modelo multicritério de apoio à decisão entre terceirizar e produzir

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MODELO MULTICRITÉRIO DE APOIO À DECISÃO ENTRE TERCEIRIZAR E PRODUZIR: UM ESTUDO DE CASO NO SEGMENTO TÊXTIL DE PERNAMBUCO Joao Paulo Santos Aragao (UFPE ) [email protected] Cinthia Ladjane de Souza Holanda (UFPE ) [email protected] Marcele Elisa Fontana (UFPE ) [email protected] A decisão adequada entre terceirizar e produzir vem se tornando determinante para o sucesso econômico-financeiro das empresas. O uso de um único critério de avaliação, o custo, traz uma visão restritiva sobre os impactos desta decisão sobree a organização no longo prazo, sobretudo em segmentos de mercado com acirrada competitividade, como é o caso do setor têxtil. Neste sentido, considerando que a decisão de terceirizar envolve múltiplos critérios, muitas vezes conflitantes entre si, torna-se fundamental a utilização de um método formal de apoio a decisão que viabilize a decisão mais acertada diante do cenário analisado. Dessa forma, este trabalho propõe um modelo para auxiliar a decisão entre terceirizar ou produzir de uma empresa têxtil situada no Polo de Confecções do Agreste Pernambucano. Palavras-chave: Terceirização, decisão multicritério, método PROMETHEE II XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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MODELO MULTICRITÉRIO DE APOIO

À DECISÃO ENTRE TERCEIRIZAR E

PRODUZIR: UM ESTUDO DE CASO NO

SEGMENTO TÊXTIL DE

PERNAMBUCO

Joao Paulo Santos Aragao (UFPE )

[email protected]

Cinthia Ladjane de Souza Holanda (UFPE )

[email protected]

Marcele Elisa Fontana (UFPE )

[email protected]

A decisão adequada entre terceirizar e produzir vem se tornando

determinante para o sucesso econômico-financeiro das empresas. O

uso de um único critério de avaliação, o custo, traz uma visão

restritiva sobre os impactos desta decisão sobree a organização no

longo prazo, sobretudo em segmentos de mercado com acirrada

competitividade, como é o caso do setor têxtil. Neste sentido,

considerando que a decisão de terceirizar envolve múltiplos critérios,

muitas vezes conflitantes entre si, torna-se fundamental a utilização de

um método formal de apoio a decisão que viabilize a decisão mais

acertada diante do cenário analisado. Dessa forma, este trabalho

propõe um modelo para auxiliar a decisão entre terceirizar ou

produzir de uma empresa têxtil situada no Polo de Confecções do

Agreste Pernambucano.

Palavras-chave: Terceirização, decisão multicritério, método

PROMETHEE II

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1. Introdução

É cada vez mais comum no mercado competitivo global a busca, por parte dos consumidores,

por produtos e serviços ao menor custo possível com um nível de qualidade elevado. As

empresas, por sua vez, na busca constante das exigências dos consumidores, optam por

direcionarem seus esforços à especialização de atividades fins, o que resulta em um processo

de terceirização das atividades secundárias ou de apoio.

Neste sentido, a terceirização consiste na transferência de atividades para terceiros que não

são consideradas o foco principal da empresa, de forma que haja um ambiente de parceria

(GIOSA, 2003). Desta maneira, torna-se possível que a empresa concentre-se em suas

competências essencias (SISLIAN & SATIR, 2000; GUNASEKARAN et al., 2015).

A terceirização, no Brasil, tem sido utilizada primordialmente para reduzir custos e retirar

obrigações trabalhistas das empresas. Com fortes influências para a economia nacional desde

meados dos anos 80, fez com que ocasionasse a abertura nacional para mercados externos,

além da expansão de diversos setores produtivos (DIEESE, 2012). Nesse sentido, o setor

têxtil possui grande destaque para a economia nacional.

A baixa escala de produção das confecções brasileiras, aliada à necessidade de atender um

mercado crescente, que conta com aumento da participação das grandes cadeias varejistas, faz

eclodir à terceirização do setor têxtil (ABIT, 2013). De acordo com o Serviço Brasileiro de

Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), facção é o nome dado às confecções que

prestam serviços para outras empresas do ramo que possuem marca própria e foco na

comercialização, dentro da cadeia produtiva do setor têxtil (SEBRAE, [2015]). Logo, a facção

é um sistema de terceirização e de integração que vem sendo muito utilizada na indústria da

confecção.

