Modernidade_Tempo e Espaço em Giddens

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Modernidade, Tempo e Es-paço em Giddens

Docentes: Prof. Doutor David JustinoProfessora Silvia Almeida

Discente: Davide Morais Pires

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Índice

Introdução............................................................................................................................3

Modernidade........................................................................................................................4

As ambiguidades da modernidade em Simmel....................................................................5

Simmel e Bauman Modernidade e individualização….......................................................6

As dimensões institucionais da modernidade......................................................................7

Tempo e espaço...................................................................................................................7

Conclusão............................................................................................................................9

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Introdução

Giddens é um sociólogo britânico, tendo um importante papel na teoria da estruturação, ele,

é considerado por muitos o mais importante filósofo social do Reino Unido da contemporaneidade.

Muito se tem falado e teorizado acerca do que é modernidade, o que é pós-modernidade,

aqui tentarei expor o que Giddens entende por modernidade, o que é, o que tem feito, e qual a sua

evolução. Ele adentra neste campo vasto que já tinha sido tocado por Weber, Simmel, Durkheim e

até Nietzsche ou Marx.

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Modernidade

O autor define modernidade como sendo um “estilo, costume de vida ou organização social,

que emergiram na Europa a partir do séc. XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos

mundiais em sua influência”. Giddens rompe com a abordagem feita pelo Jean-François Lyotard no

que toca ao conceito sobre pós-modernidade. Para este o conceito de pós-modernidade está

relacionado com a crença no progresso humanamente pensado; Lyotard acredita igualmente, que é

possível demonstrar “um conhecimento generalizável sobre a vida social e padrões de

desenvolvimento social”.

Existe diferenciação entre os conceitos: modernidade, modernismo, pós-modernidade e pós-

-modernismo. Passarei a explicitá-los de acordo com a óptica do autor d'As consequências da

modernidade.

Modernismo está relacionado com as artes plásticas, literatura e arquitectura, o seu objectivo

compromete-se pela reflexividade estética sobre a “natureza da modernidade”1.

Por seu lado o pós-modernismo está intimamente ligado a uma rescisão com a própria

modernidade, ou seja, é um momento de passagem da modernidade (está relacionada com

descobertas, tais como, a relatividade do conhecimento, o fim da ilusão de uma História com

teleologia, e esta é uma verdadeira crítica ao progresso, nem sempre ele trás um futuro melhor, um

futuro de paz) para algo que advém após ela, mas esta passagem de uma para outra não se faz com

um carácter evolutivo, mas sim, volto a frisar, de uma forma em que não permite à História ter ma

coerência ao ponto de nos podermos situar-nos nela.

Tradição e modernidade são termos contrastantes, nas palavras de Giddens. Tradição para o

autor é um “modo de integrar a monitorização da ação com tempo e o espaço(…), insere qualquer

atividade ou experiência particular dentro da comunidade do passado, presente e futuro (…). Não

é inteiramente estática”2. Esta tradição quando é justificada pela reflexividade torna-se uma

tradição “forçada”, na medida em que ela está falsificada

A reflexividade está “na base do sistema”3, ela está responsável pelo exame das práticas

sociais, de forma a que as mesmas praticas possam ser reformadas. E este tipo de mentalidade busca

sempre o novo, como diz Giddens, mas esta busca é apenas uma reflexão sobre ela própria.

A vivência proporcionada pela modernidade livrou-nos de qualquer tipo de características da

ordem das sociedades tradicionais, como sejam, “em extencionalidade quanto em sua

intencionalidade”4, ou seja, no nível da extencionalidade devido à sua magnitude global, no

patamar da intencionalidade no que concerne à alteração das vivências/existências quotidianas. No

entanto isto, segundo ao autor, não significa que não se encontram presentes nas nossas existências 1 In As consequências da modernidade, p. 452 Idem, p. 383 Idem, p.394 Idem, p.10

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traços característicos da ordem tradicional, estas encontram-se entrelaçadas e ligadas. Quais as

diferenças entre as sociedades de ordem tradicional e a moderna? A primeira diferença assenta

precisamente no “ritmo de mudança”5, exemplo disto é a tecnologia; uma outra descontinuidade é

o “escopo da mudança”; a terceira característica é “natureza intrínseca das instituições

modernas”6.

