Moçambique 40 anos - 4 fotógrafos

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Moira Forjaz / José Cabral Moçambique, 40 anos - 4 fotógrafos Moira Forjaz - José Cabral - Luis Basto - Filipe Branquinho (4 fotógrafos de Moçambique por ocasião dos 40 anos da independência) A fotografia constitui uma das dimensões mais reconhecidas da produção e da identidade cultural de Moçambique, distinguindo-se nas vertentes do fotojornalismo, da prática documental e da afirmação artística. Graças à figura incontornável de Ricardo Rangel (1924-2009), fotógrafo de imprensa desde os anos 60 que se afirmou no tempo colonial e exerceu uma eficaz acção formativa após a independência, Moçambique conheceu, até à actualidade, condições para a prática e a divulgação da fotografia que constituem um caso de excepção no panorama africano em geral e que deram origem à afirmação sucessiva de uma galeria de autores relevantes. Essa afirmação ocorreu com manifesta continuidade, apesar das dificuldades criadas pelos longos períodos de guerra e pela profunda debilidade económica do país, até tempos recentes. Para apresentar a importância da fotografia moçambicana, reuniu- se uma antologia alargada de obras de quatro fotógrafos com lugares marcantes e diferenciados ao longo do tempo, em vez de se procurar fazer uma enumeração exaustiva dos muitos nomes dessa mesma história. A mostra conta com obras incluídas em várias exposições organizadas desde 2008 e outras escolhidas para este novo projecto, cuja oportunidade se sublinha na circunstância de se celelebrarem em 2015 dos 40 anos da independência de Moçambique.

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Moira Forjaz, José Cabral, Luis Basto, Filipe Branquinho

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Moira Forjaz / José Cabral

Moçambique, 40 anos - 4 fotógrafosMoira Forjaz - José Cabral - Luis Basto - Filipe Branquinho

(4 fotógrafos de Moçambique por ocasião dos 40 anos da independência)

A fotografia constitui uma das dimensões mais reconhecidas da produção e da identidade cultural de Moçambique, distinguindo-se nas vertentes do fotojornalismo, da prática documental e da afirmação artística. Graças à figura incontornável de Ricardo Rangel (1924-2009), fotógrafo de imprensa desde os anos 60 que se afirmou no tempo colonial e exerceu uma eficaz acção formativa após a independência, Moçambique conheceu, até à actualidade, condições para a prática e a divulgação da fotografia que constituem um caso de excepção no panorama africano em geral e que deram origem à afirmação sucessiva de uma galeria de autores relevantes. Essa afirmação ocorreu com manifesta continuidade, apesar das dificuldades criadas pelos longos períodos de guerra e pela profunda debilidade económica do país, até tempos recentes.

Para apresentar a importância da fotografia moçambicana, reuniu-se uma antologia alargada de obras de quatro fotógrafos com lugares marcantes e diferenciados ao longo do tempo, em vez de se procurar fazer uma enumeração exaustiva dos muitos nomes dessa mesma história. A mostra conta com obras incluídas em várias exposições organizadas desde 2008 e outras escolhidas para este novo projecto, cuja oportunidade se sublinha na circunstância de se celelebrarem em 2015 dos 40 anos da independência de Moçambique.

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Os quatro autores que se apresentam - Moira Forjaz, José Cabral, Luís Basto e Filipe Branquinho - percorrem gerações sucessivas de um arco cronológico que vem desde os anos 70 e que se conclui com um dos fotógrafos de uma nova geração que tem ganho atenção internacional, conhecido entre nós pela participação nas exposições do BES Photo e do programa Próximo Futuro da Gulbenkian. Para além do grande colectivo que é a fotografia moçambicana das últimas décadas, habitualmente associado à influência reconhecida de Ricardo Rangel, pretendeu-se sublinhar a crescente autonomia autoral de vários itinerários criativos que, num meio limitado e por vezes adverso (sem mercado local e sem promoção institucional), encontraram condições de realização fora da fotografia de imprensa e do fotojornalismo. Em paralelo, a obra e a figura de Ricardo Rangel podem ser apresentadas através da projecção de filmes que lhe foram dedicados, em especial o «Sem Flash» de Bruno Zgraggen, de produção suíça, 2011.

Moira Forjaz, Ilha de Moçambique, c. 1978-80

Moira Forjaz, nascida no Zimbabwe em 1942, é autora de uma obra única, o livro "Muipiti", dedicada à mítica Ilha de Moçambique, editado em Lisboa pela Imprensa Nacional em 1983, no âmbito dos programas para a salvaguarda da sua arquitectura histórica, que conduziram à inscrição na lista do Património Mundial da UNESCO em 1991. Mostra-se uma selecção das provas de época («vintages»), os originais então expostos ou reproduzidos nessa edição. Em 2015 Moira Forjaz publicará um novo livro evocativo dos primeiros anos da independência.

José Cabral (n. 1952) é um fotógrafo activo desde a independência, com um trabalho documental e de criação autoral de especial importância, muito influente para as novas gerações que se seguem à escola de fotojornalismo impulsionada por Rangel e por Kok Nam. Homenageado na edição de 2006 do festival Photofesta de Maputo, é um artista de grande cultura visual e literária, que, num país ainda quase

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sem mercado para a fotografia independente, foi afirmando nas suas exposições mais recentes a possibilidade da diferença estética e da linguagem individual mediante um enfoque em grande parte auto-biográfico. Apresentam-se obras dessas exposições, «As Linhas da minha Mão», «Anjos Urbanos», «Espelhos Quebrados», numa antologia alargada.

José Cabral

Segue-se Luís Basto (n. 1969), outro autor com projecção internacional, que foi incluído nas exposições «Africa Remix», 2004, e «Snap Judgments – new positions in contemporary african photography», esta organizada por Orkui Enwezor, no ICP - International Center of Photography, Nova Iorque, 2006. É um fotógrafo de Maputo e do difícil quotidiano da cidade, mas também um notável paisagista. Com ele a mostra faz a passagem à cor, num projecto de grande coerência conceptual a que chamou «Espaços iluminados» e nas paisagens da série «Terra-Mar».

Luis Basto

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Luis Basto

Por fim, Filipe Branquinho (n. 1977), um dos elementos de uma nova geração - em que se destacam também Mauro Pinto e Mário Macilau -, que já pode aceder ao circuito das galerias e das feiras internacionais, e que têm sido vista nas edições do BES Photo de 2013. Os retratos de grande formato, das séries «Ocupações», em que os modelos posam para o fotógrafo nos seus lugares de trabalho ou de residência, são uma marca forte da sua obra, actualizando a dinâmica da fotografia documental numa direcção totalmente alheia ao gosto pelo exotismo e atenta à mudança da sociedade moçambicana. Filipe Branquinho acaba de ser um dos vencedores do Prémio Piclet Africa.

! Filipe Branquinho