A terceirização tem por objetivo principal não apenas a redução de custos, mas também trazer

agilidade, flexibilidade e competitividade às empresas, sendo, portanto, uma decisão

estratégica. Desta forma, quando as empresas terceirizam uma significativa parte de seu

negócio, uma tomada de decisão equivocada pode trazer consequências negativas, tais como

custos excedentes, devido à escolha inadequada da empresa contratada; o não cumprimento de

prazos; a falta de qualidade dos produtos ou serviços prestados; problemas relacionados a

contratos legais; a perda de mercado e até mesmo falência da organização.

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De acordo com Aragão et al. (2016) a decisão de terceirizar aplicada ao setor têxtil envolve

múltiplos critérios, fazendo-se então necessário a aplicação de um método multicritério que

viabilize a decisão mais acertada diante do cenário analisado. Logo, objetiva-se neste trabalho

propor um modelo que auxilie na tomada de decisão entre terceirizar ou produzir com

recursos próprios de uma empresa têxtil situada no Polo de Confecções do Agreste

Pernambucano. Para tal, fez uso do método multicritério PROMETHEE II.

Além desta introdução, este trabalho conta com mais 04 seções. Na seção 02 abordam-se os

conceitos gerais de terceirização e multicritério. Na sequência, apresentam-se os materiais e

métodos utilizados. Na seção 04 tem-se um estudo de caso. E, por fim, são feitas algumas

considerações finais.

2. Fundamentação teórica

2.1. Terceirização

Terceirização consiste na transferência de atividades que não constituem o objetivo principal

da empresa (GIOSA, 2003; OLIVEIRA, 2013). Pode ser definida como um meio de obtenção

externa de bens ou serviços anteriormente realizados pela própria empresa (KAKABADSE &

KAKABADSE, 2005; ELLRAM & BILLINGTON, 2001).

Em diferentes tipos de indústrias, as empresas têm buscado a terceirização como uma

alternativa estratégica (GONZALEZ et al., 2005). Entretanto, a prática de terceirização não se

resume apenas às indústrias. De acordo com Schniederjans (2007), organizações públicas e

privadas, governos, instituições da área de saúde e educação, têm buscado cada vez mais a

terceirização como alternativa.

Desta forma, há diversos fatores que levam as empresas à busca pela terceirização, tais como

a redução de custos de ativos, administrativos e gerais; equilíbrio no número de funcionários;

melhorias nos processos; compartilhamento e redução dos riscos; e até mesmo uma melhoria

na percepção do cliente devido à qualidade do produto ou serviço oferecido por terceiros

(GUNASEKARAN et al., 2015; MURTHY et al., 2015; BUSTINZA, 2010; XIAO et al.,

2007). Outro motivo considerado está relacionado à redução de custos através de economias

de escala (CACHON & HARKER, 2002; BUSTINZA, 2010).

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A motivação para a terceirização é a obtenção de melhores resultados, porém, a prática da

terceirização pode ter um efeito inverso. Para Valois (2008), fatores competitivos como custo,

qualidade e prazo de entrega podem ter melhorias significativas com a transferência para

terceiros, da mesma forma que podem apresentar um declínio, o que compromete os

resultados estratégicos.

Existem vários tipos de abordagens de apoio à decisão para a terceirização, que vão desde a

teoria dos custos de transação até os modelos de decisão multicritério (HUTH et al., 2015).

Nesse contexto, Gutwald (1995, apud Di Serio & Sampaio, 2001) apresentou quatro modelos

clássicos disponíveis na literatura para este tipo de análise, que são:

a) Análise econômica: consiste em comparar o custo de determinada tarefa de fabricação

de determinado produto, ou da execução de um serviço, com o custo de aquisição no

mercado.

b) Análise do custo de transação: é o estudo de como os parceiros se protegem dos

riscos nas suas relações na cadeia de suprimento. Esses riscos referem-se à

possibilidade de que elementos acordados entre as partes não ocorram.

c) Análise estratégica: que consistem em identificar as competências essenciais da

organização, aquelas que geram uma vantagem competitiva.

d) Análise multidimensional: que leva em conta outros fatores como natureza inovadora

dos serviços ou produtos, fatores de capital humano, custos, experiências dos

empregados, maturidade tecnológica, entre outros.

