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ESPBCIAL/4 PÁGINAS
»5 COSTASLARGAS DOS
OPERÁRIOSComo eles reasistem
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da crise econômicaPáginas 11 a 14
EXCLUSIV0,de BOSTON
A GUERRAQUE RE AG AN
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NOSSA OPINIÃO
POLÔNIA
União Soviética
já está intervindona Polônia
O
IX Congresso Extraordiná-
rio do Partido Operário Uni-
ficado Polonês (POUP) rea-
cendetl a discussão sobre as
relações da Polônia com a
União Soviética. No mais das vezes, essa
discussão gira em torno da seguinte per-
gunta: a Rússia intervirá na Polônia?
Ora. essa forma de colocar o problema
pode esconder o lato de que a União So
viéticajáestá intervindo nos assuntos in-
ternos poloneses. E necessário que as
forças democráticas e antiimperialittas
mostrem a realidade da intervenção em
curso e oponham o princípio da autode-
terminação dos povos aos argumentos
que legitimam essa intervenção.
A ingerência soviética na Polônia obje-
tiva golpear os que lutam por liberdades
democráticas, contra a deterioração das
condições de vida do povo e pela inde-
pendência nacional; isto é, que lutam
contra o regime político e a poli mt
econômica avalizados pela União Sovié-
tica. Essa ingerência tem combinado
pressões econômicas, políticas e. inclusi-
ve, militares. Todos se recordam que, no
ano passado, o governo polonês só obteve
o beneplácito de Moscou para absorver a
criação do sindicato livre Solidariedade,
depois que esse sindicato aceitou a exi-
gência de fazer constar do seu estatuto a
declaração expressa de que aceitaria o
alinhamento da Polônia à política ex-
terna soviética. Mais recentemente, os
dirigentes russos náo tiveram pejo em di-
vulgar uma famigerada carta á direção
do POUP, na qual Brejnev arvora-se o
direito de ditar os rumos que a política
polonesa deve toifiar. De resto, já existe
uma virtual ocupação militar da Polônia.
Mais de 600 mil homens das tropas do
Pacto de Varsóvia permanecem acanto-
nados no país.
Algumas
idéias errôneas têm
desviado certos setores de-
mocrátieos de um posiciona-
mento mais firme contra as
ntervenções soviéticas na
Polônia. Atirma-se que o sindicato Soli-
dariedade é um mero joguete nas máos
do imperialismo ocidental. Essa afirma-
ção é falsa e induz a graves equívocos
políticos.
Em primeiro lugar, é necessário desta-
car uma consideração de ordem tática.
Da mesma forma que o povo de El Sal-
vador não tem porque recusar, como se
se tratasse de uma questão de princípios
uma possível contribuição material da
União Soviética para a sua luta contra o
imperialismo norte-americano, do mes-
mo modo, o sindicato Solidariedade não
tem porque colocar como uma questão
de princípio a recusa, por exemplo, da
ajuda financeira que lhe é oferecida pela
conservadora central sindical norte-ame-
ricana AFL-CIO. O único princípio que
conta é o de que o movimento seja essen-
cialmente independente, que se sustente
basicamente com seus próprios recursos,
e. portanto, a questão que se deve colocar
diz respeito apenas ao montante e á mo-
dalidade dessa ajuda.
Em segundo lugar, a amplitude e a lon-
ga história da luta que redundou na cria-
ção do sindicato livre Solidariedade evi-
denciam que ele não é um simples jo-
guete nas mãos do imperialismo norte-
americano. O imperialismo norte-ameri-
canotenta visivelmente se imiscuir nesse
movimento mas ele não é a principal for-
ça que atua no seu interior. Quanto a
atual direção do sindicato Solidariedade,
é certo que ela possui limitações. Não
combate com firmeza o imperialismo
ocidental e busca um compromisso com
o governo polonês —
governo cuja poli-
tica de submissão a Moscou é patente.
Contudo, essa direção representa uma
força na luta pela democracia e pela in-
dependência nacional da Polônia.
Por
último, mesmo que o sindica-
to Solidariedade fosse manipu-
lado de fora pelo imperialismo
ocidental, caberia perguntar:
quem outorgou á URSS o papel
de guardiã da soberania nacio-
nal da Polônia? As grandes massas do
povo polonês não lhe concederam esse ti-
tulo. Pelo contrário, o povo polonês, ao
longo dos últimos anos, não tem feito ou-
tra coisa senão expressar o seu protesto
contra a tutela e a dominação soviéticas.
Segundo os dados fornecidos pelo pró-
prio governo polonês o sindicato oficial
esvaziou-se— hoje. não reúne nem a me-
tade dos trabalhadores agrupados no
Solidariedade — e 80% dos poloneses
não esperam nada ou esperam muito
pouco da chamada política de renovação
do atual governo submisso à URSS.
As grandes massas do povo polonês lu-
tam pelo direito de decidir sobre o des-
tino da sua pátria. O sindicato Solidarie-
dade é. hoje. um importante canal de ex-
pressão dessa luta. As forças democráti-
cas e antiimperialistas cabe solidarizar-
se com essa luta e denunciar a atitude ar-
rogante e a prática intervencionista da
União Soviética.
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I fil civil cm HI... pontue não?
A FRENTE DE OPOSIÇÃO
Por um programa de uniãocontra o regime
Enquanto
o movimento popular
procura elevar o nível de suas
lutas para não ter de pagar os
custos da crise atual, as prova-veis eleições de 1982 começam
a se converter no eixo da luta
política que se trava no país. É necessá-
rio, portanto, que a frente democrática
aprofunde o debate sobre o tipo de inter-
venção que se deve ter no processo elei-
toral.
A frente democrática não pode se dei-
xar enfeitiçar pelo canto da sereia. Fi-
gueiredo prometeu eleições de modo en-
fático e firme. Tão enfático e tão firme
quanto o foi seu líder no Senado , Nilo
Coelho, ao prometer a pronta apuração
do atentado do Riocentro. As frases e
promessas desse regime não são dignas
de confiança: a realização das eleições de
1982 dependerá da capacidade da opo-
sição manter o governo acuado sobre
essa questão e não de um suposto com-
promisso democrático de Figueiredo.
Quanto ao caráter das eleições realizadas
sob o regime militar, é necessário desta-
car que essas eleições constituem-se ne-
cessariamente numa farsa. Porém, ape-
sar disso, elas interessam à oposição.
Permitem a agitação do programa oposi-
cionista junto às grandes massas do povo
e possibilitam a conquista de cargos que
favorecem o avanço da luta democrática.
Os democratas precisam denunciar o
caráter das eleições que o regime patro-
cina e, ao mesmo tempo, obrigá-lo a
realizá-las.
Para conventer as eleições manieta-
das de 1982 num momento privilegiado
de luta contra a ditadura militar, é da
maior importância que as forças oposi-
cionistas definam um programa unitário
que deverá ser agitado no curso do pro-
cesso eleitoral. Esse programa unitário
deve centrar-se nos pontos mínimos do
programa democrático e na denúncia do
fato de que as eleições realizadas pelo
regime comportam tudo, menos a possi-
bilidade de o povo eleger um regime
democrático para o país. A frente demo-
crática pode transformar a campanha
eleitoral numa verdadeira campanha de
luta pela Assembléia Nacional Consti-
tuinte livre e soberana e necessita defen-
der, com vigor, a plena liberdade de
organização partidária para todas as cor-
rentes democráticas e populares, e a ime-
diata realização de eleições livres e dire-
tas para a presidência da República coi-
sas que as eleições patrocinadas pelo re-
gime excluem de saída.
A definição de um programa unitário
das oposições não signifca a fusão, numa
só agremiação, de todos os partidos
excluídos do governo.
Essa fusão representaria, no atual
momento, um passo atrás. A frente de-
mocrática se fortaleceu com a depuração
do antigo MDB e com o surgimento do
PT. E pode fortalecer-se mais ainda na
medida em que cresça o peso dos setores
do PDT e do PT que defendem para
esses partidos uma postura de oposição
ao governo e também ao plano político
do atual regime.
Capa (ie Jota Foto de Ricardo Malta Agência F4
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MOVIMENTO — 20a 26/7/81,
BRASIL
PARTIDOS
JOGO DA OPOSIÇÃOO governo parece recuar no casuísmo e a fusão fica como a carta na manga oposicionista.
Tibério Canuto
Quem nutria esperanças de que a reu-
nião dos partidos de op»~>sição. realizada
na semana passada em São Paulo, apon-
tasse para a fusão imediata desses partidosou para uma clara política de unidade das
oposições em 1 982. só deve ter chegado a
uma conclusão: a reunião,da qual partici-
param o PMDB. PP. PT e PTB, produziumuita pólvora para pouco chumbo. Não
foi possível ir além do que a adoção de uma
política de advertência, na qual os parti-dos reunidos ameaçam o governo com a"sua
completa unidade de ação", ressal-
vando a "individualidade de cada um".
Tampouco foi possível definir, maisexpli-
citamente. qual a alternativa das oposi-
ções, em termos de poder, para a crise do
regime. De outra sorte, os saldos da reu-
nião indicam que em relação à fusão, os
partidos oposicionistas preferem se com-
portar como se estivessem num jogo de"pôquer": utilizá-la como um blefe ou co-
mo uma carta escondida na manga da ca-
misaquesódeveserjogadanamesaemúl-
timo caso.Os resultados da reunião devem ser
medidos menos pela modesta declaração
de intenções divulgada ao seu ftnal e mais
pelo acontecimento político que ela repre-
sentou. A começar por ter conseguido fa-
zer com que sentassem à mesa o presidente
do PMDB. Ulysses Guimarães, o do PT.
Lula, odo PP. Tancredo Neves e o do PIB,
Ivete Vargas. Fstava lá o primeiro time
desses partidos: pelo PMDB, Odacir
Klein, líder da bancada na Câmara Fede-
ral, o senador Teotônio Vilela e Marcos
Freire, e Mário Freire, e Mário Covas, pre-
sidente do PM DB-SP. Ao lado de Lula es-
tavam Olívio Dutra e Jacó Bitar, sindica-
listase da direçãonacional. além de Marco
Aurélio, líder do partido na Assembléia
Legislativa de São Paulo e pelo PP. acom-
panhavam Tancredo o ex-prefeito de São
Paulo Olavo Setúbal. Miro Teixetrae I ha-
les Ramalho. Pelo PTB. estiveram pre-
sentes o ex-governador do Amazonas.
GilbertoMestrinhoeseu líder na Câmara.
JorgeCuri, além do deputado Rafael Ma
galhães.Mas para chegar a isso. várias diliculoa-
iles tiveram de ser contornadas, come-
çando por não deixar que a ausência de
Leonel Brizola ofuscasse o encontro.
Surpreendentemente, o PD I recusou-se a
participar da reunião, sob o pretexto de
que Brizola não sentaria na mesma mesa
com Ivete Vargas.
