso de bens e
serviços agrícolas e não agrícolas.
Os produtos agrícolas podem ser usados como insumos internos, consumidos pela família de agricultores (reproduzindo assim, a força de trabalho do estabelecimento agrícola), ou então vendidos, trocados ou doados. Durante o processo produtivo, ocorrem algumas perdas, resultantes, por exemplo, da lixiviação ou da volatilização de nutriente ou da erosão do solo. As vendas possibilitam a obtenção de dinheiro, que podem ser usado para comprar diferentes bens ou serviços (por exemplo, comida, roupas, educação, transporte) ou para pagar impostos e/ou ser obtidos através da troca direta. (REIJNTJES, HAVERKORT e WATERS, 1992, p. 33).
3.1 SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: a garantia de alimentos saudáveis nos Quintais agroflorestais.
A cadeia de produção agroecológica nos quintais se remete a uma atividade menos
agressiva à natureza e à saúde humana, produzindo produtos de boa qualidade, com bom
valor nutricional e tecnológico, popular e científico, consistindo em garantir as famílias,
condições de acesso a alimentos seguros.
Segurança alimentar e nutricional (SAN) é a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais,
51
tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis (BURLANDY, 2006, p.1).
Isso por que as famílias utilizam insumos, como: fertilizantes orgânicos, diversas
plantas e animais, usam de sementes crioulas e animais de raça caipira, rotação de
cultura, aproveitamentos de restos de alimentos (compostagem), para adubação de
plantas, e para alimentação de animais, uso de plantas medicinais para tratar doenças.
As famílias também se alimentam com caças silvestres, peixe, pescado com pesca
artesanal e frutas coletadas na mata, garantindo assim uma maior segurança alimentar
e nutricional a família.
Falam das práticas adotadas dentro dos quintais; diversas vantagens podem ser obtidas através dessa prática, como o incremento da quantidade e da qualidade de alimentos disponíveis para consumo através do completo controle de todas as fases de produção, eliminando o risco do manuseio e do consumo de plantas que contenham resíduos de defensivos agrícolas; a utilização de resíduos e rejeitos domésticos pela reciclagem, tanto na forma de composto orgânico para adubação, como na reutilização de embalagens para formação de mudas; o melhor aproveitamento de espaços ociosos, evitando o acúmulo de lixo e entulhos ou o crescimento desordenado de plantas daninhas; a recreação e o lazer advindos de uma atividade recreativo-lúdica, sendo recomendada para o desenvolvimento da sociabilidade de comunidades; a formação de farmácias caseiras, contribuindo na prevenção e combate às doenças, através da utilização e aproveitamento de princípios medicinais de algumas plantas; o valor estético advindo da utilização racional do espaço, valorizando inclusive os imóveis; a diminuição da pobreza através da geração de renda adicional seja com a venda do excedente, ou de cultivos exclusivamente comerciais, dentre outras (ROESE e FLEURY, Nov. 2004).
Os produtos gerados nos quintais agroecológicos oferecem uma quantidade
significativa de nutriente necessário à garantia de um bom equilíbrio para uma vida
saudável. São nutrientes presentes na alimentação ricos em fibras, carboidratos, como
legumes coloridos, retirados de hortas caseiras e árvores frutíferas, mas também feijão,
mandioca, e a macaxeira. A produção de pequenos animais possibilita a alimentação com
carnes, cuja fonte de proteínas tem procedência conhecida, além de animais silvestres das
matas.
O quintal doméstico contribui também para melhorar muitos outros aspectos da vida nos centros urbanos. No que diz respeito à segurança alimentar, o consumo de maior quantidade de alimento e o frescor dos alimentos perecíveis que realçam seu sabor, mostram, segundo estudos de caso, que as crianças pertencentes às famílias produtoras possuem diferencial nutricional superior às outras de famílias pobres não-produtoras. Além disso, o quintal valoriza a cultura e o conhecimento popular sobre plantas e tipos de plantios ocupam idosos e desempregados e garante alimentos de
52
boa qualidade e variedade. (NASCIMENTO, CORREA e MOLINA, 2005, p. 03).
3.2 CENTRO DE APOIO A AGRICULTURA URBANA E PERIURBANA – CAAUP: a introdução de animais nos Quintais agroflorestais pesquisados
Os quatros quintais pesquisados foram contemplados com as ações de formação,
assistência técnica e insumos para a produção do CAAUP. No quadro abaixo se mostra os
insumos para fortalecer a produção já existente nos quintais.