O autor vai, agora, analisar a segurança e o risco presentes na modernidade. O risco que os

fundadores da Sociologia, em comum, aceitam é o trabalho industrial, este tem a capacidade de

degradar quem nele labora; o segundo é o poder político (aqui enquadra-se o poder ditatorial, que os

fundadores associavam às sociedades pré-modernas); o terceiro é o desenvolvimento militar, este

ganhou um amplo poder destrutivo, o qual é visto pelos fundadores na I Guerra Mundial e desde a

uns tempos a esta parte o perigo de um confronto tão destrutivo como um conflito nuclear.

Com todos estes perigos associados à modernidade, o autor, justifica a decrescente crença no

progresso, levando mesmo a admitir que a História “leva a lado nenhum”7. Ao fazer uma viagem

pelos clássicos da Sociologia, Giddens, afirma que vivenciamos, no tempo presente, uma

modernidade “multidimensional no âmbito das dimensões”8

As ambiguidades da modernidade em Simmel

Na visão de Simmel os fenómenos estruturantes da modernidade são: dinheiro, vida social,

mental e cultural nas grandes cidades, mercantilização e fetichização do corpo, estético, da moda.

As cidades são locais de excelência onde se pode observar os fenómenos da modernidade.9

Aqui, na cidade, o indivíduo sente-se desenraizado, usa a intelectualidade como protecção face aos

estímulos nervosos que lhe são proporcionados pela vivência na metrópole.10

A cultura é a produtora da alienação do indivíduo reduzindo o seu potencial de

individualidade. Esta alienação está relacionada com a incapacidade de os indivíduos, vítimas do

consumismo, não buscarem conhecimento acerca do que compram, desta forma, apenas compram

os objectos e usufruem deles enquanto estes lhes forem úteis11. Esta forma de relacionamento com

os objectos influencia as relações entre os actores sociais, da mesma forma que os indivíduos

usufruem dos objectos enquanto estes lhes são úteis, os indivíduos executam da mesma forma as

suas relações, ou seja, os indivíduos mantém um relacionamento com outros indivíduos na medida

5 O autor não quer com isto dizer que nas sociedades tradicionais não haveriam mudanças, aliás ele frisa que muitas das sociedades tradicionais teriam mais ritmo de mudança que as pré-modernidas

6 O autor dá como exemplo as dormações que não existiam em tempos anteriores, tal como, o Estado-Nação, entre outros.

7 Idem, p. 158 Idem, p.159 In Ciências Sociais Unisimos 43 (1):57-67, Janeiro/Abril 2007; Geog Simmel e as ambigiodades da modernidade,

p. 6510 In Fidelidade e Gratidão e Outros Textos, p.7711 Pode-se comparar este consumismo por bens materiais com os relacionamentos entre indivíduos, ou seja, os

indivíduos agem da mesma forma nos seus relacionamentos.5

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em que estes lhes são úteis

Os aspectos de ambiguidade da modernidade estão relacionados com a racionalização,

mercantilização, desencantamento pelo mundo, irracionalismo provocado pela exacerbação do

racionalismo e o politeísmo de valores .

Esta modernidade quando apoiada pela economia monetária faz valer um mundo “unitário,

fechado na objectividade entre os elementos que a compõe.”12

O dinheiro toma a metáfora de um processo universal que dilui os conteúdos objectivos e

subjectivos da vida . Ele é símbolo do carácter dinâmico do mundo, envolvendo duas instâncias o

intercâmbio e interacção. Este é o que une e separa, fazendo parte dos modos de vivência moderna.

A mentalidade calculista teve como origem a disseminação dos relógios, a exigência da

capacidade de cálculo e da sua precisão; estes tornam a forma de viver mais intenso, com mais

velocidade (As metrópoles e a vida mental)

Simmel e Bauman Modernidade e individualização

A metrópole coloca num mesmo local as variadas diferenças dos seus habitantes, ao invés de

um lugar pequeno onde as diferenças são consideradas negativas, na cidade elas são consideradas

um símbolo do individualismo.

