Modernismo
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As horas pela alamedaArrastam vestes de seda
Vestes de seda sonhadaPela Alameda alongada...
Sob o azular do luar...E ouve-se no ar a expirar -
A expirar mas nunca expira - Uma flauta que delira,
Que é mais que a ideia de ouvi-laQue ouvi-la quase tranquila
Pelo ar a ondear e a ir...Silêncio a tremeluzir...
(“Plenilúnio”, Ficções do Interlúdio, de Fernando Pessoa)
Música de Vanessa Bumagny
oi
VANGUARDAS DO MODERNISMO
Modernismo (séc. XX): a busca da renovação através da rebeldia
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Entende-se, com este termo - vanguarda -, “um movimento que investe um interesse ideológico na
arte, preparando e anunciando deliberadamente uma subversão
radical da cultura e até dos costumes sociais, negando em bloco
todo o passado e substituindo a pesquisa metódica por uma ousada experimentação na ordem estilística
e técnica” (Giulio Carlo Argan)
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FuturismoExaltação à tecnologia, à velocidade
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ExpressionismoAusenta-se a ideia do belo e do feio; deforma-se a imagem pelo exagero;
palavra-chave: caricatura
A Boba, de Anita Malfatti
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O Grito, de Edvard Munch
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CUBISMOSobreposição de partes da
imagem; preferência pelas linhas retas
Les Demoiselles d'Avignon Mulher Chorando
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Guernica
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DadaísmoArte sem significado
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Tristan Tzara
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SurrealismoEvocação do sonho, do inconsciente
A Persistência da Memória
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A Tentação de Santo Antão, de Salvador Dali
Em Portugal: Geração Orfeu (1915 – 1927)
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1915: revista “Orfeu”
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Fernando Pessoa
O poeta é um fingidorFinge tão completamenteQue chega a fingir que é dorA dor que deveras sente
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Fernando Pessoa ortônimo (ele mesmo)
Poesia lírica:
Tematiza a saudade, a melancolia; preferência por versos curtos, quadras populares
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Pobre velha música! Não sei por que agrado, Enche-se de lágrimas Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te, Não sei se te ouvi Nessa minha infância Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva Quero aquele outrora! E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora.
Fernando Pessoa menino
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Casa de Fernando Pessoa, LisboaFernando Pessoa era místico, zodiatra; mapa astral na entrada da casa
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Estátua de Fernando Pessoa, Lisboa
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Fernando Pessoa nomeou esta foto de “Em flagrante delito”
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Brasão: do mito da fundação (Ulisses) a D. Sebastião (1578)
Mar Português: glória lusitana no mar
Fernando Pessoa ortônimoMensagem (poesia patriótica) – 3 partes:
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Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas mães choraram,Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar!Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.
Quem quere passar além do BojadorTem que passar além da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.
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Brasão: do mito da fundação (Ulisses) a D. Sebastião (1578)
Mar Português: glória lusitana no mar
O Encoberto: mágoa pela decadência da pátria; esperança da ressurreição
Fernando Pessoa ortônimoMensagem (poesia patriótica) – 3 partes:
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Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro... É a Hora! Valete, Frates.
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Fernando Pessoa - heterônimos (≠ pseudônimos)
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Alberto Caeiro da Silva (Lisboa, 16/04/1889 – 1915, semialfabetizado)
− rejeita o ato de pensar; percebe o mundo pelos sentidos− pratica a antifilosofia – “sinto, logo existo”
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Sou um guardador de rebanhosO rebanho é os meus pensamentosE os meus pensamentos são todos sensações.Penso com os olhos e com os ouvidosE com as mãos e os pésE com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-laE comer um fruto é saber-lhe o sentido.
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Pintura de Silva Porto
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Mas se Deus é as flores e as árvoresE os montes e o luar e o solEntão acredito nele,Então acredito nele a toda hora,E a minha vida é toda uma oração e uma missa,E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as floresE os montes e o luar e o solPara que lhe chamo eu Deus?Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar,Porque se ele se fez, para eu o ver,Sol e luar e flores e árvores e montes,Se ele me aparece como sendo árvores e montesE luar e sol e flores,É que ele quer que eu o conheçaComo árvores e montes e flores e luar e sol.
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― contato com a natureza (poeta bucólico)
― despreocupação formal
― visão não panteísta:
A natureza é partes sem um todo.
Pã, senhor dos bosques
Não me importo com as rimas. Raras vezesHá duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
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Ricardo Reis (Porto, 19/09/1887, médico e erudito)
− adepto da cultura clássica; discípulo de Horácio(“carpe diem”)
− epicurista: busca os prazeres equilibrados(≠ hedonista)
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As Rosas amo dos jardins de Adônis,Essas vólucres amo, Lídia, rosas,Que em o dia em que nascem,Em esse dia morrem.A luz para elas é eterna, porqueNascem nascido já o sol, e acabamAntes que Apolo deixeO seu curso visível.Assim façamos nossa vida um dia,Inscientes, Lídia, voluntariamenteQue há noite antes e apósO pouco que duramos.
Vive sem horas. Quanto mede pesa, E quanto pensas mede. Num fluido incerto nexo, como o rio Cujas ondas são ele, Assim teus dias vê, e se te vires Passar, como a outrem, cala.
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Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vidaPassa e não fica, nada deixa e nunca regressa,Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente.E sem desassossegos grandes.
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Álvaro de Campos (Tavira, 15/10/1890, engenheiro naval)
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Opiário (Canal de Suez, Macau)Álvaro de Campos: 3 fases
(...) E eu vou buscar ao ópio que consola Um Oriente ao oriente do Oriente.
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Quando olho para mim não me percebo.Tenho tanto a mania de sentirQue me extravio às vezes ao sairDas próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,Pertencem ao meu modo de existir,E eu nunca sei como hei de concluirAs sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente reparei,Se na verdade sinto o que sinto. EuSerei tal qual pareço em mim? Serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
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Opiário (Canal de Suez, Macau) Futurista (Glasgow)
Álvaro de Campos: 3 fases
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Opiário (Canal de Suez, Macau) Futurista (Glasgow) Marginalidade, inquietação pessoal,
revolta (retorno a Portugal)
Álvaro de Campos: 3 fases
rafabebum.blogspot.comDoctor Gachet, Van Gogh
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,Serviram-me o amor como dobrada fria.Disse delicadamente ao missionário da cozinhaQue a preferia quente,Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria. Impacientaram-se comigo.Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,E vim passear para toda a rua.(...)
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeramDobrada à moda do Porto fria?Não é prato que se possa comer frio,Mas trouxeram-mo frio.Não me queixei, mas estava frio,Nunca se pode comer frio, mas veio frio.