MONOGRAFIA Ana Rita 2010

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ANA RITA QUIRINO A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NA ALFABETIZAÇÃO Monografia apresentada à Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Eugênio da Pacelli como requisito parcial para obtenção do título de graduado no Curso de Pós Graduação em Educação com Ênfase em Arte e Inclusão, sob a orientação do professor Antônio Celso Ribeiro. UNIVERSIDADE DO VALE DO SAPUCAÍ POUSO ALEGRE

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ANA RITA QUIRINO

A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NA ALFABETIZAÇÃO

Monografia apresentada à Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Eugênio da Pacelli como requisito parcial para obtenção do título de graduado no Curso de Pós Graduação em Educação com Ênfase em Arte e Inclusão, sob a orientação do professor Antônio Celso Ribeiro.

UNIVERSIDADE DO VALE DO SAPUCAÍ

POUSO ALEGRE

2010

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UNIVERSIDADE VALE DO SAPUCAÍ

FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS EUGÊNIO PACELLI

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM INCLUSÃO COM ÊNFASE EM ARTE

Monografia “A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NA ALFABETIZAÇÃO”, elaborada

por ANA RITA QUIRINO e aprovada por todos os membros da Banca Examinadora foi

aceita pelos abaixo listados, como requisito final para a obtenção do título de Pós Graduação

em Inclusão com Ênfase em Arte.

Pouso Alegre, ______ de ______________ de 2010.

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________

____________________________________

____________________________________

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter colocado seus “anjos” em meu caminho, que me entenderam

e me estimularam a continuar quando as forças pareciam faltar, e ajudaram a me tornar uma

pessoa melhor e mais segura ao longo desta trajetória.

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“Nenhuma arte exerce nas massas (povo) influência tão poderosa quanto à música”

(Heitor Villa- Lobos)

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RESUMO

Este trabalho de pesquisa busca analisar como a música pode auxiliar no processo de

alfabetização, procurando refletir sobre a importância da mesma na formação global da

criança. A pesquisa mostra que a música contribui no desenvolvimento psíquico, emocional e

cognitivo, estimulando o raciocínio, a criatividade, a sensibilidade, a auto-estima e a

socialização, além de tornar a aprendizagem concreta e prazerosa.

Palavras chave: música – alfabetização – desenvolvimento.

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ABSTRACT

This paper aims to analyze how music can aid in the literacy process, trying to

contemplate on its importance in the child's global formation. The research shows that music

contributes to the child’s psychic, emotional and cognitive development, stimulating the

reasoning, the creativity, the sensibility, the self-esteem and the social skills, besides turning

the learning process concrete and pleased.

Key words: Music -

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................8

2. O QUE É MÚSICA?...........................................................................................................9

2.1. Breve Histórico..............................................................................................................11

3. ALFABETIZAÇÃO E MÚSICA.....................................................................................13

3.1. A música na sala de aula................................................................................................16

4. COMO A MÚSICA INFLUENCIA NA INTELIGÊNCIA.............................................26

5. A MÚSICA COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM......................................29

6. A MÚSICA PARA CANTAR..........................................................................................32

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................35

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................36

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1. INTRODUÇÃO

Através dos tempos, a música tem sido uma bela forma de comunicação entre os

homens, que a utiliza nos momentos mais importantes de suas vidas.

Desde o nascimento, a criança percebe o som, e pouco a pouco utiliza sua voz e seu

corpo para produzi-lo.

Quando ouve músicas a criança percebe os conceitos de ritmo, intensidade, altura e

melodia, e os relaciona com a expressão de sentimentos. Assim, cada criança reage à música

de uma forma muito pessoal.

O trabalho em sala de aula com a música é uma proposta que abre espaço para

diversas oportunidades de aprendizagem. Ao inserir a música na prática diária de um

ambiente alfabetizador, a mesma se torna um importante elemento que nos auxilia no

processo de aprendizagem da leitura e da escrita, pois esta desperta o gosto por diversos

assuntos e ajuda no desenvolvimento da psicomotricidade, na formação de conceitos e na

interação com o outro.

Analisando minha prática pedagógica como alfabetizadora e neste ano trabalhando

com alunos com sérias dificuldades de aprendizagem, me propus a estudar uma outra maneira

de atingi-los de uma forma mais profunda e prazerosa, e a música além de ajudar na

construção do conhecimento significativo, é também um excelente instrumento de cidadania.

Para viabilizar o desenvolvimento deste trabalho foi pesquisada a história da música;

sua definição; como usar a música na sala de aula, servindo como instrumento de

aprendizagem, citando alguns exemplos de atividades; como a música influencia no

desenvolvimento da inteligência; e a utilização do nosso corpo para produzir música.

A música tem como função atingir o ser humano em sua totalidade. A educação tem a

função de desenvolver em cada indivíduo toda a sua capacidade. Porém, sem utilizar a

música, a educação pode não conseguir cumprir a sua função, pois só a música consegue levar

o indivíduo a agir de maneira tão plena. Por meio do ritmo, a música atinge a motricidade e a

sensorialidade; e por meio da melodia, atinge a afetividade.

A principal vantagem de utilizarmos a música para nos auxiliar no ensino de uma

determinada disciplina é a abertura de um segundo caminho comunicativo, pois com a música

é possível despertar e desenvolver nos alunos uma sensibilidade mais aguçada na observação

de questões próprias à disciplina alvo.

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2. O QUE É MÚSICA?

De acordo com o Novo Dicionário Aurélio da língua portuguesa, música é “a arte de

combinar os sons de modo agradável aos ouvidos.”

“A música é uma linguagem, posto que é um sistema de signos”, afirma Hans-Joachim

Koellreutter. Música é linguagem que organiza os signos sonoros e o silêncio, no contínuo

espaço-tempo. Para Koellreutter, na música se faz presente um jogo dinâmico de relações que

simbolizam, em microestruturas sonoras, a macroestruturas do universo. Ele considera que a

linguagem musical pode ser um meio de ampliação da percepção e da consciência, porque

permite vivenciar e conscientizar fenômenos e conceitos diversos.

Música é movimento, é sentimento, é consciência do espaço e do tempo. Música é

igualmente tensão e relaxamento.

Pode-se perceber a música em tudo onde existe a mão humana, pois ela inventa

linguagens; formas de ver, de representar, de transfigurar e de transformar o mundo.

A música é uma linguagem universal, passível de ser compreendida por todos. Todos

os povos do planeta desenvolvem manifestações sonoras. Entretanto, apesar dessa tendência

em se expressar através dos sons ser algo inerente ao ser humano, ela se concretiza de maneira

tão peculiar em cada cultura que é muito difícil acreditar que uma da suas manifestações

possua um sentido universal.

Segundo John Blackin (apud MORAES, s/d), “toda cultura possui o seu próprio ritmo,

no sentido em que a experiência consciente é ordenada em ciclos de mudança de estação, de

crescimento físico, de empreendimento econômico, de profundeza ou de amplitude

genealógica, de vida presente e de vida futura, de sucessão política ou de fatos periódicos

quaisquer, aos quais se confere uma significação. Poderíamos dizer que a experiência corrente

de todos os dias tem lugar em um universo de tempo real. A qualidade essencial da música é o

poder que ela tem de criar um outro universo de tempo virtual".

Além de a música estar unida à ideia de organização e ao conceito construído e não

definível de tempo (cronométrico, psicológico) a música se baseia na periodicidade e na

recorrência. Esses fenômenos ligam-se diretamente ao fenômeno da memória, seja aquela que

nos faz reconhecer no instante da audição, aquilo que veio antes e aquilo que poderá vir

depois; seja aquela que nos remete à própria História.