Quadro 2: espécies de animais ofertados pelo CAAUP nos Quintais agroflorestais pesquisados
Quintal Animais recebidos do
projeto Animais antes do projeto Total
Animais Raça Quant. Animais Raça Quant
1 Galinha Carijó 27 Galinha Carijó Pescoço pelado, Pedrez,
Rhode, New hampshire 74 101
Galo Carijó 3 Galo Carijó Pescoço pelado, Pedrez, Rhode, New hampshire
9 12
2 Galinha Carijó 27
27 Galo Carijó 3 3
3
Galinha Carijó, Pescoço pelado, Pedrez,
Rhode, New hampshire. 9 3
Galo Carijó, Pescoço pelado, Pedrez, Rhode, New hampshire. 11 1
Suínas Piau 3
3 Suínos Piau 1 1
Pata Paissandu 7 Pato Paissandu 1 1
4
Galinha Carijó 27 Galinha Carijó, Pescoço pelado, Pedrez, Rhode, New hampshire 30 57
Galo Carijó 3 Galo Carijó, Pescoço pelado, Pedrez, Rhode, New hampshire.
8 11
Pata Paissandu 25 25 Pato Paissandu 6 6
Fonte: Levantamento socioeconômico das Famílias do projeto CAAUP/2008
Os resultados das ações nos quintais podem ser identificados uma vez que as
famílias já estão consumindo parte da produção, com outra parte para a reprodução e o
excedente é comercializado. Também se considera importante o fluxo de nutriente gerado a
partir dos insumos que foram produzidos pelos animais e pelas plantas oriundas dos
insumos do CAAUP.
Com base nas orientações técnicas as famílias potencializaram o aproveitamento
dos restos de alimentos, frutas, plantas de boa palatabilidade para a alimentação dos
animais, assim como, as fezes dos animais que são utilizadas como adubo.
O CAAUP ofereceu ainda assessoria técnica para as famílias melhorarem as
formas de manejo, a partir da troca entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento
popular. Os cursos de formação e capacitação possibilitaram informações para o cuidado
53
dos animais. O curso Sistemas Produtivos Agroecológicos e Cadeias Produtivas da
Agricultura Urbana e Periurbana teve como conteúdo programático:
Sistemas integrados de produção agroecológica; Conceito de cadeias produtivas, Caracterização das cadeias da agricultura urbana e periurbana, Cadeia produtiva de hortifrutigranjeiros e objetivo: Capacitar os beneficiários e multiplicadores para o processo produtivo e transferência de tecnologia nas cadeias produtivas da Agricultura Urbana, Periurbana e familiar (PROJETO CAAUP, 2009, p).
Por ser animais de raça caipira (rústica), as famílias tem facilidade de lhe dar com
doenças a sim também com o manejo das instalações. No quadro abaixo estão descritos as
técnicas utilizadas pelas famílias que são muito das vezes de seus conhecimentos ou em
outro caso orientado pela assistência técnica do projeto CAAUP.
Quadro 3: Manejo das famílias com animais nos Quintais agroflorestais pesquisados
Manejo Cuidado da Instalação Tipo de alimentação
Tratamento das doenças
Pasto: roço para controlar o crescimento do mato.
Desinfecção do galinheiro com cal ou cinza.
Ração Limão na água.
Introdução de plantas frutíferas no pasto. Limpeza diária dos bebedouros. Milho Enxofre
Utilização de insumos orgânicos para a alimentação e controle de doenças.
Uso de mato para cama dentro das instalações. Água. Andiroba.
Aproveitamento de matéria para construção das instalações.
Uso de pasto, com plantas de boa palatabilidade para os animais, que serve como complemento na alimentação diária dos animais.
Restos de alimentos
Copaíba Plantas Ração caseira: uso da forrageira para trituração de plantas, grãos, caule de mandioca, complementando com algum suplemento mineral.
Mel de abelha
Fonte: Projeto CAAUP; 2008/2010
3.2.1 Assistência Técnica para os sistemas produtivos do CAAUP
Contribuição da assistência técnicas na produção de animais e vegetais dentro dos
Quintais agroflorestais, através do projeto do centro de apoio de agricultura urbana e
periurbana. Tem como proposta de manejo uma orientação que se utiliza de técnicas
trabalhadas e pesquisadas em diversas áreas de conhecimento de integração técnica
cientifica e conhecimento popular.