A decisão de terceirizar ou não está diretamente ligada ao sucesso econômico-financeiro de

uma empresa, sendo um dos objetivos da terceirização a redução de custos. Assim, Oliveira et

al. (2015) realizou uma análise econômica voltada para o setor têxtil a fim de abordar a

questão de produzir ou comprar. No entanto, quando a empresa busca atingir objetivos no

longo prazo, este tipo de procedimento pode não ser o mais adequado, uma vez que decisões

desse tipo podem envolver múltiplos decisores e múltiplos objetivos (ou critérios) que por sua

natureza são conflitantes entre si. Isso fica evidente no trabalho realizado por Aragão et al.

(2016), onde buscou-se através da literatura os critérios usuais à pratica de terceirização e,

posteriormente, confrontá-los com os critérios considerados na prática para a terceirização de

atividades voltada ao setor têxtil.

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Desta forma, para o estabelecimento do equilíbrio entre os vários objetivos conflitantes

envolvidos, com o objetivo de tomar uma decisão mais acertada em relação à terceirização,

justifica-se a necessidade de uma análise multicritério que sirva de apoio à tomada de decisão.

2.2. Decisão multicritério

Um modelo de decisão corresponde a uma representação formal e com simplificação do

problema enfrentado com suporte de um Método Multicritério de Apoio à Decisão (MCDA).

Para Gomes et al. (2006), a decisão multicritério reúne um conjunto de métodos aplicados à

problemas de decisão com o intuito de auxiliar na sistematização das informações e definições

das preferências com relação aos atributos das alternativas avaliadas. Neste sentido, um

problema de decisão multicritério consiste numa situação em que existem pelo menos duas

alternativas de ação para se escolher e essa escolha é conduzida pelo desejo de se atender a

múltiplos objetivos, muitas vezes conflitantes entre si (DE ALMEIDA, 2013). Assim, cada

objetivo terá uma consequência atrelada a determinada alternativa, e para cada objetivo serão

associados critérios, atributos ou dimensões específicas (VIEIRA & DUARTE, 2014).

Na literatura encontram-se diversos métodos multicritérios. Desta forma, a escolha do método

mais adequado, frente a uma problemática específica, vai depender de fatores, tais como:

tempo e esforço requerido; o conhecimento sobre o ambiente; precisão na decisão. Ainda

destacam-se o contexto inserido; disponibilidade de informação; racionalidade requerida e a

problemática do problema (DE ALMEIDA, 2011; DE ALMEIDA & COSTA, 2003).

A utilização de métodos de apoio à decisão multicritério têm se tornado uma ferramenta

relevante para a decisão de terceirização. No Quadro 1 apresentam-se algumas abordagens

utilizando decisão multicritério para solução de problemas dessa natureza.

Quadro 1 – Utilização de multicritério em terceirização

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Fonte: A pesquisa (2016)

Conforme pode ser observado, os trabalhos citados utilizaram MCDA para questões

envolvendo terceirização em diversos segmentos de mercado. Entretanto, nenhum deles

objetivou identificar a melhor recomendação a ser feita ao decisor entre produzir ou

terceirizar.

3. Materiais e métodos

A metodologia aplicada ao estudo é representada pela Figura 1. Após a identificação da

problemática entre terceirizar ou produzir com recursos próprios, o analista juntamente com o

decisor, destinam-se ao estabelecimento dos critérios e das alternativas de decisão a fim de

explorar o problema. Na etapa seguinte, é possível construir a matriz de avalição (alternativas

vs. critérios), e com isso, levantar os parâmetros necessários ao problema seguindo as

prioridades definidas pelo decisor (pesos, limiares e função de preferência).

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Figura 1 – Fluxograma das etapas

Fonte: Os autores (2016)

A partir de então, é aplicado o método PROMETHEE II para a geração do ranque entre as

alternativas. Na sequência, a fim de identificar a robustez e a sensibilidade das variáveis e

parâmetros, realiza-se uma análise de sensibilidade. Finalmente, propõe-se a recomendação ao

decisor na última etapa do procedimento.

