Modelo de Fichamento
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Fichamento dia 06/abril/2009. TEXTO 2/2009.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: COSGROVE, D. A geografia está em toda parte: cultura e simbolismo nas paisagens humanas. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (Orgs.). Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: Eduerj, 1998, p.92 -123.
BIBLIOTECA (ACERVO): cópia (livro de Luiz Otávio)
Tema: Leitura da paisagem na geografia cultural/humanística. (Ou leituras da geografia humanística e (ou) geografia
cultural).
Problemática: A paisagem como elemento fundamental onde se pode ler a cultura e o poder/controle da sociedade.
PALAVRA-CHAVE: Paisagem; Significados; Cultura; Símbolo; Poder.
RESUMO:
O autor Denis Cosgrove é professor de cursos superiores em geografia com trabalhos em geografia cultural na
Inglaterra.
O autor inicia o texto destacando a questão da observação das paisagens. Primeiro como senso comum depois como
geógrafo. Cosgrove nesses observações já destaca o lugar como espaço primordial de observação pelas relações
estabelecidas entre homens e objetos (pelas seus sentidos). Destaca os significados da paisagem que observa, seus
diversos significados, sobretudo por lugares simbólicos. “O local é um lugar simbólico, onde muitas culturas se
encontram e talvez entrem em conflito”. P. 93.
Nas páginas 94 e 95 o autor enumera suposições que os geógrafos humanos apresentam para a geografia:
• “Que o mundo físico, o meio ambiente natural, é o domínio da geografia física científica”. Onde a geografia
humana não pode discutir esses aspectos.
• “Que os seres humanos se comportam de maneira racional, razoavelmente previsível, quando vistos em
conjunto, para alcançar metas pessoais e sociais que são esmagadoramente práticas”. Todas e quaisquer outras
considerações que não as econômicas sociais são tratadas como desnecessárias ou irracionais.
• “Que os geógrafos deveriam buscar um resultado prático ou utilitário de seus estudos. A geografia humana
deveria ser ‘relevante’, seus estudos aplicados a uma ‘situação de mundo real’”. Que os geógrafos humanos
devem apontar estudos que sejam racionais e relevantes socialmente.
• “Que a geografia humana, apesar de seu propósito moral elevando (ou talvez por causa dele), deveria, tanto
quanto possível, evitar questões políticas e ideológicas e até filosóficas abertas e litigiosas”. O autor aponta
que esse discurso representa que o objetivo dos geógrafos deve ser pela objetividade do fatos com garantias
empíricas.
Alem das críticas acima o autor continua o texto declarando que tais suposições acabam por deixar a geografia como
que fechada às incursões de todas as reais possibilidades do espaço geográfico e suas amplitudes. O autor escreve,
portanto, da importância da geografia como leitura de mundo também possível, utópico, para não ficar só no real.
Retrata ainda a questão da geografia como fascínio pela terra.
Apresenta uma segunda análise sobre as suposições dos geógrafos sobre a praticidade, destacando os aspectos culturais,
irracionais, de paixão, políticos (ver texto de Iná Castro “Imaginário político e território: natureza, regionalismo e
representação”) como necessários a uma análise espacial. O autor destaca que são exatamente essas motivações
culturais/sociais que influenciam nosso comportamento. P. 96.
Destaca que a geografia deixa passar escapar muito do significado contido na paisagem humana, tentando reduzi-la a
uma impressão impessoal de forças demográficas e econômicas. P. 97.
O autor se propõe a tratar a geografia como uma humanidade e como uma ciência social. P. 97.
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O autor retrata que a Geografia (como uma leitura da humanidade) ou geografia humanística nasce na década de 70 (ou
se desenvolve enquanto tal) a partir de uma série de questão, que passam pelo ambiente, revolução feminina e
desenvolvimento dos centros urbanos (ou crescimento desordenado).
