Módulo Didático: Luz, CLIC e Ação: A Reciprocidade Cultural entre a Literatura e a Arte...

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PROJETO: Cultura, Literatura e Criatividade: Do erudito ao popular – CLIC COORDENADORA DA ÁREA DE LETRAS: Magliana Rodrigues da Silva ESCOLA PARTICIPANTE: E.E.E. Fundamental e Médio Professor Raul Córdula SUPERVISORA DA ESCOLA: Diana Nunes Ramalho LICENCIANDOS EM LETRAS: Ana Daniele F. Silva Andreia Aparecida M. Martins Arthur Velázquez F. de Carvalho Nathália Pinto Souza ALUNO (A):__________________________________________

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PROJETO: Cultura, Literatura e Criatividade: Do erudito ao popular – CLIC

COORDENADORA DA ÁREA DE LETRAS: Magliana Rodrigues da Silva

ESCOLA PARTICIPANTE: E.E.E. Fundamental e Médio Professor Raul Córdula

SUPERVISORA DA ESCOLA: Diana Nunes Ramalho

LICENCIANDOS EM LETRAS: Ana Daniele F. Silva

Andreia Aparecida M. Martins

Arthur Velázquez F. de Carvalho

Nathália Pinto Souza

ALUNO (A):__________________________________________

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TEXTO 01

A RETOMADA DO GÊNERO MUSICAL

Amanda de Castro Melo Souza, Nicole Santaella, Patrícia Castilho, Pedro Garcia e Zoe Sá Dall’Igna*

1. O surgimento dos musicais

Desde o início, o cinema flertava com o som por meio do acompanhamento

sonoro (feito por orquestras,

pequenos grupos musicais ou mesmo,

gravações) que, geralmente,

acompanhava as suas exibições. Já havia

uma necessidade de inclusão do som no cinema, seja para a

eliminação dos letreiros, seja pela criação de uma especifica

atmosfera em relação as reações do espectador (criar climas de

suspense, terror, amor, entre outros).

A Warner estava à beira da falência quando arriscou a

produção da ópera Don Juan, o primeiro filme com passagens

cantadas. O sucesso encorajou os irmãos Warner a continuar com a

experiência sonora até que em 1927 produzem O Cantor de Jazz (Crosland – Com Al Jolson, grande nome

da Broadway) que teve grande popularidade entre o publico norte-americano. Com esta produção nasce,

junto ao cinema sonoro, o cinema cantado.

Com a entrada do som na produção cinematográfica mundial, consolidou-se dentro de grandes

estúdios a produção do gênero musical. O primeiro musical, “Broadway Melody”, foi produzido em 1929 e

seu êxito provocou uma onda de filmes que rapidamente se tornam populares, assim como os nomes de Fred

Astaire, Ginger Rogers e Gene Kelly. Com o cinema sonoro, encenadores da Broadway foram chamados

para trabalhar em Hollywood.

"The Broadway Melody".

Situada em Nova Iorque, a Broadway é a avenida das superproduções onde estão em cartaz há

décadas os mais famosos musicais do mundo. Com o advento dos filmes sonoros, a conhecida popularidade

dessas peças tornou-se interessante ao cinema, pois muitas pessoas que gostariam de assistir a essas peças,

mas não tinham acesso à Broadway, por questões geográficas ou financeiras, seriam um público garantido,

uma vez que se adaptasse essas peças para o cinema. Filmes como “A Noviça Rebelde” e “My Fair Lady”

foram alguns dos primeiros a serem adaptados dos teatros da Broadway para o cinema, obtendo sucesso de

bilheteria e incentivando a continuidade da produção desse tipo de musical.

Algum tempo depois, o inverso começa a acontecer, principalmente com filmes de produção da

Disney: filmes musicais de sucesso começaram, também, a ser adaptados para peças da Broadway e se

mantêm em cartaz até hoje, como é o caso de “O rei leão”, “A Bela e a Fera” e “A pequena sereia”..

2. O gênero musical

Filme musical é um gênero de filme, no qual a narrativa se apóia sobre uma sequência de músicas

coreografadas, utilizando música, canções e coreografia como forma de narrativa, predominante ou

exclusivamente. Nas primeiras décadas, a maior parte dos musicais, como já foi dito, vinha de adaptações da

Broadway, mantendo características “teatrais”: as câmeras geralmente mostravam planos gerais das cenas,

como se vê nos teatros, os cenários eram mais limitados e havia poucos objetos ao centro, para que as danças

fossem realizadas; os números musicais não faziam tanto parte da narrativa, era uma “parada para cantar” no

meio do filme, a apresentação musical, muitas vezes, era diegética, ou seja, os personagens realmente

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estavam cantando dentro da narrativa; os números musicais também estavam ligados intimamente à dança, o

sapateado, principalmente.

Uma divisão dos filmes musicais pode ser feita com base no estudo, principalmente, da temática e da

abordagem narrativa: os “Musicais Ups” que expõem uma temática alegre e divertida com o típico final feliz

e que representam a maioria dos musicais feitos até o final da década de 60, e os “Musicais Downs” com

conteúdos engajados socialmente e críticas à sociedade, começam a surgir a partir da década de 70 e não,

necessariamente, apresentam um final feliz.

3. Musicais Ups

O gênero musical teve seu momento de glória nos anos 1940/50/60, períodos referentes à Crise

Econômica Americana, Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria. O filme Musical Up acabou

servindo de escape ao contexto da época, por apresentar uma temática leve. Os Musicais Ups, apresentam

marcas características como o otimismo e o happy end. Eles nos passam uma visão positiva do mundo

através da exposição do amecan way of life.

Os personagens que compõe a narrativa são ingênuos e geralmente munidos de qualidades

incontestáveis. Dentre as grandes produções desta época podemos destacar: Sinfonia de Paris (An american

in Paris,1950), Um dia em Nova York (On the town,1949), A roda da fortuna (The bang wagon,1953),

Cantando na chuva (Singin’ in the rain,1952) Amor, sublime amor (West side history,1961) e A noviça

rebelde (The sound of music,1965).

4. Musicais Down

A comédia Musical Up vive seu período de esgotamento devido a evolução dos costumes da

sociedade (consciência ecológica, manifestações contra a guerra, luta pelos direitos das minorias, surgimento

da contra cultura e da aldeia global acompanhados da revolução técnico-cientifica) e aos movimentos

sociais. Neste novo contexto a produção hollywoodiana se vê obrigada a mudar sua produção musical, o

gênero perde a sua ingenuidade e reflete esta nova realidade, desta forma surge o Musical Down.

O Musical Down expressa maior afinidade com a realidade econômica, política e social, apresentando uma

tendência às denuncias das mazelas da sociedade, Seus personagens apresentam defeitos e qualidades.

Podemos citar algumas das produções que se encaixam neste grupo: Jesus Cristo Superstar (Jesus Chirst

superstar, 1973), O show deve continuar (All That jazz, 1979), Hair (Hair, 1979), Dançando no escuro

(Dancer in the dark, 2000) Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (Sweeney Todd: the demon

barber of Fleet street, 2007).

Disponível em: http://www.rua.ufscar.br/a-retomada-do-genero-musical/ acesso em: 08 de agosto de 2017.

TEXTO 02

HAMLET, PRÍNCIPE DA DINAMARCA.

William Shakespeare (Versão adaptada para neoleitore)

1.O Fantasma

No terraço do castelo de Elsinor, residência do rei da Dinamarca,Bernardo acabava de assumir o posto de

sentinela. A noite estavagelada, e logo chegaram Marcelo e Horácio, dois outros soldados,amigos dele. Os

três soldados e o príncipe Hamlet tinham lutado

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juntos em guerras ao lado do antigo rei, pai do príncipe. Mas ultimamente eles andavamseparados, porque

Horácio estava estudandona Universidade de Wittenberg, na Alemanha,acompanhando Hamlet.

Marceloperguntou para Bernardo:

– Aquela coisa apareceu de novo?

– Eu não vi nada... – respondeu oamigo.

– O Horácio não quer acreditar nagente – continuou Marcelo.

– Ele diz que aquela coisa apavoranteque a gente já viu duas vezes só existe na nossa imaginação. Porisso eu

fiz ele ficar de sentinela conosco esta noite. Se aparecer denovo, ele não vai mais duvidar da gente e vai falar

com o fantasma...

Horácio continuava sem acreditar:

– Ora, é claro que não vai aparecer nada.

Mal os três amigos sentaram para esperar, Marcelo deu oalarme:

– Olhem, ele vem vindo!

– É igualzinho ao falecido rei! – exclamou Bernardo.

– Não é,Horácio?

– É sim, Bernardo. Eu estou paralisado de espanto e de medo.

– Você, que é intelectual, fale com ele, Horácio! – disse Marcelo.

Horácio enfrentou o fantasma, perguntando:

– Quem é você, que aparece usando a armadura do falecidorei?

Mas o fantasma foi embora sem responder nada.

Bernardo viu que Horácio estava branco, tremendo, e entãoperguntou:

– E agora, Horácio, ainda duvida?

– Se eu não tivesse visto com os meus próprios olhos, juro porDeus que não ia

acreditar, mas o fantasma é igual ao rei. A armaduradele é igual àquela que o nosso velho rei usava quando a

gentelutou contra o rei da Noruega e contra os poloneses. Até o jeito de

franzir as sobrancelhas é o do falecido rei. Não sei o que pensar... Sósei que isso é sinal que alguma coisa

muito estranha vai acontecerno nosso país.

Os três amigos sentaram no chão, e Marcelo perguntou se alguémsabia por que os dinamarqueses estavam

construindo tantosnavios e canhões, comprando tantas armas no estrangeiro e passandoo tempo todo de

sentinela.

Horácio respondeu:

- Eu sei: esse fantasma que nos apareceu agora é o pai do nossoamigo, o príncipe Hamlet. Vocês se lembram

que o nosso falecidorei e o rei da Noruega, Fortimbrás, disputaram um duelo? Anteseles assinaram um

contrato dizendo que quem vencesse ficava com

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o reino do outro, e o rei Hamlet ganhou. Pois agora o filho do reida Noruega, que também se chama

Fortimbrás, está reunindo umexército para tentar recuperar com uma guerra o reino que o paiperdeu numa

luta que foi justa, ora!

– Isso explica, então, por que o fantasma do rei Hamlet apareceu - concluiu Bernardo.

Mas Horácio não estava satisfeito e comentou com os amigosque estavam aparecendo na Dinamarca os

mesmos sinais sobrenaturaisque tinham aparecido na Roma Antiga pouco antes da morte deJúlio César, e

um desses sinais era que os mortos saíam dos túmulos

e andavam entre os vivos.Ele ainda estava falando sobre isso quando o fantasma voltou.

