Mobilidade Urbana: Uma questão de planeamento ou de mentalidade? - Caso de estudo do Parque das...

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Seminário de Investigação em Geografia Humana Mobilidade Urbana: Uma questão de planeamento ou de mentalidade? Caso de estudo do Parque das Nações Igor Boieiro - email: [email protected] & Jessique Lopes - email: [email protected]

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o presente trabalho visa perceber se o planeamento urbano é um factor potenciador da maior utilização dos transportes públicos ou se grande parte não se resume a questões sócio-culturais.

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Seminário de Investigação em Geografia Humana

Mobilidade Urbana:Uma questão de planeamento ou de mentalidade?

Caso de estudo do Parque das Nações

Igor Boieiro - email: [email protected] & Jessique Lopes - email: [email protected]

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É incontestável que a mobilidade urbana é uma característica vincada das

sociedades contemporâneas e que, actualmente, as questões relacionadas com a

mobilidade ocupam um lugar de destaque no quadro dos problemas que caracterizam

as áreas urbanas.

O tema da mobilidade tem sido muito estudado e debatido ao longo dos anos, no

entanto, em relação a alguns pontos ainda não existe um consenso, sobretudo, no que

diz respeito ao potencial das políticas de planeamento do uso do solo e dos transportes,

como forma de alcançar uma mobilidade sustentável.

Neste sentido o presente trabalho visa perceber se o planeamento urbano é um

factor potenciador da maior utilização dos transportes públicos ou se grande parte não

se resume a questões sócio-culturais.

Apresentação do tema de estudo

Mobilidade Urbana: Uma questão de planeamento ou de mentalidade?

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Metodologia

Mobilidade Urbana: Uma questão de planeamento ou de mentalidade?

1ª Etapa - Procura de um tema com interesse científico, decisão pela mobilidade urbana.

2ª Etapa - Discussão teórica do tema baseada numa intensa consulta bibliográfica

3ª Etapa - Decisão da abordagem como a investigação deveria ser conduzida.

4ª Etapa – Escolha da área de estudo, Parque das Nações, com características de Smart Growth.

5ª Etapa - Elaboração de um diagnóstico preliminar referente à área estudada

6ª Etapa – Elaboração e realização de 162 inquéritos e duas entrevistas.

7ª Etapa - Interpretação e análise de todos resultados obtidos. A informação obtida através de inquéritos foi tratada e analisada com recurso ao programa informático de análise estatística SPSS.

Etapa Final - Elaboração das principais conclusões.

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Modelo Analítico 

Mobilidade Urbana: Uma questão de planeamento ou de mentalidade?

Factores que influenciam a Mobilidade urbana

Boa Oferta Transportes Colectivos

Factores Sócio-Económicos- Classe Social (rendimento )

Escolha do modo de transporteDiferentes necessidades de viajar

Modo de Deslocação

Menor utilização do Transporte IndividualMaior utilização do Transporte Colectivo

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Questões de Investigação e Hipóteses

1ª Questão de Investigação

Será que uma área planeada com alta densidades e usos mistos do solo, servida por boas acessibilidades ao transporte público, uma diversidade de serviços e espaços públicos atractivos, tende a estar correlacionada com uma maior utilização do transporte público?

Hipótese Explicativa

Uma área planeada com alta densidade residencial e de emprego, servida por boas acessibilidades ao transporte público, uma diversidade de serviços e espaços públicos atractivos, tende a estar positivamente correlacionada com uma maior utilização do transporte colectivo, com a redução do número médio de viagens, da distância média por viagem (entre casa e emprego) e possivelmente proporciona um aumento da utilização d bicicleta e um incentivo às deslocações pedonais. (citando Meurs et al, 2003)

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Questões de Investigação e Hipóteses

2ª Questão de Investigação

As pessoas ao optarem por habitar num determinado local têm em atenção a oferta

de transportes públicos ou privilegiam outros factores?

Hipótese Explicativa

Ao escolherem uma local planeado para habitar, as pessoas têm pouco em conta a

oferta de transportes públicos existente, privilegiando outros factores .

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Enquadramento da área de estudo

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Localização Geográfica

Caracterização DemográficaÁrea : 3,30 km ²

População Residente : Aproximadamente 15 000 habitantes (segundo estimativas da Parque Expo S.A em 2007)

Densidade Populacional : 4545, 5 hab./km ² (segundo estimativas da Parque Expo S.A em 2007)

Fig. 3 - Mapa do P. Nações Fonte: Parque Expo S.A.

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Enquadramento da área de estudo

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Caracterização da rede de transportes

Existem assimetrias nos níveis de oferta de transporte público nas três áreas: Área Centro apresenta um bom nível Área Norte apresenta uma situação razoável Área Sul oferece um nível baixo

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Apresentação e interpretação dos resultadosClasse Etárias 79,1% dos inquiridos têm idades compreendidas 26-65

Estado Civil• Casado (a) (63% );• Solteiros (a) (29,6%); • Divorciado (a) (6,8%);• Viúvo (a) (0,6%)

Situação Sócio – Profissional População Activa Empregada (77,2%); Reformados/Pensionistas (8,6%); Desempregado à menos de um ano (1,2%)

Grau de Instrução• Ensino Superior (75,9%,);• Ensino Secundário (18,5%); • 1º, 2º e 3º ciclo do Ensino Básico totalizam (5,6%)

Local de Trabalho/ Estudo • AML a Norte do Tejo (82%);• AML a Sul do Tejo (1,8%);• Fora da AML (4,2%).