3.1. A escolha do método MCDA

De acordo com Keeney & Raiffa (1976) apud Silva, Levino & Fontana (2001), a escolha do

método MCDA vai depender do problema em análise, do contexto em questão, da estrutura de

preferências do decisor e da problemática envolvida.

Os métodos MCDA se apresentam em três tipos principais: critério único de síntese,

sobreclassificação e interativos (ROY, 1996; VINCKE, 1992; PARDALOS et al., 1995). Os

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métodos de sobreclassificação fundamentam-se na construção de uma relação de

sobreclassificação, a qual é não compensatória e não exige transitividade, em que destacam-se

os métodos da família PROMETHEE e ELECTRE (DE ALMEIDA, 2013). Para a realização

do presente trabalho, utilizou-se o método PROMETHEE II, o qual, segundo Jannuzzi et al.

(2009) reúne características interessantes para seu emprego nos processos decisórios típicos

por pelo menos dois motivos: primeiro, por ser de fácil entendimento, potencializando, pois, a

transparência do processo decisório; e segundo, porque não requer um processo interativo

exaustivo, o que tornaria a aplicação de outros métodos inviável.

Os métodos da família PROMETHEE objetivam construir relações de sobreclassificação de

valores em problemas de tomada de decisão. Suas características de destaque são estabilidade,

clareza e simplicidade. A noção de critério generalizado é utilizada a fim de se construir uma

relação de sobreclassificação valorada (BRANS, VINCKE; MARESCHAL, 1986).

A família PROMETHEE se baseia em duas fases: construção da relação de

sobreclassificação, a partir das informações entre as alternativas e os critérios, e a exploração

dessa relação para o apoio à decisão (BRANS & MARESCHAL, 2002). Este método

estabelece uma estrutura de preferência entre as alternativas discretas, a partir de uma função

de preferência entre as alternativas para cada critério (ARAÚJO & DE ALMEIDA, 2009).

Essa função indica a intensidade da preferência de uma alternativa em relação à outra, com o

valor que varia entre 0 (indiferença) e 1 (preferência) e pode ser representada de seis formas

básicas – critério usual, critério com limiar de indiferença, critério com limiar de preferência,

critério em nível, critério linear e critério gaussiano – na qual o decisor estabelece suas

preferências usando a forma mais adequada para cada critério (BRANS & MARESCHAL,

2002).

Na fase de exploração da relação de sobreclassificação, são usados dois indicadores (DE

ALMEIDA, 2013):

Fluxo de Sobreclassificação de saída Ф+

(a) da alternativa “a”, que representa a

intensidade de preferência de “a” sobre todas as alternativas “b” do conjunto de

alternativas (quanto maior for este indicador, melhor a alternativa):

Ф+ (a) = (1)

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Fluxo de Sobreclassificação de entrada Ф-

(a) da alternativa “a”, que representa a

intensidade de preferência de todas as alternativas “b” do conjunto de alternativas

sobre a alternativa “a” (quanto menor este indicador, melhor a alternativa):

Ф- (a) = (2)

Outro indicador considerado é o fluxo de sobreclassificação líquido Ф (a):

Ф (a) = Ф+

(a) – Ф- (a) (3)

O PROMETHEE II baseia-se no fluxo líquido Ф (a) para que a partir dele as alternativas

sejam ranqueadas em ordem decrescente, estabelecendo-se uma pré-ordem completa entre

elas (BRANS; VINCKE; MARESCHAL, 1986).

4. Estudo de caso

O estudo de caso foi realizado em uma empresa têxtil do interior de Pernambuco, a qual atua

no segmento de moda e praia, com um portfólio de produtos enxuto: linha feminina, linha

masculina e uma linha infantil.

A partir do trabalho realizado por Aragão et al. (2016), foi possível realizar um mapeamento

cognitivo do decisor (DM) sobre os critérios relevantes na decisão entre terceirizar e produzir

voltado ao setor têxtil de Pernambuco. A partir desse levantamento, foram estabelecidos os

critérios, os quais podem ser visualizados no Quadro 2.

Quadro 2 – Critérios de avaliação

Fonte: Adaptado de Aragão et al. (2016)

A partir da proposição do decisor sobre terceirização, considerando como alvo o setor de

costura, foi obtido um conjunto com oito alternativas, as quais são descritas no Quadro 3.