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Rilke (apud MORAES, s/d) afirma que a música é também “o mais íntimo de nós, que

transcendendo-nos, força por sair".

Há várias maneiras de ouvir a música. Entretanto, pelo menos três delas poderiam ser

chamadas de dominantes: 1) ouvir com o corpo; 2) ouvir emotivamente e; 3) ouvir

intelectualmente.

Ouvir com o corpo é empregar no ato da escuta toda a pele, que vibra em contato com

o som. É misturar o pulsar do som com as batidas do coração, é um quase não pensar. É

bastante freqüente nesse estágio de escuta, que haja um impulso em direção ao ato de dançar.

Nesse novo gesto, a música ouvida é transformada em movimento que pode ser visto, em

ritmo visual.

Outra maneira de ouvir música sai da sensação bruta e entra no campo dos

sentimentos, da emotividade. Ouvir emotivamente é ouvir mais a si mesmo do que

propriamente a música. É fazer com que a música desperte ou reforce algo que já está em nós

mesmos.

Ouvir intelectualmente, é analisar como a música se organiza a partir de certos

pressupostos (escolha dos sons, maneira de articulá-los, etc) que garantem a ela aquilo que se

poderia chamar de coerência interna. A rigor, a música não precisa “expressar” alguma coisa

que esteja fora dela, pois a música pertence a um universo não-verbal.

Como a música é um tipo de linguagem, ela tem a sua História, e esta mostra que a

maneira de construir a música varia de comunidade para comunidade, de época para época, e

às vezes, de indivíduo para indivíduo. Cada povo, em cada momento da História, tem o seu

próprio sistema de organização musical. Entretanto, como todos os sistemas se apóiam sobre

os mesmos elementos de base-sons encadeados em recortes melódicos, movimento e ritmo, a

música tende tocar o indivíduo, seja como sentimento bruto, seja como emoção mais ou

menos elaborada, a música cria emoções por mais intectualizada que seja.

Dentre outras coisas, a música é uma forma de representar, de relacionar-se e de

concretizar novos mundos. Sendo um elemento indispensável no cotidiano infantil e podendo

ser abordada de diversas maneiras. Assim, todos possuem em seus corpos e em suas vidas

uma musicalidade. Enquanto o ser humano estiver vivo, falando e se movimentando, está se

expressando musicalmente e exprimindo suas emoções através de sons e ritmos.

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2.1. Breve Histórico

A música é a forma de expressão mais universal que se conhece. Sua etimologia vem

do grego e significa “arte das musas”.

Mas a música vem muito além da Grécia antiga. Ela esteve presente em todas as

civilizações do mundo antigo, como um elemento de coesão para a comunidade, pois fez parte

durante séculos, de todos os rituais mais importantes da vida social de um povo.

Segundo Catucci (2001), na religião, as liturgias hebraicas usavam muito o canto, ao

mesmo tempo que repartiam o uso dos instrumentos por uma rígida hierarquia social: cornos

dos animais e trompas para os sacerdotes, percussões e flautas para o povo e instrumentos de

cordas para os levitas. Nas guerras, na América pré-colombiana, acreditava-se que os

instrumentos musicais com a pele e com os ossos dos inimigos absorviam o seu valor e

reforçavam os exércitos. A música podia incutir coragem, afugentar os inimigos, consolidar a

coesão dos soldados, celebrar uma vitória, preparar o espírito de batalha. O fragor produzido

por tambores e trombetas deu vida a uma tradição que chegou até à música militar moderna.

Nas danças, há quem defenda a ideia de que foram o ritmo e a dança as primeiras formas

rituais de música. Nas populações do mundo antigo e nas que ainda hoje vivem em estado

tribal, a dança é um acontecimento presente em todas as cerimônias sociais. A dança não é um

espetáculo de entretenimento, mas uma linguagem baseada essencialmente no ritmo e que

traduz em imagens e movimentos as histórias da mitologia.

Partindo destas citações, como exemplos, pode-se notar que a música é tão antiga

quanto a história do homem e está ligada à origem das suas atividades fundamentais que são a

comunicação e a linguagem. O essencial é notar-se o quão importante a música foi e é para as

populações de todos os tempos.

Na verdade, a música não é apenas entretenimento, deleite, convite ao

devaneio. É também fonte de crescimento espiritual, enriquecimento da

sensibilidade e fortalecimento do ego, condições fundamentais para a realização

plena do ser humano na sua trajetória de vida. (BRÉSCIA, 2003, p. 29)

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As épocas que demarcam a presença do que viria a ser música apontam para uma

consciência mágica, mítica, responsável pela transformação de sons em música e seres

humanos em seres musicais, produtores de significados sonoros. Os tantos mitos e lendas que

relacionam vida, mundo, sons e silêncio conferem poder e magia aos sons e,

consequentemente aos instrumentos musicais.

Existem muitas teorias sobre a origem e a presença da música na cultura humana. A

linguagem musical tem sido interpretada, entendida e definida de diversas maneiras,

dependendo da época e da cultura, em sintonia com o modo de pensar, com os valores e as

concepções estéticas vigentes.

Segundo Martins (2006) temos registros dos primórdios da humanidade nas pinturas

rupestres de algumas cavernas, porém o som dessa época, obviamente pelo fato de a

sonoridade existir somente durante um tempo determinado, perdeu-se. Hoje talvez o som mais

próximo do que existia na pré-história – guardadas as devidas proporções – seja o som

produzido pelos povos primitivos de nosso planeta que ainda preservam uma tradição cultural

fundada na oralidade como meio de transferência do saber de geração para geração.

O emprego de diferentes tipos de música é uma questão vinculada à época e à cultura.

O ruído, por exemplo, considerado por muito tempo como som não musical, presente apenas

nas produções musicais alheias ao modelo musical ocidental, foi incorporado e valorizado

como elemento de valor estético na música ocidental do século XX.

As profundas transformações econômicas, sociais, políticas e ideológicas que

ocorreram no século XIX, responsáveis pelo desenvolvimento industrial e tecnológico,

provocaram grandes mudanças na cultura ocidental, envolvendo, obviamente, a música.

“Uma enorme reviravolta dos princípios estéticos e uma nova atitude face

ao som começam a se delinear, ainda nas primeiras décadas do século XX,

provocando uma significativa mudança na história da percepção auditiva do homem

ocidental. Aqueles sons que, outrora, configuravam-se enquanto ‘pano de fundo’- os

ruídos ambientais- tornam-se, agora, musicais.” (F. C. S. Carneiro, 2002, p.53)

Desta forma, fica bem claro o quanto a música é fundamental e é marcante na história

da nossa espécie, como ela é atuante em todas as formas de nosso pensar sócio, cognitivo e

psicológico.

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3. ALFABETIZAÇÃO E MÚSICA

Para Góes (2009), a música atrai e envolve as crianças, pois eleva a auto-estima,

estimula diferentes áreas do cérebro, aumenta a sensibilidade, a criatividade, a capacidade de

concentração e ajuda na fixação de dados. Por isso está sendo cada vez mais usada pelas

escolas como eixo norteador do processo de alfabetização.

Assim, as crianças que recebem estímulos musicais adequados, aprendem a ler e a

escrever mais facilmente e tem maior equilíbrio emocional, já que a música está inserida no

seu cotidiano desde muito cedo.

É preciso lembrar que todas as crianças possuem uma grande potencialidade para

adquirir a linguagem. Esta capacidade biológica é uma condição necessária, mas não

suficiente, para explicar o desenvolvimento lingüístico e as diferenças entre as crianças neste

processo (GONZÁLES, 1997). Pensa-se que as crianças já possuem predisposições inatas

específicas vinculadas à aprendizagem da língua e também para outros domínios cognitivos.

