Mobilidade ainda travada -...

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Mobilidade para o morador da Maré A maioria dos moradores da Maré leva até 30 minutos para se locomover para o tra- balho, que geralmente fica na zona norte ou centro. E é o ônibus o meio de transporte mais utilizado por eles. É o que mostra pes- quisa feita pela Redes da Maré em parceria com o Observatório de favelas. PÁGINA 11 72 ANO VII. JANEIRO DE 2017. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. MARÉ, RIO DE JANEIRO. ELISÂNGELA LEITE ELISÂNGELA LEITE A SAÍDA PELA BICICLETA O projeto Maré Sem Fronteiras, da Redes da Maré, promove o ciclismo entre os jovens moradores do bairro. O uso da bicicleta é in- centivado como meio de transporte e como ferramenta educativa. São promovidos ofi- cinas sobre mecânica de bicicleta e passeios culturais dentro da Maré. PÁGINAS 12 E 13 O controle da torneira durante o verão PÁGINA 4 A prevenção ao câncer de próstata PÁGINA 13 O abandono dos equipamentos do Piscinão de Ramos PÁGINA 5 DOUGLAS LOPES Mobilidade ainda travada A mobilidade urbana pode ser alcançada a partir de um conjunto de políticas de transporte e circulação de veículos, que priorizem o acesso amplo e democrático à cidade, garantindo espaços ao transporte coletivo e o não motorizado, de maneira efetiva, sustentável e socialmente inclusiva. Grande desafio para uma cidade como o Rio de Janeiro que, apesar dos novos meios de circulação e novos corredores, está distante de alcançar esse ideal em seu modelo de transporte. PÁGINAS 8 E 9

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Mobilidade para o morador da Maré A maioria dos moradores da Maré leva até 30 minutos para se locomover para o tra-balho, que geralmente fica na zona norte ou centro. E é o ônibus o meio de transporte mais utilizado por eles. É o que mostra pes-quisa feita pela Redes da Maré em parceria com o Observatório de favelas. PÁGINA 11

72ANO VII. JANEIRO DE 2017. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. MARÉ, RIO DE JANEIRO.

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A SAÍDA PELA BICICLETAO projeto Maré Sem Fronteiras, da Redes da Maré, promove o ciclismo entre os jovens moradores do bairro. O uso da bicicleta é in-centivado como meio de transporte e como ferramenta educativa. São promovidos ofi-cinas sobre mecânica de bicicleta e passeios culturais dentro da Maré. PÁGINAS 12 E 13

O controle da torneira durante o verão PÁGINA 4

A prevenção ao câncer de próstataPÁGINA 13

O abandono dos equipamentos do Piscinão de Ramos PÁGINA 5

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Mobilidade ainda travada A mobilidade urbana pode ser alcançada a partir de um conjunto de políticas de

transporte e circulação de veículos, que priorizem o acesso amplo e democrático à cidade, garantindo espaços ao transporte coletivo e o não motorizado, de maneira efetiva, sustentável e socialmente inclusiva. Grande desafio para uma cidade como o Rio de Janeiro que, apesar dos novos meios de circulação e novos corredores, está distante de alcançar esse ideal em seu modelo de transporte. PÁGINAS 8 E 9

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UMA INICIATIVA:

Redes de Desenvolvimento da Maré

DIRETORIA:

Alberto AleixoAndréia Martins Edson Diniz Nóbrega Júnior Eliana Sousa Silva Helena Edir

APOIO:

16 Associações de Moradores da Maré

Observatório de Favelas

Conexão G

Luta pela Paz

Vida Real

REALIZAÇÃO:

R. Sargento Silva Nunes, 1012 Nova Holanda - Maré Rio de Janeiro - RJCEP: 21044-242Telefone: (21) 3105-5531

(21) [email protected]

PARCERIA:

OS ARTIGOS ASSINADOS NÃO REPRESENTAM A OPINIÃO DO JORNAL.

PERMITIDA A REPRODUÇÃO DOS TEXTOS, DESDE QUE CITADA A FONTE.

EDITOR EXECUTIVO E JORNALISTA RESPONSÁVEL

Marcílio Brandão(Mtb – 1076 / PE)

EDITOR ASSISTENTE

Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)

JORNALISTAS COLABORADORAS

Adriana Pavlova

FOTÓGRAFA

Elisângela Leite

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

Mórula_Oficina de ideias

IMPRESSÃO

Folha Dirigida

TIRAGEM

50 mil exemplares

LEIA O MARÉ DE NOTÍCIAS E BAIXE O PDF EM:www.redesdamare.org.brDISTRIBUIÇÃO GRATUITA

EXPEDIENTE

humor | André de Lucena

A mobilidade é tema central desta edi-ção do Maré de Notícias nº72. O Rio de Janeiro teve obras recentemente,

como os corredores exclusivos de transporte coletivo, e a adoção de novos meios de trans-porte, o BRT, que tem o objetivo de facilitar o deslocamento na cidade e reduzir o engarra-famento e o tempo gasto nas viagens cotidia-nas. Mas para especialistas as medidas não re-solvem o problema da mobilidade da maioria da população, principalmente a que mora nas favelas. Essas comunidades ainda precisam ser integradas à cidade, de uma maneira geral. Para elas foram reduzidas linhas de ônibus, de barcas e muito pouco foi feito para que se te-nha acessibilidade para todos. Os mais idosos ou mesmo pessoas que têm deficiência con-tinuam com grande dificuldade de circular pela cidade. Sobre o tema, nossa reportagem ouviu especialistas como o diretor de políticas urbanas do Observatório de Favelas, geógrafo Jailson de Souza e Silva, e estamos publican-do, com exclusividade, um artigo de Clarisse Linke, mestre em Políticas Sociais, ONGs e Desenvolvimento. E ainda estamos apresen-tando uma pesquisa, feita pela Redes da Maré em parceria com o Observatório, sobre a mo-bilidade para o morador da Maré.

Sobre o direito à Segurança Pública estamos com a estreia da coluna “Somos Maré Temos Direitos”, aberta às consultas de moradores do bairro sobre dúvidas e orientações que preci-sem, em casos de violações a direitos durante operações e abordagens policiais.

Em temas comunitários estamos mostran-do a situação em que se encontram os equipa-mentos públicos do Piscinão de Ramos e como os moradores da Vila do João estão recupe-rando suas pracinhas localizadas nos entron-camentos de ruas. E em “dicas culturais” veja como conhecer a obra de um fotógrafo da Maré exposta nas estações do metrô de Londres.

Tenham todos uma boa leitura.

EDITORIAL

GARANTA SEU JORNAL!O MARÉ DE NOTÍCIAS chega todo mês na Associação de Moradores da sua comunidade. É só ir buscar. É gratuito.