Para Bauman existem duas modernidades a sólida e a líquida. Estas consistem na seguinte

diferenciação:

1.Modernidade sólida: esta existe na medida em que se tem ideia da modernidade; tem como base o

domínio do mundo pela razão, técnica, por forma a que o mundo se tornasse um local melhor para

se viver; as unidades de análise são os Estados-Nações13 e a própria ciência14. Assim o projecto

moderno pode seguir para a sua realização. Foi graças aos avanços técnicos que houve uma

destruição dos fundamentos do espaço e do tempo. Considerado por Bauman como uma pré-

modernidade.

2.Modernidade líquida: aqui, ao contrário da modernidade anterior, a diferença é um factor de

extrema importância, ou seja, existe o valor da individualização.

Pode-se perceber em Simmel que a modernidade trouxe maior autonomia ao indivíduo

(como exemplo disto temos o próprio desenvolvimento do individualismo). Dentro da análise de

12 In Ciências Sociais Unisimos 43 (1):57-67, Janeiro/Abril 2007; Geog Simmel e as ambigiodades da modernidade, p. 60

13 " (...) fornecia os critérios para avaliar a realidade do dia presente. Esses critérios dividiam a população em planas úteis a serem estimuladas e cuidadosamente cultivadas e ervas daninhas a serem removidas ou arrancadas”; autor citado no artigo Simmel e Bauman: modernidade e individualização, emTeses, revista electrónica de pós-graduados em sociologia política na UFSC, nº4 Agosto-Dezembro/2007

14 " A ciência moderna nasceu da esmagadora ambinção de conquistar a Natureza e suburdiná-la às necessidades humanas. A louvada curiosidade cintífica que teira levado os cientístas «aonde nenhum homem ousou ainda» nunca foi isena da estimulante visão de controle e administração, de fazer as coisas melhores do que são (isto é, mais flexívies, obedientes, desejosas de servir)" , idem

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Simmel pode-se encontrar dois tipos de individualismo, o quantitativo e o qualitativo. O primeiro

está relacionado com os ideais Iluministas que se prendem com a liberdade individual. O segundo

só existe se forem considerados os valores da igualdade e liberdade enquanto valores universais

(isto está relacionado com o primeiro tipo de individualismo), e este está relacionado com os ideais

românticos.

Pode-se observar a importância da cultura como forma de objectivação, ela é vista como um

processo e progresso. Como consequência da autonomia do dinheiro face aos indivíduos, tornam-se

progressivamente valores da modernidade a técnica e a especialização, assemelhando-se com a

análise de Weber. Para Simmel modernidade é responsável pela aceleração e diluição do tempo e do

espaço; o objecto de Simmel é os modos de vida característicos da modernidade, influenciados pela

introdução do dinheiro na metrópole e na cultura moderna.

As dimensões institucionais da modernidade

Para esta temática o autor segue com uma questão de partida: “as instituições modernas são

capitalistas ou modernas?”.

Para responder a esta pergunta, primeiro há que definir os conceitos. Capitalismo “é um

sistema de produção de mercadorias, centrado na exploração da propriedade privada do capital e

o trabalho assalariado sem posse de propriedade”15, por seu turno, industrialismo “é o uso de

fontes inanimadas de energia material na produção de bens, combinado ao papel central da

maquinaria no processo de Produção”16. Autor, no entanto, afirma que um é o sub-tipo do outro.

O industrialismo traz com ele toda uma forma de organização social com ele, indica

Giddens. Visto ser importante coordenar máquina, homem e “as aplicações e produções de

matérias-primas e bens”17.

Mas respondendo à questão, o autor socorre-se de Marx, dizendo que o capitalismo precedeu

o industrialismo. Giddens reconhece ao capitalismo a importância do impulso para o

desenvolvimento das instituições modernas, mas este impulso não se deve apenas ao capitalismo,

deve-se igualmente ao Estado-Nação, estes detém o poder administrativo, contrapondo aos estados

pré-modernos.