Mas o desenvolvimento é, em si mesmo, um processo mais dinâmico de interação entre a

mente e o meio (KARMILOFF- SMITH apud BERNARD, 1998). Toda situação de

experiência das crianças é definida pelo contexto objetivo, que implica na ação, na observação

e, ou na participação em atividades, no uso da linguagem e nas interações com os demais.

Segundo SOARES (2001), a criança aprende a escrever agindo e interagindo com a

língua escrita, experimentando escrever, fazendo o uso de seus conhecimentos prévio sobre a

escrita, levantando e testando hipóteses sobre a correspondência entre o oral e a escrita.

Observa-se que, antes da aquisição da linguagem, as crianças interpretam o comportamento

dos outros e respondem a eles, fazendo parte das interações que implicam reciprocidade.

Cabe lembrar que as instituições educacionais devem levar em consideração os

conhecimentos prévios de cada criança, para que por meio deles a escrita torne-se

significativa, pois a aquisição do sistema de escrita e o desenvolvimento das habilidades de

utilização deste sistema só serão adquiridos quando a criança compreender a utilidade da

escrita para a sua interação social.

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Neste contexto, faz-se necessário ampliar o conceito de alfabetização, desenvolvendo

uma política estética, alegre e afetiva, e que as linguagens expressivas do desenho, da música,

da dança e da brincadeira sejam instrumentos simbólicos de leitura e escrita do mundo social

da criança. Trata-se de uma metodologia que permita as relações com os pares e com os

grupos, fazendo a criança elaborar o conhecimento de forma coletiva, dentro de uma relação

dialógica, numa tentativa de construir um saber ético através do qual possa ser valorizada e

buscar valores.

Vygotsky (1979), parte da ideia de que existe uma zona de desenvolvimento proximal,

definida pelo nível evolutivo das funções mentais da criança, e que se manifesta pela sua

capacidade para resolver situações de forma independente. Isto é, a possibilidade que a

criança tem para resolver problemas sozinha, em uma determinada situação. Por outro lado,

existe um desenvolvimento potencial que envolve as realizações das crianças se elas

receberem o apoio adequado no momento de resolver a tarefa. Entre estes dois níveis,

encontra-se a zona de desenvolvimento real, que é o cenário na qual transcorre a ação que o

autor chama de aprendizagem. Aquilo que se pretende aprender deve passar pela experiência

pessoal de quem aprende.

Assim, a aprendizagem assume um caráter pessoal. Ainda que a criança atue de

maneira informal com a linguagem escrita, é importante que na fase de sua aquisição, ela

compreenda a natureza, representação e função desse sistema. Nesse sentido, a ação

pedagógica torna-se fundamental à medida que o professor leve para a sala de aula, textos que

circulam no mundo, criando um ambiente de leitura e colocando-se como mediador entre os

textos e as crianças, favorecendo oportunidades ricas e variadas de interação com a leitura e a

escrita.

Para que a criança aprenda, é necessário que no seu interior haja um processo de

transformação e mudança. A aprendizagem deve ser encarada como uma ação educativa em

que a finalidade é desenvolver no ser humano a capacidade que lhe permita interagir com o

meio em que vive. “A aprendizagem é um processo normal, harmônico e progressivo, de

exploração, descoberta e reorganização mental, em busca da equilibração da personalidade”

(PIAGET, 1978, p.15).

O autor defende que o ensino deve ser atrativo, estar de acordo com os interesses e

curiosidades das crianças. As tarefas propostas devem produzir na criança o desejo de

aprender e que o espaço da sala de aula deve ser um ambiente de investigação e de respeito,

onde as crianças possam expressar suas formas de pensamento, suas dúvidas, suas descobertas

e construir vínculos entre si.

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É necessário entender que a alfabetização é um processo de apropriação do

conhecimento da língua escrita, em que gradativamente, a criança irá ampliar e rever suas

formas de ler e representar o mundo. Alfabetizar é interagir com o mundo por intermédio da

língua escrita, e sendo a linguagem, um instrumento de representação, é por ela que se

expressa a visão do mundo daquele que fala.

Ferreiro (1999), afirma que o processo de aprendizagem é aquele que decorre da

atividade do sujeito e que segue um determinado percurso regido por leis internas. O método

de ensino, diz respeito a uma ação intencional, ao esforça dirigido por um outro (no caso da

escola, pelo professor) no sentido de fazer com que esse sujeito ascenda à compreensão e ao

domínio desse objeto. O que se procura determinar é o caminho pelo qual a criança toma

consciência da natureza alfabética do nosso sistema de representação da escrita.

A criança vai avançando nos seus estágios cognitivos na medida em que lhe é dada a

oportunidade com diferentes materiais impressos. A cada dia a sua representação do objeto

vai se aperfeiçoando, até chegar a uma representação bem definida.

Trabalhando com música, o professor estará permitindo que a criança interaja com

diversos tipos de textos de forma lúdica e prazerosa, tornando-os mais significativos. A

música torna-se um elemento rico que une e reforça todo o trabalho educativo que se

desenvolve com a criança.

A leitura é uma atividade muito importante, pois é com o seu auxílio que se adquire

conhecimentos para melhor entender a realidade, e a escola deve oportunizar o contato com

diferentes tipos de textos, pois cada um tem uma função específica.

O trabalho com o texto é realizado visando a compreensão da função da escrita

enquanto representação de palavras, para a sistematização necessária ao domínio do código

escrito. Toda representação que a criança faz, carregada de significação, é um texto. A

produção de texto coletivo é o momento em que cada criança tem a oportunidade de expressar

suas ideias ao grupo, e vivenciar a escrita convencional feita pelo professor. O texto coletivo

permite que a criança reflita sobre as linguagens oral e escrita, observando que tudo que se

fala pode ser escrito.

A apropriação da linguagem escrita só se efetivará por meio das relações sociais e pela

interferência do professor.

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A música exerce grande influência sobre as crianças, por isso os jogos ritmados devem

ser aproveitados e incentivados na escola. Música é linguagem. As experiências musicais

favorecem a organização do pensamento da criança. Quanto mais ela tiver a oportunidade de

comparar as ações executadas e as sensações obtidas através da música, mais sua inteligência

e seu conhecimento se desenvolverá.

As músicas também são fortes aliadas para ensinar a ler e a escrever. A familiaridade

com textos conhecidos e apreciados pelas crianças facilita a alfabetização. A criança percebe

que a combinação de determinadas letras formam cada uma das palavras do refrão de uma

música conhecida e que é muito mais gostoso e interessante aprender dessa forma. Isso

aumenta a capacidade de compreensão da criança, que tem mais possibilidades de interpretar

e conhecer o mundo em que vive. É importante incentivar a criança a se expressar na língua

escrita, mesmo que não domine totalmente o código convencional, pois ao escrever irá

adquirindo maiores conhecimentos sobre a língua.

Aqui, cabe ressaltar que não basta apenas saber ler e escrever, é preciso saber fazer uso

da leitura e da escrita na prática social. Dessa concepção surgiu o termo letramento, que é

algo mais complexo que alfabetizar, pois se trata de permitir que a criança crie habilidades

para interagir com diferentes linguagens. Para Soares (2000), letramento é o estudo ou

condição de quem interage com diferentes portadores de leitura e de escrita, com diferentes

gêneros e tipos de literatura e de escrita, com diferentes funções que a leitura e a escrita

desempenham em nossa vida.

