MONO UFPA UTI

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTIUTO DA CIÊNCIA E DA SAÚDE FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE PÓS GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM EM TERAPIA INTENSIVA CLARA MANAMI OTA FERNANDES EDILEUZA NUNES LIMA O SENTIMENTO DOS PROFISSIONAIS ENFERMEIROS SUBMETIDOS À INTERNAÇÃO HOSPITALAR EM UTI

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERALUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁINSTIUTO DA CIÊNCIA E DA SAÚDE

FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE PÓS GRADUAÇÃO

ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM EM TERAPIA INTENSIVA

CLARA MANAMI OTA FERNANDESEDILEUZA NUNES LIMA

O SENTIMENTO DOS PROFISSIONAIS ENFERMEIROS SUBMETIDOS À INTERNAÇÃO HOSPITALAR EM UTI

BELÉM

2009

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CLARA MANAMI OTA FERNANDES

EDILEUZA NUNES LIMA

O SENTIMENTO DOS PROFISSIONAIS ENFERMEIROS SUBMETIDOS À INTERNAÇÃO HOSPITALAR EM UTI

Monografia apresentada ao Departamento de Pós-

Graduação, da Faculdade de Enfermagem da

Universidade Federal do Pará- UFPA, como requisito

para obtenção de titulo de Especialista em Enfermagem

Terapia Intensiva, orientado pela Mestra Amariles Maria

Das Graças Ferreira Pacheco.

BELÉM2009

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CLARA MANAMI OTA FERNANDESEDILEUZA NUNES LIMA

O SENTIMENTO DOS PROFISSIONAIS ENFERMEIROS SUBMETIDOS À INTERNAÇÃO HOSPITALAR EM UTI

Monografia apresentada ao Departamento de Pós-

Graduação, da Faculdade de Enfermagem da

Universidade Federal do Pará- UFPA, como requisito

para obtenção de titulo de Especialista em Enfermagem

Terapia Intensiva, orientado pela Mestra Amariles Maria

Das Graças Ferreira Pacheco

Banca Examinadora

______________________________________OrientadoraMsc. Amariles Maria Ferreira Pacheco

______________________________________1º membro Msc Roseneide dos Santos Tavares

______________________________________2º membro Msc. Maria Amélia Fadul Bitar

Aprovado em:___/___/___

Conceito:______________

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Aos meus familiares e amigos, em especial pela

minha mãe Audaci que sempre incansavelmente

está ao meu lado, ao meu pai Antonio ( in

memoriam) que durante foi descansar ao lado do Pai celestial,

mas sempre torceu pelas minhas conquistas, embora distante.

Ao meu amado filho Gustavo por sempre compreender

minhas ausências e que sempre contribui para o

meu aprimoramento e realizações de trabalhos,

com seus conhecimentos.

A todos os meus irmãos, sobrinhos e cunhadas e cunhado.

Edileuza Lima

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois sem Ele, nada seria

possível e não estaríamos aqui reunidos, desfrutando, juntos,

destes momentos que nos são tão importantes.

Ao meu esposo Hamilton e a minha mãe Noriko; pelo esforço,

dedicação e compreensão, em todos os momentos

desta e de outras caminhadas.

Clara Ota

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AGRADECIMENTOS

A DEUS por ter nos contemplado com as oportunidades, sabedoria, nos proporcionado

condições para alcance e realizações de nossos objetivos.

À NOSSA ORIENTADORA Amariles Pacheco por ter nos oportunizado este momento com

seus conhecimentos e incentivos.

À MSC Maria Amélia por ter estado ao nosso lado nos envolvendo com seus conhecimentos,

contribuições e sugestões.

Aos profissionais e depoentes que contribuirão para realização da temática, incluindo minha

amiga Clara Ota e ao seu esposo Hamilton, que além de colega de trabalho criou

oportunidades e meu o interesse pelo tema, e nos ajudou na realização deste trabalho.

A minha amiga Edileuza que foi uma grande companheira na realização desse trabalho, dentro

e fora de sala e que continuara fazendo parte da minha história.

Por último, agradecemos ao apoio dado pela Universidade que através do Departamento de

Pós-Graduação, da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Pará - UFPA),

incentivou o desenvolvimento da nossa pesquisa.

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Humanização deve fazer parte da filosofia de enfermagem. O ambiente físico, os recursos

materiais e tecnológicos não são mais significativos do que a essência humana. Esta sim irá

conduzir o pensamento e as ações da equipe de enfermagem, principalmente do enfermeiro,

tornando-o capaz de criticar e construir uma realidade mais humana.

VILA & ROSSI (2002, p.17)

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RESUMO

O presente estudo analisa a importância da humanização, utilização dos conceitos de UTI e

seu histórico, incorporando o conceito de sentimentos e percepções, da comunicação e

humanização, vistas como pontos fundamentais do processo de cuidar em UTI, através do

relato de experiência do enfermeiro-paciente. Temos como objetivos buscar conhecer os

sentimentos do profissional enfermeiro submetido à internação hospitalar em UTI e colaborar

na construção e reflexão do profissional enfermeiro quanto à sua assistência dispensada ao

paciente crítico em UTI. Trata-se de um estudo exploratório com uma abordagem qualitativa,

através de categorias temáticas definidas a partir do tema proposto, através da utilização

questionário semi-estruturado. Buscou-se entrevistar 10 enfermeiros, porém a grande

dificuldade de acesso a esses profissionais optamos em entrevistar 4 profissionais. Após as

entrevistas, os dados foram analisados e fundamentados baseados na literatura, surgindo 6

categorias temáticas, definidas “sentimento em relação a UTI enquanto profissional e

enquanto doente”, “ motivo da internação em UTI”, “diferença no cuidado”, “experiência em

ser enfermeiro-paciente”, “avaliação das praticas após ser paciente em UTI” e “ reflexões

sobre UTI após alta”. Preservamos a integridade dos participantes da pesquisa, optamos em

caracterizarmos por pedras preciosas.

PALAVRAS CHAVES: Humanização, Percepções, sentimentos, Enfermeiros, UTI

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ABSTRACT

This study examines the importance of humanization, use of the terms of ICU and its history,

incorporating the concept of feelings and perceptions, communication and humanity, seen as

key points of the care process in the ICU through the report of the experience of nurse -

patient. We aim to become acquainted with the feelings of the professional nurse referred to

the hospital in ICU and assist in the construction and reflection of the professional nurse as to

the care given to critically ill patient in ICU. This is an exploratory study with a qualitative

approach, through the themes set from the theme, using semi-structured questionnaire. We

attempted to interview 10 nurses, but the great difficulty of access to these professionals chose

to interview 4 professionals. After the interviews, data were analyzed and justified based on

literature, arising 6 themes, defined "feelings about the ICU as a professional and patients",

"reason for admission to the ICU," unequal treatment "," experience be a nurse-patient ","

assessment practices after being patient in the ICU "and" Reflections on the ICU after

discharge. We preserve the integrity of research participants, we chose to characterize the

precious stones.

KEY WORDS: Humanization, perceptions, Feelings, Nurses, ICU.