Tempo e espaço

O tempo nas sociedades pré-modernas era medido pelo calendário, e esta invenção é

comparada à invenção da escrita nos tempos antigos. Na modernidade a invenção de calcular o

tempo foi o relógio mecânico, este segundo Simmel era de extrema importância, de tal modo, que

15 Idem, p. 5316 Idem, p.5317 Idem, p53

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se a hora se atrasasse ou adiantasse causaria enormes distúrbios; esta mudança foi acompanhada

pela expansão da modernidade, de forma planetária, no entanto, esta transformação ainda está em

curso. Relacionado a este momento do trabalho – tempo – é “a padronização do tempo através das

regiões”18. E com isto quer o autor dizer que antigamente, mesmo em regiões dentro do mesmo

Estado, a diferença, no que toca ao tempo, era diferente, assim sendo o tempo passou a ser

calculado da mesma forma e de forma igual. A consequência que esta alteração trouxe foi a de

permitir controlar os espaço de forma mais eficiente, pois, a condição para o controle ser mais

rigoroso é uniformizando o tempo em todos os locais num mesmo Estado.

Com o surgimento da modernidade, o espaço e o tempo vão se separar. E isto deve-se à

“representação do espaço sem referencia a um local privilegiado que forma um ponto favorável

específico”19 e “a substituição de diferentes unidades espaciais”20. O que causou estas mudanças,

no que toca ao espaço, foi, segundo ao autor, o movimento das descobertas. Este precisou de um

mapeamento, no qual estava presente o globo, um planisfério. Para o autor a importância que teve

este acontecimento (descontinuidade entre o tempo e o espaço) prende-se com os seguintes tópicos:

1.É o principal factor de descontinuidade entre “a actividade social e seus «encaixes»”21;

2.“Proporciona os mecanismos de engrenagem para aquele lugar distintivo da vida Social

moderna, a organização racional”.

3.“Historicidade radical associada à modernidade depende de modos de «inserção» no tempo e no

espaço que não eram disponíveis para as civilizações precedentes”.

No que toca ao papel do dinheiro, Giddens, concorda com Simmel, ele é um dos traços

característicos da modernidade. E aqui Giddens, segundo Parsons, caracteriza os diversos tipos de

dinheiro. O primeiro tipo é o “dinheiro mercadoria”, estes está relacionado com “um primeiro passo

no caminho da transformação da permuta numa economia de dinheiro”22; o segundo é o “dinheiro

bancário”, aqui o Estado tem que intervir na forma qualidade de fiador e padronizador dos valores

que são emitidos de forma privada, e pela acção do Estado se torna difundido. As sua qualidades

estão aos níveis de crédito e débito.

Em Simmel o dinheiro é uma forma privilegiada de união e separação dos indivíduos.

União, porque através das relações comerciais une pessoas que, se não fosse o comércio, não

estariam juntas, separa porque cria relações de poder, ou seja, criam-se relações impessoais, sem

vínculos. O dinheiro tem, também, a capacidade de nivelar a sociedade reduzindo tudo ao comércio.

18 Idem, p. 2219 Idem, p. 2320 Idem, p. 2321 Este ponto e os ulteriores são retirados da mesma obra e página (As consequências da modernidade, p.)22 Idem, p. 26

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Conclusão

Modernidade e pós-modernidade são conceitos amplamente discutidos, desde o séc. XIX a

esta parte, não tendo sido nada fácil caracteriza-lo, pois, apoiando-se em diversos teóricos alguns

defendem para a pós-modernidade um plano que não foi conseguido, tentando, como Habermas

resgatar o plano Iluminista da modernidade, e acreditando no progresso como algo bom e desejável

(e não será?), no entanto, e como em qualquer coisa, há efeitos colaterais, e o progresso não é

indiferente. Graças ao progresso assistimos à duas guerras mais devastadoras e mortífera desde que

há registo e memória, assistimos a alguns acidentes nucleares, em que a sua repercussão ainda nos

aflige (tomemos como exemplo o acidente de Chernobyl, ainda hoje nascem crianças com

patologias derivadas aos seus pais tomarem contacto com elevados níveis de radioactividade).

Mas nem tudo é mau no progresso, graças a ele há cura para algumas doenças, descobriram-

se forma de as combater, melhorar a produtividade industrial e agrícola, melhoraram-se os

conhecimentos acerca do que nos rodeia.

Por vezes a crítica à modernidade e à pós-modernidade é apontada também ao progresso,

esquecendo-nos (mas não é assim com qualquer ser humano? É mais fácil lembrarmo-nos dos

priores acontecimentos do que dos melhores) do que também há de melhor nele.

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