A música desenvolve o pensamento e a linguagem, oferecendo à criança, condições de

descobrir os sons que a rodeia e os sons que ela pode criar, podendo se comunicar e se

expressa através deles.

3.1. A música na sala de aula

Desde o século passado, a música está incluída na prática escolar com diferentes

tendências e enfoques. Porém, com o passar do tempo, sua prática vem se tornando cada vez

mais necessária.

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A música é uma forma de conhecimento que possibilita modos de percepção e

expressão únicas e não pode ser substituída por outra forma de conhecimento. Assim, a escola

deve propiciar uma formação mais plena para todos os indivíduos. Muito se fala de instituição

educativa formadora de cidadãos mais conscientes de si e do seu mundo, porém, ainda se

reforça sua racionalidade, ignorando que a formação plena do indivíduo também passa pelo

desenvolvimento dos aspectos emocionais e sensíveis.

Em todas as culturas as crianças brincam com músicas, jogos e brinquedos musicais

que são transmitidos por tradição oral, persistindo nas sociedades urbanas nas quais a

formação da cultura de massa é muito intensa, pois são fontes de vivências e desenvolvimento

expressivo musical (BRASIL, 1998, p.17).

A música, entendida como uma linguagem artística, organizada e fundamentada, é

uma prática social, pois nela estão inseridas valores e significados atribuídos aos indivíduos e

à sociedade. A linguagem musical vem sendo cada vez mais estudada e analisada, pois

representa uma excelente motivação para a prática pedagógica.

É bastante raro encontrar no mundo alguma pessoa que não aprecie algum som; seja

um som da natureza ou produzido pelo ser humano.

A partir desta constatação, percebemos o valor que o som organizado por nós, seres

humanos, pode alcançar quando desejamos exprimir algo a outra pessoa. É evidente que a

comunicação verbal é por excelência a primeira na escala comunicativa humana; e também é

verdade que, quando se tem a música como aliada, se ganha força, pelo suporte e penetração

mais intensa que adquire a transmissão de sua mensagem original.

Como a música é uma linguagem universal, também é uma linguagem por meio da

qual uma ideia é melhor difundida ao longo dos tempos. A música é transmissão verbal-oral-

cantada do conhecimento, segundo Ferreira (2005).

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A música é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e

autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos,

sons, e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva

sua imaginação, amadurece algumas capacidades de socialização, por meio da interação e

utilização e experimentação de regras e papéis sociais (BRASIL,1998). Para Brito (2003), o

processo de musicalização dos bebês e crianças começa de forma espontânea, intuitivamente,

através do contato com variedades de sons do nosso cotidiano. Sendo a música uma

linguagem, devemos adotar o mesmo procedimento utilizado no desenvolvimento da

linguagem falada, ou seja, expor a criança à linguagem musical, dialogando e encorajando

atividades relacionadas com a descoberta e criação de novas formas de expressão musical

(JEANDOT, 1997).

Segundo a Referencial Curricular para a Educação Infantil (RCN, 1998), o contato

com a expressão musical desde os primeiros anos de vida é o ponto de partida para o processo

de musicalização. Proporcionar vivências com as quais a criança possa ouvir, cantar, brincar

de roda, brinquedos rítmicos, são atividades que estimulam e desenvolvem o gosto pela

atividade musical, que é um ótimo meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio,

da auto-estima, autoconhecimento e integração social.

Enquanto espaço de aprendizagem com objetivo e conteúdos próprios, a escola deve

proporcionar uma oferta educativa de qualidade, sendo a música um dos diferentes recursos

que podem auxiliar no desenvolvimento emocional da pessoa.

Gainza (1988) nos diz que nas aulas de música, a criança deverá ter múltiplas

oportunidades para se expressar livremente, para apreciar e aprender dentro de um marco de

ampla liberdade criadora. A educação através da arte proporciona à criança a descoberta das

linguagens sensitivas e do seu próprio potencial criativo, tornando-a mais capaz de criar,

inventar e reinventar o mundo que a cerca. A criatividade é essencial em todas as situações,

uma criança criativa raciocina melhor e inventa meios para resolver suas dificuldades.

Criar é o ato de originar alguma coisa. Ser criativo é viver adaptando

formas de expressões às necessidades de sua vida. O processo criativo está em

desenvolvimento quando somos capazes de criar e recriar determinadas situações

com a qual nos deparamos. Para estimular a criatividade, é necessário que o

professor seja criativo para estimular a criança, podendo auxiliar na reelaboração do

pensamento para ideias produtivas. A música por si só contribui para o

desenvolvimento criativo. (WEIGEL, 1988, p. 188).

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A linguagem musical deve estar presente no contexto educativo, envolvendo

atividades e situações desafiadoras e significativas que favoreçam a exploração, a descoberta

e a apropriação do conhecimento.

A principal vantagem de utilizarmos a música para nos auxiliar no ensino de uma

determinada disciplina é a abertura de um segundo caminho comunicativo, pois com a música

é possível despertar e desenvolver nos alunos uma sensibilidade mais aguçada. No entanto, é

importante que o professor selecione bem as músicas a serem utilizadas em suas aulas, para

que possa desenvolver em seus alunos um espírito crítico como ouvinte.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), para se ensinar a ler e

escrever, é preciso oferecer aos alunos variados materiais de leitura, e a música torna-se uma

poderosa aliada já que pesquisas comprovam que crianças de escolas fundamentais com

ênfase na música, têm, depois de quatro anos de educação musical, um valor de QI mais alto

em comparação com as crianças que não desenvolvem esta atividade.

Face à constante explosão de saber, não causa surpresa as frequentes exigências no

tocante às características de personalidade profissionalizante qualificadoras para um posto de

trabalho. Política, indústria e economia focalizam na direção de qualificações-chave:

extroversão, como aptidão para o contato; tolerância, como espírito de equipe; retidão, como

disposição para a responsabilidade; estabilidade emocional, como capacidade espiritual de

manter-se firme em situações de estresse.

Numa palavra, não seria a música um meio ideal, ou seja, uma oportunidade de

desenvolvimento efetivo dessas características da personalidade? A música exige e promove a

extroversão na maneira expressiva e vigorosa de tocar; espírito de equipe na prática conjunta

da música; retidão em relação à obra musical e à sociedade musical; estabilidade emocional

no estresse do palco na apresentação artística; inteligência na interpretação apropriada de uma

obra musical.

Diante dos resultados da nova e unânime pesquisa interdisciplinar nos campos da

neurociência, da psicologia e da pedagogia musical, seja constatado tão evidente quanto

conscientemente: a música e a prática musical, o mais cedo possível em todos os níveis,

jamais foram tão necessárias quanto hoje.

Então, como a política se comporta em relação à formação e à cultura, especialmente

com respeito à cultura da educação? No que diz respeito ao campo da música, os responsáveis

já começam a compreender que o envolvimento com a música, possivelmente deste a mais

tenra infância, tem comprovados efeitos positivos no desenvolvimento dos jovens.

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O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) cita que desde a

Grécia Antiga a música era considerada como fundamental para a formação dos futuros

cidadãos. A música no contexto da educação infantil vem ao longo da história, atendendo a

vários propósitos, como formação de hábitos, atitudes e comportamentos. Praticar e

experimentar a música são maneiras e modos especiais de encontrar-se e orientar-se no

mundo, ou seja, a música é meio e elemento constitutivo de autorrealização humana, uma

sensibilidade fundamental do ser no mundo, com possível harmonia entre o mundo interior e

exterior. Isso vale de modo especial para as culturas juvenis, nas quais a música tem um

importante valor simbólico. Por conseguinte, a música é mais do que um luxo, ela é elixir

vital indispensável.

