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m®®mimw»-«a. m cta alui m *S0& vtSSsW aam* > ESPBCIAL/4 PÁGINAS »5 COSTAS LARGAS DOS OPERÁRIOS Como eles reasistem a que se jogue sobre eles o peso da crise econômica Páginas 11 a 14 EXCLUSIV0,de BOSTON A GUERRA QUE RE AG AN PREPARA Movimento ouve o grande pensactor americano Noam Chomsky eSObre os planos tia direita americana Páninas 16 a 18 v^ Eta^^jftz *ft R ¥ f" * a a es = E I O Brasil vai fazer desde "jeans" URSS-Topaté profaos de engenharia conjuntos com *-*¦¦*-*|5f-B_ ¦ Hí» /' *v#„.„ J.I,. ...... r»i_:ia., ic

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OPERÁRIOSComo eles reasistem

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da crise econômicaPáginas 11 a 14

EXCLUSIV0,de BOSTON

A GUERRAQUE RE AG AN

PREPARAMovimento ouve o

grande pensactoramericano Noam

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americanaPáninas 16 a 18

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NOSSA OPINIÃO

POLÔNIA

União Soviética

já está intervindona Polônia

O

IX Congresso Extraordiná-

rio do Partido Operário Uni-

ficado Polonês (POUP) rea-

cendetl a discussão sobre as

relações da Polônia com a

União Soviética. No mais das vezes, essa

discussão gira em torno da seguinte per-

gunta: a Rússia intervirá na Polônia?

Ora. essa forma de colocar o problema

pode esconder o lato de que a União So

viéticajáestá intervindo nos assuntos in-

ternos poloneses. E necessário que as

forças democráticas e antiimperialittas

mostrem a realidade da intervenção em

curso e oponham o princípio da autode-

terminação dos povos aos argumentos

que legitimam essa intervenção.

A ingerência soviética na Polônia obje-

tiva golpear os que lutam por liberdades

democráticas, contra a deterioração das

condições de vida do povo e pela inde-

pendência nacional; isto é, que lutam

contra o regime político e a poli mt

econômica avalizados pela União Sovié-

tica. Essa ingerência tem combinado

pressões econômicas, políticas e. inclusi-

ve, militares. Todos se recordam que, no

ano passado, o governo polonês só obteve

o beneplácito de Moscou para absorver a

criação do sindicato livre Solidariedade,

depois que esse sindicato aceitou a exi-

gência de fazer constar do seu estatuto a

declaração expressa de que aceitaria o

alinhamento da Polônia à política ex-

terna soviética. Mais recentemente, os

dirigentes russos náo tiveram pejo em di-

vulgar uma famigerada carta á direção

do POUP, na qual Brejnev arvora-se o

direito de ditar os rumos que a política

polonesa deve toifiar. De resto, já existe

uma virtual ocupação militar da Polônia.

Mais de 600 mil homens das tropas do

Pacto de Varsóvia permanecem acanto-

nados no país.

Algumas

idéias errôneas têm

desviado certos setores de-

mocrátieos de um posiciona-

mento mais firme contra as

ntervenções soviéticas na

Polônia. Atirma-se que o sindicato Soli-

dariedade é um mero joguete nas máos

do imperialismo ocidental. Essa afirma-

ção é falsa e induz a graves equívocos

políticos.

Em primeiro lugar, é necessário desta-

car uma consideração de ordem tática.

Da mesma forma que o povo de El Sal-

vador não tem porque recusar, como se

se tratasse de uma questão de princípios

uma possível contribuição material da

União Soviética para a sua luta contra o

imperialismo norte-americano, do mes-

mo modo, o sindicato Solidariedade não

tem porque colocar como uma questão

de princípio a recusa, por exemplo, da

ajuda financeira que lhe é oferecida pela

conservadora central sindical norte-ame-

ricana AFL-CIO. O único princípio que

conta é o de que o movimento seja essen-

cialmente independente, que se sustente

basicamente com seus próprios recursos,

e. portanto, a questão que se deve colocar

diz respeito apenas ao montante e á mo-

dalidade dessa ajuda.

Em segundo lugar, a amplitude e a lon-

ga história da luta que redundou na cria-

ção do sindicato livre Solidariedade evi-

denciam que ele não é um simples jo-

guete nas mãos do imperialismo norte-

americano. O imperialismo norte-ameri-

canotenta visivelmente se imiscuir nesse

movimento mas ele não é a principal for-

ça que atua no seu interior. Quanto a

atual direção do sindicato Solidariedade,

é certo que ela possui limitações. Não

combate com firmeza o imperialismo

ocidental e busca um compromisso com

o governo polonês —

governo cuja poli-

tica de submissão a Moscou é patente.

Contudo, essa direção representa uma

força na luta pela democracia e pela in-

dependência nacional da Polônia.

Por

último, mesmo que o sindica-

to Solidariedade fosse manipu-

lado de fora pelo imperialismo

ocidental, caberia perguntar:

quem outorgou á URSS o papel

de guardiã da soberania nacio-

nal da Polônia? As grandes massas do

povo polonês não lhe concederam esse ti-

tulo. Pelo contrário, o povo polonês, ao

longo dos últimos anos, não tem feito ou-

tra coisa senão expressar o seu protesto

contra a tutela e a dominação soviéticas.

Segundo os dados fornecidos pelo pró-

prio governo polonês o sindicato oficial

esvaziou-se— hoje. não reúne nem a me-

tade dos trabalhadores agrupados no

Solidariedade — e 80% dos poloneses

não esperam nada ou esperam muito

pouco da chamada política de renovação

do atual governo submisso à URSS.

As grandes massas do povo polonês lu-

tam pelo direito de decidir sobre o des-

tino da sua pátria. O sindicato Solidarie-

dade é. hoje. um importante canal de ex-

pressão dessa luta. As forças democráti-

cas e antiimperialistas cabe solidarizar-

se com essa luta e denunciar a atitude ar-

rogante e a prática intervencionista da

União Soviética.

Ç*tQ ¦»

I fil civil cm HI... pontue não?

A FRENTE DE OPOSIÇÃO

Por um programa de uniãocontra o regime

Enquanto

o movimento popular

procura elevar o nível de suas

lutas para não ter de pagar os

custos da crise atual, as prova-veis eleições de 1982 começam

a se converter no eixo da luta

política que se trava no país. É necessá-

rio, portanto, que a frente democrática

aprofunde o debate sobre o tipo de inter-

venção que se deve ter no processo elei-

toral.

A frente democrática não pode se dei-

xar enfeitiçar pelo canto da sereia. Fi-

gueiredo prometeu eleições de modo en-

fático e firme. Tão enfático e tão firme

quanto o foi seu líder no Senado , Nilo

Coelho, ao prometer a pronta apuração

do atentado do Riocentro. As frases e

promessas desse regime não são dignas

de confiança: a realização das eleições de

1982 dependerá da capacidade da opo-

sição manter o governo acuado sobre

essa questão e não de um suposto com-

promisso democrático de Figueiredo.

Quanto ao caráter das eleições realizadas

sob o regime militar, é necessário desta-

car que essas eleições constituem-se ne-

cessariamente numa farsa. Porém, ape-

sar disso, elas interessam à oposição.

Permitem a agitação do programa oposi-

cionista junto às grandes massas do povo

e possibilitam a conquista de cargos que

favorecem o avanço da luta democrática.

Os democratas precisam denunciar o

caráter das eleições que o regime patro-

cina e, ao mesmo tempo, obrigá-lo a

realizá-las.

Para conventer as eleições manieta-

das de 1982 num momento privilegiado

de luta contra a ditadura militar, é da

maior importância que as forças oposi-

cionistas definam um programa unitário

que deverá ser agitado no curso do pro-

cesso eleitoral. Esse programa unitário

deve centrar-se nos pontos mínimos do

programa democrático e na denúncia do

fato de que as eleições realizadas pelo

regime comportam tudo, menos a possi-

bilidade de o povo eleger um regime

democrático para o país. A frente demo-

crática pode transformar a campanha

eleitoral numa verdadeira campanha de

luta pela Assembléia Nacional Consti-

tuinte livre e soberana e necessita defen-

der, com vigor, a plena liberdade de

organização partidária para todas as cor-

rentes democráticas e populares, e a ime-

diata realização de eleições livres e dire-

tas para a presidência da República coi-

sas que as eleições patrocinadas pelo re-

gime excluem de saída.

A definição de um programa unitário

das oposições não signifca a fusão, numa

só agremiação, de todos os partidos

excluídos do governo.

Essa fusão representaria, no atual

momento, um passo atrás. A frente de-

mocrática se fortaleceu com a depuração

do antigo MDB e com o surgimento do

PT. E pode fortalecer-se mais ainda na

medida em que cresça o peso dos setores

do PDT e do PT que defendem para

esses partidos uma postura de oposição

ao governo e também ao plano político

do atual regime.

Capa (ie Jota Foto de Ricardo Malta Agência F4

MOTMENTOConselho Editorial de Movimento

D Adriano Hipólito. Aguinaldo SUva. Alen

car Furtado. André Foater, Chico Buarque de

Holanda. Clóvia Moura, Daniel Cabixi, David de

Moraes. Fernando Henrioue Cardoso, Fernando

Morais. Francisco Pinto. Geraldo Pestana, Geral

do Siqueira FUho. Jacob Gorender, D. José Ma

ria Pires, José Novais, Joviniano Carvalho Neto,

Lúcio Flavio Pinto, Luiz Eduardo Greenhate.

Luiz Inácio da SUva. I > lánrts Maciel, Mana NU

ce Mascelani. Miguel Arraes. Ruy César Costa

SUva, Teotònio VUeUa. (Hermilo Borba FUho

1912-1976).

Conselho de Direção

Agosnnho C,\-é Akv l.mharcv Álvaro Cimprc-

so, Antônio C. Queiroz, Armando Boito Jr., Ar

mando Sartori, Delzir A. Matias. Fláyio Carva

lho. Igor Fuser, Jacira Venáncio. José L. Alen

car. José Crisóstomo de Souza, Lia R Lhas, Luiz

C Antero, Luiz Macklouf de Carvalho, Luu Pe-

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Roberto Martins, Roldão Oliveira, Tibéno Canu

to e Washington Oliveira.

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Raimundo Rodrigues Pereira (presidente),

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Movimento é uma publicação de EdiçAo S/A

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rial internacional via Varig.

OEditora de Livros,

Jornais e Revistas

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edkõosxi. inuhnacionais Cf munit

MOVIMENTO — 20a 26/7/81,

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BRASIL

PARTIDOS

JOGO DA OPOSIÇÃOO governo parece recuar no casuísmo e a fusão fica como a carta na manga oposicionista.

Tibério Canuto

Quem nutria esperanças de que a reu-

nião dos partidos de op»~>sição. realizada

na semana passada em São Paulo, apon-

tasse para a fusão imediata desses partidosou para uma clara política de unidade das

oposições em 1 982. só deve ter chegado a

uma conclusão: a reunião,da qual partici-

param o PMDB. PP. PT e PTB, produziumuita pólvora para pouco chumbo. Não

foi possível ir além do que a adoção de uma

política de advertência, na qual os parti-dos reunidos ameaçam o governo com a"sua

completa unidade de ação", ressal-

vando a "individualidade de cada um".

Tampouco foi possível definir, maisexpli-

citamente. qual a alternativa das oposi-

ções, em termos de poder, para a crise do

regime. De outra sorte, os saldos da reu-

nião indicam que em relação à fusão, os

partidos oposicionistas preferem se com-

portar como se estivessem num jogo de"pôquer": utilizá-la como um blefe ou co-

mo uma carta escondida na manga da ca-

misaquesódeveserjogadanamesaemúl-

timo caso.Os resultados da reunião devem ser

medidos menos pela modesta declaração

de intenções divulgada ao seu ftnal e mais

pelo acontecimento político que ela repre-

sentou. A começar por ter conseguido fa-

zer com que sentassem à mesa o presidente

do PMDB. Ulysses Guimarães, o do PT.

Lula, odo PP. Tancredo Neves e o do PIB,

Ivete Vargas. Fstava lá o primeiro time

desses partidos: pelo PMDB, Odacir

Klein, líder da bancada na Câmara Fede-

ral, o senador Teotônio Vilela e Marcos

Freire, e Mário Freire, e Mário Covas, pre-

sidente do PM DB-SP. Ao lado de Lula es-

tavam Olívio Dutra e Jacó Bitar, sindica-

listase da direçãonacional. além de Marco

Aurélio, líder do partido na Assembléia

Legislativa de São Paulo e pelo PP. acom-

panhavam Tancredo o ex-prefeito de São

Paulo Olavo Setúbal. Miro Teixetrae I ha-

les Ramalho. Pelo PTB. estiveram pre-

sentes o ex-governador do Amazonas.

GilbertoMestrinhoeseu líder na Câmara.

JorgeCuri, além do deputado Rafael Ma

galhães.Mas para chegar a isso. várias diliculoa-

iles tiveram de ser contornadas, come-

çando por não deixar que a ausência de

Leonel Brizola ofuscasse o encontro.

Surpreendentemente, o PD I recusou-se a

participar da reunião, sob o pretexto de

que Brizola não sentaria na mesma mesa

com Ivete Vargas.

ALém da ausência do PD1 e da sua

manifestada disposição de ser contrário a

qualquer tentativa de fusão, os articula-

dores da reunião ainda tiveram de vencer

barreiras, como o clima pouco amistoso

revelado por Lula. que ao chegar na sede

da OAB. foi declarando á imprensa:"sinto-me como se estivesse indo para

uma negociação trabalhista, onde sou

obrigado a negociar com os patrões".Fste clima preocupou Ulysses Guima-

rãese Odacir Klein, do PMDB. ao ponto

de promoverem uma reunião preventiva

no dia anterior, quando se acertou uma

minuta do documento a ser aprovado.

Para Odacir Klein, seria um desastre se as

oposições aparecessem publicamente di-

vididas. "dando

provas dc sua incompe-

tência."Se em algumas questões essência-s os

quatro partidos tiveram que utilizar dc

malabarismo lingüístico para dizer coisas

comuns, o mesmo não se pode afirmar

em outras questões. Assim, a declaração

de intenções apresenta uma firme posiçãode lutar pela liberdade sindical, de coniba-

ter a LSN. de lutar por eleições livres e

diretas, por liberdade partidária, pelodireitodevotoaoanalfabeto.dedefender a

estabilidade do emprego e uma justadistribuição de renda, de lutar por uma

política econômica que elimine os privilé-

giosdas multinacionais e do capital finan-

ceiro.Aliás, a defesa das bandeiras sociais e da

liberdade sindical com o desatrelamento

dos sindicatos da tutela do Estado foi um

dos saldos da reunião e neste sentido o

PTteveuma postura essencialmente posi-

tiva. ao jogar tais questões para os outros

partidos.Sem sombra de dúvida, a questão mais

delicada que a reunião teve de enfrentar

foi a da fusão de todos os partidos. Não só

pela resistência do PDT (este ausente) e do

PT, mas também pelo fato de que o PMDB

e o PP ainda não têm como certo queessa é a única opção que resta. Nesse

sentido, as declarações sobre o tema fusão

eram feitas com luvas de pelica: "o

fun-

damental não é dizer que tem que fazer a

fusão. O fundamental é iniciar os enten-

dimentos para que tenhamos uma ação

comum em 1982." disse Marcos Freire,

enquanto Ulysses Guimarães também fez

questãodeesclarecerqueoPMDBnãoen-xergaaopçãodafusãocomoa única saída.

Declarações no mesmo sentido foram

feitas por Tancredo Neves.

Houve um consenso quase total de que a

questão da fusão por enquanto é prema-tura. Da parte do PP isto o levou a tomar

uma decisão, no dia anterior, de se opor à

fusão pelo ao menos por enquanto. As

razões disso estão numa rápida análise da

conjuntura que Tancredo Neves fez para a

imprensa: "tenho

a impressão de que ao

governo não interessa criar uma situação

na qual seja restabelecida a polarizaçãoregime versus oposição através do retorno

do bipartidarismo. Tal situação levaria ao

confronto, pois como as lideranças civis e

militares do regime não têm a humildade

de acatar o pronunciamento das urnas,

isto nos levaria para a seguinte situação:

ou golpe, ou revolução". Fruto dessa

análise. Tancredo apontou como tendên-

cia principal o governo não ir com os seus

casuísmos ao ponto de forçar a fusão das

oposições.

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lula iril. I lissrs irunill. Tanvretlo iri>, ,• fi-Wf 11*1 lll. wonlro

Tudo indicou, na reunião, que os parti-

dos jogam numa estratégia que se ba-

seia no fato de que o governo, até

mesmo por suas dissidências internas, não

terá condições de impor casuísmos que

inviabilizem composições eleitorais em

1982, o que faz com que a proposta da

fusão seja remota. Considerado como um

expeli nestas questões. Thales Ramalho

tez o seu diagnóstico para a imprensa: "o

governo não apresentará um projeto de

reforma mais coercitivo do que o do

próprio PDS e até mesmo algumas de suas

propostas, como o voto vinculado não

passarão por ferir interesses de correntes

do PDS ou até políticos isolados desse

partido". Assim, o que parece mais prova-vei é a continuidade dos atuais projetos

partidários. Entretanto, se os casuísmos

forem além do que os partidos esperam,

pelo menos para o PP. a fusão se colocará,

ainda que parcial e temporária: "se

o

governo fechar o tempo, haverá a fusão no

mínimo do PP. PMDB e PTB. esclareceu

Tancredo Neves.

Na verdade, o grande defensor da fusão

nareunião foi o PTB. para o qual essa é a

única saída honrosa que resta, pois o

seu projeto dificilmente se viabilizará

política e eleitoralmente. Exatamente por

isso. um dos representantes do PTB,

deputado Vilela Magalhães, saiu da con-

trariado da reunião de porta fechadas,

alegando que ela só aprovou o óbvio.

Mesmo setores do PMDB que defendem a

fusão imediatamente, como o deputado

Roberto Cardoso Alves, identificado com

os setores mais moderados do PMDB. não

considerou a reunião uma derrota: "a

presença do PT colocou freios na fusão.

Mas sc antes da reunião, l.ul i »ra 100%

contra a fusão, hoje ele é ; enas 50*%

um irá rio". Essa mudança d atitude »

l'l loi confirmada por um participante. «¦

reunião a portas fechadas, pois Lula.

ik-ssu reunião, admitiu que cm Última

hipótese a fusão pode ser a s-.ídr» i nira

tenha esclarecido aos deu,ais portid«>s

que continuará a se manitestar \ lica-

mente contra a fusão.

Documento das oposiçõesDECLARAÇÃO

A situação econômica e social do Brasil

atinge gravidade sem precedentes em nossa

história. A taxa de inflação nunca cresceu

tanto, a divida externa nunca foi tâo elevada

e os índices de desemprego nunca atormen-

taram tanto os trabalhadores e assalariados

que constituem a maioria do povo

O Governo vem se mostrando incapaz de

tomar medidas objetivas que tirem o País da

depressão econômica Além disso, tem se

mostrado impotente, como se vê pelo episò-

dio do Riocentro e pela indefinição das leis

eleitorais, de resolver o impasse político

Preocupado que está em manter o poder

sem sustentação legitima na sociedade,

faltam-lhe condições para conduzir a demo

cratizaçâo do Pais

Em face dessa situação, os partidos de

oposição, reunidos neste primeiro encontro

em São Paulo, respeitada a individualidade

de cada um manifestam a sua disposição de

atuar em conjunto para assegurar a participa-

ção do povo no encaminhamento no proces-

so de democratização Preocupam-se não só

em combater o casuísmo eleitoral que a Na-

ção |á rejeitou, mas também em abrir pers

pectiva de um regime democrático estável,

sob a vigência de uma Constituição emana-

da direta e livremente da vontade do povo,

dotado da capacidade de atender às deman-

das da sociedade.

Assim, os partidos de oposição dirigem-

se a Nação para propor a união de todos,

consciente e eficaz, em torno dos seguintes

objetivos:¦ eleições diretas em todos os niveis e resta-

belecimento das prerrogativas do Congresso;

legislação eleitoral verdadeiramente demo-

crativa que respeite a liberdade de organiza-

ção e funcionamento de partidos representa-

tivos de todas as correntes de pensamento

político; eliminação dos dispositivos anti-

democráticos que restringem a elegibilidade

dos cidadãos;revogação das atuais Lei de Segurança Na-

cional, Lei de Imprensa e demais instrumen-

tos de exceção, desativando-se os organis-

mos de repressão politica;extensão do direito de voto aos analfabetos;

-garantia de uma organização sindical livre

da tutela do Estado;

garantia do pleno exercício do direito de

greve;por uma política de emprego ou atenda a

todos os setores assalariados da sociedade,

por uma política justa de distribuição de

rendas;por uma política econômica que elimine os

privilégios concedidos às empresas de gran-

de porte, às multinacionais e ao capital fi-

nanceiro, visando ao fortalecimento do mer-

cado interno;democratização do Poder Judiciário, para

torná-lo acessível aos cidadãos, principal-

mente aos de baixa renda, e também eficien-

te, rápido e seguro na distribuição da Justi-

ça.Com vistas a estes objetivos, os partidos

de oposição manifestam o seu propósito

de prosseguir, em novos encontros, na ela

boração de um plano de atuação em comum

e, se necessário, de promover a sua com-

pleta unidade de ação, visando a garantia de

sua presença, como parte legitima e essen-

ciai. no processo de democratização do

paisSão Paulo, 15 de julho de 1981

PMDB — PP - PT - PTB

MOVIMENTO — 20a 26/7/81

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RIOCENTRO: QUESTÕESA necessidade de maiores esclareci-

mentos sobre a participação da Policia

Militar no episódio e sobre as contradi-

ções do IPM instaurado pelo 1o Exército

para investigar o episódio do Riocentro,

foi pedido na semana passada pelo coronel

üickson Meiges - ex-diretor de adminis-

tração e finanças do Riocentro — em

documento, o coronel levantou oito aues-

na do bxèrcito, no Rio de Janeiro. Em aeu

documento, o coronel levantou oito quês-

toes que exigem maiores esclarecimen-

tos, particularmente a decisão da Policia

Militar de recusar-se a fazer o policiamen-

to do Riocentro no dia do show do 1 ° de

Maio, bem como levanta indagações que

comprometem Ângela Capobiango —

membro da diretoria do Riocentro — com

o atentado terrorista ao Riocentro, no

qual. por "acidente

de trabalho" morreu

um sargento e saiu ferido um capitão do

exército.

TEMPO DE LEMBRARA existência de duas linhas no interior

do movimento militar de março de 1964,

uma adepta da "ditadura institucionaliza-

da" e liderada pelo marechal Castelo Bran-

co e outra a "linha

dura", liderada pelo

entáo general Costa e Silva, pode ser

comprovada por dois livros lançados re-

centemente. O primeiro deles édoex-minis

tro da Justiça,Mem de Sá, ministro do

governo de Castelo Branco, que narra a

sua renúncia ao ministério em decorrência

da decisão de Castelo de cassar três depu-

tados na Assembléia Legislativa gaúcha

parei que a oposição nâo elegesse o gover-

nador do Estado. Em seu livro "Tempo

de

Lembrar", Mem de Sá aborda ainda os

conflitos entre Castelo Branco e Costa Sil-

va, bem como a atitude de Magalhães

Pinto de aliar-se aos "duros"

que eram

liderados por Costa e Silva. O outro livro è

de autoria do "brasilianista" Foster Dulies.

intitulado "Castelo

Branco — o Reforma-

dor Brasileiro". Ao lado de fazer uma

apologia ao caráter "moderado" de Caste-

Io, o brasilianista Foster Dulies revela que

já na época surgiu uma "força

militar

autônoma" que fazia ação de apreensão de

livros e de censura de peças teatrais sem o

controle do poder central.

CONVENÇÃO DO PDTA convenção nacional do Partido Demo-

crático Trabalhista, realizada na semana

passada em Brasília, decidiu opor-se a

qualquer proposta de fusão dos partidos

de oposição e decidiu no máximo aceitar

uma frente dos partidos para determina-

dos objetivos comuns, desde que isto não

leve a abrir mão do seu projeto. Em sua

convenção, o PDT estimou que fará dois

governadores, um senador e 50 deputados

federais em 1982, e elegeu a sua direção

nacional, da qual algumas figuras, como

Lisaneas Maciel, participam apenas como

"notáveis". Durante a convenção alguns

nomes expressivos do PDT pronunciaram-

se favoráveis a um apoio à politica de

aDertura de Figueiredo, para evitar o retro-

cesso". Declarações nesse sentido foram

feitas até mesmo por membros do setor

mais combativo do PDT, como o fizeram o

ex-deputado Francisco Julião e Darcy

Ribeiro, ex-chefe da Casa Civil de Joao

Goulart. Em seu discurso de abertura da

convenção, Leonel Brizola também elo-

giou Figueiredo, em 'decorrência

do dis-

curso que o general presidente fez em

Porto Alegre, sobre as eleições de 1982.

PRÉ-CONVENÇftO DO PT

Com a presença de cerca de 850 delega-

dos, foi realizada na semana passada, em

São Paulo, a pré-convencão regional, que

teve como grande ponto polêmico a posi-

ção do PT face às eleições de 1982, mais

particularmente sobre a questão das coli-

gações partidárias. A grosso modo: três

posições se defrontaram: a da direção

regional que defendeu o ponto de vista de

o PT lançar candidatos em todos os níveis

e concorrer em faixa própria, deixando em

aberto a possibilidade de se fazer coliga-

ção partidária com outros partidos de

oposição a depender de situações concre-

tas; a defendida em documento pelo de-

putado Sérgio dos Santos que já apresen-

tava a necessidade de uma definição posi-

tiva em relação "às

coligações", e uma

terceira que a principio propunha que o PT

fechasse uma posição contrária "as

coli-

gações". Ao final dos debates, a prè-con-

venção decidiu adiar uma decisão, marcan-

do para tal uma pré-convenção extraordiná-

ria para janeiro, para se posicionar sobre a

questão da coligação das oposições" e a

tática eleitoral.

DO "ESSO"

À PRISÃOA ultima edição do Coojomal foi dedi-

cada principalmente à cobertura do julga-

mento dos jornalistas deste jornal,

que foram condenados na Lei de Seguran-

ça Nacional por terem divulgado um do-

cumento do Exército que aborda a ativida-

de das Forças Armadas em operaçóesanu-

guerrilha, nos anos 70. Em sua edição, o

Coojomal mostra o absurdo da condena-

ção dos jornalistas Osmar Trindade. Ra-

fael Guimarães, Etmar Bonés e Rosvita

Sauering por terem divulgado fatos que se

passaram há 10 anos. O jornal mostra

ainda que o absurdo se torna maior porque

a mesma reportagem que serviu de pretex-

to para a condenação dos jornalistas foi

premiada com o "Prêmio Fsso" de jorna-

lismo, o mais importante do pais. O jornal

traz também um resumo do documento do

Exército que foi divulgado em 1980, pro-

vando assim que ele não contém nenhum"Segredo

de Estado". Os advogados dos

jornalistas Ornar Trindade e Rafael Guima-

rães, que estão presos, entraram com um

pedido de habeas-corpus no STM, para

que eles apelem em liberdade.

éMÍ^VL-^ á ^

Elmar, Rosvita, Rafael e Osmar: do Coojomal

**A I - IA i

Miguel irraen mi SIIIHl. em S*lv*tkir. N* fato

menor: (-oltlenberg fà esif.} e Crotlownltlo Pavan

REUNIÃO DA SBPC

Cientistas (nem todos)na oposição aoregime militar

Um b, nço final sobrt ebates ocorri-

dos na SBPC revela de forma inequívoca

que a maioria dos cientistas e professores

presentes se mantém na oposição ao regime

militar Basta notar a grande quantidadede

trabalhos e debates em torno de questões

incômodas para o regime, como: extermínio

de Índios, opressão dos negros, mulheres e

homossexuais, cerceamento do trabalho in-

li lectual, restrição à liberdade do estrangei-

ro no pais, exploração e repressão aos

trabalhadores, denúncias de uma politica

mineral entreguisia. do programa nuclear

brasileiro etc. A reunião ainda estiveram

presentes grandes lideres oposicionistas,

como Celso Furtado 8 Anaes. que falaram

para grande público

Ao nivel da nova direção da SBPC, no en-

tanto, o relacionamento com o governo ll-

cou um pouco mais dúbio. Por um lado, o

diàl< go com o governo ficou mais explicito

inclusive com propostas formais para cria-

ção de canais de contato O presidente elei-

to, Crodowaldo Pavan. defendeu a criação

de um Conselho Cientifico, com a partici-

pação de cientistas de diversas áreas para

levar ao conhecimento da Secretaria do Pia-

nejamento, de Delfim Netto, as criticas e

sugestões sobre projetos em execução. O

novo presidente defendeu esta posição co-

mo um antídoto a uma suposta "politica

tri-

vial ou proselitista e das denúncias oportu-

nistas e rasteiras formuladas por cândida-

tos à procura de palanque" e se defendeu da

acusação de despolitização: "nossa

poli-

tica de nos aproximarmos do governo não

implica amordaçamento ou subservièn-

cia, pois é com dignidade e respeito mútuo

que se desenrolará o diálogo a que nos

propomos com as autoridades governamen-

tais".

Essa concepção de diálogo, iromcamen-

te, é a mesma que Pavan defende para

aplicar aos grupos e manifestantes "parale-

los" à SBPC. "O

festival que acontece fora

deve ser mantido", afirma Pavan, "nos

Esta-

dos Unidos, quando a associação dos cien-

tistas se reúne, há a mesma manifestação

entre os movimentos hippies, de negros" e

homossexuais. Portanto, do mesmo modo

que Pavan vai tolerar paternalisticamente a

gritaria que ele considera inócua, trivial e

proselitista, que inclusive vai abrilhantar a

reunião dos cientistas como um "festival",

pode ser também a atitude que o governo

vai tomar em relação aos participantes do

Conselho de Cientistas, os quais poderão

espernear e gritar no Ministério do Planeja-

mento. criando um também inócuo "festi-

vai" para deleite e desfrute dos burocratas

do Delfim

Apesar disso, Pavan defendeu firmemen-

te as decisões forçadas e aceitas pela maio-

ria dos cientistas, que foram aprovadas ao

longo da madrugada na reunião de encerra-

mento da SBPC. Entre as moções mais

importantes apresentadas estão as que se

feit-iem ao programa belicista que se escon-

de por trás de pesquisas cientificas. O

recente episódio do contrabando de urânio

para o Iraque foi relembrado e criticado corn

endosso da maioria dos presentes. Mas a

critica foi mais além. com a apresentação

de uwftuneU s concretas sobre o programa

bélico brasileiro. O presidente da Sociec . e

Brasileira de Física, Herch Móis -"(.velou

que o programa de desenvolvim. ila o-

guetes lançadores do Brasil està claramente

dirigido para fins bélicos. È a conclusão que

se pode tirar pela escolha do tipo de com-

bustivel utilizado: o combustível solido, que

è usado preferencialmente para fin_ bélicos.