Quadro 3 – Alternativas levantadas

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Fonte: Os autores (2016)

A partir do cenário proposto e utilizando uma avaliação intracritério, com julgamentos

subjetivos realizados pelo decisor de acordo com uma escala ordinal (muito alta, alta,

razoável, baixa, muito baixa), obteve-se a matriz de avaliação apresentada no Quadro 4.

Quadro 4 – Matriz de consequências

Fonte: Os autores (2016)

De posse dos critérios, estabelecem-se as preferências do decisor, ou seja, os parâmetros do

modelo. Neste caso, o decisor considerou a função de preferência „critério usual‟ para todos

os critérios. Assim, não foram definidos limiares de preferência ou indiferença. O limiar de

veto também foi desconsiderado pelo mesmo, restando apenas o estabelecimento de pesos aos

critérios, como segue: C1 = 0,30; C2 = 0,20; C3 = 0,15; C4 = 0,15 e C5 = 0,20.

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Portanto, a partir da matriz de avaliação alternativa vs. critérios, com o auxílio do software

Visual PROMETHEE, obteve-se o resultado do método PROMETHEE II, conforme

mostrado na Tabela 1.

Tabela 1 – Ranque das alternativas pelo PROMETHEE II

Posição no

Ranque

Alternativa Fluxo Líquido (Ф)

1 A8 0,7286

2 A3 0,3429

3 A7 0,1429

4 A5 0,1429

5 A4 -0,0857

6 A6 -0,1143

7 A1 -0,5357

8 A2 -0,6214

Fonte: Os autores (2016)

Mediante a análise dos resultados obtidos, tem-se que a alternativa A8 (Terceirizar

totalmente) apresenta o maior fluxo líquido, seguida das alternativas A3 (Terceirizar apenas a

linha feminina) e A7 (Terceirizar a linha feminina e a masculina). Este resultado mostra-se

coerente com o setor de confecções quando se toma decisões entre terceirizar e produzir, dado

que menores custos e maior economia de escala podem ser obtidos a partir de uma produção

maior. Outra questão interessante para observação é a relação entre terceirizar apenas a linha

infantil (A2) ou não terceirizar (A1), na qual a alternativa A1 apresenta um fluxo líquido

maior, isto é, terceirizar um percentual mínimo da costura não é uma alternativa atraente para

o decisor em questão.

Realizando uma análise de sensibilidade a partir da variação do peso dos critérios em torno ±

10% , redistribuindo os pesos aos demais critérios igualmente, observou-se que a ordenação

obtida pelo PROMETHEE II não apresenta variações, o que reflete que pequenas alterações

no grau de importância dos critérios têm pouca relevância no ordenamento das alternativas.

5. Considerações finais

A decisão entre produzir ou terceirizar envolve múltiplos objetivos, como custos, qualidade,

aspectos gerenciais, nível de serviço, entre outros; sendo estes, muitas vezes, conflitantes

entre si. Neste sentido, a utilização de uma abordagem formal para apoio à decisão torna-se

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fundamental para que o decisor opte entre as alternativas que possui, contemplando, ao

mesmo tempo, seu sistema de valores.

Baseado no estudo de Aragão et al. (2016) foi possível a identificação dos critérios relevantes

para um decisor na indústria têxtil Pernambucana, bem como a continuação deste trabalho, a

partir do levantamento das alternativas, estabelecimento dos pesos para os critérios, bem

como construção da matriz de consequências e a recomendação final para este decisor.

A utilização do método PROMETHEE II mostrou-se satisfatória, dado que foi possível propor

ao decisor uma recomendação final coerente com o contexto trabalhado, a partir da ordenação

entre as alternativas, atendendo aos critérios propostos. O modelo proposto por este trabalho

fornece um subsídio para a tomada de decisão gerencial frente à possibilidade entre produzir e

terceirizar no cenário têxtil.

Como recomendação para trabalhos futuros, sugere-se a análise para identificação e utilização

de restrições que possam fazer parte deste contexto de decisão, sejam estas temporais, físicas

ou financeiras.

Agradecimento

Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco

(FACEPE) pelo apoio financeiro deste estudo.

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