A música pode ser também fundamentada do ponto de vista pedagógico cultural. “O

ser humano é, “por natureza um ser cultural” (Arnold Gehlen); ele é “criador e criatura da

cultura” (Michael Landmann). Com isso se quer indicar, de um lado, a energia do ser humano

musicalmente atuante e, de outro, o compreensível produto, no sentido da cultura objetiva de

um mundo do trabalho musical. Não há nem na história, nem no presente, uma cultura sem

música.

Professores de música às vezes se desesperam na linha de frente para transmitir aos

jovens uma música que amiúde lhes é estranha do ponto de vista social, dos meios e do grupo

a que pertença.

Se a escola se deixa fundamentar a partir de sua utilidade futura e de sua realização

presente então as artes decisivamente fazem parte da escola, mesmo porque a música tem um

significado incomparavelmente alto no cotidiano e no mundo vital das crianças.

Na fundamentação pedagógico-social para a música, sua prática pode acelerar o

processo de adaptação social com simultânea e altamente sensível mentalidade de

compreensão, pois a música adquire precisamente seu valor quando não é caracterizada pela

obediência de regras.

O que a arte e a música nos dizem, pertence primeiramente àquela formação a que

certa vez Hegel acenou: “A cultura existe onde alguém procura compreender o pensamento do

outro, mesmo que dele não compartilhe”. Onde este tipo de cultura derrama seu espírito, não

precisamos mais preocupar-nos com a competência social. Ela reina como que por si mesma,

silenciosamente, mas muito presente.

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Partindo de uma análise que considera a música como um jogo, o compositor,

pesquisador e educador francês François Delalande (apud BRITO, 2003, p.31) relacionou as

formas de atividade lúdica infantil proposta por Jean Piaget a três dimensões presentes na

música: 1) jogo sensório-motor, vinculado à exploração do som e do gesto; 2) jogo simbólico,

vinculado ao valor expressivo e à significação do discurso musical e; 3) jogo com regras,

vinculado à organização e à estruturação da linguagem musical.

Delalande relaciona os três tipos de jogos à evolução das culturas musicais, agrupando

as correntes por sua função lúdica. Ele defende que os diferentes modos de jogo, convivem no

interior de uma mesma obra musical e que um deles predomina sobre os outros.

É difícil encontrar alguém que não se relacione com a música de um modo ou de

outro: escutando, cantando, dançando ou tocando um instrumento, em diferentes momentos e

por diferentes razões.

As crianças interagem permanentemente com o ambiente sonoro que os envolvem e –

logo – com a música, já que ouvir, cantar e dançar são atividades presentes na vida de quase

todos os seres humanos, ainda que de diferentes maneiras. Pode-se dizer que o processo de

musicalização das crianças começa espontaneamente, de forma intuitiva, por meio do contato

com a variedade de sons do cotidiano. Nesse sentido, as canções de ninar, as cantigas de roda,

e todo tipo de jogo musical, têm grande importância, pois é por meio das interações

estabelecidas que se desenvolvem um repertório que lhes permitirá comunicar-se pelos sons;

os momentos de troca e comunicação sonoro- musicais favorecem o desenvolvimento afetivo

e cognitivo, bem como a criação de fortes vínculos tanto com os adultos quanto com a

música.

A criança é um ser “brincante” e, brincando faz música, pois assim se relaciona com o

mundo que descobre a cada dia.

A brincadeira é uma forma de interação, onde a criança aprende a conhecer a si

própria, as pessoas que a cercam, as relações entre as pessoas e os papéis que assumem.

Durante a aprendizagem, há momento de concentração e momentos de ação, as situações de

brincadeiras fazem com que as crianças interajam com seus pares, e no grupo descobrem que

não são os únicos sujeitos da ação, e que para alcançar seus objetivos precisam levar em conta

que outros também têm objetivos próprios que querem satisfazer.

De acordo com Garcia e Marques (1990, p.11), “o aprendizado da brincadeira, pela

criança , propicia a libertação de energias, a expansão da criatividade, fortalece a socialização

e estimula a liberdade de expressão.”

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As diferentes situações presentes nas brincadeiras que envolvem música fazem a

criança crescer, enquanto procura soluções e alternativas, ao mesmo tempo que favorece a

concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação. Como conseqüência a criança fica

mais relaxada, mais calma e aprende a pensar, estimulando sua inteligência.

Para Delalande, (apud BRITO, 2003, p. 36) “as condutas de produção sonora da

criança” revelam a ênfase num ou noutro estágio da atividade lúdica. Ele classifica as

categorias de condutas em: exploração, expressão e construção, referentes ao jogo sensório-

motor, ao jogo simbólico e ao jogo com regras, respectivamente.

Realizar um trabalho com música ajuda a melhorar a capacidade de concentração,

memória e coordenação sensório-motora, sendo importante ressaltar que a criança é

estimulada de uma maneira prazerosa, encontrando no brincar grandes benefícios ao processo

de alfabetização.

Em muitas situações em sala de aula, o trabalho com música é realizado com

improvisações. São os momentos nos quais as crianças tocam, dançam e cantam livremente,

explorando seu corpo, objetos (instrumentos musicais) e sua voz, individual ou coletivamente.

Uma situação típica de improvisação é quando se é colocado, no meio da sala, uma

série de instrumentos musicais e as crianças vão experimentando um por um, simplesmente

pelo prazer de descobrir os sons.

Essa atividade é muito importante e deve ser feita constantemente para que as crianças

descubram as possibilidades sonoras dos objetos e do seu corpo de maneira espontânea e

natural. Mas só este tipo de atividade não estará propiciando às crianças nem a ampliação nem

o aprofundamento de seus conhecimentos musicais. A improvisação livre, individual ou

coletiva é apenas uma maneira de se trabalhar. É necessário que, além desses momentos,

existam outros em que a improvisação vá sendo limitada e direcionada, a fim de garantir que

as crianças consigam se expressar em grupo e organizar a sua ação musical para expressar o

que deseja por meio dos sons.

O ser humano desenvolve-se internamente e externamente através das experiências

rítmicas. O ritmo enquanto elemento vital para o indivíduo, estimula o movimento de tal

forma que não é possível pensar em movimento sem ritmo e vice-versa.

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De acordo com Gainza (1988, p. 23), “a música e o som, enquanto energia, estimulam

o movimento interno e externo do homem: impulsionando-o à ação, promovendo nele uma

multiplicidade de condutas de diferente qualidade e grau. A criança toca os objetos que tem

ao seu alcance, brinca com eles, explora-os e escuta o resultado sonoro da sua ação. Energia

física e afetividade estão intimamente entrelaçadas na criança: esta gosta de explorar o mundo

sonoro e manipula os sons espontaneamente”.

Na atividade musical, a criança começa tocando um instrumento aleatoriamente,

somente como uma descarga motora. À medida que seu desenvolvimento psicomotor evolui,

o movimento passa a ser voluntário e a ter um objetivo. Outra questão é a visão fisiológica do

corpo em uma constante interação com o meio.

A partir da movimentação pelo espaço, a criança descobre os limites do seu corpo e

conscientiza-se de suas partes. Nas experiências corporais é estabelecida uma relação entre

corpo e espaço, onde é vivenciada a interferência afetiva entre estes, ou seja, as crianças

assimilam as informações do meio em que se encontra, devolvendo a este, através de reações,

os estímulos recebidos.

O corpo é uma totalidade na qual se pode isolar diferentes componentes. Vivenciando

inicialmente seus diversos fragmentos como totalidades, mais tarde a criança será capaz de

descobrir que estas diversas partes correspondem a uma totalidade, que é o seu corpo.