 

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SUMÁRIO

I - INTRODUÇÃO............................................................................................................................10

1 - TEMA EM ESTUDO:...................................................................................................................10

2 - JUSTIFICATIVA:................................................................................................................................11

3 - SITUAÇÃO PROBLEMA E QUESTAO NORTEADORA:........................................................................12

4 - OBJETIVOS:.....................................................................................................................................13

2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:.....................................................................................................14

2.1- CONCEITO E HISTÓRICO DA UTI ou CTI:.........................................................................................14

2.2- HUMANIZAÇÃO NA UTI:................................................................................................................17

2.3 - HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO......................................................................................................19

2.4- CUIDADO NO CONTEXTO HUMANIZADO......................................................................................21

2.5- COMUNICAÇÃO NO CONTEXTO HUMANIZADO EM UTI:...............................................................22

2.6- PERCEPÇÃO...................................................................................................................................24

3- METODOLOGIA:.........................................................................................................................27

3.1- TIPO DE PESQUISA:........................................................................................................................27

3.2- LOCAL:...........................................................................................................................................27

3.3- SUJEITOS DO ESTUDO:...................................................................................................................27

3.4 - COLETA DE DADOS:.......................................................................................................................28

3.5 - RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS:..........................................................................................28

3.6- ASPECTOS ÉTICOS e LEGAIS:..........................................................................................................36

4 – CONCLUSÃO.............................................................................................................................37

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO........................................................................................................39

APÊNDICE 1...................................................................................................................................45

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I - INTRODUÇÃO

1 - TEMA EM ESTUDO:

A unidade de terapia intensiva ( UTI) teve sua origem a partir da idéia de Florence

Nightingale em reunir os feridos da guerra da Criméia em um lugar em que pudesse prestar

cuidado de maneira igualitária. Diante das dificuldades da época, e que permanecem até hoje,

a deficiência de recursos humanos, e a gravidade dos feridos fez com que Florence diminuísse

o tempo com deslocamentos, a procura dos feridos, idealizou colocá-los em um ambiente em

que estivesse nas proximidades das enfermeiras cuidadoras, cujo método adotado era o da

observação continua, baseado no grau de dependência.

Humanização é um ato ou efeito de humanizar, não é uma técnica, uma arte e muito

menos um artifício, é um processo vivencial que permeia toda a atividade do local e das

pessoas que ali trabalham, dando ao paciente o tratamento que merece como pessoa humana,

dentro das circunstâncias peculiares que cada um se encontra no momento de sua internação,

bem como ao seu meio social, como a família e a sociedade (MALIK, 2000).

Dentro do processo de humanização torna-se imprescindível que exista uma boa

comunicação, visto que é um dos princípios do cuidar humano. É responsabilidade do

enfermeiro intensivista utilizar este recurso como meio de amenizar os medos que prevalecem

dentro da UTI. A comunicação não se estabelece quando alguém pronuncia uma palavra, mas

sim quando existe um gesto em busca de uma informação, de uma resposta. Neste sentido, o

enfermeiro utiliza a comunicação como facilitador do processo de hospitalização,

promovendo e buscando manter um elo forte anteriormente rompido pela internação

hospitalar.

Entende-se, portanto, comunicação o processo de transmitir a informação e

compreensão de uma pessoa para outra. Se não houver esta compreensão, não ocorre a

comunicação. Se uma pessoa transmitir uma mensagem e esta não for compreendido pela

outra pessoa, a comunicação não se efetivou.

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Segundo Chiavenato (2000, p. 142) a comunicação é a troca de informações entre

indivíduos. Significa tornar comum uma mensagem ou informação.

Ao conceito de Scanlan (1979, p. 372), a comunicação pode ser definida simplesmente

como o processo de se passar informações e entendimentos de uma pessoa para outra.

Nasce então a necessidade de criar empatia para com o paciente, pois assim

poderemos melhor entende-lo e presta-lhe uma melhor assistência. A empatia então decorre

dos sentimentos que os seres biológicos são capazes de sentir nas situações que vivenciam.

A empatia é informação sobre os sentimentos dos outros. Esta informação não resulta

necessariamente na mesma reação entre os receptores, mas varia, dependendo da competência

em lidar com a situação.

2 - JUSTIFICATIVA:

Durante nossa vida profissional nos deparamos com diversos tipos de clientes, seja ele

de qualquer profissão, apenas é considerado cliente, às vezes não respeitamos seus limites,

suas dores, e ate mesmo sua cultura, não aprendemos a ouvi-lo, ou reconhecer sua capacidade

de entendimento e conhecimento sobre a sua clinica, ou a sua doença.

O estudo torna-se relevante por pretender conhecer os sentimentos experienciados pelo

profissional de saúde , em especial o enfermeiro, submetido à internação hospitalar em UTI, e

a partir do presente estudo, reavaliar a pratica profissional, dos profissionais enfermeiros que

atuam em UTI, conhecendo as sensações que os enfermeiros (pacientes de UTI) tiveram

quando internado na UTI e assim oportunizar reflexões acerca dos cuidados recebidos e

prestados ao paciente crítico.

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3 - SITUAÇÃO PROBLEMA E QUESTAO NORTEADORA:

A UTI por ser um ambiente totalmente diferente de outras unidades de internação,

sobretudo do ambiente familiar do sujeito doente. Utilizando de várias técnicas a fim de

garantir a vida do doente e propiciar-lhe a recuperação de sua saúde. Essas técnicas produzem

desconforto e até mesmo sofrimento ao paciente, quando submetido a tubos, drenos, equipos,

cateteres, fios, luzes, aparelhos, alarmes, dentre outros.

Todos esses fatores, entre outros, afetam o doente em graus distintos, dependendo da sua

personalidade, da gravidade física, do tempo de internação, as experiências obtidas com

internações anteriores nos hospitais ou em UTI e da sua espiritualidade. Ele necessita, a todo

o momento, ajustar-se emocionalmente e fisicamente a esse local. Situação essa que pode

contribuir para afetar ainda mais a problemática da doença e da hospitalização.

É o isolamento do homem do seu meio social e familiar, exatamente no momento em

que mais precisa de atenção e de um relacionamento de maior nível de afetividade

(TAKAHASHI, 1986: p.113).

Contudo esse paciente, muitas das vezes leigo, desconhece que além do conhecimento

técnico-científico daquele que lhe presta cuidados, sejam também capaz de identificar suas

manifestações psicológicas, tais como: depressão, recusa ao tratamento, agitação,

agressividade, medo, apatia e negação. Dando assim condições de oferecer-lhe uma atuação

eficiente e, sobretudo, poder preveni-las dos agravos decorrentes dessas manifestações.

A experiência do paciente-enfermeiro de UTI, inclusive de uma das autoras, terá como

proposta revelar as angústias desses profissionais quanto à impossibilidade reagir a falhas

percebidas e em alguns casos da ausência da sensibilidade para com eles.

Durante nossa pratica diária, no trabalho, tivemos a oportunidade de ouvir relatos e

comentários de outros profissionais da saúde, que haviam sido submetidos à internação em

UTI, e seus sentimentos diante desse cenário. A partir do momento que ouvimos essas

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informações e comentários, surge então a necessidade em conhecer quais os sentimentos do

profissional enfermeiro submetido à internação hospitalar em UTI?

4 - OBJETIVOS:

Conhecer os sentimentos do profissional enfermeiro submetido à internação

hospitalar em UTI;

Colaborar na construção e reflexão do profissional enfermeiro quanto à sua

assistência dispensada ao paciente crítico em UTI;

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2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:

2.1- CONCEITO E HISTÓRICO DA UTI ou CTI:

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI ) “ é uma unidade destinada ao cuidado do

paciente critico, para sua sobrevida e reintegração social com o mínimo desconforto, visando

atender as necessidades...”. “ Observação efetiva e dirigida à pacientes graves...” ( GOMES,

1988). Essa idéia de observação e atendimento continuo foi iniciada por Florence Nightingale,

na guerra da Criméia, através da observação dos pacientes mais graves junto ao trabalho das

enfermeiras, promovia assim, uma melhor vigilância aos feridos na guerra, cujos critérios de

cuidados eram baseados no grau de dependência. Entre os anos de 1946 e 1948 os Centros de

Terapia Intensiva- CTI, tornam-se realidade a partir das sala de recuperação pós-anestésica ou

pós-operatória, onde centralizavam um grande número de pacientes traumatizados

provenientes da II Guerra Mundial e da Coréia, executando cuidados para aumento da

sobrevida ( NUNES et al 2004 ).