A assistência técnica do caaup se utilizou de varias orientações didática e técnicas
inovadora com as técnicas adotadas dentro de diversos Quintais agroflorestais, para melhor
54
elaborar um bom material que possibilitasse as famílias a um manejo adequado aos seus
agroecossistemas.
3.2.1.1 Sistemas de produção Criação de pequenos animais
A atividade de criação de pequenos animais nos quintais contribuiu, em muitos casos
não só para a alimentação das famílias, mas também para a fertilidade do solo, com matéria
orgânica produzida durante o ciclo de vida. Como foi dito anteriormente, as cadeias
produtivas nos quintais possibilitam uma produção integrada, na medida em que possibilitam
processos de complementaridade entre as produções de animais e vegetais.
3.2.1.1.1 Criação de Galinha Caipira Orgânica
O Aviário e Pastagem para 30 Aves Caipira por família
Há a proposta de construção de um aviário, como pode ser visto abaixo, a fim de
favorecer a ventilação térmica e a higiene, tornando o ambiente agradável para as aves. As
orientações técnicas foram fundamentais uma vez que recomenda-se, na estrutura física,
um pé direito de 2,10 metros de altura, composto de rodapé (30 cm) e área vazada (180
cm), limitada por tela ou varas, evitando assim possíveis ataques de predadores.
A altura da cumeeira do aviário com inclinação de 30º, coberto com telha brasilit, com
cobertura no formato de duas águas, impedindo assim penetração de raios solares nas
horas mais quentes e as rajadas de ventos em época de chuvas. No aviário estarão
disponíveis bebedouros, comedouros, poleiros e ninhos. Serão destinadas as galinhas uma
área de livre acesso de pastagem sendo está arborizado, com árvores frutíferas para
complemento de sua alimentação, no tamanho de 150m².
Escolha e Aquisição dos Animais
É recomendável que os animais sejam oriundos de criações orgânicas, favorecendo
a sua independência de insumos orgânicos, bem como a aquisição de animais com idade
máxima de 4 semanas para diminuir o custo das famílias, tanto no caso de aves poedeiras,
para a produção de ovos, quanto para a produção de carne para ajudar na alimentação das
famílias.
55
Alimentação
As rações deverão ser balanceadas de acordo com as exigências nutricionais dos
animais, utilizando-se ingredientes orgânicos e de boa qualidade. Também é indicada a
utilização de restos de verdura, de legumes e de frutas que poderão servidas aos animais,
desde que sejam oriundos de produção orgânica.
No primeiro momento é recomendada a aquisição de rações para o primeiro plantel,
sendo que a partir do segundo plantel será a ração será produzida pelas próprias famílias, já
utilizando insumos balanceados e ricos em mineral para a fabricação da ração produzido
nos lotes.
Desenho 1: Croquis orientação técnica para criação de 30 bicos de aves caipira
Fonte: Projeto CAAUP; 2008/2010
3.2.1.1.2 Criação de Suínos
Sistema Alternativo de Criação de Suínos
Aspectos recomendados para a criação de suínos sob o sistema alternativo, visando
um bom desenvolvimento da raça e para que haja economia no custo alimentar e no bem-
estar do animal, como pode ser observados a partir da normas indicadas no sistema de
instalação:
• Adquirir matrizes de boa qualidade a uma boa adaptação ao ambiente, que este seja
crioula para formação do plantel.
• Adquirir animais procedentes de uma mesma origem, inclusive para a futura
reposição do plantel.
56
• Caso necessário, dispor de quarentenário, para realização de exames, antes de
introduzir os animais no rebanho.
• Utilizar de pasto para que o animal possa supri parte da sua alimentação, no pasto
diminuído assim o custo de alimentação.
• Para granjas de grande porte, o mais recomendado é o intervalo entre lotes de 07
dias, que apresenta as seguintes vantagens:
• Melhor uso das instalações;
• Pouca variação de idade entre os leitões do lote;
• Otimização da mão-de-obra.
A reprodução de animais é essencial para desenvolver outros planteis com a idéia de
não faltar alimento de carne na mesa do agricultor. Retornos ao cio coincidindo com o
intervalo entre lotes 21 dias. A ração produzida nas propriedades das famílias com a
utilização de leguminosas e minerais naturais é outro elemento essencial.