Horácio se levantou num pulo e chamou o fantasma, que passoureto por ele. Os três amigos pegaram

espadas e lanças e tentaramparar o fantasma à força, mas as armas foram inúteis.

O fantasma parou e pareceu que ia falar, quando um galo cantou.

O fantasma tremeu e desapareceu da vista dos soldados.

– Ele fugiu quando ouviu o galo cantar. Isso prova que o cantodo galo é o sinal para os espíritos errantes

voltarem para o lugar deonde vieram – disse Horácio.

– Mas está amanhecendo, e o nossohorário de sentinela terminou. Vamos contar para o príncipe Hamleto que

aconteceu esta noite. Com ele o espírito vai falar, eu tenho

certeza.

– Vamos logo – respondeu Marcelo. – Eu sei onde encontrar opríncipe a esta hora da manhã!

2. Uma família real

Na sala de cerimônias do castelo, estavam reunidos o reiCláudio, a rainha Gertrudes, o príncipeHamlet e os

principais nobres do reino daDinamarca.

O rei disse:

– Em nossos corações, ainda estamosde luto pelo meu falecido irmão, nosso

querido rei Hamlet. Mas nós precisamos pensar no interesse de todoo reino. Eu ouvi os conselhos que vocês

me deram e me casei comminha antiga cunhada, a rainha deste país guerreiro. Ao mesmotempo alegres e

tristes, nós agradecemos a todos, mas eu chameivocês para tratar de um assunto urgente. O jovem príncipe

da Noruega,Fortimbrás, deve estar pensando que a morte de nosso amadoirmão deixou a Dinamarca confusa

ou desunida. Ele não para denos provocar e está exigindo a devolução das terras que o pai deleperdeu no

duelo com o nosso falecido rei.

Todos ali já sabiam aquilo tudo que ele vinha falando até ali eestavam ansiosos para ouvir as providências

que o novo rei ia tomar.

Cláudio continuou:

– Já escrevi para o atual rei da Noruega, que é tio de Fortimbrás.Ele está velho, doente e acamado, e por isso

não sabe dos preparativospara a guerra que o sobrinho está fazendo. Na carta, eu exijo queo rei não deixe

Fortimbrás nos atacar. Para levar a carta, eu escolhi os nobres que eram donos de grandes propriedadese

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viviam próximos do poder,em países governados por algum rei.Dois dos mais experientes e leais

cavaleirosdesta corte, Cornélio e Voltimando...

Os dois nobres se adiantaram, e o reicontinuou:

– Levem até o velho r

ei norueguês as nossas saudações enegociem com ele. Não tratem de nenhum outro assunto: nós sóqueremos

que ele garanta que não vamos ter guerra.

Cornélio e Voltimando saíram, e o rei chamou Laertes, filho dePolônio, o conselheiro real. O jovem queria

autorização do rei paravoltar para a França, onde estudava na Universidade de Paris. O reideu a permissão,

mas só depois de consultar Polônio, que disse queconcordava, apesar de estar preocupado com o filho.

Então o rei falou com Hamlet, seu sobrinho e filho do rei falecido:

– E agora, caro Hamlet, meu sobrinho e meu filho...

Hamlet não gostou de ser chamado de filho por Cláudio, masnão disse nada.

– Por que você está com essa cara tão fechada? – perguntouo rei.

Como Hamlet continuava chateado, a rainha Gertrudes, mãedele, insistiu:

– Querido filho, deixe dessa tristeza toda e veja o novo rei daDinamarca como amigo. Tudo que vive um dia

morre. Por que amorte do seu pai parece tão arrasadora para você?

– Não parece, senhora, é! Comigo não tem “parecer”. Minhasroupas de luto, meu rosto fechado, minhas

lágrimas, tudo isso pode“parecer”, porque qualquer um pode fingir isso, mas o que eu tenhodentro de mim

ninguém pode imitar.

Diante de todos, Cláudio pediu que Hamlet visse nele umpai.

– Que o universo inteiro fique sabendo, Hamlet: você é o herdeirodo meu trono, e eu amo você como um

filho muito querido. Eeu não gostaria que você voltasse para a Universidade de Wittenberg.Fique aqui na

corte conosco.

– Fique, meu filho, por favor – implorou Gertrudes.

– Vou fazer o possível para obedecer – respondeu o príncipe.

O rei então disse para a rainha que ele estava tão satisfeitocom a decisão de Hamlet que naquele dia todos os

brindes seriamacompanhados por tiros de canhão, para que todo o mundo soubessecomo eles estavam

felizes.

Os arautos tocaram as trombetas, etodos saíram, deixando Hamlet sozinho.O príncipe não conseguia aceitar

o casamentoda mãe com o tio, menos de doismeses depois da morte do pai. “Que nojo!”,pensou. “Meu pai

era tão carinhoso comela, e ela parecia viver para ele. Mas foi só ele morrer, e ela correupara casar com o

irmão dele, que não tinha nenhuma das qualidadesdo meu pai!” O príncipe estava tão triste que chegou a

pensarem suicídio. Então, ele balançou a cabeça, desolado, e exclamouem voz alta:

– Como as mulheres são frágeis! – E depois, baixando a voz,suspirou:

– Isso não vai acabar bem.

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Nesse momento, entraram Horácio, Bernardo e Marcelo. Hamletficou feliz por ver os amigos, especialmente

Horácio, mas o rostodo príncipe voltou a ficar perturbado quando os amigos contaramsobre a aparição do

fantasma.

– Vocês não falaram com ele?

– Eu falei, meu príncipe – disse Horácio –, mas na hora elenão me respondeu. Chegou a levantar a cabeça,

como se fossedizer alguma coisa, mas o galo cantou, e o fantasma desapareceuaos poucos.

Hamlet encheu os três de perguntas e decidiu que naquelamesma noite ia ficar de guarda junto com eles.

– Se meu pai aparecer vou falar com ele, nem que seja noinferno. E vocês, provem que são meus amigos e

não contem nadadisso para ninguém!

Os três juraram obediência e combinaram que todos iam estarna muralha do castelo um pouco antes da meia-

noite.

Quandoficou sozinho novamente, Hamlet pensou: “O espírito do meu pai,e armado para guerra! Aí tem

coisa... Por que é que a noite nãochega logo?”

Disponível em: http://lpm.com.br/livros/Imagens/hamlet_neoleitores.pdf acesso em: 08 de agosto de 2017.

TEXTO 03

CHAPEUZINHO VERMELHO

Era uma vez, uma menina tão doce e meiga que todos gostavam dela. A avó, então, a adorava, e não

sabia mais que presente dar a criança para agradá-la. Um dia ela presenteou-a com um chapeuzinho de

veludo vermelho.

O chapeuzinho agradou tanto a menina e ficou tão bem nela, que ela queria ficar

com ele o tempo todo. Por causa disso, ficou conhecida como Chapeuzinho

Vermelho.

Um dia sua Mãe lhe chamou e lhe disse:

- Chapeuzinho, leve este pedaço de bolo e essa garrafa de vinho para sua avó.

Ela está doente e fraca, e isto vai faze-la ficar melhor. Comporte-se no caminho,

e de modo algum saia da estrada, ou você pode cair e quebrar a garrafa de vinho

e ele é muito importante para a recuperação de sua avó.

Chapeuzinho prometeu que obedeceria a sua mãe e pegando a cesta com o bolo e o vinho, despediu-

se e partiu.

Sua avó morava no meio da floresta, distante uma hora e meia da vila.

Logo que Chapeuzinho entrou na floresta, um Lobo apareceu na sua frente.

Como ela não o conhecia nem sabia que ele era um ser perverso, não sentiu medo algum.

- Bom dia Chapeuzinho - saudou o Lobo.

- Bom dia, Lobo - ela respondeu.

- Aonde você vai assim tão cedinho, Chapeuzinho?

- Vou à casa da minha avó.

- E o que você está levando aí nessa cestinha?

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- Minha avó está muito doente e fraca, e eu estou levando para ela um pedaço de bolo que a mamãe fez

ontem, e uma garrafa de vinho. Isto vai deixá-la forte e saudável.

- Chapeuzinho, diga-me uma coisa, onde sua avó mora?

- A uns quinze minutos daqui. A casa dela fica debaixo de três grandes carvalhos e é cercada por uma sebe

de aveleiras. Você deve conhecer a casa.

O Lobo pensou consigo: "Esta tenra menina é um delicioso petisco. Se eu agir rápido posso saborear sua avó

e ela como sobremesa”.

Então o Lobo disse:

- Escute Chapeuzinho, você já viu que lindas flores há nessa floresta? Por quê você não dá uma olhada?

Você não está ouvindo os pássaros cantando? Você é muito séria, só caminha olhando para frente. Veja

quanta beleza há na floresta.

Chapeuzinho então olhou a sua volta, e viu a luz do sol brilhando entre as árvores, e viu como o chão estava

coberto com lindas e coloridas flores, e pensou: "Se eu pegar um buquê de

flores para minha avó, ela vai ficar muito contente. E como ainda é cedo, eu

não vou me atrasar”.

E, saindo do caminho entrou na mata. E sempre que apanhava uma flor, via

outra mais bonita adiante, e ia atrás dela. Assim foi entrando na mata cada

vez mais.

Enquanto isso, o Lobo correu à casa da avó de Chapeuzinho e bateu na porta.

- Quem está aí? - perguntou a velhinha.

- Sou eu, Chapeuzinho - falou o Lobo disfarçando a voz - Vim trazer um pedaço de bolo e uma garrafa de

vinho. Abra a porta para mim.

- Levante a tranca, ela está aberta. Não posso me levantar, pois estou muito fraca. - respondeu a vovó.

O Lobo entrou na casa e foi direto à cama da vovó, e a engoliu antes que ela pudesse vê-lo. Então ele vestiu

suas roupas, colocou sua touca na cabeça, fechou as cortinas da cama, deitou-se e ficou esperando

Chapeuzinho Vermelho.

E Chapeuzinho continuava colhendo flores na mata. E só quando não podia mais carregar nenhuma é que

retornou ao caminho da casa de sua avó.

Quando ela chegou lá, para sua surpresa, encontrou a porta aberta.

Ela caminhou até a sala, e tudo parecia tão estranho que pensou: "Oh, céus, por quê será que estou com tanto

medo? Normalmente eu me sinto tão bem na casa da vovó...”.

Então ela foi até a cama da avó e abriu as cortinas. A vovó estava lá deitada com sua touca cobrindo parte do

seu rosto, e, parecia muito estranha...