Isso porque o combustível liquido, embora

mais barato, é de ignição lenta e r.conve-

niente para uso em mísseis militares,-que

têm de ser usados rapidamente,com ignição

imediata. Tudo se casa: se os militares

criaram um programa nuclear paralelo cujas

opções foram feitas em função da produção

da bomba atômica, eles agora já têm o

veiculo lançador da bomba em proqrama-

ção, ao optarem pelo desenvolvimento da

tecnologia do combustível sólido, que inclu-

sive é mais caro.

O novo presidente Crodowaldo Pavan de-

fendeu firmemente a denúncia dessa mani-

pulação e disse que não hesitaria em dar ao

pais os nomes dos cientistas implicados,

nomes que serão levantados por uma co-

missão especial da SBPC, que deverá tam-

bém investigar o que o governo 'az

com

o dinheiro que alega gastar em pesquisas.

Segundo Pavan, apenas 15 dos 40 milhões

de cruzeiros orçados tèm explicação de

destino e realmente chegam aos órgãos de

pesquisas oficialmente reconhecidos pela

comunidade. O que aconteceu com o resto?

Esse è um desafio à SBPC e à comunidade

cientifica, cada vez mais desconfiada, e

com razão, de estar sendo usada para pro-

pósitos inconfessáveis do governo militar

(Flavio Carvalho; e Otto José, de Salvador

Constituintelimitadana SBPC

O debate sobre a Constituinte na

SBPC acabou sendo realizado de forma

limitada. Em primeiro lugar, a diretoria

programou o debate para apenas um dia

e em horário que coincidia com outras

discussões importantes, como o acordo

atômico e a questão nacional.

Além disso, o que estava programado

para ser um debata para granjear mais

defensores da tese da Constituinte aea-

bou se transformando num ato público,

com militantes políticos que repetiam

sempre a mesma palavra de ordem justa

("Constituinte livre, soberana e sem

João") mas que dificultam o trabalho de

convencimento.

É provável que esse procedimento te-

nha contribuído mais para marcar posi-

ção do que para convencer: ao final nin-

guém apresentou sequer uma moção de

apoio à proposta da Assembléia Consti-

tuinte para ser aprovado pela Assembléia

Geral do SBPC — o que efetivamente

significaria um apoio formalizado dos

cientistas a essa bandeira.

*i* ** *\* / i*t

MOVIMENTOMil» *¦'** OE

20 a 26'7 M

Page 5: m®®mimw»-«a. ctaalui m

BRASIL/IRAQUE

Parlamentares

brasileiros

protestam em BagdáMilton Gouveia, de Bagdá

Pretendendo inaugurar uma nova fase

de ação política, o PDS resolveu mani-

festar-se sobre questões de política ex-

terna brasileira apresentando na Confe-

rencia Internacional de Solidariedade ao

Iraque, que acaba de ocorrer em Bagdá,

uma moção de protesto contra Israel porhaver bombardeado, em junho, a usina

nuclear de Tamuz."Trata-se

de um avanço considerável

em se tratando de manifestação do par-tido do governo", disse o líder do PT,

Airton Soares, também presente em Bag-

dá. Diante da nota do PDS, Airton resol-

veu avançar a posição de seu partido pro-clamando apoio á intenção da OLP de

abrir um escritório no Brasil.A nota do PDS foi elaborada pelo vi-

ce-líder do governo. Bonifácio de Andrade

que. surpreendentemente, viu-se cons-

trangido a uma discussão "de

estilo" com

diplomatas da embaixada do Brasil em

Bagdá."Eles" 'sugeriram'

que na nossa nota

— disse o parlamentar — fossem elimi-

nadas expressões como 'imperialismo' e,

'discriminação racial'".

Ocorre que, na véspera da apresen-

tação da nota do PDS, Bonifácio de An-

drade ouviu do embaixador brasileiro em

Bagdá, general Samuel Alves Corrêa,

expressões muito mais fortes na aborda-

gem dos problemas do Oriente Médio.

Dessa forma, mesmo 'aconselhado'

pelos

profissionais do Itamaraty, o deputado

governista preferiu manter os termos da

mensagem que escrevera.

A nota condena "todas

as modalida-

des de imperialismo e de discrimina-

ção". Também reitera "o

repúdio às ra-

dicalizações sionistas já verberadas pelo

governo brasileiro no plenário da ONU".

E expressa "o

interesse do povo brasi-

leiro por Jerusalém", ocupada unilate-

ralmente por Israel, a despeito da enor-

me condenação internacional.

O general-embaixador do Brasil pare-

ce estar apostando nos iraquianos, se-

gundo deixou claro aos deputados brasi-

leiros. Mas, seguramente, mantém ai-

guma reserva pessoal: no dia em <jue os

parlamentares chegaram a Bagdá, Sa-

muel Alves Corrêa estava em Oman, na

Jordânia, para onde foi levar sua mulher

para embarcá-la em direção ao Brasil;

na capital iraquiana aguardava-se para o

dia dos festejos da data nacional — 16 de

julho — algum ataque da aviação irania-

na com objetivo, pelo menos, de efeito

moral.

ASSIMILANDO A LINGUAGEM

Aparentemente, o ex-chefe do EMFA

assimilou a causa árabe e vem-se valendo

de uma linguagem que os próprios di-

plomatas da embaixada hesitam em em-

pregar, embora ela seja própria das pro-

clamaçõcs políticas do cotidiano no Ira<

que.Entre outras declarações, Samuel Al-

ves Corrêa exprimiu condenação ao "Job-

by sionista na imprensa brasileira", e

defendeu o programa nuclear do Iraque

admitindo até mesmo sua transformação

posterior para fins bélicos.

O calor da manifestação contagiou to-

dos os parlamentares e até o chefe da de-

legação, deputado Haroldo Sanford, do

PDS e coronel da reserva, que declarou a

um jornal iraquiano que condena "a

pi-rataria criminosa praticada pela entida-

de sionista contra um país soberano e in-

dependente".O jornal publicou a declaração e a foto

de Sanford, que, depois, recolheu algu-

mas dezenas de exemplares para remeter

a seus eleitores áo Ceará (que serão cer

tamente incapazes de descobrir o signifi-

cado dos caracteres árabes mas que se

convencerão, ao reconhecê-lo na fotogra-

fia. que o deputado governista está bri-

lhando no exterior).

Outros deputados preferiram se foto-

grafar ao lado de Yasser Arafat, em sua

maioria da oposição, mas também Stoes-

sei Dourado, do PDS, baiano. O líder

palestino discursou na sessão de aber

tura da conferência e, mais tarde, cum

primentou os parlamentares brasileiros.

Airton Soares ouviu dele a promessade visitar em breve o Brasil, provável-mente ainda neste semestre se for auto-

rizado, conforme ele espera, o funciona-

mento da embaixada da OLP. O parla-

mentar do PT também revelou ter re-

cebido, de fontes diplomáticas brasilei-

ras. acreditadas em Bagdá, a informação

de que Brasília anuncia neste segundo

semestre, a autorização formal para fun-

cionamento da organização palestina.Aírton salientou que, segundo essas

fontes, caíram por terra no Brasil as re-

sistências que ainda havia contra a le-

galização do escritório da OLP. Isso teria

ocorrido, di^ele, em função do bombar-

deio por Israel da usina nuclear do Ira-

que e da tentativa da Mossad de "plan-

tar" notícias sobre supostos embarques

de urânio nos jornais brasileiros para

confundir, a seu ver, a opinião pública

brasileira. (Veja em Movimento 313.

uma versão oposta a esta)

O líder do PT chegou a trocar insultos

com o deputado Stoessel Dourado, do

PDS, e Edson Khair, do PMDB, pois

ambos pretenderam abandonar a Confe-

rencia de Solidariedade ao Iraque antes

de seu encerramento. Além disso, o pri-

meiro argumentou que não havia viajado

a Bagdá "para

assinar atestado ideoló-

gico ao governo iraquiano".

No final, foram todos para o antigo

Mercado dos Ladrões, de Bagdá, e com-

praram muitos tapetes persas, ajudados

pelo oposicionista Jorge Uequed, do

PMDB, que se valeu da sua ascendência

árabe para barganhar preços com os

experientes mercadores. ^^^^

Bagdá em

clima de pazBagdá é uma cidade às escuras à noite:

o black-out vigora há dez meses por causa

da guerra.De dia, porém, a cidade tem uma aparên-

cia de normalidade; e a nào ser pela visão

de dezenas de balões flutuando no céu so-

bre os principais objetivos estratégicos da

cidade, não se perceberia a guerra. Esta se

passa em território iraniano, onde as For-

ças Armadas do Iraque mantêm 40 mil ho-

mens permanentemente fustigados por

uma resistência difícil de ser explicada

quando se tem em conta as noticias da

confusão política reinante em Teerã.

Mni iincntn negrt* ttmtni política racista dt* regime

RACISMO DO ITAMARATYUma passeata silenciosa pelo campus

de Ondina consolidou a luta do

Movimento Negro Unificado (que reúne

grupos e entidades negras de oito estados

do pais) e deixou claro a importância que as

maiorias passam a ater no pais. Isso ficou

evidente durante a SBPC. quando uma das

atividades mais importantes "o negro na

realidade brasileira" trouxe a tona de forma

explícita a política opressora e racista do

regime. Além das discussões diárias sobre

os problemas da comunidade negra, avan-

çou no seu objetivo mais imediato que é

lutar contra o desemprego e a violência

policial, as duas formas mais efetivas que o

sistema e o regime utilizam para marginali-

zar o negro e dificultar sua organização. De

cada 8 pessoas mortas pela policia 6 sào

negros. O salário dos negros è 60 por cento

dos salários dos brancos.

O tombamento pelo patrimônio

histórico do sitio de Quilombo dos Palma-

;i&s em Alagoas, á inclusão do ensino de

história do negro nos currículos das

escolas do primeiro ao terceiro grau foram

as duas principais moções aprovadas no

que diz respeito ao negro. Além disso, a

SBPC vai solicitar do Itamaraty que faça

gestões junto a OEA e UNESCO para

realização do lll Congresso das Culturas

Negras das Américas.

A inclusão desta moção partiu de

Abdias Nascimento, coordenador do Hl

Congresso da Cultura Negra que deverá

realizar-se no Brasil.

Ele denunciou o racismo do governofederai a particularmente do Ministério

daa Relações Exteriores que se recusou a

encaminhar o pedido de ajuda a OEA e

outros órgãos internacionais como a

UNESCO.

ADtflBTANOMECom irrestrito apoio do governador

Antônio Carlos Magalhães, a direita

organizada que atua no movimento

estudantil baiano está tentando ampliar

seu espaço. Durante a S8PC, mais

particularmente no sábado (dia 10) o

grupo de direitista Umpulfba que se

concentra na faculdade da engenharia e se

ampliou um pouco durante a proposta de

greve geral da UNE, tentou tumultuar os

debates científicos e descaracterizar a

reunião. O Umpulfba penetrou no campus

de Ondina com o trio elétrico Trás os

Montes, sob o pretexto de saudar os

cientistas, para distribuir panfletos"hçõs da greve gorada", acusando o DCE

da UFBA e a UNE de antidemocráticos e

de estarem ligados ao PC (não

esclareceram qual).

A reação foi imediata: centenas de

estudantes aue estavam almoçando no

restaurante universitário ficaram revolta-

dos com a provocação, apredrejaram os

direitistas e impediram que o trio elétrico

tocasse quatro horas como estava

previsto. O incidente só foi contornado

depois que os proprietários do trio

perceberam a manobra da direita em

utilizá-los para fins politicos e retirou-se do

local. Para tocar'no campus, o trio elétrico

receberia (recebeu) Cr$ 140 mil, dinheiro

com certeza doado pelo governadorAntônio Carlos Magalhães conforme

soube-se depois. O governador estava

insatisfeito com as vaias que o reitor

Macedo Costa levou no dia da abertura

da reunião, com a presença da esquerda

e discussão de assuntos politicos no

programa da SBPC.

MORDOMIAS DA VOLKSGraças à persistência do deputado

Arnaldo Schimitt (PP-SC) é possível saber

agora mais alguma coisa sobre as

mordomias qüe a Votkswagem anda

desfrutando na Amaz6nif.«0 deputado,

depois de muito insistir, leve acesso ao

cadastro do iNCRA e descobriu.Que a Companhia Vala do Cristalino,

da Volks, havia sido multada em 63

milhões de cruzeiros por ter incendiado

uma área de 14 mil hectares de floresta,

mas acabou pagando apenas cem mil

cruzeiros.Quem a Volks recebeu tam desconto

do imposto territorial d* 860 mil cruzeiros

e tun incentivo "por elevada porcentagem

de teira explorada" e por «ao de "alta

tecnologia". O prõprto cadastro, no

entanto, moetra que jt Vottis explorou

apenas 12,$% da área agdçulturável, o

que corresponde a apenas 6,3 da área total

do imóvel.Que a Volks empregool apenas 203

pessoas no seu projeto <uiá empregado

para cada 686 hectares) cujos salários

totais somaram 8.6 milhões tíe cruzeiros,

ou seja, um salário mátíio de Crt

3.258,00.

tiONTERESSAAONEA Impiantaçflo de uma fábrica de molas

em Jaboatão, Pernambuco, que virá a

prejudicar indústrias já estabelecidas em

São Paulo, continua provocando polêmi-

cas. A deputada Cristina Tavares

PMDB-PE) embora seja nordestina,

levanta objeções à criação da fábrica,

porque ela não atende aos interesses da

região: "será

que atende aos interesses do

Nordeste e verticalizaçào da indústria

automobilística, ou estamos sendo

joguetes de uma guerra econômica que

não nos interessa como região e nos

prejudica como pais" A fábrica da Ford,

altamente automatizada, vai gerar apenas

20 empregos na fabricação de mola,

causando o desemprego de algumas

centenas de São Paulo.

MOYIMF.NTO-20 a 26/7/81

Page 6: m®®mimw»-«a. ctaalui m

POLÍTICA EXTERNA, BRASIL-ÀFRICA DO SUL

Não ao pacto e sim à bomba?Uma ala militar queria o Pacto. Outra, não. Do acordo, acelera o programa nuclear brasileiro.

Frederico Fuellgraf

A idéia da criação de um pacto militar.

no Icittn da OI AN no contexto geopoli-

tico do Atlântico Sul. não é recente. A

idéia, a rigor, já fora projetada cm l%H

|vlo ent do Ministro da Defesa da Rcpú-

blka Sul-Africana(RSA), Pieter Botha.

que perante a imprensa de seu país con-

.iro*uva 'e'1 participado dc "uma

conte-

temia secreta en companhia dc amigos

l.uinoamericanos". Diversas vezes Iam-

Ivn o general Malem, Comandante do

I stailo Maior das Forças Armadas sul.

africanas, enconirou-sc com "colegas

da Argentina, dó Chile, do Paraguai e do

1'rtigtiai iodas, sem exceção, ditado

ras que disputam n 'campeonato*-

da

violaçãodos direitos humanos na Améri-

»..i I atina.

( om a independência das ex-colónias

|ntriugucsas (Angola. üuiné-Bissau e

Mnçan bique), entre 1973 c 1975. o plano

d< Pacto do Atlântico Sul voltou a lona

iuk|iiirindoearátei de urgência diante do

perigo ile uma "sovietizaeao"

da costa

ividcntal africana, denunciada pela

Mik.i il" Sul e pelo cntflo ministro das

Uclações I xtcrioies dos HUA, Henry

Kissinger. Mas y primeira conferência

internacional, reunindo norte-america

iu.n. sul-alricanose latino-americanos in-

cressados no projeto do pacto, rcali/oti

A- . r prs em Puerto Delgrano. na Ar-

•éntina. Seu lema. "A

importância es-

ratégiea •!" Atlântico Sul".

"A importânciaestratégica do

Atlântico Sul".Secundo fontes norte americanas pró

vm- .is ii ( asa Branca, esta conferência

tri dirigida por dois almirantes norte

an ci icanos, em hora a política externa de

.lin o \ C arter. nesta aluna dos aeonteei-

n enios, aconselhasse cautela no rclaeio-

nau enio com os países da África Negra.

;i\sin como submetia as ditaduras mili-

tares do Cone Sul da América Latina a

im embargo de \eiuia de .umas e. em

pane. até de créditos nnrte-aniericanm.

Foi neste contexto eleitoral que o gene-

ral Daniel Oraham reivindicou publica

ii ente a criação "dc

um pacto militar tle

( Jl\\ m* ^~^/ys^/^K\7 ___f 'íf^^' '\áf^^^^^^^m

^r*\ ^H^^^ y^r^^

deles.i do Atlântico Sul nos moldes da

OI AN".

Mudança de ano. Konald Reagan é

eleito e, ao empossai seu gabinete, deu'Iu/

verde" para a atuação de seus asses-

sores políticos, muito mais estreitamente

\ mudados ao poderoso militar) indus-

iial ¦¦oinpex que a assessoría de ('arter.

Destacam-sc aí nomes como o de Ale-

vamlei Haig. general-veterano da Guer-

ra do \ ietnà e ex-comandante do Kstado

M.iioi da OI AN em Bruxelas, onde sei

mu vários anos como defensor intiausi-

pente da nucleari/açào da OI AN. Outro

nome em destaque, nâo tanto na quali-

d.ide de ministro, mas sim como asses

soi. o general Vernon Walters. associado

as piores lembranças no envolvimento

dos I IA \\o golpe militar de 1%4 no

Brasil e notoriamente conhecido eomo

homem ligado à CIA. J\ulcria estender-

se esla lisia do pressure-group que. ins-

pirado nas velhas doutrinas anticomu-

nistas de guerra Iria. não descola dos ou-

vidos do prêsidentc-eowbov dos I IA. e

que. atualmente, mobiliza os esforços do

IJepartamento de Kstado, do Pentágono

e/ou de entidades paraestatais como o

imerican Foreing Polin Instilule. sob

cujos auspícios reali/ou-se a mais recente

conferência sobre n Pacto do Atlântico

Sul em Buenos Aires.

O fato da Argentina haver se translór-

mado numa espécie ite paleu giratório.

en' torno <\ii qual gravitam os interesses

dos "sul-atlantistas" deve-se, princi-

palniente. a dois fatores: 1) é que n go-

verno Reagan renovou o embargo de

vendas de armas levantado pelo governo

Carter. 2> a política externa do Brasil.

traçada pelo Itamaraty tanto nos anos 70

eomo para a década de HO. nãe* se adequa

exatamente aos planos do Pentágono e à

(icnpolítica das ditaduras do Cone Sul.

Mais do que isso: o Brasil, aos olhos dos"sul-atlantistas" aparece eomo o maior

empecilho para a concretização do proje-io do pacto.

Quem arma a África do Sul?

I ui I')7 . ///// ilos movimentos dc libe-

tação .si,i-africanos, o African National

( i iiercs t.VO. fez circular, em iodo u

iiundo, vasta documentação sobre a

,„,permito secreta entre il Republica

sul-Atricuna iRSAl c a Alemanha, cn

volvendo a firma S77.4 0" com os pia

.,..,¦ ,/«. 'bomba

upartheid ¦

I m setembro de !'>7J a SIl.AC, e <

i , -inro de Pesquisas Nucleares de

Karjsrultc. aquela aluíra dirigido pelo

r " Inviu Heckerltfue em I97Vdepôs

i\crante a CPI nuclear cm Brtisíliul, im-

unam ii construção daquela usina. As

>n inteiras encomendas' joram feitas ás

¦umas Man (,1! ff-Stcrkrade: esla

,mirolada pela 07/7/ dc propriedade

,f,i (inverno Alemão, ino Brasil a GHH

ini contratada para a ctmstrução da (á-

hri-a de reatores da NUCl.FP em ha-

ijuai RH

Nesse ínterim, o secretário de Estado

In Ministro ila tecnologia c Pesquisa

de liou a. Hilger Haunschild (considera-

do o arquiteto político do acordo nu-

ícar Brasil Alemanha! dirigiu as nego-

la-ocs com a RSA. a nível dc governo.

/ in l')t)') os gastos de prospecçàii dc

iniimo na Namíbia financiados pela

Alemanha já se elevavam a 6 milhões de

marcos. Posteriormente a Urangesells-

hall adquiriu os direitos de exploração

de M"'n do urânio encontrado na Namí-

hia.

Fntre outros, este <• um dos fortes mo-

:ivos pelos unais a Alemanha Ociden-

tal. ao lado dos EVA e da Inglaterra

que controla a outra parle das minas

Rossing através da Rio Tinto Znncl

vem resistindo tenazmente a todas as-

resoluções de desaprovação do regime

de apartheid sul-africano. O Brasil vo-

'•ai contra o apartheid A atual posição

brasileira diante do pacto do Atlântico

Sul. poderia resumir-se Ctnn as palavras

de um oficial da Marinha brasileira,

aue ao ser indagado, sc esta arma esta-

¦ ia ílisposta a associàr-se ao Pacto, res-

nniidcu: "O dia em que nossos mari-

nheiros negros desembarcassem em

qualquer po.sio sul-africano, seriam vi-

timas iguais à maioria negra daquele

país. discriminada pela minoria bran-

,i '.

Ri sta e.sperar. sc ,:sia posição é real-

mente representativa para as Forças

\rmadas do Brasil diante da questãoIo Pacto.

Não que esta política externa com ma-

ti/es progressistas em relação à questão

palestina ou ao racismo sul-africano los-

sem expressões de uma política interna

igualmente democrática e progressista.

Acontece que o "realismo

pragmático"

do Itamaraty é a expressão direta da de-

pendência brasileira ao petróleo árabe e

africano (Nigéria. Angola, etc*:) e. inversa-

mente, do interesse brasileiro em con-

juistar parcelas cada vez maiores do

mercado africano e árabe com produtos

semimanufaturados. manufaturados,

alimentos e...armas. Neste contexto, é

evidente que os interesses do apartheid e

do Pentágono colidem com a orientação

da política africana e árabe do Brasil,

ainda que, conforme noticiou o diário

britânico. Financial Times, na recente

conferência sobre o Pacto do Atlântico

Sul. estivessem "presentes vários oficiais

de alta patente do Brasil".

Duas facções:os "argentinos" e

os "mexicanos".

Muito mais do que um assunto sigiloso.

|iie o governo brasileiro não teria cora-

,:em dc assumir publicamente (eonlorme

ugerem os incautos), a questão do Pacto

Io Atlântico Sul parece dividir o trapézio

de poder do Planalto em duas facções dis-

tintas, conforme sugeriu colunista da

grande imprensa: os "argentinos"

e os"mexicanos".

I nquanio expressão da facção mexi-

cana. temerosa de uma abertura exeessi

va que relegaria as Forças Armadas a um

plano secundário, senão terciário, no

processo divisório, tirando lhes impor-

(antes iniciativas, o atual Ministro do

I-xército. Valter Pires, já se pronunciou

favorável hien te à idéia do Pacto d<^

Atlântico Sul. ao afirmar que "tanto

a

Argentina eomo o Brasil têm importante

papel na manutenção da segurança nesta

parte do mundo". (Até hoje grande parte

dos militares influentes em Brasília não

digeriu o reconhecimento incondicional

do MPI.A em Angola, tido pelos "sul-

atlantistas", por exemplo, como um dos

fatores de "desestabilização"

na África

Austral. Já os "mexicanos",

encastelados

na chamada maioria parlamentar do go-verno, no Itamaraty e importantes seg-

mentos da sociedade política e civil, cs-

tào mais inclinados para uma "institu-

.ionalização" do regime, com eleições li-

vres e outras concessões, desde que seu

controle sobre o processo não seja afeta-

do nu alternado.

Assim sendo, não deixa de ser interes-

sante a informação posta a circular re-

centemente, segundo a qual os "argen-

linos" exigiriam o aceleramento do Pro-

grania Nuclear (com evidentes desdobra-

mentos militares corno, entre outros epi-

sódios. parece revelar a "conexão

nu-

elear" eom o Iraque) como compensação

para seu desligamento do Pacto do

Atlantic») Sul. E, efetivamente, o fami-

gerado Pacto hoje é impensável sem uma

infra-estrutura nuclear que o suporte, e é

jusiaments para o ajustamento de seus

respectivos programas nucleares que

convergem, atualmente. África do Sul e

Aruentina. ....

MOVIMENTO - 20 a 26/7/81

Page 7: m®®mimw»-«a. ctaalui m

ESQUADRÃO ESPECIAL

A moda pegou. Certamente impressio-

nado com o Índice de criminalidade do Rio

de Janeiro, a Secretaria da Segurança Pu-

blica do Paraná resolveu "adiantar-se aos

problemas" e criar um grupo anti-roubo ca-

paz de impedir que o mesmo fenômeno se

repita na "terra

das araucárias".

Para isso foram escolhidos "a

dedo", se-

te policiais que receberam um treinamento

especial e armados com bazucas, grana-

das e outras parafernálias, além de viaturas

com motores de carros de corrida e auto-

rizrçâo para matar Parece mesmo uma no

va versão dos tristemente famosos "7

ho-

mens de ouro" da década de 60 no Rio de

Janeiro, que acabaram virando o principal

núcleo do Esquadrão da Morte carioca.

Por isso, não será de se estranhar que

nos próximos meses o Paraná, que apre-

senta o menor índice de criminalidade do

pais, torne-se um centro de execução se-

melhanteà velha Baixada Fluminense

FRAUDES E REAÇÕESDiante da persistência dos resultados da

seca no nordeste e das reclamações de po-

llticos assustados com as ameaças de sa-

quês que continuam ocorrendo, a SUDENE,

ao contrário do que havia anunciado,

decidiu aumentar o número de munici-

pios incluídos na área de emergência.

Ao mesmo tempo a SUDENE, auxiliada

pelo SNI, anunciou que havia detectado

uma enorme quantidade de fraqdes na con-

tratação e trabalhadores nas frentes de

trabalho em fazendas particulares, que

recebiam o dinheiro para o pagamento

dos trabalhadores, mas não os contrata-

vam. E só na Paraíba havia constatado o

alistamento irregular de 40 mil pes-

soas. Por isso seriam desativadas as

frentes nas propriedades particulares.

Uma reação violenta de três governado-

res _ Tarcísio Burity, da Paraíba, Lavoisier

Maia do Rio Grande do Norte e Lucídio

Portela do Piaui - forçou o governo a

rever suas posições, principalmente por-

que os latifundiários da região sao sua

principal base de sustentação política.

PLEBISCITO NO ESO Comitê Capixaba contra a implantação

de Usinas Nucleares, recentemente organi-

rado no Espirito Santo, está propondo um

plebiscito no Estado para que a população

manifeste sua opinião sobre a constru-

vão de usinas nucleares em suas praias,

conforme foi anunciado pelo governo. As

23 entidades que compõem o comitê estão

dispostas a uma intensa mobilização para

levar essa discussão a todos os moradores

do Estado. Propõem também uma paralisa-

ção geral simbólica, de 5 minutos, de todas

as atividades no Estado, em protesto à-

fixação da industria nuclear na região.

Até mesmo o Sindicato dos Trabalhado-

res na Construção Civil está pensando em

propor aos seus associados que se re-

cusem a trabalhar em obras que envol- ¦

vam qualquer tipo de construção de no^

vos reatores nucleares.

SUBMARINO NUCLEAR

Segundo denúncia do Estado de S.

Paulo, o Brasil está se preparando para

construir seu submarino nuclear. Os mode-

tos alemães IKL-209. convencionais, jâ es-

tâo sendo programados para serem cons-

truidos a partir de 1984 no Rio de Janeiro

Acontece que esses submannos |â sâo

montados com a estrutura do casco capaz

de receber sistemas de propulsào atômica,

além dos convencionais. São submarinos

da mesma "familia" dos que jà operam

com energia atômica expwtmemalmente

e sào equipados comrnodernas rampas de

lança-misseis, catapultas de distribuição

de mtnae, além doa tubos para lançamento

I dettwfWKtoa» ',;'

fAífW

™Ljr^u^ 0*n

EMPRESAS ESTATAIS

Na trilha da

desnacionalizaçãoDepois de dois anos de trabalho, o

"mi-

nistro" Hélio Beltrão conseguiu uma grande

repercussão para seu "ministério" da desbu-

rocratização, com o decreto assinado na se-

mana passada por Figueiredo, que resolve, de

maneira surpreendente, uma questão que

antes se pensava ser mais complexa: o po-

der das empresas estatais no pais O decreto

permitirá agora a venda de algumas estatais.

Assim, para um observador ingênuo, pode-

ria parecer que a questão do crescimento

das estatais e de seu poder econômico fosse

uma questão apenas de carimbos, requeri-

mentos em dezenas de vias, filas e atesta

dos inúteis. Esse observador ingênuo ficaria

ainda mais espantado se ouvisse declarações

como a do empresário José Papa Júnior,

presidente do Comitê Brasileiro da Câmara

de Comércio Internacional:" maravilhoso, é

um sonho que vai se tornar realidade".

Existem suspeitas de que as estatais a serem

passadas para a iniciativa privada seriam des

nacionalizadas, suspeitas reforçadas pelo fa-

to de poucas empresas nacionais terem re-

cursos para compra de outras empresas.

Embora o "ministro" da desburocratizaçâo,

Hélio Beltrão ao comemorar os dois anos de

funcionamento de seu "ministério" tenha as-

segurado enfaticamente que as estatais só

poderiam ser adquiridas por empresas nacio-

nais, algumas ressalvas vindas a seguir le-

vam a aumentar as suspeitas. Beltrão disse

que o critério para considerar as empresas

compradoras como nacionais seriam os ado-

tados pelo BNDE — ou seja, nâo está exclui-

da a possibilidade de controles acionários ln»

diretos por empresas de capital estrangeiro.

Figueiredo também foi um pouco dúbio:

"ainda nâo falei nas empresas estrangeiras' -

o que possivelmente quer dizer que ele ainda

vai falar Mas o ministro-mterino do Planeja-

mento, possivelmente refletindo áreas de

pensamentos dentro do governo, disse que a

participação de empresas estrangeiras na

compra de estatais "è

uma hipótese prevista".

A questão parece longe de estar resolvida. O

decreto assinado pelo general Figueiredo du-

rante o recesso parlamentar — o que provo-

cou protestos do vice-líder do PMDB, Álvaro

Dias — fala apenas que os "adquirentes de-

verão ser cidadãos brasileiros residentes no

pais ou empresas ou grupo de empresas sob

controle nacional". Como. no Brasil, "em-

presas sob controle nacional" não quer dizer

propriamente que a empresa seja nacional, a

trilha da desnacionalização pode ser alargada

simplesmente sob a desculpa da desburocra-

tização.

(Octávio Senna)

CEBs/GOVERNO

"Não somos bobos.)>

As investidas cada vez mais ousadas do go-

verno para cooptar programas e entidades co-

munitárias jà começam a preocupar diversos

setores da Igreja. Hà duas semanas, quando

foi encontrar-se com o presidente do Mobral.

o secretário-geral da CNBB, Dom Luciano

Mendes de Almeida, foi alvo de várias criticas

e adverências de que es- i aproximação com

o governo "pode nos levar a um tombo"

De fato, a tentativa do governo é encon

trar formas de integrar no âmbito do Estado,

programas da Igreja, como o MEB (Movimento

de Educação de Base), e entidades como as

CEBs (Comunidades Eclesisias de Base), que

reúnem milhões de pessoas em todo o pais.