Sistema recomendado para criação de suínos
O sistema recomenda a disponibilização de uma área de pastagem com a forragem
de capim, mas também com árvores grandes para que os animais possam se abrigar do sol.
Os especialistas recomendam a criação de animais de raça pé duro por ter uma boa
adaptação nesse tipo de sistema; isto porque a raça vive solta, consumindo raízes, frutos,
insetos e até moluscos, diminuído muito o custo da alimentação.
Desenho 2: Croquis do sistema de criação de Suínos
Fonte: Projeto CAAUP; 2008/2010
57
3.2.1.1.3 Piscicultura artesanal criados em tanque construídos no quintal da casa
Tanques de piscicultura por família
Os tanques para o desenvolvimento da piscicultura precisam atender determinadas
orientações por se constituírem como um reservatório escavado em terreno natural, dotado
de sistemas de abastecimento e de drenagem de água, de tal modo que o permita encher
ou secar no menor espaço de tempo possível. Por isso há a exigência de um viveiro, isto é,
local onde são colocados os alevinos recém-nascidos até chegar ao crescimento para levá-
los aos tanques definitivos, podendo serem consumido.
Quadro 4: orientação para dimensões dos tanques de piscicultura artesanal.
Tanque
Dimensões (m) Perímetro (m) Largura Comprimento
Quadrada Viveiro 7 7 28 Retangular Tanque 7 16 46 Fonte: Projeto CAAUP; 2008/2010
Dimensões de Lamina d’ água:
Área do Viveiro: 7 x 9 x 1,10 = 53 m³
Área do Tanque: 7 x 16 x 1,10 = 112 m³
Espécie a serem criadas
Tambaqui e Tilapia todos em alevinos.
Desenho 03: Croquis da dimensão do tanque
Fonte: Projeto CAAUP; 2008/2010
58
3.2.1.1.4 Produção de Hortaliças Orgânicas
Preparo da área x30m, Para construção da Horta por família
A área deve ser gradeada para facilitar na construção das leiras, os matos deixados
nas gradeadas devem ser reaproveitados nas leiras para servi como recheio dentro das
leiras que se deteriorara e virando composto orgânico. É importante que se retire todo
material plástico da área onde vai ser implantada sua horta.
Preparo das leiras
As leiras devem seguir um padrão de tamanho, complemento largura e altura.
Recomenda-se que se façam leiras de 10 m x 1 m x 10 cm e seja utilizado sempre barbante
para que a leira saia em perfeita demarcação e a devida altura. É importante que bater as
laterais com a costa da enxada para que não ocorra erosão no canteiro e ainda utilizar o
ancinho para nivelar as leiras da horta.
• Plano de atividade: Construção da Infra – estrutura da Sementeira. Preparo das
Bandejas com substrato (terra preta, esterco e caroço de açaí decomposto).
• Plantio das sementes nas sementeiras: esta prática é realizada pensando no
intervalo de tempo que ocorre do preparo à adubação das leiras e covas: As
hortaliças que podem se feita nas sementeiras (alface, pimentão, pimenta doce e
berinjela).
Quantidade e local a ser plantado cada tipo de hortaliça.
Leiras ou Canteiros. 24 x 30= 720m²
2 leiras de Coentro 1leiras de F. de Corda. 1 Jambu.
1 leira de Cebola 2 leiras de Alface.
2 leiras de Couve 1 leiras de Pepino.
Área de policultura. 10 x 30= 300m²
6x8m de Pimentão 192 pés 3x10 maxixe 30 pés
4x10 berinjela 80 pés 16x20m de Abóbora 160 pés
9x4 pimenta doce 144 pés 10x 5m de Quiabo 50 pés
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Desenho 4: Croquis da Área de construção da horta comunitária
Fonte: Projeto CAAUP; 2008/2010
3.2.2 O papel da assistência técnica na troca de conhecimento técnico científico e o
conhecimento popular
As orientações e as instruções dadas pela assistência técnica do CAAUP visam
melhorar as instalações e, desta forma, potencializar a criação de animais nos quintais,
respeitando os critérios para um bom manejo dessa produção, muitos delas já
desenvolvidas a milhares de anos, por outros povos, mostrando uma integração entre o
conhecimento técnico cientifico ao conhecimento popular.