Os conceitos de UTI tornam-se cada vez mais específicos, principalmente a partir dos

conceitos de humanização em UTI, portanto antes UTI era “ unidade de cuidado a ser

dispensado ao paciente critico, para sua sobrevida e reintegração social, com o mínimo

desconforto, visando atender as necessidades” ( GOMES, 1988). Mas, hoje, segundo a

Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB, 2004) UTI “ tratamento de problemas

menores até problemas maiores, prestando atendimento personalizado, garantindo conforto e

humanidade na internação com o paciente e familiar”.” Os serviços de Tratamento Intensivo

tem por objetivo prestar atendimento a pacientes graves e de risco que exija assistencia

médica e de enfermagem ininterruptas, além de equipamentos e recursos humanos

especializados ( Portaria nº 466, 1998)

A Unidade de Terapia Intensiva ou simplesmente UTI cujos profissionais são designados

intensivistas, trabalham em equipe constituída por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas,

nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais, entre outros. É nesse ambiente de alta

complexidade, restrito e singular que propõe à internação de pacientes com instabilidades

clínicas e com potencial de gravidade.

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A UTI dispõe de um complexo e permanente sistema de monitoramento ao paciente,

garantindo tratamento e assistência intensivos na expectativa de sua recuperação. Ainda, é

função da UTI amenizar sofrimento tais como dor e falta de ar, independente do prognóstico.

Segundo SEBASTIANI (1984), as características intrínsecas da UTI, como a rotina de

atendimento mais acelerada, o clima constante de apreensão e as situações de morte iminente,

acabam por exacerbar o estado de estresse e tensão, que tanto o paciente, quanto a equipe

vivem nas vinte e quatro horas do dia. Esses aspectos adicionados à singularidade do

sofrimento da pessoa internada - dor, medo, ansiedade e isolamento do mundo - trazem

fatores psicológicos que interagem, muitas vezes de maneira grave na manifestação orgânica

de sua doença.

Outros estudos mostram que o paciente em UTI possui pouco controle e influência no

ambiente, em virtude da falta de privacidade, dependência, monotonia, dificuldade em se

orientar, estímulo permanente por monitores, tratamento e interrupções freqüentes de seu sono

(WILSON, 1972; GOWAN, 1979; NOVAES et al, 1997).

A história da UTI teve inicio nas salas de recuperação pós-anestésica (RPA), onde os

pacientes submetidos a procedimentos anestésico-cirúrgicos tinham monitorizadas suas

funções vitais (respiratória, circulatória e neurológica) sendo instituídas medidas de suporte

quando necessário até o término dos efeitos residuais dos agentes anestésicos. Destacam-se

com pioneiros dessa história a enfermeira Florence Nighingale quando no século XVII

idealizou a Unidade de Monitoração de pacientes e o médico Peter Safar que no século

seguinte consagrou-se como o primeiro médico intesivista da história, contribuído na criação

do ABC primário em que criou a técnica de ventilação artificial boca a boca e massagem

cardíaca externa. Para estes experimentos contava com voluntários da sua equipe o qual eram

submetidos à sedação mínima.

Ainda, através de experimentos, concretizou para o paciente crítico as técnicas de

manutenção de métodos extraordinários de vida. Na cidade de Baltimore estabeleceu a

primeira UTI cirúrgica e em 1962, na Universidade de Pittsburgh, criou a primeira disciplina

de "medicina de apoio crítico" nos Estados Unidos. Iniciou os primeiros estudos com indução

da hipotermia em pacientes críticos. Como última contribuição elaborou projetos das

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ambulâncias-UTI de transporte, fundou a Associação Mundial de Medicina de Emergência e

foi co-fundador da SCCM (Society of Critical Care Medicine), o qual foi presidente em 1972.

De acordo com Vila e Rossi (2002), as UTI’s surgiram a partir da necessidade de

aperfeiçoamento e concentração de recursos materiais e humanos para o atendimento a

pacientes graves, em estado crítico, mas tidos ainda como recuperáveis, e da necessidade de

observação constante, assistência médica e de enfermagem contínua, centralizando os

pacientes em um núcleo especializado.

Sem dúvida a UTI, com todo esse aparelhamento tecnológico e aprimoramento técnico –

cientifico profissional, contribui muito para o avanço terapêutico, porém impõe nova rotina ao

paciente onde há separação do convívio familiar e dos amigos, que pode ser amenizada

através das visitas diárias. Outro aspecto importante é a interação família-paciente com a

equipe, apoiando e participando das decisões médicas. Vale destacar que a tecnologia dos

equipamentos jamais substituirá a tecnologia humana, ou seja, a humanização.

A UTI é considerada como o “ hospital do hospital”, pois é este local dispõe de recursos

tecnológicos, infra-estrutura de um hospital e principalmente recursos humanos. É um setor

que funciona 24h por dia durante todo o ano, cuja equipe é composta por enfermeiros,

médicos, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais de apoio técnico, destinada ao

atendimento contínuo de doentes críticos, do ponto de vista clinico, respeitando critérios de

admissão, permanência e alta.

As UTI’s surgiram a partir da necessidade de aperfeiçoamento e concentração de

recursos materiais e humanos para o atendimento a pacientes graves, em estado crítico, mas

vistos como recuperáveis e da necessidade de observação constante, assistência medica e de

enfermagem continua, centralizando os pacientes em núcleo especializado.

Diferença entre Unidade de Terapia Intensiva- UTI e Centro de Terapia Intensiva- CTI.

As UTI’s são destinadas ao tratamento de pacientes de forma específica a uma determinada

patologia, enquanto que os CTI’s são destinadas a assistirem pacientes de diversas patologias

de forma generalistas.

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No Brasil, as UTI’s surgem pela década de 1970, dentro de seus conceitos mais

modernos “ é uma unidade hospitalar para atender doentes graves e recuperáveis, com

assistência médica e de enfermagem integrais, continuas, especializados e empregando

equipamentos diferenciados. Dotado de pessoal treinado, recursos técnicos, área física e

aparelhagens específicas, capazes de manter a fisiologia, a sobrevida do paciente.

2.2- HUMANIZAÇÃO NA UTI:

Humanização ou ato de humanizar não é uma técnica ou arte é um processo vivencial

que permeia toda atividade do local e das pessoas que ali trabalham, dando ao paciente o

tratamento que merece como pessoa humana, dentro das circunstancias peculiares que cada

um se encontra no momento de sua internação ( NUNES et al 2004 ).

É segundo AMIB ( 2004) e NUNES et al 2004 ...cuidar do paciente como um todo,

englobando o contexto familiar e social. “ É um conjunto de medidas que engloba o ambiente

físico, o cuidado dos pacientes e seus familiares e as relações entre a equipe de saúde, cujas

intervenções visam tornar efetiva a assistência ao individuo criticamente doente

considerando-o como um ser bio-psico-sócio-espiritual.

A humanização não é apenas uma questão de mudanças nas instalações físicas, é de fato uma mudança de comportamento e atitudes frente ao paciente e seus familiares.

O mundo que o doente critico vivencia na hospitalização, promove uma quebra no seu

mundo habitual, denotando a idéia de que a doença promove uma parada no seu percurso, nos

seus projetos e expectativa de vida.

Para BAKES et al, 2006 a humanização tem um significado que passa por valores,

sentimentos e atitudes que guiam o modo de agir e de ser dos profissionais que atuam na UTI,

principalmente no sentido de prestar atendimento humanizado e diferenciado com o doente

crítico. Mas, o fazer diferente não está relacionado a um programa de qualidade e sim no

sentido de atender um ser fragilizado com particularidades e peculiaridades especificas que

são inerentes à condição humana.

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Os principais responsáveis pela humanização são todos os profissionais que assistem

direta e indiretamente os pacientes. Partindo desse ponto de vista, é necessário que cada

profissional que atua em UTI, onde a carência dos pacientes é muito maior pela gravidade do

seu problema de saúde, tenha uma preparação e um atendimento quanto à humanização neste

setor. (NUNES et al 2004 ).

É necessário que exista uma equipe integrada, sendo composta por diversos

profissionais mais com o mesmo objetivo, promover a recuperação do paciente em todas as

suas relações de vida. Neste sentido é imprescindível a participação de uma equipe que se

baseia nas relações humanas e sociais no cuidado com o paciente critico. A responsabilidade é

de cada profissional pelo cuidado e a recuperação de uma parte e cada parte compõe um todo,

o ser humano. ( BAKES et al, 2006).