- Oh, vovó, que orelhas grandes a senhora tem! - disse então Chapeuzinho.

- É para te ouvir melhor.

- Oh, vovó, que olhos grandes a senhora tem!

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- É para te ver melhor.

- Oh, vovó, que mãos enormes a senhora tem!

- São para te abraçar melhor.

- Oh, vovó, que boca grande e horrível à senhora tem!

- É para te comer melhor - e dizendo isto o Lobo saltou sobre a indefesa menina, e a engoliu de um só bote.

Depois que encheu a barriga, ele voltou à cama, deitou, dormiu, e começou a roncar muito alto. Um caçador

que ia passando ali perto escutou e achou estranho que uma velhinha roncasse tão alto, então ele decidiu ir

dar uma olhada.

Ele entrou na casa, e viu deitado na cama o Lobo que ele procurava há muito tempo.

E o caçador pensou: "Ele deve ter comido a velhinha, mas talvez ela ainda possa

ser salva. Não posso atirar nele”.

Então ele pegou uma tesoura e abriu a barriga do Lobo.

Quando começou a cortar, viu surgir um chapeuzinho vermelho. Ele cortou mais,

e a menina pulou para fora exclamando:

- Eu estava com muito medo! Dentro da barriga do lobo é muito escuro!

E assim, a vovó foi salva também.

Então Chapeuzinho pegou algumas pedras grandes e pesadas e colocou dentro da

barriga do lobo.

Quando o lobo acordou tentou fugir, mas as pedras estavam tão pesadas que ele caiu no chão e morreu.

E assim, todos ficaram muito felizes.

O caçador pegou a pele do lobo.

A vovó comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho havia trazido, e

Chapeuzinho disse para si mesma:

“Enquanto eu viver, nunca mais vou desobedecer minha mãe e desviar do

caminho nem andar na floresta sozinha e por minha conta”. (Irmãos Grimm)

Disponível em: http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=2056&cat=Infantil.

Acesso em: 04 de Agosto de 2017.

TEXTO 04

A GAROTA DA CAPA VERMELHA

RESUMO:

O CORPO DE UMA GAROTA é descoberto em um campo de trigo. Em sua carne mutilada, marcas de

garras. O Lobo havia quebrado a paz. Quando Valerie descobre que sua irmã foi assassinada pela lendária

criatura, ela acaba mergulhando de forma irreversível em um grande mistério que vem amaldiçoando sua

aldeia por gerações. A revelação vem com Father Solomon: o Lobo habita entre eles — o que torna qualquer

pessoa do vilarejo suspeita. Estaria Peter, sua paixão secreta desde a infância, envolvido nos ataques? Ou

seria Henry, seu noivo, o Lobisomem que assola as redondezas? Ou, talvez, alguém mais próximo?

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Enquanto todos estão à caça da besta, Valerie recorre à Avó em busca de ajuda; ela dá à neta uma capa

vermelha feita à mão e a orienta através da rede de mentiras, intrigas e decepções que vem controlando o

vilarejo por muito tempo. Descobrirá Valerie o culpado por trás do lobo antes que toda a aldeia seja

exterminada? A Garota da Capa Vermelha é uma nova e arrepiante versão do clássico conto. Nela, o final

feliz poderá ser difícil de ser encontrado.

TEXTO 05

CAPÍTULO 1 – A GAROTA DA CAPA VERMELHA

Da altura imponente do topo da árvore, a menininha conseguia ver tudo. A sonolenta aldeia de

Daggorhorn ficava bem no fundo do vale. De cima, parecia uma terra muito distante, estrangeira. Um lugar

do qual ela não sabia nada, um lugar sem espinhos nem farpas, um lugar onde o temor não pairava como um

pai ansioso. Lá em cima, tão distante no ar, Valerie sentiu como se pudesse ser outra pessoa também. Ela

poderia ser um animal: um falcão, indiferente à sua própria

sobrevivência, arrogante e distante. Mesmo aos sete anos, sabia que, de

algum modo, era diferente dos outros aldeões. Não conseguia evitar

mantê-los a distância, até mesmo os seus amigos, que eram abertos e

maravilhosos. Sua irmã mais velha, Lucie, era a única pessoa no

mundo com quem Valerie sentia ter uma ligação. Ela e Lucie eram

como duas videiras que cresceram entrelaçadas como na velha canção

que os anciãos da aldeia cantavam. Lucie era a única. Valerie

observou além de seus pés descalços suspensos e refletiu sobre o

motivo de ter subido até lá. É claro que não tinha permissão, mas este não era o caso. Tampouco era pelo

desafio da subida, ou então pela emoção, que havia perdido no ano anterior, quando atingira o galho mais

alto pela primeira vez e não encontrara nada além do céu aberto.

Subia bem alto porque não conseguia respirar lá embaixo, na aldeia. Se não saísse de lá, a

infelicidade a tomaria, acumulando como a neve até que ela ficasse soterrada. Lá em cima, na sua árvore, o

ar batia fresco em seu rosto, e ela se sentia invencível. Nunca se preocupava em cair; isso não era possível

neste universo sem peso. — Valerie! A voz de Suzette ressoou lá em cima por entre as folhas, chamando-a

como uma mão puxando Valerie para a terra. Pelo tom de voz de sua mãe, ela sabia que estava na hora de ir.

Elevou os joelhos, ergueu-se, ficou de cócoras e começou a descida. Olhando para baixo, conseguiu ver o

telhado bem inclinado da casa da Avó, construído entre os galhos da árvore e coberto por uma camada

espessa de folhas de pinheiros. A casa estava envolta por galhos floridos como se tivesse se alojado lá

durante uma tempestade. Valerie sempre imaginava como ela fora construída lá, mas nunca perguntou a

ninguém, porque algo tão maravilhoso não deve ser explicado. O inverno se aproximava, e as folhas

começavam a se soltar dos galhos, libertando-se da abrangência do outono. Algumas estremeceram e se

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desprenderam conforme Valerie se movimentava, descendo da árvore. Ela ficara empoleirada na árvore a

tarde toda, ouvindo o murmúrio baixinho das vozes das mulheres sendo soprado lá de baixo até em cima.

Elas pareciam estar mais cautelosas hoje, mais graves que o habitual, como se estivessem guardando

segredos. Aproximando-se dos ramos mais baixos que arranhavam o telhado da casa da árvore, Valerie viu

a Avó surgir na varanda, os pés invisíveis sob o vestido. A Avó era a mulher mais bonita que ela conhecia.

Usava saias compridas em camadas que balançavam conforme ela caminhava. Se o pé direito ia à frente, a

saia de seda se agitava para a esquerda. Os tornozelos eram delicados e encantadores, como os da pequena

bailarina de madeira da caixa de joias de Lucie. Isso tanto encantava quanto assustava Valerie, pois pareciam

prestes a se quebrarem. Valerie, nem um pouco frágil, pulou do galho mais baixo até a varanda, provocando

um ruído surdo.

Ela não parecia tão admirável quanto as outras garotas, cujas bochechas eram rosadas ou carnudas. As de

Valerie eram lisas, uniformes e bem pálidas. Valerie realmente não se achava bonita, nem pensava sobre sua

aparência... ou nessas questões. No entanto, ninguém esqueceria a loira de cabelos cor de palha e olhos

verdes inquietos que brilhavam como se lançassem raios. Seus olhos e aquele ar sapiente que possuía

faziam-na parecer mais velha do que era.

— Meninas, vamos! — a mãe a chamou de dentro da casa, a ansiedade transpirando pela voz. — Precisamos

estar de volta cedo, hoje. Valerie desceu antes que alguém percebesse que ela havia estado na árvore. Pela

porta aberta, viu Lucie agitando-se perto da mãe, segurando uma boneca que ela vestira de retalhos que a

Avó havia doado para esse fim. Ela desejou ser mais parecida com a irmã. As mãos de Lucie eram macias e

arredondadas, um pouco gorduchas, algo que Valerie admirava. Suas próprias mãos eram nodosas, finas,

ásperas e com calos. Seu corpo era anguloso. Bem no fundo, ela sentia que isto a tornava uma pessoa que

não poderia ser amada, uma pessoa que ninguém gostaria de tocar. Valerie tinha consciência de que sua

irmã mais velha era melhor que ela. Lucie era mais bondosa, mais generosa e mais paciente. Ela nunca teria

subido acima da casa da árvore, pois sabia que lá não era o lugar de pessoas sensatas.

— Meninas! É noite de lua cheia.

— A voz da mãe chegou até ela, agora. — E é a nossa vez — acrescentou, com uma voz triste que foi se

enfraquecendo. Valerie não sabia o que entender, aquilo de ser a vez deles. Esperava que fosse uma

surpresa, talvez um presente. Olhando para o chão, ela viu algumas marcas na terra que tinham a forma de

uma seta. Peter. Seus olhos se arregalaram. Ela se dirigiu aos degraus íngremes e sujos da casa da árvore

para examinar as marcas. ‚Não, não é Peter‛, ela pensou, vendo que eram apenas arranhões aleatórios no

chão. Mas e se... As marcas se estendiam para longe até o bosque. Instintivamente, ignorando o que ela

deveria fazer e o que Lucie faria, ela as seguiu. Claro que não levaram a lugar nenhum; depois de alguns

metros, as marcas desapareceram. Furiosa consigo mesma pela ilusão, ficou feliz por ninguém tê-la visto

seguindo nada até nada. Antes de partir, Peter costumava deixar recados para ela, desenhando setas no chão

com a ponta de uma vara; as setas a guiavam até ele, muitas vezes escondido nas profundezas do bosque.

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Ele, seu amigo, já havia partido há alguns meses, agora. Eles foram inseparáveis, e Valerie ainda não

conseguia aceitar o fato de que ele não voltaria mais. Sua partida fora como o rompimento da ponta de uma

corda — deixando dois fios desemaranhados Peter não era como os outros garotos que ficavam provocando

e lutando. Ele entendia os impulsos de Valerie. Entendia a aventura; entendia sobre não seguir as regras.

Nunca a julgava por ser uma menina.

— Valerie! — a voz da Avó agora a chamava. Seus apelos deveriam ser respondidos com mais presteza que

os da mãe de Valerie, pois suas ameaças poderiam realmente se concretizar. Valerie se afastou das peças do

quebra-cabeça que não levaram a prêmio nenhum e se apressou em voltar.