Para esclarecer melhor como Cosgrove pontua a importância da geografia humanística ele passa a pontuar alguns
elementos:
Paisagem (a partir da página 98) – “A paisagem sempre esteve intimamente ligada, na geografia humana, com a
cultura, com a idéia de formas visíveis sobre a superfície da terra e com a sua composição. A paisagem, de fato, é uma
‘maneira de ver’, uma maneira de compor e harmonizar o mundo externo em uma ‘cena’, em uma realidade visual”.
P.98.
O termo paisagem surgiu no Renascimento para indicar uma nova relação do homem com seu ambiente. P. 98
O autor passa a descrever as características da paisagem, ordem e forma.
“Assim a paisagem está ligada a uma nova maneira de ver o mundo como uma criação racionalmente ordenada,
designada e harmoniosa, cuja estrutura e mecanismo são acessíveis à mente humana, assim como ao olho, e agem como
guias para os seres humanos em suas ações de alterar e aperfeiçoar o meio ambiente.” P. 99.
O autor passa a discutir três implicações sobre a paisagem: um foco nas formas visíveis, uma concepção racional do
meio ambiente, e a idéia de intervenção humana e controle (a idéia de intervenção não é só destrutiva, mas também
harmoniosa). Principalmente porque as relações que os seres humanos demonstram com relação as paisagens é quase
sempre de uma relação harmoniosa (mesmo não sendo todavia no real). P.99.
Cultura – O autor destaca o trabalho de Carl Sauer nos estudos da paisagem no Estados Unidos no inicio do século
XX. O trabalho de Sauer dava ênfase na mediação que o homem fazia no meio com as ferramentas (e as tecnologias).
Destaca ainda que a geografia cultural focou nas formas visíveis da paisagem, como uma fazenda, celeiros, padrões dos
campos, praças, etc. A cultura foi considerado um conceito não-problemático, ou seja, um determinismo cultural, pois
fugia as contradições do cotidiano e do real, ficando apenas na aparência ‘plana’ (grifo meu) da paisagem. P. 101.
Uma nova leitura da geografia cultural tende a tratar as paisagens como um texto, mas um texto com contradições, que
pode ser lido de diversas formas, com várias possibilidades de leituras. P. 101.
O autor passa então a enumerar as três principais maneiras pelas quais a geografia cultural moderna lê o mundo:
Cultura e Consciência – “A cultura não é algo que funciona através dos seres humanos; pelo contrário, tem que ser
constantemente reproduzida por eles em suas ações, muitas das quais são ações não reflexivas, rotineiras da vida
cotidiana (...)”. P. 101.
O exemplo brilhante no qual o autor liga a cultura ao espaço é o seguinte: “A maioria de nós falará em voz baixa,
respeitosa, ao entrar numa igreja, sem pensar conscientemente porque estamos assim fazendo. Fazemos o mesmo numa
galeria de arte e é difícil dizer o motivo. (...) Se nos pedem para examinar o que estamos fazendo, a maioria de nós acha
difícil articular o significado de nossas atividades. Mas sem tais práticas, expressões culturais como igrejas, galerias (...)
desapareceriam de nossas paisagens.”P. 102.
“Transformações na cultura vêm de mudanças, rápidas ou lentas, em sua prática, no ato da reprodução cultural”. P. 102
Cultura e Natureza – “Qualquer intervenção humana na natureza envolve sua transformação em cultura (...)”, mas nem
sempre isso é visível. P. 102.
O autor levanta a questão de objetos naturais (em seu exemplo o tomate) que tornam-se objetos culturais quando foi-lhe
atribuído um significado. “Dizer que o tomate é um produto cultural não significa que suas propriedades naturais
estejam perdidas. Sua cor e peso estão inalterados (...). Mas foram acrescentados a estas propriedades atributos culturais
que podemos identificar e discutir.”. P. 103.
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O autor aponta que é preciso entrar na consciência cultural do outro para compreender as paisagens. Muitas paisagens
só fazem sentido para os iniciados/moradores/vivenciados. “Revelar os significados na paisagem cultural exige a
habilidade imaginativa de entrar no mundo dos outros de maneira auto-consciente e, então, re-presentar essa paisagem
num nível no qual seus significados possam ser expostos e refletidos.” P. 103.