/redesdamare @redesdamare

2 EDIÇÃO 72 | JANEIRO 2017

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Morador de Rubens Vaz, na Maré, Clério de Souza, de 64 anos,

costuma ir ao Centro de Saúde Hélio Smidt, na comunidade, para ver como anda a saúde. "Fiz um tratamento prolongado no urologista, de uma infecção urinária que quase me matou, em 2007. Hoje já fiz diversas vezes o exame de sangue PSA e ultrassonografia, o resultado é que a minha próstata pesa 11 gramas, ou seja, está tudo nor-mal", comenta Clério.

Quando se fala em cuidados com a saúde, Clério, hoje, não se comporta como a maioria dos brasileiros. Levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Urologia, SBU, acusa que 51% dos homens no Brasil não vão ao médico regularmente. O pro-blema é que o câncer de prós-tata, o segundo mais frequente entre os homens, só apresenta seus sintomas quando já está em estágio avançado, quando a chance de cura é menor. O Instituto Nacional do Câncer es-tima que, em 2016, foram mais de sessenta e um mil novos ca-sos de câncer de próstata.

SAÚDE

O preconceito não pode ser determinanteEspecialistas indicam a prevenção como caminho para reduzir a incidência da doença no país

Clério de Souza teve um susto em 2007 e, hoje, cuida regularmente da saúde

Para especialistas, não há outro caminho para se comba-ter a alta incidência de câncer de próstata que não seja a pre-venção, que pode ser feita por exames periódicos de sangue para medir os níveis de PSA, uma proteína que é muito li-berada pela próstata quando há câncer, inflamação ou in-fecção, e do exame da próstata pelo toque retal. No entanto, a SBU já divulgou pesquisa que mostra que metade dos bra-sileiros nunca passou por um urologista por preconceito, apesar dos especialistas garan-tirem que se trata de um exame “indolor, rápido e instantâneo”.

A SBU defende a ida ao uro-logista para exame anual de próstata a partir dos cinquen-ta anos. E caso o paciente te-nha algum parente de primeiro grau, pai, irmão, tio, que teve a doença, esse exame deve acontecer a partir dos 45.

TratamentoSobre o tratamento, os uro-

logistas dizem que dependerá do estágio da doença, da idade do paciente e de suas condi-

ções clínicas. Naqueles que têm a doença no início, as opções são: a chamada vigilância ativa, apenas o acompanhamento da evolução do quadro, a cirurgia para a retirada da próstata e a radioterapia. Quando o pa-ciente tem o estado da doença avançado localmente, cirurgia e radioterapia são opções para o objetivo de cura. E nos casos mais avançados o tratamento tem intenção paliativa, pode-se optar pela quimioterapia asso-

ciada ou não a cirurgia para atenuar as más condições de saúde do paciente.

Pelas informações médicas, portanto, o melhor procedimen-to é mesmo superar o precon-ceito e procurar a prevenção. É seguir o exemplo do morador de Rubens Vaz, Clério de Souza, e cuidar da saúde regularmente. Há dois anos que as unidades de saúde do SUS são obrigadas, por lei, a oferecer esses exames à população masculina.

ATENDIMENTO NA MARÉOs moradores da Maré podem fazer o exame de próstata nas unidades de saúde do bairro. Segundo a Secreta-ria Municipal de Saúde, todos os sete centros e as duas clinicas da família da Maré fazem o atendimento primá-rio dos pacientes:

CMS JOÃO CÂNDIDOAvenida Lobo Junior, 83, Marcílio Dias

CMS AMÉRICO VELOSO Rua Gerson Ferreira, 100,Praia de Ramos

CMS PARQUE UNIÃO Rua Ari Leão, 33

CMS HÉLIO SMIDT Rua Tancredo Neves, S/N°, Rubens Vaz

CMS SAMORA MACHEl Rua Principal, S/N°, Parque Maré

CMS NOVA HOLANDA Rua Ivanildo Alves, S/N° Nova Holanda

CMS VILA DO JOÃO Rua 17, S/N° - Vila do João

CF AUGUSTO BOAL Avenida Guilherme Maxwel, 107, Morro do Timbau

CF ADIB JATENE Avenida Bento Ribeiro Dantas, S/N, Vila do Pinheiro

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ECONOMIA

De olho na torneira no verão

HÉLIO EUCLIDES

Aestação do verão vem acrescenta-da de calor e umidade relativa do ar baixa. Condições que causam

um maior consumo de água. Na Maré, a redução da água nas residências já co-meça a ser sentida. O funcionário da Cedae Maré, Vilmar Gomes Crisóstomo, também conhecido por Magá, está pre-ocupado porque foi a primeira vez que moradores da comunidade do Rubens Vaz pediram ligações novas. “A sugestão é que economizem o máximo”, alerta.

O funcionário explica que o início de linha começa no Parque União e três tu-bulações fazem a distribuição. Contudo, se houver desperdício no percurso, po-derá faltar água ao final, que é a área do Salsa e Merengue. “Nesse caminho há as ligações clandestinas, chuveiros nas ruas que ficam ligados, lava jatos que deixam água jorrar, além de piscinas que são cheias e esvaziadas todos os finais de se-mana. É preciso desligar registros quando não usados, encher piscinas apenas uma vez nos finas de semanas, e reaproveitar essa água”, sugere Vilmar.

É fato que se encontra com facilidade, ao percorrer o bairro, situações de desper-dício de água. Mas também há exemplos de comportamentos mais conscientes em re-lação ao problema. Antônio da Silva, dono de um Lava Jato na comunidade do Rubens

Moradores da Maré já sentem os reflexos do aumento do consumo de água nesta temporada

Vaz, é disciplinado quanto ao uso da água: "Tenho que levar a comida para dentro da minha casa. Por isso, quando enche o balde desligo o chuveiro, pois se faltar água não tenho como lavar os carros", detalha.

A boa notícia é que não há previsões alarmantes de seca no verão 2017, até agora. O meteorologista Alexandre Nas-cimento do Climatempo, por exemplo, tem divulgado que, de uma maneira ge-ral, o verão estará muito próximo à nor-malidade em relação à chuva e tempe-ratura em grande parte do país. Apenas deverá chover um pouco mais em partes do Norte e Nordeste e um pouco menos em áreas do Sul.

Para o próximo verão a Assessoria de Comunicação da Cedae informou que mantém a campanha contra o desperdí-cio. No site www.todagotaconta.com.br é possível acessar dicas educativas para estimular o consumo racional de água,

evitando o desperdício. O combate às li-gações clandestinas prossegue porque elas reduzem a pressão na rede, além da substituição de redes antigas. Iniciativas que devem ser acompanhadas de perto pela população.

Na área ambiental, a companhia já re-alizou o replantio de mais de 2 milhões de mudas de matas ciliares, com espécies nativas da mata atlântica produzidas em canteiros próprios, nas margens de rios e mananciais onde capta água, um progra-ma iniciado em 2007. Que os moradores da Maré, assim como todo cidadão carioca, fiquem atentos ao que está sendo feito no sentido de garantir o acesso a água para to-dos e cobrem os resultados.