— Aqui, vovó. Ela se recostou na base da árvore, deliciando-se com a sensação áspera do tronco. Fechou os

olhos para senti-la plenamente — e ouviu o rangido das rodas de carroça como uma tempestade que se

aproxima. Ouvindo-o também, a Avó desceu as escadas até o chão da floresta. Envolveu Valerie em seus

braços, a seda fria da blusa e o amontoado desajeitado de seus amuletos pressionando o rosto de Valerie.

Com o queixo no ombro da Avó, Valerie viu Lucie movendo-se de forma cautelosa, descendo os degraus

altos, seguida pela mãe.

— Sejam fortes hoje, minhas queridas — a Avó cochichou.

Tensa, Valerie ficou quieta, incapaz de expressar sua confusão. Para Valerie, cada pessoa e lugar possuíam

seu próprio perfume — às vezes, o mundo todo parecia um jardim. Ela chegou à conclusão de que a Avó

tinha cheiro de folhas esmagadas mescladas com algo mais profundo, algo mais intenso que ela não

conseguia definir. Logo que a Avó soltou Valerie, Lucie entregou à irmã um buquê de ervas e flores que ela

recolhera do bosque.

Disponível em: https://cld.pt/dl/download/62857e2f-73ff-4d61-b9b8-

d0c4a75e5e54/LIVROS%20DE%20FILMES/A%20garota%20da%20capa%20vermelha.pdf Acesso em: 04 de Agosto de 2017.

TEXTO 06

A Garota da Capa Vermelha (Filme)

Por Ana Lucia Santana

Embora os críticos norte-americanos e os brasileiros tenham, com

raras exceções, tecido críticas negativas a esta obra, minha impressão

sobre o filme foi bem positiva. Desde o início a atmosfera de paranoia e

medo está no ar, prenunciando a eclosão de intolerância e ódio,

sentimentos que se instauram a partir do momento em que um caçador de

lobisomens declara que o lobo assassino se oculta entre os próprios

habitantes do pequeno vilarejo.

O clima de medo e de desconfiança presente na comunidade ecoa o

ambiente sufocante do filme A Vila, de M. Night Shyamalan, e o

ambiente opressivo do livro Dezesseis Luas, de Kami Garcia e Margaret

Stohl. As pessoas moram em casas acima do solo, acessíveis apenas por

escadas que, à noite, são recolhidas e escondidas no interior das

residências.

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A história tem início com Valerie ainda pequena; desde este momento percebe-se que ela é diferente

dos demais, pois não se comporta como suas amigas, embora se esforce para ser como os outros. Um espírito

de rebeldia domina sua alma, e neste traço de personalidade ela se sintoniza com Peter (Shiloh Fernandez),

outra criatura indomável. Os dois elegem a floresta como seu refúgio, onde caçam e matam coelhos.

Apesar de ser um lugarejo pequeno e todos se conhecerem, os vizinhos são discretos e têm sempre

disponível um olhar de suspeita reservado ao outro. Há anos eles são ameaçados pelo Lobo, mas um pacto

com a fera garante há algum tempo a necessária tranquilidade. A cada noite de lua cheia uma família

sacrifica um animal à besta em troca de imunidade aos seus ataques.

Depois de um longo período de trégua, porém, o Lobo volta a fazer uma vítima entre os habitantes do

vilarejo, Lucy, a irmã de Valerie, protagonista do enredo, vivida pela atriz Amanda Seyfried. A partir de

então a população se enfurece e um grupo se reúne para caçar a fera. Quando os homens se dividem no

reduto do animal, ele ataca e é aparentemente morto por um dos homens, não sem antes provocar uma nova

morte, a do pai de Henry (Max Irons), jovem prometido a Valerie por uma aliança entre suas famílias.

Todos festejam a morte do Lobo, mas assim que um caçador de lobisomens, interpretado por Gary

Oldman, chega ao vilarejo para matar a besta, uma revelação aterradora muda os rumos da história: não se

trata de um simples lobo, e sim de um homem-lobo, o qual certamente está presente entre eles.

O matador de lobisomens, um violento e estranho padre, viúvo e pai de duas filhas, acendem as

chamas da fogueira da intolerância e estimula cada vez mais o ódio e a desconfiança crescentes entre os

habitantes do vilarejo. Ele joga sem compaixão um contra o outro e cerca a pequena comunidade, não

permitindo que ninguém parta até que se ache o lobisomem. Tomado pela cólera e por uma ilimitada sede de

sangue, ele está disposto até mesmo a matar, se for preciso, para conquistar seu troféu.

Enquanto isso, segredos há muito guardados vêm à tona, antigos ressentimentos afloram, e cresce o

número de suspeitos: a estranha avó de Valerie, o ferreiro Henry, seu amado Peter, Claude, irmão de uma

das amigas da protagonista, o padre local, entre outros.

Todos se olham com medo, raiva e apreensão; as pessoas buscam implacavelmente um bode

expiatório, e qualquer um pode ser acusado da prática de magia negra, forte indício para se encontrar um

lobisomem. Os diferentes certamente não serão perdoados, o que deixa Valerie e Peter em uma posição

delicada e arriscada.

Este longa dirigido por Catherine Hardwicke, a diretora de

Crepúsculo e Aos Treze, a partir de uma ideia do ator Leonardo Di

Caprio, desenvolvida pelo roteirista David Leslie Johnson, deu início a

uma experiência incomum. Quem está habituado a ver obras da literatura

convertidas à estética cinematográfica, vai se deparar aqui com o

caminho oposto.

Decidida a aprofundar a história nas páginas de um livro, a

cineasta propôs a sua amiga Sarah Cartwrigth que transformasse o enredo

em um thriller literário. O resultado é surpreendente e o final ainda mais, pois o desfecho da história só será

visto na versão do cinema.

Quem analisar o filme apenas a partir do enredo superficial, realmente terá razões para desfiar

críticas negativas, pois nele estão presentes o tradicional triângulo amoroso, o amor proibido, as

interferências familiares que tudo fazem para separar dois amantes, entre outros elementos clichês.

Mas esta versão da tradicional história da Chapeuzinho Vermelho vai além da trama aparente,

compondo uma alegoria do mundo contemporâneo e de suas paranoias típicas, as quais giram basicamente

em torno das ameaças engendradas pelo próprio modo de vida pós-moderno.

A direção de arte gera uma estética que ora privilegia a alegria artificial das comemorações, ora

destaca o clima de medo e de hostilidade que tomam conta da alma de cada habitante da comunidade. As

cores são intensas, contrapondo as tonalidades neutras do figurino feminino aos tons escuros que distinguem

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o universo masculino, e criando um diferencial em Valerie com sua capa vermelha, símbolo da paixão e das

supostas bruxas condenadas à fogueira pela Inquisição, e no Caçador de Lobisomens com suas vestes

sacerdotais púrpuras, que intimidam e ameaçam a todos.

A trilha sonora é simplesmente divina; ela é basicamente composta por composições de Brian

Reitzell, autor, entre outras, das trilhas dos filmes Encontros e Desencontros e Mais Estranho que a Ficção,

em parceria com Alex Heffes, responsável pelas canções de longas como O Último Rei da Escócia e Intrigas

de Estado. Mas também há a presença especial de Fever Ray, pseudônimo da artista sueca de música

eletrônica Karin Elisabeth Dreijer Andersson, de Anthony Gonzalez, do grupo eletrônico M83, e da banda

inglesa The Big Pink.

Vale realmente dar uma chance a esta produção, e não só o público adolescente, mas todo cinéfilo;

basta apenas despir a capa do preconceito e se preparar para mergulhar além das camadas superficiais da

trama.

Fonte:

A Garota da Capa Vermelha. Direção: Catherine Hardwicke. Estados Unidos/Inglaterra. 2011, 100 min. Elenco: Amanda Seyfried,

Michael Hogan, Shiloh Fernandez, Max Irons, Gary Oldman, Michael Shanks, Lukas Haas, Billy Burke. Warner Bros. / Appian

Way. Classificação: 14 anos.

Disponível em: http://www.infoescola.com/cinema/a-garota-da-capa-vermelha-filme/. Acesso em: 03 de agosto de 2017.

TEXTO 07

CHAPEUZINHO AMARELO

(Chico Buarque)

Era a Chapeuzinho Amarelo

Amarelada de medo

Tinha medo de tudo, aquela Chapeuzinho.

Já não ria

Em festa, não aparecia

Não subia escada, nem descia

Não estava resfriada, mas tossia

Ouvia conto de fada, e estremecia

Não brincava mais de nada, nem de amarelinha

Tinha medo de trovão

Minhoca, pra ela, era cobra

E nunca apanhava sol, porque tinha medo da sombra

Não ia pra fora pra não se sujar

Não tomava sopa pra não ensopar

Não tomava banho pra não descolar

Não falava nada pra não engasgar

Não ficava em pé com medo de cair

Então vivia parada, deitada, mas sem dormir, com medo de pesadelo

Era a Chapeuzinho Amarelo…

E de todos os medos que tinha

O medo mais que medonho era o medo do tal do LOBO.

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Um LOBO que nunca se via,

que morava lá pra longe,

do outro lado da montanha,

num buraco da Alemanha,

cheio de teia de aranha,

numa terra tão estranha,

que vai ver que o tal do LOBO

nem existia.

Mesmo assim a Chapeuzinho

tinha cada vez mais medo do medo do medo

do medo de um dia encontrar um LOBO

Um LOBO que não existia.

E Chapeuzinho amarelo,

de tanto pensar no LOBO,

de tanto sonhar com o LOBO,

de tanto esperar o LOBO,

um dia topou com ele

que era assim:

carão de LOBO,

olhão de LOBO,

jeitão de LOBO,

e principalmente um bocão

tão grande que era capaz de comer duas avós,

um caçador, rei, princesa, sete panelas de arroz…

e um chapéu de sobremesa.

Mas o engraçado é que,

assim que encontrou o LOBO,

a Chapeuzinho Amarelo

foi perdendo aquele medo:

o medo do medo do medo do medo que tinha do LOBO.

Foi ficando só com um pouco de medo daquele lobo.

Depois acabou o medo e ela ficou só com o lobo.

O lobo ficou chateado de ver aquela menina

olhando pra cara dele,

só que sem o medo dele.

Ficou mesmo envergonhado, triste, murcho e branco-azedo,

porque um lobo, tirado o medo, é um arremedo de lobo.

É feito um lobo sem pelo.

Um lobo pelado.

O lobo ficou chateado.

Ele gritou: sou um LOBO!

Mas a Chapeuzinho, nada.

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E ele gritou: EU SOU UM LOBO!!!

E a Chapeuzinho deu risada.

E ele berrou: EU SOU UM LOBO!!!!!!!!!!