Cultura e Poder – O autor aponta que a maioria das pessoas vive em sociedades divididas em algum tipo de classe (ou
similar). Normalmente também é a divisão do trabalho. Por vezes cada vivencia em uma classe significa experiências e
consciências diferentes, muitas vezes uma cultura diferente. P. 104. Às vezes uma sociedade pode ter culturas tão
distintas que são praticamente incompatíveis (ou parecem ser).
Aqui o autor chama a atenção que muitas vezes a unidade da sociedade (ou do território) só é mantida por um poder
político. “Assim o estudo da cultura está intimamente ligado ao estudo do poder. Um grupo dominante procurará impor
sua própria experiência de mundo, suas próprias suposições tomadas como verdadeiras, como a objetiva e valida cultura
para todas as pessoas. O pode é expresso e mantido na reprodução da cultura.”P. 105.
A hegemonia cultural acontece quando a cultura do grupo dominante aparecem como senso comum. “Há, portanto,
culturas dominantes e subdominantes ou alternativas, não apenas no sentido político (apesar de eu em concentrar nisso)
mas também em termos de sexo, idade e etnicidade.” P. 105.
As culturas subdominantes ou alternativas podem ser divididas também historicamente, como residuais (que sobraram
do passado), emergentes (que antecipam o futuro) e excluídas (que são ativa e ou passivamente suprimidas) como as
culturas do crime, drogas etc. “Cada uma dessas subculturas encontra alguma expressão na paisagem, mesmo se apenas
numa paisagem de fantasia.
Símbolo – “Para compreender as expressões impressas por uma cultura em sua paisagem, necessitamos de um
conhecimento da ‘linguagem’ empregada: os símbolos e seu significado nessa cultura.” P. 105-106.
“Todas as paisagens são simbólicas, apesar da ligação entre o símbolo e o que ele representa (ser referente) poder
parecer muito tênue.”P. 106.
O autor dá um exemplo da paisagem do interior da Inglaterra, um parque que é todo articulado para demonstrar os
limites do comportamento de quem o visita. Existe um código moral subscrito na paisagem que é mantido por uma
minoria moralmente instituída. P. 107.
“Todas as paisagens possuem significados simbólicos porque são o produto da apropriação e transformação do meio
ambiente pelo homem. O simbolismo é mais facilmente apreendido nas paisagens mais elaboradas – a cidade, o parque,
o jardim – e através da representação da paisagem na pintura, poesia e outras artes. Mas pode ser lida nas paisagens
rurais e mesmo nas mais aparentemente não-humanizadas paisagens do meio ambiente natural. Estas últimas são,
frequentemente, símbolos poderosos em sim mesmas.” P. 108.
Lendo as Paisagens Simbólicas – “Os múltiplos significados das paisagens simbólicas aguardam decodificação
geográfica.” P.108.
O autor aponta que a paisagem é um texto, mas para o geógrafo alem do emprego das disciplinas das humanidades, é
preciso ler a paisagem como um texto em atividades de campo e como os mapas. O geógrafo deve estar atento a busca
das evidencias, que podem estar nas paisagens como as mais diversas fontes.
O autor continua a elencar as principais fontes de pesquisa na geografia cultural como a evidencia material no campo,
as fontes documentais, cartográficas, orais, arquivos etc. P. 110.
Chama a atenção para a sensibilidade histórica e contextual do geógrafo.
Decodificando Paisagens Simbólicas: Alguns Exemplos – O autor aponta uma orientação teórica de chamar de
cultura dominante, residuais, emergentes e excluídas.