Semana passada, diante das criticas e

advertências que recebeu, o secretário-geral

da CNBB explicou que seu encontro com o

presidente do Mobral deveu-se de fato a açor-

do CNBB-Mobral para a distribuição do livro

"A transmissão da vida", sobre o planeja-

mento familiar.

Dom Luciano diz que. na verdade, não exis-

te um convênio. O que aconteceu foi que ao

saber que iria ser publicado o livro pelo Mo-

bral, ele procurou sua diretoria e tratou de co-

locar a CNBB na questão "para

melhorar o li-

vro". Assim, o próprio Ck>m Luciano foi o au-

tor do prefácio do livro.

Para os suores que o ctiticaram. Dom Lu-

ciano deu uma resposta curta e decisiva: "l^*o

somos bobos" Ou seia, a Igreja estará inte-

grada aos programas do governo enquanto

estiver certa de que poderá contribuir para

melhorá-los.

Contudo, a preocupação desses setores da

Igreja com o convênio com o Mobral é per-

feitamente explicável Em dezembro do ano

passado, foi publicado um documento do

Mobral que analisava a atuação das CEBs e

mostrava como pretendia cooptà-las: e come-

cana exatamente por esses convênios.

O governo agora acena com convênios na

base do "entendimento" Semana passada,

ao viajar para o Iraque, o ministro do Inte

rior, Mário Andreazza, jogou um balão de en-

saio: acha que as pastorais de favelas, que

existem nas grandes dioceses, podem parti-

cipar do Promorar o maior programa do mi-

nistèrio. Aliás, jà existe um convênio entre

a diocese do Rio, assinado por Dom Eugênio

Sales e Andreazza, no sentido de a pastoral

das favelas trabalhar com o BNH na distribui-

ção de casa a quem ganha de 1 a 3 salários mi

nimos. A CNBB jà disse que isso só pode ser

decidido em assembléia.

Cooptar a Igreja é o lema do governo. Es-

tando eta pivticipando dos programas, seu

poder de critica vai ser reauado — afinal

estarão tr«»bamando juntos. Mas vale repetir

Dom Luciano: "Não

somos bobos". .._., .

CEBs/PARTIUOS

\ Partidarismoou nâo das

comunidadesde base?

Na discussão sobre "Cidade

e cidadania',

realizada na 6.' feira da semana passada, na

SBPC, o padre Cláudio Perani do C-iAS - Cen-

tro de Estudos e Ação Social da Igi -ja na Bahia -

analisou o papel das CEBs - Comunidades

Eclesiais de Base - que se desenvolvem

hoje no Brasil cada vez mais vnculadas ao

movimento popular.

Embora tenha surgido princo-ilmente no

campo a partir de 1960 e posteriormente

nas cidades, (1970) com caráter religio-

so, aos poucos as CEBs ampliam seu pa-

pel próprio, na perspectiva de remoção da

Igreja quando passam a interp.etar o Evange-

lho como uma opção pelos pi 0**0 i pela vi-

da comunitária.

Para Perani, o aprofundanM m > laa oausas

da situação de opressão e dos me.C.11 -ira so-

lucioná-la fez com que o trabalho religioso

superasse a visão mais assistercialista-pro

mocional para uma visão de rer*'>nd'cação-

mobilização. É quando o trabalh i aa aore para

outras entidades, procurando nmbot* e va»

lorizando as associações de bairro i •> sindica-

tos.

Atualmente, com a ampliação do movimen-

to popular, sua organização e articulação, co-

loca-se concretamente para as CEBs a quês-

tão dos partidos políticos. A Igreja è forçada a

mudar seu papel de aliada do poder ou de

mediadora entre autoridade e o povo e passa

a se aliar às lutas populares.

Na sua análise, Cláudio Perani chamou a

atenção para os problemas que as CEBs en-

frentam hoje, semelhantes aos do movimento

popular: como somar forças e realizar sua

unidade e se situar diante dos partidos? Em-

bora Perani considere que o ponto de par-

tida para a unidade são as lutas concretas,

quando o povo se une naturalmente, chama a

atenção para a diversidade das lutas. do. seu

conteúdo, estágio, bem como a variedade e

complexidade de problemas que se encon-

tram em centros como São Paulo e Salvador,

por exemplo.

Nesse sentido, interpreta como sendo um

esvaziamento das lutas especificas qualquer

tentativa de reduzir a um único movimento pa-

ra fazer a unidade. Mas, Dor outro lado lembra

que o relacionamento dos trabalhos de base

deve ser pela convergência, pois e provoca-

do naturalmente pela unidade do sistema

explorador e do regime com o qual sempre

terminam por se enfrentar uma convergem

cia. que se dá pela troca de experiência em

vários níveis. Tem de ser uma unidade por-

tanto que se dê num processo heterogêneo,

respeitando-se as diferenças das lutas, e

convergindo nos conteúdos fundamentais

para somar forças. Uma unidade que se-

gundo ele è mais de acumulação .

A politizaçào da CEBs è um processo ine-

vitàvel, mesmo que especifico, que segundo

Perani se torna fundamental á superação da

visão que considera a resistência e as orga-

nizações populares como simplesmente rei-

vindicatórias e não políticas. Lembra, por

exemplo, que uma invasão pelo direito de

morar não significa apenas a conquista de

uma casa, mas representa uma nova experièn

cia de organização, um novo modo de vida,

nova forma de luta.

Nesse rumo è que Perani coloca a neces-

sidade da relação dos movimentos sociais

com os partidos Mas chama a atenção que

os partidos não podem substituir as organi-

zaçôes de base nem transformá-ias em ór*

gãos partidários. Argumenta que a luta popu-

lar é uma experiência de associativismo que

leva à descoberta de caminhos enquanto

o partido se apresenta como um proje-

to com programa feito.

-

Page 8: m®®mimw»-«a. ctaalui m

"****Tmm1*m ^A * mMn*m-~J§ Iw%^ji' tCHíB^âP1 •flriü^HkS y *v ^í

littssi c t* Lfinasitt na hora tias a/rtiracõi>s: a ojiosicto junte ganhar, Jo;i(/nitn balança.

METALÚRGICOS, SÃO PAULO

A OPOSIÇÃO UNIDA

COM ROSSIAurélio e Rossi unem-se e podem bater o super-pelego Joaquim

A carreira sindical de Joaquim dos

Santos Andrade, o Joaquinzão. há 17

anos ancorado na presidência do Sindi-

cato dos Metalúrgicos de São Paulo, a

maior máquina sindical da América La-

tina, está balançando. Ele não conseguiu

vencer a oposição no primeiro escrutínio— a soma <h>s votos de seus dois adver-

sários foi praticamente igual à sua —

nào atingiu os 50% de votos do eleitora-

do mais um exigidos por lei (cerca de 27

mil votos) e. já no final da apuração

realizada no Ginásio do Ibirapuera. em

São Paulo, sob as vistas de muitos políti-cos e uma enorme massa de ativistas

operários paulistas, era visível o desalen-

to em quc mergulhavam ele e seus

apoiadores Do outro lado — a Chapa 2.

de Valdemar Rossi, o operário escolhido

para f. lar ao Papa cm nome dos traba-

lliadores católicos no ano passado, e a

Chapa 3, de Aurélio Peres. o deputado

operário que liderou o Movimento Con-

tra a Carestia — o resultado consolidou o

pacto de união que vinham estudando há

algum tempo. Graças a ele, apenas um

nome se apresentará no segundo escrutí-

nio para a disputa: o de Valdemar Rossi,

o mais votado entre os dois (teve prati-

camente o dobro dos votos de Aurélio).

É possível que Joaquim entre com re-

curso tentando obter junto à justiça tra-

balhista a vitória pela maioria simples

que conseguiu — contrariando a própria

lei criada pelo governo que exige, para o

primeiro escrutínio, que a chapa vence-

dora tenha 50% mais um de todo o elei-

torado inscrito. Nessa manobra, no

entanto, não acreditavam sequer os seus

aliados: o ex-deputado federal Marcelo

Gatto. trabalhador químico cassado pe-

los militares após fazer denúncias de

torturas e hoje trabalhando como asses-

sor jurídico de Joaquinzão. disse a Movi-

mento no Ibirapuera que não conhecia

nenhum precedente jurídico que permi-

tisse uma manobra desse tipo (embora

dissesse também que considerava a exi-

gência legal injusta e admitisse que Joa-

juim pudesse apelar para ela).

Segundo todos os participantes do

pleito, foi o mais disputado e mais

significativo dos últimos tempos. Para

isr.o contribuiu muito — ao contrário do

eJo-aquim e

seus aposentados

Resultados de alqumas urnas expressivas

Joaquim Rossi Aurélio

Aposentados 3 088~_ 366 '148

Desempregados 999 616 285

Aliperti 128 218 115

Sofunqè 236 76 239

Villares 201 313 27

Volks 114 250

Volks 114 250 33

Matarazzo 513 107 125

Arno 148 238 77

Lorenzotti 351 189 44

Metal Love 314 171 278

TOTAL com aposeni 6,092 2 544 1371

TOTAL sem aposont 3 004 2 173 1223

Ao final da apuração Joaquim linha 21.394votos, longe portanto dos 50°'o mais I necevsários, Rossi linha 15.475 e .Aurélio 7.022 —

praticamente empatados. portanto.A lahela acima mostra porém um dos segredos da

hoa votação de Joaquim: a enorme vantagem

que ohteve nas urnas em que votaram os aposen-

tados, aqueles que, de alguma forma, desen-

pendem da máquina assistencial do Sindicato.

Santo Conte, da Chapa 2. velho militante sindi-

cal, sócio do sindicato há 30 anos, diretor

cassado do sindicato no golpe militar de 1%4,

disse a EttrimtMtts que esses aposentados são na

realidade os mesmos operários que eram urr.ni

cados das fáhricas para as históricas grevesde antes do golpe.

A lahela mostra lamhém a votação em algumas

grandes fábricas, onde, em geral, a votação das

correntes oposicionistas sempre foi muito expres-

tm****. Na Arno. onde trahalhou Joaquim Andrade,

por exemplo, a chapa 2 ganhou com pratica-mente o dobro dos votos. Na Volks e na

Kord também a Chapa 2 conseguiu 5007o do

total de votos. \ Chapa 3 também teve expressivavotação em fáhricas como a Metal leve e a

Sofunge.

Outros resultados das apurações: Joaquim

continuou tendo grande maioria de votos nas

áreas industriais mais antigas e de pequenasoficinas, no Norte. Oeste e Sudeste da cidade: Ro-si porém conseguiu grande votação na região

Leste, também de pequenas empresas, mas onde

ele mora e trabalha.

que muitos temiam — a divisão entre as

chapas de oposição, que possibilitouopções mais diferenciadas para os meta-

lúrgicos, levou mais ativistas políticos a

se empenharem na conquista de votos

para suas correntes e acabou signifi-

cando uma politização muito maior das

eleições. "A

divisão trouxe alguns pre-

juízos mas também algumas vantagens",

disse a Movimento Valdemar Rossi,

agora o candidato único do lado oposi-

sionista. "O

debate político pode ser

mais aprofundado", disse ele. Para

Aurélio Peres, embora do ponto de vista

pessoal tenha tido perdas, por ter tido

apoio praticamente de uma só corrente

política — ligada ao jornal Tribuna

Operária — a campanha da oposição

com chapas separadas significou uma

enorme vantagem para o conjunto."Permitiu

que todas as forças entrassem

na camanha, o que nào ocorreria se fosse

feita a composição a qualquer preço quese pretendia de início".

Outras vantagens da campanha atual

em relação à última, de 1978: as fraudes

praticamente não existiram, os inciden-

tes policiais foram menores, o que tam-

bém contribuiu para tornar o conteúdo

político da campanha muito mais avan-

çado.Rossi parte agora para tentar vencer

Joaquim tendo atrás de si o campo opo-

sicionista unificado. Quinze dias antes

do pleito ele e Aurélio tinham se reunido

e fechado questão em torno de alguns

princípios de unidade: nenhum dos dois

venceria as eleições sozinho; nenhum dos

dois teria condições de, sozinho, condu-

zir a vida do sindicato; o que tivesse

menos votos, portanto, deveria desistir

publicamente do pleito e juntar seus ati-

vistas para ir às portas de fábricas

mobilizar seus eleitores para tentar der-

rotar o pelego.

As possibilidades da oposição são, ago-

ra, bastante grandes. O resultado parcialelevou enormemente os ânimos, especial-

mente na Chapa 2.

REPRESSÃO EM NAVIRAÍApós a saída do repórter de Movimen-

to de Navirai - MS. (veja matéria na pâqi-

na 9) a situação tornou-se ainda mais

tensa. Um telefonema da região infor-

mou que na Fazenda Entre-Rios. onde

centenas de famílias estão sendo amea-

çadas de expulsão, um grupo de pisto- •

leiros invadiu algumas casas e soltou

gado nas plantações. Além disso distri-

buiu bolinhos de carne envenenada num

local onde havia crianças pequenas, que

felizmente não os comeram, oferecendo-

os a um cachorro que morreu.

PROTESTO INUSITADOOs suinocultores de Santa Catarina

vão fazer uma forma inusitada de pro-

testo contra o governo, que insiste em

manter os preços mínimos da carne de

porco a níveis muito abaixo do custo:

durante a Festa do Leitão Assado de

Concórdia, a ser realizada de 27 a 29 de

julho, irão soltar um porco de páraque-

das, vestindo uma camisa da Associa-•ção dos Suinocultores Catarinenses e

trazendo no bolso um bilhete ao ministro

Delfim Netto.

CONSTRUÇÃO CIVILDois mil peões que trabalham na

construção de um conjunto residencial

em Jacarepaguá, no Rio, pararam seu

trabalho, no final da semana passada,

em protesto à morte de um trabalhador

atropelado na obra. Milton Farias de

Mesquita. 25 anos, havia acabado de ai-

moçar quando um caminhão em mano-

bras derrubou-o. Machucado, esperou

por socorro durante mais de uma hora,

tendo o engenheiro encarregado impedi-

do que seus amigos chamassem uma

ambulância. Milton acabou morrendo

por falta de assistência médica. E os

trabalhadores, revoltados, quebraram a

cantina, expulsaram os guardas de se-

gurança e apedrejaram um carro da poli-cia que veio ao local.

OPOSIÇÃO SINDICALOs marceneiros de São Paulo, uma

categoria que há 17 anos vem sendo do-

minada por pelegos, elegeram na sema-

na passada sua nova diretoria. Venceu a

chapa 2, de oposição, liderada por Joel

Alves de Oliveira, em segundo escrutí-

mo, por 1.048 votos, de um total de

2.075 votantes.

pmicipc!Debates —¦ "Desemprego

e Carestia"

iniciará uma série de debates promovida

pelo PMDB de Diadema, São Paulo. No

dia 24 de julho, 19 horas, na Câmara

Municipal de Diadema (Pça. Pres. Cas-

te!o Branco, 186) debaterão Walter Ba-

reili, do Dieese;deputado Aurélio Peres;

lideranças sindicais; Marion Oliveira, di-

retoca de Promoção Humana de Diadema

e Ricardo Zarattini, do Movimento Tra-

balhista do PMDB.

Brasil-Africa — 1 ° Seminário Interna-

cional Brasil-África, de 4 a 7 de agosto,

no Rio de Janeiro, com a participação de

intelectuais e Centros de Estudos África-

nos da América Latina e África. Promo-

ção do Centro de Estudos Afro-Asiàticos— CEAA, do Conjunto Universitário

Cândido Mendes (Rua Joana Angélica

63. fone 267-7141, Rio).

•Sociólogos — Abertas as inscrições

para o I Congresso Estadual dos Soció-logos que será realizado na USP nos dias12 a 15 de agosto. Os trabalhos já ins-

critos abordam, entre outros, o mercado

de trabalho, o ensino das Ciências So-ciais, a Questão Agrária, a Indústria Cul-tural e o Movimento Sindical. Informa-

ções na Associação dos Sociólogos deSão Paulo (Rua Augusta. 719. fone257-8225).

MOVIMKNTO - 20 ¦ 26/7/81

Page 9: m®®mimw»-«a. ctaalui m

Nas últimas semanas o clima de me-

do e tensão cresceu em Naviraí no Ma-

to Grosso do SuL Os assassinatos e as

emboscadas que anos atrás, no início

da colonização, eram parte comum do

dia-a-dia e que pareciam ter desapare-

«do, começam a voltar. Regido de gran-

des latifúndios colonizados por fa- ¦

zendeiros paulistas e gaúchos, Nainraí j

tem poucos sitiantes pequenos, mas jmuitos lavrailores sem terra que vir }

vem de empreitadas e posseiros que há ¦

anos se internaram nas matas. Duran-

te os avós dc dt sbravamento dos flores- '

tas, dezenas de grandes serrarias se es-

palharam por toda a área» mas agora,

com o fim do desmatamento os traba-

lhadores estão sendo despedidos em

massa, sem ter para onde ir.

Temerosos, os fazendeiros contratam

grande número de ''guardas

de segu-

rança" — pistoleiros

— que procuram

proteger as fazendas, ameaçar os reni-

tentes que exigem seus direitos e fazer

valer a lei do "progresso":

o .38, cano

longo.No sábado antes da passeata de la-

vradores, o grupo de organização do

Movimento ae Direitos Humanos rece-

beu várias ameaças explicitas e mesmo

o cantor Antônio Cardoso foi adverti-

do por um estranho durante o almoço:"vocês

falam demais e se repetirem as

coisas que andam dizendo por aí nós

quebramos vocês. E vocês se (*uidern*

porque a viagem de volta vai ser mui-

to difícil". Tanto Antônio Cardoso co-

mo o repórter de Movimento saíram do

Estado de Mato Grosso do Sul, no do-

mingo à noite, escoltados por um gru-

po de moradores de Naviraí com seus

carros.A violência dos fazendeiros, desejo-

sos de "limpar"

suas terras para o gato,

está também provocando uma resistên-

cia dos lavradores e de boa parte da

população da região, como se vê nesta

missa em memória do Dr. Joaquim das

Neves Norte.

A classe roceira t* a classe operária ansiosa es-

pera a reforma agrária sabendo que ela dá

solução pra situação que eslá precária...

(CMta final da missa em memória de Joaquim das

Ne», es Norte)

Todo

homem tem direito à

vida. à liberdade e à segu-

rança pessoal. Ninguém

será submetido à tortura

nem a tratamento cruel,

desumano ou degradante.

A vo/ clara de Neide ressoa pausada

pelo alto-falante do carro que vai junto à

passeata pelas ruas de Naviraí. Sào ali

cerca de mil jovens chegados de dezenas

de cidades e vilas da região, para o lan-

çamento da Campanha de Direitos Hu-

manos da Diocese de Dourados. São os

jovens que vieram encontrar-se com os

lavradores pobres, os rendeiros, os

peões, que homenageiam, neste mesmo

domingo, a memória de seu advogdo,

Joaquim das Neves Norte, assassinado na

mesma praça Filinto Müller. onde eles

chegam cantando o antigo hino de Van-

dré. Pra Não dizer que não falei de fio-

res.

Os jovens — em sua maioria secunda-

ristas —, estiveram reunidos a manhã

toda. discutindo e ouvindo as canções de

Antônio Cardoso, um compositor e can-

tor que há muitos anos percorre o país.

animando reuniões de jovens, de lavra-

dores, de sindicatos. Agora entram na

praça para encontrar a passeata dos

lavradores que saíram do sindicato eom

suas faixas, suas enxadas e sua triste/a.

Naviraí é uma pequena cidade do Ma-

to Grosso do Sul. bonita, bem planejada,

ruas largas, jardins bem cuidados. Uma

cidade ainda cercada por serrarias e

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Passt-atavm Xirimt, MS. V. foto nwnor, a família di'Joatlnim \orl<> na missa tle W" dia.

CENA BRASILEIRA

ENXADAS E FOICENO ALTARNaviraí, MS: emoção e revolta na missa de 30° dia de Joaquim Norte

Murilo Carvalho

grandes fazendas de criação de gado,

com a poeira vermelha sempre no ar.

Os lavradores chegam em silêncio, to-

mam a dianteira da caminhada e se

espalham pela sombra da igreja, na rua e

nas calçadas, misturando-se à grande

multidão que já aguarda o início da

missa de penitência e protesto pelo

assassinato de Joaquim, advogado dos

lavradores e da Comissão Pastoral da

Terra. O altar foi montado num estrado,

à entrada da igreja, para que a missa

seja na rua e mais pessoas possam assis-

li-la."Nossos filhos e netos, continuaremos

na defesa de sua justa causa". A faixa,

sustentada por dois roceiros, só é abaixa-

da quando o bispo de Dourados começa

a falar. De longe um carro da polícia,

cheio de soldados, observa. O dia está

completamente azul e o sol é forte.

— A morte do sr. Joaquim foi uma

triste/a sem tamanho pra nós, o pessoal

dos arrendatários, dos posseiros. Ele

morreu porque ele acreditava que nin-

guém podia passar por cima da lei. que o

pobre tem o direito de ser tratado com

justiça e que ele não é escravo do rico.

Foi por isso que mataram, pra ver se

esmorecia nossa luta.

Manoel, um ala-,

goano, de 40

anos. morador na

fa/enda Jequiti-

bá. ameaçado de

expulsão antes do

vencimento do

contrato de arren-

damento que fez

com o dono

da fazenda, está

ali desde a ma-

drugada, espe-

rando para "rezar um pouco pelo amigo"

Au *)

Joatfuim !Xortt>

O bispo, forte sotaque alemão que

ainda não conseguiu perder nestes quase

35 anos de Brasil, explica as ra/ões da

missa, da passeata. E chama a viúva de

Joaquim, da. Maria, para ir até o altar,

onde um representante da comunidade

irá abraçá-la, como perdão pelo mal que"a

cidade lhe causara". Manoel olha.

tenso, enquanto da. Maria sobe choran-

do os degraus. Um velho lavrador abra-

ça-a em silêncio. Manoel fica de cabeça

baixa, mal disfarçando um choro que

teima em umedecer-lhe os olhos.

— Nós escrevemos uma carta que um

companheiro nosso vai ler aí na missa, e

nós pensamos no padre que fala pra

gente nào pensar em vingança, tá certo a

vingança nào resolve, e a gente nunca ia

trocar mesmo a vida de nosso advogado^

nosso amigo Joaquim, pela vida de um

assassino, um pistoleiro sem categoria.

Mas se um homem desses cai na nossa

mão. na mão do nosso povo revoltado de

lá. Deus ia entender a nossa revolta, e

não garanto que ele também não virasse

sal da terra.

Os lavradores — cerca de mil famílias

— estão temerosos, sentindo-se desam-

parados depois da morte de Joaquim. O

contrato que a maioria deles fez com os

fazendeiros já está praticamente venci-

do. mas muito antes tiveram suas forças

invadidas pelo gado. destruídas suas ca-

banas. E todo o ano que se dedicaram a

derrubar a mata. destocar, limpar o

terreno para finalmente plantar, ficou

perdido. Não puderam mesmo colher a

segunda safra, conforme o combinado,

antes de plantar o capim e devolver a terra

ao fazendeiro.

No ofertório. depois de falar sobre a

morte do advogado e a indiferença da

polícia. D. Teodardo Lietz lembra:— Esses crimes, como outros, o do

Riocentro. por exemplo, têm que ser

esclarecidos para o povo. para que o

povo não se sinta traído. Senão as mas-

sas um dia vão perder a paciência e se

levantar, então sim. ninguém segura. E

as coisas poderão ser piores. Por isso

pedimos aos responsáveis: não deixem

esses crimes hediondos cairem no esque-

mento. porque Deus não esquece e o

povo não esquece também.

Lavradores com suas enxadas e foices

sobem no altar e levantando-as. ofere-

cem a Deus seu trabalho, a força de seus

braços. Pedro, morador de uma das fa-

zendas, sobe também para ler a carta

dos lavradores. Só o barulho do vento e o

chiado do alto falante misturam-se ao

seu falar gaúcho, bem escandido:— "A

triste notícia se espalhou pelo

campo, de cabana em cabana. se espa-

lhava o acontecimento, muito choro e

desespero surgiu entre o povo."E

verdade que ele tinha todas as condi-

çoesde ser feliz, mas ele preferiu lutar até i

morte".

O cântigo litúrgico da comunhão crês-

ce nas vozes de todos os que sabem ler

nos textos mimeografados que foram dis-

tribuídos.— Dr. Joaquim ajudava a sustentar

nossa luta. Agora ele morreu como ho-

mem. mas continua a lembrança dele

para ajudar a combater nossa luta.

Manoel comunga, olhos baixos, a tes-

ta encostada no cartaz que carrega:"Nossa força vem da união".

O sol já virou no horizonte quando o

último canto da missa ... espalha pelas

sombras compridas que povoam a praça.

Rapa/es e moças, quase todos nascidos

ali, naquelas terras desbravadas por seus

pais. cantam juntos com os roceiros:"A

classe roceira e a classe operária/,

ansiosa espera a reforma agrária/saben-

do que ela dá soluçào/pra situação que

eslá precária...

MOVIMENTO — 20 a 26/7/81

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BRASIL/URSS

Os grandes negócios

de Delfim na URSSDe inimiga, a União Soviética vai ser grande parceira comerei

MARCOS PAIVA

ai do Brasil.

"A abertura chegou a União Soviéti-

ca", anunciou um empresário entusias-

nuido com os resultados da curta mas

proveitosa viagem do ministro Delfim

Netto e sua gigantesca comitiva a Mos-

cou na semana passada. De fato, de ini-

miga-máxima do "Brasil-potência" na

década passada, a União Soviética toi

guindada a condição de grande parceiro

comercial do Brasil. Os acordos envol-

vendo a venda dc soja. cacau, milho e

ptodutos manufaturados para a URSS e

a compra pelo Brasil de petróleo e equi-

pamentos industriais garantem um volu-

me de negócios nos próximos cinco anos

calculado cm cerca dc USS 5 bilhões. Sa-

tisfeito. o ministro Delfim Netto prevê

que. até 1^80. o comércio entre os dois

países chegará ao nível dc USS 1 bilhão

de exportações c importações, o que o

colocará no mesmo nível do intercâmbio

do Brasil com tradicionais parceiros co-

mo Argentina c França.

Naturalmente, nem tudo foram flores

na visita da missão chefiada por Delfim.

Repetindo as mesmas divergências que

haviam marcado as reuniões anteriores,

não houve entendimento em relação ac

valor das importações dc manufaturados

brasileiros por parte dos soviéticos cm

contrapartida ã compra pelo Brasil de

turbinas para a hidrelétrica de Ilha

Grande no montante de USS 120 mi-

lhões. A questão será decidida por oca-

siãoda vinda ao Brasil de mais uma mis-

são comercial soviética, em setembro,

encabeçada pelo vice-presidente do Co-

mitê Estadual de Relações Exteriores,

Vitale Morason. e que será integrada por

representantes de algumas das mais im-

portantes empresas soviéticas de comer-

cio exterior. Fm compensação foram en-

tabulados negócios para a venda aos so-

viéticos de uma enorme gama de produ-tos que nào estavam cogitados, desde

azulejos até calças "

jeans" — as

"URSS-

Top" — bolas de futebol etc.

O "grande salto" no intercâmbio Bra-

sil-URSS nos próximos anos será visível

não apenas nas estatísticas mas inclusive

pela presença no Brasil de equipamentos

c de técnicos sov iéticos que virão prestar

assistência técnica as empresas Pauline-

tro e Coalbra (C ompanhia Coque e Al-

cool da Madeira). Mais do que isto, po-

tem. o namoro Brasil-URSS poderá re-

sultar na formação de "dobradinhas"

entre empresas dos dois países para

atuar em terceiros países — como An-

gola. Etiópia, Moçambique — nas áreas

de consultoria e dc engenharia civil, com

tis soviéticos entrando com o financia-

mento e fornecimento de equipamentos e

as empresas brasileiras se encarregando

da execução das obras. Os primeiros en-

tendimentos concretos nesse sentido to-

ram realizados pelos empresários brasi-

leiros que integravam a comitiva de Del-

lin e deverão prosseguir nos próximosmeses.

A colaboração entre os dois países no

campo econômico poderá ser ainda mais

estreitada com a provável participação

soviética no projeto Carajás ao lado de

afl a^l 1^^ "*" "¦''

t^T^h ¦ am «áe * **^^^*~ -«sjv.

¦ (P** Ám tWl***- -4| 'v Jbr

algumas das mais conhecidas corpora-

ções multinacionais do mundo capitalis-

ta. A proposta partiu dos próprios sovié-

ticos, que até apresentaram um esquema

preliminar, pelo qual financiariam a

aquisição dos equipamentos necessários

para a exploração de determinados mi-

nerais e como pagamento receberiam

parte da produção resultante destes in-

vestimentos.

Para o governo brasileiro a ampliação

das relações comerciais com a URSS re-

presentará um novo alento ao modelo

econômico em vigor — ao significar a

abertura de uma nova fonte de emprés-

timos e de um novo mercado para as ex-

portações, fatores essenciais em esforço

governamental para evitar o estrangula-

mento das contas externas do país.

Em termos estritamente comerciais, es-

ta nova etapa nas relações entre os dois

países resultará numa sensível diminui-

ção no crônico déficit dos soviéticos em

suas transações com o Brasil — esta. porsinal, foi uma das principais exigências

feitas por Moscou ao longo das conversa-

ções com Brasília.

Embora o governo tenha investido mais

de 300 bilhões de rublos (um rublo vale

um pouco menos que uni dólar) no setor

agrário nos últimos dez anos — 0 que re-

presente 2.3% armais do que na década

anterior —, a'produção agrícola da

URSS cresceu apenas 123.7% de 1970 a

1980 — enquanto a produção industrial,

com menos cuidados, cresceu 167% no

mesmo período. Segundo revelou Leonid

Brejnev no relatório ao XXVI Congresso

do PCUS, em fevereiro passado, em três

anos nos últimos cinco a produção agri-

cola do país foi desfavorável. Pior ainda,

em conseqüência de problemas climáti-

cos, as perspectivas da próxima safra não

são muito alentadoras. Por tudo isto e

também para evitar novas surpresas com

o boicote econômico determinado peloex-presidente Carter em 1979 em repre-

sália a invasão do Afeganistão, a amplia-

ção e diversificação dos fornecedores dc

alimentos tornou-se uma das preocupa-

ções primordiais da política externa so-

viética. Por estas razões, a proposta do

Palácio do Planalto de intensificação do

intercâmbio entre os dois países teve res-

sonância imediata no Kremlin. Afinal,

juntou-se a fome com a vontade de co-

mer.

Ver matéria uO crescimento da

IRSS na A. Latina" na página 15.