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Quadro II Local de trabalho / estudo %

Concelho Lisboa 69.1

Concelho Loures 4.3

Concelho Oeiras 3.1

Concelho Amadora 2.5

Concelho Sintra 1.2

Concelho Almada 1.2

Concelho Coimbra 0.6

Concelho Santarém 0.6

Concelho Mafra 0.6

Concelho Leiria 0.6

Concelho Torres Novas 0.6

Concelho Odivelas 0.6

Concelho Vila Viçosa 0.6

Concelho Coruche 0.6

Concelho Cascais 0.6

Concelho Azambuja 0.6

Concelho Palmela 0.6

P. Nações 10.5

Não tem 11.7

Total 100

AML Norte do Tejo 82

AML Sul do Tejo 1.8

Fora da AML 4.2

Não tem 11.7

Total 100

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Apresentação e interpretação dos resultados

Principal modo de deslocação (para o emprego /educação)

• Automóvel 75%; • Comboio 4,9%; • Só a Pé com 4,3%;• Autocarro e o Metro, ambos com 3,7%.

Razão da escolha do modo de Transporte Individual • Comodismo 25,9%;• Necessidades de Emprego (15,4%);• Rede transportes públicos complexas (8,6%), • Necessidades familiares (8%) e • Rapidez (7,4%)

Razão da escolha do modo de Transporte Público • Proximidade à rede de transportes público (8,6%) • Questões financeiras com 1,2%.

Utilização de Transporte Público• Nunca utiliza (40,7%);• Esporadicamente (32,7%);• Utiliza diariamente 19,1%

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Apresentação e interpretação dos resultadosFactores que influenciaram a escolha do local a habitar: • “Espaço envolvente” (32,4%);• “Qualidade da habitação e espaço envolvente” (17,9%),;• “Qualidade da habitação, espaço envolvente e acessibilidades” (9,9%);• “Familiares” (7,4%) e a qualidade da habitação (6,8%);• “Transportes públicos “ (0,6%)

Modo de deslocação utilizado nas compras diárias• Automóvel (51,9%);• Só a pé (27,2%)• A pé e de Automóvel (11,7%)• Autocarro (2,5%)

Modo de deslocação para consultar o médico de clínica geral • Automóvel (79%); Só a pé (8%); Autocarro (4,3%)• Metro (2,5%); Comboio (1,2%); Táxi (1,2%)

Modo de deslocação para a área onde pratica desporto• Só a pé (59,3%); • Automóvel (13,6%); • Bicicleta (1,9%); • Comboio (1,2%)

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Fig. 6 - Espaço envolvente do P. Nações

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Análise das EntrevistasRealizaram-se duas entrevistas • Dr. José Moreno (Presidente da Associação de Moradores do P. N.)• Geógrafo Aquilino Machado (Técnico da Empresa Parque Expo)

Opinião acerca das questões de mobilidade e da rede de transportes no P. Nações?

Dr. José Moreno - considera insuficiente na área Norte e Sul e com pouca coordenação.

Dr. Aquilino Machado – “a rede de transportes é suficiente, embora compreenda que existem nas áreas habitacionais, a norte e sul, condicionalismos no que diz respeito à frequência e aos horários dos autocarros que aí circulam. Outro ponto importante é a não existência de uma política concertada entre os vários modos de transporte público de passageiros.”

Os residentes queixam-se da rede de transportes.Acha que se a rede fosse optimizada,

estes a utilizariam mais?

Dr. José Moreno – “Não utilizariam na mesma, devido as necessidades laborais e familiares e a questões de comodidade, embora se fosse melhorada a oferta haveria de certeza mais utilizadores.”

Dr. Aquilino Machado – “Penso que não, porque os residentes pertencem a uma classe média alta e em

Portugal, grande parte desta classe social acha depreciativo utilizar transportes públicos para se deslocar, isso,

aliado ao comodismo constitui um enorme entrave à densificação da oferta de autocarros na área do Parque

das Nações, pois é economicamente inviável para as empresas rodoviárias de transporte colectivo.

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Principais Conclusões O estudo realizado demonstra que não existe uma relação directa, neste caso,

entre o modelo de expansão urbana e o modo de deslocação.

A existência de uma plataforma multi-modal com uma vasta oferta de transportes

públicos tem um valor mínimo para os residentes do Parque das Nações.

A não utilização dos transportes colectivos por parte da maioria dos residentes do

Parque das Nações está associada a factores socioculturais.

Um melhoramento significativo dos transportes públicos, não convenceria a

maioria dos inquiridos a optarem por este modo de deslocação.

O uso excessivo do automóvel por parte dos residentes, contraria as teses que

defendem que áreas urbanas planeadas, segundo um modelo urbano de Smarth

Growth, fomentam uma maior utilização dos transportes colectivos.

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Limitações do projectoOs resultados obtidos no caso de estudo do Parque das Nações poderão não se

verificar em outras áreas urbanas nacionais , uma vez que esta é uma zona de elite social, que procura manter acima de tudo o seu espaço, conforto e privacidade.

Um trabalho mais rigoroso e exaustivo exigiria mais tempo, recursos humanos e financeiros.

Dificuldade na realização dos inquéritos.

Este trabalho poderá abrir caminhos para novas linhas de investigação e/ou políticas, visto que os resultados obtidos contrariam teses de vários investigadores que defende o smarth growth como modelo urbano que fomenta uma maior utilização do transporte público.

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Possíveis implicações para futuras investigações e/ou políticas

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