A proposta do projeto CAAUP veio para melhor a introdução de animais de espécies
crioulas na perspectiva de um bom manejo, respeitando o bem estar homem-natureza.
Figuras 13: Demonstração do antes e depois das estruturas montadas após, orientação técnica do projeto CAAUP.
Figuras 14: Aviário de criação de aves caipira da família José Augusto e Elza/Assentamento Paulo. 2009/2010.
Fonte: Assistência técnica projeto CAAUP 2009
60
Figuras 15 a 16: Modificação física das instalações e o espaço natural, para garantia de um bom manejo ecológico, se utilizando de produtos gerados na própria propriedade Família Carlos e Regina Assentamento Pulo Fontelles/2006/2010Fonte: Assistência técnica projeto CAAUP 2009 Fonte: Assistência técnica projeto CAAUP 2009
Figuras 17 a 18: A família preocupa-se de fazer uma recuperação do espaço com plantas de adubação verdade que também serve como alimento para os animais. Família Mamede e Teofila/Lapo/Assentamento Mártires de Abril/2008/2010 Fonte: Assistência técnica projeto CAAUP 2009
Observa-se então que o projeto CAAUP (2008) contribuiu para a introdução de
animais nos Quintais agroflorestais dos assentamentos de reforma agrária. Isso condicionou
as famílias a modificarem o espaço físico-natural dos quintais, visando melhor adaptação
dos animais. Esta prática garante a utilização de espécies de plantas frutíferas, madeireiras
e cobertura verde, plantas de adubação verde e espécies anuais. Todos os produtos
gerados sob este sistema servem, no primeiro momento, para o consumo familiar, o
excedente para a comercialização e as sobras para consumo das criações.
O agricultor considera em primeiro lugar, a importância da espécie para a subsistência de sua família e as perspectivas de comercialização dos excedentes da produção. Um segundo fator é a dificuldade em obter sementes, mudas ou estacas das espécies desejadas. [...] Ele considera, também se a espécie é fácil de cultivar, requer pouca mão-de-obra e se dá um retorno rápido. (PROJETO CAAUP, 2008)
61
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO: as perspectivas dentro dos quintais pós, projeto CAAUP
O projeto CAAUP contribuiu ainda para potencializar a diversificação da produção
nos quintais dos assentamentos de reforma agrária, além de proporcionar as famílias cursos
de formação e capacitação na área de gestão, comercialização, segurança alimentar e
nutricional e as práticas agrícolas agroecologica, como se pode observar abaixo.
3.3.1 Aumento na introdução de animais dentro dos quintais
Como apresenta o quadro as famílias já tinham suas criações antes do projeto
CAAUP, no entanto em quantidade poucas e em alguns casos nenhum. O projeto veio para
complementa onde já tinham e iniciar onde não tinha. Na maioria dos casos as famílias
estavam sem animal nenhum em seu quintal motivo este que se fez a opção de um projeto
na linha da hortifrutigranjeira, onde pudesse conciliar uma coisa com os outros o animal e o
vegetal. Pois em muitas famílias só estava acontecendo o cultivo de vegetal, agora já existe
uma relação planta animal proporcionada pelo projeto CAAUP.
3.3.2 O uso de hortaliça na alimentação familiar
A utilização de hortaliças na alimentação dos povos amazônicos, não é um
cardápio ainda muito importante, no entanto em muitos quintais existe um local onde a
família cultiva hortaliças condimentares que serve somente para temperar o peixe, a casa o
feijão, é cultivado em canteiros elevados conhecidos como canteiro de “jirau”. Com o projeto
CAAUP, as famílias tiveram a oportunidade de introduzir espécies de hortaliças que
pudesse servi de complemento na alimentação da família alterando assim sues hábitos
alimentares. Agora as famílias utilizam saladas com de hortaliças cultivadas na horta
cultivadas no quintal.
3.3.3 Utilização de insumos gerados pelos animais que serve como adubo para as plantas
A proposta de trabalhar na linha de produção da hortifrutigranjeiro no propósito de
utilizar-se de uma integração entre planta e animal, alguns insumos gerados em ambas são
aproveitadas para alimentar um ao outro, como exemplo os restos de plantas não
aproveitado pela família são transformados em composto orgânico para as plantas ou
alimentos para os animais outro exemplo é o esterco gerado pelos animais são aproveitado
para adubar as frutíferas e as roças das famílias.