Um exemplo de música que ajuda na percepção das partes do corpo para mais tarde ser

visto como uma totalidade é:

“Cabeça, ombro, joelho e pé

joelho e pé, joelho e pé” ( bis)

“Olhos, ouvidos, boca e nariz...”

“Cabeça, ombro, joelho e pé

joelho e pé, joelho e pé” ( bis)

A música deve ser trabalhada com a criança apontando as partes do corpo solicitadas.

Uma maneira lúdica de se trabalhar um melhor conhecimento do corpo.

O conhecimento do corpo é em grande parte reconhecido através das contribuições da

linguagem: a nomeação confirma o que é percebido, reafirma o que é conhecido e permite

verbalizar aquilo que é vivenciado.

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A música abaixo pode exemplificar uma atividade musical ligada à expressão

corporal, com o objetivo de melhorar a coordenação motora, percepção de alto e baixo,

controle do corpo (no movimento de levantar e descer) e desenvolvimento da linguagem

verbal através do canto:

A dona aranha subiu pela parede

Veio a chuva forte e a derrubou

Já passou a chuva, e o sol já vai surgindo

E a dona aranha continua a subir.

Ao ouvirem esta música, as crianças procuram se movimentar de acordo com a letra:

começam a realizar os movimentos sugeridos pela música (subir na parede, escorregar e

voltar a subir). A forma prazerosa com que a criança realiza a atividade proporcionada pela

música, é de grande valia para o desenvolvimento psicomotor infantil.

O som é movimento, gesto, e, por isso, nada mais claro do que sua integração com o

movimento corporal.

É indiscutível que o ritmo se apreende por meio do corpo e do movimento. Partir dos

movimentos naturais as crianças ampliam suas possibilidades de expressão corporal e

garantem uma boa educação rítmica e musical, além de equilíbrio, prazer e alegria, pois o ser

humano é- também – um ser dançante. Não é por acaso que, ao apresentarmos um repertório

de canções da cultura infantil, mostramos na realidade, brinquedos musicais que, se envolvem

o cantar e envolvem também o movimento.

“A realização musical implica tanto gesto como movimento porque o som é

também gesto e movimento vibratório, e o corpo traduz em movimento os diferentes

sons que percebe. Os movimentos de flexão, balanceio, estiramento, etc. e os

movimento de locomoção, como andar, saltar correr, saltitar galopar, etc.,

estabelecem relações diretas com diferentes gestos sonoros”. (RCNEI, vol. 3, 1998,

p. 61)

De acordo com Brito (2003, p.145), no contexto da educação musical ocidental do

século XX, foi Emile Jacques-Dalcroze ( 1865- 1950) quem primeiro se preocupou com o

corpo como meio para a o desenvolvimento não só musical, mas também da personalidade

das crianças. Ele criou uma disciplina chamada euritmia, e obteve resultados bastante

surpreendentes.

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Um exemplo de atividade envolvendo som e movimento, é o jogo da estátua. Brincar

de estátua é um jogo que possibilita a vivência com sons e com o silêncio. Produzindo sons

com os instrumentos (neste caso, apresentando diferentes velocidades, intensidades e timbres)

ou colocando trechos de gravações alternados com períodos de silêncio, as crianças se

movimentam, reagindo corporalmente aos variados estímulos sonoros, e “transformam-se” em

estátuas quando chega o silêncio.

É interessante trabalhar com diferentes tipos de músicas, com andamento rápido,

moderado, lento, com ritmos que sugiram o galope de cavalos, pulos de sapos, o arrastar de

cobras, etc. Também convém alternar diferentes fases de som ou silêncio.

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4. COMO A MÚSICA INFLUENCIA NA INTELIGÊNCIA

A inteligência é definida como a capacidade psíquica de adaptação do ser humano a

novas tarefas e a novos problemas do ambiente social. Paralelamente, existe a alusão de que a

inteligência seria parte integral da personalidade, como por exemplo, na definição de W.

Stern: “Inteligência é a capacidade pessoal de se adaptar a novos desafios, mediante o uso

apropriado dos meios ideativos”.

A inteligência possui caráter estrutural e hierárquico, e o modelo de inteligência

contém quatro funções principais: aptidão para o talento, pensamento abstrato,

comportamento mental intuitivo, bem como memória e aprendizado.

No entanto, hoje existe consenso no reconhecimento de que a inteligência e o

pensamento científico (lógico) apresentam uma complexa atividade cognitiva que se alimenta

de diversos subcomponentes. Em princípio, na pesquisa em torno da inteligência, trata-se de

dois processos distintos: a explicação das diferenças entre as pessoas e as mudanças em cada

pessoa mesma. Consideremos, porém, o problema a partir da base, inteligência não é igual a

inteligência. Ao contrário, a partir da inteligência, chega-se às inteligências. Não faz muito

tempo, o psicólogo norte-americano Howard Gadner desenvolveu o conceito das

“inteligências múltiplas”, no qual ele distinguiu sete formas de inteligência amplamente

independentes umas das outras: uma inteligência lingüística, que inclui tanto a sensibilidade

em relação ao significado das palavras quanto à efetividade dos resultados lingüísticos da

memória; uma inteligência lógico-matemática, que diz respeito às capacidades mentais

lógico-formais e matemáticas; uma inteligência espacial, que indica as aptidões para a

percepção e representação espaciais, o pensamento espacial; uma inteligência cinético

corporal, que visa às capacidades psicomotoras, como por exemplo as utilizadas nas

atividades esportivas e lúdicas, como a dança; uma inteligência musical, que inclui não apenas

as competências musicais no sentido estrito, mas também aspectos emocionais; uma

inteligência intrapessoal, que se refere à sensibilidade diante do próprio mundo das sensações;

bem como uma inteligência interpessoal, que corresponde à capacidade para a percepção

diferenciada do outro (“inteligência social”).

A inclusão tão interessante quão relevante para nossa disciplina, da dimensão da

inteligência musical, é fundamentada por esse autor com o argumento de que, sob a

perspectiva da história da evolução, os processos da criação artística são universalmente – e

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comparativamente-até mesmo de maior importância de que por exemplo, a dimensão da

inteligência lógico-matemática.

Como exemplo, poder-se-ia citar a vida de diversos ganhadores do Prêmio Nobel, os

quais em geral, dispunham de alto talento musical, vale dizer – segundo Gardner – da

inteligência musical.

As transformações no padrão de inteligência ao longo do tempo provam, mais uma

vez, que a inteligência não é uma grandeza imutável no decurso da vida, mas que ela, com a

idade, pode desenvolver-se mediante o aprendizado ou atrofiar-se por negligência.

Crianças socialmente prejudicadas e menos exercitadas em seu desenvolvimento

cognitivo são igualmente beneficiadas por uma educação musical expandida. Ao longo dos

anos, elas crescem continuamente nessa tendência, o que não se pode constatar em crianças

dotadas cognitivamente abaixo da média sem o tratamento musical. Para nós, esse é o

resultado sociopoliticamente mais importante das pesquisas em torno do QI.

Para Bastian (2009), baseado em seus bancos de dados e análises, segue-se que vistas

a longo prazo, a música, a prática da música e a educação musical melhoram sensivelmente os

valores da inteligência das crianças.

Uma fundamentação compacta para os efeitos da prática da música pode ser formulada

da seguinte maneira: tocar um instrumento musical é uma das atividades humanas mais

complexas. Exigem-se capacidades do intelecto (compreender), da habilidade motora dos

movimentos toscos e refinados (apreender), da emoção (atingir) e da sensibilidade. A

coordenação exata das mãos e dos dedos sobre as cordas ou teclas exige uma perfeita

coordenação motora e capacidade de representação espacial. Tocar pela partitura exige o

rápido e simultâneo processamento de informações em extrema exatidão e densidade.