Brasil-URSS: as multis também ganhamAo contrário dos déficits insistente-

mente alardeados pela imprensa ociden

tal, as estatísticas do Ministério do Co-

mércio Exterior da URSS revelam que o

país tem alcançado pequenos superávits

em suas transações comerciais com o res-

to do mundo nos últimos anos. No ano

passado, para um nível total de comércio

de 94.1 bilhões de rublos (valor que cor-

responde, na cotação atual, a 70.5 bi-

lhões de dólares), o saldo foi de 5.2 bi-

lhões de rublos. A maior parte desse su-

perávit foi obtido nas transações com os

países socialistas, com os quais a URSS

teve um superávit de 3.2 bilhões (expor-

tações de 26.9 bilhões e importações de

23.7 bilhões, sempre em rublos).

Com os países "capitalistas desenvolvi-

dos", conforme a classificação do minis-

terio soviético, as transações praticamen-

te se equilibraram (exportações de 15.9

bilhões e importações de 15.7 bilhões),

enquanto com os países "capitalistas em

desenvolvimento" a URSS alcançou um

razoável superávit em comparação com o

volume total do intercâmbio — para

compras no valor de 5.1 hilhões de ru-

blos, venderam 6.9 bilhões para esse bio-

oo,Fm decorrência do boicote promovido

pelo ex-presidente Jimmy Carter no final

de 1979. o nível do comércio com os Es-

tados unidos naturalmente caiu —de 2.3

bilhões de rublos em 1979 para apenas

1.5 bilhões no ano passado, o que redu-

ziu o déficit da URSS com os americanos

para 1.2 bilhões (contra 2,2 bilhões no

ano anterior). O boicote em nada influiu

no comércio com Cuba. que aumentou

apenas 100 milhões de rublos em 1980.

com a diferença que em 1979 o investi-câmbio entre os dois países foi pratica-mente equilibrado, enquanto no ano pas-sado foi desfavorável para os cubanos em310 milhões de dólares (exportações so-viéticas de 2.3 bilhões e importações de2.0 bilhões).

As estatísticas mostram, claramente,

que a Argentina foi o principal benefi-ciado pelo boicote: De 1979 para 1980 ointercâmbio Argentina-URSS aumentou

quase 500% saltando de 214 milhões derublos em 1979 para 1.193 milhões noano passado. De 264 milhões registradosem 1979. o superávit argentino aumen-tou na mesma escalada, atingindo 1.132milhões de rublos em 1980. Nesse mesmo

período o comércio com o Brasil aumen-tou pouco mais de 50%. passando para275 milhões de rublos em 1980

10MOVIMENTO — 20 a 26/7/81

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jgfeJVIOVIIVIENTQA;

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j FMAMJ J ASONDJ FMAMmaW **» A» . ,,, _.,_„_ 7(J„

A quida aulirada do nívil de emprego industrial tm Sào Paulo: a uma-da roisla rxiiine - moslra o (TWt inlo do imprimo mis a miv dc jamiro dc IVKOu maiodi- 1981. que cai dc ? 2.6", para - 7»

QUEM PAGA PELA CRISE?Sobre as costas largas dos

dos trabalhadores, o regime mipequenos, em particular,itar joga todo o peso de sua crise.

Os números são assustadores:

O nível geral da produção na indús-

tria brasileira —medido pelo IBGE —

caiu 1 ,7% nos cinco primeiros meses de

81. quando comparados a 80; é a pri-

meira queda na produção industrial do

país cm mais de 10 anos;

de acordo com o índice da revista

Exame, o nível geral do emprego in-

dustrial em São Paulo, o grande centre

econômico do país. está — em majo —

7% abaixo do nível do mesmo mês nc

ano anterior (veja o gráfico acima); a

queda na oferta de empregos na produ-

cio em São Paulo é muito pior: o nível

de maio de 81 é 73.6% inferior ao de

maio de 80.

• subemprego se alastra, pratica-

mente dobrou em todas as áreas metro-

politanas do país nas quais existem

pesquisas do IBGE: o número dos que

trabalham mais de 40 horas semanais e

recebem menos de um salário mínimo

se elevou de 8.03 para 13,19% em São

Paulo; 5.56 para 12.53% em Belo Hon-

zonte; e de 12.91 para 19.33% em Sal-

vador. por exemplo.

Para quem insiste em negar o desem-

prego, os fatos sào arrasadores Um

exemplo:

no Rio. dia 27 dc maio. mais de 30

mil pessoas correram a Rede Ferrovia-

ria Federal em busca dc 352 vagas para

salários de 14 a 23 mil cruzeiros;

O governo anuncia que esta situação

perdurará por dois ou tres anos. Até

empresários, no entanto, acreditam que

as dificuldades se agravarão; há. inclu-

sive, os que vêem a iminência de uma

deterioração profunda da situação so-

ciai. porque a crise ainda estaria longe

úo "fundo

pOÇO".

•'Mesmo que o governo mantenha a

crise nos níveis atuais ou seja. impeça

falências em massa e mantenha a atual

oferta de empregos, o quadro é sinistro:

o próprio governo sabe que não basta

manter os empregos atuais — é preciso

criar 1.5 milhão de novos empregos por

ano para acomodar a massa dos jovens

e mulheres que vêm se incorporar

anualmente á força de trabalho.

Mas se a crise pode ter um rumo mais

ou menos grave, a depender de alguns

fatores, o plano do governo militar para

combatê-la. por mais que se diga outra

coisa, consiste, basicamente, em jogar o

seu peso sobre as costas largas dos tra-

balhadores.

O desemprego, nas cidades e no cam-

po é a forma mais visível de transte-

rir os custos sociais da crise daqueles

que a criaram para as famílias dos po-

bres e pequenos, em geral. O desempre

go. porém, não é a última arma do re-

gime. nessa política. Qualquer observa-

dor mais atento \ê que o governo esta

buscando ganhai forças para eliminai

o reajuste semestral cos 10% adicionais

sobre 0 IN PC para a faixa dos que ga-

nham dc 1 fl 3 salários; WW sucessivos

pronunciamentos, ministros de Estado,

líderes empresariais c mesmo lideram

ças sindicais pclegas e trabalhadores

confundidos vêm apontando o reajuste

e os 10°.. como os responsáveis pela

atual onda de desemprego. Os benefí-

cios modestos que o reajuste semestral

e a nova fórmula salarial proporciona-ram aos trabalhadores de mais baixos

salários formam pois o próximo prato

que o governo militar pretende aboca-

nhar para ganhar forças e resolver a

crise a seu favor. E isso é mais do que

esperado: esse*, benefícios já foram

apontados pelos banqueiros internado-

nais como obstáculos no caminho da

solução recessiva que o governo vem

dando a crise; a recessão é a única saí-

da que o regime tem. porque ela lhe

permite reduzir o consumo interno e

aumentar a quantidade de excedentes

exportáveis.

Para jogar os prejuízos do modelo so-

bre os de baixo, o governo tem ainda

um impressionante rol de artifícios: são

subsídios, impostos, serviços e recursos

sob seu controle que são manipulados

com vistas a favorecer os monopólios

estrangeiros e nacionais e desfavorecer

os trabalhadores e os pequenos e mé-

dios proprietários. Alguns exemplos: as

estatísticas do custo dc vida. que corri-

gem os salários di>s trabalhadores, vêm

senoo manipuladas, denuncia-se; o

grupo Antunes recebeu juros subsidia-

dos para pagar a crise do projeto Jari.

do multimilíonário Ludwig; o ministro

do Planejamento mandou elevar o pre-

ço da gasolina e do diesel — e portanto.o úo Transporte, dos alimentos etc —.

sem que tivesse havido aumento do

petróleo, só para o governo conseguir

300 bilhões de cruzeiros a fim dc levar

adiante a sua política de novos subsí-

dios á exportação e aos monopólios em

dificuldades e retirada dos subsídios

para o pão. leite. etc.

Diante disso, que têm a dizer os tra-

balhadores? Mesmo sem uma visão cia-

ra de todas essas políticas c manobras,

os trabalhadores resistem e reclamam.

Os mais conscientes sabem que preci-sam aproveitar a oportunidade paramostrar á grande massa os resultados

práticos do modelo econômico-social e

político que sempre denunciaram.

Esse trabalho de Movimento procura,como passo inicial para ajudar os tra-

balhadores nesta tarefa, apresentar as

variadas formas de resistência à crise

que vem surgindo muitas vezes espon-

taticamente em vários cantos do país.Nas quatro páginas seguintes se podever que os trabalhadores têm costas lar-

gas para suportar o peso da crise, mas

que também têm cabeça firme e braços

fortes para organizar-se c lutar para jo-

gá-la sobre a cabeça dos que a criaram.

. .11

MOV IMI \l(> 2(^26 7.81

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Sob o fogo do desempregoMuitas lutas, mas tambem vacilaçôcs

entre os trabalhadores ao enfrentar

cara a cara a crise do desemprego

Ford: umanova tática

grevistaAgora as reivindicaçõessão outras: readmissão

e estabilidade

Depois da Scania Vabis. a Ford de

São Bernardo do Campo foi uma das

primeiras fábricas a aderir á greve

decretada em 1978. que rompeu com o

longo silêncio imposto h classe operária

pela ditadura militar.

Assim como naquele ano, na

segunda-feira retrasada, dia 6 de julho.

os operários da Ford entraram na

fábrica, marcaram o cartão de ponto,

foram para junto de suas máquinas

mas não as ligaram. Ao invés de

salário, como em 78, os operários

reivindicavam a readmissão de 450

companheiros demitidos na sexta-feira

passada e a estabilidade no emprego.

Nessa mesma sexta-feira, a Ford

telefonou ao sindieato comunicando as

demissões. Poucas horas depois a

diretoria cassada se reuniria com um

ir!v,>o de operários da Ford, que

ti unicamente se reúne já há algum

tempo, e a deeisão de agir

imediatamente foi tomada naquele

mesmo dia.

Uma nova tática grevista eomeçaria

a ser colocada em prática. A proposta

de Lula e sua diretoria era driblar a lei,

que fatalmente julgaria a greve ilegal,

retornando ao trabalho mas mantendo

uma operação tartaruga antes que isso

acontecesse. A greve seria retomada

sucessivamente até que a empresa

negociasse as readmissões.

Durante toda a semana em que

durou a greve, eram realizadas assem-

Meias de manhã eedo e a tarde quando

são trocados os turnos. No tereeiro dia

é formada uma eomissão de 14

operários, eleitos demoeratieamente

pelos seus setores de trabalho, para

negociar diretamente eom a diretoria

da fábriea. Ao mesmo tempo a Ford

recorre a Justiça do lrabalho para que

decrete a ilegalidade da greve. Esta

marca uma reunião conciliatória no

quinto dia de greve. Diante dos

resultados negativos da reunião o

Tribunal Regional do Trabalho marca

o julgamento da greve para terça-feira,

dia 14. às 13 horas.

Durante a primeira semana da greve

surgiram propostas de retorno ao

trabalho sem que nenhuma conquista

tivesse sido obtida. Alguns avaliavam

também que caso o movimento não se

estendesse a outras fábricas, os

trabalhadores da Ford seriam fatal-

mente derrotados. A comissão dos 14

realiza durante dois dias passeatas

dentro da empresa, dirigindo-se aos

diretores da Ford para que venham

negociar com eles.

Um dia antes de ser julgada a greve.

na segunda-feira.dia 13. tentando

evitar a decretação de sua ilegalidade e

aceitando a proposta da empresa de

negociar apenas quando as máquinas

voltassem a trabalhar, os operários

decidem cm assembléia voltar ao

trabalho.

Nesse dia a empresa oferece 120 dias

de estabilidade para todos, reconheci-

mento da comissão dos 14. e o

desconto dos dias parados em quatro

parcelas. Essa proposta é apresentada

à assembléia da terça de manhã, dia

14. e recusada por todos já que não

apresentava a perspectiva de readmis-

são das pessoas demitidas. Com as

máquinas paradas, a comissão dos 14

percorreu a empresa discutindo eom

todos os trabalhadores as propostas da

empresa, que durante o dia sofreu uma

nova redação, garantindo a todos as

propostas já feitas, mas deixando uma

porta aberta para que a readmissão dos

450 fosse discutida posteriormente. Ãs

13 horas dessa terça-feira, o Tribunal

Regional do Trabalho, por 15 votos a 2

declara a greve ilegal, decretando

retorno imediato ao trabalho e

acabando com a ilusão daqueles que

acreditavam em outro resultado. As

16:30 horas nova assembvléia é realiza-

da eom a presença dos 9.5(X) emprega-

dos da empresa, que decidem aceitar a

proposta por ela formulada, pois como

di/ia Lula: "todos

ali conhecem muito

bem o que significa a ilegalidade do

movimento**.

Para quem considera que mais vale

um pássaro na mão que dois voando

o desfecho da greve foi uma vitória. Se

a perspectiva era de novas demissões

para breve, essa hipótese pode ter sido

afastada não só pela Ford. Todos já

sabem que esse é o primeiro passo para

as demissões em massa.

Fiat, Rio: oserros da heróica

resistênciaO mais longo movimento

grevista acabou isolado

politicamente42 dias de greve, o mais longo

movimentos des últimos tempos — um

dia a mais que São Bernardo em 1980

— foi a heróica resistência contra o

desemprego dos operários da fábrica de

caminhões Fiat-Diesel. no distrito de

Xerém, Duque de Caxias, no Rio de

Janeiro. A reivindicação era a

readmissão de 250 demitidos e

estabilidade no emprego por 1 ano. O

resultado, muito pequeno: estabilida-

de de 4 meses; bolsas de estudo para

parte dos demitidos;parcelamento do

desconto dos dias parados. De resto,

derrotas: o próprio desconto dos dias

parados; 49 novos demitidos por "justa

causa", entre os quais 11 membros do

comando grevista, estáveis por serem

membros da Comissão Sindical.

A causa da derrota da greve nos seus

objetivos econômicos, deveu-se a vários

fatores. Em primeiro lugar a

solidariedade da classe patronal, que

uniu as federações das indústrias do

Rio e São Paulo e o Sindicato dos

Fabricantes de Automóveis. Para os

patrões, qualquer concessão no caso da

Fiat abriria perigoso precedente num

momento de crise. De outro lado. a

repressão policial e a intransigência

governamental, embora a Justiça do

Trabalho tenha vacilado em seu

tratamento da greve. De início decla-

ivh ., legal. Depois, ao julgar o mérito

das reivindicações, negou-as todas,

considerando-as ilegais.

Mas no campo popular, é que a greve

enfrentou maiores dificuldades: não

conseguiu romper o isolamento político

a que foi lançada desde o início. Pata

isto contribuíram nào só erros de

comando, mas principalmente a

postura do Sindicato dos Metalúrgicos

do Rio. A diretoria do Sindicato não

queria a greve, mesmo porque não a

liderava. Não promoveu uma efetiva

solidariedade entre a categoria,

inclusive não tentou ampliá-la para

outras empresas onde também havia

demissões. Imprimiu uma orientação

jurídica equivocada no entender do

comando grevista e. ao fim. assinou o

acordo sem passar por uma assembléia

dos trabalhadores da fábrica, que o

rejeitaram. Assim, em certa medida

endossou a demissão do comando

grevista, que tinha estabilidade. Finda

a greve, provocou diversos incidentes,

expulsando o Comando da sede do

Sindicato e da subsede de Xerém e,

com base nos incidentes, promove

agora a expulsão dos membros do

comando grevista do quadro social do

Sindicato.

Da parte do comando a luta se

desdobra em dois campos: de um lado

a resistência contra a expulsão do

sindicato e. de outro, a continuidade da

luta contra o desemprego. Como saldo,

criaram a ACAM — Associação

Cultural de Apoio Mútuo — como

órgão independente dos trabalhadores,

que. a exemplo de São Bernardo,

pretende ser um Fundo de Greve

permanente; ajuizaram ação trabalhis-

ta no caso dos útlimos 49 demitidos por"justa

causa", objetivando derrubá-la

e. assim tentar o retorno do comando

à fábrica; preparam a próxima

assembléia dos trabalhadores da Fiat

para aprovação da minuta do dissídio

coletivo, cuja data base é a 1.° de

agosto.Como saldo positivo, o comando

grevista destaca a grande unidade e a

combatividade dos trabalhadores em

todo o transcorrer da greve. E. além

disso, o fato de terem aberto o caminho

de resistência contra o desemprego

através da greve. Mas é lato também

que o movimento sindical metalúrgico

no Rio de Janeiro dividiu-se mais. Além

disso, grande parte dos ativistas da

oposição — não só os da Fiat — estão

desempregados, sem maiores condi-

ções. portanto, de um trabalho efetivo

no seio da categoria, no momento em

que o desemprego atinge outras

empresas, em particular, o setor da

construção naval.

zaniní, Rio:os saláriosrestaurados

Pressão dos engenheirosacaba com reduçãode jornada e salário

A Zanini-Foster Weeler do Rio de

Janeiro, empresa de consultoria

especializada nos ramos de engenharia

química e petroquímica, foi daquelas

que aplicaram a redução da jornada de

trabalho e conseqüente redução salarial

de seu quadro de 240 funcionários na

mais completa surdina. Dia 20 de

fevereiro, uma sexta-feira, em circular"A Todos os Funcionários", comuni-

cou que a partir da segunda-feira

seguinte, dia 23, reduziria em 10% a

jornada de trabalho e os salários.

Alegava dificuldades financeiras, a crise

por que passa o país e pedia"compreensão".

O fato ficaria talvez para sempre em

silêncio não fosse a grita dos operários

da Volks contra tentativa de medida

idêntica. Com a luta da Volks nos

jornais, funcionários da Zaniní

tomaram conhecimento de seus direitos

e procuraram o Sindicato dos

Engenheiros. Segundo esclarece Jorge

Bittar. presidente do Sindicato, a

primeira medida foi a denúncia

pública, caracterizando o descumpri-

mento da lei n.° 492V65, que limita os

casos de redução salarial apenas por 3

meses, desde que haja concordância

prévia dos trabalhadores e em face de

grave crise econômica. A segunda

medida foi a convocação de uma mesa

redonda na DRT, já incorporando

também os sindicatos dos Químicos e

dos Desenhistas.

Neste ínterim, a Zaniní restaurou a

jornada e os salários, mas não teve

como negar a convocação de uma

assembléia realizada na própria

empresa, quando os funcionários a

denotaram, por 167 votos a 52. Obtida

a primeira vitória — restauração dos

salários — resta o pagamento das dife-

renças descontadas, o que a empresa vem

negando sob a alegação de que teria de

haver reposição das horas não trabalha-

Acordosquase sempredesfavoráveisEm Minas, jornalistasevitam demissões comempréstimo à empresa

A partir de fins de 1980 e início desteano, quando a crise econômica começaa se manifestar eom mais força,diversas empresas do setor industrial eoutras tentam acordos que implicam aredução da jornada de trabalho e

conseqüente redução salarial. Algunsdestes acordos, inclusive, reduzem

apenas o salário, mantida a mesma

jornada de trabalho. Uma parte deles

já expirou, enquanto outros estão

se encerrando em dias próximos. Em ca-

da situação, uma tática dos trabalha-

dotes, mas que sempre um baixo índice

de mobilização, especialmente nos açor-

dos assinados no interior do Estado de S.

Paulo.Estado de Minas. Em agosto de 80.

a direção do jornal anunciou unia lista

de 18 jornalistas que seriam demitidosa lim de reduzir em 320 mil cruzeiros a

folha de pagamentos da empresa, queestava sofrendo grave crise. O Sindicato

foi apanhado de surpresa, apesar de

saber da crise dos "Diários

Associa-

dos", diz Paulo Lott, seu presidente. Foi

convocada uma reunião onde todos,

meio atônitos, não sabiam bem como

reagir. Mas o "listão"

não estava

fechado e. assim, todos se considera-

vam demitidos, o que facilitou a união,

segundo explica Lott. Obtida uma"trégua"

junto à direção da empresa,

foi pensada uma outra forma quereduzisse a folha de pagamentos em 320

mil cruzeiros, sem demissões. A

fórmula veio do Washington, presidente da Federação dos Jornalistas: 7% do

MOMMIMO -20 a 26 7 81

Page 13: m®®mimw»-«a. ctaalui m

INPC de outubro, de todo o pessoal,

daria aquele montante, que ficaria a

título de empréstimo, a ser devolvido

um ano depois. A direção da empresa

aceitou. A resistência maior deu-se na

categoria: os jornalistas do Estado de

Minas queriam o acordo para garantirseu emprego; os colegas das outras

redações argumentavam eom a ameaça

ao próprio movimento sindical e à

categoria. Duas assembléias levaram

finalmente à aprovação do acordo que.

ainda hoje. prestes a encerrar-se. nào

tem uma avaliação definitiva por parte

de Paulo Lott.

• Belgo Mineira. O desaquecimento da

economia afetou grandemente o setor

siderúrgico. A partir de janeiro a Belgo

teve uma acentuada queda nas

encomendas e tentou reduzir a jornada

de trabalho e os salários. Mas a

resistência dos trabalhadores não se fez

esperar, preparados que estavam para

enfrentar a crise. O combativo

Sindicato de João Monlevade deu início

à mobilização, seguida pelos trabalha-

dores de Contagem e Sabará. cidades

onde a Belgo possui outras unidades de

produção. A resistência inicial fez a

empresa recuar para uma nova

proposta: eliminação da antecipação

salarial (espécie de reajuste trimestral

conquistado pelos trabalhadores de

Belgo há 3 anos) de julho, cerca de

18%, pelo prazo de 3 meses. Em

contrapartida, nenhuma demissão.

Assembléias realizadas pelos 3

sindicatos em maio aceitaram a

proposta, com uma diferença: enquan-

to os sindicatos de Belo Horizonte e

Contagem e o de Sabará aceitaram o

cancelamento definitivo da antecipação

trimestral, o de João Monlevade

aceitou o cancelamento da antecipação

apenas temporariamente, o que acabou

prevalecendo para todas as unidades da

empresa. O acordo vigora até setembro,

quando o espectro do desemprego ou da

redução da jornada voltará a rondar os

operários da Belgo. já que a crise no setor

está longe de ser resolvida.

• Companhia Brasileira de Tratores -

São Carlos - SP. O Sindicato

metalúrgico local, celebrou um

contrato de redução da jornada de

trabalho e conseqüente redução salarial

por três meses, o qual venceu em

junho. A empresa empenhou-se na

renovação do contrato, mas desta vez

os trabalhadores a rejeitaram. A

posição do presidente do Sindicato.

Antônio Cabeça Filho, que havia

apoiado o acordo da primeira vez,

agora conclamou os trabalhadores a

não renová-lo e a "seguir o exemplo da

Fiat", preparando uma greve. Mas não

mobilizou os trabalhadores para isso.

Conseqüência: a 30 de junho 216

operários foram demitidos, o que veio

aumentar o exército dos desemprega-

dos na cidade, onde só a própria CBT

já havia demitid > 850 trabalhadores em

fevereiro, antes da assinatura do

contrato de redução da jornada de

trabalho. Em São Carlos houve ainda

redução de jornada e dos salários na

fábrica de plásticos Carainale. A soma

de diversos artifícios usados pela

empresa fez eom que a redução salarial

atingisse quase 45%!• Ford e Volks Taubaté SP: Com 5

mil demitidos desde janeiro na base

territorial do Sindicato (Taubaté e

Pindamonhangaba). o que representa

quase 25% da categoria, os

metalúrgicos enfrentaram dois grandes

problemas que afetaram a indústria

«automobilística. No caso da Volks a

fábrica de Taubaté aprovou a discussão

da jornada no plebiscito realizado em

abril e que vigora até 30 de julho

próximo. O boato é de que a Volks

demitirá então 1.100 operários,

chegando praticamente a desativar a

fábrica de Taubaté. Oiante disso os

trabalhadores já iniciaram a mobiliza-

ção. Avisaram ao Sindicato — e

contam com seu apoio — que entrarão

em greve se houver demissão e jáconvocaram uma assembléia que estava

previsa para a última sexta-feira, dia

18. a fim de marcarem um caminho de

resistência, previamente.No caso da Ford. a ameaça de

demissão de 500 a b(X) operários

comunicada dia 2 de julho pelaempresa à direção áo Sindicato, levou a

uma imediata mobilização dos

trabalhadores que paralisaram a

fábrica, por 45 minutos já no dia 3. A

empresa recuou e limitou as demissões

a 192 trabalhadors. eom possibilidadede readmissão de alguns deles.

São José: águae luz para os

desempregados(3 sindicato procura

novas formas de lula c

já te/ ale forrós

Só nos últimos 10 dias foram para a

rua 400 operários da General Motors

de Sào José dos Campos, aumentando

drasticamente o número de desempre-

gados na região, já por volta de 4 ou 5

mil metalúrgicos. Não foi dada qual-

quer resposta efetiva a esta situação.

Mesmo assim, como diz José Luis Gon-

çalves, secretário do Sindicato dos Me-

talúrgicos. as expectativas de uma pa-

ralisaçào futura são boas, porque os

trabalhadores estão se conscientizando

de que "não

lhes resta outra saída se-

não a greve."A nova — e jovem

— diretoria do

Sindicato está basicamente preocupada

em recuperar o desgaste da entidade,

há muitos anos afastada dos trabalha-

dores. "Não temos informações de que

haverá novas demissões", diz José Luis,

2o- anos: "mas

o grande problema é a

rotatividade. Nós temos cálculos mos-

trando que nos últimos meses as em-

presas estão constantemente demitindo

e readmitindo.""Estamos tentando trabalhar com os

desempregados, fazendo reuniões para

debater o que é a GM e tentando criar

um fundo de desemprego como o de

São Bernardo do Campo, independente

do sindicato." Mas os resultados ainda

são modestos. Assim mesmo, as reu-

ni5es _ qUe se estendem também à vi-

zinha Caçapava contam com a presen-

ça de até 60 operários. Foi realizado

um Forró e está sendo programada uma

feijoada. E enquanto a mobilização não

possibilita a realização de greve, o sin-

dicato vai elaborando novas perspeeti-

,\as para resolver de todas as formas

¦possíveis a situação dos desemprega-

dos: fazer shows para o fundo desem-

prego e pressionar a Prefeitura, a Ide-

tropaulo e a Sabesp para não cobrar

impostos nem cortar luz e água dos de-

sctnpregados.

Tupi: oscompromissos

do governoA solução oficial para a

Tupi foi provisória;só 10% eslào empregados

1.33o* desempregados há mais de ano,

foi o saldo deixado pelo fechamento das

TVs Tupi de São Paulo (°30). Rio (329)

e Fortaleza (80). Mas diferentemente

dos demais setores de trabalhadores, o

caso da Tupi. que envolve o Condt.ní-

nio dos Associados e a formação de

novas redes de canais de televisão, teve

unia solução, pelo menos parcial l tem-

porária. A luta e a mobilização dos

funeionários — radialistas, artistas e

técnicos — na defesa de seu direito ao

trabalho, levou o governo a dois com-

promissos: primeiro, condicionar a

concessão das novas redes a absorção

dc pelo menos 80% do pessoal da Tupi:

¦• segundo, efetuar o pagamento dos

salários, através de financiamento pela

Caixa Econômica Federal, que é repas-

sado para os Sindicatos de Radialistas

respectivos. O pagamento é efetuado na

base da faixa salarial de cada funcio-

nário. de modo qur os que menos per-

eebiam. recebem I()()".» do salário e os

situados em níveis mais elevados, até o

mínimo de 40"... garantidos os reajustes

semestrais c *• índice de produtividade.O acordo no entanto lindou em leve-

reiro. Koprazoc-stabclcctdo no Edital de

I ieitaç Sodas novas redes (que foram ga-nlias pelos grupos Bloch e Sílvio Santos),

se encerrou, sem que os grupos quises-sem assinar os contratos, na medida em I

quenãoccssaraniosdireitos trabalhistas

dosluncionáriosdaTupi. lstoémantém-

se o v incido empregatíeio eom o Condo-

niinio Associado, e as novas redes re-

eusam-se a sucedê-lo nos encargos. Só

aceitam absorver 80"o do pessoal desde

que eles venham eomo novos funciona-

rios. eom a situação trabalhista resol-

viila.

0 impasse ainda perdura. Depois de

muita pressão, segundo l.uciano Fuser.

presidente áo Sindicato dos Radialistas

áo Rio de Janeiro. O governo resolveu

pagar os três meses seguintes — março,

abril e maio — mas a partir dai náo há

solução. O que os Sindicatos estão en-

caminhando agora, é o ajuixamento dc

ações trabalhistas para rescisão do con-

trato de trabalho eom a Tupi e conse-

quente reccbimentodosaldodos salários

edemais direitos trabalhistas e. a partirdai. abrir caminho para novo contrato

(le trabalho eom as novas redes. In-

quanto isso. a classe permanece mobi-

li/ada. Segundo Lueianó. pelo menos

duas assembléias são realizadas a cada

semana pelos funcionários da I upi-Rio.

eom o comparecimento médio de 180

trabalhadores, o que representa mais

de 50" i. áo total. Os funcionários conti*

nuam comparecendo diariamente às

instalações da empresa e vêem. a cada

dia. novos equipamentos serem retira-

dos por credores da ex-Tupi. De ini-

cio. mesmo depois de cessada a trans-

missão da emissora, ainda funcionava

um setor de gravações, o que quasesempre possibilitava tirar

"'algum vale",

coisa aliás comum na vida dos funciona-

rios da ex-1 upi. acostumados a esta"forma

de pagamento" durante anos.

Agora a situação se agrava mais. en-

quanto nfto se instalam as novas redes.

Dos 329 funeionários desempregados,

apenas uns 10% conseguiram novo em-

prego. Mesmo porque, esclarece Lúcia-

uo. o mercado de trabalho no setor édos

mais restritos. Resta a Globo, o grandemonopólio dos meios de comunicação,

que possui cerca de 4 mil funeionários

no Rio. Mas também tem demitido

muito, no velho esquema da rotativida-

de. O Sindicato tem homologado cerca

de 200 demissões por mês.

Outro aspecto que reduz drástica-

mente Q mercado de trabalho no setor,

segundo Lueiano Fuser. é a filosofia de

redes. Se a Globo no Rio e São Paulo

\ emprega um grande número de fun-

cionários. RO resto do país a maioria

das estações são meras repetidoras, sem

haver atividade de produção de progra-mas locais. Artistas, jornalistas, radia-

listas e técnicos afluem ao mercado de

trabalho áo Ccntro-Sul, já por sua vez

saturado. Agora, com a instalação das

novas redes, espera-se urna certa am-

pliação do mercado de trabalho, ao

menos no Rio e São Paulo, onde as

mesmas estarão sediadas.