62
3.3.4 Consumo de produtos de boa qualidade
As famílias atendidas com o projeto CAAUP já estão em uma fase bem avança no
entendimento de cultivar plantas sem o uso de produtos químicos solúveis. Utilizam insumos
orgânicos, no trato de plantas e animais por isso gerem produtos de boa qualidade sem
contaminantes químicos tanto para o consumo familiar como para a comercialização. O
projeto CAAUP além de se utilizar de insumos orgânicos na aquisição dos seus produtos,
em um dos seus cursos de formação e capacitação existe um conteúdo voltado para
cadeias produtivas agroecologica com duração de 24 horas, alem disso a assistência
técnica se utilizava conhecimentos e técnicas voltadas para a agroecologia.
3.3.5 Aumento na renda familiar através da comercialização do excedente da produção
A produção dos insumos do projeto CAAUP em primeiro momento é para atender a
necessidade nutricional das famílias, ou seja, para auto consumo familiar. E no segundo
momento fazer do excedente sua comercialização, a proposta é que alem de servi de
alimento para as famílias a produção também possa chegar a sua faze de comercialização
como já está acontecendo em muitos casos as famílias estão comercializando produtos para
compra de outro que não tem em caso. Exemplo é a comercialização da hortaliça, dos ovos,
matrizes de suínos já nascidos ainda durante a execução do projeto.
3.3.6 Introdução de raças caipiras nos Quintais agroflorestais
A introdução de espécies caipira no caso dos animais é para facilitar no manejo e
por se tratar de um projeto que visa a segurança alimentar e nutricional das famílias, desta
forma teve-se a preocupação de aquisição de animais caipira, alem de serem boas espécies
de adaptação ao ambiente externo. Por isso os animais não precisam de um manejo
convencional com uso de insumos químicos solúveis nos tratos de doenças e na sua
alimentação. Diminuindo com isso em muito os custos de produção das famílias.
3.3.7 Capacidade de gestão
Através dos cursos de formação e capacitação as famílias tiveram a oportunidade
de ser orientados no planejamento do trabalho na área de administração de bens e serviços
utilizados dentro dos quintais. No que se referem a parte da produção ou alem na vida social
da família que vai ate a comercialização do produto e a sua representação jurídica seja ala
63
de natureza de cooperação ou associação, redes, toca de trabalho, mutirão outro vinculo de
cooperativismo. Hoje se observa a preocupação das famílias em se reunirem para discutir
assunto da gestão de sua associação. Não que as famílias não tivessem esta prática, era
que a mesma tinha diminuído e o projeto veio para fortalecer e contribuir com outros
conteúdos referentes ao assunto.
3.3.8 Aperfeiçoamento de técnicas para manejo da produção
O aperfeiçoamento de técnicas justifica-se no momento em que as famílias se
utilizam de conhecimento milenares repassados de pais para filhos e netos, muitos desses
conhecimentos são observados na maneira das famílias usarem; por exemplo, estruturas
rústicas na construção dos aviários, chiqueiros ou tanques de criação de peixes, nos
instrumentos que são substituídos por aqueles comprados em lojas agropecuárias, por
exemplo, o bebedouro e comedouros dos animais daí as famílias se utilizam de varias
criatividade, no que se referem ao manejo tanto dos animais quanto os vegetais as famílias
se utilizam de técnicas tradicionais na cura de doenças que venham prejudicar a produção.
Figuras 19: Comedouro feito de reciclagem de um recipiente aproveitado de produto já consumido pela família.
Figuras 20: Máquina caseira para produção de ração.
Fonte: Assistência Técnica CAAUP/2009
3.3.9 Conhecimento de técnicas com princípios agroecológicos
O conhecimento técnico com princípios agroecológicos justifica-se no momento do
trabalho coletivo, uso de manejo fitossanitário se utilizando de produtos naturais,
diversidades nos cultivos de plantas e criações de animais, se utilizando de sementes
crioulas com característica regional para melhor adaptação ao seu habitar natural.
Utilização de alimentos naturais para o solo e para os animais; exemplo o uso de adubo
orgânico como compostagem e ração natural produzido pelas próprias famílias que se
utilizam de restos de alimentos, restos de vegetais, capim folhas e restos de raízes
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cultivados na sua própria propriedade. Uso de plantas medicinas na cura de doenças na
própria família. No armazenamento dos produtos para melhor sua conservação.