Chapeuzinho, já meio enjoada,

com vontade de brincar de outra coisa.

Ele então gritou bem forte aquele seu nome de

LOBO

umas vinte e cinco vezes,

que era pro medo ir voltando e a menininha

saber

com quem não estava falando:

LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO BO LO

Aí, Chapeuzinho encheu e disse:

“Pára assim! Agora! Já! Do jeito que você tá!”

E o lobo parado assim, do jeito que o lobo estava, já não era mais um LO-BO.

Era um BO-LO.

Um bolo de lobo fofo, tremendo que nem pudim, com medo de Chapeuzim.

Com medo de ser comido, com vela e tudo, inteirim.

Chapeuzinho não comeu aquele bolo de lobo,

porque sempre preferiu de chocolate.

Aliás, ela agora come de tudo, menos sola de sapato.

Não tem mais medo de chuva, nem foge de carrapato.

Cai, levanta, se machuca, vai à praia, entra no mato,

Trepa em árvore, rouba fruta, depois joga amarelinha,

com o primo da vizinha, com a filha do jornaleiro,

com a sobrinha da madrinha

e o neto do sapateiro.

Mesmo quando está sozinha, inventa uma brincadeira.

E transforma em companheiro cada medo que ela tinha:

O raio virou orrái;

barata é tabará;

a bruxa virou xabru;

e o diabo é bodiá.

FIM

( Ah, outros companheiros da Chapeuzinho Amarelo:

o Gãodra, a Jacoru,

o Barãotu, o Pão Bichôpa…

e todos os trosmons).

Disponível em: http://contobrasileiro.com.br/chapeuzinho-amarelo-poema-de-chico-buarque/. Acesso em: 05 de Agosto de

2017.

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TEXTO 08

RAPUNZEL Especial: Contos de Fadas Originais

O conto da Rapunzel pertence originalmente a Charlotte-Rose de Caumont de La Force, publicado em

1698, mas teve adaptação dos Irmãos Grimm em 1812. O conto não teve muitas mudanças drásticas,

apenas foi amenizado durante os anos.

Rapunzel era o nome de um vegetal, e a mãe de Rapunzel convence ao

marido pegar um pouco dessa planta para que coma, então ele entra em um

jardim proibido, pois sua mulher estava querendo desesperadamente o vegetal, e

esse desejo era um sintoma de sua gravidez. O Jardim era da propriedade de uma

feiticeira, que pegou o homem e o acusou de furto, ele explicou a situação, mas

em troca a bruxa queria que lhe entregassem a filha que iria nascer.

A Bruxa lhe dá o nome de Rapunzel, o nome da planta que seu pai

biológico furtou, então, a vida de Rapunzel com sua nova mãe ia bem, até que

completou doze anos, a Bruxa colocou-a em uma torre, onde era impossível subir

sem uma escada, mas o cabelo de Rapunzel nunca tinha sido cortado, e era

conservado como uma enorme trança. Quando a feiticeira chegava toda manhã, ela gritava: ‘Jogue suas

tranças de ouro Rapunzel’. Assim a menina jogava, e a Bruxa subia levando comida.

Um dia um príncipe escuta Rapunzel cantando dentro de sua torre, mas logo avista a Bruxa

chegando, e presta bem atenção como ela faz. Depois que ela vai embora, o príncipe diz a mesma coisa, e

Rapunzel joga novamente as tranças, ele sobe e assim começa um namoro, depois de algumas visitas, o

namoro é regado a sexo até que Rapunzel fica grávida, e não conhece os mistérios de um parto ou uma

barriga, então pergunta para sua mãe por que o seu vestido está crescendo e esta ficando apertado em torno

do estomago.

Com raiva, a Bruxa percebe que ela esta se encontrando com algum homem, ela corta a trança de

Rapunzel que a expulsa da torre, colocando-a em um deserto das proximidades. Depois espera o príncipe

chegar, e joga as tranças de Rapunzel, assim que ele sobe o cabelo, fica frente a frente com a Bruxa, então

ela o empurra lá de cima, e ele cai em espinheiro que o fura os olhos, assim tornando-se cego.

Rapunzel e o príncipe ficam separados um tempo no começo, mas depois quando ele caminha

mesmo batendo nas arvores, escuta uma musica como se tivesse escutado pela primeira vez quando

conhece Rapunzel, assim os dois se encontram e as lagrimas de Rapunzel curam a cegueira do príncipe,

logo após isso, ele leva Rapunzel ao sei reino, e podemos dizer que este é um final feliz, mas ninguém sabe

o que aconteceu com a Bruxa ou os filhos de Rapunzel.

Moral da Rapunzel Original: O amadurecimento de uma criança para a vida adulta não pode ser

interrompido, e as mulheres grávidas podem ter desejos estranhos enquanto estão grávidas. Disponível em: http://misteriosfantasticos.blogspot.com.br/2011/08/rapunzel.html. Acesso em: 03 de Agosto de 2017.

TEXTO 09

SINOPSE E DETALHES

Data de lançamento 9 de novembro de 2016 (1h 41min)

Direção: Byron Howard, Nathan Greno

Elenco: Luciano Huck, Mandy Moore, Zachary Levi mais

Gêneros Animação, Família

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Nacionalidade EUA

Flynn Ryder (Zachary Levi/Luciano Huck) é o bandido mais

procurado e sedutor do reino. Um dia, em plena fuga, ele se esconde

em uma torre. Lá conhece Rapunzel (Mandy Moore), uma jovem

prestes a completar 18 anos que tem um enorme cabelo dourado, de

21 metros de comprimento. Rapunzel deseja deixar seu confinamento

na torre para ver as luzes que sempre surgem no dia de seu

aniversário. Para tanto, faz um acordo com Flynn. Ele a ajuda a fugir

e ela lhe devolve a valiosa tiara que tinha roubado. Só que a mamãe Gothel (Donna Murphy), que manteve

Rapunzel na torre durante toda a sua vida, não quer que ela deixe o local de jeito nenhum.

Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-135523/. Acesso em: 04 de Agosto de 2017.

TEXTO 10

Poema – Profundamente, de Manuel Bandeira

Profundamente

Manuel Bandeira

Quando ontem adormeci

Na noite de São João

Havia alegria e rumor

Estrondos de bombas luzes de Bengala

Vozes, cantigas e risos

Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei

Não ouvi mais vozes nem risos

Apenas balões

Passavam, errantes

Silenciosamente

Apenas de vez em quando

O ruído de um bonde

Cortava o silêncio

Como um túnel.

Onde estavam os que há pouco

Dançavam

Cantavam

E riam

Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos

dormindo

Estavam todos

deitados

Dormindo

Profundamente.

Quando eu tinha seis anos

Não pude ver o fim da festa de São João

Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo

Minha avó

Meu avô

Totônio Rodrigues

Tomásia

Rosa

Onde estão todos eles?

— Estão todos dormindo

Estão todos deitados

Dormindo

Profundamente.

Texto extraído do livro "Antologia Poética - Manuel

Bandeira", Editora Nova Fronteira – Rio de Janeiro, 2001,

pág. 81.

TEXTO 11

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS

Resenha "A Menina que roubava livros", de Markus Zusak.

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Zusak, M. A menina que roubava livros. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008.

Markus Zusak encontrou um meio de escrever um romance ímpar que retrata com muita lucidez os

horrores do período Hitleriano, da própria Segunda Guerra Mundial. Uma jovem durante o período da

Alemanha nazista lutando intimamente para defender seus princípios, por não se deixar manipular pelo

tétrico ideal de Hitler, ao passo que ela amadurece e aflora para o primeiro amor, um sentimento platônico.

Zusak ainda chama a atenção para algo muito importante: o poder das palavras, a influência delas sobre o

ser humano; o que elas conseguiam – e ainda hoje o logram - levar as pessoas a crer e a fazer.

O livro é uma narrativa da Morte, seu foco é a vida de Liesel e o

que a ela for relacionado. Organiza-se em dez partes, cada qual com

cerca de quarenta páginas, mais o prólogo onde a narradora apresenta a

ela mesma e a nossa protagonista e ainda um epílogo falando sobre a

morte de Liesel e o destino de alguns dos personagens secundários.

Posteriormente há uma parte dedicada aos agradecimentos do autor e

um trecho falando sobre ele.

Nossa narradora mostra-se muito diferente do juízo que lhe fazemos. Em partes do livro ela busca

dialogar com o leitor, mostrando que apesar de não ser humana, tem de certa forma sentimentos. Empós

apresentar-se ela explica o porquê de seu interesse em Liesel: “O que, por sua vez, me traz ao assunto de

que lhe estou falando [...]. É a história de um desses sobreviventes perpétuos – uma especialista em ser

deixada para trás. ”. Ao final do livro ela reafirma algo que deixa bem claro durante a história: “Os seres

humanos me assombram”...

“A menina que roubava livros” conta a história de uma menina de nome Liesel Meminger que,

durante uma viagem de trem com destino a cidade alemã de Molching, ao despertar encontra o seu irmão

que viajava a seu lado, morto. No trajeto é feita uma parada para inumar o menino, e, é no cemitério onde

nossa protagonista faz o primeiro de seus roubos: um dos coveiros, incauto, deixa cair à neve um livro

intitulado “Manual do Coveiro”. Em chegando a cidade de destino, Liesel descobre que seria entregue a

uma família adotiva; reluta muito em partir dos braços da mãe consanguínea, mas acaba cedendo. Nossa

protagonista passa a viver com Hans e Rosa Hubermann, sua nova parentela. A partir de então, Liesel ao

decorrer da história, recebe letramento, faz amizades e, passa a roubar livros

da biblioteca da mulher do prefeito, Ilsa Hermann (com certo consentimento

da proprietária). Ao lado de seu amigo Rudy, ela constrói uma amizade

solidária e uma cumplicidade nos furtos, além de um amor castiço e terno.

Ao fim do livro, a cidade de Molching é bombardeada pelas forças

Aliadas e, não em tempo as sirenes de alerta foram acionadas. Foi uma

chacina. Liesel foi, quiçá, a única sobrevivente da Rua Himmel. Ela passara as

noites no porão da humilde casa de número 33, escrevendo em seu livro – um

diário que lhe fora presenteado por Ilsa Hermann alguns dias antes. Ora

novamente órfã Liesel é adotada por Ilsa Hermann e seu marido. Ilsa perdera o

único filho alguns anos antes - o rapaz lutava na guerra. Liesel Meminger cresce, vai morar em Sydney,

constitui família e morre em idade avançada.