O ato de humanizar é sempre discutido no contexto da assistência à saúde. É a base de

um conjunto de iniciativas, mas não existe uma definição mais clara, geralmente designando a

forma de assistência que valoriza a qualidade do cuidado do ponto de vista técnico, associada

ao reconhecimento dos direitos do paciente, de sua subjetividade e cultura, além do

reconhecimento do profissional.

Conforme Orlando (2004), a humanização é um processo que envolve todos os

membros da equipe na UTI. A responsabilidade da equipe se estende para além das

intervenções tecnológicas e farmacológicas focalizadas no paciente. Inclui a avaliação das

necessidades dos familiares, grau de satisfação destes sobre os cuidados realizados e a

preservação da integridade do paciente como ser humano. Com a internação do ente querido

em uma Unidade de Terapia Intensiva, os familiares ficam desesperançados, deprimidos, o

que colabora para a desestruturação sob o ponto de vista emocional. Cada indivíduo deve ser

considerado único, tendo necessidades, valores e crenças específicas. Manter e preservar a sua

dignidade significa respeitar os princípios da moral e do código de ética médica.

No processo da Humanização a equipe, confrontada com o sofrimento diário, passa a

manifestar mecanismos de defesa para diminuição de sua sensibilidade, favorecendo o

aparecimento da calosidade profissional. Para que haja a humanização total em uma UTI, três

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diferentes aspectos devem ser considerados: o modo de ser cuidado o paciente e seus

familiares; a atenção ao profissional da equipe e o ambiente físico (AMIB, 2004).

Sendo a humanização um instrumento indispensável à consecução do ambiente que

favoreça um melhor acolhimento do indivíduo no seu contexto global, vemos indispensável à

realização de uma comunicação mais ampla e atenta aos pacientes em suas particularidades.

Entende-se, portanto, comunicação: Processo de transmitir a informação e compreensão

de uma pessoa para outra. Se não houver esta compreensão, não ocorre a comunicação. Se

uma pessoa transmitir uma mensagem e esta não for compreendido pela outra pessoa, a

comunicação não se efetivou.

Segundo Chiavenato (2000, p. 142),a comunicação é a troca de informações entre

indivíduos. Significa tornar comum uma mensagem ou informação.

Ao conceito de Scanlan (1979, p. 372), a comunicação pode ser definida simplesmente

como o processo de se passar informações e entendimentos de uma pessoa para outra. Nasce

então a necessidade de criar empatia para com o paciente, pois assim poderemos melhor

entende-lo e presta-lhe uma melhor assistência. A empatia então decorre dos sentimentos que

os seres biológicos são capazes de sentir nas situações que vivenciam.

A empatia é informação sobre os sentimentos dos outros. Esta informação não resulta

necessariamente na mesma reação entre os receptores, mas varia, dependendo da competência

em lidar com a situação.

2.3 - HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO

Humanizar é um processo vivencial que permeia toda a atividade local e das pessoas que

ali trabalham, dando ao paciente o tratamento que merece como pessoa humana, dentro das

características peculiares em que cada um se encontra no momento de sua internação.

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Os objetivos do cuidar vão desde o alívio da dor, proporcionar conforto, ajudar,

favorecer, promover, restabelecer, restaurar, enfim um conjunto de atitudes que possam

amenizar os reflexos negativos de uma internação em UTI. Portanto, é importante que o

profissional faça uma doação, uma manifestação de sentimentos que busquem uma relação

positiva com o doente crítico, e este possa sentir-se amparado, bem como seus familiares.

O cuidado de enfermagem, por si só, quando atende as necessidades humanas, já pode

ser dito um cuidado humanizado. Mas, porque então se falar em humanização do cuidado?

Primeiramente, para que haja um melhor entendimento sobre a humanização do cuidado

deve-se compreender que não apenas a satisfação das necessidades, mas também os aspectos

culturais, religiosos, políticos, históricos, ambientais e pessoais.

Segundo, ter uma conduta holística nos cuidados intensivos, neste sentido incluir a

família do individuo enquanto ser social. A família, às vezes, demonstra mais necessidades de

cuidados que o próprio doente, demonstrando muitas vezes maior gravidade do que o paciente

que se encontra na UTI, pois suas angústias, insegurança, medo por não saber o que irá

acontecer com o seu familiar. A família também é alvo de cuidados tanto quanto o paciente,

visto que ela adoece juntamente e com esse adoecer causa um desequilíbrio bio-psico-social-

espiritual, normalmente pelo medo e angústias e riscos de perda do membro familiar. Neste

sentido, é fundamental que a humanização do cuidado englobe a família, denotando um

comportamento de interesse e respeito pela família e do doente crítico na UTI.

Mas qual o tempo necessário para o cuidado? É verdade que o doente crítico na UTI

requer um tempo prolongado para o cuidado dispensado a ele, é banhos no leito, higiene oral,

aspirações de secreções, mudanças de decúbito, entre outros, mas será que paramos para

refletir se realmente é este cuidado que o paciente deseja receber? Será que humanizar o

cuidado é realizar atividades que partem das necessidades prioritárias de saúde, higiene,

eliminações, como as propostas por MASLOW?.

Para LEAL et al 2006 o atendimento ou satisfação das necessidades básicas é visto

como uma forma de cuidado repleto de momentos, principalmente no momento em que há o

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conhecimento da equipe de enfermagem em relação ao paciente. O cuidado por mais simples

que pareça denota idéia de possibilidade de humanização.

2.4- CUIDADO NO CONTEXTO HUMANIZADO

Num ambiente em que não exista sociabilidade, organização e humanização não está

adequado ao cuidado humano, portanto, no processo de humanização torna-se imprescindível

que haja relações humanas e sociais entre as equipes.

O cuidado humanizado é dever de todo grupo e não individualizado ou exclusivo de

uma categoria profissional.

O cuidado está presente em todas as situações, nos eventos e principalmente na natureza

humana.

O individuo quando procura o hospital é factível compreender que algo não está bem,

seja de ordem física, psíquica, moral ou espiritual. Neste momento cabe a responsabilidade

dos profissionais que ali atuam no cuidado intervir de maneira integral e não numa parte do

corpo, reconhecendo as particularidades de cada paciente, bem como as de sua família, dos

amigos, do trabalho, lazer, alimentação, por exemplo, promovendo um ambiente de cuidado

humano o mais aconchegante possível.

A importância do papel da família neste contexto é fundamental, visto que as culturas,

crenças, valores do sistema familiar podem influenciar nas questões do processo de saúde-

doença. Neste momento, surge então o profissional de saúde, como identificador e

compreendedor cultura do outro como forma de interagir e assim desenvolver ações que

estimulem a participação da família na recuperação e no processo de cuidar do seu

familiar( Mendonça e Oliveira, 2008).

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Page 23: MONO UFPA UTI

Para BAKES et al 2006 o mundo do doente é caracterizado pela ruptura do mundo

habitual, estabelecendo a idéia de que há uma perda ou cessação dos seus projetos e

expectativas de vida.

2.5- COMUNICAÇÃO NO CONTEXTO HUMANIZADO EM UTI:

A comunicação é um processo que envolve a troca de informações e utiliza os sistemas

simbólicos como suporte para este fim. Está envolvida neste processo uma infinidade de

maneiras de se comunicar: duas pessoas tendo uma conversa face-a-face, ou através de gestos

com as mãos, mensagens enviadas utilizando a rede global de telecomunicações, a fala, à

escrita que permitem interagir com as outras pessoas e efetuar algum tipo de troca

informacional.

No processo de comunicação em que está envolvido algum tipo de aparato técnico que

intermédia os locutores, diz-se que há uma comunicação mediada.