ALém da ausência do PD1 e da sua
manifestada disposição de ser contrário a
qualquer tentativa de fusão, os articula-
dores da reunião ainda tiveram de vencer
barreiras, como o clima pouco amistoso
revelado por Lula. que ao chegar na sede
da OAB. foi declarando á imprensa:"sinto-me como se estivesse indo para
uma negociação trabalhista, onde sou
obrigado a negociar com os patrões".Fste clima preocupou Ulysses Guima-
rãese Odacir Klein, do PMDB. ao ponto
de promoverem uma reunião preventiva
no dia anterior, quando se acertou uma
minuta do documento a ser aprovado.
Para Odacir Klein, seria um desastre se as
oposições aparecessem publicamente di-
vididas. "dando
provas dc sua incompe-
tência."Se em algumas questões essência-s os
quatro partidos tiveram que utilizar dc
malabarismo lingüístico para dizer coisas
comuns, o mesmo não se pode afirmar
em outras questões. Assim, a declaração
de intenções apresenta uma firme posiçãode lutar pela liberdade sindical, de coniba-
ter a LSN. de lutar por eleições livres e
diretas, por liberdade partidária, pelodireitodevotoaoanalfabeto.dedefender a
estabilidade do emprego e uma justadistribuição de renda, de lutar por uma
política econômica que elimine os privilé-
giosdas multinacionais e do capital finan-
ceiro.Aliás, a defesa das bandeiras sociais e da
liberdade sindical com o desatrelamento
dos sindicatos da tutela do Estado foi um
dos saldos da reunião e neste sentido o
PTteveuma postura essencialmente posi-
tiva. ao jogar tais questões para os outros
partidos.Sem sombra de dúvida, a questão mais
delicada que a reunião teve de enfrentar
foi a da fusão de todos os partidos. Não só
pela resistência do PDT (este ausente) e do
PT, mas também pelo fato de que o PMDB
e o PP ainda não têm como certo queessa é a única opção que resta. Nesse
sentido, as declarações sobre o tema fusão
eram feitas com luvas de pelica: "o
fun-
damental não é dizer que tem que fazer a
fusão. O fundamental é iniciar os enten-
dimentos para que tenhamos uma ação
comum em 1982." disse Marcos Freire,
enquanto Ulysses Guimarães também fez
questãodeesclarecerqueoPMDBnãoen-xergaaopçãodafusãocomoa única saída.
Declarações no mesmo sentido foram
feitas por Tancredo Neves.
Houve um consenso quase total de que a
questão da fusão por enquanto é prema-tura. Da parte do PP isto o levou a tomar
uma decisão, no dia anterior, de se opor à
fusão pelo ao menos por enquanto. As
razões disso estão numa rápida análise da
conjuntura que Tancredo Neves fez para a
imprensa: "tenho
a impressão de que ao
governo não interessa criar uma situação
na qual seja restabelecida a polarizaçãoregime versus oposição através do retorno
do bipartidarismo. Tal situação levaria ao
confronto, pois como as lideranças civis e
militares do regime não têm a humildade
de acatar o pronunciamento das urnas,
isto nos levaria para a seguinte situação:
ou golpe, ou revolução". Fruto dessa
análise. Tancredo apontou como tendên-
cia principal o governo não ir com os seus
casuísmos ao ponto de forçar a fusão das
oposições.
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Tudo indicou, na reunião, que os parti-
dos jogam numa estratégia que se ba-
seia no fato de que o governo, até
mesmo por suas dissidências internas, não
terá condições de impor casuísmos que
inviabilizem composições eleitorais em
1982, o que faz com que a proposta da
fusão seja remota. Considerado como um
expeli nestas questões. Thales Ramalho
tez o seu diagnóstico para a imprensa: "o
governo não apresentará um projeto de
reforma mais coercitivo do que o do
próprio PDS e até mesmo algumas de suas
propostas, como o voto vinculado não
passarão por ferir interesses de correntes
do PDS ou até políticos isolados desse
partido". Assim, o que parece mais prova-vei é a continuidade dos atuais projetos
partidários. Entretanto, se os casuísmos
forem além do que os partidos esperam,
pelo menos para o PP. a fusão se colocará,
ainda que parcial e temporária: "se
o
governo fechar o tempo, haverá a fusão no
mínimo do PP. PMDB e PTB. esclareceu
Tancredo Neves.
Na verdade, o grande defensor da fusão
nareunião foi o PTB. para o qual essa é a
única saída honrosa que resta, pois o
seu projeto dificilmente se viabilizará
política e eleitoralmente. Exatamente por
isso. um dos representantes do PTB,
deputado Vilela Magalhães, saiu da con-
trariado da reunião de porta fechadas,
alegando que ela só aprovou o óbvio.
Mesmo setores do PMDB que defendem a
fusão imediatamente, como o deputado
Roberto Cardoso Alves, identificado com
os setores mais moderados do PMDB. não
considerou a reunião uma derrota: "a
presença do PT colocou freios na fusão.
Mas sc antes da reunião, l.ul i »ra 100%
contra a fusão, hoje ele é ; enas 50*%
um irá rio". Essa mudança d atitude »
l'l loi confirmada por um participante. «¦
reunião a portas fechadas, pois Lula.
ik-ssu reunião, admitiu que cm Última
hipótese a fusão pode ser a s-.ídr» i nira
tenha esclarecido aos deu,ais portid«>s
que continuará a se manitestar \ lica-
mente contra a fusão.
Documento das oposiçõesDECLARAÇÃO
A situação econômica e social do Brasil
atinge gravidade sem precedentes em nossa
história. A taxa de inflação nunca cresceu
tanto, a divida externa nunca foi tâo elevada
e os índices de desemprego nunca atormen-
taram tanto os trabalhadores e assalariados
que constituem a maioria do povo
O Governo vem se mostrando incapaz de
tomar medidas objetivas que tirem o País da
depressão econômica Além disso, tem se
mostrado impotente, como se vê pelo episò-
dio do Riocentro e pela indefinição das leis
eleitorais, de resolver o impasse político
Preocupado que está em manter o poder
sem sustentação legitima na sociedade,
faltam-lhe condições para conduzir a demo
cratizaçâo do Pais
Em face dessa situação, os partidos de
oposição, reunidos neste primeiro encontro
em São Paulo, respeitada a individualidade
de cada um manifestam a sua disposição de
atuar em conjunto para assegurar a participa-
ção do povo no encaminhamento no proces-
so de democratização Preocupam-se não só
em combater o casuísmo eleitoral que a Na-
ção |á rejeitou, mas também em abrir pers
pectiva de um regime democrático estável,
sob a vigência de uma Constituição emana-
da direta e livremente da vontade do povo,
dotado da capacidade de atender às deman-
das da sociedade.
Assim, os partidos de oposição dirigem-
se a Nação para propor a união de todos,
consciente e eficaz, em torno dos seguintes
objetivos:¦ eleições diretas em todos os niveis e resta-
belecimento das prerrogativas do Congresso;
legislação eleitoral verdadeiramente demo-
crativa que respeite a liberdade de organiza-
ção e funcionamento de partidos representa-
tivos de todas as correntes de pensamento
político; eliminação dos dispositivos anti-
democráticos que restringem a elegibilidade
dos cidadãos;revogação das atuais Lei de Segurança Na-
cional, Lei de Imprensa e demais instrumen-
tos de exceção, desativando-se os organis-
mos de repressão politica;extensão do direito de voto aos analfabetos;
-garantia de uma organização sindical livre
da tutela do Estado;
garantia do pleno exercício do direito de
greve;por uma política de emprego ou atenda a
todos os setores assalariados da sociedade,
por uma política justa de distribuição de
rendas;por uma política econômica que elimine os
privilégios concedidos às empresas de gran-
de porte, às multinacionais e ao capital fi-
nanceiro, visando ao fortalecimento do mer-
cado interno;democratização do Poder Judiciário, para
torná-lo acessível aos cidadãos, principal-
mente aos de baixa renda, e também eficien-
te, rápido e seguro na distribuição da Justi-
ça.Com vistas a estes objetivos, os partidos
de oposição manifestam o seu propósito
de prosseguir, em novos encontros, na ela
boração de um plano de atuação em comum
e, se necessário, de promover a sua com-
pleta unidade de ação, visando a garantia de
sua presença, como parte legitima e essen-
ciai. no processo de democratização do
paisSão Paulo, 15 de julho de 1981
PMDB — PP - PT - PTB
MOVIMENTO — 20a 26/7/81
RIOCENTRO: QUESTÕESA necessidade de maiores esclareci-
mentos sobre a participação da Policia
Militar no episódio e sobre as contradi-
ções do IPM instaurado pelo 1o Exército
para investigar o episódio do Riocentro,
foi pedido na semana passada pelo coronel
üickson Meiges - ex-diretor de adminis-
tração e finanças do Riocentro — em
documento, o coronel levantou oito aues-
na do bxèrcito, no Rio de Janeiro. Em aeu
documento, o coronel levantou oito quês-
toes que exigem maiores esclarecimen-
tos, particularmente a decisão da Policia
Militar de recusar-se a fazer o policiamen-
to do Riocentro no dia do show do 1 ° de
Maio, bem como levanta indagações que
comprometem Ângela Capobiango —
membro da diretoria do Riocentro — com
o atentado terrorista ao Riocentro, no
qual. por "acidente
de trabalho" morreu
um sargento e saiu ferido um capitão do
exército.
TEMPO DE LEMBRARA existência de duas linhas no interior
do movimento militar de março de 1964,
uma adepta da "ditadura institucionaliza-
da" e liderada pelo marechal Castelo Bran-
co e outra a "linha
dura", liderada pelo
entáo general Costa e Silva, pode ser
comprovada por dois livros lançados re-
centemente. O primeiro deles édoex-minis
tro da Justiça,Mem de Sá, ministro do
governo de Castelo Branco, que narra a
sua renúncia ao ministério em decorrência
da decisão de Castelo de cassar três depu-
tados na Assembléia Legislativa gaúcha
parei que a oposição nâo elegesse o gover-
nador do Estado. Em seu livro "Tempo
de
Lembrar", Mem de Sá aborda ainda os
conflitos entre Castelo Branco e Costa Sil-
va, bem como a atitude de Magalhães
Pinto de aliar-se aos "duros"
que eram
liderados por Costa e Silva. O outro livro è
de autoria do "brasilianista" Foster Dulies.
intitulado "Castelo
Branco — o Reforma-
dor Brasileiro". Ao lado de fazer uma
apologia ao caráter "moderado" de Caste-
Io, o brasilianista Foster Dulies revela que
já na época surgiu uma "força
militar
autônoma" que fazia ação de apreensão de
livros e de censura de peças teatrais sem o
controle do poder central.