É preciso desligar registros quando não usados, encher piscinas apenas uma vez nos finas de semanas, e reaproveitar essa água”VILMAR GOMES CRISÓSTOMO,funcionário da cedae maré

O uso de toneis e baldes no lava jato reduz desperdício

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Um piscinão esquecidoEspaço na praia de Ramos precisa de revitalização

LAZER

HÉLIO EUCLIDES

Quem circula pelo Pis-cinão de Ramos, es-paço de lazer na Maré,

percebe o estado de abandono em que se encontra o local, por parte dos órgãos públicos. O prédio da Administração está em ruínas, os ferros da antiga lona cultural retorcidos e os banheiros quebrados. O ponto turístico pouco lembra o tem-po do bordão, "cada mergulho é um flash!", concebido pela atriz Mara Virgínia Manzan.

O Piscinão de Ramos foi inaugurado em dezembro de 2001. No ano seguinte foi rebatizado como Parque Ambiental Carlos Roberto de Oliveira ‘Dicró’. Naquele tempo, quem passava pela Linha Vermelha percebia de longe uma lona cultural que lembrava o círculo da ban-deira. Primeiro a lona rasgou, e depois os ferros enferruja-ram e foi necessário a derru-bada. Outro ponto crítico são as instalações dos banheiros, que se encontram sem chu-veiros, sem água e luz. Para o mínimo uso, uma moradora cuida da limpeza de um dos pontos. “Se eu não olhasse, nem estavam de pé. Eu lavo e limpo, compro o material e

não cobro nada de quem usa os banheiros. Os barraqueiros que me ajudam”, conta Maria da Penha Leiva de Oliveira.

O presidente da Associa-ção de Moradores de Roque-te Pinto e Praia de Ramos, Cristiano Reis, acredita que a solução dos banheiros seria uma administração local. “A associação poderia gerir os banheiros, com possibilidade de cobrança de uma taxa de 50 centavos, ou com colabo-ração dos barraqueiros. Seria algo bom para os banhistas”, revela. Ele lembra que a água e areia ainda estão bem trata-das e que são feitas vistorias constantes por biólogas.

A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, por meio da Assessoria de Comunicação, descartou a ideia da associa-ção. “O Piscinão de Ramos é uma área pública bastante

Prédio e estruturas abandonadas do Piscinão de Ramos

ampla e compete à secretaria a administração das questões esportivas, como a aplicação das aulas, a manutenção do campo de grama sintética, das duas quadras poliesportivas, da quadra de areia, do depar-tamento médico, da sede ad-ministrativa e dos vestiários da

área esportiva”, informou a as-sessoria. Explicou ainda, que, aos finais de semana, a área do Parque é aberta para lazer, o que pode eventualmente oca-sionar acúmulo de lixo. No en-tanto, não informou se tem ou não planos ou projeto para a revitalização do espaço.

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Moradores reformam praças na Vila do João

URBANO

Cansados de esperar pela Prefeitura, população assume a recuperação dos espaços

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HÉLIO EUCLIDES

A praça é do povo, como o céu é do condor”. Os moradores da Vila do João, na Maré, resolveram assumir os

versos famosos do poeta baiano Castro Al-ves, retirados do poema “O povo ao poder”, quando desistiram de esperar que o poder público tirasse do papel o projeto de sete praças que estão no entroncamento de ruas e que precisavam ou precisam de reforma.

“Há dois anos peço a ajuda da prefeitura. Como não obtive resposta, entrei em con-tato com a iniciativa privada, comerciantes e moradores e arregaçamos as mangas”, re-velou o ex-presidente da Associação de Mo-radores, Marquinho Gargalo.

A associação, em parceria com uma em-presa de containers, vem conduzindo o tra-balho de revitalização das praças. Duas já foram totalmente reformadas, em sistema de mutirão e outras duas estão em anda-mento. “Quando não conseguimos o mu-

tirão, a associação assume os gastos, mas a ajuda da comunidade é uma beleza”, co-menta o pedreiro, Manuel Felinto do Carmo.

As praças estão recebendo mesa para jogos, bancos e churrasqueiras. “Fico feliz em olhar a nova praça, eu amo esse espa-ço, e por isso que luto por ela”, confessa o idealizador do projeto, Cornélio Juventus dos Santos. O próximo passo é a conclu-são do projeto, com a reforma das últimas duas praças. A sétima foi a única recupera-da pela prefeitura.

A Vila do João fica entre a avenida Bra-sil e as favelas Conjunto Esperança, Sal-sa e Merengue e os Conjuntos Pinheiros. E tem histórico de luta pela moradia. Foi construída no início da década de 1980 pelo Projeto Rio, do Governo Federal, que se propunha a retirar da área as moradias precárias, como as palafitas que ocupa-vam cerca de um terço do terreno. Hoje a vila tem cerca de 4 mil domicílios com uma população de cerca de 12 mil pessoas.

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Praça recuperada pelos moradores

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O cantinho do charmeO Charme ganha adeptos na Maré e consolida baile como opção de lazer

MÚSICA

ROBERTO SILVA

Há cinco anos, um baile charme reúne amigos e admiradores do esti-

lo na Nova Holanda. O “Can-tinho do Charme”, como é chamada a festa, é organizada por Luiz Fernando Pinheiro, que há quarenta anos vive na comunidade.

Conhecido também como Fernando da Raça, o dançari-no conta que teve o primeiro contato com a música black ao ouvir James Brown, um dos maiores representantes da Soul Music. “Comecei dançando Ja-mes Brown, gostei do charme e hoje também faço dança de salão”, diz alegremente.

O apelido “da Raça” sur-giu quando Fernando fez um evento que se chamava “Fes-ta da Raça”. Com o sucesso da festa, um mês depois realizou a “Festa da Raça 2 – A Revanche”. Desde então, não parou mais de produzir os próprios bailes.

A cada edição do “Cantinho do Charme” comparecem de-zenas de pessoas de todos os lugares. Com frequência mensal (ocorre a cada segundo domin-go do mês), o baile só acontece com as parcerias que ajudam Fernando organizar o encontro.

“O espaço é cedido pelo Arlin-do, a equipe de som é do DJ Lô, residente da casa, um cara que nunca me abandonou, e tem os caldos surpresa servidos gratui-tamente aos convidados, feitos pela minha esposa, Danielle, e meu filho ainda me ajuda na produção”, ressalta Fernando.

Tradicionalmente o “Char-me” atrai pessoas que gostam de se diferenciar pelo estilo da dança e da roupa. “O char-meiro é diferenciado, tem uma postura, se comporta e gosta de andar sempre em top de li-nha. No baile coloco o charme, a música lenta e o swing, que inspira a dança de salão.”

Existem outros grupos que também promovem bailes

“charme” na Maré: o Flash Back do Parque União, por exemplo, também acontece uma vez por mês.