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Paisagem da Cultura Dominante - Grupo que tem poder sobre outros. Não só no controle de governo, mas, sobretudo,
no controle dos meios de vida: terra, capital, matérias-primas e a força de trabalho. São os grupos dominantes que
determinam como vai ser utilizado o excedente social produzido pela comunidade/sociedade. “Seu poder é mantido e
reproduzido, até um ponto consideravelmente importante, por sua capacidade de projetar e comunicar, por quaisquer
meios disponíveis e através de todos os outros níveis e divisões sociais, uma imagem do mundo consoante com sua
própria experiência de ter essa imagem aceita como reflexo verdadeiro da realidade de cada um. Este é o significado da
ideologia.” P. 111-112. O autor passa a dar exemplos importantes dessa leitura da paisagem dominante, sobretudo na
ruralidade britânica, onde as pinturas eram vistas como expressão da realidade, mas na verdade apenas expressavam o
desejo da classe dominante em manter a supremacia e o domínio das classes abastadas, evitando os ideais da revolução
francesa entre os trabalhadores rurais britânicos.
Cosgrove descreve também que as paisagens existentes hoje expressão claramente as culturas dominantes, seja no
campo, ou em parques, mas, sobretudo nas cidades. Através da análise das suas formas e conteúdos. P. 113.
Na página 114 e 115 o autor continua os exemplos de aplicação da leitura das paisagens sobre cultura dominantes,
analisando a capital dos EUA e seus traços puramente europeus e de centralização do poder. Os nomes das ruas, as
linhas em formato xadrez, tudo convém a uma leitura de uma paisagem que expressa os ideais da revolução americana
(contra a monarquia britânica). “As paisagens simbólicas não são apenas afirmações estáticas, formais. Os valores
culturais que elas celebram precisam ser ativamente reproduzidos para continuar a ter significado. Em grande parte isso
é realizado na vida diária pelo simples reconhecimento dos edifícios, nomes de lugares, etc. Mas frequentemente os
valores inscritos na paisagem são reforçados por ritual público durante cerimônias maiores ou menores.” P. 115.
Paisagens Alternativas - É claro que as paisagens de uma cultura alternativa são menos visíveis, no entanto por vezes
mudando o foco visual é possível reconhece-las dominando espaços. No entanto por mais que domine alguns ‘guetos’ a
cultura alternativa continua subdominante à cultura oficial (ou seja a dominante). P. 117.
Residuais – “Muitos elementos da paisagem pouco têm de seu significado original”. P. 117. Muitas das paisagens são
de um passado que não tem mais sentido, ou tem apenas uma conotação histórica hoje. O autor passa a dar exemplos de
paisagens residuais e suas interpretação hoje – já que não possuem uma ‘utilidade’ ou um ritual/vivencia aplicada.
Emergentes – Normalmente são culturas transitórias, com impacto pequeno sobre a paisagem. “Está na natureza de uma
cultura emergente oferecer um desafio à cultura dominante existente, uma visão de futuros alternativos possíveis.”P.
119.
O autor passa a descrever a importância de observarmos as paisagens expressas pela cultura emergente, como as
paisagens da ficção cientifica ou dos quadrinhos, ou do cinema.
Excluídas - Cosgrove retrata a paisagem construída pelas mulheres como paisagens sempre excluídas e pouco estudadas
na geografia. Assim como para culturas excluídas, que são por vezes tratadas como marginais e suspeitas. Retrata assim
as paisagens de mendigos, gays, prostitutas, gangs e outros grupos. Compara assim a paisagem dos parques públicos,
como paisagens dominantes, com o contraste das paisagens de várias culturas excluídas.
COMENTÁRIOS PESSOAIS: O texto do professor Denis Cosgrove talvez seja um dos mais esclarecedores sobre o
trabalho de leitura da paisagem da geografia humanística. Mais do que um texto formatado para o entendimento de
cultura ou do individuo, busca tratar da paisagem como elemento também de poder. Interessante o cruzamento deste
texto com o texto de Iná Castro “Imaginário político e território: natureza, regionalismo e representação”1. Em ambos o
destaque é para o imaginário político (ou a cultura e o poder), apesar de Cosgrove não utilizar tal termo.
1 Fichamento 1/2009.