CONVENÇÃO DO PDTA convenção nacional do Partido Demo-
crático Trabalhista, realizada na semana
passada em Brasília, decidiu opor-se a
qualquer proposta de fusão dos partidos
de oposição e decidiu no máximo aceitar
uma frente dos partidos para determina-
dos objetivos comuns, desde que isto não
leve a abrir mão do seu projeto. Em sua
convenção, o PDT estimou que fará dois
governadores, um senador e 50 deputados
federais em 1982, e elegeu a sua direção
nacional, da qual algumas figuras, como
Lisaneas Maciel, participam apenas como
"notáveis". Durante a convenção alguns
nomes expressivos do PDT pronunciaram-
se favoráveis a um apoio à politica de
aDertura de Figueiredo, para evitar o retro-
cesso". Declarações nesse sentido foram
feitas até mesmo por membros do setor
mais combativo do PDT, como o fizeram o
ex-deputado Francisco Julião e Darcy
Ribeiro, ex-chefe da Casa Civil de Joao
Goulart. Em seu discurso de abertura da
convenção, Leonel Brizola também elo-
giou Figueiredo, em 'decorrência
do dis-
curso que o general presidente fez em
Porto Alegre, sobre as eleições de 1982.
PRÉ-CONVENÇftO DO PT
Com a presença de cerca de 850 delega-
dos, foi realizada na semana passada, em
São Paulo, a pré-convencão regional, que
teve como grande ponto polêmico a posi-
ção do PT face às eleições de 1982, mais
particularmente sobre a questão das coli-
gações partidárias. A grosso modo: três
posições se defrontaram: a da direção
regional que defendeu o ponto de vista de
o PT lançar candidatos em todos os níveis
e concorrer em faixa própria, deixando em
aberto a possibilidade de se fazer coliga-
ção partidária com outros partidos de
oposição a depender de situações concre-
tas; a defendida em documento pelo de-
putado Sérgio dos Santos que já apresen-
tava a necessidade de uma definição posi-
tiva em relação "às
coligações", e uma
terceira que a principio propunha que o PT
fechasse uma posição contrária "as
coli-
gações". Ao final dos debates, a prè-con-
venção decidiu adiar uma decisão, marcan-
do para tal uma pré-convenção extraordiná-
ria para janeiro, para se posicionar sobre a
questão da coligação das oposições" e a
tática eleitoral.
DO "ESSO"
À PRISÃOA ultima edição do Coojomal foi dedi-
cada principalmente à cobertura do julga-
mento dos jornalistas deste jornal,
que foram condenados na Lei de Seguran-
ça Nacional por terem divulgado um do-
cumento do Exército que aborda a ativida-
de das Forças Armadas em operaçóesanu-
guerrilha, nos anos 70. Em sua edição, o
Coojomal mostra o absurdo da condena-
ção dos jornalistas Osmar Trindade. Ra-
fael Guimarães, Etmar Bonés e Rosvita
Sauering por terem divulgado fatos que se
passaram há 10 anos. O jornal mostra
ainda que o absurdo se torna maior porque
a mesma reportagem que serviu de pretex-
to para a condenação dos jornalistas foi
premiada com o "Prêmio Fsso" de jorna-
lismo, o mais importante do pais. O jornal
traz também um resumo do documento do
Exército que foi divulgado em 1980, pro-
vando assim que ele não contém nenhum"Segredo
de Estado". Os advogados dos
jornalistas Ornar Trindade e Rafael Guima-
rães, que estão presos, entraram com um
pedido de habeas-corpus no STM, para
que eles apelem em liberdade.
éMÍ^VL-^ á ^
Elmar, Rosvita, Rafael e Osmar: do Coojomal
**A I - IA i
Miguel irraen mi SIIIHl. em S*lv*tkir. N* fato
menor: (-oltlenberg fà esif.} e Crotlownltlo Pavan
REUNIÃO DA SBPC
Cientistas (nem todos)na oposição aoregime militar
Um b, nço final sobrt ebates ocorri-
dos na SBPC revela de forma inequívoca
que a maioria dos cientistas e professores
presentes se mantém na oposição ao regime
militar Basta notar a grande quantidadede
trabalhos e debates em torno de questões
incômodas para o regime, como: extermínio
de Índios, opressão dos negros, mulheres e
homossexuais, cerceamento do trabalho in-
li lectual, restrição à liberdade do estrangei-
ro no pais, exploração e repressão aos
trabalhadores, denúncias de uma politica
mineral entreguisia. do programa nuclear
brasileiro etc. A reunião ainda estiveram
presentes grandes lideres oposicionistas,
como Celso Furtado 8 Anaes. que falaram
para grande público
Ao nivel da nova direção da SBPC, no en-
tanto, o relacionamento com o governo ll-
cou um pouco mais dúbio. Por um lado, o
diàl< go com o governo ficou mais explicito
inclusive com propostas formais para cria-
ção de canais de contato O presidente elei-
to, Crodowaldo Pavan. defendeu a criação
de um Conselho Cientifico, com a partici-
pação de cientistas de diversas áreas para
levar ao conhecimento da Secretaria do Pia-
nejamento, de Delfim Netto, as criticas e
sugestões sobre projetos em execução. O
novo presidente defendeu esta posição co-
mo um antídoto a uma suposta "politica
tri-
vial ou proselitista e das denúncias oportu-
nistas e rasteiras formuladas por cândida-
tos à procura de palanque" e se defendeu da
acusação de despolitização: "nossa
poli-
tica de nos aproximarmos do governo não
implica amordaçamento ou subservièn-
cia, pois é com dignidade e respeito mútuo
que se desenrolará o diálogo a que nos
propomos com as autoridades governamen-
tais".
Essa concepção de diálogo, iromcamen-
te, é a mesma que Pavan defende para
aplicar aos grupos e manifestantes "parale-
los" à SBPC. "O
festival que acontece fora
deve ser mantido", afirma Pavan, "nos
Esta-
dos Unidos, quando a associação dos cien-
tistas se reúne, há a mesma manifestação
entre os movimentos hippies, de negros" e
homossexuais. Portanto, do mesmo modo
que Pavan vai tolerar paternalisticamente a
gritaria que ele considera inócua, trivial e
proselitista, que inclusive vai abrilhantar a
reunião dos cientistas como um "festival",
pode ser também a atitude que o governo
vai tomar em relação aos participantes do
Conselho de Cientistas, os quais poderão
espernear e gritar no Ministério do Planeja-
mento. criando um também inócuo "festi-
vai" para deleite e desfrute dos burocratas
do Delfim
Apesar disso, Pavan defendeu firmemen-
te as decisões forçadas e aceitas pela maio-
ria dos cientistas, que foram aprovadas ao
longo da madrugada na reunião de encerra-
mento da SBPC. Entre as moções mais
importantes apresentadas estão as que se
feit-iem ao programa belicista que se escon-
de por trás de pesquisas cientificas. O
recente episódio do contrabando de urânio
para o Iraque foi relembrado e criticado corn
endosso da maioria dos presentes. Mas a
critica foi mais além. com a apresentação
de uwftuneU s concretas sobre o programa
bélico brasileiro. O presidente da Sociec . e
Brasileira de Física, Herch Móis -"(.velou
que o programa de desenvolvim. ila o-
guetes lançadores do Brasil està claramente
dirigido para fins bélicos. È a conclusão que
se pode tirar pela escolha do tipo de com-
bustivel utilizado: o combustível solido, que
è usado preferencialmente para fin_ bélicos.
Isso porque o combustível liquido, embora
mais barato, é de ignição lenta e r.conve-
niente para uso em mísseis militares,-que
têm de ser usados rapidamente,com ignição
imediata. Tudo se casa: se os militares
criaram um programa nuclear paralelo cujas
opções foram feitas em função da produção
da bomba atômica, eles agora já têm o
veiculo lançador da bomba em proqrama-
ção, ao optarem pelo desenvolvimento da
tecnologia do combustível sólido, que inclu-
sive é mais caro.
O novo presidente Crodowaldo Pavan de-
fendeu firmemente a denúncia dessa mani-
pulação e disse que não hesitaria em dar ao
pais os nomes dos cientistas implicados,
nomes que serão levantados por uma co-
missão especial da SBPC, que deverá tam-
bém investigar o que o governo 'az
com
o dinheiro que alega gastar em pesquisas.
Segundo Pavan, apenas 15 dos 40 milhões
de cruzeiros orçados tèm explicação de
destino e realmente chegam aos órgãos de
pesquisas oficialmente reconhecidos pela
comunidade. O que aconteceu com o resto?
Esse è um desafio à SBPC e à comunidade
cientifica, cada vez mais desconfiada, e
com razão, de estar sendo usada para pro-
pósitos inconfessáveis do governo militar
(Flavio Carvalho; e Otto José, de Salvador
Constituintelimitadana SBPC
O debate sobre a Constituinte na
SBPC acabou sendo realizado de forma
limitada. Em primeiro lugar, a diretoria
programou o debate para apenas um dia
e em horário que coincidia com outras
discussões importantes, como o acordo
atômico e a questão nacional.
Além disso, o que estava programado
para ser um debata para granjear mais
defensores da tese da Constituinte aea-
bou se transformando num ato público,
com militantes políticos que repetiam
sempre a mesma palavra de ordem justa
("Constituinte livre, soberana e sem
João") mas que dificultam o trabalho de
convencimento.
É provável que esse procedimento te-
nha contribuído mais para marcar posi-
ção do que para convencer: ao final nin-
guém apresentou sequer uma moção de
apoio à proposta da Assembléia Consti-
tuinte para ser aprovado pela Assembléia
Geral do SBPC — o que efetivamente
significaria um apoio formalizado dos
cientistas a essa bandeira.
*i* ** *\* / i*t
MOVIMENTOMil» *¦'** OE
20 a 26'7 M
BRASIL/IRAQUE
Parlamentares
brasileiros
protestam em BagdáMilton Gouveia, de Bagdá
Pretendendo inaugurar uma nova fase
de ação política, o PDS resolveu mani-
festar-se sobre questões de política ex-
terna brasileira apresentando na Confe-
rencia Internacional de Solidariedade ao
Iraque, que acaba de ocorrer em Bagdá,
uma moção de protesto contra Israel porhaver bombardeado, em junho, a usina
nuclear de Tamuz."Trata-se
de um avanço considerável
em se tratando de manifestação do par-tido do governo", disse o líder do PT,
Airton Soares, também presente em Bag-
dá. Diante da nota do PDS, Airton resol-
veu avançar a posição de seu partido pro-clamando apoio á intenção da OLP de
abrir um escritório no Brasil.A nota do PDS foi elaborada pelo vi-
ce-líder do governo. Bonifácio de Andrade
que. surpreendentemente, viu-se cons-
trangido a uma discussão "de
estilo" com
diplomatas da embaixada do Brasil em
Bagdá."Eles" 'sugeriram'
que na nossa nota
— disse o parlamentar — fossem elimi-
nadas expressões como 'imperialismo' e,
'discriminação racial'".
Ocorre que, na véspera da apresen-
tação da nota do PDS, Bonifácio de An-
drade ouviu do embaixador brasileiro em
Bagdá, general Samuel Alves Corrêa,
expressões muito mais fortes na aborda-
gem dos problemas do Oriente Médio.
Dessa forma, mesmo 'aconselhado'
pelos
profissionais do Itamaraty, o deputado
governista preferiu manter os termos da
mensagem que escrevera.
A nota condena "todas
as modalida-
des de imperialismo e de discrimina-
ção". Também reitera "o
repúdio às ra-
dicalizações sionistas já verberadas pelo
governo brasileiro no plenário da ONU".