Exigem-se o pensamento abstrato e complexo, igualmente na audição prévia e na posterior da

música a ser tocada. Isso significa mais uma vez, uma atividade sob as extremas condições da

simultaneidade e do não-simultâneo. Em nenhuma outra disciplina a criança deve deparar-se

concomitantemente com tantas decisões e trabalha-las continuamente por um longo período.

Essa combinação de contínua e constante atenção e planejamento prévio, em esforços

espirituais, psíquicos e físicos que se modificam continuamente, constitui uma experiência

educadora de valor único e consequentemente irrenunciável.

A prática da música exige e estimula a construção de uma imagem mental, de uma

representação cérebro-fisiológico e, para tocar de cor, é necessário uma excelente memória.

Aquele que pratica a música utiliza um plano de estruturas da composição que, no ato da

execução da música, constrói e se desintegra constantemente.

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O pressuposto para uma música bem sucedida é simultaneamente treino, coordenação

muscular e reações nervosas. Corpos, mãos, braços, dedos, respiração, entre muitos outros,

devem estar e funcionar constantemente na mais refinada flexibilidade psicomotora, destreza

e coordenação mútuas. E na configuração interpretativa, exige-se a intuição construtiva, a

fantasia criadora, o que nos anima a outra ideia que nos leva mais adiante.

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5. A MÚSICA COMO INSTRUMENTO DE APRENDIZAGEM

Segundo Ferreira (2006, p.16) nós também poderíamos ser considerados como música,

com a distinção de não sermos uma organização sonora feita pelo ser humano simplesmente,

estamos inseridos numa “estrutura musical” enorme e extremamente complexa, a qual não

dominamos por completo. Fazemos parte de uma organização de vibrações chamada natureza.

Natureza é som, é vida, e esse é o melhor caminho para que possamos começar a

compreender e a utilizar a música não apenas na sala de aula, mas em nosso cotidiano. É por

isso que a música harmoniza a vida das pessoas, e é também por isso que sempre damos razão

à antiga máxima que afirma: “Quem canta, seus males espanta”. Cantar é vibrar e vibrar é

viver.

Não devemos nos esquecer a música é, além da arte de combinar os sons, uma maneira

de exprimir-se e interagir com o outro.

A música é desenvolvida dentro de um tipo de organização, variando apenas a

intensidade e a qualidade dos critérios que as determinam. O que acontece é que para muitos

ouvintes, geralmente não há a preocupação em perceber os detalhes que “se escondem” nos

meandros da sonoridade que seus ouvidos identificam. Muitas pessoas costumam classificar a

si mesmas como más cantoras, porém raramente se autodeterminam como más ouvintes.

Entretanto, o que é ser um mal ouvinte? O mal ouvinte é aquele que não se predispõe a ouvir

de tudo um pouco, para então formar o seu gosto musical a partir de uma base sólida, segundo

variadas experiências sonoras vividas. O mal ouvinte, portanto, é o ouvinte limitado. No mais,

o bom ouvinte pode se dividir em dois grupos: o que escuta sem nenhum compromisso

teórico (são aqueles que segundo eles próprios, “deixam se levar apenas pela emoção que a

sonoridade lhe causa) e o que escuta preocupado em captar detalhes. Este segundo é mais

curioso, indo à procura do por que é assim?”; “o que distingue uma sonoridade da outra:”;

portanto ultrapassa a emoção em busca da informação e da reflexão.

As formas musicais são muitas, dentro delas existem diversos gêneros possíveis e

dentro deles, estilos variados. No entanto, é importante que o professor, seja qual for o

conhecimento que tenha de música, não deixe de ter como referência o “ouvinte curioso” para

que selecione bem as músicas que utilizará em suas aulas. Deverá desenvolver o seu espírito

crítico como ouvinte.

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O campo das formas musicais é verdadeiramente fértil e de fácil assimilação, portanto

útil para o trabalho do professor que deseja renovar, dinamizar e buscar maior eficiência de

aprendizado em seu modo de explicar a matéria.

Na Educação Infantil, a música deve proporcionar às crianças a mesma alegria que

sentem ao brincar fora da escola. Para que isso aconteça é necessário que a criança seja

incentivada a experimentar e criar sons, ritmos e movimentos.

As brincadeiras musicais também representam um elo que pode reforçar todas as áreas

do desenvolvimento infantil. Ao experimentar ativamente ritmos e sons de seu corpo e do

ambiente, estão trabalhando a coordenação motora e favorecendo a consolidação do sistema

nervoso, um dos objetivos da psicomotricidade. Ao tocar com ritmo, conhecer altura, timbre e

dinâmica dos sons, inventar frases musicais, tomar consciência de si mesma e de suas

potencialidades de atuação em grupo, estão sendo estruturados aspectos da personalidade que

acompanham o desenvolvimento cognitivo. Ao extravasar emoções, se manifestar

espontaneamente e ajustando-se no grupo, as crianças sentem-se mais seguras afetiva e

socialmente.

Na música, as crianças desenvolvem a sensibilidade, a percepção, a observação, a

atenção e a memória auditiva, e é esse conjunto de habilidades que o indivíduo precisa

empregar em qualquer profissão que venha exercer.

Fazendo música, as crianças tornam-se mais sensíveis para ouvir, perceber e sentir.

Sensibilidade é o que as pessoas precisam para transformar o mundo. É fundamental a

participação criativa do aluno para levá-lo a uma concretização da música.

A proposta do trabalho com música, deve ser modificada e adaptada conforme o

ambiente social e cultural onde é aplicada. Paralelamente, permanece a ideia do ensino da

música para todos, e não apenas para aqueles que pretendem seguir uma carreira artística, pois

a música colabora para o desenvolvimento integral do indivíduo.

O professor deve buscar na música e na literatura infantil o seu material de trabalho,

uma vez que estes elementos fazem parte da vida das crianças e então elas os conhecem bem.

Só assim o trabalho será eficaz. O professor deve expressar o desejo de mudar a sociedade por

meio de uma pedagogia orientada para a criatividade.

As crianças por sua vez, podem e devem opinar, e decidir sobre o tipo de música que

desejam ouvir. Mas cabe ao professor definir prioridades a serem escutadas no momento,

considerando os conhecimentos que já possuem a nível de desenvolvimento musical.

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A ideia que norteia a condução das atividades musicais pedagógicas, é que a criança

não musical não existe. Portanto, todas as crianças podem desenvolver um treinamento de

percepção do ritmo, através do qual se chega à melodia e à forma musical.

A estimulação essencial reside em incentivar a criança a realizar um exercício natural

de sua própria iniciativa, deixá-la criar, compor, ajustando-se às suas possibilidades físicas ela

criar, comppidades fncentivar a criança a realizar um exercpercepçmestes elementos fazem

parte da vida das crianças e ents r motoras. A estimulação deve produzir, na criança, uma

resposta de mobilização de esforço voluntário para alcançar um fim determinado pelo seu

próprio interesse. A criança quando desafiada, pensa rápido e flui de sua cabeça a capacidade

de desenvolver habilidade.

È através do brincar que a criança se encontra com o mundo de corpo e alma. Percebe

como ele é e dele recebe elementos importantes para a sua vida, desde os mais insignificantes

hábitos, até os fatores determinantes da cultura de seu tempo.

O ato de brincar pode incorporar valores morais e culturais em que as atividades

lúdicas devem visar a auto-imagem, a auto-estima, o auto-conhecimento, a cooperação,

porque estes conduzem à imaginação, à fantasia, à criatividade, à criticidade e a uma porção

de vantagens que ajudam a moldar suas vidas, como crianças e como adultos.