Considerando que a enfermagem é a arte e a ciência do cuidar, cuidar de pessoas! E para

que isso seja viável é necessário um processo de interação entre quem cuida e quem é

cuidado, é necessária troca de informações e de sentimentos entre essas pessoas.

Sendo assim, sabemos que a comunicação destaca-se como o principal instrumento para

que a interação e a troca aconteçam e, conseqüentemente, o processo de cuidar, no seu sentido

mais amplo, tenha espaço para acontecer.

Mas o que é comunicação? Etimologicamente, a palavra comunicar origina-se do latim

communicare que significa "pôr em comum". A comunicação interpessoal pode ser definida

como um conjunto de movimentos integrados, que calibra, regula, mantém e, por isso, torna

possível a relação entre os homens. Essa comunicação pode ser dividida em verbal (associada

às palavras expressas por meio da fala ou da escrita) e em não-verbal (desenvolvida através de

gestos, silêncio, expressões faciais, postura corporal, entre outros).

Destacamos que as pesquisas acerca da interação com paciente na UTI abordam,

majoritariamente, a comunicação com pacientes que estão conscientes. Nesse sentido,

22

Page 24: MONO UFPA UTI

encontram-se, por exemplo, estudos sobre formas de transmissão de mensagens através da

comunicação não-verbal, uma vez que nesse ambiente há prevalência de pacientes com sua

capacidade de expressão verbal afetada (ex.: entubação orotraqueal, traqueostomia).

No entanto, este trabalho pretende abordar a comunicação com pacientes-enfermeiros,

conscientes, na tentativa de melhor entender a sua experiência com paciente crítico.

Ressaltamos que consciência pode ser definida como "atributo pelo qual o homem pode

conhecer e julgar sua própria realidade" , é o "conhecimento imediato da sua própria atividade

psíquica".

Dentro de um contexto reflexivo, a compreensão mais profunda sobre a consciência

humana e o papel da mente no processo de re-equilíbrio vital pode minimizar a ansiedade dos

profissionais e estender as intervenções para além do cuidado físico e do controle técnico dos

monitores, almejando atingir as demais dimensões humanas, potencializando-as. Como vem

sendo preconizado nos últimos anos, devemos compreender/cuidar do ser humano

holisticamente, buscando atender todas as suas necessidades as quais formam uma unidade,

um ser biológico, social, psicológico e espiritual.

Relacionando a reflexão anterior com a comunicação não-verbal, no caso, o toque, estudos

com pacientes internados em unidades de terapia intensiva mostram que o toque de familiares,

enfermeiros e médicos pode alterar o ritmo cardíaco do paciente, o qual chega a diminuir,

quando os enfermeiros seguram suas mãos.

Uma reflexão histórica sobre como o corpo e o toque são percebidos ressalta a

possibilidade do mundo da tecnologia avançada substituir esse instrumento próprio do ser

humano. "O afago, o aperto de mão, oferecendo apoio e suporte, ou mesmo o olhar carinhoso

e amigo parece não ser mais necessário. A máquina passa a realizar o cuidado e a cuidadora a

ocupar-se, absorvendo-se e concentrando-se no manuseio da mesma, por vezes esquecendo o

ser humano a ela conectado".

Na comunicação há o envolvimento do comportamento recíproco entre as pessoas que

estão se relacionando, o que significa que não existe um fluxo de comportamento numa só

23

Page 25: MONO UFPA UTI

direção. Destaca-se a afirmação que não há como não nos comunicarmos, com ou sem

intenção, sempre há a transmissão de mensagens uma vez estabelecida a interação.

A comunicação é parte do tratamento do paciente e ficar conversando com ele, muitas

vezes, é o próprio remédio. (Rebecca Bebb)

Silva (2008: p.13 e 14), ao tratar do tema comunicação, explica que

A tarefa do profissional de saúde é decodificar, decifrar e perceber o significado

da mensagem que o paciente envia, para só então estabelecer um plano de

cuidado adequado e coerente com as suas necessidades. Para tanto, é preciso

estar atento aos sinais de comunicação verbal e não verbal emitidos por ele e por

você durante a interação.

Somente pela comunicação efetiva é que o profissional poderá ajudar o paciente

a conceituar seus problemas, enfrentá-los, visualizar sua participação na

experiência e alternativas de solução dos mesmos, além de auxiliá-los a encontrar

novos padrões de comportamento.

2.6- PERCEPÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (O.M.S.) conceitua saúde como sendo “o completo

bem-estar físico, psíquico e social, ocorrendo conjuntamente e não apenas na ausência de

doença e enfermidade”.

Observa-se que muitas vezes existe uma super valorização dos aspectos orgânicos do

paciente, deixando-se de lado aspectos psicológicos e sociais dos mesmos, os quais podem

interatuar no processo saúde-doença.

Orgânica ou psíquica, seja qual a definição da doença, tem como reflexo a

desarmonização da pessoa.

24

Page 26: MONO UFPA UTI

O medo frente à doença, a hospitalização, a morte, poderão desencadear no paciente

fantasia racional e irracional que poderão determinar o comportamento do paciente podendo,

interferir em seu quadro clínico.

A hospitalização é um momento crítico na vida dos pacientes e de seus familiares.

Segundo Chiattone (1998, p.180)

[...] o hospital é a instituição marcada pela luta constante entre a vida e a

morte. Nele se encarceram as esperanças de melhora, de cura, de

minimização ou suspensão do sofrimento. No entanto, também o hospital

é a instituição marcada pela morte, sempre alerta, sempre presente,

curiosamente exercendo uma batalha constante diante das condutas

terapêuticas, tensioando o profissional de saúde que está sempre

preparado e treinado para a melhora, para a cura, mas sempre muito

angustiado frente a perspectiva de morte, da derrota pois a instituição

hospitalar existe para a cura, não admitindo nada que transcenda esse

princípio.

Quando se fala em hospitalização em U.T.I. deve-se levar em conta o estigma de

terminalidade, que intensifica as reações emocionais do processo de adoecer.

Solomon (1975, p.261), afirma que:

U.T.I. é uma espécie de hospital dentro do hospital. Reúne em um local pacientes

que apresentam lesões agudas e críticas por causa da doença (por ex., doença

obstrutiva crônica do pulmão), cirurgias extensas (por ex., transplante de órgãos)

ou traumatismos. Estes pacientes requerem atenção constante e monitoragem por

instrumentos complicados os quais também requerem cuidado contínuo.

Quando os pacientes são levados a essa unidade, em geral são demasiadamente enfermos

para serem afetados psicologicamente pelo significado do lugar. Mais tarde eles se sentem

molestado pelas atenções freqüentes que eles e os outros recebem (intubação, mudança de

posição, terapia endovenosa), pelo ruído das máquinas e pela ausência de um lugar privado.

25

Page 27: MONO UFPA UTI

May (1974) aponta características essenciais que constituem uma pessoa. Tais

características ajudarão a entender o processo de angústia com que o ser humano se depara.

May descreve que toda pessoa é centrada em si mesma; tem o caráter de auto-afirmação, a

necessidade de preservar sua centralidade. A esta auto-afirmação é dado o nome de

“coragem”; todas as pessoas existentes têm a necessidade e a possibilidade de sair de sua

centralidade para participar de outros seres. O lado subjetivo da centralidade é a percepção..

O autor descreve que consciência é:

[...] a minha capacidade de conhecer-me como uma pessoa que está sendo

ameaçada, a minha experiência própria como a pessoa que possui um mundo. A

consciência, para usar os termos de Kurt Goldstein, é a capacidade do homem de

transcender a situação concreta e imediata, de viver em termos do possível. Ela

forma a base da larga faixa de possibilidades que o homem tem com relação ao

seu mundo, e constitui o embasamento da liberdade psicológica (MAY, 1974,

p.89).

A percepção é o conhecimento que algo exterior ameaça seu mundo, e a autoconsciência:

[...] é a visão do paciente de que é ele que está sendo ameaçado, que é ele o ser

que está neste mundo que ameaça, que é ele o sujeito que possui o mundo. E isto

lhe proporciona a possibilidade de insight, de 'visão internalizada' de ver o

mundo e seus problemas com relação a si próprio. E assim dá-lhe a possibilidade

de fazer algo sobre seus problemas (MAY, 1974, p.92).