E expressa "o
interesse do povo brasi-
leiro por Jerusalém", ocupada unilate-
ralmente por Israel, a despeito da enor-
me condenação internacional.
O general-embaixador do Brasil pare-
ce estar apostando nos iraquianos, se-
gundo deixou claro aos deputados brasi-
leiros. Mas, seguramente, mantém ai-
guma reserva pessoal: no dia em <jue os
parlamentares chegaram a Bagdá, Sa-
muel Alves Corrêa estava em Oman, na
Jordânia, para onde foi levar sua mulher
para embarcá-la em direção ao Brasil;
na capital iraquiana aguardava-se para o
dia dos festejos da data nacional — 16 de
julho — algum ataque da aviação irania-
na com objetivo, pelo menos, de efeito
moral.
ASSIMILANDO A LINGUAGEM
Aparentemente, o ex-chefe do EMFA
assimilou a causa árabe e vem-se valendo
de uma linguagem que os próprios di-
plomatas da embaixada hesitam em em-
pregar, embora ela seja própria das pro-
clamaçõcs políticas do cotidiano no Ira<
que.Entre outras declarações, Samuel Al-
ves Corrêa exprimiu condenação ao "Job-
by sionista na imprensa brasileira", e
defendeu o programa nuclear do Iraque
admitindo até mesmo sua transformação
posterior para fins bélicos.
O calor da manifestação contagiou to-
dos os parlamentares e até o chefe da de-
legação, deputado Haroldo Sanford, do
PDS e coronel da reserva, que declarou a
um jornal iraquiano que condena "a
pi-rataria criminosa praticada pela entida-
de sionista contra um país soberano e in-
dependente".O jornal publicou a declaração e a foto
de Sanford, que, depois, recolheu algu-
mas dezenas de exemplares para remeter
a seus eleitores áo Ceará (que serão cer
tamente incapazes de descobrir o signifi-
cado dos caracteres árabes mas que se
convencerão, ao reconhecê-lo na fotogra-
fia. que o deputado governista está bri-
lhando no exterior).
Outros deputados preferiram se foto-
grafar ao lado de Yasser Arafat, em sua
maioria da oposição, mas também Stoes-
sei Dourado, do PDS, baiano. O líder
palestino discursou na sessão de aber
tura da conferência e, mais tarde, cum
primentou os parlamentares brasileiros.
Airton Soares ouviu dele a promessade visitar em breve o Brasil, provável-mente ainda neste semestre se for auto-
rizado, conforme ele espera, o funciona-
mento da embaixada da OLP. O parla-
mentar do PT também revelou ter re-
cebido, de fontes diplomáticas brasilei-
ras. acreditadas em Bagdá, a informação
de que Brasília anuncia neste segundo
semestre, a autorização formal para fun-
cionamento da organização palestina.Aírton salientou que, segundo essas
fontes, caíram por terra no Brasil as re-
sistências que ainda havia contra a le-
galização do escritório da OLP. Isso teria
ocorrido, di^ele, em função do bombar-
deio por Israel da usina nuclear do Ira-
que e da tentativa da Mossad de "plan-
tar" notícias sobre supostos embarques
de urânio nos jornais brasileiros para
confundir, a seu ver, a opinião pública
brasileira. (Veja em Movimento 313.
uma versão oposta a esta)
O líder do PT chegou a trocar insultos
com o deputado Stoessel Dourado, do
PDS, e Edson Khair, do PMDB, pois
ambos pretenderam abandonar a Confe-
rencia de Solidariedade ao Iraque antes
de seu encerramento. Além disso, o pri-
meiro argumentou que não havia viajado
a Bagdá "para
assinar atestado ideoló-
gico ao governo iraquiano".
No final, foram todos para o antigo
Mercado dos Ladrões, de Bagdá, e com-
praram muitos tapetes persas, ajudados
pelo oposicionista Jorge Uequed, do
PMDB, que se valeu da sua ascendência
árabe para barganhar preços com os
experientes mercadores. ^^^^
Bagdá em
clima de pazBagdá é uma cidade às escuras à noite:
o black-out vigora há dez meses por causa
da guerra.De dia, porém, a cidade tem uma aparên-
cia de normalidade; e a nào ser pela visão
de dezenas de balões flutuando no céu so-
bre os principais objetivos estratégicos da
cidade, não se perceberia a guerra. Esta se
passa em território iraniano, onde as For-
ças Armadas do Iraque mantêm 40 mil ho-
mens permanentemente fustigados por
uma resistência difícil de ser explicada
quando se tem em conta as noticias da
confusão política reinante em Teerã.
Mni iincntn negrt* ttmtni política racista dt* regime
RACISMO DO ITAMARATYUma passeata silenciosa pelo campus
de Ondina consolidou a luta do
Movimento Negro Unificado (que reúne
grupos e entidades negras de oito estados
do pais) e deixou claro a importância que as
maiorias passam a ater no pais. Isso ficou
evidente durante a SBPC. quando uma das
atividades mais importantes "o negro na
realidade brasileira" trouxe a tona de forma
explícita a política opressora e racista do
regime. Além das discussões diárias sobre
os problemas da comunidade negra, avan-
çou no seu objetivo mais imediato que é
lutar contra o desemprego e a violência
policial, as duas formas mais efetivas que o
sistema e o regime utilizam para marginali-
zar o negro e dificultar sua organização. De
cada 8 pessoas mortas pela policia 6 sào
negros. O salário dos negros è 60 por cento
dos salários dos brancos.
O tombamento pelo patrimônio
histórico do sitio de Quilombo dos Palma-
;i&s em Alagoas, á inclusão do ensino de
história do negro nos currículos das
escolas do primeiro ao terceiro grau foram
as duas principais moções aprovadas no
que diz respeito ao negro. Além disso, a
SBPC vai solicitar do Itamaraty que faça
gestões junto a OEA e UNESCO para
realização do lll Congresso das Culturas
Negras das Américas.
A inclusão desta moção partiu de
Abdias Nascimento, coordenador do Hl
Congresso da Cultura Negra que deverá
realizar-se no Brasil.
Ele denunciou o racismo do governofederai a particularmente do Ministério
daa Relações Exteriores que se recusou a
encaminhar o pedido de ajuda a OEA e
outros órgãos internacionais como a
UNESCO.
ADtflBTANOMECom irrestrito apoio do governador
Antônio Carlos Magalhães, a direita
organizada que atua no movimento
estudantil baiano está tentando ampliar
seu espaço. Durante a S8PC, mais
particularmente no sábado (dia 10) o
grupo de direitista Umpulfba que se
concentra na faculdade da engenharia e se
ampliou um pouco durante a proposta de
greve geral da UNE, tentou tumultuar os
debates científicos e descaracterizar a
reunião. O Umpulfba penetrou no campus
de Ondina com o trio elétrico Trás os
Montes, sob o pretexto de saudar os
cientistas, para distribuir panfletos"hçõs da greve gorada", acusando o DCE
da UFBA e a UNE de antidemocráticos e
de estarem ligados ao PC (não
esclareceram qual).
A reação foi imediata: centenas de
estudantes aue estavam almoçando no
restaurante universitário ficaram revolta-
dos com a provocação, apredrejaram os
direitistas e impediram que o trio elétrico
tocasse quatro horas como estava
previsto. O incidente só foi contornado
depois que os proprietários do trio
perceberam a manobra da direita em
utilizá-los para fins politicos e retirou-se do
local. Para tocar'no campus, o trio elétrico
receberia (recebeu) Cr$ 140 mil, dinheiro
com certeza doado pelo governadorAntônio Carlos Magalhães conforme
soube-se depois. O governador estava
insatisfeito com as vaias que o reitor
Macedo Costa levou no dia da abertura
da reunião, com a presença da esquerda
e discussão de assuntos politicos no
programa da SBPC.
MORDOMIAS DA VOLKSGraças à persistência do deputado
Arnaldo Schimitt (PP-SC) é possível saber
agora mais alguma coisa sobre as
mordomias qüe a Votkswagem anda
desfrutando na Amaz6nif.«0 deputado,
depois de muito insistir, leve acesso ao
cadastro do iNCRA e descobriu.Que a Companhia Vala do Cristalino,
da Volks, havia sido multada em 63
milhões de cruzeiros por ter incendiado
uma área de 14 mil hectares de floresta,
mas acabou pagando apenas cem mil
cruzeiros.Quem a Volks recebeu tam desconto
do imposto territorial d* 860 mil cruzeiros
e tun incentivo "por elevada porcentagem
de teira explorada" e por «ao de "alta
tecnologia". O prõprto cadastro, no
entanto, moetra que jt Vottis explorou
apenas 12,$% da área agdçulturável, o
que corresponde a apenas 6,3 da área total
do imóvel.Que a Volks empregool apenas 203
pessoas no seu projeto <uiá empregado
para cada 686 hectares) cujos salários
totais somaram 8.6 milhões tíe cruzeiros,
ou seja, um salário mátíio de Crt
3.258,00.
tiONTERESSAAONEA Impiantaçflo de uma fábrica de molas
em Jaboatão, Pernambuco, que virá a
prejudicar indústrias já estabelecidas em
São Paulo, continua provocando polêmi-
cas. A deputada Cristina Tavares
PMDB-PE) embora seja nordestina,
levanta objeções à criação da fábrica,
porque ela não atende aos interesses da
região: "será
que atende aos interesses do
Nordeste e verticalizaçào da indústria
automobilística, ou estamos sendo
joguetes de uma guerra econômica que
não nos interessa como região e nos
prejudica como pais" A fábrica da Ford,
altamente automatizada, vai gerar apenas
20 empregos na fabricação de mola,
causando o desemprego de algumas
centenas de São Paulo.
MOYIMF.NTO-20 a 26/7/81
POLÍTICA EXTERNA, BRASIL-ÀFRICA DO SUL
Não ao pacto e sim à bomba?Uma ala militar queria o Pacto. Outra, não. Do acordo, acelera o programa nuclear brasileiro.
Frederico Fuellgraf
A idéia da criação de um pacto militar.
no Icittn da OI AN no contexto geopoli-
tico do Atlântico Sul. não é recente. A
idéia, a rigor, já fora projetada cm l%H
|vlo ent do Ministro da Defesa da Rcpú-
blka Sul-Africana(RSA), Pieter Botha.
que perante a imprensa de seu país con-
.iro*uva 'e'1 participado dc "uma
conte-
temia secreta en companhia dc amigos
l.uinoamericanos". Diversas vezes Iam-
Ivn o general Malem, Comandante do
I stailo Maior das Forças Armadas sul.
africanas, enconirou-sc com "colegas
da Argentina, dó Chile, do Paraguai e do
1'rtigtiai iodas, sem exceção, ditado
ras que disputam n 'campeonato*-
da
violaçãodos direitos humanos na Améri-
»..i I atina.