O Charme no RioO estilo musical ganhou as

pistas de dança dos subúrbios do Rio de Janeiro na década de 80. Um dos mais famosos era o Disco Voador, em Marechal Her-mes, mas, hoje, a história do char-me se confunde com o Viaduto de Madureira, um dos mais antigos e famosos bailes que mantém o rit-mo vivo no Brasil. A cada sábado, o baile do Viaduto reúne na zona norte cerca de duas mil pessoas, que dançam, mas também bus-cam, na música, a preservação da identidade negra.

O charmeiro é diferenciado, tem uma postura, se comporta e gosta de andar sempre em top de linha”FERNANDO DA RAÇAdançarino

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TRANSPORTE

Mobilidade urbana ainda distanteCidade cria novos meios de circulação, mas ainda faltam acessibilidade e integração com as favelas

HÉLIO EUCLIDES

A mobilidade urbana pode ser alcançada a partir de um conjunto de po-

líticas de transporte e circula-ção de veículos, que priorizem o acesso amplo e democrático à cidade, garantindo espaços ao transporte coletivo e o não motorizado, de maneira efe-tiva, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável. Um desafio e tanto para uma cidade como o Rio de Janei-

ro que, apesar da criação de novos meios de circulação e novos corredores, está bem longe de atingir esse ideal de sustentabilidade em seu mo-delo de transporte.

O diretor de políticas ur-banas do Observatório de Favelas, geógrafo Jailson de Souza e Silva, o ambientalista Sérgio Ricardo, e o fotógrafo Bira Carvalho defendem que há necessidade de meios que liguem a periferia aos centros, de uma forma mais ecológica e inclusiva.

Para Jailson, a mobilidade urbana não é só algo físico e sim algo que adapte a cidade para todos. “Não é só se en-contrar mecanismo de levar a pessoa no CCBB, pois o ci-dadão precisa se sentir inte-grado ao ambiente. Para isso, é necessário uma mobilidade social, e mais importante ain-da, uma mobilidade plena, que venha suprir a necessidade da cidade”, avalia. Ele acredita que as intervenções até foram um avanço, mas que historica-mente não se pensa no coleti-

vo. “Criou-se uma mobilidade elitizada, com foco no carro. A Linha Amarela, quando foi idealizada, seria um metrô, só que a Barra não aceitou. Ago-ra fizeram uma linha de metrô que vai atingir 300 mil passa-geiros e se abandonou o de São Gonçalo, que beneficiaria três milhões pessoas”, expõe.

O geógrafo explica que uma parte da população é esqueci-da, um exemplo é que apenas recentemente a Zona Oeste teve o primeiro túnel, com a Transolímpica, algo natural no Centro e Zona Sul. “O di-reito à mobilidade não é uma preocupação dos governantes. Tem que se estudar três pos-

BRT em funcionamento e novos corredores da Av. Brasil, mas faltam acessibilidade e integração entre bairros

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Mobilidade urbana ainda distante sibilidades de mobilização: o

metrô para Itaboraí e adjacên-cias. Segundo, o modal alter-nativo que seriam as ciclovias e as hidrovias, como uma bar-ca de São Gonçalo a Praça XV. E por fim, a transformação dos trens em metrô e nesse seg-mento se criar mais linhas de metrô por superfície”, ressalta. Quando o assunto é mobilida-de na favela, ele não concorda com as medidas recém-to-madas. “Nas favelas acontece a mesma coisa, se cria coisas equivocadas, como o telefé-rico. O que tinha que ser fei-to é a regulamentação dos mototáxis e dos cabritinhos, que são as kombis que circu-lam internamente. Também se criar bicicletários, e projetos como as bicicletas laranjas da Zona Sul. O importante seria a produção de formas alternati-

vas de se locomover, como o incentivo do uso das bicicletas elétricas, em especial em áre-as de morro. Em específico, a Maré precisa estar integrada com o entorno. Uma iniciati-va boa seria uma ciclovia na Avenida Brasil, junto ao BRT e VLT”, conclui Jaílson.

Para o ambientalista Sér-gio Ricardo algo necessário na mobilidade urbana seria o in-centivo ao transporte aquaviá-rio, um estímulo a algo menos poluente. A sua crítica é que o governo do Estado foi na con-tramão da mobilidade susten-tável e diminuiu os itinerários das barcas que ligam as ilhas do Governador, Paquetá e Ni-terói. O ambientalista levanta a bandeira do uso maior das barcas, o que diminuiria os congestionamentos, algo que traz prejuízos econômicos es-

Criou-se uma mobilidade elitizada, com foco no carro. A Linha Amarela, quando foi idealizada, seria um metrô, só que a Barra não aceitou”JAÍLSON DE SOUZA E SILVA,geógrafo

ficam nas ruas e diminuem as áreas de lazer. O crescimento das motos na favela virou um modismo, tem que haver uma discussão, se não vai piorar, pois o inchaço não vai parar. A dinâmica da favela mudou, pois circular na Rua Teixeira Ribeiro é um transtorno. Para piorar, alguns moradores co-locam ferros que marcam ter-ritórios, e privatizam as ruas, um espaço público”, reclama.

Bira, que é cadeirante, acha que mobilidade urbana tem que vir agregada à acessibili-dade. “Para ir à Praia de Copa-cabana, tenho que seguir com minha cadeira até o Parque União, pegar o BRT, descer em Vicente de Carvalho e seguir de metrô, se for final de sema-na há transferência de linha, no total se gasta duas horas, uma volta ao mundo”, aponta. Ele acha que as barreiras dificul-tam a circulação na cidade. “O idoso e o cadeirante ficam cada vez mais distante dos ônibus. Eu mesmo demorei 23 anos para voltar a andar de ônibus, hoje aumentou o número de elevadores nos veículos, mas o acesso é ruim. Falta respeito ao direito de ir e vir, o que é uma crueldade. É uma cidade ma-ravilhosa com diversos points, mas faltam rampas de acesso e banheiros adaptados”, finaliza.

A mobilidade urbana, por-tanto, é uma grande questão que o município do Rio de Ja-neiro precisa responder à po-pulação, da falta de rampas e calçadas que facilitem a cir-culação de todos ao excesso de automóveis e o serviço de transporte coletivo ruim, que não atendem à integração en-tre os bairros.

timados em 40 bilhões por ano, além da poluição atmos-férica e do adoecimento da população. Sérgio relata que hoje milhares de passageiros estão com uma única opção de deslocamento, o modal ro-doviário que, na Região Me-tropolitana fluminense, é con-trolado, há décadas, por um grupo de empresas de ônibus que monopolizam os serviços de transportes.

Já o fotógrafo Bira Carvalho entende que mobilidade ur-bana tem que ligar o máximo os centros à periferia. “O Rio é um grande centro, que tem um enorme número de tra-balhadores que moram longe do seu local de trabalho, isso acarreta uma perda de tempo de ida e volta. Isso traz pre-juízo para esse indivíduo que dedica um momento menor à família”, explana. Para ele, as intervenções ainda não fo-ram a solução. “A falta de mo-bilidade afeta a renda, pois o distanciamento afasta o indi-víduo do estudo, ou seja, do crescimento social. Há ausên-cia de opção de locomoção, hoje o BRT já tem uma grande demanda, não supriu a neces-sidade”, ilustra.