Resumidamente, o ser humano, num primeiro momento, pode perceber algo “estranho”,

um incômodo, e toma, ou não, consciência disto. Conforme a informação que ele recebe,

poderá haver o desencadeamento da ansiedade e da angústia. Todo este processo ocorre as

lidar com um problema subjetivo, isto é, perceber algo pessoal que o incomoda, como ao lidar

com algo externo, como por exemplo, a descoberta de um sério problema de saúde em si ou

num membro de sua família.

No caso é possível pensar no âmbito da UTI onde uma doença pode vir a desestruturar

uma pessoa tanto física quanto psicologicamente; em especial o profissional enfermeiro como

paciente da UTI, objeto desse estudo.

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Page 28: MONO UFPA UTI

27

Page 29: MONO UFPA UTI

3- METODOLOGIA:

3.1- TIPO DE PESQUISA:

Trata-se de um estudo exploratório com uma abordagem qualitativa, em virtude do

anseio em conhecer os sentimentos do profissional enfermeiro submetido à internação

hospitalar em UTI, quanto aos aspectos relacionados aos cuidados de enfermagem prestados

de forma humanizada e a comunicação, enquanto principio cientifico no cuidar humano.

3.2- LOCAL:

O estudo será realizado com profissionais enfermeiros que estiveram hospitalizados em

UTI, fora do seu ambiente de trabalho que será definido a partir de sua disponibilidade local

e para deslocamentos, dentro da Região Metropolitana de Belém- RMB.

3.3- SUJEITOS DO ESTUDO:

Os sujeitos do estudo serão constituídos por 10 profissionais enfermeiros que foram

submetidos à internação hospitalar em UTI.

A amostragem utilizada será em forma de rede ( bola de neve), cujos critérios de inclusão são:

Ter sido submetido à internação hospitalar em UTI;

Residir na Região Metropolitana de Belém;

Desejar participar da pesquisa;

Os critérios de exclusão são:

Ter ficado sedado ou inconsciente durante sua permanência na UTI;

Recusar-se assinar o termo de consentimento.

Não desejar participar da pesquisa.

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Page 30: MONO UFPA UTI

3.4 - COLETA DE DADOS:

Os dados foram coletados através de entrevista estruturada, no período de Janeiro à Março

de 2009.

3.5 - RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS:

Os dados serão analisados em etapas: a primeira delas, reunião de material bibliográfico

com pesquisa sites com artigos cientificos, Scielo, BVS, e literaturas referentes aos assuntos

sobre UTI, humanização, sentimentos e percepções e a comunicação como recurso primordial

no processo de cuidar. A segunda etapa será realizada através de categorias temáticas

definidas a partir dos depoimentos, relatos, expressão de sentimento, dos pesquisados. E

finalmente, serão colocados em forma de textos de acordo com o referencial teórico.

De acordo com os resultados obtidos, podemos avaliar as seguintes categorias temáticas:

CATEGORIA TEMATICA 1:

Sentimento em relação a UTI, enquanto profissional e enquanto doente

[...] é um sentimento diferente de pessoa leiga,...sentimento de vergonha [...] porque eu sabia

que iria ficar despida, a nudez foi meu primeiro impacto, um outro sentimento muito forte é o

de morte [...] porque eu sei que UTI é para paciente critico e que passa por um período critico

[...], perda da privacidade [...], agora como doente eu tive um sentimento de impotência[...] e

olhe que eu nem consegui fazer muita diferença [...] RUBI

[...] é uma sensação de medo [...] ,de dependência, de você conhecer e não poder fazer nada,

mesmo sabendo como fazer [...]- SAFIRA.

[...] primeiro foi de abandono, me senti abandonada, [...], daí eu não sabia que ia ficar

entubada, que eu ia pra UTI eu sabia, [...], então eu arrumei um jeito de chamar atenção, por

medo, eu comecei a babar, fazendo bolinha, minha boca enchia e eu fazia bolinha, daí eles

vinham me aspirar, [...], daí eu sentia sempre alguém perto de mim. ESMERALDA

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Page 31: MONO UFPA UTI

[...] eu senti um desespero, [...] eu fiquei um tempo sedada [...], ficando como paciente na

UTI, mas ai a própria equipe de enfermagem foi me acalmando, então fui me sentindo segura

pela equipe [...] PÈROLA.

[...] eu me senti um pouco ociosa, porque eu sabia que tinha outros pacientes necessitando de

atenção, [...] PÈROLA

Baseado nos depoimentos percebeu-se que enquanto profissionais atuantes dentro da

UTI, não existe uma preocupação freqüente relacionada ao que realmente o paciente esta

sentindo. Não valorizamos em algumas vezes o que ele realmente deseja dentro da UTI, as

suas dores, suas angustias, às vezes demonstram-se agitados, mas não nos importamos com

isso, e certamente cada um adota os seus mecanismos de autoconfiança, para buscar superar

estes momentos angustiantes e traumáticos dentro da Unidade de Terapia Intensiva.

Tendo em vista nossa atuação diária na UTI, percebemos que em 100% dos pesquisados

apresentam um sentimento negativo em relação a UTI, sendo os principais sentimentos

enquanto profissionais é o medo da MORTE, desespero, vergonha, abandono principalmente

pela família, conhecimento do iria acontecer. Enquanto que, para paciente os sentimentos

diferiram, 25% não conseguiu fazer diferença por lembrar que estava na UTI,mas era

enfermeira, outros 25%se sentiu bem cuidada e amparada pela equipe de enfermagem, outros

25% se sentiu ociosa, sabendo que estava bem e que existiam outro pacientes necessitando de

cuidados e 25% sentiu medo e dependência, afetando em sua necessidades básicas.

A UTI embora seja para pacientes recuperáveis, passa a ser avaliada como fase critica e

com possibilidades mínimas de cura, fazendo que o individuo passe a analisar como se

estivesse para morrer.

Neste momento é indispensável que os profissionais que atuam na UTI, busquem meios

de amenizar esse contexto avaliado com ambiente de sofrimento, desmitificando os temores

experenciados pelos indivíduos.

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Page 32: MONO UFPA UTI

CATEGORIA TEMATICA 2:

Motivo da internação hospitalar em UTI:

[...] foi pós- operatório imediato, [...] eu tinha feito a redução do estomago, daí eu tive um

pico hipertensivo, então o medico achou melhor eu ir pro CTI. PÈROLA

[...] foi uma cirurgia de grande porte, [...]. ESMERALDA

[...] por causa de uma cirurgia bariátrica e [...] era uma cirurgia grande, que tem como

protocolo ficar na UTI por 12 ou 24horas. RUBI

[...] foi recuperação pós- anestésica e[...] foi uma complicação de anestesia que se prolongou e

eu acabei tendo que ficar na UTI. SAFIRA.

As cirurgias de grande porte sempre apresentam fortes indicações para controle em pós

operatório em UTI, como podemos perceber, em 100% dos pesquisados a indicação de UTI

foi por recuperação em pós- operatório imediato, aquele que compreende as primeiras 24horas

após a cirurgia.

Os cuidados de enfermagem prestados ao paciente visam minimizar os possíveis riscos

advindos da cirurgia, ainda oferecem apoio emocional, segurança em todo o contexto

perioperatorio ( SOUZA et al, 2008).

O cuidado em pós-operatório em UTI garante ao paciente a manutenção das funções

vitais e maior equilíbrio hidro-eletrolitico, visto que a equipe multiprofissional atua

diretamente para manutenção dessas funções, e permite a visualização da estabilidade

hemodinâmica, através da monitorização em multiparâmetros, enfim os aparatos tecnológicos

necessários de avaliação imediata de cuidados específicos dentro da UTI. Ainda , estão sob

constantes avaliações imediatas e necessárias, como a realização de exames laboratoriais, RX,

entre outras rotinas preconizadas pelas UTI’S. Mas, que indiquem pré-requisitos mínimos

para necessidades de internação em UTI, como por exemplo o manejo da dor, da

permeabilidade de ventilação,e a estabilidade hemodinâmica.