( om a independência das ex-colónias
|ntriugucsas (Angola. üuiné-Bissau e
Mnçan bique), entre 1973 c 1975. o plano
d< Pacto do Atlântico Sul voltou a lona
iuk|iiirindoearátei de urgência diante do
perigo ile uma "sovietizaeao"
da costa
ividcntal africana, denunciada pela
Mik.i il" Sul e pelo cntflo ministro das
Uclações I xtcrioies dos HUA, Henry
Kissinger. Mas y primeira conferência
internacional, reunindo norte-america
iu.n. sul-alricanose latino-americanos in-
cressados no projeto do pacto, rcali/oti
A- . r prs em Puerto Delgrano. na Ar-
•éntina. Seu lema. "A
importância es-
ratégiea •!" Atlântico Sul".
"A importânciaestratégica do
Atlântico Sul".Secundo fontes norte americanas pró
vm- .is ii ( asa Branca, esta conferência
tri dirigida por dois almirantes norte
an ci icanos, em hora a política externa de
.lin o \ C arter. nesta aluna dos aeonteei-
n enios, aconselhasse cautela no rclaeio-
nau enio com os países da África Negra.
;i\sin como submetia as ditaduras mili-
tares do Cone Sul da América Latina a
im embargo de \eiuia de .umas e. em
pane. até de créditos nnrte-aniericanm.
Foi neste contexto eleitoral que o gene-
ral Daniel Oraham reivindicou publica
ii ente a criação "dc
um pacto militar tle
( Jl\\ m* ^~^/ys^/^K\7 ___f 'íf^^' '\áf^^^^^^^m
^r*\ ^H^^^ y^r^^
deles.i do Atlântico Sul nos moldes da
OI AN".
Mudança de ano. Konald Reagan é
eleito e, ao empossai seu gabinete, deu'Iu/
verde" para a atuação de seus asses-
sores políticos, muito mais estreitamente
\ mudados ao poderoso militar) indus-
iial ¦¦oinpex que a assessoría de ('arter.
Destacam-sc aí nomes como o de Ale-
vamlei Haig. general-veterano da Guer-
ra do \ ietnà e ex-comandante do Kstado
M.iioi da OI AN em Bruxelas, onde sei
mu vários anos como defensor intiausi-
pente da nucleari/açào da OI AN. Outro
nome em destaque, nâo tanto na quali-
d.ide de ministro, mas sim como asses
soi. o general Vernon Walters. associado
as piores lembranças no envolvimento
dos I IA \\o golpe militar de 1%4 no
Brasil e notoriamente conhecido eomo
homem ligado à CIA. J\ulcria estender-
se esla lisia do pressure-group que. ins-
pirado nas velhas doutrinas anticomu-
nistas de guerra Iria. não descola dos ou-
vidos do prêsidentc-eowbov dos I IA. e
que. atualmente, mobiliza os esforços do
IJepartamento de Kstado, do Pentágono
e/ou de entidades paraestatais como o
imerican Foreing Polin Instilule. sob
cujos auspícios reali/ou-se a mais recente
conferência sobre n Pacto do Atlântico
Sul em Buenos Aires.
O fato da Argentina haver se translór-
mado numa espécie ite paleu giratório.
en' torno <\ii qual gravitam os interesses
dos "sul-atlantistas" deve-se, princi-
palniente. a dois fatores: 1) é que n go-
verno Reagan renovou o embargo de
vendas de armas levantado pelo governo
Carter. 2> a política externa do Brasil.
traçada pelo Itamaraty tanto nos anos 70
eomo para a década de HO. nãe* se adequa
exatamente aos planos do Pentágono e à
(icnpolítica das ditaduras do Cone Sul.
Mais do que isso: o Brasil, aos olhos dos"sul-atlantistas" aparece eomo o maior
empecilho para a concretização do proje-io do pacto.
Quem arma a África do Sul?
I ui I')7 . ///// ilos movimentos dc libe-
tação .si,i-africanos, o African National
( i iiercs t.VO. fez circular, em iodo u
iiundo, vasta documentação sobre a
,„,permito secreta entre il Republica
sul-Atricuna iRSAl c a Alemanha, cn
volvendo a firma S77.4 0" com os pia
.,..,¦ ,/«. 'bomba
upartheid ¦
I m setembro de !'>7J a SIl.AC, e <
i , -inro de Pesquisas Nucleares de
Karjsrultc. aquela aluíra dirigido pelo
r " Inviu Heckerltfue em I97Vdepôs
i\crante a CPI nuclear cm Brtisíliul, im-
unam ii construção daquela usina. As
>n inteiras encomendas' joram feitas ás
¦umas Man (,1! ff-Stcrkrade: esla
,mirolada pela 07/7/ dc propriedade
,f,i (inverno Alemão, ino Brasil a GHH
ini contratada para a ctmstrução da (á-
hri-a de reatores da NUCl.FP em ha-
ijuai RH
Nesse ínterim, o secretário de Estado
In Ministro ila tecnologia c Pesquisa
de liou a. Hilger Haunschild (considera-
do o arquiteto político do acordo nu-
ícar Brasil Alemanha! dirigiu as nego-
la-ocs com a RSA. a nível dc governo.
/ in l')t)') os gastos de prospecçàii dc
iniimo na Namíbia financiados pela
Alemanha já se elevavam a 6 milhões de
marcos. Posteriormente a Urangesells-
hall adquiriu os direitos de exploração
de M"'n do urânio encontrado na Namí-
hia.
Fntre outros, este <• um dos fortes mo-
:ivos pelos unais a Alemanha Ociden-
tal. ao lado dos EVA e da Inglaterra
que controla a outra parle das minas
Rossing através da Rio Tinto Znncl
vem resistindo tenazmente a todas as-
resoluções de desaprovação do regime
de apartheid sul-africano. O Brasil vo-
'•ai contra o apartheid A atual posição
brasileira diante do pacto do Atlântico
Sul. poderia resumir-se Ctnn as palavras
de um oficial da Marinha brasileira,
aue ao ser indagado, sc esta arma esta-
¦ ia ílisposta a associàr-se ao Pacto, res-
nniidcu: "O dia em que nossos mari-
nheiros negros desembarcassem em
qualquer po.sio sul-africano, seriam vi-
timas iguais à maioria negra daquele
país. discriminada pela minoria bran-
,i '.
Ri sta e.sperar. sc ,:sia posição é real-
mente representativa para as Forças
\rmadas do Brasil diante da questãoIo Pacto.
Não que esta política externa com ma-
ti/es progressistas em relação à questão
palestina ou ao racismo sul-africano los-
sem expressões de uma política interna
igualmente democrática e progressista.
Acontece que o "realismo
pragmático"
do Itamaraty é a expressão direta da de-
pendência brasileira ao petróleo árabe e
africano (Nigéria. Angola, etc*:) e. inversa-
mente, do interesse brasileiro em con-
juistar parcelas cada vez maiores do
mercado africano e árabe com produtos
semimanufaturados. manufaturados,
alimentos e...armas. Neste contexto, é
evidente que os interesses do apartheid e
do Pentágono colidem com a orientação
da política africana e árabe do Brasil,
ainda que, conforme noticiou o diário
britânico. Financial Times, na recente
conferência sobre o Pacto do Atlântico
Sul. estivessem "presentes vários oficiais
de alta patente do Brasil".
Duas facções:os "argentinos" e
os "mexicanos".
Muito mais do que um assunto sigiloso.
|iie o governo brasileiro não teria cora-
,:em dc assumir publicamente (eonlorme
ugerem os incautos), a questão do Pacto
Io Atlântico Sul parece dividir o trapézio
de poder do Planalto em duas facções dis-
tintas, conforme sugeriu colunista da
grande imprensa: os "argentinos"
e os"mexicanos".
I nquanio expressão da facção mexi-
cana. temerosa de uma abertura exeessi
va que relegaria as Forças Armadas a um
plano secundário, senão terciário, no
processo divisório, tirando lhes impor-
(antes iniciativas, o atual Ministro do
I-xército. Valter Pires, já se pronunciou
favorável hien te à idéia do Pacto d<^
Atlântico Sul. ao afirmar que "tanto
a
Argentina eomo o Brasil têm importante
papel na manutenção da segurança nesta
parte do mundo". (Até hoje grande parte
dos militares influentes em Brasília não
digeriu o reconhecimento incondicional
do MPI.A em Angola, tido pelos "sul-
atlantistas", por exemplo, como um dos
fatores de "desestabilização"
na África
Austral. Já os "mexicanos",
encastelados
na chamada maioria parlamentar do go-verno, no Itamaraty e importantes seg-
mentos da sociedade política e civil, cs-
tào mais inclinados para uma "institu-
.ionalização" do regime, com eleições li-
vres e outras concessões, desde que seu
controle sobre o processo não seja afeta-
do nu alternado.
Assim sendo, não deixa de ser interes-
sante a informação posta a circular re-
centemente, segundo a qual os "argen-
linos" exigiriam o aceleramento do Pro-
grania Nuclear (com evidentes desdobra-
mentos militares corno, entre outros epi-
sódios. parece revelar a "conexão
nu-
elear" eom o Iraque) como compensação
para seu desligamento do Pacto do
Atlantic») Sul. E, efetivamente, o fami-
gerado Pacto hoje é impensável sem uma
infra-estrutura nuclear que o suporte, e é
jusiaments para o ajustamento de seus
respectivos programas nucleares que
convergem, atualmente. África do Sul e
Aruentina. ....
MOVIMENTO - 20 a 26/7/81
ESQUADRÃO ESPECIAL
A moda pegou. Certamente impressio-
nado com o Índice de criminalidade do Rio
de Janeiro, a Secretaria da Segurança Pu-
blica do Paraná resolveu "adiantar-se aos
problemas" e criar um grupo anti-roubo ca-
paz de impedir que o mesmo fenômeno se
repita na "terra
das araucárias".
Para isso foram escolhidos "a
dedo", se-
te policiais que receberam um treinamento
especial e armados com bazucas, grana-
das e outras parafernálias, além de viaturas
com motores de carros de corrida e auto-
rizrçâo para matar Parece mesmo uma no
va versão dos tristemente famosos "7
ho-
mens de ouro" da década de 60 no Rio de
Janeiro, que acabaram virando o principal
núcleo do Esquadrão da Morte carioca.
Por isso, não será de se estranhar que
nos próximos meses o Paraná, que apre-
senta o menor índice de criminalidade do
pais, torne-se um centro de execução se-
melhanteà velha Baixada Fluminense
FRAUDES E REAÇÕESDiante da persistência dos resultados da
seca no nordeste e das reclamações de po-
llticos assustados com as ameaças de sa-
quês que continuam ocorrendo, a SUDENE,
ao contrário do que havia anunciado,
decidiu aumentar o número de munici-
pios incluídos na área de emergência.
Ao mesmo tempo a SUDENE, auxiliada
pelo SNI, anunciou que havia detectado
uma enorme quantidade de fraqdes na con-
tratação e trabalhadores nas frentes de
trabalho em fazendas particulares, que
recebiam o dinheiro para o pagamento
dos trabalhadores, mas não os contrata-
vam. E só na Paraíba havia constatado o
alistamento irregular de 40 mil pes-
soas. Por isso seriam desativadas as
frentes nas propriedades particulares.
Uma reação violenta de três governado-
res _ Tarcísio Burity, da Paraíba, Lavoisier
Maia do Rio Grande do Norte e Lucídio
Portela do Piaui - forçou o governo a
rever suas posições, principalmente por-
que os latifundiários da região sao sua
principal base de sustentação política.