Figuras 21: Armazenamentos de sementes para o próximo plantio
Figuras 22: Utilização de crueira (material deixado na fabricação da farinha de puba) na alimentação dos animais
Fonte: Assistência Técnica CAAUP/2009
3.3.10 Os desafios deixados, após termino do projeto
Alguns desafios devem ser observados para garantia da continuidade das atividades
produtivas dentro dos Quintais agroflorestais, mesmo sabendo que as famílias antes já
desenvolviam tais atividades e que o projeto veio complementar essas atividades.
O primeiro desafio refere-se a uma política pública que garanta as famílias um
projeto que seja de fato sustentável desde seu inicio meio e fim, pois muita das vezes cria-
se nas famílias uma expectativa na construção de um projeto solido e concreto mais que, no
entanto o seu termino muito do que se planejou não é executado por falta de apoio das
entidades financiadoras que através das suas políticas burocrática imperam as
possibilidades de e fazer algo diferente.
Aumentar à possibilidade de levar conhecimento às famílias que trabalham na área
rural seja pela distância ou pela própria falta de vontade das mesmas. A uma carência e
necessidade de se trabalhar uma formação e capacitação que supra as necessidades das
famílias atendidas pelo projeto CAAUP, pois são poucos os momentos destinados tal
prática, pois se aprimorar novas técnicas leva a um busca de novos conhecimentos
principalmente quando se referem às técnicas de manejo de uma produção agroalimentícios
seja ela para sustento ou comercialização, esta formação deve está condicionado a uma
pedagogia onde possibilitem as famílias serem os disseminadores dos seus conhecimentos
a outras famílias e que seja vinculado aos conhecimentos técnico científico através de uma
troca do conhecimento popular e acadêmico.
65
Por fim referente à assistência técnica para acompanhamento juntos as famílias é
um desafio ainda sem possibilidades de ser resolvida, ainda que muito tenha se tenha feito,
neste campo muito ainda se falta fazer, pois para se chegar a uma assistência técnica que
consiga suprir todas as necessidades das milhões de famílias que necessitam deste serviço.
Durante a execução do projeto CAAUP houve um grande envolvimento de uma equipe
técnica para trabalhar diversos conteúdos com as famílias tais como: segurança alimentar e
nutricional, economia solidária, agroecologia, questão jurídica, gestão planejamento e
comercialização, são assuntos que estão no cotidiano de todas as famílias atendidas pelo
projeto. Muito se aprendeu durante a forma e capacitação das famílias, no entanto fica o
desafio das famílias aproveitarem esses conhecimentos para aplicar dentro da comunidade,
ainda que esta formação não conseguisse ser uma atividade continua, pois seu termino
acontece junto ao termino do projeto, portanto fica o desafio da família ser este absorvido
deste conhecimento para se tornar uma família autônoma na tomada de decisão e gestão
do seu agroecossistema.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os Quintais agroflorestais são sistemas compatíveis com os diversos
agroecossistemas existentes na Amazônia. Para tal, faz-se necessário:
a) Revisar e integrar as políticas e estruturas de pesquisa voltadas para um bom
manejo agrícolas vinculados a uma assistência técnica comprometida com os princípios da
agroecologia, financiamento e crédito rural, com participação e controle social, adotando-se
procedimentos diferenciados para a pequena produção familiar.
b) Da continuidade na formação das famílias no propósito de fazer a troca de
conhecimento na busca de construirmos experiência praticas voltadas a uma agricultura
sustentável, visando à preservação e recuperação dos ecossistemas; c) valorizar cada vez
mais as atividades desenvolvidas pelas famílias trabalha preservando a vida dentro dos
agroecossistemas.
d) Articular o desenvolvimento com base na sustentabilidade associada à viabilidade
e à longevidade de acordo com cada realidade local.
f) valorizar as pequenas iniciativas de beneficiamento e/ou transformação dos
produtos provenientes de Quintais agroflorestais, respeitando os critérios de manejo da
produção, colheita, classificação, limpeza e embalagem, a extração de óleos, uso
sustentável das ervas medicinais, de produtos não madeireiros, como estratégias essenciais
de desenvolvimento local sustentável.
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REFERÊNCIAS
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