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Page 33: MONO UFPA UTI

CATEGORIA TEMATICA 3:

Diferença no cuidado:

[...] eu percebi que tinha uma diferença porque eles sabiam que eu era enfermeira,... porque a

colega falou pra olharem pra mim,eles chegavam enfermeira ta tudo bem.. então, eu percebi

que tive um atendimento diferente dos outros pacientes... isso porque eu também conhecia os

médicos[...].RUBI.

[...] olha não, mas quando os técnicos iam realizar algum procedimento tinham a

preocupação, eles me falavam. Ah! Você é enfermeira né. Então, acho que isso me dava maior

segurança, sei lá [...] SAFIRA.

[...] em momento nenhum, a mesma atenção que foi dada pra mim que estava consciente foi

dada ao paciente que estava entubado, eles sabiam que eu era enfermeira, que era filha de

médico, que eu era esposa de médico, eu não sei [...] isso iria interferir em alguma coisa, inclusive

eu conhecia algumas pessoas que estavam de plantão. PÈROLA

[...] olha em um determinado momento sim e em outro não, pelos técnicos não, pela

enfermeira sim, porque ela era minha amiga de trabalho, ela trabalha comigo, então ela ficou

muito tempo comigo, até porque minha ida pra UTI tava programada, só não estava

programada eu chegar entubada [...], ela me deu atenção especial, dos técnicos foi normal, e

da equipe no geral não [...] ESMERALDA

De acordo com Vargas & Braga ( 2008) Unidade de Terapia Intensiva –UTI, surge para

necessidade de aperfeiçoar recursos humanos e materiais para o atendimento aos pacientes

graves, em estado critico, vistos como recuperáveis, e principalmente pela necessidade de

observação constantes, que necessitam de cuidados médicos e de enfermagem, em um meio

de tecnologias, permitindo que a enfermagem suplante os desafios em integrar conhecimento

ao cuidado.

Neste sentido, necessita envolver aspectos humanos, e tecnologias, embora seja

desafiador, o cuidado dispensado pela enfermagem na UTI é diferenciado dos demais

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Page 34: MONO UFPA UTI

profissionais, pois atuam diretamente e por 24 horas, assistindo em todos os momentos o

paciente.

O enfermeiro em UTI assume o papel fundamental de prestar assistência de qualidade e

ainda manter elo entre os demais profissionais, utilizando como recursos, a comunicação, o

espírito de liderança, dotado certamente de conhecimento cientifico indispensáveis para

execução de praticas seguras e humanizadas, visto que assume a responsabilidade de cuidar

do paciente independente do diagnostico ou do contexto (Cintra et al, 2005).

Percebemos pelos depoimentos, que os enfermeiros na UTI assumem o papel de

coordenar a dinâmica da equipe de enfermagem. Em 50% dos depoimentos existe uma

relação de amizade extra profissional entre enfermeiro- enfermeiro paciente, sendo

indispensável que as influencias no cuidado e diferenciações na prestação dos mesmos sejam

percebidas, já nos outro 50% a equipe técnica não estabeleceu diferenças no cuidado. Neste

sentido, a atenção dispensada a todos os pacientes deve ser de maneira igualitária,

independente da patologia ou causa que o levou até a UTI, provando uma atitude ética entre

os demais pacientes hospitalizados na UTI.

CATEGORIA TEMATICA 4:

Experiência em ser paciente em UTI:

[...] é uma experiência negativa, muito ruim [...], uma sensação de incapacidade, estranho,

você saber como fazer o procedimento e não poder fazer. SAFIRA.

[...] passei a ser mais criteriosa, [...] porque você tem que ver o paciente como um todo, isso

fez com que eu prestasse mais atenção nos pacientes,[...] é horrível você acordar , o meu

calcâneo direto no colchão é uma dor inexplicável[...] ESMERALDA

[...] tipo assim, não pelo lado do tratamento, nem pelo lado da assistência, mas... pelo lado

emocional, porque na enfermaria você tem a visita do acompanhante, você tem a visita das

outras pessoas e na UTI você tem uma equipe trabalhando[...] é uma ociosidade, eu não

gostaria de passar por isso de novo. PÉROLA

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Page 35: MONO UFPA UTI

[...] olha não é uma experiência muito boa, porque a gente tem cuidados restritos de outras

pessoas, não é como na enfermaria comum [...] que você tem cuidados parciais [...] isso

independe de você ser profissional ou não, tu ta la como paciente[...]. RUBI.

[...] naquele momento você não é, você está [...] RUBI

Percebemos pelos depoimentos que a grande dificuldade da permanência em UTI

acontece justamente provocada pelo isolamento social, dependência de alguém para cuidar

que não seja membro da família, perda da privacidade, da individualidade, a auto-estima fica

prejudicada.

O paciente necessita ter informações que amenizem seu estado de ansiedade, seja pela

equipe médica ou de enfermagem, todos devem agir de maneira humanizada.

A família necessita de informações e estabelecer uma comunicação efetiva entre os

profissionais e os familiares, é função fundamental da enfermagem, isso gera uma maior

confiança entre familiar e os demais membros da equipe multiprofissional, visto que a UTI

gera um estigma que prevalece no imaginário por longo período, principalmente a idéia de

apropriação do seu ente.

CATEGORIA TEMATICA 5:

Avaliação da prática após ser paciente em UTI

[...] a minha visão enquanto profissional e enquanto pratica não mudou, eu tinha um senso

critico muito grande, eu não vi nada de errado, mas por a gente ter o senso critico, seu tivesse

visto eu teria falado, eu continuo assim, não mudou nada[...] RUBI

[...] olhar sempre o cuidado do outro, a gente se vendo naquela condição, dependente do

outro, então é o cuidado do outro que deve prevalecer, dar uma atenção melhor, atender o

chamado, em ouvir o que ele quer [...] SAFIRA

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Page 36: MONO UFPA UTI

[...] houve um caso que eu lembrei que o paciente chamava, chamava e a equipe demorava pra

atende [...] eu não sei se fosse comigo de como enfermeira eu teria deixado isso acontecer,

mas eu procuro logo dar atenção, eu procuro atender logo, eu tento me colocar no lugar

daquela pessoa [...] PÉROLA

[...] eu... fui comovida [...] eu comecei avaliar melhor meu paciente, principalmente a questão

da entubação, no decúbito, das áreas de ulcera de pressão, as outras coisas eu não modifiquei

porque eu já fazia o que eu achava correto [...] eu do importância pra dobrinha do lençol,

aquela prega que fica no calcâneo, se o ossinho num ta sendo pressionado[...] ESMERALDA

Os enfermeiros dentro da UTI devem ter o discernimento, iniciativa, habilidade e

estabilidade emocional para atuar em diversas situações inusitadas, devem trabalhar a idéia de

diminuir os riscos gerados pela internação do paciente na UTI, como por exemplo, a

prevenção de ulceras por pressão, relacionado ao posicionamento incorreto e prolongado na

mesma posição

Devem estabelecer rotinas que visem reduzir danos ao paciente, na tentativa de

preservar o bem-estar e conforto do paciente, neste sentido as praticas de humanização devem

ser implementadas, pois assim podemos assegurar estima e integridade, visto que, o

enfermeiro ocupa um papel importante nos momentos de fragilidade, dependência física e

emocional do paciente. (Vargas & Braga, 2008).

Pelos depoimentos percebemos que houve reflexões pelo enfermeiro-paciente

relacionadas a sua pratica profissional, o valor pelo outro, e a preservação de praticas ética e

humanizadas, que o fizeram avaliar que a capacidade de execução de trabalho digno

dispensado pela enfermagem na UTI.