PLEBISCITO NO ESO Comitê Capixaba contra a implantação
de Usinas Nucleares, recentemente organi-
rado no Espirito Santo, está propondo um
plebiscito no Estado para que a população
manifeste sua opinião sobre a constru-
vão de usinas nucleares em suas praias,
conforme foi anunciado pelo governo. As
23 entidades que compõem o comitê estão
dispostas a uma intensa mobilização para
levar essa discussão a todos os moradores
do Estado. Propõem também uma paralisa-
ção geral simbólica, de 5 minutos, de todas
as atividades no Estado, em protesto à-
fixação da industria nuclear na região.
Até mesmo o Sindicato dos Trabalhado-
res na Construção Civil está pensando em
propor aos seus associados que se re-
cusem a trabalhar em obras que envol- ¦
vam qualquer tipo de construção de no^
vos reatores nucleares.
SUBMARINO NUCLEAR
Segundo denúncia do Estado de S.
Paulo, o Brasil está se preparando para
construir seu submarino nuclear. Os mode-
tos alemães IKL-209. convencionais, jâ es-
tâo sendo programados para serem cons-
truidos a partir de 1984 no Rio de Janeiro
Acontece que esses submannos |â sâo
montados com a estrutura do casco capaz
de receber sistemas de propulsào atômica,
além dos convencionais. São submarinos
da mesma "familia" dos que jà operam
com energia atômica expwtmemalmente
e sào equipados comrnodernas rampas de
lança-misseis, catapultas de distribuição
de mtnae, além doa tubos para lançamento
I dettwfWKtoa» ',;'
fAífW
™Ljr^u^ 0*n
EMPRESAS ESTATAIS
Na trilha da
desnacionalizaçãoDepois de dois anos de trabalho, o
"mi-
nistro" Hélio Beltrão conseguiu uma grande
repercussão para seu "ministério" da desbu-
rocratização, com o decreto assinado na se-
mana passada por Figueiredo, que resolve, de
maneira surpreendente, uma questão que
antes se pensava ser mais complexa: o po-
der das empresas estatais no pais O decreto
permitirá agora a venda de algumas estatais.
Assim, para um observador ingênuo, pode-
ria parecer que a questão do crescimento
das estatais e de seu poder econômico fosse
uma questão apenas de carimbos, requeri-
mentos em dezenas de vias, filas e atesta
dos inúteis. Esse observador ingênuo ficaria
ainda mais espantado se ouvisse declarações
como a do empresário José Papa Júnior,
presidente do Comitê Brasileiro da Câmara
de Comércio Internacional:" maravilhoso, é
um sonho que vai se tornar realidade".
Existem suspeitas de que as estatais a serem
passadas para a iniciativa privada seriam des
nacionalizadas, suspeitas reforçadas pelo fa-
to de poucas empresas nacionais terem re-
cursos para compra de outras empresas.
Embora o "ministro" da desburocratizaçâo,
Hélio Beltrão ao comemorar os dois anos de
funcionamento de seu "ministério" tenha as-
segurado enfaticamente que as estatais só
poderiam ser adquiridas por empresas nacio-
nais, algumas ressalvas vindas a seguir le-
vam a aumentar as suspeitas. Beltrão disse
que o critério para considerar as empresas
compradoras como nacionais seriam os ado-
tados pelo BNDE — ou seja, nâo está exclui-
da a possibilidade de controles acionários ln»
diretos por empresas de capital estrangeiro.
Figueiredo também foi um pouco dúbio:
"ainda nâo falei nas empresas estrangeiras' -
o que possivelmente quer dizer que ele ainda
vai falar Mas o ministro-mterino do Planeja-
mento, possivelmente refletindo áreas de
pensamentos dentro do governo, disse que a
participação de empresas estrangeiras na
compra de estatais "è
uma hipótese prevista".
A questão parece longe de estar resolvida. O
decreto assinado pelo general Figueiredo du-
rante o recesso parlamentar — o que provo-
cou protestos do vice-líder do PMDB, Álvaro
Dias — fala apenas que os "adquirentes de-
verão ser cidadãos brasileiros residentes no
pais ou empresas ou grupo de empresas sob
controle nacional". Como. no Brasil, "em-
presas sob controle nacional" não quer dizer
propriamente que a empresa seja nacional, a
trilha da desnacionalização pode ser alargada
simplesmente sob a desculpa da desburocra-
tização.
(Octávio Senna)
CEBs/GOVERNO
"Não somos bobos.)>
As investidas cada vez mais ousadas do go-
verno para cooptar programas e entidades co-
munitárias jà começam a preocupar diversos
setores da Igreja. Hà duas semanas, quando
foi encontrar-se com o presidente do Mobral.
o secretário-geral da CNBB, Dom Luciano
Mendes de Almeida, foi alvo de várias criticas
e adverências de que es- i aproximação com
o governo "pode nos levar a um tombo"
De fato, a tentativa do governo é encon
trar formas de integrar no âmbito do Estado,
programas da Igreja, como o MEB (Movimento
de Educação de Base), e entidades como as
CEBs (Comunidades Eclesisias de Base), que
reúnem milhões de pessoas em todo o pais.
Semana passada, diante das criticas e
advertências que recebeu, o secretário-geral
da CNBB explicou que seu encontro com o
presidente do Mobral deveu-se de fato a açor-
do CNBB-Mobral para a distribuição do livro
"A transmissão da vida", sobre o planeja-
mento familiar.
Dom Luciano diz que. na verdade, não exis-
te um convênio. O que aconteceu foi que ao
saber que iria ser publicado o livro pelo Mo-
bral, ele procurou sua diretoria e tratou de co-
locar a CNBB na questão "para
melhorar o li-
vro". Assim, o próprio Ck>m Luciano foi o au-
tor do prefácio do livro.
Para os suores que o ctiticaram. Dom Lu-
ciano deu uma resposta curta e decisiva: "l^*o
somos bobos" Ou seia, a Igreja estará inte-
grada aos programas do governo enquanto
estiver certa de que poderá contribuir para
melhorá-los.
Contudo, a preocupação desses setores da
Igreja com o convênio com o Mobral é per-
feitamente explicável Em dezembro do ano
passado, foi publicado um documento do
Mobral que analisava a atuação das CEBs e
mostrava como pretendia cooptà-las: e come-
cana exatamente por esses convênios.
O governo agora acena com convênios na
base do "entendimento" Semana passada,
ao viajar para o Iraque, o ministro do Inte
rior, Mário Andreazza, jogou um balão de en-
saio: acha que as pastorais de favelas, que
existem nas grandes dioceses, podem parti-
cipar do Promorar o maior programa do mi-
nistèrio. Aliás, jà existe um convênio entre
a diocese do Rio, assinado por Dom Eugênio
Sales e Andreazza, no sentido de a pastoral
das favelas trabalhar com o BNH na distribui-
ção de casa a quem ganha de 1 a 3 salários mi
nimos. A CNBB jà disse que isso só pode ser
decidido em assembléia.
Cooptar a Igreja é o lema do governo. Es-
tando eta pivticipando dos programas, seu
poder de critica vai ser reauado — afinal
estarão tr«»bamando juntos. Mas vale repetir
Dom Luciano: "Não
somos bobos". .._., .
CEBs/PARTIUOS
\ Partidarismoou nâo das
comunidadesde base?
Na discussão sobre "Cidade
e cidadania',
realizada na 6.' feira da semana passada, na
SBPC, o padre Cláudio Perani do C-iAS - Cen-
tro de Estudos e Ação Social da Igi -ja na Bahia -
analisou o papel das CEBs - Comunidades
Eclesiais de Base - que se desenvolvem
hoje no Brasil cada vez mais vnculadas ao
movimento popular.
Embora tenha surgido princo-ilmente no
campo a partir de 1960 e posteriormente
nas cidades, (1970) com caráter religio-
so, aos poucos as CEBs ampliam seu pa-
pel próprio, na perspectiva de remoção da
Igreja quando passam a interp.etar o Evange-
lho como uma opção pelos pi 0**0 i pela vi-
da comunitária.
Para Perani, o aprofundanM m > laa oausas
da situação de opressão e dos me.C.11 -ira so-
lucioná-la fez com que o trabalho religioso
superasse a visão mais assistercialista-pro
mocional para uma visão de rer*'>nd'cação-
mobilização. É quando o trabalh i aa aore para
outras entidades, procurando nmbot* e va»
lorizando as associações de bairro i •> sindica-
tos.
Atualmente, com a ampliação do movimen-
to popular, sua organização e articulação, co-
loca-se concretamente para as CEBs a quês-
tão dos partidos políticos. A Igreja è forçada a
mudar seu papel de aliada do poder ou de
mediadora entre autoridade e o povo e passa
a se aliar às lutas populares.
Na sua análise, Cláudio Perani chamou a
atenção para os problemas que as CEBs en-
frentam hoje, semelhantes aos do movimento
popular: como somar forças e realizar sua
unidade e se situar diante dos partidos? Em-
bora Perani considere que o ponto de par-
tida para a unidade são as lutas concretas,
quando o povo se une naturalmente, chama a
atenção para a diversidade das lutas. do. seu
conteúdo, estágio, bem como a variedade e
complexidade de problemas que se encon-
tram em centros como São Paulo e Salvador,
por exemplo.
Nesse sentido, interpreta como sendo um
esvaziamento das lutas especificas qualquer
tentativa de reduzir a um único movimento pa-
ra fazer a unidade. Mas, Dor outro lado lembra
que o relacionamento dos trabalhos de base
deve ser pela convergência, pois e provoca-
do naturalmente pela unidade do sistema
explorador e do regime com o qual sempre
terminam por se enfrentar uma convergem
cia. que se dá pela troca de experiência em
vários níveis. Tem de ser uma unidade por-
tanto que se dê num processo heterogêneo,
respeitando-se as diferenças das lutas, e
convergindo nos conteúdos fundamentais
para somar forças. Uma unidade que se-
gundo ele è mais de acumulação .
A politizaçào da CEBs è um processo ine-
vitàvel, mesmo que especifico, que segundo
Perani se torna fundamental á superação da
visão que considera a resistência e as orga-
nizações populares como simplesmente rei-
vindicatórias e não políticas. Lembra, por
exemplo, que uma invasão pelo direito de
morar não significa apenas a conquista de
uma casa, mas representa uma nova experièn
cia de organização, um novo modo de vida,
nova forma de luta.
Nesse rumo è que Perani coloca a neces-
sidade da relação dos movimentos sociais
com os partidos Mas chama a atenção que
os partidos não podem substituir as organi-
zaçôes de base nem transformá-ias em ór*
gãos partidários. Argumenta que a luta popu-
lar é uma experiência de associativismo que
leva à descoberta de caminhos enquanto
o partido se apresenta como um proje-
to com programa feito.
-
"****Tmm1*m ^A * mMn*m-~J§ Iw%^ji' tCHíB^âP1 •flriü^HkS y *v ^í
littssi c t* Lfinasitt na hora tias a/rtiracõi>s: a ojiosicto junte ganhar, Jo;i(/nitn balança.