O modo como a criança brinca, revela o mundo interior da mesma, proporcionando o

aprender fazendo, entendido aqui como uma ação concreta da criança. Através dessa ação, a

criança relaciona as coisas umas com as outras, e ao relacioná-las é que constrói o

conhecimento.

Procura-se resgatar na criança de hoje, os sentimentos de solidariedade, de

cooperação, do compartilhar, do prazer em dividir de doar. E é por meio das músicas e na

interação com seu dia-a-dia, que a criança desenvolverá seus valores, sua crítica, sua postura

de vida, além da aquisição do conhecimento. Ao longo do seu processo de desenvolvimento, a

criança vai conhecendo suas habilidades e talentos, colocando-os em prática e identificando

seus valores.

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6. A MÚSICA PARA CANTAR

Apenas nós, seres humanos, somos capazes de usar a voz com a intenção de expressar

emoções.

A voz, riqueza tão natural do nosso corpo, é como um “instrumento musical” que

carregamos conosco e que a maioria das pessoas não sabe usar bem.

Um detalhe muitas vezes esquecido, é que são as cordas vocais que produzem o som,

mas é o ar expelido que o transporta para fora do nosso corpo. Assim, para que o professor

tenha potência em sua voz é preciso que controle a saída de ar de seus pulmões com

eficiência, movimentando adequadamente seu diafragma, tal qual faz o músico que toca um

instrumento de sopro como o trompete, a flauta, o clarinete, etc, quando precisa extrair um

som forte dele. Essas articulações internas do nosso corpo são complexas e nosso controle

correto delas, somente pode ser aprimorado com a orientação de um fonoaudiólogo e

exercícios regulares por ele sugeridos.

“Assim como o arquiteto utiliza-se do corpo humano para conceber as

escalas de suas estruturas de vida cotidiana, a voz humana, em conexão com o

ouvido, deve fornecer os referenciais para as discussões sobre o ambiente acústico

saudável à vida”. (R. Murray Schafer, 1991, p.207)

Provavelmente foi por meio da voz, talvez imitando sons de animais, que o ser

humano começou a fazer música. Assim, nada mais adequado do que partirmos do que está

dentro de nós para produzir sons.

Como podemos desenvolver um trabalho vocal com crianças?

Além de cantar, podemos brincar com a voz, explorando diversas possibilidades

sonoras como, imitar vozes de animais, ruídos, o som das vogais e das consoantes

(enfatizando a formação labial).

Utilizando apenas sons vocais, é possível sonorizar histórias, contos de fadas, livros

com imagens de paisagens sonoras diversas e desenhos de animais.

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É importante que este trabalho seja feito num ambiente motivador e descontraído, livre

de tensões exageradas, que podem comprometer a qualidade da voz infantil. O educador deve

levar em consideração que, ao falar e cantar com as crianças, atuará como modelo e um dos

responsáveis por seu desenvolvimento vocal; assim, deve formar bons hábitos, como não

gritar, não forçar a voz, respirar tranquilamente, manter-se relaxado e com boa postura.

Frances Aronoff (apud BRITO, 2003, p.90), em seu livro A música e a criança,

sugere:

Com a “voz” alguém pode cantar um som

grave

agudo

médio.

pode ser

forte

fraco

intermediário.

Um som vocal pode ser

curto

durar muito tempo

seguir soando

com a mesma força

com a mesma suavidade

tornar-se cada vez mais forte

ou mais fraco

pouco a pouco

repentinamente

sumindo...

Sua voz pode movimentar-se

(como se estivesse subindo ou descendo)

para formar desenhos melódicos

passo a passo

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deslizando.

Sua voz pode cantar palavras como “hum...”

“trá-lá-lá” para parecer alegre

“u-u-u” para parecer triste e solitária

sua voz pode assobiar...

Sua voz forma os sons com o ar que respira

e com alguns músculos especiais de sua garganta.

Todo mundo tem uma voz.

Cada pessoa soa diferente das demais pessoas.

Aonde quer que você vá, sua voz o acompanha.

É importante brincar e cantar com as crianças, pois o vínculo afetivo e prazeroso que

se estabelece nos grupos que se canta é forte e significativo.

O adulto como modelo, mesmo não sendo um bom cantor, pode cantar e brincar com

as crianças, com o cuidado de adequar o canto às suas possibilidades vocais e às delas. Não

devendo cantar nem muito grave, nem muito agudo e nem apresentar canções que tenham

letra longa, exigindo muita repetição.

Cantando, as crianças imitam o que ouvem, desenvolvendo sua expressão musical,

desde que está atividade se desenvolva num ambiente de orientação e estímulo ao canto, à

escuta, à interpretação. Cantar mecanicamente, não significa fazer música, e tampouco

desenvolver recursos nessa esfera do conhecimento. Assim, vale a pena refletir; o canto na

pré-escola como forma de marcar rotina: hora da entrada, hora do lanche, hora de lavar as

mãos, hora da saída, etc, torna-se monótono, repetitivo, mecânico e pouco musical.

É preciso dar às crianças, a possibilidade de desenvolver sua expressão, permitindo

que criem seus gestos, que observem e imitem os colegas e que, concentrem-se na

interpretação da canção, sem a obrigação de fazer gestos comandados durante o tempo todo.

Cantando coletivamente, as crianças aprendem a ouvir a si mesmas, ao outro e ao

grupo como um todo. Dessa forma, desenvolvem aspectos da personalidade, como atenção,

concentração, cooperação e espírito de coletividade.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A música é uma linguagem que se compreendida desde cedo, ajuda o ser humano a

expressar com mais facilidade suas emoções e principalmente a ser criativo. O objetivo da

música na educação é contribuir na formação e no desenvolvimento da personalidade da

criança, pela ampliação cultural, enriquecimento da inteligência e pela evolução da

sensibilidade musical.

Trabalhar com a música no cotidiano educativo significa ampliar a variedade de

linguagens que pode permitir a descoberta de novos caminhos de aprendizagem. Do ponto de

vista pedagógico, as músicas são consideradas completas: brincando com músicas, as crianças

exercitam naturalmente o seu corpo, desenvolvem o raciocínio e a memória, estimulam o

gosto pelo canto. “Poesia, música e dança unem-se em uma síntese de elementos

imprescindíveis à educação global” ( MELO, 1985, p. 35).

Ao brincar, a criança está correspondendo a necessidades vitais suas, dando vazão a

impulsos que as permitem desenvolver-se como ser pleno em sua existência singular. É um

movimento que faz parte dos seus esforços de compreender o mundo, e que a torna capaz de

lidar com problemas complexos que muitas vezes tem dificuldade de entender.

Ao longo do tempo, a música transmitiu histórias, lendas, culturas, e consolidou

vínculos afetivos de muitas gerações, que se deram as mãos, cantaram e dançaram juntas,

falando a mesma linguagem. Porém é importante destacar que apesar das cantigas de roda não

estarem em alta, também não estão extintas. E configurando uma situação contrastante, é

certo que muitas vezes tendo partes omitidas ou transformadas, as cantigas estão

sobrevivendo a era do computador.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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aprendizado e no convívio social da criança. São Paulo: Paulinas, 1ª ed., 2009.

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Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v

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BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil: Propostas para a formação integral

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CATUCCI, Stefano. A História da Música - sons, instrumentos, protagonistas. Porto,

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FREITAS, Vivian Cicely de. A reflexão da educação musical na educação infantil hoje.

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FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto, 4ª ed.,

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