CATEGORIA TEMATICA 6:

Reflexões sobre UTI, após alta

[...] eu fico imaginado, a gente já conhecendo já sentiu tudo isso: a perda da privacidade, o

medo da morte..., imagina uma pessoa leiga [...] ai é que entra o profissional com uma atenção

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Page 37: MONO UFPA UTI

assim imensa com esse paciente [...],porque a gente fica ali muito só, longe da família, só tem

aquele horário [...] eu ficava preocupada se eu ia morrer e meus filhos iam ficar com quem¿ a

gente pensa no marido, no irmão,mas... os teus filhos é primordial[...], eu ficava pensando ai

meu Deus tomara que de tudo certo[...] ai tu acorda ai obrigada eu to viva, agora vou cuidar

dos meus filhos[...], o que chama atenção é o barulho, até fala alta dos profissionais e olha que

eu fiquei num lugar reservado,então, umas das coisas que mudou na minha vida foi isso, eu

procuro entrar na UTI-neo do outro hospital bem devagar, não falo alto[...] porque ficou

condicionado que os pacientes que estão lá não querem ouvir barulho[...] RUBI

[...] nossa é uma sensação muito ruim, um lugar que te deixa incapaz, mas eu sei que fui bem

cuidada pela equipe, que tem quem goste de estar ali, se preocupando com o outro [...]

SAFIRA

[...] eu acho que a gente enquanto profissional deveria dar mais atenção ao paciente...

porque... eu não fui bem atendida pelo médico plantonista da noite,... o medico da manha não

sabia que eu era profissional da área da saúde [...] eu acho que você tem que cuidar igual, não

que ser diferente.[...], ESMERALDA.

Embora as UTI's tenham sido idealizadas a partir da necessidade de cuidar de pacientes

críticos, com possibilidades de recuperação, uns pacientes estão conscientes e orientados,

sabendo detalhes o que se passa, por tanto a equipe deve ter cuidado ao manusear o paciente,

evitando traçar comentários de suas particularidades, da sua intimidade, devemos ser éticos,

durante a prestação de cuidados.

Sabemos que a audição é um sentido mais aguçado, frente ao paciente em UTI, todo

comentário pode interferir no cuidado, bem como em sua recuperação.

A UTI, não é vista como ambiente acolhedor, tanto pacientes e familiares, criam

estigmas, que podem ser duradouros e traumáticos, influenciando em seu comportamento e

atitudes.

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Page 38: MONO UFPA UTI

Portanto, nas reflexões promovidas pelos depoimentos percebemos que embora o

profissional conheça todos os passos e momentos do que é trabalhar numa UTI e estar ali na

condição de pacientes divergem em alguns momentos, podemos concluir que é uma condição

temporária, porém angustiante, as praticas de cuidado devem ser avaliadas diariamente, visto

que o cuidado é diferente não pelas ações, mas pelas necessidades individuais que diferem a

cada momento. Que devemos ter uma preocupação e uma atenção especial com cada

indivíduo que esteja sobre nossos cuidados na UTI.

3.6- ASPECTOS ÉTICOS e LEGAIS:

Reitero aos participantes dessa pesquisa, que será utilizada linguagem clara, o objeto de

estudo, os objetivos e o modo de inserção deles na pesquisa. Embora trate- se de uma

pesquisa que não envolve riscos à integridade física dos informantes, asseguro o anonimato e

o direito do informante de deixar de compor o grupo a qualquer momento, respeitando neste

sentido a resolução do Conselho Nacional de Saúde 196/96, por tratar-se de uma pesquisa que

envolve seres humanos.

Para tanto utilizaremos nomes de pedras preciosas para preservar a integridade dos

participantes.

37

Page 39: MONO UFPA UTI

4 – CONCLUSÃO

Quanto ao significado e importância da Unidade de Terapia Intensiva prevalece ainda

atrelada ao seu contexto histórico. A idéia de separar os feridos pela guerra da Criméia de

acordo suas necessidades e gravidade instituído por Florence Nightingale prevalece até hoje,

certamente com grandes adaptações, principalmente as relacionadas ao ambiente, a

monitorização, a qualidade da assistência prestada ao doente critico.

No que se refere ao cuidado humanizado verificou-se a existência de fatores que

envolvem este diferencial, por exemplo, a disponibilidade de recursos humanos e matérias,

uma comunicação efetiva entre equipe multiprofissional, entre equipe e familiar e entre

equipe e paciente.

A família estigmatiza que a equipe se apropria do seu familiar, adoece junto dele.

Enquanto que o paciente reflete o contrario, imaginado que a família o abandonou. Este

isolamento social pode provocar danos irreversíveis aos indivíduos submetidos à internação

hospitalar em UTI. Portanto, é fundamental que esse duvida seja sanadas para que possamos

atingir nossos objetivos, que é devolver o individuo com menos seqüela possíveis ao seu meio

social.

Nesta pesquisa constataram-se os principais sentimentos e experiências dos paciente

enfermeiro, submetido à internação hospitalar em UTI envolvem o medo da morte, o

abandono pela família, a dependência de alguém, incapacidade, ociosidade, necessidades

humanas afetadas, vergonha, perda da privacidade.

Quanto às reflexões promovidas pelo profissional submetido à internação hospitalar em

UTI, podemos perceber que as praticas passaram a ser mais detalhada em relação ao doente

critico que outros profissionais não perceberam mudanças quanto ao contexto da UTI, outro,

passou a avaliar e dar mais atenção aos pacientes, principalmente diante do manejo da dor,

nos chamados dando atenção imediata, do cuidado humanizado, da preocupação com a

família, em minimizar ruídos desnecessários e na prevenção de ocorrências comentários que

possam agravar ainda mais o estado emocional do paciente.

38

Page 40: MONO UFPA UTI

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Page 45: MONO UFPA UTI

APÊNDICES

Page 46: MONO UFPA UTI

APÊNDICE 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do Projeto: O Sentimento dos Profissionaia Enfermeiros Submetidos à Internação

Hospitalar em UTI

Este projeto tem como objetivos conhecer os sentimentos do profissional enfermeiro

submetido à internação hospitalar em UTI e colaborar na construção e reflexão do profissional

enfermeiro quanto à sua assistência dispensada ao paciente crítico em UTI;

Como instrumento de coleta de dados será aplicado um roteiro de entrevista pertinente à

abordagem. Trata-se de um estudo exploratório com uma abordagem qualitativa. As respostas

serão confidenciais e exclusivamente para fins do objeto da pesquisa.

Tratando-se de uma pesquisa que não envolve riscos à integridade dos participantes,

porém fica livre o direito do pesquisado em deixar de compor tal pesquisa a qualquer

momento ou de participar da pesquisa, com direito a resposta, pertinentes aos objetivos

propostos. Em casos de dúvidas com as perguntas pertinentes ao objeto do estudo o

pesquisado poderá consultar as entrevistadoras.

Pesquisadoras Responsáveis:

Declaro estar ciente do exposto e desejo participar da pesquisa.Nome do sujeito:_______________________

Assinatura:___________________________

Belém, _____de_______ de 2009 .

Eu, , declaro que forneci todas as informações referentes ao projeto ao participante .

Data:___/____/____.

Pesquisadoras Responsáveis: Clara Manami Ota Fernandes. Fone: (91) 32431923. E-mail [email protected]

Edileuza Nunes Lima. Fone: (91) 32571981/81171733/88577537. E-mail

[email protected]

APÊNDICE 2

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QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO

1- Qual o seu sentimento em relação a UTI, enquanto profissional?

2- Qual o motivo que levou você ser hospitalizado em UTI?

3- Qual o seu sentimento em relação a UTI, enquanto doente?

4- Percebeu diferenças entre o seu cuidado e o de outros pacientes?

5- Qual a sensação de estar nesse ambiente sem sua família?

6- Como você descreve suas práticas após o cuidado empregado pela enfermagem a você

durante sua hospitalização?

7- Quais suas reflexões sobre a UTI, após sua alta?