METALÚRGICOS, SÃO PAULO
A OPOSIÇÃO UNIDA
COM ROSSIAurélio e Rossi unem-se e podem bater o super-pelego Joaquim
A carreira sindical de Joaquim dos
Santos Andrade, o Joaquinzão. há 17
anos ancorado na presidência do Sindi-
cato dos Metalúrgicos de São Paulo, a
maior máquina sindical da América La-
tina, está balançando. Ele não conseguiu
vencer a oposição no primeiro escrutínio— a soma <h>s votos de seus dois adver-
sários foi praticamente igual à sua —
nào atingiu os 50% de votos do eleitora-
do mais um exigidos por lei (cerca de 27
mil votos) e. já no final da apuração
realizada no Ginásio do Ibirapuera. em
São Paulo, sob as vistas de muitos políti-cos e uma enorme massa de ativistas
operários paulistas, era visível o desalen-
to em quc mergulhavam ele e seus
apoiadores Do outro lado — a Chapa 2.
de Valdemar Rossi, o operário escolhido
para f. lar ao Papa cm nome dos traba-
lliadores católicos no ano passado, e a
Chapa 3, de Aurélio Peres. o deputado
operário que liderou o Movimento Con-
tra a Carestia — o resultado consolidou o
pacto de união que vinham estudando há
algum tempo. Graças a ele, apenas um
nome se apresentará no segundo escrutí-
nio para a disputa: o de Valdemar Rossi,
o mais votado entre os dois (teve prati-
camente o dobro dos votos de Aurélio).
É possível que Joaquim entre com re-
curso tentando obter junto à justiça tra-
balhista a vitória pela maioria simples
que conseguiu — contrariando a própria
lei criada pelo governo que exige, para o
primeiro escrutínio, que a chapa vence-
dora tenha 50% mais um de todo o elei-
torado inscrito. Nessa manobra, no
entanto, não acreditavam sequer os seus
aliados: o ex-deputado federal Marcelo
Gatto. trabalhador químico cassado pe-
los militares após fazer denúncias de
torturas e hoje trabalhando como asses-
sor jurídico de Joaquinzão. disse a Movi-
mento no Ibirapuera que não conhecia
nenhum precedente jurídico que permi-
tisse uma manobra desse tipo (embora
dissesse também que considerava a exi-
gência legal injusta e admitisse que Joa-
juim pudesse apelar para ela).
Segundo todos os participantes do
pleito, foi o mais disputado e mais
significativo dos últimos tempos. Para
isr.o contribuiu muito — ao contrário do
eJo-aquim e
seus aposentados
Resultados de alqumas urnas expressivas
Joaquim Rossi Aurélio
Aposentados 3 088~_ 366 '148
Desempregados 999 616 285
Aliperti 128 218 115
Sofunqè 236 76 239
Villares 201 313 27
Volks 114 250
Volks 114 250 33
Matarazzo 513 107 125
Arno 148 238 77
Lorenzotti 351 189 44
Metal Love 314 171 278
TOTAL com aposeni 6,092 2 544 1371
TOTAL sem aposont 3 004 2 173 1223
Ao final da apuração Joaquim linha 21.394votos, longe portanto dos 50°'o mais I necevsários, Rossi linha 15.475 e .Aurélio 7.022 —
praticamente empatados. portanto.A lahela acima mostra porém um dos segredos da
hoa votação de Joaquim: a enorme vantagem
que ohteve nas urnas em que votaram os aposen-
tados, aqueles que, de alguma forma, desen-
pendem da máquina assistencial do Sindicato.
Santo Conte, da Chapa 2. velho militante sindi-
cal, sócio do sindicato há 30 anos, diretor
cassado do sindicato no golpe militar de 1%4,
disse a EttrimtMtts que esses aposentados são na
realidade os mesmos operários que eram urr.ni
cados das fáhricas para as históricas grevesde antes do golpe.
A lahela mostra lamhém a votação em algumas
grandes fábricas, onde, em geral, a votação das
correntes oposicionistas sempre foi muito expres-
tm****. Na Arno. onde trahalhou Joaquim Andrade,
por exemplo, a chapa 2 ganhou com pratica-mente o dobro dos votos. Na Volks e na
Kord também a Chapa 2 conseguiu 5007o do
total de votos. \ Chapa 3 também teve expressivavotação em fáhricas como a Metal leve e a
Sofunge.
Outros resultados das apurações: Joaquim
continuou tendo grande maioria de votos nas
áreas industriais mais antigas e de pequenasoficinas, no Norte. Oeste e Sudeste da cidade: Ro-si porém conseguiu grande votação na região
Leste, também de pequenas empresas, mas onde
ele mora e trabalha.
que muitos temiam — a divisão entre as
chapas de oposição, que possibilitouopções mais diferenciadas para os meta-
lúrgicos, levou mais ativistas políticos a
se empenharem na conquista de votos
para suas correntes e acabou signifi-
cando uma politização muito maior das
eleições. "A
divisão trouxe alguns pre-
juízos mas também algumas vantagens",
disse a Movimento Valdemar Rossi,
agora o candidato único do lado oposi-
sionista. "O
debate político pode ser
mais aprofundado", disse ele. Para
Aurélio Peres, embora do ponto de vista
pessoal tenha tido perdas, por ter tido
apoio praticamente de uma só corrente
política — ligada ao jornal Tribuna
Operária — a campanha da oposição
com chapas separadas significou uma
enorme vantagem para o conjunto."Permitiu
que todas as forças entrassem
na camanha, o que nào ocorreria se fosse
feita a composição a qualquer preço quese pretendia de início".
Outras vantagens da campanha atual
em relação à última, de 1978: as fraudes
praticamente não existiram, os inciden-
tes policiais foram menores, o que tam-
bém contribuiu para tornar o conteúdo
político da campanha muito mais avan-
çado.Rossi parte agora para tentar vencer
Joaquim tendo atrás de si o campo opo-
sicionista unificado. Quinze dias antes
do pleito ele e Aurélio tinham se reunido
e fechado questão em torno de alguns
princípios de unidade: nenhum dos dois
venceria as eleições sozinho; nenhum dos
dois teria condições de, sozinho, condu-
zir a vida do sindicato; o que tivesse
menos votos, portanto, deveria desistir
publicamente do pleito e juntar seus ati-
vistas para ir às portas de fábricas
mobilizar seus eleitores para tentar der-
rotar o pelego.
As possibilidades da oposição são, ago-
ra, bastante grandes. O resultado parcialelevou enormemente os ânimos, especial-
mente na Chapa 2.
REPRESSÃO EM NAVIRAÍApós a saída do repórter de Movimen-
to de Navirai - MS. (veja matéria na pâqi-
na 9) a situação tornou-se ainda mais
tensa. Um telefonema da região infor-
mou que na Fazenda Entre-Rios. onde
centenas de famílias estão sendo amea-
çadas de expulsão, um grupo de pisto- •
leiros invadiu algumas casas e soltou
gado nas plantações. Além disso distri-
buiu bolinhos de carne envenenada num
local onde havia crianças pequenas, que
felizmente não os comeram, oferecendo-
os a um cachorro que morreu.
PROTESTO INUSITADOOs suinocultores de Santa Catarina
vão fazer uma forma inusitada de pro-
testo contra o governo, que insiste em
manter os preços mínimos da carne de
porco a níveis muito abaixo do custo:
durante a Festa do Leitão Assado de
Concórdia, a ser realizada de 27 a 29 de
julho, irão soltar um porco de páraque-
das, vestindo uma camisa da Associa-•ção dos Suinocultores Catarinenses e
trazendo no bolso um bilhete ao ministro
Delfim Netto.
CONSTRUÇÃO CIVILDois mil peões que trabalham na
construção de um conjunto residencial
em Jacarepaguá, no Rio, pararam seu
trabalho, no final da semana passada,
em protesto à morte de um trabalhador
atropelado na obra. Milton Farias de
Mesquita. 25 anos, havia acabado de ai-
moçar quando um caminhão em mano-
bras derrubou-o. Machucado, esperou
por socorro durante mais de uma hora,
tendo o engenheiro encarregado impedi-
do que seus amigos chamassem uma
ambulância. Milton acabou morrendo
por falta de assistência médica. E os
trabalhadores, revoltados, quebraram a
cantina, expulsaram os guardas de se-
gurança e apedrejaram um carro da poli-cia que veio ao local.
OPOSIÇÃO SINDICALOs marceneiros de São Paulo, uma
categoria que há 17 anos vem sendo do-
minada por pelegos, elegeram na sema-
na passada sua nova diretoria. Venceu a
chapa 2, de oposição, liderada por Joel
Alves de Oliveira, em segundo escrutí-
mo, por 1.048 votos, de um total de
2.075 votantes.
pmicipc!Debates —¦ "Desemprego
e Carestia"
iniciará uma série de debates promovida
pelo PMDB de Diadema, São Paulo. No
dia 24 de julho, 19 horas, na Câmara
Municipal de Diadema (Pça. Pres. Cas-
te!o Branco, 186) debaterão Walter Ba-
reili, do Dieese;deputado Aurélio Peres;
lideranças sindicais; Marion Oliveira, di-
retoca de Promoção Humana de Diadema
e Ricardo Zarattini, do Movimento Tra-
balhista do PMDB.
Brasil-Africa — 1 ° Seminário Interna-
cional Brasil-África, de 4 a 7 de agosto,
no Rio de Janeiro, com a participação de
intelectuais e Centros de Estudos África-
nos da América Latina e África. Promo-
ção do Centro de Estudos Afro-Asiàticos— CEAA, do Conjunto Universitário
Cândido Mendes (Rua Joana Angélica
63. fone 267-7141, Rio).
•Sociólogos — Abertas as inscrições
para o I Congresso Estadual dos Soció-logos que será realizado na USP nos dias12 a 15 de agosto. Os trabalhos já ins-
critos abordam, entre outros, o mercado
de trabalho, o ensino das Ciências So-ciais, a Questão Agrária, a Indústria Cul-tural e o Movimento Sindical. Informa-
ções na Associação dos Sociólogos deSão Paulo (Rua Augusta. 719. fone257-8225).
MOVIMKNTO - 20 ¦ 26/7/81
Nas últimas semanas o clima de me-
do e tensão cresceu em Naviraí no Ma-
to Grosso do SuL Os assassinatos e as
emboscadas que anos atrás, no início
da colonização, eram parte comum do
dia-a-dia e que pareciam ter desapare-
«do, começam a voltar. Regido de gran-
des latifúndios colonizados por fa- ¦
zendeiros paulistas e gaúchos, Nainraí j
tem poucos sitiantes pequenos, mas jmuitos lavrailores sem terra que vir }
vem de empreitadas e posseiros que há ¦
anos se internaram nas matas. Duran-
te os avós dc dt sbravamento dos flores- '
tas, dezenas de grandes serrarias se es-
palharam por toda a área» mas agora,
com o fim do desmatamento os traba-
lhadores estão sendo despedidos em
massa, sem ter para onde ir.