O fotógrafo critica a perda das linhas de ônibus na Maré e o estreitamento da Avenida Brasil. “Os bicicletários seriam uma solução, em especial para moradores da Vila do Pinheiro, que tem uma grande distân-cia dessa via. E melhor ainda, uma ciclovia na Avenida Bra-sil, ao longo do BRT”, esclare-ce. Bira observa mudanças no cotidiano da favela. “Hoje já são mais carros, que precisam de estacionamento e, assim,

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ARTIGO

Favelas e mobilidade urbana: uma relação simbióticaCLARISSE LINKEMESTRE EM POLÍTICAS SOCIAIS, ONGs E DESENVOLVIMENTO PELA LONDON SCHOOL OF ECONOMICS AND POLITICAL SCIENCE

As favelas têm um papel im-portantíssimo no tecido ur-bano das grandes cidades

brasileiras, pois são a principal al-ternativa de moradia para parcelas significativas da população excluída do mercado formal da habitação.

Um pouco de história: é preciso estar próximo da cidade

Durante décadas, a principal abordagem do poder público em re-lação às favelas foi de eliminá-las. A primeira grande intervenção urba-nística no Rio de Janeiro no começo do século 20 resultou na remoção dos cortiços existentes no Centro, com a justificativa oficial de se lidar com a cidade insalubre. A proibição dos cortiços e a ausência de alternativas de moradia popular gerou uma pres-são para a população “subir o morro”, pois precisavam se manter próximos ao Centro da Cidade. Assim surgiram as primeiras favelas no Rio.

A tentativa de expulsar a comu-nidade de baixa renda do Centro e dos bairros da Zona Sul continuou nas décadas seguintes. Nos anos 60, 175.000 residentes foram removi-dos de favelas em áreas centrais. No entanto, os reassentamentos esta-vam, em sua maioria, na periferia, desarticulados da cidade, distantes das fontes de trabalho. Quarenta mil casas foram construídas para receber 30% da população das fa-velas cariocas—um esforço em vão. Entre 1970-74, o número de favelas nas áreas centrais praticamente do-brou, de 162 para 2831. Este breve apanhado histórico nos lembra que

Entretanto, nos últimos anos muitas favelas tiveram parte de suas vias asfaltadas, o que resultou no aumento da presença e da velocida-de de automóveis e motocicletas. As motocicletas são consideradas por especialistas uma das mais sérias epidemias urbanas desta década, e seu impacto tem sido sentido em to-dos os territórios urbanos, formais e informais. Entre 1996 e 2006, entre todas as fatalidades em decorrência de acidentes viários, as fatalidades com motocicletas aumentaram em 900% (de 2,1 para 19,4%).

No contexto da Maré, onde a ma-lha de ruas e becos é bastante densa, a presença de automóveis e motoci-cletas afeta diretamente a vida dos pedestres e ciclistas. A principal in-tervenção de mobilidade local deve focar no pedestre e no ciclista, ofe-recendo ruas confortáveis, seguras e plenamente acessíveis. Pela infor-malidade inerente ao espaço, muito precisa ser feito em termos de infra-estrutura para garantir ruas comple-tas e de qualidade. Mas a presença de carros e motocicletas contribui na deterioração do espaço público.

Ruas completas para pedestres e ciclistas precisam restringir a circu-lação e o estacionamento de veícu-los motorizados, e garantir seguran-ça nos cruzamentos e interseções. É necessário ter árvores com copas generosas, equipamentos que façam com que a rua não seja somente um lugar de passagem, mas também um lugar para se estar. Para isso, precisa-mos também de medida efetivas para moderação da velocidade do tráfego, fundamental para garantir a seguran-ça de todos os usuários das vias.

Por ser plana, a Maré pode tam-bém oferecer um espaço qualificado para o ciclista. Uma rede de ciclo-vias e ciclofaixas, com sinalização e priorização ao ciclista em detrimen-to do usuário de transporte motori-

NOTAS

1. MCGUIRK, J. (2014). Radical Cities: Across Latin America in Search of a New Architecture. Verso.

2. KOCH, J., LINDAU, L. A., NASSI, C. D., (2013). Transportation in the favelas of Rio de Janeiro. Lincoln Institute of Land Policy.

3. Associação Nacional de Transpor-tes Urbanos (2013).

zado, e com estruturas de apoios como paraciclos e bicicletários são importantes para aumentar o nú-mero de ciclistas.

Nos anos 90, o Favela Bairro inaugurou uma nova abordagem ao lidar com favelas no Rio. O foco mu-dou no que diz respeito ao território informal: estes não deveriam mais ser removidos, mas requalificados. O programa implantou algumas so-luções de mobilidade com vistas à integração do território informal à cidade formal: ruas asfaltadas, es-cadarias e planos inclinados. Espa-ços públicos foram urbanizados no entorno das favelas para quebrar as barreiras físicas e simbólicas, qua-lificando o espaço do pedestre em alguns pontos estratégicos. Estamos agora num novo momento, onde não devemos somente objetivar a requa-lificação da favela, mas entender o potencial local e canalizá-lo para a solução dos seus próprios proble-mas. Ao reconhecer a mobilidade urbana como central na estrutura das favelas, priorizando o pedestre, o ciclista e o usuário de transporte público, temos a chance de contri-buir não apenas com o deslocamen-to dos seus residentes, mas de forma mais ampla informar as discussões sobre os grandes desafios urbanos do século XXI.

as favelas nascem como estratégias de mobilidade urbana: é preciso es-tar próximo ao trabalho, ao estudo, próximo à cidade. Proximidade não garante acesso pleno, sabemos dis-so, mas é um importante caminho.

Acesso ao BRTO Complexo da Maré, onde vivem

mais de 130.000 cariocas, está rela-tivamente próximo ao Centro do Rio, área da cidade com maior volume de empregos formais e informais. Dois corredores de transporte passam ali: Transcarioca e Transbrasil, com cinco estações de acesso ao sistema a uma distância caminhável para a maior parte da população (estação Maré da Transcarioca e as estações Rubens Vaz, Nova Holanda, Joana Nasci-mento e Fiocruz da TransBrasil). Uma política pública de mobilidade para a cidade do Rio de Janeiro não pode deixar de investir na qualificação do entorno das estações, como forma de melhorar o acesso ao transporte. Uma rede de ruas com infraestrutura de qualidade, que facilite e dê confor-to e segurança em um raio de 1km no entorno das estações é fundamental e deve ser prioritário.