Ribeirão Preto:Proálcool

modera a criseDesemprego nas pequenas

e excesso de irabalhoem grandes empresas

O reflexo da crise econômica na re-

gião de Ribeirão Preto (cujo Sindicato

dos Metalúrgicos tem base territorial

que í.or?n-*e os municípios cireunvizi-

nhos), é contraditório: de um lado. um

grande número de pequenas empresas

(menos de 100 operários) estão à beira

da falência (como a Espagnol e a Oui-

rino-Fofonof), outras fecharam ou se

transferiram da cidade (como a

BEC-W e a Belmonte) e outras ainda

reduziram a jornada (como a Tubo-

mix): doutro lado. as empresas médias

e grandes, em sua maioria situadas em

Sertãozinho, fabricantes de equipa-

mentos para a agroindústria do açúcar

e do álcool, estão trabalhando a pleno

emprego, inclusive se utilizando farta-

mente de horas extras.

O caso mais expressivo de tentativa

de redução dos salários e da jornada

deu-se com a metalúrgica JUMIL, em

Batatais, onde os operários rejeitaram

a proposta de redução por »604 votos

contrários, havendo 425 favoráveis. Se-

guiram a orientação do Sindicato, cuja

diretoria de oposição, rccém-eleita, de-

pois de 20 anos d-" domínio pelego, é

presidida por Amorno Guerreio. O as-

pecto particularmente importante da

vitória da oposição HO Sindicato dos

Metalúrgicos de Ribeirão Preto é o que

o cx-viee-presidente do Sindicato é o

atual presidente da Federação, Argeu

Egídio dos Santos, que. assim, sem

mandato sindical, terá de deixar a pre-

sidência da Federação no próximo ano.

Em Batatais lugar onde a crise se

manifesta com eerta intensidade, há

uma particularidade que torna a vida

dos trabalhadores mais difícil. Em ge

ral os trabalhadores possuem duas car-

teiras de trabalho, uma para a indus^

tria e outra para a lavoura. Cada uma é

utilizada 6 meses ao ano, já que a rota-

tiv idade, na indústria é muito grande e

no período de safra da cana há grande

procura de mão-de-obra.

volta Redonda: odesemprego que

loi contidoMobili/açâo popular muda

plano de demissões daCia. Siderúrgica Nacional

Volta Redonda foi um dos poucos

lugares nos últimos tempos em que as

ameaças de demissão em massa de tra

balhadores nào se concretizaram, pelo

menos nos níveis em que se esperava na

cidade em fins de maio, quando a

Companhia Siderúrgica Nacional

(CSN) parecia decidida a interromper

suas obras de extensão e colocar na rua

500 operários de imediato.

A mudança de planos ocorreu após

MOMMKNTO-- 20 a 26 7 Kl

/-__H__r__-í_____-PJ

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um ensaiç geral de mobilização contra

M demissões, indo desde uma série dereuniões programadas pelos vários sin-licatos envolvidos (principalmente o

doa metalúrgicos, engenheiros e traba-1 íadores da construção civil), uma ma-

ifestação de protesto promovida pelasI omunidades Eclesiais de Base (CEBs)

< a criação de uma comissão contra odesemprego.

Para o momento isso bastou, garante0 presidente do Sindicato dos Metalúr-

kícos, Waldemar Lustosa, satisfeito por• >oder dizer que as demissões não foram

além do normal". Ele informa que háuuas semanas a CSN recebeu uma ver-ba especial de CrS 23 bilhões para con-tinuar tocando as obras de expansão

e evitar novas demissões.

Mas as reuniões intersindicais, após

um primeiro e único encontro, "perde-

ram sua razão de ser", explica Lustosa,

um velho sindicalista há mais de 15

anos à frente do sindicato e que enfren-

ta uma forte oposição. Isso não querdizer que a CSN não venha despedindo

gente. Segundo os números do sindica-

to, de dezembro a junho passado, foram

para a rua 159 operários da CSN, mais

291 demitidos em acordo com o sindi-

cato, enquanto outras metalúrgicas de-

mitiram 761 trabalhadores, principal-mente as empresas Wilson Martins,

Barbará e Saudade.

Lustosa anuncia que na semana pas-sada seriam retomadas as reuniões en-

tre os sindicatos que têm filiados em si-

derúrgicas, com o objetivo de estudar

formas de luta contra o desemprego. A

oposição sindical, convidada para estes

encontros, acredita também que é ur-

gente reiniciar as reuniões intersindi-

cais para acompanhar a situação fia

CSN. Seu trabalho neste sentido foi in-

terrompido pela campanha salarial na

CSN, que significou ainda o fim do seu

trabalho conjunto com o sindicato.

Res1 j'n as Comunidades Eclesiais de

Base, com forte atuação na região, cuja

manifestaç;"'•¦< em maio foi um dos fa-

tores-chave pi :i a mudança de planosda CSN. Da J. ulira é uma das prin-cipais lidere* das CEBs, e membro do

Partido dos Trabalhadores, assim co-

mo os seus filhos e o marido José Emi-

dio, por sua vez dirigente mais desta-

cado da oposição sindical e presidentedo PT local. Em sua casa simples num

dos bairros de Volta Redonda ela expli-

ca como foi tomada a iniciativa de luta

contra o desemprego:— Nós vimos que os peões iam ser

mandados embora e ninguém estava

fazendo nada. Porque esses peões não

são operários da própria CSN, mas das

empreiteiras que fazem a expansão.

Eles não são daqui e se fossem despedi-

dos iam embora e ia ficar por isso mes-

mo...Então nós decidimos fazer a ma-

nif estação.A manifestação contou com 500 par-

ticipantes, número expressivo parauma cidade como Volta Redonda.

Volkswagen:como se chegou

ao NÃO!

Vacilação diantede ameaças, mas os

trabalhadores recusam

Ao recusarem a redução da jornadade trabalho e a conseqüente reduçãodos salários como forma de evitar novasdemissões, proposta feita pela diretoriada empresa, os operários da Volkswa-

gen de Sâo Bernardo do Campo deram

uma clara demonstração de que não

estavam dispostos a arcar com o ônus

imposto pela crise econômica que o

país enfrenta. O plebiscito em que 16

mil trabalhadores disseram nio às

pressões da empresa (7 mil votaram

sim) foi realizado nos dias 15 e 16 de

abril, poucos dias após a assinatura de

um novo acordo salarial que nenhuma

conquista significativa trouxe para os

trabalhadores do ABC.

Esse episódio teve diversos lances e

controvertidos e muita polêmica surgiu

sobre quem é o responsável pela crise e

quem deve pagar por ela. Mas o mais

surpreendente foi o fato de que, apesar

de estar ameaçando de demissão os

trabalhadores caso não aceitassem o

acordo, a Volks parece ter-se intimida-

do diante da recusa dos funcionários, já

que nenhuma demissão em grande es-

cala foi efetuada pela empresa. Mesmo

reduzindo em mais da metade sua pro-dução e vendendo três vezes menos do

que vendia há um ano atrás.

A proposta da redução da jornada e

do salário foi usada depois que a Volks

tinha criado uma "Comissão

de Repre-

sentantes de Fábrica" tirada do bolso

do colete da empresa e negada pela li-

derança sindical de São Bernardo, que

serviria de testa de ferro para os golpes

que a fábrica iria aplicar em seus fun-

cionário. No início aplicar em seus fun-

cionários. No início de dezembro do

aro passado, a Volks reduz seu quadrode funcionários em São 3ernardo de 40

para 30 mil (as versões oficiais deram

no máximo 4 mil demissões) com a ob-

de Representantes". À diretoria cassa-

da do sindicato também engoliu essas

demissões, mesmo porque estava total-

mente desarticulada, e a estrutura do

Fundo de Greve onde ela estava aloja-

da, não permitia a sustentação de ummovimento que suspendesse essas de-

missões.

QAuando a proposta da Volkswagen

foi colocada para seus funcionários,

eles já tinham por trás de si uma expe-

riência de total descrédito em tudo

aquilo que a empresa propunha. Além

disso, a redução dos salários também

não era admitida por uma boa parcelados funcionários dos escritórios. Eles

foram chamados dias antes do plebis-cito ser realizada para uma conversa

com a "Comissão

de Representantes",

que havia feito a proposta sob orienta-

ção da direção da empresa, no Volks-

wagen Clube. Ali, a "Comissão"

apre-

sentou a necessidade de todos votarem

a favor do acordo, mostrando as difi-

culdades que a empresa vivia. Diante

da argumentação dos "Representam

tes", os mensalistas apresentaram di-

versos balanços da empresa mostrando

os investimentos que a Volkswagen vem

fazendo no setor de investimentos de

capital, onde oslucros são maiores quea própria venda de automóveis e na

compra de imensos alqueires de terra

no norte do Brasil. Eles pediram tam-

bém que, ao invés de reduzir seus sala-

rios, a empresa deveria primeiro cortar

as regalias que desfrutam os gerentes,

que recebem semestralmente um carro

novo, uma farta quota semanal de ga-solina grátis, e aqueles que chedgam da

Alemanha são hospedados em verda-

deiras mansões com todas as despesas

pagas pela firma.

A ex-diretoria do sindicato e junta

governativa, num primeiro momento,

vacilaram diante das ameaças da em-

presa em demitir mais 10 mil funciona-

rios caso o acordo não fosse efetuado,

assinado com ela um protocolo de in-

tenções que passava aos trabalhadores

da Volks as responsabilidades de qual-

quer decisão. Ou seja, lavaram as

mãos. Coube aos remanescentes da Co-

missão de Salários, formada em 1980,

indicar uma perspectiva de luta contra

esse arrocho salarial disfarçado. Foram

eles que fizeram a ex-diretoria perceber

que aceitar aquele acordo seria o mes-

mo que "abaixar

as calças para os pa-tròes". segundo suas próprias palavras.

Multas lormas deresistência ã crise

Desde organizações de lutacontra o desemprego

à realização de greves

Nas últimas páginas situamos um

grande número de casos em que o go-verno e os patrões procuraram descar-

regar o ônus da crise econômica sobre

as costas dos trabalhadores, na medida

mesma em que se deu um agravamento

da crise, abrindo um nítido quadro re-

cessivo, a partir dos primeiros meses de

1981. As respostas dos trabalhadores

variaram. Em alguns casos a resistência

foi nenhuma; noutros, ela chegou a ser

heróica, como no caso da Fiat do Rio de

Janeiro.

Dois tipos maiores de problemas fo-

ram enfrentados pelos trabalhadores:

1) a redução da jornada de trabalho e

conseqüente redução salarial e 2) o de-semprego. Em cada caso também va-

riaram as formas de resistência.

Afora o caso dos jornalistas do Estado

de Minas, cuja redução salarial, sem

correspondente redução da jornada de

trabalho se deu em meados do ano de

80, a grande maioria dos casos que re-

gistramos se deram nos primeiros me-

ses de 81, atingindo empresas do ramo

industrial metalúrgico, principalmente.Na maioria deles os patrões consegui-ram impor a redução salarial sem que ostrabalhadores esboçassem maior resis-tência. Muitas vezes, inclusive, desço-nheciam a lei n° 4923/65 que especificaos casos em que a redução da jornada detrabalho se torna legal, mas sempre a

partir de uma prévia concordância dostrabalhadores, e pelo prazo não superiora 3 meses. Mas quando a tentativa de re-dução se deu contra os trabalhadores da

Volkswagen, no último mês de abril(empresa que já haviademitido quase 10mil operários no início do ano) cmeçou

uma grande resistência. E a recusa dosoperários da Volks, no plebiscito de 15e 16 de abril, abriu caminho para ostrabalhadores de outras empresas, nãosó no sentido da resistência e luta, co-mo até no esclarecimento de seus direi-

tos segundo a lei. A partir de então en-contramos vários casos de recusa dos

trabalhadores em aceitarem diminui-

ção da jornada e dos salários, o quemostra o valor da vanguarda operária

de São Bernardo.

No caso do desemprego, a questão seencaminha num mesmo sentido. O casoda Fiat, no Rio de Janeiro, onde os em-

presários entram em greve a partir deIo de maio reivindicando a readmissãode 250 demitidos e a estabilidade noemprego por um ano, também abre umcaminho de resistência. Novas tentati-vas de demissões em massa encontramresistência de greve, como nos casosmais recentes das unidades da Ford emSão Bernardo do Campo e em Taubaté.Noutros casos, como em Volta Redon-da, a mobilização popular, incluindoameaça de greve, faz sustar a ameaçade um número maior de demissões e aliberação de verbas, por parte do gover-no (23 milhões), para a continuidade daexpansão da Companhia SiderúrgicaNacional (CSN).

Por outro lado, discute-se amplamen-

te nos meios oposicionistas a forma de

os trabalhadores resistirem, dando

uma alternativa mais global no sentido

de impedir que recebam o impacto da

crise. De um lado um bloco de pro-postas reclama do governo a retomada

das obras públicas em larga escala, a

ampliação e o barateamento do crédito,

a adoção de leis de amparo aos desem-

pregados e do seguro desemprego;

exemplo disso é a própria constituição

de uma Comissão Parlamentar de In-

quérito, no Congresso Nacional, presi-dida pelo Senador Franco Montoro

(PMDB-SP), a "CPI

do Desemprego".

De outro lado, se apresenta o caminho

de mobilização de vários tipos, a cria-

ção de organizações de luta contra o

desemprego e a realização de greves.Para avaliar a tática a empregar du-

rante a crise, os trabalhadores precisamse esforçar, ao mesmo tempo, paracompreender as causas da crise, sua ex-

tensão e possibilidades.Parece afastada, neste sentido, espe-

cialmente para as lideranças, a idéia de

que a crise não existe, que é uma in-

venção do governo e empresários. Isto é

um fato positivo: os trabalhadores nada

ganhariam se prevalecesse a idéia de

negar uma gritante realidade.

O problema atual é mais o de saber

quais as saídas que a crise apresenta e

como os trabalhadores podem altera-

Ias a seu favor. Nesse sentido, muitos

dos exemplos de resistência ativa apre-

sentados nesta reportagem já demons-

traram claramente que os planos eco-

nômicos do regime poden^ ser alterados

a partir da mobilização popular; e isso

vai ficar ainda mais viável no períodoeleitoral, em cpe o governo e os políti-cos que o apoiam terão necessidade detazer concessões aos trabalhadores com

vistas a ganhar seus votos.

A maior dificuldade, no momento,

consiste porém em saber até que pontoesse regime pode fazer concessões no

seu modelo econômico. Os que defen-

dem que a solução é basicamente ele

adotar um grande plano de obras euma política de emprego não estão ten-do grande sucesso. A repercussão daCPI do desemprego é quase nula, a des-

peito dos bons dados e denúncias quecolidiu, (o senador Montoro, por exem-

pio, distribuiu nota mostrando que aVolks lucra muito mais — 1.000% amais — com atividades financeiras es-

peculativas do que com a produção).A causa disso parece óbvia: o regime,

a menos que seja forçado por grandesmovimentos de massa, não pode alterar

a sua política recessiva, de contenção

da economia interna para aumentar asexportações e pagar a dívida. A cadadia que passa, mais banqueiros inter-nacionais vêm elogiá-lo pela recessão

que pôs em prática após ter tentadomanter o crescimento econômico em 80e ter sfáo penalizado com grandesameaças pelos banqueiros. Assim, elenão fará grandes obras nem empregarámuita gente. Não porque não quer, mas

porque não pode.

A reportagem è*** trabalha toi feito panJo** Am****** em Mina* Gerafc; Joeé Car-loa Ray, Flavio Diegaei e Mário Serapfcoe, eaSto MN e Roberto Mirte, ao Rio de Janelro. O texto da iatredacto é to Reinado Rodri-gaea Pereira e o fiaal de Roberto Martins.

14MOVIMENTO - 20 u 26/7 81

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vvm

BRASIL/URSS

O crescimentoda URSS

na A. LatinaAo contrário dos déficits insistente-

mente alardeados pela imprensa ociden-

tal. as estatísticas do ministério de Co-

mércio Exterior da URSS revelam que o

país tem alcançado pequenos superávit:-

em suas transações comerciais com o res-

to do mundo nos últimos anos. No ano

passado, para um nível total de comércio

de 94,1 bilhões de rublos (valor que cor-

responde, na cotação atual, a 70,5 bi-

lhões de dólares), o saldo foi de 5.2 bi-

lhões de rublos. A maior parte desse su-

perávit foi obtido nas transações com os

países socialistas, com os quais a URSS

teve um superávit de 3.2 bilhões (expor-

tações de 2b.9 bilhões e importações dc

23.7 bilhões, sempre em rublos).

Com os países "capitalistas desenvol-

vidos", conforme a classificação do mi-

nistério soviético, as transações pratica-

mente se equilibraram (exportações de

15.9 bilhões e importações de 15.7 bi-

lhões). enquanto com os países "capita-

listas em desenvolvimento" a URSS ai-

cançou um razoável superávit em com-

paração com o volume total do intereâm-

bio — para compras no valor de 5.1 bi-

lhões de rublos, venderam 6.9 bilhões

para esse bloco.

Em decorrência do boicote promovido

pelo ex-presidente Jimmy Carter no final

de 1979. o nível total do comércio com os

Estados Unidos naturalmente caiu — de

2.3 bilhões de rublos em 1979 para apenas

1,5 bilhão no ano passado, o que re-

duziu o déficit da URSS com os america-

nos para 1,2 bilhâ (contra 2,2 bilhões

no ano anterior). O boicote em nada

influiu no comércio com Cuba, que

aumentou apenas 100 milhões de rublos

em 1980, com a diferença que em 1979 o

intercâmbio entre os dois países foi pra-

ticamente equilibrado, enquanto no ano

passado foi desfavorável para os cubanos

em 310 milhões de dólares (exportações

soviéticas de 2.3 bilhões e importações de

2.0 bilhões).

As estatísticas mostram, claramente,

que a Argentina foi o principal beneti-

ciada pelo boicote. De 1979 para 1980 o

intercâmbio Argentina-URSS aumentou

quase 500"/,,. saltando de 214 milhões de

rublos em 1979 para 1.193 milhões no

ano passado. De 264 milhões registrados

em 1979. o superávit argentino aumen-

tou na mesma escalada, atingindo 1.132

milhões de rublos em 1980. Nesse mesmo

período o comércio com o Brasil aumen-

tou pouco mais de 50%. passando para

275 milhões de rublos em 1980 — nível

que. de qualquer forma, manteve o Bra-

sil como o terceiro parceiro dos soviéticos

na América Latina, embora muito atrás de

Cuba e da Argentina.

Revelam ainda as estatísticas que o

outrora intenso comercial URSS-Peru

não conseguiu sobreviver ao desapareci-

mento do regime do falecido general Al-

varado. Enquanto as transações da união

soviética com os principais países do

continente cresceram a taxas espantosas

nos dois últimos anos. as suas operações

com o Peru declinaram acentuadamente

ano a ano, caindo em 1980 para apenas

13.3 bilhões de rublos — nível abaixo do

comércio dos soviéticos com o México,

Uruguai. Panamá. Colômbia e a Bolívia.

Surpreendentemente, a Bolívia do gene-

ral Garcia Meza aparece como o quarto

parceiro da URSS na América Latina,

embora as transações entre os dois países

ainda se situem na modesta faixa de*30

milhões de rublos

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__T V'"^^^^*^^

Planalto recua sob pressão efogo de "general café"

Quase todo poder de fogo que o "general

café" acumulou durante os longos anos em

que era o carro-chefe da economia brasileira

foi aberto na semana retrasada contra o

mais alto comando da política monetária

brasileira, forçando Delfim Netto e Ernane

Galvêas a um importante recuo político.^

Depois de mais de 35 dias de negociações

para a fixação do preço de garantia do café.

o impasse parecia intransponível. Os

produtores queriam, a partir de 1.° de

junho, 13 mil cruzeiros. Como o governo

compra todo o excedente da safra — que

esse ano será de aproximadamente oito

milhões de sacas- o preço proposto pelos

produtores levaria a um rombo sem

precedentes no orçamento monetário do

governo, que seria forçado, entre outros

recursos, a emitir mais dinheiro. Quando os

ministros da área monetária fecharam

questão em torno de um preço de apenas

CrS 9.455,00, o "general café" convocou sua

artilharia pesada: governadores de todos os

Estados produtores de café, o ex-governa-

dor de São Paulo Abreu Sodré — chamado

às pressas de uma viagem à Europa —

representando pelo menos 200 mil

fazendeiros produtores, aos quais estão

ligados perto de quatro milhões de

empregados e colonos.

Os eafeicultores contavam com o

ministro da Indústria e do Comércio, Ca-

milo Penna. Mas este não teve a firmeza

esperada frente ao ministro Delfim Netto e

Ernane Galvèas, e aceitou o preço de Cr$

9.455,00 e ainda por cima com entrada em

vigor somente em outubro. Com o

aparecimento em cena do ex-governador

Abreu Sodré e do governador Ney Braga, a

tática mudou: o vice-presidente Aureliano

Chaves e o chefe da Casa Civil, o general

Golbery, foram pressionados diretamente

com uma arma definitiva: as eleições de

1982. O Conselho Nacional do Café,

presidido por Sodré, ameaçou veladamente

se mobilizar para "colocar

gente nossa no

Congresso". Isso ia amargar definitivamen-

te o café para oPDS. que tem em áreas

rurais o seu mais forte curral eleitoral.

Assim, o ministro Camilo Penna, que nas

útimas semanas já havia sofrido duas

importantes derrotas para Delfim — no caso

da aprovação de um projeto da Bayer e na

disputa pelo aumento dos recursos para o

Proálcool — se viu com boa re' * _arda

teve sua proposta intermediária a; ovada:

preço do café será de Cr$ 10.000 ^0 a saca

com vigência a partir de outubro. Essa

solução permitirá também arrenizar o

estouro no orçamento monetánr pois o

atual preço, de Cr$ 7.300.00 se-a mantido

até outubro, forçando o produtor a manter o

estoque, sem que até lá o IBC tenha de

comprar muito café. Para amenizar a

manutenção do estoque, o Banco do Brasil

financiará uma parte da estocagem e

comercialização. Desse modo, o -ombo no

orçamento será de "apenas" uns 25 ou 30

bilhões de cruzeiros acima do que já estava

previsto para a compra da safra excedente.

O que è um preço nada desprezível para

alguns milhões de votos a mais no PDS em

1982.

Já os previdenciários do INAMPS, que

estão sendo acusados de provocar rombo

de 80 milhões no orçamento — com suas

aposentadorias, doenças, acidentes do

trabalho — parece que não contam com tal

poder de fogo e de pressão e vão am? _.ar

cortes de benefícios e convênios ..

Octávio í enna

SENSAÇÃO DE ROUBO

Os mais de 30 milhões de participantes

do PIS/Pasep vão se sentir roubados: o

Banco do Brasil informou que vai

remunerar o saldo das contas depositadas

em 86,7% relativos a correção monetária e

juros, para o período entre julho de 1980 e

junho de 1981. No mesmo período a

inflação foi de 118,3%.

CARAJÁS SEM CONSULTA

Os cientistas brasileiros, que se ressen-

tem do governo ter realizado um acordo

atômico com a Alemanha sem consultas

amplas, estão agora contrariados com

a política mineral, feita também sem

consultas, e especialmente com o projeto

Carajás. Uma discussão sobre Carajás

reuniu duas mil pessoas na reunião da

SBPC em Salvador, e no final uma moção

aprovada em Assembléia Geral repudiou o

projeto, criando ainda uma comissão de

cientistas para estudar o assunto, e as

conseqüências da sua implantação.

exterior. Primeiro, as taxas de juros

internacionais (o prime americano e o

libor europeu) mostram tendência altista.

O Citybank aumentou ..ua taxa meio ponto

(passando a 29,2) na semana atrasada,

numa elevação que pode ser seguida por

outros bancos. Com isso fica menor o

diferencial entre juros externos e internos.

Outro imprevisto: com os altos custos do

dinheiro no mercado interno, a procura

de empréstimos e financiamentos caiu e,

consequentemente, os bancos estão

oferecendo juros mais baixos. Segundo o

presidente da Federação Nacional de

Associações de Bancos, Pedro Conde, as

taxas caíram perto de 20 pontos

percentuais nos últimos troa meses.

Dois imprevistos que podem atrapalhar

a estratégia governamental de manter alta

a taxa de juros no país, de modo a

incentivar a busca de empréstimos no

A Nicarágua, que considera o Brasil"uma nação profundamente amiga",

deverá solicitar brevemente ao ltamaraty

um aumento de crédito de 25 para 55

milhões de dólares. A investida brasileira

na área parece recompensadòra: o

embaixador Ernesto Gutierrez disse que c

Brasil poderá ser convidado a participar da

prospecção petrolífera no pais já nas

próximas semanas. O Brasil participará

também da implantação de destilarias de

álcool na Nicarágua. Há também

propostas para que o Brasil participe na

procura de ouro, pois apenas cinco das 26

minas do país estão em funcionamento.

LANÇADOR FRANCÊSO anúncio de que em agosto será

decidido o futuro do programa do satélite

doméstico brasileiro causou preocupação

em São José dos Campos, onde desde

1964 vem se pesquisando um veiculo

lançador de satélites brasileiro. E que o

ministro das comunicações, Haroldo de

Mattos deixou em aberto a possibilidade

de comprar .um lançador francês, o

foguete Ariane. O programa nacional

desenvolvido em São José dos Campos só

permitirá o teste de foguetes com

capacidade de colocação de cargas em

órbita (ou de bombas em outros locais)

em 1988. Já a compra do lançador Ariane

permitirá ao Brasil imediata capacidade

de lançar o que quer que seja em muito

menos tempo .

GENEROSIDADE DEMAIS

Os empresários cearenses estào revof-

tados com uma decisão do Banco do

Nordeste, toda a verba para o setor avicola

do Estado foi liberada para apenas uma

empresa, justamente a maior do Ceará e a

que teve um lucro liquido de 132 milhões

de cruzeiros no ano cassado. As

condições de financiamento também sào

generosíssimas: dois anos para pagamen-

to, mais um ano de carência, a juros —

imaginem — de 12% ao ano.

MOV IMF NTO — 20 a 26 7/81^--C

^V^^lfe"-^^^'

mmmm .-.»¦¦¦ «I» il *».-»

- , 1

Page 16: m®®mimw»-«a. ctaalui m

Mo< mento— Quais as perspectivas so-

ciais i-oliticas dos I IA e do mundo

com novcmo Rcagan, que executa

drásr v cortes financeiros nos progra-mas .tis c prevê um orçamento de 200

bilfn . lc dólares para ns militares?

Chomsky — A tática da administração

Reagui tlõvc soar familiar para os leito-

res hi ileiros. Vocês iá viveram várias

dess. nedidas de incentivos aos nego-

cios custo do empobrecimento do

pov. Reagan está "brasilianizando" a

«om n ia americana. Seu programa é

senu ! nte ao instalado pelos generaisnos til nos anos. desde t<4. O programadom co de Reagan é um ataque aos

padi ile vida da vasta maioria da

nopi o para transferir recursos aos

ricos i também uni aumento subsian-

ciai • >etor estatal da economia.

Mov emento — Quando você fala em

'bra mizaçào" da economia america-

na. u ' possível que intencionalmente

AS pi, . ladores e pesquisadores tenham

usado - llrasil como uma cobaia, paraver se dava certo, examinar os problemase depois aplicar aqui com os devidos

ajustes''

Chomsky — Surpreendentemente,

acho aue sini.Paul Samuelson.econoniis-

ta muito inteligente e longe dc ser um ra-

dical. fa unia palestra na Academia de

Artes e Ciências de Boston algumas se-

manas atrás, discutindo as perspectivasda economia americana. No fim deu sua

própria previsão. Ele disse que esperava

estar errado, mas acha que o futuro não

será moldado conforme os países escan-

dina\os. e sim conforme a Argentina co

Brasil 0 desenvolvimento da economia

ocidental será o que ele chamou de "fas-

cismo capitalista". Acho que nâo é uma

previsão desarra/oada. Nao creio que os

EUA ¦tascistas-capitalistas" carreguem

a brutalidade e o terrorismo estatal ocor-

rido na América Latina, porque os EUA

s3o mais ricos e têm uma burguesia mais

bem estabelecida — mas tudo está sendo

feito hoje nos EUA para destruir o nível

de vida da classe média, dos pobres e dos

trabalhadores. Os sindicatos estão sendo

destruídos aqui. 0 que nào vem da inicia-

tiva estatal como no Brasil, mas vem da

iniciativa privada, das mesmas forças

que estão operando lá e cá. De fato, o

sistema já declarara guerra de classe

contra os pobres e trabalhadores. O or-

çamento de Reagan nao passa de uma

declaração estatal de guerra. A guerra

aos pobres, declarada há anos no Brasil,

foi agora declarada também nos Estados

Unidos.

Movimento — No modelo econômico

brasileiro há grandes companhias mui-

tinacionais. grandes empresários, na

maioria estrangeiros ou financiados por

estrangeiros hoje (hoje até os latifundiá-

rios e us oligarcas são dependentes dos

estrangeiros): há os generais que escu-

tam as "sugestões" vindas do hemisfério

Norte, e sobretudo dos EUA. Qual será

a organização das forças que dominam o

planejamento do governo Reagan. ho-

mem que obviamente ê "ator"

escolhido

como testa-de-ferro para implementar os

planos?

Chomsky — Haverá grandes diferen-

ças. Nos EUA nào creio que os militares

tenham uni papel maior. Aqui. os milita-

res estão a serviço do Estado, o que é

fundamentalmente diferente do Brasil,

onde o Estado está a serviço dos milita-

res. Aqui são as classes empresariais que

têm o poder, e as mesmas multinacionais

que dominam parte substancial da eco-

noniia brasileira, é claro, têm suas bases

exatamente aqui. Obviamente, os

EUA não são uni país dependente como

éo Brasil. Portanto, ao fazer a analogia,

temos que distinguir as diferenças. Uma

delas é que não haverá golpe militar, e

nao haverá terror militar-estatal-policial.

a nào ser que grandes modificações se-

jam perpetradas nos EUA.

"lm_u____S _______l____a___K_ ""

¦E m\

NOAM CHOMSKY:A FÁBRICA

DE CRISES DO

GOVERNO REAGANEscritor, lingüista e professor

do Instituto dc Tecnologia de

Massachussetts, Noam Chomsky

é muito respeitado nos EUA por

sua crítica ativista a Washington

e às grandes corporações multi-

nacionais. Durante a guerra do

Vietnã, ele foi às ruas para pro-

testar contra "a subversão e os

assassinatos do imperialismo

americano". Seu livro "Banhos

de Sangue" (1976) denuncia os

massacres promovidos pelosEUA cm diversos países onde in-

tervieram militarmente "em

nome da liberdade e da demo-

cracia".Em parceria com Edward Her-

man professor de Economia da

Universidade da Pensilvânia,

Chomsky escreveu seu mais re-

cente livro, "The Washington

Connection and Third World

Fascism" (As Ligações dc Wa-

shington com o Fascismo no Ter-

cciro Mundo), onde denuncia

que, entre 1960 e 1969, onze go-vernos democraticamente eleitos

foram substituídos por ditaduras

militares sob o patrocínio ameri-

cano.Chomsky também criticou a

política dos Estados Unidos na

República Dominicana, as amea-

ças a Cuba, a intromissão na Ni-

carágua, e condena atualmente a

ajuda militar americana a El Sal-

vador.Em entrevista exclusiva a Mo-

vimento, Chomsky fala sobre as

estratégias doméstica e interna-

cional do imperialismo america-

no no governo Reagan. Na poli-tica interna, ele acha que, com

seu orçamento, Reagan (umRobin Hood ao contrário: tira

dos pobres para dar à grande em-

presa) está "brasilianizando" a

economia americana. Por outro

lado, considera o momento poli-tico no país bastante complexo, e

não ousa prever avanços nem

para o lado da democracia nem

do fascismo. Para ele, "a única

esperança é a organização popu-lar".