Page 21: Módulo Didático: Luz, CLIC e Ação: A Reciprocidade Cultural entre a Literatura e a Arte Cinematográfica (2017.2)

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Esta obra literária devo admitir, aprazou a este que vos escreve. A ideia de Markus Zusak ao grafar

um drama cujo cenário é a Alemanha nazista, retratando os horrores desse período, é deveras interessante.

Uma jovem menina que vê (assim qual uma minoria de outras pessoas alemãs) um absurdo nos ideais de

Hitler, mas, por coação, mantém a aparência de nazista, muito embora, durante parte da história os

Hubermann e Liesel abriguem secretamente um judeu em seu porão.

O livro mostra o caos que foi a Alemanha nesse período: íncolas alemães passando fome com o

racionamento de víveres, o temor de ser considerado um traidor ou mesmo de ser alvo de desconfianças por

parte dos membros do partido nazista, a coerção para que todos se alistassem a essa facção e, a perseguição

aos que se negavam. O fanatismo de maioria dos alemães, o nacionalismo exagerado, a arrogância. A

perseguição aos judeus e a quem não fosse etnicamente alemão. O sofrimento das famílias – não só judias,

mas inclusive alemãs como também russas e outras tantas - que perdiam seus parentes nas batalhas; das

mães que perderam seus filhos ainda pequenos por conta dos bombardeios; pessoas que foram mutiladas

pelo conflito. Atrocidades tamanhas que expõem o lado mãos sombrio, perverso e dantesco da natureza

humana, capaz de apavorar até mesmo a singular narradora (“os seres humanos me assombram”).

Esta obra possui sem dúvida valor pedagógico; como sempre indigitando o mérito da Literatura

qual instrumento de granjear conhecimentos vários. Trata-se de um texto mais indicado, talvez, a alunos a

partir do segundo ano do Ensino Médio, dada a qualidade do escrito.

Markus Frank Zusak nasceu em Sydney em 23 de junho de 1975, é famoso pelo seu Best-seller

internacional “A menina que roubava livros”, também é autor de “Fighting Ruben Wolf”, “Getting the

Girl”, “Eu sou o mensageiro”, dentre outros, todos recebidos com críticas resplandecentes às revistas

Publishers Weekly, School Library Journal, KLIATT, The Bulletin e Booklist. Recebeu o Prêmio Livro do

Ano para Leitores Mais Velhos, concedido pelo Conselho Australiano de Livros Infantis.

Farias, M.S. "Resenha de 'A menina que roubava livros', de Markus Zusak". Junho de 2012. http://livredialogo.blogspot.com.br/

Disponível em: http://livredialogo.blogspot.com.br/2012/06/resenha-do-livro-menina-que-roubava.html Acesso em: 15 de agosto de 2017.

TEXTO 12

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS

Sinopse do Filme:

Adaptação de A Menina que Roubava Livros, do australiano Markus Zusak, o filme acompanha a

história de Liesel Meminger (interpretada pela canadense Sophie Nélisse. Durante a Segunda Guerra

Mundial, Liesel e seu irmão são deixados pelos pais e adotados por um casal vivido por Geoffrey Rush (O

Discurso do Rei) e Emily Watson (Anna Karenina). O garoto morre no trajeto e é enterrado por um

coveiro que deixa cair um livro na neve. Ela aprende a ler com o incentivo de sua nova família e Max, um

judeu refugiado que eles escondem baixo às escada. Para Liesel e Max, o poder das palavras e da

imaginação se transformam em escape dos tumultuosos eventos que acontecem ao seu redor. Em meio ao

caos, a jovem encontra refúgio na literatura para sobreviver. Ajudada por seu pai adotivo, ela passa a

roubar livros e descobrir neles a esperança perdida durante a guerra.

Disponível em: http://cinema10.com.br/filme/a-menina-que-roubava-livros. Acesso em: 19 de agosto de 2017.

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TEXTO 13

DIFERENÇA ENTRE: ÁGAPE, EROS E PHILOS

Daniel Conegero

A palavra amor é bastante ampla. Afinal, o amor que você sente por um irmão, por exemplo, é

diferente do que sente por um marido ou esposa. A palavra Ágape, que é de origem grega, representa um

dos tipos de amor. Além desta, existem outras que representam os outros tipos de amor, são elas: Eros e

Philos. Um complementa o outro.

Eros: A palavra grega “Eros” é usada para designar o amor romântico. Um

tipo de amor bem exemplificado pelo amor entre um homem e uma mulher.

Ágape: Já a palavra ágape fica melhor traduzida por amor de Deus. Deus é

ágape, ou seja, amor. O termo grego significa, portanto, o amor

característico de Deus. É lógico que esse amor é diferente do afeto humano,

que pode transformar-se em ódio da noite para o dia, no entanto, o amor

ágape nunca falha.

Philos: De certa forma, o amor Philos também tem um pouco do amor fraternal Ágape, pois se refere à

amizade, ao sentimento que se tem pelas pessoas que te cercam. Porém, se diferencia porque não chega a

ser espiritual, é mais um sentimento relacionado ao pensamento, é algo mental. É usada para descrever

aquele amor que tem como principal característica o companheirismo, a amizade, a bondade para com o

próximo.

Então, basicamente podemos dizer que:

1º - Eros se refere ao amor apaixonado, geralmente transmitindo entre duas pessoas que se atraem.

2º - Philos se refere ao amor que expressa nosso gosto ou predileção por alguém, isto é, o amor por pessoas

próximas a nós, como amigos e familiares.

3º - Ágape é algo muito mais elevado, um amor que tem origem divina e transcende os sentidos meramente

humanos. Enquanto eros e philos podem ser entendidos como sentimentos condicionais que geram

benefícios, ágape é incondicional e sacrifical. Ágape é o tipo de amor que devemos amar a Deus e ao

próximo, mesmo que esse próximo sejam pessoas que não gostamos.

Disponível em: http://www.culturamix.com/cultura/agape/ acesso em: 15 de agosto de 2017.

TEXTO 14

PRESSÁGIO Fernando Pessoa

O AMOR, quando se

revela,

Não se sabe revelar.

Sabe bem olhar p'ra ela,

Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que

sente

Não sabe o que há de

dizer.

Fala: parece que mente...

Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar,

E se um olhar lhe bastasse

P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente

Fica sem alma nem fala,

Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,

Já não terei que falar-lhe

Porque lhe estou a falar...

"Fernando Pessoa - Obra Poética - Inéditas", Cia. José

Aguilar Editora - Rio de Janeiro, 1972, pág. 513

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23

TEXTO 15

Tirinha “DESENHOS DE UM GAROTO SOLITÁRIO”

Disponível em: http://meucantinhodeecorado.blogspot.com.br/2013/12/fofura-do-dia-eu-te-asmo.html Acesso em; 15 de agosto

de 2017.

TEXTO 16

ÚLTIMO ROMANCE

Los Hermanos

Eu encontrei-a quando não quis

Mais procurar o meu amor

E quanto levou foi pr'eu merecer

Antes um mês e eu já não sei

E até quem me vê lendo o jornal

Na fila do pão, sabe que eu te encontrei

E ninguém dirá que é tarde demais

Que é tão diferente assim

Do nosso amor a gente é que sabe, pequena

Ah, vai

Me diz o que é o sufoco

Que eu te mostro alguém

A fim de te acompanhar

E se o caso for de ir à praia

Eu levo essa casa numa sacola

Eu encontrei-a e quis duvidar

Tanto clichê, deve não ser

Você me falou pr'eu não me preocupar

Ter fé e ver coragem no amor

E só de te ver, eu penso em trocar

A minha TV, num jeito de te levar

A qualquer lugar que você queira

E ir aonde o vento for

Que pra nós dois

Sair de casa já é se aventurar

Ah, vai

Me diz o que é o sossego

Que eu te mostro amor

A fim de te acompanhar

E se o tempo for te levar

Eu sigo essa hora e pego carona

Pra te acompanhar

Disponível em: https://www.letras.mus.br/los-hermanos/67547/ Acesso

em: 15 de agosto de 2017

.TEXTO 17

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Segredos

Frejat

Eu procuro um amor

Que ainda não encontrei

Diferente de todos que amei

Nos seus olhos quero descobrir

Uma razão para viver

E as feridas dessa vida

Eu quero esquecer

Pode ser que eu a encontre

Numa fila de cinema

Numa esquina

Ou numa mesa de bar

Procuro um amor

Que seja bom pra mim

Vou procurar

Eu vou até o fim

E eu vou tratá-la bem

Pra que ela não tenha medo

Quando começar a conhecer

Os meus segredos

Hum! Hum! Huuuum!

Eu procuro um amor

Uma razão para viver

E as feridas dessa vida

Eu quero esquecer

Pode ser que eu gagueje

Sem saber o que falar

Mas eu disfarço

E não saio sem ela de lá

Procuro um amor

Que seja bom pra mim

Vou procurar

Eu vou até o fim

E eu vou tratá-la bem

Pra que ela não tenha

medo

Quando começar a conhecer

Os meus segredos

Hum! Hum! Huuuum!

Hum! Hum! Huuuum!

Procuro um amor

Que seja bom pra mim

Vou procurar

Eu vou até o fim

Eu procuro um amor

Que seja bom pra mim

Vou procurar

Eu vou até o fim

Disponível em: https://www.letras.mus.br/frejat/64374/

acesso em: 15 de agosto de 2017.

TEXTO 18

Sinopse do filme Marley & Eu

John e Jenny eram jovens, apaixonados e estavam começando a sua vida juntos,

sem grandes preocupações, até ao momento em que levaram para casa Marley,

"uma bola de pêlo amarelo em forma de cachorro", que, rapidamente, se

transformou num labrador enorme e encorpado de 43 quilos.Era um cão como

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não havia outro nas redondezas: arrombava portas, esgadanhava paredes, babava nas visitas, comia roupa

do varal alheio e abocanhava tudo a que pudesse. De nada lhe valeram os tranquilizantes receitados pelo

veterinário, nem a "escola de boas maneiras", de onde, aliás, foi expulso. Mas, acima de tudo, Marley tinha

um coração puro e a sua lealdade era incondicional. Imperdível.

Disponível em: http://www.cafecomfilme.com.br/filmes/marley-e-eu acesso em: 15 de agosto de 2017.

TEXTO 19

CENAS DO HQ - MULHER MARAVILHA: TERRA UM

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TEXTO 20

ENTRE A ESPADA E A ROSA

Marina Colasanti

Qual é a hora de casar, senão aquela em que o coração diz "quero"? A hora que o pai escolhe. Isso

descobriu a Princesa na tarde em que o Rei mandou chamá-la e, sem rodeios, lhe disse que, tendo decidido

fazer aliança com o povo das fronteiras do Norte, prometera dá-la em casamento ao seu chefe. Se era velho

e feio, que importância tinha frente aos soldados que traria para o reino, às ovelhas que poria nos pastos e

às moedas que despejaria nos cofres? Estivesse pronta, pois breve o noivo viria buscá-la.