Mobilidade local: pedestres, ciclistas, carros e motos

Em 2013, um estudo sobre mobili-dade em favelas cariocas2 evidenciou alguns padrões de deslocamento par-ticulares de territórios informais. Mais da metade das viagens internas em fa-velas são feitas por transportes ativos (a pé ou de bicicleta) - 57%, um núme-ro particularmente alto considerando que em média, nas cidades brasilei-ras com mais de 60.000 habitantes, 35% das viagens diárias são feitas por transportes ativos3. As mulheres são as que mais se deslocam a pé.

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PESQUISA

A mobilidade para quem vive na MaréPesquisa revela como ocorrem os deslocamentos de moradores no dia a dia

HÉLIO EUCLIDES

A circulação na cidade é vital para a grande maio-ria de 87% da população

da Maré. E esses deslocamentos acontecem tanto para fora como internamente, entre as comuni-dades. Esses dados foram revela-dos pela primeira Amostra sobre Mobilidade na Maré, um estudo sobre as condições de circulação dos moradores, realizado dentro do projeto Censo Maré, organiza-do pela Redes da Maré em parce-ria com o Observatório de Favelas.

O coordenador do projeto foi o especialista em estudos popu-lacionais e pesquisador da Redes da Maré, Dálcio Marinho, que destaca alguns pontos da pesqui-sa, que ouviu 1.612 moradores da Maré, do Conjunto Esperança até a Praia de Ramos. Um dos pontos é que dos 87% que consideram importante a locomoção no dia a dia pela cidade, 77% circulam fora da Maré pelo menos uma vez por semana. Segundo o estudo, os deslocamentos ocorrem em 49% no sentido da Zona Norte e 16% no Centro da cidade e outros 16% na Tijuca. Em sua maioria, têm como objetivo o trabalho, mas também o lazer, a busca por serviços pú-blicos essenciais, em particular os de saúde, e os estudos também.

Os moradores da Maré levam um tempo importante em seus deslo-camentos, tanto de ida como de volta: 56% deles gastam até 30 minutos por viagem, e outros 27% chegam a gastar até uma hora ou mais. Os ônibus são os mais utili-zados para um total de 60% dos moradores. Para usuário desse transporte, 29% reclamam da su-perlotação.

Para Dálcio a pesquisa é de to-tal importância. “A princípio, a pes-quisa foi importante porque iden-tificou os meios de transportes, os horários e as estratégias priori-zadas pelos moradores. Contudo, num futuro próximo, poderemos comparar seus resultados a outros, para avaliar o impacto das obras de melhoria da mobilidade que afe-tam a Maré, por exemplo, o BRT da Avenida Brasil”, conclui. A pesquisa completa estará disponível no site: www.redesdamare.org.br

O deslocamento dentro da Maré

A circulação de moradores entre as comunidades que com-põem a favela da Maré também é grande. A Pesquisa mostra que 75% dos moradores circulam fora de sua comunidade. E esses des-locamentos acontecem para en-contrar amigos, fazer compras, pagar contas e lazer. Para essa circulação, 62% utilizam trans-

porte alternativo, destes 82% uti-lizam kombi e van e outros 33% vão de mototaxi. Dos entrevista-dos, 18% identificam dificuldades de locomoção na Maré. Segundo a pesquisa, os motivos mais rele-vantes são problemas relaciona-dos à urbanização das ruas, como pavimentação, lixo e saneamento.

O Camelo ou a MagrelaOutro dado interessante da

pesquisa é que 81% dos mora-dores sabem conduzir bicicleta, metade deles possui uma. No en-tanto, são poucos que a utilizam como meio de transporte, cer-ca de 2,5%, o motivo são traje-tos longos diariamente, ausência de bicicletários, ou porque têm medo, acham o veículo inseguro, num trânsito que oferece risco. Mesmo assim, a pesquisa reve-la dados que mostram o poten-cial da bicicleta como alternativa importante de transporte para a Maré: Mais de 26% dos moradores entrevistados, tem interesse de usar a bicicleta para se deslocar com agilidade ou como forma de se exercitar.

1.612 MORADORES

DA MARÉ PARTICIPARAM DA PESQUISA

Rua Teixeira Ribeiro, na Nova Holanda

81%

SABEM CONDUZIR BICICLETA, MAS APENAS

2,5%A UTILIZAM COMO MEIO

DE TRANSPORTE

56%

GASTAM ATÉ 30 MINUTOS POR VIAGEM

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BICICLETA

Desbravando limites visíveis e invisíveisProjeto "Maré sem Fronteiras" ganha novo fôlego com oficinas de conserto de bicicletas e rodadas de cicloativismo

ADRIANA PAVLOVA

Eles surgem ao longe e vão ganhando as ruas: um, dois, cinco, dez, 12 ou mais mon-

tados em suas bicicletas turbina-das pela próprias mãos. A felici-dade de seus rostos transborda, contagiando quem os vê passar por caminhos nunca antes ima-ginados. São rapazes e moças – muito mais rapazes do que moças – que descobriam na prática que se locomover sobre duas rodas na Maré também pode ser saudá-vel, divertido e, ao mesmo tempo, um ato político. Trata-se da turma que, desde o início de 2016, passou a conjugar o verbo bicicletar ao reunir-se semanalmente na Lona Cultural Herbert Vianna e, assim, deu novo fôlego ao projeto "Maré sem fronteiras", projeto da Redes da Maré, que existe desde 2013, e tem apoio atualmente do pro-grama "Criança Esperança". Em 2016, o projeto ampliou seu raio de ação, com uma proposta ainda mais ativista, e fechou o ano com uma bem-sucedida campanha de financiamento coletivo, no Benfei-toria, que arrecadou mais de R$ 11 mil para atividades em 2017.

A Oficina Livre de Bike - com jovens aprendendo a consertar suas bicicletas, numa proposição muito mais de troca do que de en-sino vertical – é a grande novida-de desta nova temporada do pro-jeto, complementada pelas Roda-das de Cicloativismo, que, em três

edições este ano, ofereceram uma série de atividades, para públicos variados em locais diversos, para estimular o uso da bicicleta na Maré, proposta idealizada e orga-nizada pela Geisa Lino, que tam-bém atua como coordenadora da Lona Cultural Municipal Herbert Vianna. Da mesma forma, outras oficinas em parceria acontecem dentro do "Maré sem Fronteiras": Azulejaria, ministrada por Lau-ra Taves; Fotografia Mão na Lata, com Fagner França e Tatiana Al-tberg; e Teatro, com Wallace Lino e Rodrigo Souza. Atualmente, são aproximadamente 100 crianças e adolescentes, de 7 a 16 anos, par-ticipando do projeto em suas di-ferentes vertentes.