No campo internacional,

Chomsky ilustra os esquemas de

agressão e intervenção dos EUA,

mostrando os interesses dos

monopólios no fomento de guer-ras e crises. Neste aspecto, ele faz

também uma surpreendente re-

velação: a próxima ação do De-

partamento de Estado americano

poderá ser a publicação de outro"livro branco", acusando a Igre-

ja da América Latina de "forne-

cer armas a terroristas".

16MOVIMENTO — 20 a 26/7/81

16 W \*Ja. t**Jm - - K> * *>***' * ' »>

VI

Page 17: m®®mimw»-«a. ctaalui m

* .

¦"**•

Movimento — Os militares da América

Latina vêm treinar nos EUA desde 60,

como foi dito em seu livro. Os militares

nossos, portanto, são altamente influen*

ciados pelos daqui. O que representam

os militares nos EUA?

Chomsky — Consideram-se os repre-

sentantes do poder econômico norte-

americano. Se você lê os relatórios con-

juntos dos chefes militares, por exemplo,

são ainda mais óbvios do que os produzi-dos pelos dirigentes de empresas. Mas éimportante dizer que nos EUA os milita-

res não são uma força independente dacomunidade de negócios. São controla-

dos. O orçamento do Pentágono não

cresceu porque os militares estão mais

fortes. Cresceu porque é um subsídio à

grande indústria.

Não apenas a população dos EUA não

aceita o golpe militar, como tampouco o

poder empresarial o aceitaria. Mesmo no

Brasil, os empresários só recorrem ao

golpe como último recurso. Os empresa-rios sempre querem o Estado para supri-

mir a população, para fazer guerras no

exterior, e para criar uma infra-estrutura

boa para seus negócios. Não querem o

Estado como competidor. Indústrias es-

tatais nacionalizadas sob o controle dos

generais, como no Brasil, são uma amea-

ça para os negócios privados e as corpo-

raçóes multinacionais. E esse foi um

resultado não desejado dos golpes mili-

tares. Certamente o poder econômico

jamais apoiaria um governo militar inde-

pendente. Só apoia os militares que

lhe

obedecem. Por isso Rockefeller foi à Ar-

gentina. logo após o golpe militar, e

disse: "Este

é um país que realmente

entende a natureza da livre empresa".

Ele achou ótimo o golpe porque não afe-

tou seu poder, nem compete com ele.

Movimento — O programa Reagan êconservador?

Chomsky — De nenhum modo. ÍL um

forte programa de capitalismo de Esta-

do. ou pode-se mesmo dizer protofas-cista, que expande o setor estatal do

programa econômico no estilo habitual

da economia de Estado, iesenvolvendo

um mercado garantido para produzir e

subsidiar a produção de alta tecnologia,

ou seja, produção militar. O componente

principal dos 200 milhões de dólares do

orçamento militar é fornecer estímulo

para a economia industrial através da

criação de um mercado garantido peloEstado. Isso será pago pelo empobreci-

mento das massas.

Movimento — Este programa, que tem

despertado tanto protesto, como será im-

plementado? Como Reagan cumprirá

a promessa de "renascimento" do econo-

mia dos EUA?

Chomsky — Só há poucos meios de

implementar um programa que cobra ao

pobre os incentivos aos ricos. Um deles

foi usado pelo próprio Brasil: terrorismo

estatal e repressão. Outro modo, já queos EUA não estão preparados para esta

opção, é a criação de um estado de mobi-

lização nacional através da contínua

criação de confrontações domésticas com

crises internacionais. Numa situação de

crise, as tendências chauvinistas podemser canalizadas, e isso ajuda a construção

de uma situação mais dócil, de uma

população pronta a ceitar o sofrimento e

a apertar os cintos da forma necessária

para alcançar os objetivos militares mais

altos — o que se traduz por aumento da

aparelhagem militar. Isso significa mili-

tarização da economia, e é por isso que a

política externa durante a administração

Reagan tem sido de confrontação. Estão

desesperadamentetentandoencontráras-suntos sobre os quais possam declararuma crise nacional.

Movimento — Você pode exemplifi-

car?

Chomskv — Vejamos a diferença entre

as administrações Carter e Reagan, no

que se refere à política relativa a El

Salvador. Carter tratou o assunto como

americano/latino-americano. Reagantentou transformá-lo numa

"crise inter-

nacional". Daí surgiu aquele white paper(livro branco) que quis pôr todo o paísem alerta porque

"os russos querem

tomar a América Central", como disse-ram os porta-vozes de Washington. Olivro branco e outras medidas foramtentativas de criar uma crise doméstica einternacional. Não funcionou. O efeitointernacional da propaganda foi nulo naEuropa. O general Walters foi desen-corajado no Brasil e teve que chegarescondido no México, porque temiam

grandes manifestações populares deapoio a El Salvador. Os emissários deReagan voltaram com as mãos vazias e

não obtiveram apoio dos governos quecontataram. A

"tomada da América

Central" não vendeu. Mas o esforço de

propaganda continua.

Movimento — O que significa o usocontínuo do termo

"terror" pelo governo

Reagan?

Chomsky — É outro meio de fabricarcrises internacionais para mobilizar aopinião nacional.

"Terrorismo interna-

cional" é a atual tentativa. Não funciona

tampouco, mas o governo tem que con-nuar tentando criar situações de crises

confrontacionais e crises internacionaisem parte para finalidades domésticaspara mobilizar a população a aceitar

os custos muito severos que virão com o

programa econômico protofascista de

Reagan.

Movimento — E qual é a finalidadeinternacional dessa busca de crises?

••Oprogra*ma

tia administração

Reagan é uma'brasilianização'

da economia

americana * *

Chomskv — Eles querem encontrar um

modo de compelir os aliados a converter

suas economias em produção mili-

tar, de forma que os EUA não percamrecursos em produzir para o bloco euro-

peu. E se os europeus e os americanos

estiverem produzindo armas, as crises

regionais fornecerão o campo onde esse"renascimento" da economia industrial

terá mercado. Além disso, queremos nos

assegurar de que os aliados não tomarão

iniciativas independentes, por exemplo,

no Oriente Médio. Isso vai requerer de

nós — que não temos mais a arma do

poderio econômico total, como tivemos

após a 2a guerra mundial, e com a qualos EUA costumavam controlar os aliados

europeus —, isso vai requerer algum tipo

de arma, e os EUA ainda são mais avan-

çados em armas militares do que qual-

quer outro Estado. Portanto, a criação

de uma grande erise internacional,

ou de contínuas crises internacionais,

forçará a Europa e o Japão a se abri-

garem novamente sob o guarda-chuvamilitar americano, mas para isso eles

terão que comprar a "filosofia

de crises"

da administração Reagan, ou seja, incen-

tivar o complexo industrial dos EUA.

Movimento — Durante toda a crise do

Irã. o governo Carter parecia envolvido

numa propaganda que se atribuiu a sua

tentativa de se reeleger.Chomsky — É possível, mas é interes-

sante ver o que mais aconteceu. Em

dezembro de 1978, ou seja, um ano antesdas

"crises" do Irã e do Afeganistão, o

governo Carter anunciou um imenso au-mento do orçamento militar e cortou oorçamento dos programas sociais. Quan-do chegaram as

"crises" iraniana e afe-

gane, pela mesma razão da administração

Reagan (a revitalização do complexo eco-

nômico norte-americano), Carter cons-

truiu um estado de histeria intencional.

Ele pode ter pesando que serviria a seus

propósitos de reeleição. Estava servindo

ãs finalidades almejadas pela comunida-de econômica, também. Acho que essadiretiva vem ocorrendo desde os anos 70.

•• O orçamento doPentágono cresceu

porque é um

subsídio para a

grande indústria

militar 9 9

Movimento — Quais foram as crises

do início dos anos 70?

Chomsky — Elas não tinham nomeentào, mas são nitidamente duas crisesnos EUA. Uma delas agora se chama a"síndrome

do Vietnã" — termo usado

para referir-se ao fato de que uma partesubstancial da população não desejavaapoiar e pagar os custos da agressão,intervencionismo e subversão militar dosEUA no Vietnã. A outra crise foi cha-mada de

"crise da democracia". A Co-

missão Trilateral escreveu um livro im-

portante a respeito, no qual o termo se

refere ao fato de que camadas da popula-ção que haviam sido previamente margi-nalizadas e apassivadas começaram a seorganizar em ação política. Os gruposétnicos (não-saxões) e os pobres, tradicio-nalmente apáticos e passivos, começa-ram a envolver-se no sistema político.Como isso não pode ser tolerado, é claro,entào a Trilateral batizou-o de

"crise de

democracia". Nao há erise de democra-cia nenhuma; o que existe é o povo ten-tando se envolver na democracia.

Movimento — Vamos examinar me-

lhor as reconstruções da "benevolência"

e da ideologia imperial americanas? A

política de direitos humanos de Carter

foi parte do retorno da "benevolência"?

Chomsky — Vamos examinar o pro-grama de direitos humanos da adminis-tração Carter. Grande parte dele veio doesforço de sobrepor-se à síndrome doVietnã. Toda potência imperial teve quese dar um sentido de missão. Quando osconquistadores espanhóis vieram para ohemisfério ocidental conduzindo o geno-cídio. fizeram-no

"para a glória de

Deus". Quando os britânicos destruíram

a Índia, foi para dar-lhe o "benefício

da

cultura do homem branco". Quando os

franceses reduziram a Indochina à escra-

vidão e à destruição, foi "uma

missão

civilizatória". Quando os EUA assassi-ram 200 mil pessoas nas Filipinas numa

guerra de conquista, o presidenteMcKinley disse:

"Vamos elevar e cristia-

nizar a população".Desde a Ia e a 2a guerras mundiais, os

EUA estão engajados em programas wil-

sonianos de "autodeterminação"

e "li-

berdade", enquanto usam a CIA, o exér-

cito e elites regionais corruptas paradominar um país após outro no Terceiro

Mundo. Todos os países imperialistas

criaram estas ilusões, que são cruciais pa-ra mobilizar suas próprias populações.

Movimento — O caminho está prepara-do para um novo surto imperial?

Chomsky — Está sendo trabalhado in-tensamente. Sei que a intelügentzia ofi-ciai já está convencida. Se tiveram su-cesso junto à população não sabemos. O

programa dos direitos humanos foi umafarsa transparente para ganhar a aprova-

ção popular à "benevolência"

do Estado,

Também digo que houve benefícios cola-

terais ao programa de direitos humanos.

Muitos na América Latina, tendo reco-

nhecido o cinismo de tudo. inteligen-

temente aproveitaram os benefícios. E o

programa deu margem ao surgimento de

gente seriamente interessada em direitos

humanos, nos EUA e por todo o Terceiro

Mundo. A Igreja Católica da América

Latina, que é uma aliada no respeito

fundamental à integridade humana, teve

uma margem mais ampla para respirar e

trabalhar durante o compromisso retóri-

ci-» do presidente Carter com os direitos

humanos.Movimento— Você vê como duráveis ou

concretos os resultados dessa retórica?

Chomsy — Os efeitos materiais, con-

cretos foram pequeníssimos. Por exem

pio, o Chile, que sofreu sanções durante

o governo Carter — não porque eram

assassinos dedicados, mas porque come-

teram o erro de vir ensangüentar as ruas

de Washington (NR — o assassinato de

Letelier), pois antes estavam assassinan-

do tranqüilamente em Santiago sem queCarter se comovesse. De qualquer modo.

um mês após as sanções anunciadas porCarter, a Câmara de Comércio Ameri-

cana junto com a Embaixada American.-

no Chile realizaram um programa quidescrevia as

"condições privilegiadas à\.

salários baixos e grande força de traba

lho" no Chile, atraindo os investimento^

americanos para aquele país "estável"

E, de fato. os investimentos correram ai

Chile, com seu total apoio à ditadur.,

militar chilena. O período de "reconstru

ção da benevolência" acabou com Rei

gan. que está desmantelando o show

certo de que terminou o que chamam di

síndrome do Vietnã. Os benefícios cola

terais também estão sendo desmantela-

dos.

íí A guerra aos

pobres* declara*!u

há anos no Brasil,

foi agora

declarada também

nos EUA 99

Movimento — Que margem haverá pa-

ra esses benefícios?

Chomsky — A margem que sirva à

política de confrontação. A linha de Rea-

gan é que devemos nos opor aos regimes

totalitários e apoiar os regimes autoritá-

rios. Isso nada tem que ver com tortura etratamento das populações. O critério é

muito simples: governos totalitários têm

economia socialista; governos autoritá-

rios permitem liberdade para as opera-

ções econômicas americanas, e portantosão OK. Se não permitem essas opera-

ções econômicas estrangeiras, os gover-nos podem ser um paraíso na terra paraseus povos, mas ainda serão totalitários.

Esse é o critério que conduz a políticaexterna atual dos EUA.

Movimento — Qual é o papel das orga-

nizaçòes de base nos EUA? Elas se mobi-

lizam aos milhares em minutos!

Chomsky — os EUA têm imenso nume-

ro de organizações populares. São um

país, de certo mode, muito democrático,

onde elas se desenvo-veram muito rápido e

o efeito disto é haver uma capacidade de

mobilização rápida da opinião realmente

popular (e não o que se chama opinião

pública). Vejamos com El Salvador: ai-

gumas semanas após o anúncio de Carter.

e posteriormente de Reagan, do envolvi-mento dos EU A em El Salvador— feito cm

plena transição de governos, em janeiro—,em

poucas semanas centenas de orga

MOVIMKNTO - 20 a 26/7/81 17

_

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ni/açocs populares no país trabalhavam

para tentar bloquear a intervenção dos

EUA. Houve centenas de "teach-inns"

(encontros educativos), demonstrações,

ações de todos os tipos, publicidade; sur-

giram oficinas dc informação por todo o

pais, e isto criou nm impacto semelhante

ao do protesto contra a guerra do Vietnã,

mas muito mais ágil e veloz. Demorou dez

anos para haver conscientização no caso

do Vietnã, e apenas poucos meses no de El

Salvador.

Movimento — Que extensão têm as or-

ganizações populares, e que solidez'.

Chomskv — Há uma imensa variedade

dc organizações populares, organizações

de base. comunidades de desenvolvimen-

to de bairros, grupos de pesquisa a nível

popular, grupos de discussão etc. Não

têm âmbito nacional, por isso são poucovisíveis. Mas quando se diz que a década

de 70 foi de isolamento, não é verdade.

Organização foi o que aconteceu portodo o país, e isto se traduz em ação

novamente agora. As organizações de

base nos EUA têm mais dinâmica do queem outros países, mas por outro lado não

têm forma política relacionada com

partidos. Efetivamente, ainda há desor-

ganização nelas, mas as coisas reverbe-

ram por todos os lados. Os EUA são um

r*. ís de paradoxos: muito despolitizado

de um"lado, muito vibrante do outro. E

se por um lado aqui temos a intelligen-

tzia de "visciras" e os meios de comuni-

cação "'comprando" a filosofia simplista

dos propagandistas. por outro lado há

uma democracia populanevibranteeom-

parada á de outras sociedades. Se há

pouca tolerância para debates no topo,

há muito debate nas bases.

Movimento — Você prevê explosõesviolentas para o futuro nos EUA?

Chomsky —Nem se trata de prevê-lasEm Boston há ruas bloqueadas por poli-ciais e bombeiros que perderam os em-

pregos, e nfto permitem que ninguém

passe, usando suas mangueiras e seus

cassetetes. Há pobres que perderam o

emprego e jovens rascistas que se opõem

com violüncia á integração racial. Isso

está ocorrendo antes do impacto do pro-

grama econômico de Reagan. Acho que

haverá ainda agora mais desenvolvimen-

tos impresivíveis que poderão ter três

expressões, se as bases se engajarem na

ação direta. Poderá haver uma mudança

construtiva para uma ordem realmente

democrática c centralizada; poderá ha-

ver a transformação das massas na base

para o fascismo; ou ainda uma violência

caótica crescente que o poder centrali-

/ado tentará transformar num estopim

para impor a ordem fascista.

Movimento — Qual dos três você acha

mais provável?Chomsky — Acho mais desejável o

primeiro, e creio que a intelllgentzia su-

Ix-stima o critério popular. Mas não sei

prever. Acho que a Maioria Moral podeser unia base potencial para o movimen-

io fascista. É um movimento antifeminiv

:a. oposto â liberdade individual, de cias-

,c média baixa culturalmente muito co-

^rvadora e repressiva, queimando livros

nas bibliotecas, etc.

Movimento — E o papel das Igrejas?

Chomsky — Acho que as igrejas, tanto

católica como protestantes, terão um pa-

j>el muito importante e muito ético a

desempenhar, e é importante destacar

que tanto na América Latina como nos

Estados Unidos os ramos principais das

igrejas se tornaram muito mais liberais, e

por vezes até radicais na defesa da inte-

gi idade e dos direitos do ser humano. As

igrejas são aliadas do progresso sociaL

Movimento Você prevê um período

v. de ataques a Igreja?

Chomsky — A Igreja católica e outras

. Igrejas sào o coração da constituição dos

direitos humanos — como é lógico que

sejam —, e coisas muito importantes

poderão ocorrer em breve. O Departa-

mentode Estado aparentemente está pro-duzindo um outro

"livro branco" sobre a

América Latina. Não apareceu, mas há

vazamentos de notícias informando quto próximo livro branco será

uma tentativa de atacar o «coraçfto d<

apoio aos direitos humanos, na Igreja.

Movimento — O que diz esse novo livro

branco?

Chomsky — Não 6 completamente cia-

ro. mas em grande extensão a Igreja de

El Salvador será acusada dc ter permitido que fundos da Igreja chegassem ás

mãos da guerrilha. Isso é uma coisa queimagino seja correta, que a Igreja ajude

as organizações de base de El Salvador a

lutar para defender-se do governo mais

brutal e indesejado que surgiu na longa

história de torturas e assassinatos da

América Latina. É concebível que partedesse dinheiro tenha sido utilizado na

compra de armas. O Departamento de

Estado mostrará alguma evidência disso,

e acusará a Igreja de apoiar o "terro-

rismo".

iiO Departamento

de Estado faráum campanha para

vinculara Igrejaao terrorismo

internacional J J

Movimento — Que impacto terá essa

acusação?

Chomsky — Acho que não irão longe

com mais esta propaganda de "terroris-

mo internacional" e com esta tentativa

dc lutar contra a Igreja. Se você lê o

Wall Street Journal verá que os sandi-

nistas. os movimentos de libertação da

América Central e da Africa são cha-

mados dc terroristas. Qualquer pessoa

que queira se libertar do controle dos

EUA ou da "fé

americana "

é. por ex-

tensão, terrorista. Estou certo de quedistorcerão os fatos numa campanha ma

ciça para vincular a Igreja ao "terroris-

mo internacional". O documento já está

preparado em Washington, segundo fon

tes de confiança. A questão é queWashington está hesitando em liberá-lo.

Só o fará se for para encobrir outra?

ações mais controvertidas, como aumen-

tar a ajuda militar a El Salvador.

Movimento — Há razão para o temor

de que tudo vá piorar, se você é habitante

do Terceiro Mundo? O que aconselharia,

por exemplo, um brasileiro, um latino-

americano a fazer?

Chomsky — Não existe mágica, você

sabe. Só existe esperança na organização

popular. O indivíduo isolado nunca poderesistir. Será destruído pelo poder con-

centrado. Mas as organizações populares

podem resistir, e ás vezes resistem. Vão

sofrer, certamente, receberão alguns gol-

pes da violência estatal. A questão é;

estarão bastante enraizadas para resistir

e tentar destruir o poder concentrado, e

aprimorar a economia em be-

nefício harmônico de mais gente, na

nação e na comunidade internacional?

O problema que você enfrenta num

país como o Brasil, que é dependente de

uma potência como os EUA. é uma

barreira dupla. Num país como os EUA

há só um processo. Tudo é importante. O

movimento sindical é importante. A

Igreja é importante. As organizações po-

pulares sào fundamentais. O apoioà luta

em outros países também é fundamental.

HOVO PLANO MARSHALLA adoção de um

'Plano Marshall", nos

moldes da antiga "Aliança

para o Progres-

so", poderá ser um dos instrumentos do

governo Ronald Reagan para impedir o

crescimento dos movimentos populares

na América Latina. A informação è do

deputado Arnaldo Schmitt (PP/SC), que

recentemente visitou os Estados Unidos,

juntamente com outros parlamentares,a

convite do "American Council of Young

Leaders". Schmitt resume a politica de

Reagan para a América Latina em seis

pontos: 1) Continuar com o isolamento de

cuba; 2) defesa da ditadura de El Salvador;

3) defesa do Atlântico Sul; 4) fim da

politica dos direitos humanos (por sinal,

anunciado na semana passada pelo Depar-

tamento de Estado, embora com a oposi-

ção dos parlamentares do Partidp Demo-

crata. O deputado Tom Harkyn. de lowa,

autor do projeto que criou a poHtica 4os

direitos humanos prometeu mobilizar a

opinião pública do pais contra a deciiâo

do governo); 5) adoção de uma politica

especial para cada pais; e 6) criação do"Plano Marshall", para ser implantado

principalmente em El Salvador e nos pai-

ses da América Central.

Todos esses pontos foram discutidos

pelo deputado Arnaldo Schmitt em reu-

niões realizadas no Departamento de Esta-

do. O único entrave para a imediata

implementação do-novo "Plano Marshall"

sena a falta de recursos financeiros, se-

gundo assegurou a Schmitt o embaixador

dos Estado Unidos na ONU para Assun-

tos Econômicos e Sociais. José Sorzano.

um cubano naturalizado. O deputado cata-

nnense esteve também com o diretor do

Conselho Interamericano de Segurança,

Roger A. Reed. Segundo Schmitt. Roger

Reed esteve recentemente em São Paulo

para participar de uma reunião da cúpula

, da TFP, tendo estranhado a "pouca impor-"

tância politica da entidade no Brasil".

0 CAMBOJA EM DEBATERealizou-se na semana passad.i a Con-

ferència Internacional sobre o Camboja,

com a ausência dos principais interessa-

dos. A União Soviética, e seu bloco, o

Vietnã e o Camboja boicotaram a reunião.

Os paises da Assean — Associação das

Nações do Sudoeste da Ásia (Indonésia,

Malásia Filipinas. Cmgapura e Tailândia1

apresentaram um plano.absorvido pela

ONU e por boa parte dos não-alinhados.

que prevê o desarmamento de todas as

facções em luta no Camboja, a retirada

das tropas vietnamitas e o envio de uma

força de paz da ONU, abrindo um proces-

so que culmine na convocação de eleições,

o boicotedosrussosevietnamitas colocou-

os como alvo de duros ataques dos Estados

Unidos e da China. Esta sustenta que"qualquer soiução para o Camboja só será

possível depois da retirada dos 200 mil

vietnamitas do pais", e anunciou sua deci-

são de fornecer armas aos grupos que se

opõem ao aiual governo cambojano.

esctever; e!es se tornam depressivos e nào

encontram ajuda na familia, poja #«__*

fcaior parte vivem apenas com um de seus

pais. Perambulam pelas ruas. entendiam-

se, e são continuamente agredidos pela

policia, que os prende sem motivos, so-

bretudo se são negms. Sim, eu entendo a

raiva deles. Hoje, L.ancos e negros sen-

tem a mesma frustração. É preciso reco-

nhecer que alguns quebram vitrinas para

roubar apenas para "tirar um sarro". De-

pois, há os sklnheads (NR - militantes da

Frente Nacional, neonazista) que não pa-

ram de atacar os negros. Eles crêem que o

negros e os indianos tomam seus empre-

gos" Estas palavras de Alison. um rapaz

inglês, branco, de Brixton (Londres) refle-

tem bem o atual estado de espirito dos

jovens na Grã-Bretanha. É nesse contex-

Io que se desenvolvem os distúrbios que¦sacodem 30 das principais cidades ingle-

sas. Atualmente, em cada quatro jovens

britânicos, mais de um està desemprega-

do. O melhor exemplo disso è o bairro de

Toxteth, em Liverpool. A taxa de desem-

prego na cidade è de 17% em Toxteth ela

salta para 40%; 60% entre os negros e

90% entre os jovens de 16 a 18 anos.

Liverpool è um caso extremo: là o desem-

prego atinge hoje três milhões de pes-

soas, ou seja 12% da população ativa.

DISTÚRBIOS EM BERLIMA crise econômica è geral, e seus refle-

xos não estão explodindo somente na

Inglaterra. Também na Alemanha, em Ber-

lim Ocidental, ocorreram diversos distúr-

bios na semana passada com manifestam

tes. principalmente jovens, protestando

contra o aumento dos preços dos aluguéis

e pela ocupação das casas nào habitadas.

A falta de habitações tem provocado a

ocupação de edifícios e constantes cho-'quês

com a policia. Segundo o jornal Dle

Welt, militares americanos, peritos em

atividades contra-revolucionárias, esta-

riam participando da repressão aos jovens

Morreu na semana passada o militante

do IRA, Martin Hurson, a sexta vitima da

intolerância do governo inglês diante da

greve Oe fome reatizada por prisioneiros do

IRA (Exército Republicano Irlandês) para

reivindicar o status de presospolK-cos. O

governo da República da. Manda Orlanda

do Sut) pedi» aos Estados Unidos paraintervir, convencendo a primeira-ministraMargaret Thatctier a abrir conversações

diretas com os grevistas, que estão dis-

postos a negociar.

CONGRESSO DO POUPAo que parece, o IX Congresso do PC

Polonês (POUP) nêo trará grandes modifi-

cações para o pais, especialmente

no que se refere à dependência com rela-:ção

à União Soviética. A forma da votação

escolhida para a eleição do nove Comitê

Central favoreceu a posição dos "duros"

(pró-soviéticos). Em seu discuto Stanis-

lawKania — cujapermanénciana secretaria

geral estava em jogo — se apressou em

dar garantias á URSS de que tudo correrá

dentro dos limites. Por outro lado, o PC

tcheco posicionou-se claramente pela in-

tervenção soviética na Polônia "para

de-

fender as conauistas do sorJatismo"

SOVIÉTICOS NA SÍRIAUm dado novo no tabuleiro das forças

em conflito no Oriente Médio: milhares de

fuzileiros navais soviéticos participaramna semana passada de manobras confun-

tas com forças sírias. Os soviéticos afir-

mam que desejam apenas "defender a

'síria das ameaças de Israel, amm nenhuma

idéia agressiva". As manobras são parte de

um tratado de amizade e cooperação fir-

mado entre Oamasco e Moscou ao ano

passado. Exceção feita aô Afeganistão,

trata-se da primeira vez oue tropas russas

reafteam atividades _fp um pais fora dobloco soviètieoi^

"Muitos jovens abandon-arom a escola

porque o que ela ensina não lhes kttar«a-

sa, e os professores nào os eatimuiam.

Eres vèa» 4ue mesme oa qae «ontinuam

não arranjam emprego. Então-_*_* EB per*

gyht«ain; fra qtsp' W-s^inà ?w^ «aafee**

' ¦':- -*

•--• ' ¦'*•> é*

I -flfi

ACHBESILnMMBMAEm 1980, o f*NB de El Salvador acusou

uma baixa de 10% em relação e i*VB» Oainvestimentos priwatoe foram re_u_fdos a

zero, e os públicos ficaram 50% abaixo

das previsões. Com a queda do preço doeaifc saaprincipal fonle d»dMtnçiit* dedivisa*, sue» sxportaçftÉ* deserto cair i»>-mmmtil^&íni»^^

-. precisara* apptüiftAr t*o_ _Éta_o est -iBeaaâato*'

. ¦ rtae. Ogoventoespsra<qg»Miao FMi _ EKx. Baneo MUitdi tt.

mfit~-t "ir

ltMOVIMENTO— 20 a 2ft/7/S1

Page 19: m®®mimw»-«a. ctaalui m

CULTURA

DANÇA

Patrícia Stokoe:A dança deve ser

ensinada na escola"A dança é um patrimônio de todos os se-

res humanos e não só dos bailarinos, por isso

deve ser ensinada nas escolas públicas e não

em estúdios particulares. Ela não é um luxo

para uma elite, mas uma necessidade de base

para um povo são". Quem fala assim é argen-

tina Patrícia Stokoe, um dos maiores nomes

da atualidade naquilo que, à falta de uma de-

nominação mais adequada, se convencionou

chamar "expressão corporal". Com 62 anos

de idade, mas exibindo uma jovialidade fisica

e intelectual extraordinária.que ela mesma re-

conhece com uma ponta de orgulho, Patricia

esteve em São Paulo, na semana passada, pa-

ra ministrar um curso rápido.

Seu médoto de trabalho corporal é fruto de

uma longa aprendizagem em várias discipli-

nas: "comecei em Londres, em 1938, estudan-

dodança clássica. Mais tarde, tomei contato

com diferentes correntes da dança contempo-

rânea. Em 1948, conheci Moshe Feldenkrais e,

então, comecei a me interessar pelas novas

disciplinas corporais. Todas as outras disci-

plinas me ensinavam passos e movimentos

baseados na cópia de um modelo. Com Fei-

denkrais, pela primeira vez, aprendi a desen-

volver a percepção de meu próprio corpo"

Ainda na Inglaterra, Patricia teve contato

comaescoladeRudolf Laban.umdos pais da

dança contemporânea, que. segundo suas pa-

lavras, a impulsionou no caminho da "educa-

ção pela arte e não só para a arte". Outra gran-

de influência foi a da escola de "eutonia" de

Gerda Alexander. A esse contato direto com

alguns dos maiores "monstros sagrados" das

novas técnicas de abordagem corporal, Patrl-

cia acrescentou ainda estudos de anatomia

funcional, psicologia, música, história da dan-

ça etc.

Sua concepção é a de que todo o ser numa-

no pode dançar, sem necessariamente corres-

ponder a um modelo, criado e imposto pela

sociedade: "da mesma maneira que um bebê,

quando nasce, tem a possibilidade de poder

andar e falar, também tem a possibilidade de

cantar e dançar. Mas isso não è reconhecido

nem valorizado por nossa sociedade; tende-se

a relegar o tesouro da dança ao bailarino, miti-

fica-se e mistifica-se a dança, tornando-a eh-

tista; cria-se a imagem de um modelo perfeito

que serve para inibir e não desenvolver a dan

ça de cada ser humano. Porém o verdadeiro

espirito da dança é chegar a traduzir a vida in-

terior do ser humano, sua afetividade, pensa-

mentos e sentiments em movimento, repouso

e expressão em geral do próprio corpo". Den-

tro de seu trabalho de expressão corporal, Pa-

tricia desenvolveu um método de "senso-per-

cepção", que busca um desenvolvimento dos

sentidos humanos tanto em relação à realida-

de exterior como em relação à sua própria na-

tureza interior, através de três técnicas (do

movimento, da comunicação e da criativida-

de) e empregando quatro grandes estímulos

(a fala, a música e todo som organizado, as ar-

tes plásticas e a utilização de objetos auxilia-

res).