De volta ao quarto, a Princesa chorou mais lágrimas do que acreditava ter para chorar. Embotada na

cama, aos soluços, implorou ao seu corpo, a sua mente, que lhe fizesse achar uma solução para escapar da

decisão do pai. Afinal, esgotada, adormeceu.

E na noite sua mente ordenou, e no escuro seu corpo ficou. E ao acordar de manhã, os olhos ainda ardendo

de tanto chorar, a Princesa percebeu que algo estranho se passava. Com quanto medo correu ao espelho!

Com quanto espanto viu cachos ruivos rodeando-lhe o queixo! Não podia acreditar, mas era verdade. Em

seu rosto, uma barba havia crescido.

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Passou os dedos lentamente entre os fios sedosos. E já estendia a mão procurando a tesoura, quando

afinal compreendeu. Aquela era a sua resposta. Podia vir o noivo buscá-la. Podia vir com seus soldados,

suas ovelhas e suas moedas. Mas, quando a visse, não mais a quereria. Nem ele nem qualquer outro

escolhido pelo Rei.

Salva a filha, perdia-se porém a aliança do pai. Que tomado de horror e fúria diante da jovem barbada, e

alegando a vergonha que cairia sobre seu reino diante de tal estranheza, ordenou-lhe abandonar o palácio

imediatamente.

A Princesa fez uma trouxa pequena com suas jóias, escolheu um vestido de veludo cor de sangue. E,

sem despedidas, atravessou a ponte levadiça, passando para o outro lado do fosso. Atrás ficava tudo o que

havia sido seu, adiante estava aquilo que não conhecia.

Na primeira aldeia aonde chegou, depois de muito caminhar, ofereceu-se de casa em casa para fazer

serviços de mulher. Porém ninguém quis aceitá-la porque, com aquela barba, parecia-lhes evidente que

fosse homem. Na segunda aldeia, esperando ter mais sorte, ofereceu-se para fazer serviços de homem. E

novamente ninguém quis aceitá-la porque, com aquele corpo, tinham certeza de que era mulher.

Cansada mas ainda esperançosa, ao ver de

longe as casas da terceira aldeia, a Princesa pediu

uma faca emprestada a um pastor, e raspou a

barba. Porém, antes mesmo de chegar, a barba

havia crescido outra vez, mais cacheada, brilhante e

rubra do que antes.

Então, sem mais nada pedir, a Princesa vendeu

suas jóias para um armeiro, em troca de uma

couraça, uma espada e um elmo. E, tirando do

dedo o anel que havia sido de sua mãe, vendeu-o

para um mercador, em troca de um cavalo. Agora,

debaixo da couraça, ninguém veria seu corpo, debaixo do elmo, ninguém veria sua barba. Montada a

cavalo, espada em punho, não seria mais homem, nem mulher. Seria guerreiro.

E guerreiro valente tornou-se, à medida que servia aos Senhores dos castelos e aprendia a manejar as

armas. Em breve, não havia quem a superasse nos torneios, nem a vencesse nas batalhas. A fama da sua

coragem espalhava-se por toda parte e a precedia. Já ninguém recusava seus serviços. A couraça falava

mais que o nome. Pouco se demorava em cada lugar. Lutava cumprindo seu trato e seu dever, batia-se com

lealdade pelo Senhor. Porém suas vitórias atraíam os olhares da corte, e cedo os murmúrios começavam a

percorrer os corredores. Quem era aquele cavaleiro, ousado e gentil, que nunca tirava os trajes de batalha?

Por que não participava das festas, nem cantava para as damas? Quando as perguntas se faziam em voz

alta, ela sabia que era chegada a hora de partir. E ao amanhecer montava seu cavalo, deixava o castelo, sem

romper o mistério com que havia chegado.

Somente sozinha, cavalgando no campo, ousava levantar a viseira para que o vento lhe refrescasse o

rosto acariciando os cachos rubros. Mas tornava a baixá-la, tão logo via tremular na distância as bandeiras

de algum torreão.

Assim, de castelo em castelo, havia chegado àquele governado por um jovem Rei. E fazia algum tempo que

ali estava.

Desde o dia em que a vira, parada diante do grande portão, cabeça erguida, oferecendo sua espada,

ele havia demonstrado preferi-la aos outros guerreiros. Era a seu lado que a queria nas batalhas, era ela que

chamava para os exercícios na sala de armas, era ela sua companhia preferida, seu melhor conselheiro.

Com o tempo, mais de uma vez, um havia salvo a vida do outro. E parecia natural, como o fluir dos dias,

que suas vidas transcorressem juntas. Companheiro nas lutas e nas caçadas, inquietava-se porém o Rei

vendo que seu amigo mais fiel jamais tirava o elmo. E mais ainda inquietava-se, ao sentir crescer dentro de

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si um sentimento novo, diferente de todos, devoção mais funda por aquele amigo do que um homem sente

por um homem. Pois não podia saber que à noite, trancado o quarto, a princesa encostava seu escudo na

parede, vestia o vestido de veludo vermelho, soltava os cabelos, e diante do seu reflexo no metal polido,

suspirava longamente pensando nele.

Muitos dias se passaram em que, tentando fugir do que sentia, o Rei evitava vê-la. E outros tantos em

que, percebendo que isso não a afastava da sua lembrança, mandava chamá-la, para arrepender-se em

seguida e pedia-lhe que se fosse.

Por fim, como nada disso acalmasse seu tormento, ordenou que viesse ter com ele. E, em voz áspera, lhe

disse que há muito tempo tolerava ter a seu lado um cavaleiro de rosto sempre encoberto. Mas que não

podia mais confiar em alguém que se escondia atrás do ferro. Tirasse o elmo, mostrasse o rosto. Ou teria

cinco dias para deixar o castelo.

Sem resposta, ou gesto, a Princesa deixou o salão, refugiando-se no seu quarto. Nunca o Rei poderia

amá-la, com sua barba ruiva. Nem mais a quereria como guerreiro, com seu corpo de mulher. Chorou todas

as lágrimas que ainda tinha para chorar. Dobrada sobre si mesma, aos soluços, implorou ao seu corpo que

lhe desse uma solução. Afinal, esgotada, adormeceu.

E na noite seu mente ordenou, e no escuro seu corpo brotou. E ao acordar de manhã, com os olhos

inchados de tanto chorar, a Princesa percebeu que algo estranho se passava. Não ousou levar as mãos ao

rosto. Com medo, quanto medo! Aproximou-se do escudo polido, procurou seu reflexo. E com espanto,

quanto espanto! Viu que, sim, a barba havia desaparecido. Mas em seu lugar, rubras como os cachos, rosas

lhe rodeavam o queixo.

Naquele dia não ousou sair do quarto, para não ser denunciada pelo perfume, tão intenso, que ela própria

sentia-se embriagar de primavera. E perguntava-se de que adiantava ter trocado a barba por flores, quando,

olhando no escudo com atenção, pareceu-lhe que algumas rosas perdiam o viço vermelho, fazendo-se mais

escuras que o vinho. De fato, ao amanhecer, havia pétalas no seu travesseiro.

Uma após a outra, as rosas murcharam, despetalando-se lentamente. Sem que nenhum botão viesse

substituir as flores que se iam. Aos poucos, a rósea pele aparecia. Até que não houve mais flor alguma. Só

um delicado rosto de mulher.

Era chegado o quinto dia. A Princesa soltou os cabelos, trajou seu vestido cor de sangue. E, arrastando a

cauda de veludo, desceu as escadarias que a levariam até o Rei, enquanto um perfume de rosas se

espalhava no castelo.

Disponível em: http://nucleoatmosfera.blogspot.com.br/2009/07/entre-espada-e-rosa-conto-

de-marina.html. Acesso em: 19 de agosto de 2017.

TEXTO 21

Ontologias visuais incompatíveis?

A adaptação problemática de imagens

Desenhadas

Pascal Lefévre

Tradução * de Camila Augusta Pires de Figueiredo.

O famoso diretor francês Alain Resnais (THOMAS, 1990, p. 247) revelou sua visão negativa sobre

adaptações fílmicas de quadrinhos em 1990. Adaptações de quadrinhos dificilmente ganham

reconhecimento canônico e raramente aparecem nas listas de melhores filmes de todos os tempos.

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Não só essas adaptações dificilmente agradam os críticos, mas também não parecem ter um grande

apelo junto aos leitores de quadrinhos. Críticos de cinema e fás de quadrinhos parecem concordar que é

difícil produzir um bom filme a partir de uma HQ.5 Já o público de cinema é menos severo. Ainda assim,

algumas adaptações de quadrinhos foram grandes sucessos de bilheteria, dentre elas Superman, de Richard

Donner (1978), Batman, de Tim Burton (1989), Homens de Preto, de Barry Sonnenfeld (1997) e Homem-

Aranha, de Sam Raimi (2002). O sucesso dos quadrinhos que serviram como base para as adaptações não

explica completamente o sucesso das adaptações fílmicas; tais filmes parecem atrair um público que

raramente lé quadrinhos. Além disso, todas essas adaptações geraram um grande número de sequências

cinematográficas. Adaptações de quadrinhos parecem ser populares tanto quanto controversas. Enquanto

alguns analistas (PEETERS, 1996)7 reconhecem aspectos criativos de algumas adaptações, outros críticos

(FREMION, 1990, p. 166) declaram abertamente que a adaptação é preferida por aqueles com talento

medíocre. Alguns artistas de quadrinhos chegam a se opor à ideia de uma adaptação fílmica. Art

Spiegelman, por exemplo, não gostaria de ver Maus adaptado como um filme live action porque considera

o estilo metafórico da narrativa essencial e impossível de ser adaptado por outra mídia que não a dos

quadrinhos.

Contudo, por várias vezes já foi dito que existe uma maior proximidade entre o cinema e os

quadrinhos do que entre o cinema e outras artes visuais (CHRISTIANSEN, 2000, p. 107; COSTA, 2002, p.