Nascido com o objetivo de romper demarcações invisíveis mas tão reais que fazem parte do dia a dia do morador da Maré, limitando sua mobilidade pela favela, o "Maré sem Fronteiras" incentivou, desde o seu início, o uso de bicicletas como uma op-ção de transporte e de lazer para circulação. O exemplo veio logo da equipe de tecedores da Redes, que passou a ter a chance de usar bicicletas do acervo do projeto – as roxinhas - para se locomover do Centro de Artes da Maré para a sede da Redes, e vice-versa, numa malha de empréstimos hoje am-pliada para mais três pontos de retirada e entrega de 32 bicicletas, a sede central da Redes da Maré, o galpão Bela Maré e a Lona Cultu-ral Herbert Vianna.

Passeios resgataram memória e identidade das comunidades

E já neste começo houve a pro-posta de fazer dos passeios ciclís-ticos uma oportunidade de resgate da memória e da história das co-munidades que formam o bairro Maré. As chamadas Bicicletadas, lideradas então pelo professor de história e coordenador do Curso Pré-Vestibular da Redes da Maré, Ernani Alcides A. da Conceição, eram feitas mensalmente. Juntos, todos observavam coletivamente diferentes locais e paisagens da Maré, enquanto Ernani contava sobre a formação das comunida-des da região, procurando escla-recer as origens das diferenças, como relembra o professor:

"Essas comunidades têm uma história de ocupação diferente, formadas em tempos diferentes. E todos sabemos que na Maré existem grupos civis armados de diversas facções, que dificultam a mobilidade. E para completar, durante muito tempo, as comu-nidades sequer eram interligadas, como a Nova Holanda da Rubens Vaz, atrapalhando a circulação interna. Para oferecer uma pos-sibilidade real de mobilidade, o 'Maré sem Fronteiras' apostou na superação de medos e de repre-sentações simbólicas, fazendo com que moradores circulassem nas bicicletas, apresentando si-militudes entre as comunida-des, como se desenvolveram e se transformaram."

Durante os passeios, outro ob-jetivo era apresentar a importân-cia da organização popular para o desenvolvimento das comunida-des da Maré, fortalecendo a me-mória e a identidade locais:

"Parávamos em determinados pontos para mostrar que aqui as melhorias de infraestrutura aconteceram através da organi-zação popular. Na Praça da Nova Holanda, por exemplo, lembrá-vamos que o local era chamado

Bicicletada embaixo do viaduto da Linha Amarela. À direita, oficina Maré Sem Fronteiras

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de Praça do Valão, porque havia um valão que passava embaixo, mas que a partir dos movimentos populares, houve pavimentação e a praça mudou."

Em 2016, as Bicicletadas ga-nharam mais cara de passeio, com encontros mensais envolvendo a garotada da Oficina Livre de Bike e quem mais se interessasse. Hou-ve, porém, momentos de puro ativismo, como quando participa-ram do lançamento da campanha "Somos da Maré Temos Direitos", em diferentes comunidades da fa-vela. Já nas três edições da Rodada de Cicloativismo, as Bicicletadas se juntaram à intensa programa-ção de três dias de atividades, que dialogaram com as quatro oficinas do "Maré sem Fronteiras", contan-do, assim, com muito mais par-ticipantes, inclusive com outros moradores. Geisa Lino explica o conceito do evento:

"A programação é diversificada e aberta, muito ligada à questão de desenvolvimento territorial. Na primeira rodada, por exemplo, convidamos a cicloativista Sarah Hannah para dar oficinas de con-serto de bicicleta. Ao convidar uma mulher, também levantamos uma questão de gênero, por exemplo,

porque ainda são mais homens que mexem e se interessam por bikes. Há também atividades ex-ternas, envolvendo os moradores, como uma uma Bicicletada até o Parque Ecológico, jogamos bom-bas de sementes, com terra bem adubada, para contribuir para o nascimento de mais árvores ali, e também convidamos ativistas do projeto Bike Anjo para virem en-sinar os moradores da Maré de to-das as idades a andarem de bici-cleta." Esta oficina é uma potente oportunidade de tecer uma rede de parceria em torno do amor à bicicleta para além da Maré.

Oficina Livre de Bike aposta na autonomia dos participantes

A Oficina Livre de Bike tem ori-gem na proposta de tentar atrair para o "Maré sem Fronteiras" a garotada que vive na Nova Maré, entorno da Lona Herbert Vian-na – gerida pela Redes da Maré desde 2009, numa parceria com a Prefeitura do Rio. Historicamente, na região, existem muitos garotos e garotas que não frequentam a escola e nem têm outra atividade regular. Assim, era preciso encon-trar uma oficina que, de alguma

forma, estivesse ligada a um inte-resse do dia a dia deles, sem o for-mato mais clássico de aula e que desse um resultado mais imedia-to. Uma característica de muitos dos jovens da região já era gostar de circular por ali de bicicleta.

Foi assim que Geisa convidou o cicloativista Renan Braga para liderar a oficina que, desde o seu início, foi feita da forma mais des-contraída possível, no quintal da Lona. O grupo – que, ainda hoje, conta com integrantes que vão e vêm, portanto, com um número de participantes que muda de se-mana em semana – reúne-se nas tardes de quarta-feira. Renan está muito mais para um amigo mais velho e mais maduro que divide seus conhecimentos do que para um professor mais tradicional. Numa tarde de final de novembro de 2016, Renan, com as mãos su-jas de graxa, consertava bicicletas enquanto a garotada também pu-nha a mão na massa, num exercí-cio evidente de autonomia.

"Sou um facilitador da troca de conhecimentos. Grande parte de-les já chegam aqui sabendo muito, porque já têm um interesse mais antigo por bicicletas. Meu traba-lho é mostrar diferentes técnicas

e ferramentas para que consigam fazer os consertos de uma forma mais rápida e eficiente. Não quero que eles fiquem apenas olhando, pelo contrário. Queremos mos-trar que o conhecimento pode ser partilhado", diz Renan.

Nesta proposta clara de auto-nomia, os participantes mais fre-quentes ganham o título de moni-tores. Hoje, o cargo é ocupado por Vítor Hugo da Silva e Daniel Sousa, ambos de 16 anos, que ganham uma bolsa de trabalho e também são responsáveis pela manutenção das roxinhas em outros dias da se-mana, às segundas e sextas-feiras.

"A gente já fazia esse tipo de con-serto nas nossas casas, nas varan-das, mas agora nos encontramos aqui na Lona", conta Vítor Hugo.

O sonho é que a trocas de sa-beres junto com a consolidação de novas amizades acabe tam-bém atraindo os garotos de novo para a escola.

"Todas as oficinas do 'Maré sem Fronteiras' já trabalham com a ideia de identidade e pertenci-mento no território da Maré. As oficinas trabalham a partir da car-tografia afetiva.", diz Maïra Gabriel Anhorn, coordenadora do eixo de Arte e Cultura da Redes. "Ao mesmo tempo, na Lona também já acontece o projeto 'Nenhum a menos', cuja proposta é conseguir que crianças que não frequentam a escola voltem a ter uma esco-larização regular. Aos poucos, a ideia é que as oficinas do projeto “Maré sem Fronteiras” se aproxi-mem cada vez mais do 'Nenhum a menos.'" O acesso e a permanên-cia na escola é outra das fronteiras que existem no território da Maré.