Patrícia considera que uma pessoa como

ela tem a obrigação de passar adiante os seus

conhecimentos e não fazer deles um simples"objeto de consumo pessoal", por isso divide

o seu tempo entre a formação de novos pro-

fessores de expressão corporal e a prepara-

çáo de um grupo de pessoas que leva a ex-

pressão corporal ao palco, como espetáculo

Ela considera muito importante o trabalho

com esse grupo, pois "somente ao mostrar o

produto se compreende melhor o para onde

vamos do processo".

(José Tadeu Arantes)

7

-Wm* te-Patrícia Stokoe

A 8.a APREENSÃO DO PASQUIM

Humor sem conciliação"Eles

podem mentir, mas nós não pode-

mos rir", desabafou o cartunista Ziraldo quan-

do soube que fora recolhida a edição do Pas-

quim, cuja capa satirizava a apresentação do

IPM do Riocentro. Esta foi a oitava apreensão

sofrida pelo jornal e a segunda nestes tempos

de abertura política.

Desde as explosões no Riocentro, o Pas-

quim adotou uma posição editorial de não ad-

mitir a farsa que estava se desenhando. Em

sucessivas colunas assinadas pelo seu edi-

tor, Alberto Dines, o jornal repudiou as expli-

cações oficiais de maneira incisiva. As char-

ges seguiram a mesma linha A primeira capa

era o desenho de um Puma destruído, com a

explicação de que fora "projetado

pela mes-

ma equipe que executou o resgate dos reféns

do Irã".

O espelho retrovisor refletia "os

bons

tempos de Mediei"

'«¦RPOVl ¦*^W*',''ÍÍ__E-»__________l_F-* , _LJ~**~*^*^mmmWmmmT* iÍ^___________> *&

t^^ifc^jEaaylB ____}' <*__r>_a______p^^' ^^!*|______e'. *%. ___¦ __c _#_».¦

M__l___________-^^^^^ ¦ *t* tmmW' 1"1_^_yJ^>v * -'•' ^_L ?¦«. -a

___F «»___i r^^^^B ._______»^m\ v^_B ______.

Apesar deste posicionamento, o Pa$»

quim escapou à primeira retaliação das auto-

ridades, que mandaram recolher, logo após c

30 de abril, os jornais Movimento, Tribuna

Operária e Hora do Povo. Para Alberto Dines,

a apreensão do número passado significa

que as autoridades resolveram prejudicar

quem estava faltando Mas o recolhimento

não foi irrestrito. Apenas algumas bancas e

uma distribuidora receberam a visita de agen-

tes da Policia Federal. De acordo com Dines.

esta nova tática, apesar de muito menos tra-

balhosa, consegue impor o mesmo prejuízo

ao jornal. Afinal, com o anúncio de que houve

repressão, os jornaleiros podem alegar tran

quilamente que seus jornais foram recolhi-

dos, pois os policiais não deixam recibo.

O próprio Pasquim não recebeu nenhuma co-

municação, nenhum bilhete ou telefonema, o

que dificulta inclusive a possibilidade de um

recurso â Justiça.

¦»:. _J_-_----------»--i^e---^»^^^^a---_^^

a tmlmira fi.ty ita SltW.: cmtlrit o fufttttirrffa

OS GAYS NA SBPC FUTEBOL E POLÍTICA

Os homossexuais finalmente começam a

ter chances de ser respeitados e não mais

marginalizados na sociedade brasileira. A

aprovação de uma moção peia Assembléia

Geral da SBPC tomando "oposição enérgica

a todas as leis e códigos que rotulam o ho-

mossexualismo como patologia" foi um

grande passo que. se nào permite acabar

com a discriminação, pelo menos significou

uma espécie de autocrítica da comunidade

cientifica. Dos sete mil participantes da

SBPC. pelo menos quatro mil assinaram um

abaixo-assinado pedindo a exclusão do para-

grafo 302 do Código do INAMPS aue consi-

dera o homossexuahsmo como "desvio de

personalidade e transtorno sexuai Embora

a discussão do homossexualismo tenha sido

incluída na programação oficial da SBPC. o

ponto alto foi a realização de um ato público

com a presença de mais de mil pessoas, pe-

los grupos gay de vários estados brasilei-

ros. O ato foi para protestar contra as amea-

ças de morte feitas através de uma carta

anônima a Mana Brandão, secretaria regio

nal da SBPC, caso os homossexuais parti-

cipassem da reunião."

PINTURA DE PRESOSO chamado

"criminoso comum" ainda é

visto por uma grande parcela das pessoas de

modo estereotipado, como um ser brutal, m-

capaz de qualquer sensibilidade. Isto apesar

de terem sido "criminosos comuns" alguns

artistas extraordinários,comoFrançoisVillon

mendigo, arruaceiro, ladrão e assassino do

século XV, que foi um dos maiores poetas da

língua francesa, ou o nosso contemporâneo

Jean Genet. A exposição de pinturas de de-

tentos da Penitenciária do Estado, que està

ocorrendo no Museu de Arte de São Paulo,

contribui para desfazer esse preconceito. Em

meio a alguns quadros ingênuos, há traba-

Ihos da maior qualidade, como os de Fran-

cisco Costa Rocha. José Borges e Gerson de

Oliveira

Em entrevista ao Pasquim da semana pae-

sada. Reinaldo, jogador do Atlético Mineiro,

denunciou que está sendo criada uma onda

de boatos contra ele. visando atingi-lo por

causa de suas posições políticas de oposi-

ção. Os boatos o acusam de homossexualis-

mo, bebedeiras e escândalos com mulheres,

e já prevêem sua exclusão da Seleção Brasi-

leira. e até sua rescisão de contrato com o

Atlético. Na entrevista. Reinaldo diz que nâo

vai reforçar o preconceito, tentando prcvar

que nào é homossexual, apesar de sabpr que"o mundo do futebol segue e prega o mora-

lismo burguês, machista, careta" t o que dfi

não ser um jogador de futebol bonzinho e

ainda identificar-se com a oposição.

A FEIRA DE IDÉIAS

Uma feira foi o que deu o toque de desce

tração e cor aos debates da SBPC. Uma feir;

onde se vendia de tudo: do mingau de mMh

à cerveja, ao vinho e à batida: doe posters ú*

Cne Guevara ao inocente Cannos de Char-

Chaplin-.daliteraturaclassicai arxistae .< -

cumentosaepartidoscon-.ooPCdoB. P*_b

eMR-8alivrosdidáticosedest-xologia, das

camisetas, pulseiras e perfume, caseiros ai

artesanato africano e indígena. Uma fei-a d€

idéias e comportamento Ess^ 'oi o quatí'

â parte da reunião da SBPC em Salvador ©n

de aconteceu tudo que deseja uma soeieda

de que aspira à democracia Ao lado do deo*

te sério dos graves problemas nacionais r -

hzado nas salas, ocorreu a mamfestaçài

cultura e comportamento de uma juventuc..

que aos poucos procura assumir seus pro

prios compromissos contra aí ideologi». ios

que mandam hà mais de 17 anos no país

Apesar das tentativas dos jornais conserva»

dores de dar uma visão de "bagunç; ' f* "fes

tividade" ao que ocorria pelos corredores da

SBPC. a feira ê que se constituiu no qrande

e colorido destaque do encontro

_4'^f^:jHw^^^^Éfe ¦ <»_ t'•***?£ *'* ^^^^j^SjSfiÉfc^cgtt^^w,. ' -•'¦'w. *"K****m*** *'

Che. i instrui c< h.iftlin mi I eir.t dc lUvia*

V>

Page 20: m®®mimw»-«a. ctaalui m

CIÊNCIAS SOCIAIS

Trabalhadoresdiscutemdemocracia

OS TRABALHADORES E OS PARTIDOS.

Ricardo Maranhão. Editora Semente. São

_ulo 1981.

"Sen oliti: • não há salvação", afirma um

der sir cal. Esta peqt.^na frase talvez .inte*

¦ized" • ma nr.orosa o conjunto das entrevia*

as organizadas por R.^ardo Maranhão, em

seu recente livro.

34 lideres sindicais de Sào Paulo. Rio de Ja-

neiro 8 Minas G»^rais — escolhidos, como es-

clareoe o Autor, em virtude da efetiva m.iitân-

cia que 'ém na vida sindical e política — deba-

tem e analisam os partidos políticos e a quês-

tão da democracia no Brasil atual (alguns dos

temas abordados: avaliação do papel desem-

penhado pelo extinto MDB: o PMDB e os tra-

balhadores as razões do surgimento do PT.

as tarefas atuais do PT e do PMDB: a relação

sindicato, partido, os partidos existentes na

ilegalidade; a frente de oposições; a Consti-

tuinte ,i questão do socialismo). Através des-

ta entrevista . pode-se perceber com muita ni-

tidez o avanço político e ideológico dos tra-

balhadores na abordagem e na compreensão

dos problemas que não apenas lhes dizem di-

retamente respeito como também daqueles

que implicam a transformação da sociedade

brasileira.

O conjunto destes depoimentos — como

nào poderia deixar de acontecer dentro de um

regime de precarlssimas liberdades políticas

e sociais-revela as enormes dificuldades que

no Brasil enfrenta a classe operária na organi-

zação de entidades que pretendem efetiva-

mente contribuir para a construção de uma

sociedade verdadeiramente democrática e so-

cialista: seja no combate ao apoliticismo das

grandes massas populares provocado pelo re-

gime militar, seja na resistência às permanen-•.

tas violências e casuismos dirigidos contra as

^"aposições e lideranças políticas mais conse-

quentes nestes últimos 17 anos.

Apesar deste quadro sombrio e sufocante,

há muita esperança em todos estas entrevis-

tas. Com lucidez e de forma destemida, a qua--

se totalidade destes depoimentos reconnece

que nã há "salvação" fora da ação política Tu-

do passa pela política. Mais do que isso: a po-

litica. na visão destes lideres, nâo é privilégio

das chamadas elites nem provem necessária-

mente do Estado. Ela emana da sociedade —

das lutas e dos conflitos que a perpassam Na

formula direta e muito expressiva de um dos

lideres sindicais: "Nós

temos que ter condi-

çôes de meter a colher no processo de deci-

são política''.

Tal é o interesse que este pequeno livro

provoca que é preciso confessar — hà uma

certa frustração por parte do leitor quando.

em seu capitulo final ("Os problemas da de-

mocracia"). importantes questões atuais são

discutidas por um reduzido número de partici-

pantes e em poucas páginas Nossa expecta-

tiva. aguçada pela própria leitura deste livro.

era a de que os trabalhadores falassem mais

ainda (C.N.T.)

Errata

Na resenha (Movimento n° 312) sobre a co-

leçào História Popular (publicada pelo Centro

Editorial Latino Americano), dois títulos de li-

vros saíram errados Os títulos corretos são:

Os Tempos Dramáticos da Mulher Brasileira

de Irede Cardoso e Paraguai. Nossa Guerra

contra esse Soldado de León Pomer Além

disso, a frase (Lápide será minha ausência

sobre este pobre povo que terá de continuar

respirando sobre *.la sem ter morrido por não

ter podido nascer") nâo é citação de León Po-

mer e sim de Roa Bastos no livro Eu. o Supre-

mo

..£-~-u

HISTÓRIA POPULAR

A face do povo na

história brasileriaUm revisionismo da versão oficiosa

REBELIÕES DA SENZALA - QUILOMBOS.

INSURREIÇÕES, GUEflRILHAS, Clovis Moura,

Livraria Editora Ciências Humanas, São

Paulo, 1981, 284 p.

Ao contrário do que dizem os ideólogos das

classes dominantes, a luta de classes não è

uma planta exótica em nosso pais Ela existe

como em todas as sociedades divididas

em classes — desde os primórdios de nossa

organização social, e seu fulcro principal foi,

durante quase quatro séculos da nossa histó-

ria, a luta entre senhores e escravos, como

mostra Rebeliões da Senzala, de Clovis Mou-

ra, cuja primeira edição, em 1959. marcou um

aprofundamento no processo de revisão da

história do Brasil, iniciado décadas antes.

Cada classe social conta sempre a história

de acordo com seus próprios interesses e

suas conveniências Varnhagen, nosso "pai

da História", sistematizou uma historiografia

das oligarquias, contando a história da con-

quista e colonização portuguesa do Brasil de

acordo com a visão da classe senhorial que

dominou o cenário político e econômico do

Império.

A versão oficiosa da história do Brasil, cris-

talizada em sua obra. provocou polêmica des-

de seu aparecimento. Muitos historiadores

encaminharam suas pesquisas em outros ru-

mos, lançando os primeiros germes do revi-

sionismo histórico. Correspondendo de certa

maneira aos interesses das camadas urbanas

nascente burguesia industrial, pequena

burguesia, os funcionários, etc.. — a preocu-

pação desses historiadores estava longe dos

palácios e casas grandes. Com uma evidente

ENSAIOS

Visando o

próprioumbigo

consciência nacional, eles procuraram conhe*

cer o pais, seu potencial, seu povo, o sertão,

procuraram resgatar para a história heróis

com o Beckman. Tiradentes. Frei Caneca, Fe-

lipe dos Santos e muitos outros, que eram ex-

pressão da lut? das camadas urbanas em de-

fesa de seus interesses.

Com raízes nos trabalhos desses historia-

dores, o revisionismo histórico desabrochou

na metade de nosso século, produzindo uma

historiografia onde a participação popular na

construção do JÉMpn um papel de destaque,

embora subordr#aao: o povo aparece em mui-

to episódios, liderado por personagens da in-

fância da burguesia brasileira.

Rebeliões da Senzala tem um significado

importante neste quadro. Nele. pela primeira

vez de forma sistemática, a luta do povo apa-

rece com sua face própria, como a luta dos es-

cravos negros pela liberdade

A tese tradicional do pacifismo do povo bra-

sileiro é definitivamente descartada. Aqueles

que acreditam na conciliação como saida para

as crises nacionais poderão conhecer com

detalhes o que esse tipo de política significou

para as camadas populares: na Belaiada, por

exemplo, as elites acertaram suas diferenças

através de uma anistia, para reprimir juntas os

escravos e camponeses rebelados do interior

do Maranhão.

Fruto da redemocratização do pais depois

do Estado Novo — Clovis iniciou suas pesqui-

sas em 1948 —. Rebeliões da Senzala leva o

revisionismo histórico até sua formulação

mais radical, e o resultado è uma história radi-

calmente contra as classes dominantes. É um

ponto de partida fundamental para quem qui-

ser conhecer a história do Brasil sob a ótica

de seu povo e de suas lutas. (José Carlos Ruy)

EDITORAÇÃO

Debate agora no Brasil

DEBATE n 38, Editora Gralfitti, SP. 42 pàgs.,

CrS 160,00

Depois de dez anos de atividades e trinta e

sete números publicados no exterior, a revista

Debate começa a ser editada e distribuída no

pais Seja bem-vinda!

O teor das matérias è de orientação marxis-

ta e procura respeitar um certo pluralismo

ideológico Entre seus antigos colaboradores

podem ser citados alguns nomes mais conne-

cidos como Carlos Marighella, Carlos Moura,

Jean Marc van der Weld, Mário Alves e Mi-

guel Arraes. No n° 38, figuram artigos de Dar-

cy Albuguerque (a situação do negro no Bra-

sil); Natàlia Prado (o movimento feminista); e

do deputado estadual Raymundo de Oliveira

(PMDB-RJ) sobre a atual conjuntura políticaAparecem ainda três notas relativas às

"Teses

do Coletivo Nacional de Dirigentes Comunis-

tas para a luta pela Legalidade do PCB", porP.Alves. A.Silva e D.Albuquerque.

"COMO SE COLOCA A DIREITA NO PO

DER" (Vol. 1 e 2), Paulo Schilling, Global Edi-

«ora, São Paulo, 1979 e 1981.

Escrito durante os anos de 1964 a 1966.

"Como se coloca a direita no poder" é

'fun-

damentalmente um livro de memórias". Nes-

tas duas obras, o ex-"delegado político" de

Brizola na Guanabara e ex-coordenador do"Grupo

dos Onze" nos oferece um conjunto

de ensaios que expressam com muita hones-

tidade a perspectiva política e ideológica dos

(autodenominados) "nacionalistas revolucio-

nàrios" — agrupados em torno de Brizola e do

semanário Panfleto — nos anos que precede-

ram o golpe militar de 1964.

Como todos os escritos produzidos no "ca-

lor da hora" — no caso presente, no clima de

exílio onde se amarga dolorosamente a der-

rota —. estamos aqui diante de um livro "deli-

beradamente polêmico e agressivo'7 Polêmi-

co, por exemplo, com aqueles ensaístas que

nos dias de hoje ainda fazem a apologética do

governo Goulart ao mesmo tempo que deixam

de enxergar as mudanças na trajetória politica

do ex-"nacionalista revolucionário" Brizola.

Uma das principais teses deste livro consis-

te em demonstrar que — ao contrário do po-

pulista progressista que teria sido Vargas —

Goulart foi "o

mais eficiente agente das cias-

ses dominantes e do imperialismo na conten-

ção do avanço popular". Na verdade, para o

A.. Goulart foi o grande responsável pela to-

mada do poder por parte da direita.

O autor também polemiza com o PCB: para

Paulo Schilling, ao amalgamar o marxismo

com o positivismo e com o "revisionismo

so-

viético". este partido se transformou em au-

têntico "Partido

da Ordem e da Tranqüilida-

de". Pretendendo contribuir para umaautocr.

tica dentro da "esquerda

revolucionária", este

livro erpõe ainda uma outra tese altamente

controvertida: "o

êxito de 1o abril deve-se

mais aos erros clamorosos da esquerda, que

aos acertos da direita".

A natureza apaixonada deste livro é igual*

mente responsável pelos seus méritos e de-

feitos. Estes aparecem, particularmente,

quando o Autor — ao buscar justificar o "na-

cionalismo revolucionário" — interpreta e

analisa a história politica brasileira a partir de

1930. Citemos apenas duas dessas simplistas

e equivocadas interpretações: a do caráter"eminentemente

popular" da "Revolução

de

1930" (em suas próprias palavras: "foi

o povo...

quem liquidou a república oligárquica"); de

outro lado, ao defender o "nacionalismo

de

Vargas" e ao destacar os "enormes

benefi*

cios" do "Estado

paternalista" (sic), ao mes-

mo tempo, todavia, P.Schilling nunca enfatiza

suficientemente os aspectos repressivos e os

efeitos desmobilizadores da legislação traba-

Ihista bem como a permanente coerção a que

estiveram sujeitas as classes trabalhadoras e

populares e suas organizações políticas du-

rante todo o primeiro governo Vargas (1930-

1945).

O titulo deste livro não sintetiza rigorosa-

mente o seu conteúdo efetivo: Quem espera

nele encontrar uma contribuição para a com-

preensão da ação politica e da perspectiva

ideológica da direita brasileira nos anos 60,

certamente vai se frustrar. Embora agregue,

no final do volume 2, alguns documentos so-

bre a participação norte-americana no golpemilitar de 64, estamos basicamente diante de

um depoimento sobre as atividades políticas

de setores das esquerdas brasileiras. Com ex-

ceção de um capítulo dedicado às Forças Ar-

madas. poucas são as referências à efetiva (e

eficaz) atuação dos políticos e das múltiplas

organizações direitistas na articulação do"movimento

de 64". Ao falar da direita, não

conseguem as esquerdas deixar de visar o

seu próprio umbigo?

(CaioN.de Toledo)

20MOVIMENTO - 20 a 26/7/81

Page 21: m®®mimw»-«a. ctaalui m

CARTâSABERTAS

TRIBUNA LIVRE TRIBUNA! IVRE

O superficial em César %£»Dc Salvador, Marco c Valdelio analisam a entrevista de Ruy César

ameaçadosRuy César, primeiro presidente da UNE re-

construída, concedeu uma longa entrevista a

Movimento (n° 312), em que defende posições

e uma concepção de caráter geral de que dis-

cordamos profundamente. Ruy teve um papel

muito grande no movimento estudantil brasi-

leiro, vindo dai o espaço que conquistou na

imprensa, o direito de se fazer ouvir com a má-

xima atenção E é exatamente pelo peso que

suas opiniões têm no pais, pelo respeito que

merecidamente o cerca, que uma entrevista

como essa precisa ser analisada atenta e rigo-

rosamente. Por esses motivos, e ainda pela

amizade que lhe temos, decidimos fazer aqui

uma firme critica daquelas posições e con-

cepção.

Respondendo a "o

que está pensando hoje

o Ruy César pós-UNE (...) na politica". Ruy ini-

cia a entrevista com a defesa da necessidade

do "trabalho

nas instituições capitalistas" pa-

ra "transformar essa sociedade". E jà nesse

começo vemos um grande vazio e um velho

erro.

O vazio: Ruy nada diz, em momento algum,

sobre o que pensa da situação vivida hoje pe-

lo pais. A crise econômica brasileira é grave e

vai se aprofundar ainda mais. Essa gravidade

é multiplicada por ser essa crise parte da crise

vivida peio capitalismo, mundial, não só no

plano econômico, mas também político, ideo-

lógico, cultural e mesmo militar Como conse-

qúència da crise, e ao mesmo tempo aprofun-

dando-a, a classe dominante está dividida

quanto acomoenf rentà-la, e sobretudo come

derrotar a classe operária e o coniunto dos tra-

balhadores. Por sua vez. embora esbarrando

em suas próprias deficiências, o movimento

operàrio-popular tende a uma progressiva ra-

dicalização e poütizaçào.

É nesse quadro que o ex-presidente da UNE

orupou duas páginas de Movimento — para

nada dizer sobre aquilo que é o centro da vida

ur-z -al. decisivo para os destinos das cias-

se-i e .amadas sociais que reúnem milhões

de seres humanos. Ao invés disso. Ruy prefe-

re adotar a postura de uma pessoa alheia ao

rn-.o popular, com seu olho critico voltado

e .1 iivamentesobreaesquerda.Assimlimita-

da e parical. sua visão o leva a cair seguida-

mente no unilateralismo. O que chega a apro-

ximà-lo. em uma questão fundamental, do re-

formismo.

Mas as criticas políticas de Ruy não ficam

ai. Ele afirma corretamente que "uma

organi-

zação que tenha uma prática interna autorita

ria agirá assim também com a massa", e que

essa é de longe a atitude predominante nas

tendências estudantis. A seguir, porém, ge-

neralizadetalformaaacusação de manipula-

çãoeaparelhismoparatodaaesquerda.emto

dos osnomentos que acaba por ignorar a

grande diversidade (em intensidade e quali-

dade) na ocorrência desses erros nas corren-

tes populares no pais, além de deixar na som-

bra os muitos esforços que /êm sendo fejtos

para entender e superar essas deformações,

sem abandonar o rigor na análise e a firmeza

na ação.

A superficialidade de suas observações,

presente em quase toda a entrevista, marca

também sua opinião sobre o PT "Atrair

deter

minados setores populares" foi a única das"vantagens

(do PT) em relação aos outros par-

tidos de oposição" que Ruy menciona. Não

tendo feito qualquer indicação sobre a situa-

ção e as tarefas e necessidades do movimen-

to operário e popular na conjuntura politica,

ele não nos permite saber o porquê de sua op-

ção pelo PT.

Essaatitude, dealheamento à luta popular

e superficialidaae, a nosso ver tem um fundo

ideológico que fica claro no conjunto da en-

trevista. Para Ruy, "toda

transformação social

deve ter como fundo o homem". Mas de que"homem"

está ele falando9

A teoria marxista da revolução afasta-se as-

sim profundamente da visão de Ruy Mas

guarda também uma enorme distância da

"teoria" exposta por Duarte Pereira na sua cri-

tica à entrevista de Ruy. publicada na edição

seguinte de Movimento Para ele, "o

abe do

socialismo cientifico (..) ensina que (...) em ca-

da uma das etapas da revolução predomina a

realização básica de uma tarefa central: na pri-

meira etapa, a tarefa politica: na segunda eta-

pa. a tarefa econômico-social no domínio da

propriedade sobre os meios de produção: na

terceira etapa, a tarefa ideológica e cultural".

O mecamcismo presente nessa formulação è

aberrante. Uma revolução pode estabelecer a

propriedade estatal dos meios de produção,

sem que isso signifique parte da construção

do socialismo — propriedade estatal só è si-

nônimo de propriedade socialista quando o

proletariado, com o apoio de todos os expio-

rados do pais, detém o controle de fato do

aparelho de Estado, e mantém esse controle

em suas mãos. A propriedade socialista, sua

implantação e consolidação, pressupõe por-

tanto não apenas a "tarefa

econômico-social

no domínio da propriedade dos meios de pro-

dução", mas também, simultaneamente, o de-

sencadeamento de uma revolução no terreno

da ideologia e da cultura, instrumento indis-

pensável para assegurar o caráter proletário

do Estado. Decretar essas etapas, reduzir a

semelhante mecanismo a revolução proletá-

ria. postergando a revolução cultural, ê uma

postura teóricacuja função social è justificar

usurpação do poder por uma minoria de Ouro-

cratas e pseudo-comumstas em nome da

classe operária, è encobrir a substituição da

classe, pelo partido, processo que está na es-

sència da mais trágica derrota sofrida pelo

proletariado mundial: o alijamento dos ope-

rànos russos do poder pela burocracia, na

época de Stálin.

Na sua entrevista, Ruy acusa corretamente"a

maioria dos setores de esquerda no Brasil"

de "reproduzirem a ideologia burguesa em

nome daclasseoperária" quando classificam

apnoristicamente movimentos como o dos

negros, das mulheres, dos homossexuais.

Mas não vê a reproduçãoda ideologia burgue-

sae pequeno-burguesa por grande parte dos

quedefendemessesmovimentos.ouseja. os

que buscam orientá-los rumo ao mdividua-

lismo. à busca do prazer como ideal supre-

mo. à divisão do movimento popular pela con-

traposição de mulheres e homens, negros e

brancos, homcssexuais e heterossexuais.

Ruy acha que "os

exemplos de revolução

que conhecemos atravessam dificuldades

atualmente" e que. para se entender isso.

"existem alguns indícios a serem persegui-

dos". Em nossa opinião, pode-se afirmar que

a rigor nenhuma das revoluções realizadas

conseguiu até agora construir e manter o so-

cialismo no sentido marxista do termo, que

implica marchar decididamente para a eii-

minaçãodadivisãodasociedadeem classes.

E para se entender isso. e superar essa situa-

ção crítica, existem muito mais do que sim-

pies indícios. Hà uma larga experiência aeu-

mulada e uma teoria capaz de interpretar cien-

tificamente essa experiência e transformà-la

O que Ruy diz a respeito dessas questões,

mostra como é superficial seu domínio da teo-

ria. o que limita enormemente suas possibili-

dades de criticá-la e propor sua superação ou

modificação

Tudo que identificamos acima nas opiniões

e silêncios de Ruy mostra nitidamente uma

postura ideológica global, cujos traços essen-

ciais podem ser percebidos em boa parte da

esquerda, ou mesmo fora dela. especialmente

entre a de formação universitária.»

Ruy e o entrevistador cometem ainda um

outro erro grave: lançam-se à escolha de

quem levar para uma ilha deserta — Grande

Otelo ou João Amazonas. Laurence Olivier ou

Lênin etc. O aberrante está no mè«odo adota-

do para se fazer criticas que na verdade são

essencialmente políticas. As pessoas compa-

radas nas perguntas e respostas são na verda-

de incomparáveis. além de ser absurda a es-

colha necessariamente excludente a ser feita

entre elas -- e para que9 para gozar sua com-

panhia, parece O procedimento adotado des-

camba para o deboche e mais completa su-

perficialidade. quando nào leviandade

Por fim, queremos registrar nossa discor-

dância frente à evidente falsidade da afirma-

çãode Duarte de que Movimento teria se con-

vertido em "veiculo

privilegiado de certas cor-

-¦entes políticas". Todos os leitores do jornal

têm sempre a satis'ação de ver em suas pàai-

nas opmiões'diversiticadas sobre as mais di-

versas questões -- >nolusive as de Duarte Pe-

reira Em suma. com base na vida real, na si-

tuação concreta do mundo e da realidade bra-

sileira. e em seu desvendamento científico, c

necessário lutar por sua transformação. E oa-

ra essa tarefa, nem as posições de Ruy. nem

as Duarte, trazem, no essencial, uma contri

buição válida

Valdelio Santos Silva

(Ex-presidente do DCE-UFBa na gestão

1977/78. Atualmente, memb'9 do diretório es-

tadualdoPT-BA)

Marco Pereira

(Membro do Diretório Estadual dc PT. na

Bahia).

TRIBUNA LIVRE

Não aos discípulos de Gabeira

Justa e oportuna a análise que Duarte Perei-

ra faz da entrevista de Ruy César, nas páginas

de Movimento n° 313. Jà è tempo de desmisti-

ficar os que se iludiram com suas ilusões e fa-

zem, hoje. o prolongamento dos "marxistas

de Ipanema" e da "esquerda festiva", discipu-

los ideológicos do "Mestre" Gabeira.

É interessante notar que, historicamente, a

burouesia em si não suja as mãos: ela age

através da pequena burguesia, seja para ex-

piorar, reprimir ou confundir. E este papel au-

xiliarqueumaparteda pequena-burguesia irá

sempre desempenhar, porque, enquanto cias-

se, ela não tem um projeto para si.

É tal a ieviandade com que setores da pe-

quena-burguesia combatem a esquerda (leia-

se marxismo), que chegamos a ouvir afirmati

vas como esta: "Em

Marx, a parte econômica

esta certa, mas a politica esta errada"! E as-

sim vão, de pincelada em pincelada, destruin-

do verdades e construindo mitos.

Hà um fundo demagógico em tais pronun-

ciamentos. quando querem, para parecer"revolucionários modernos e compreensi-

vos", cooptar as minorias, e fazem um discur-

so cheio de lamentáveis equívocos, como

deixou bem claro a análise de Duarte.

Jà estamos enfrentando, a nível mundial, os

perigos da social democracia, e tais ataques

às bases de uma teoria e prática marxista-leni-

nistas so fazem servir como ponta de lança

para minando por dentro a formulação de

uma politica que sirva ao proletariado, ajudar

a implantar uma "nova

ordem" que mantenha

a dominação e exploração da burguesia serr

contudo causar qrandes traumas à pequena

nurguesia. sua linha auxiliar. (J.M.Brito).