24). Filmes e HQs são mídias que contam histórias através de séries de imagens: o espectador vê pessoas

atuando — enquanto em um romance as ações devem ser descritas verbalmente. Mostrar é narrar no

cinema e nas HQs. Porém, enquanto as narrativas fílmicas clássicas situam o espectador no centro do

espaço diegético, os quadrinhos, por outro lado, estão firmados em uma tradição parodística

(CHRISTIANSEN, 2000, p. 118). Desde o século dezenove, a maioria dos quadrinhos tem como principal

característica o uso de deformações, geralmente caricaturais, em diversos graus. Do mesmo modo, a

disputa entre textos e figuras e o fato que as figuras são

desenhadas lembram o leitor de sua condição artificial. Além

disso, filmes e HQs diferem significativamente não apenas na

maneira como são vivenciadas e recebidas pelo público, mas

também em sua forma material. Isso introduz várias

questões problemáticas para uma adaptação de uma HQ para

um filme live action. Em particular, a ontologia visual do

desenho parece ser uma questão central, como será

demonstrado neste ensaio. Mas, além disso, há também o

problema da primazia: normalmente, as pessoas preferem a

primeira versão que encontram de uma história. Quando você lê um romance antes, você forma uma

imagem mental pessoal do mundo fictício e quando você lê uma HQ antes, você constrói uma ideia visual

cinética daquilo. Qualquer adaptação fílmica tem de lidar com essas primeiras interpretações e imagens

pessoais: torna-se extremamente difi'cil exorcizar essas primeiras impressões.

Neste artigo, o termo "adaptação" é usado em um sentido amplo, incluindo também filmes

diretamente inspirados por uma determinada HQ ou série de HQs.1° Adaptações em formato de animação

não serão discutidas. Adaptações em animação merecem uma análise própria, mas a maioria dos problemas

de adaptações live action também assombrará as versões em animação.

Diferentemente das únicas e originais obras de pintura e escultura, apenas cópias de filmes e HQs

são distribuídas e consumidas. O filósofo de arte Walter Benjamim argumentou que a aura da obra de arte

se deteriorou na era da reprodução mecânica porque o objeto reproduzido é separado do domínio da

tradição. Apesar de dividirem uma similaridade fundamental (consumo em massa), filmes e HQs ainda

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possuem algumas diferenças em relação ao modo de recepção e de consumo. As duas diferenças principais

são a forma material das imagens e os aspectos sociais da recepção. A diferença no modo de recepção ou

de consumo é a atividade individual (quadrinhos) contra a experiência em grupo (cinema). Enquanto a

leitura de uma HQé uma ação solitária, assistir a um filme no cinema é geralmente uma experiência em

grupo: as pessoas se reúnem em salas de ci,nema em determinados momentos para assistirem a um filme

juntas. Muitos espectadores compartilham emoções ao mesmo tempo: eles riem e choram juntos. Reações

de outros espectadores podem facilitar essas respostas emocionais durante uma exibição. Ler uma HQ, ao

contrário, não envolve uma troca emocional direta com outras pessoas. Apenas quando a leitura chega ao

final, o leitor da HQ pode compartilhar suas emoções com outros. A exibição de um filme exige atenção

por parte do espectador, uma vez que o lugar escuro, a luz da projeção e a música alta ajudam a manter

uma atmosfera aural e mantêm espectadores atentos à ação reproduzida na tela. Ler uma HQ, no entanto,

necessariamente não acontece em um ambiente tão desprovido de distrações. Ainda assim, o leitor pode se

isolar fisicamente e mentalmente.

Não só a recepção, mas também a produção da HQ e do filme é diferente. Por necessidade, a

produção de um filme implica uma maior organização e orçamento do que a produção de uma HQ. A parte

criativa no filme é feita por um grupo de pessoas (escritor, fotógrafo, diretor, ator, editor, entre outros),

enquanto as ações de desenhar e escrever uma HQ podem ser feitas por um grupo pequeno ou por apenas

uma pessoa. Este ensaio, entretanto, enfatiza as diferenças visuais entre as duas mídias. Apesar de uma

aparente concordância — ao menos quando comparamos filmes e romances — o ato de justapor suas

ontologias visuais inerentes traz à tona as razões pelas quais os

fás de quadrinhos podem literalmente "ver" adaptações

fílmicas muitas vezes como infiéis e até mesmo desrespeitosas.

Existem quatro principais problemas na adaptação de

quadrinhos para o cinema e três deles estão relacionados às

características da mídia dos quadrinhos: os quadros são

organizados em uma página, os quadros possuem desenhos

estáticos e uma HQ não produz ruídos ou sons. O filme é bem

diferente. Primeiramente, existe o enquadramento da tela; segundo, as imagens são móveis e fotográficas;

terceiro, o filme possui uma trilha sonora. Essas diferenças nas características das duas mídias se revelam

como os quatro problemas da adaptação, a dizer do (1) processo de subtração/adição que ocorre na

reescrita de textos quadrinizados originais para o filme; (2) as características únicas do layout da página e

da tela do filme; e (3) os dilemas da tradução de desenhos para a fotografia; e (4) a importância do som no

filme comparada ao "silêncio" dos quadrinhos. Diante de tais problemas, talvez a questão principal sobre a

adaptação fílmica de quadrinhos não seja "quão fiel/respeitoso á HQ o filme será", mas "quão menos

diferente da HQ pode o filme ser?"

A questão inicial para a maioria das adaptações é se os roteiristas seguirão ou não a narrativa como

apresentada na HQ, ou se eles tomarão o material existente apenas como um ponto inicial interessante para

escrever uma nova história com vários acréscimos. Poucas adaptações respeitam meticulosamente a

narrativa de uma determinada HQ. Todo profissional do cinema sabe que essa é uma mídia que possui suas

próprias leis e regras. Uma adaptação direta raramente é uma boa opção: alguns elementos podem

funcionar maravilhosamente em uma HQ, mas podem não funcionar no contexto de um filme. Geralmente

o roteirista de um filme tem de eliminar algumas cenas, acrescentar outras, além de desenvolver

personagens principais ou introduzir outros novos. Por exemplo, os dois policiais da HQ Do Inferno

(Moore e Campbell) são combinados em somente um personagem no filme. A necessidade de tais

modificações na maior parte das vezes é simplesmente consequência das normas de duração da narrativa

que é diferente nas duas mídias. Considerando que a versão quadrinizada de Do Inferno tem centenas de

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páginas, nem todas as sequências desenhadas foram filmadas. Assim, o texto original é inevitavelmente

alterado. Alan Moore, criador de Do Inferno, (MOUCHART, 2004, p30) explica que não se importa muito

com adaptações: "Eu me forço a não ter uma opinião [sobre adaptações]. Aqueles filmes não se parecem

com os meus livros. Se são bons filmes, é mérito dos diretores. Não tem nada a ver comigo. O mesmo

acontece se os filmes são medíocres. Eu me interesso em vê-los, mas uma vez que eu não gosto de

trabalhar para Hollywood e cinema não é uma das minhas mídias preferidas, eu não me sinto muito

envolvido nestes projetos."

A maioria dos criadores de quadrinhos (como Daniel

Clowes, Stan Lee, Enki Bilal) entende que um filme geralmente

necessita de mudanças em relação ao material original. Enki Bilal

enfatiza que Immortel não é uma adaptação de sua trilogia

Nikopol, mas uma reescrita (réécriture) desta. Em uma entrevista ele

explica que foi importante — dentre outras coisas —incluir alguns

assuntos em voga hoje em dia e esquecer outros aspectos

(BERNIÈRE, 2005, p. 12).

Ao contrário dos artistas, os apaixonados fãs das obras

originais raramente aplaudem tais reescritas. Por exemplo, as mudanças nos figurinos e nas motivações dos

personagens nos filmes X-Men desagradaram

alguns fás (LEE, 2000). Os lança teias orgânicos

do Homem-Aranha no filme de Sam Raimi

parecem representar um problema para alguns fãs

porque na versão original da história em

quadrinhos os lança teias foram uma invenção

tecnológica do jovem cientista Peter Parker.

Quando Kenneth Plume perguntou a Stan Lee,

criador do Homem-Aranha, sobre essa questão ele

respondeu que a versão do filme funcionou:

"Talvez alguns puristas que conhecem a HQ

devem pensar 'Puxa, eles não fizeram da maneira que era nos quadrinhos' mas a pessoa comum assistindo

ao filme não teria problema com as teias saindo de suas mãos daquela maneira" (LEE, 2000). Alguns fãs de

quadrinhos tendem a idolatrar a obra original e escrutinizam uma adaptação fílmica por supostas falhas ou

erros de interpretação. Quase todas as tentativas de adaptação se tornam, aos olhos destes, algum tipo de

traição. Além disso, tais adaptações fílmicas oferecem aos fás de super-heróis uma oportunidade única de

exibirem seu conhecimento quase autista-savant1de uma determinada série de quadrinhos de super-heróis.

Aos olhos do grande público e, em particular, da elite cultural, esses fãs de super-heróis não são bem

vistos: ler histórias em quadrinhos de super-heróis é geralmente associado a um comportamento infantil.

O dilema então é: um filme que segue muito fielmente uma HQ raramente será um bom filme. Uma

vez que se trata de outra mídia com outras características e regras, o diretor tem de modificar a obra

original. Assim como em um filme histórico, não é possível representar as situações exatamente como elas

eram; é, portanto, bem mais importante tentar ser fiel ao espírito da obra original. Com certeza, cada

decisão está aberta a discussão e nem todas as decisões de um diretor são necessariamente boas.

O segundo problema se relaciona à transição do layout da página para a imagem em uma única tela.

Enquanto as imagens dos quadrinhos são em sua maior parte impressas no papel, as imagens do filme são

projetadas em uma tela, tipicamente widescreen em uma sala de cinema ou na tela de televisão em casa.

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Essa diferença é importante porque as páginas de uma HQ estão mais próximas do que as imagens

projetadas de um filme. São os leitores que folheiam as páginas da HQ e escolhem sua própria velocidade

de leitura. Eles podem se delongar em um quadro, contemplar o plano completo e retornar para quadros ou

sequências inteiras quando bem entenderem. Um filme, no entanto, obriga o espectador a seguir o ritmo

das sequências. No filme, as cenas são colocadas em uma sequência linear-temporal; nos quadrinhos, os

quadros não só são colocados em uma sequência linear, mas também em um espaço maior, a dizer, a

página. Neste sentido, os quadrinhos são uma mídia mais espacial do que o filme. No cinema, a filmagem e

a montagem são duas fases muito distintas. Nos quadrinhos, a ilustração dos quadros e a combinação dos

quadros em uma página não podem ser facilmente separadas: as escolhas em um campo têm consequências

no outro campo (GROENSTEEN, 1990, p.28).

Extraído do livro: Intermidialidade-e-Estudos-Interartes-Desafios-da-Arte-Contemporânea-2 – 2012.