No dia 02 de dezembro, acon-teceu a Mostra Maré sem Fron-teiras no Centro de Artes da Maré (CAM) com apresentação da cria-ção dos alunos do Teatro “Agora sei o chão que piso” e exposição dos azulejos-mapas e foto-mapas das crianças da Azulejaria e do Mão na Lata.

O ‘Maré sem Fronteiras’ incentivou, desde o seu início, o uso de bicicletas como uma opção de transporte e de lazer para circulação”

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FOTOGRAFIA

Obras de fotógrafo da Maré no Metrô londrinoSão 18 fotos de AF Rodrigues que hoje integram o ambiente de estações do metrô

O trabalho do fotógrafo AF Rodrigues atinge públicos internacionais cada vez mais diversos. Depois de passar

por Paris e Montevideo, as fotos de Rodri-gues estacionam agora, nas estações do Me-trô de Londres, em Becontree Hundred, uma populosa região dormitório de operários in-gleses, nos arredores da capital do país.

AF Rodrigues é como assina Adriano Ferrei-ra Rodrigues o seu trabalho fotográfico. Adria-no nasceu, foi criado e ainda mora na Maré e se encontrou na fotografia a partir de cursos desenvolvidos por instituições da comunida-de como a Escola Popular de Comunicação

Crítica (EPOCC), do Observatório de Favelas e a Escola de Fotógrafos Populares Imagens do Povo, também pelo Observatório, conduzido pelo fotógrafo João Roberto Ripper.

A primeira experiência internacional de AF Rodrigues ocorreu em 2012, enquanto integrante do grupo da EPOCC e da Agência Imagens do Povo. A Aliança Francesa sele-cionou um coletivo de fotógrafos para uma mostra cultural sobre Brasil, África e França. Para o grupo da Maré, destinou uma passa-gem de ida e volta à França. Entre os fotógra-fos da instituição houve um sorteio e Adriano foi o contemplado. Uma outra experiência

internacional foi como colaborador do filme “Abaixando a máquina”, do documentarista uruguaio Guillermo Planel, que aborda tema desafiador: ética e dor no fotojornalismo ca-rioca. As fotos de AF integraram exposição sobre o filme em Montevideo.

A exposição em BecontreeNas estações do metrô londrino, 18 fotos

de AF Rodrigues estão expostas desde abril e devem ficar por tempo indeterminado, como uma decoração fixa. A exposição é desdobramento de intercâmbio de 45 dias, em Becontree, em março de 2015. No pro-jeto, apoiado pelo People’s Palace Project, o fotógrafo participou de workshops, oficinas, exposições e trocou experiências com diver-sos artistas locais. “Na região há deficiência de espaços culturais e o projeto é criar várias alternativas. Uma dessas formas de espalhar a cultura é o metrô”, finaliza AF Rodrigues.

Quem quiser saber mais do trabalho do fo-tógrafo AF Rodrigues, em Londres, pode aces-sar o endereço becontreehundred.org.uk.

Fotos de AF Rodrigues expostas na estação de Becontree Hundred

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POR DENTRO DA MARÉ

Maclaren e Salsa recebem a visita de Papai Noel

Um Conjunto Esperança mais coloridoHÉLIO EUCLIDES

Quem mora ou visita o Conjunto Esperança já encontra novidade logo

na entrada. O muro que liga a comunidade à Avenida Brasil foi grafitado com personagens infantis e com a saudação de boas-vindas. O presidente da associação de moradores, Pe-dro Francisco, ressalta que a intenção foi transformar o

HÉLIO EUCLIDES

Final de ano a solidarie-dade brasileira se espa-lha. São diversos gestos

de ajuda ao próximo. Na vés-pera de Natal, o professor Fá-bio Ramos, sua esposa Nathá-lia Ferreira e alguns amigos se uniram e distribuíram cerca de 500 brinquedos e 35 cestas de alimentos, todos doados pe-los alunos de diversos cursos preparatórios para concursos públicos. Os locais escolhidos para distribuição foram dois: embaixo do viaduto da Linha Amarela, conhecido como Ma-clarem, e a comunidade do Sal-sa e Merengue.

Essa ação já se repete há seis anos. “Não tenho vínculo com

muro num grande mural, pas-sando uma mensagem colorida para o novo ano, em especial de paz. Outra obra realizada foi a reforma de um dos cam-pos, que recebeu grades novas e gramado sintético. O espaço foi batizado de Arena Palace. “Agradeço a prefeitura, ao ami-go Jarbas, e a todos que ajuda-ram nessa conquista. Aqui era uma das poucas comunidades que não tinham um campo sin-tético”, revela Pedro.

político, com ninguém. Faço de coração. O ideal seria que não precisasse, mas o Estado é au-sente. Agradeço a Deus por ter a possibilidade de ajudar e me sinto maravilhado com o olhar e reação das crianças. Esse gesto não é só no Natal. Quero repetir também nas voltas às aulas, com um kit escolar”, des-taca Fábio. O diferencial des-se ano foi a presença do Papai Noel. “Esse Natal já tinha feito o papel do bom velhinho na Pas-toral da Criança e agora nessa ação. Vejo nos shoppings que para tirar foto com Papai Noel custa 30 reais. Aqui o paga-mento é o sorriso das crianças”, confessa Papai Noel, morador da Vila do Pinheiro que prefere não revelar o nome para não ti-rar a magia do personagem.

À equerda, muro de entrada do Conjunto Esperança, abaixo foto da Arena Palace

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ESPAÇO ABERTO

DÚVIDAPERGUNTA: Durante uma operação policial, meu carro estava estacionado em frente a minha casa. Quando o caveirão passou na minha rua, veio arrastando o meu carro e o de um vizinho, causando danos em toda a lataria do carro. O que posso fazer para ter o reembolso do meu prejuízo?

RESPOSTA:Esta é uma ação ilegal, uma vez que ninguém pode causar dano

ao patrimônio de outra pessoa sem responder por ele. Quando essa pessoa é um agente do estado, deve o Estado responder pelo dano. Em caso de dano causado por agente publico, o Estado responde pelo dano e depois apura administrativamente quem deu causa ao prejuízo.

Neste caso, deve-se dar entrada em uma ação cívil para solici-tar uma indenização do Estado. O primeiro passo consiste em fazer o Boletim de Registro de Acidente de Trânsito sem vitimas (BRAT) através do site http://ebrat.pmerj.rj.gov.br/. Depois deve-se pro-curar a corregedoria da polícia militar, a defensoria pública ou um advogado para ver a possibilidade de ajuizar ação judicial de repa-ração de danos contra o Estado que responde objetivamente pelas ações de seus agentes policiais em serviço.

É importante lembrar que a Redes da Maré conta com atendi-mento sócio-jurídico gratuito que acontece todas as sextas-feiras entre 9h e 13h.

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