Nós. moradores do Sitio Gurugi e Sitio Pari-

pe moramos em uma propriedade m 223

hectares, formada em 70 famílias, ro munlcl-

piodacidadedeConde Voltamos no.-.imente

aser ameaçados da mesma coisa qu« "osso-

fremos no passado, quando nós ma-damos

carta no dia 25 de outubro de 1979 para os jor-

nais. CONTAG. Federação dos Trabalhador*

Rurais e povo em geral Nenhuma : i vidên-

cia. e nós voltemos ser ameaçado *h novo.

quando que na outra vez o senhor João Gon-

çalves de Lima, nome que está na Escritura,

chegou querendo invadir nossas Éreas com

coqueiros, querendo fazer casa nas lavouras

dos moradores, projetando plantar cate debai-

xo dos nossos sítios que è mangueira roquei-

ro jaqueira, goiabeira. abacateiro ite, todos

feitos por nós. proibindo fazer casa doa mora-

dores que estavam caindo, devorando cajuei-

ros. mangabeiras Ele agora está começando

querer invadir os roçados e não deixa afincar

nenhum pau, para «a-er uma casa citando

com um projeto que è plantar cana Mesmo

assim ele falando que vai adquirir dinheiro do

Governo, porque se os moradores revOtt«r-ae

a destruir a cana. ele |oga a questão pera o go-

verno e fica de lado para o governo n-soiver.

que plantou com o dinheiro dele, e • • disse

que o governo pod^ brigar com os mói l lores.

Isso aconteceu sexta-feira dia 5 de ho de

61 quando ele veio acompanhado junto com

dois carros da Destilaria Tabu; conhe »mos

os fatos desta Destilaria de perto que é des-

truir casa de morador plantação de le ão. ro-

ça etc. Chegou no sitio Panpe na easa de um

morador, começou conversar com Ste estas

palavras, então junto com 7 homens todos ar-

mados com revólveres na porta deste dadào.

dizendo ele das áreas que os morador 'raba-

lhavam ele ia precisar da metade para Cantar

cana. quem tinha 2 ficava com 1... Cagando

em Gurugi ele talou que ia precisar das áreas

dos moradores que plantam gênero m> menti-

cio para plantar caria e vai fazer uma vila para»-

os moradores ficar então dentro de aervtÇO de-

le. Ele falou que vai trazer uma pes1- ><_ para

administrar o serviço dele porque quando fos-

se no fim de semana ia buscar o dinheiro do

pagamento do trabalhador, que os moradores

nào sabia onde ele morava. O senho; João

Gonçalves de Lima prometeu voltar no dia 10

do mesmo mês para percorrer as áreas que ia

plantar De que e que a gente vai viver se nf.o

pode plantar nada na vida e morando ia cerc -

do de cana o quintal Aí a qente tomamos a

decisão de procura' a justiça. Primeiro viemos

ao sindicato. Chegando ao sindicato falamos

com o presidente Então ele tomou a decisão

de ir à Federação Então ele disse à gente que

não precisava a gente ir à Federação, que ele

resolvia manutenção, foro em cartório ou de-

sapropriaçáo Mas o proprietário já disse que

nào aceitava foro para não dar problema pra

ele Quando que no dia 22 do mesmo més. fo-

ram 80 pessoas â Federação e o presidente

pediu para juntar o povo para tirar uma foto

para mandar para os órgãos comoetentps iun-

to com esta caria No dia 25 de junho, o

INCRA. tomando conhecimento pele jomel e

a Federação, chegou até nossas áreas 'oman-

do conhecimento como vinha ocorrendo e

corrigiu nosso trabalhos Mostramos um do-

cumento que nós adquirimos para te* i reaii-

dade de que ele Unha comprado ou nã e eles

anotaram alguma coisa Ficou bastanv admi-

rado com nossa plantação Chegou at<* a per-

guntar se nós trabalhava com o dinh<*»ro do

banco e nós falemos que nâo. tudo p feito

com nosso esforço na base de troca de dia.

Até agora nenhuma providência tomada.

Pedimos a Deus e as autoridades competem

tes que nos ajude para que nào falte gênero

alimentício para nós e para a cidade poraue a

gente está disposto a nào sair de lá porque

a qente nào tem pa-a onde ir. Queremo° uma

resposta imediata

Os moradores de Gurugi e Panpe

Conde. 30 de junho de 1981

MO\ IMK.NTO- 20 a 26 7 81^^^^^jÜ

Page 22: m®®mimw»-«a. ctaalui m

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ZONTE

TRIBUNA LIVRE

Sob o frio de SP, à

sombra da ditaduraResposta a Emiliano José

"Na realidade, a Bolsa da Valores está pa*ra a produção assim como a Qarota da Ipane

ma para o Pedro Pedreiro: se este último nte

pegar no batente de sol a sol em Ste Paulo,

a primeira nte poderá bronzear se calma-

mente, nesse mesmo sol, nas praias do Rio".

(Paulo Sandroni. O Que é Recessão,

Brasiliense, pág. 14).

O artigo de Emiliano exige alguns comen-

tàrios, mesmo que telegráficos.

1. Cabe, de inicio, ressaltar o tom em ge-ral amistoso da resposta de Emiliano. Mas

surge logo uma pergunta: por que a entrevis-

ta náo adotou o mesmo tom? Ruy pede res-

peito aos 50 anos de vida artística talentosa

e sofrida de Grande Otelo. Ninguém põe is-

so em dúvida. Mas os 50 anos de militân-

cia revolucionária de Amazonas também nâo

merecem respeito? E nâo foram Emiliano e

Ruy que faltaram ao respeito tanto a Grande

Otelo quanto a Amazonas ao inventarem es-

sa comparação mal-intencionada entre um

humorista e um revolucionário?

Em sua resposta, Emiliano nâo diz uma pa-

lavra sobre essa e outras comparações. Tam-

bém nâo esclarece sua critica de que a es-

querda, em bloco, seria "autoritária". Em con

trapartida, acusa-me de estar querendo, com

esses comentários, bloquear "qualquer dis-

cussâo". Nâo estou pretendendo impedir

qualquer critica a pequenos, médios ou gran-

des revolucionários, mas apenas exigindo

que, entre revolucionários e oposicionistas,

as criticas sejam sérias e amigáveis. Quem

nâo procede assim, nâo tem o direito de es-

tranhar o tom das respostas que receber.

2. E tratando-se de revolucionários, Emilia-

no e Ruy me acusam de tentar "apropriar-

me" da memória deles, para usá-la como "es-

cudo" etc. As referências que fiz a Fuchik,

Danielli e outros revolucionários, decorreram

de uma necessidade precisa: na entrevista,

de forma genérica e simplificadora, Ruy ha-

via afirmado que os revolucionários, sobre

tudo os grandes revolucionários, sâo homens

sombrios, que não sabem sorrir, trepar etc.

Aliás, em sua resposta. Emiliano voüa a in-

sistir na pretensa existência de um "mo-

delo de revolucionário constantemente car-

rancudo" etc. Era preciso mostrar com ai-

guns exemplos que essa imagem simplista

nào tem fundamento e só ajuda a propagan-

da burguesa contra os revolucionários

Havia ainda outro motivo para as referên

ciais precisas que fiz. E que. em 1972, Daniel-

li e eu combinamos providenciar uma nova

edição da obra de Fuchik, "Testamento sob

a Forca", justamente para mostrar que, mes

mo em tempos sombrios como os do nazis-

mo ou do governo Mediei, os revolu-

cionários podem manter sua serenidade e

uma alegria militante.

3 Mas alegria militante não significa, ne-

cessariamente, prazer corporal. Emiliano per-

gunta de onde tirei a idéia de que "Ruy

pro-

pôs unir politica e prazer sob a cadeia e a tor-

tura". Tirei da entrevista quando Emiliano pe-

de que Ruy "fale

um pouco mais da relação

entre a politica e o prazer" e ele responde:"Fico

sempre com os dois". Pretender unir

sempre politica e prazer é lançar uma afir-

mação insensata ou renunciar a uma politicarevolucionária. Só numa perspectiva social-democrática, reformista, pode-se tentar as-

sociar sempre militância politica e prazer cor-

poral. E não preciso repetir o caso extre-

mo da tortura. No livro brilhante que Emilia-

no e Oldack escreveram sobre Lamarca, en-

contram-se outros exemplos das privaçõesafetivas e sexuais que podem ser impostas

aos revolucionários que não renunciem a

seus ideais

4. Agora eu é que não sei de onde Emilia-

no tirou a idéia de que não reconheço a im-

portância e a especificidade de movimentos

como os das mulheres, dos negros, dos in-

dios etc. Para ficar em exemplos facilmente

comprováveis, os companheiros de .Movi-

mento sabem que, em várias oportunidades,

propus ou apoiei matérias sobre esses te-

mas, desde que sérias e multilaterais. O pri-

meiro "Ensaio Popular" que escrevi, em

1975, foi sobre o problema feminino. E pro-

pus e pautei inicialmente a edição especial

de Movimento sobre a mulher apreendida pe-

la censura.

Também nâo alimento o menor preconcei-

to contra homens e mulheres que tenham pre-

ferèncias homossexuais. Mas justamente

por isso acho que se deve fazer a eles as mes-

mas exigências que aos demais, tanto nas

questões politicas e ideológicas gerais, quan

to nas relações entre sexo e compromisso

afetivo e político. Nâo se combate a discrimi

nação sexual refugiando-se em guetos ou

exigindo privilégios.

As nossas divergências se situam, por-

tanto, em outros pontos. Primeiro, não acho

que esses movimentos sejam essencialmen-

te novos. Segundo, entendo que a efetiva so-

lução desses problemas específicos está su-

bordinada à solução do conflito básico de

nossa época, entre o capital e o trabalho. Ter-

ceiro, pelos motivos expostos, julgo neces-

sário manter-se, tamt>ém nessas questões,

um firme ponto de vista de classe,proletário,

pensando-se basicamente do ângulo das

massas operárias e camponesas e nâo con-

fundindo as soluções burguesas e p»squeno--burguesas com as soluções efetivamente re-

volucionárias e proletárias. A esse respeito,

as referências de Emiliano à "moral

proletà-

ria" continuam ambíguas, pois não se trata

apenas de construir uma "nova" sociedade e

uma "nova" moral, mas uma sociedade e

uma moral socialista, proletárias.

5 Também não defendo nenhuma concep-

ção de etapas revolucionárias "estanques"

ou que seja necessário "esperar

pela chega-

da do socialismo para começar a lutar pe-lo lúdico, pelo prazer das massas" Em meu

primeiro artigo, afirmei justamente o contra-

rio: que em todas as etapas existem tarefas

políticas, econômicas, culturais: que se trata

de fases de um processo revolucionário ba-

sicamente o mesmo e proletário; e que, ain-

da sob a dominação burguesa, é possível e

necessário conquistar vitórias parciais, tanto

econômicas, quanto politicas, culturais, se-

xuais. Também não acho que nem a vanguar-

da, nem as massas "se

eduquem em três eta-

pas"; as etapas não se distinguem do ponto

de vista da educação e organização, mas das

tarefas a cumprir.

Nossas divergências, portanto, são outras.

Existem ou não etapas caracterizadas poruma tarefa central? Na presente etapa, a luta

pelo poder é ou não a tarefa central, à qualas outras estão subordinadas e devem ser-

vir? E sendo assim, enquanto essa tarefa não

for cumprida, é ou não verdade que as de-

mais vitórias sâo limitadas e instáveis?

Haveria ainda muito mais que comentar,

como as opiniões atuais de Emiliano sobre o

PC Brasileiro e a URSS, ou sua tese de que,

para combater o imperialismo norte-america-

no, é preciso apoiar-se no social-imperialis-

mo soviético. A esse respeito, aliás, seria in-

teressante confrontar nossos pontos de

vista para ver quem está sendo capaz de pen-

sar dialeticamente e apreender o novo e quem

está se deixando levar pela lógica formal do

senso comum. Mas o espaço se esgotou.

Saudações combativas (contra a ditadura,

sua "abertura sexual" e sua tentativa de uti-

lizar os equívocos da chamada "politica do

corpos para despolitizar segmentos impor-

tantes da intelectualidade progressista e da

juventude estudantil).

Duarte Pereira

22MOVIMENTO

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20 a 26/7 81

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muito mais a ver com a arquitetura rio

que com a literatura propriamente dita.

Isto no aspecto formal. No aspecto te

mátieo. o simples abandono da lingua-

gem metafórica por uma linguagem ob-

jetiva, direta, já impõe um novo cami-

nho. Trata-se do problema de retratar o

nosso tempo de uma maneira perceptí

vei ao nosso tempo.

Movimento — Há aí uma influência

ela linguagem da imprensa, da televi-

são?Dias Gomes — Fm especial da tele-

visão.E evidente que os novos meios rie

comunicação impuseram um novo tipo

rie percepção ria realidade; o especta-

rior vem condicionado por uma nova

maneira de apreender o mundo e é claro

que nós temos que levar isso em conta,

se quisermos que o teatro sobreviva.

Movimento — Você acredita então

que. com "Campeões

do Mundo", supe-

rou a contradição, muito acirrada nos

anos 60, entre um teatro de tese, discursi-

vo, baseado quase que exclusivamente

na palavra, e um teatro experimental,

que se servia mais de recursos com a ex-

pressão corporal, a utilização do espaço

cênico etc?

Dias Gomes — Essa contraposição,

quando levada ao radicalismo, fica in-

teiramente furada, porque nem se pode

eliminar a palavra do palco, como cjue

riam alguns — porque a palavra e o

44 Há duas maneirasde combater o

sistema. De fora

para dentro, é

preciso armas.•i

'A mim tanto faz que o veículo seja

o teatro, pobreou rico, o cinema ou a televisão".

meio de expressão mais inteligente que

o homem criou até hoje — nem se pode

condenar o experimentalismo que bus-

que desenvolver a expressão corporal, o

aspecto visual do espetáculo.<J que predominou, nos anos 70. foi

um radicalismo dessa segunda forma.

Pretendeu-se banir a palavra do palco e

pretendeu-se fazer isso para se adaptar

ao regime, ao qual interessava, eviden-

temente, um teatro desse tipo. forma-

lista em sua essência, um teatro que

não questionasse coisa alguma, enfim,

um teatro que não incomodasse. Eu

não estou querendo dizer que as pes-

soas que se entregaram a esse tipo de

experiência estivessem a serviço do re-

gime ou fossem partidários do sistema.

Esse era o espaço que o sistema lhes

deixava e essas pessoas ocuparam esse

espaço. Não hà nenhum mal nisso; o

mal está em querer impor isso como um

dogma. De certo modo, "Campeões do

Mundo" é uma volta também à pala

vra. porque é uma peça-debate.

Movimento — __ como você vê as revi-

soes que vários artistas têm feito ulti-

mamente daquilo que produziram du-

rante os anos de maior repressão poli-

tica e que ficou conhecido como "cul

turu de resistência"? Eles parecem pro-

por agora uma arte menos engajada

politicamente.Dias Gomes— Fu não mudei; conti-

mio acreditando nas mesmas coisas que

acreditava. "Campeões do Mundo"

guarda, me parece, uma perfeita coe-

rência ideológica e temática com todo o

meu teatro anterior. Talvez haja ino-

vações formais, pela necessidade que

apontei de encontrar um novo caminho

ante novas condições, ante um novo

contexto social.

(Jue as pessoas se exorcisem. Mem

pra fora os seus demônios, laçam uma

revisão de sua atuação artística c poli-

tica. eu acho muito saudável e. dc certo

modo. também faço isso em "Cam-

peões do Mundo". Agora, não pretendo

cair na posição de negar tudo. rie achai

que os novos caminhos são o oposto rie

tudo o que se fez c de que a arte deve

adotar um total riescomprometimento

com a realidade.

Movimento— Numa outra entrevista,

publicada no jornal 0 Estado de S. Pau-

Io. você enfatizou que um dos méritos

de sua peça era o de apontar erros que

cometemos no passado, contribuindo,

dessa forma, para que eles sào voltem a

ser cometidos. Que erros foram esses?

Dias Gomes— A peça. apesar rie pre-tender ser um painel histórico, um mu-

ral dramático, rie rememorar fatos rie

nossa história recente, não é uma peçasobre o passado, mas sobre o presente.A pergunta que ela coloca é

"agora, o

que fazer?". Para isso. é preciso que a

gente saiba, pelo menos, o que não fa-

zer. já que é muito difícil apontar ca-

minhos e soluções e eu acho que esta

pão é a função do teatro. Teatro não

muda nada. nào transforma nada. ele

apenas pode levar o espectador à cons-

ciência ria necessidade de transformar

o mundo.

A peça focaliza a época ria luta ar-

macia, em que unia parte da esquerda

optou por esse caminho. Fala dc grupos

que se formaram, come* a ALN. o MR-8

a VAR-Palmares etc*, que tinham como

filosofia revolucionária a teoria do fo-

quismo. o foco guerrilheiro que. na

acepção riesses grupos, deveria levar o

pais a revolução. Esse lamentável equi-

voco conduziu o país a situações rira-

máticas que todos conhecem.

Movimento— Alguns militantes des-

sas organizações, que sobreviveram à

repressão do regime, fizeram denois

autocríticas em que reconhecem os er-

ros uue você aponta, mas argumentam

que cometeram esses erros na busca

de uma resposta revolucionária para

um erro anterior e maior, o do "reformis-

mo" do Partido Comunista Brasileira,

que teria sido, inclusive, parcialmenteresponsável pela derrota sofrida pelas

forças populares em 1964, na medida em

que alimentou ilusões que deixaram o

fetivo despreparado para resistir ao gol-

pe.

Dias Gomes— Essa pode ser uma ex-

plieação. Na verdade, o foquismo veio

ao Brasil de fora. Não se pode respon-

sabilizar o PC por isso. porque as teo-

rias de Régis Dcbray vieram ao Brasil

via Cuba. a partir rio congresso ria

OLAS (Organização Latino-Americana

rie Solidariedade), ao qual compareceu

Marighella.

No que diz respeito ao PC. é possível

que a teoria do foco tenha encontrado

terreno fácil de germinar onde o re-

formismo havia plantado uma protun-

ria insatisfação, uni imobilismo que ria-

va a sensação total rie impotência. Ele-

mentos como Marighella. por exemplo,

rie quem fui grande amigo, tiveram ate

um componente existencial, embora

nao fosse o fundamental, na sua opção

pela luta armada; o tempo que passava, a

idade que vinha e o Partido perdido em

riiscussões e testes que colocavam a re-

volução como uma coisa remota, para

os nossos netos. Mas essa explicação

vale apenas para os elementos que ra

cha ram dentro rio Partido e me pare-

ce que a grande maioria era constituída

por jovens, na faixa rios 20 anos. que4

nem haviam passado pelo Partido. Em•"Campeões rio Mundo", existem três

desses jovens, que. juntamente com um

demento mais velho, proveniente rio

PC. seqüestraram um embaixador.

Movimento — Na entrevista já citada.

você se referiu ao chamado "milagre

brasileiro" como uma quimera. Muitos

militantes ele esquerda fazem hoje uma

autocrítica desse ponto de vista, que,

segundo eles, os teria levado a suhes-

limar o eidversário. pois. ao atribuir o

milagre" a uma simples manobra pro-

pagandísiica. não avaliaram correta-

mente as mudanças que efetivamente

estavam ocorrendo no país e que per-

initiam ao regime militar sua base de

sustentação social.

Dias Gomes — Nós sempre subesti-

mamos muito. Em 1%4. por exemplo,

acreditava-se que o novo regime nao

duraria mais rio que alguns meses Não

se levou em conta que o inimigo havia

se preparado durante décadas. Se tor-

mos buscar funde* iu, raízes do golpe

dc b4. talvez tenhamos que recuar ale

mesmo ás revoluções rie 1922 e 1924. Se

fizermos também um levantamento rie

nomes, personagens, iremos encontra--

los já a partir rie I930, atuando no ce-

nário político nacional. Os generais de

M eram capitães e majores em 45. En-

Iim. o inimigo se preparou e se exer-

citou através rios anos. Isso tudo foi su-

bestimario.

44«0 foquismo veio

ao Brasil de

fora. Não se poderesponsabilizar o

PC por isso..."

Movimento — E o milagre?

Dias Gomes — Não houve o "mila-

gre". Houve uma mágica, que caiu por

terra quando a platéia descobriu como

c que o mágico fazia a mágica. Claro,

houve um desenvolvimento econômico.

mas a um preço que viria acarretar o

que hoje estamos pagando. A par de tu-

rio isso. procurou-se. através ria propa-

ganria. criar a imagem rie um país

grande, candidato a superpotência, que

absolutamente não correspondia á rea-

lidade. mas que servia sob mediria para

encobrir essa realidade, principalmentea realidade social, as atrocidades ás

custas rias quais o regime se mantinha.

Para isso. servia até a conquista rio tri-

campeonato rie futebol, embora, evi-

rientemente. os jogadores não tenham

nada a ver com isso. Mas. nada melhor

para vender o "milagre brasileiro" rio

que o campeonato mundial. E por isso

que eu faço. na peça. uma manipulação

histórica, fazendo coincidir o seqüestro

rio embaixador com o dia ria conquista

rio tricampeonato. Esse paradoxo serve

também para evidenciar, dramática-

mente, o isolamento dos seqüestradores

em relação ao próprio povo. Isto é. en-

quanto o povo comemorava nas ruas o

tricampeonato. um grupo jovem, tran-

cario numa casa. mantinha seqüestra-

rio um embaixador estrangeiro.

Movimento — Voltando um pouco á

sua visão de teatro. "Campeões

do

Mundo" pode ser caracterizada como

uma peça cara: eslá sendo encenada

por atores de primeira linha o própriocenário, embttra busque a funcumali-ilade e não t> luxo, certamente tião

custou barato. O que você pensa da

proposta, que iá chegou a ter muitos

defensores, de um "teatro

pobre"?

Dias Gomes — A gente só defende ex

teatro pobre quando não tem dinheiro.

Movimento — E a televisão? Você

int hulha na Rede Globo, escrevende,"O

Bem Amado", que aliás lem sido

um grande sucesso. Como vttcê encara

o fato de uma produção cultural que

pretendi' ser a nica em relação á reali-

dade estar sendo veiculada por uma•trande empresa capitalista comprome-

lida. ele certa forma, com a manuten

ção dessa mesma realidade?

Dias Gom'*s — Eu acho que. se o ar-

lista não é violentado nas suas idéias,

não constitui crime nenhum ele traba-

Ihar nesse ou naquele meio de divulga-

ção. seja ele pobre ou um vasto comple-

xo industrial. Eu sou um escritor; se

ninguém me diz o que eu devo escrever,

a mim tanto faz. que o veículo seja o

teatro, pobre ou rico. o cinema ou a te-

levisão.

Movimento — Mas isso não se deve a

você ser o Dias Gomes? Isto é. o fato de

você ser um escritor consagrado talvez

lhe dê uma liberdade de expressão de

que outros artistas menos famosos não

dispõem?

Dias Gomes — Sim. eu só posso falar

no meu caso pessoal. Se ninguém me

impõe mudar de idéia, se as idéias emi-

tidas são as minhas não há porque não

trabalhar na televisão. Eu acho até que.

quando se trabalha num terreno tido

como do sistema, se faz um trabalhe

politicamente positivo, porque se está

ocupando um espaço e minando o sis-

lema. Como você sabe. há duas ma-

neiras de combater o sistema, de tora

para dentro e de dentro rio próprio sis-

lema. De fora para dentro, é preciso

que você tenha armas...

Movimento — Em sentido figureidaou literal?

Dias Gomes — Em qualquer sentido

que você tome. Se você não tem essas

armas, só lhe resta uma solução: tomai

as armas do sistema c operar dentro rie-

le. f claro que o sistema não é bobo

nãe* vai deixar vckc* usar essas armas li-

vremente. ou pelo menos na mediria

que você desejaria.

Movimento— O Bem Amado" tem

sofrido algum tipo de restrição por par-ie da emissora?

Dias Gomes — Por parle da emissora

não. ele tem sido muito cortado pelaCensura Federal. E uma censura poli-liea. não moral, como o governo querlazer crer.

Movimento — Esse recrudescimento

da censura atingiu também os "Cam-

peões do Mundo"?

Dias Gomes — Quando a peça já es

lava em seu quinto mês rie exibição, no

Rio cie Janeiro, a censura impôs dois

cortes. Foi. aliás, o primeiro sintoma

desse recrudescimento. Agora, deve ter

entrado no Conselho Federal de Censu-

ra um oficio meu pedindo a liberação

riesses dois trechos. Pode ser que a si-

tuação melhore, que pare por aí. ou que

feche ainda mais. Isso ninguém pode

prever. Tudo depende do contexto poli*

tico, das bombas e dos IPMs.

23

MOVIMENTO - 20 a 26/7/8118 :.*--.;¦_ ot/:_mi/om

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FNTREVISTA COMO AUTOR DE"CAMPEÕES

DO MUNDO".Foi / limo pegar em armas contra a

ditadura militar, como ocorreu a partii

do fina los anos ô<>'' Havia, na época,

a possibilidade de se fazer uma oposi-

çâo coiitcqucntc M regime por outros

caminhos? A luta armada ajudou ou

atrapalhou o povo brasileiro em seu

processo de tomada de consciência po-

lítica c ile organização? Num momento

em que vários militantes de esquerda,

sobreviventes daquele período, avaliam

publicamente sua atuação revolucio-

uária nesse pa.ssado recente, Duts Go-

Mes leva ao palco estas perguntas.

Campeões do Mundo", concebida co-

mo um mural dramático sobre os 15

anos de história brasileira eompreen-

d idos entre 1963 e 1979, estreou na se-

• nana passada em São Paulo, no Teatro

Brigadeiro, depois de cinco meses de

sucesso no Rio de Janeiro.

Dentro de um cenano neutro e fun-

ional. que permite ifue várias açòes

ocorram simultaneamente, as cenas se

sucedem ou sc justapõem sem cronolo-

gia linear, aliei liando diálogos realistas

e construções alegóricas, momentos in*

tintos c movimentações de massa, o

presente c diferentes .amadas do pas-¦ado. uconsdiuídas em llash-back.

sJessa linguagem fragmentada, con-

lemporãnea. Dias Comes constrói um

quadro multilateral desses anos terri-

veis. em que o cerceamento de várias

possibilidades legais dc ação politica. a

tortura v o assassinato conviveram com

a idéia de uni "milagre

brasileiro e

com a euforia provocada pela conquista

da trutimpeonato mundial de futebol,

habilmente capitalizada pelo regime

O centro de gravidade da peça situa-

se em 1970, no auge do governo Mediei,

quando, por meio dc um recurso dra-

mático. Dias Gomes faz coindidir o

momento do seqüestro do embaixador

americano por um grupo engajado na

lata armada com a momento da vitória

definitiva da seleção brasileira de fu-

tebol nos campos do México.

Movimenta mviu Dias Gomes sobre

os "Ciimpcòes

do Mundo" c aqui estão

suas idéias para os interessados no de-

bate.

\1o\iineillo Conto f;io processo de

,,. ,.,, ,/o •(

, n/H-in s ilo Mundo'?

Dias Gomes — "( au peões do Mun-

" nasceu d necessidade pess» a! c\c

. ,/c - prop. uma rcflcsüo sobre as

!i,,r. in<as décadas de nossa história.

"Campeões do Mundoé a bi?sca de umanova linguagem

para un novo tempo.Sem metáforas".

foi escrita eu lc>~v>. n as já estava na

minha cabeça, conto proposta, dois ou

três ai'i s aui" - In a*, luiva. porem, quenão adiantava escreve la porque a cen-

sina não por itiria que ela fosse levada

acena In W"*9. eon a mal-chan ada'abertura",

percebi que era o mon ent o

ile \'e/i Ia.

A peça se bii »cia en pesquisas, en de-

\%\'w entos que eu recolhi. A maior par-le dos livros de n eu irias sobre aquele

período loi | ublicada depois, n as cu li

IHtli o que podia ler a respeito na

imprensa, en |0~u | vidcnlcn ente. há

uoi hén uu a contribuição dc n ii I a is

lória políiic./. de .Wanmdc n ilitância.

Apesar diss. 'Can

peites úo Mundo"

nâo c um ile| imento pessoal. I ii procm- ¦ < c colocai dc lora e propoi m ;i

discussão. Na« pretendo dar un uva-

di . p as dãl a-. cspecLulor coudiçi'cs de

Dias Gomes

põe pra foraseus demônios

A crítica ao

esquerdismo e ao

teatro formalista,submisso.

1 José Tadeu Arantes

m\We^ ™ BpSFUf''-f W^H BBMBÍmM

BWmBBmMí:* 'm WMW^

II vil PwK '

li H I . I : HPfWMm^' bI^H^I PI ^m

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W ^mSÊÊtÊmjM ItW WÊ mWFíWk ^B B^

Sr "K*>W *WM ^^^Bm\ _w

9

-^^ A-^**~~

****' ' *Êm\**A

Dias

avaliar, de julgar, se possível, e che.uar

ás suas próprias conclusões.

I' claro quc o autor nunca pode ser to-

lahl ente isento, i evidenle que eu te-

nho uma visão de mundo e que.mesmo

que eu não queira, esta visão do mundo

acaba transparecendo em minha obra.

Entretanto, há uma preocupação de eli-

minar totalmente 0 nianiqueísmo, de

não transformar está página de nossa

história recente numa luta entre bons e

|i íuis. anjos e demônios.

Movimento — Como a peça se situa

¦rente às várias tendências da drama-

m fia brasilei ra?

Dias Gomes A peça pode ser vista

ei it n lin a retomada dc caminhos proi-

I* un a retomada m> sentido de

questionar a realidade brasileira, que

ei a o veio central da dramaturgia sur-

i;ida nos anos 50. M). Mas. ent outro

sentido, ela é a busca de uma nova lin-

lÜtagCU' para um novo tempo. Nós pas-

sao os 15 anos sob a ditadura, escre-

tendo con n et aforas, quc era a única

•< aneúa de conseguir dar um depoi-

p cnio. transmitiu um discurso sem que

Hc fosse proibido pela censura: nos ex-

pressan os lauto através de metáforas

que isso quase eUegoü a sei uma dclór-

p ;içào (|;i linguagem teatral. "Cam-

Mundo" é una peça sem na-

oras. Daí surge o problema de en-

u nirar uu a nova lingnagCm. de achar

iip iu vc cau inho. Não acredito que es-

le seja o único can inho. m.is. pelo me-

pt s, e im a proposta.

Itastean cme. no aspecto formal, a

peça pr» cura evidenciar a poesia da

c» nsiiuçàn dran ática. cir detrimento•< cvS.i literária tradicional, que ad-

d< s diúloui s. I ii acredito que a

I im;i i\,i ei iistiiição dramática é a

1.1 sui incente ao teatro. A poesia li-

ieiária é uu eu prestiiro tomado á li.e-

i;Oina Sen pie achei que o teatro lem

Continua na página 23

r/iuai^i^yiiâíWi'!1!1'1''1*!'

(Àomes: a retomada de caminhos proibidos¦,1._w,.,.,,,.,

\v>PnY^káv(- ¦ —, ¦¦ . ¦ <¦' ¦ >'."•* ——- —rui,,!,»,!,,., tV ¦¦¦

bmbmhm