Temerosos, os fazendeiros contratam
grande número de ''guardas
de segu-
rança" — pistoleiros
— que procuram
proteger as fazendas, ameaçar os reni-
tentes que exigem seus direitos e fazer
valer a lei do "progresso":
o .38, cano
longo.No sábado antes da passeata de la-
vradores, o grupo de organização do
Movimento ae Direitos Humanos rece-
beu várias ameaças explicitas e mesmo
o cantor Antônio Cardoso foi adverti-
do por um estranho durante o almoço:"vocês
falam demais e se repetirem as
coisas que andam dizendo por aí nós
quebramos vocês. E vocês se (*uidern*
porque a viagem de volta vai ser mui-
to difícil". Tanto Antônio Cardoso co-
mo o repórter de Movimento saíram do
Estado de Mato Grosso do Sul, no do-
mingo à noite, escoltados por um gru-
po de moradores de Naviraí com seus
carros.A violência dos fazendeiros, desejo-
sos de "limpar"
suas terras para o gato,
está também provocando uma resistên-
cia dos lavradores e de boa parte da
população da região, como se vê nesta
missa em memória do Dr. Joaquim das
Neves Norte.
A classe roceira t* a classe operária ansiosa es-
pera a reforma agrária sabendo que ela dá
solução pra situação que eslá precária...
(CMta final da missa em memória de Joaquim das
Ne», es Norte)
Todo
homem tem direito à
vida. à liberdade e à segu-
rança pessoal. Ninguém
será submetido à tortura
nem a tratamento cruel,
desumano ou degradante.
A vo/ clara de Neide ressoa pausada
pelo alto-falante do carro que vai junto à
passeata pelas ruas de Naviraí. Sào ali
cerca de mil jovens chegados de dezenas
de cidades e vilas da região, para o lan-
çamento da Campanha de Direitos Hu-
manos da Diocese de Dourados. São os
jovens que vieram encontrar-se com os
lavradores pobres, os rendeiros, os
peões, que homenageiam, neste mesmo
domingo, a memória de seu advogdo,
Joaquim das Neves Norte, assassinado na
mesma praça Filinto Müller. onde eles
chegam cantando o antigo hino de Van-
dré. Pra Não dizer que não falei de fio-
res.
Os jovens — em sua maioria secunda-
ristas —, estiveram reunidos a manhã
toda. discutindo e ouvindo as canções de
Antônio Cardoso, um compositor e can-
tor que há muitos anos percorre o país.
animando reuniões de jovens, de lavra-
dores, de sindicatos. Agora entram na
praça para encontrar a passeata dos
lavradores que saíram do sindicato eom
suas faixas, suas enxadas e sua triste/a.
Naviraí é uma pequena cidade do Ma-
to Grosso do Sul. bonita, bem planejada,
ruas largas, jardins bem cuidados. Uma
cidade ainda cercada por serrarias e
3™-^áWf
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¦%.. \'2S*\**jP> : .^- ,v^víH F
f* U' .**-/_#*^W*4_SI_B-_f******* IgtiM**^- JhPs--•-'Tfc. . , * av mr*r . ** '*%*
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mÊLfi t . *-* •¦ :"*/f V*' /A -5 A //_ il**mm\\**^*- P**
fe3__S_F^'^__Ba>^-'
*Wk%WÊ.
" '•• ¦b/K *m _f _á_ mm . ^aSS
Passt-atavm Xirimt, MS. V. foto nwnor, a família di'Joatlnim \orl<> na missa tle W" dia.
CENA BRASILEIRA
ENXADAS E FOICENO ALTARNaviraí, MS: emoção e revolta na missa de 30° dia de Joaquim Norte
Murilo Carvalho
grandes fazendas de criação de gado,
com a poeira vermelha sempre no ar.
Os lavradores chegam em silêncio, to-
mam a dianteira da caminhada e se
espalham pela sombra da igreja, na rua e
nas calçadas, misturando-se à grande
multidão que já aguarda o início da
missa de penitência e protesto pelo
assassinato de Joaquim, advogado dos
lavradores e da Comissão Pastoral da
Terra. O altar foi montado num estrado,
à entrada da igreja, para que a missa
seja na rua e mais pessoas possam assis-
li-la."Nossos filhos e netos, continuaremos
na defesa de sua justa causa". A faixa,
sustentada por dois roceiros, só é abaixa-
da quando o bispo de Dourados começa
a falar. De longe um carro da polícia,
cheio de soldados, observa. O dia está
completamente azul e o sol é forte.
— A morte do sr. Joaquim foi uma
triste/a sem tamanho pra nós, o pessoal
dos arrendatários, dos posseiros. Ele
morreu porque ele acreditava que nin-
guém podia passar por cima da lei. que o
pobre tem o direito de ser tratado com
justiça e que ele não é escravo do rico.
Foi por isso que mataram, pra ver se
esmorecia nossa luta.
Manoel, um ala-,
goano, de 40
anos. morador na
fa/enda Jequiti-
bá. ameaçado de
expulsão antes do
vencimento do
contrato de arren-
damento que fez
com o dono
da fazenda, está
ali desde a ma-
drugada, espe-
rando para "rezar um pouco pelo amigo"
Au *)
Joatfuim !Xortt>
O bispo, forte sotaque alemão que
ainda não conseguiu perder nestes quase
35 anos de Brasil, explica as ra/ões da
missa, da passeata. E chama a viúva de
Joaquim, da. Maria, para ir até o altar,
onde um representante da comunidade
irá abraçá-la, como perdão pelo mal que"a
cidade lhe causara". Manoel olha.
tenso, enquanto da. Maria sobe choran-
do os degraus. Um velho lavrador abra-
ça-a em silêncio. Manoel fica de cabeça
baixa, mal disfarçando um choro que
teima em umedecer-lhe os olhos.
— Nós escrevemos uma carta que um
companheiro nosso vai ler aí na missa, e
nós pensamos no padre que fala pra
gente nào pensar em vingança, tá certo a
vingança nào resolve, e a gente nunca ia
trocar mesmo a vida de nosso advogado^
nosso amigo Joaquim, pela vida de um
assassino, um pistoleiro sem categoria.
Mas se um homem desses cai na nossa
mão. na mão do nosso povo revoltado de
lá. Deus ia entender a nossa revolta, e
não garanto que ele também não virasse
sal da terra.
Os lavradores — cerca de mil famílias
— estão temerosos, sentindo-se desam-
parados depois da morte de Joaquim. O
contrato que a maioria deles fez com os
fazendeiros já está praticamente venci-
do. mas muito antes tiveram suas forças
invadidas pelo gado. destruídas suas ca-
banas. E todo o ano que se dedicaram a
derrubar a mata. destocar, limpar o
terreno para finalmente plantar, ficou
perdido. Não puderam mesmo colher a
segunda safra, conforme o combinado,
antes de plantar o capim e devolver a terra
ao fazendeiro.
No ofertório. depois de falar sobre a
morte do advogado e a indiferença da
polícia. D. Teodardo Lietz lembra:— Esses crimes, como outros, o do
Riocentro. por exemplo, têm que ser
esclarecidos para o povo. para que o
povo não se sinta traído. Senão as mas-
sas um dia vão perder a paciência e se
levantar, então sim. ninguém segura. E
as coisas poderão ser piores. Por isso
pedimos aos responsáveis: não deixem
esses crimes hediondos cairem no esque-
mento. porque Deus não esquece e o
povo não esquece também.
Lavradores com suas enxadas e foices
sobem no altar e levantando-as. ofere-
cem a Deus seu trabalho, a força de seus
braços. Pedro, morador de uma das fa-
zendas, sobe também para ler a carta
dos lavradores. Só o barulho do vento e o
chiado do alto falante misturam-se ao
seu falar gaúcho, bem escandido:— "A
triste notícia se espalhou pelo
campo, de cabana em cabana. se espa-
lhava o acontecimento, muito choro e
desespero surgiu entre o povo."E
verdade que ele tinha todas as condi-
çoesde ser feliz, mas ele preferiu lutar até i
morte".
O cântigo litúrgico da comunhão crês-
ce nas vozes de todos os que sabem ler
nos textos mimeografados que foram dis-
tribuídos.— Dr. Joaquim ajudava a sustentar
nossa luta. Agora ele morreu como ho-
mem. mas continua a lembrança dele
para ajudar a combater nossa luta.
Manoel comunga, olhos baixos, a tes-
ta encostada no cartaz que carrega:"Nossa força vem da união".
O sol já virou no horizonte quando o
último canto da missa ... espalha pelas
sombras compridas que povoam a praça.
Rapa/es e moças, quase todos nascidos
ali, naquelas terras desbravadas por seus
pais. cantam juntos com os roceiros:"A
classe roceira e a classe operária/,
ansiosa espera a reforma agrária/saben-
do que ela dá soluçào/pra situação que
eslá precária...
MOVIMENTO — 20 a 26/7/81
BRASIL/URSS
Os grandes negócios
de Delfim na URSSDe inimiga, a União Soviética vai ser grande parceira comerei
MARCOS PAIVA
ai do Brasil.
"A abertura chegou a União Soviéti-
ca", anunciou um empresário entusias-
nuido com os resultados da curta mas
proveitosa viagem do ministro Delfim
Netto e sua gigantesca comitiva a Mos-
cou na semana passada. De fato, de ini-
miga-máxima do "Brasil-potência" na
década passada, a União Soviética toi
guindada a condição de grande parceiro
comercial do Brasil. Os acordos envol-
vendo a venda dc soja. cacau, milho e
ptodutos manufaturados para a URSS e
a compra pelo Brasil de petróleo e equi-
pamentos industriais garantem um volu-
me de negócios nos próximos cinco anos
calculado cm cerca dc USS 5 bilhões. Sa-
tisfeito. o ministro Delfim Netto prevê
que. até 1^80. o comércio entre os dois
países chegará ao nível dc USS 1 bilhão
de exportações c importações, o que o
colocará no mesmo nível do intercâmbio
do Brasil com tradicionais parceiros co-
mo Argentina c França.
Naturalmente, nem tudo foram flores
na visita da missão chefiada por Delfim.
Repetindo as mesmas divergências que
haviam marcado as reuniões anteriores,
não houve entendimento em relação ac
valor das importações dc manufaturados
brasileiros por parte dos soviéticos cm
contrapartida ã compra pelo Brasil de
turbinas para a hidrelétrica de Ilha
Grande no montante de USS 120 mi-
lhões. A questão será decidida por oca-
siãoda vinda ao Brasil de mais uma mis-
são comercial soviética, em setembro,
encabeçada pelo vice-presidente do Co-
mitê Estadual de Relações Exteriores,
Vitale Morason. e que será integrada por
representantes de algumas das mais im-
portantes empresas soviéticas de comer-
cio exterior. Fm compensação foram en-
tabulados negócios para a venda aos so-
viéticos de uma enorme gama de produ-tos que nào estavam cogitados, desde
azulejos até calças "
jeans" — as
"URSS-
Top" — bolas de futebol etc.
O "grande salto" no intercâmbio Bra-
sil-URSS nos próximos anos será visível
não apenas nas estatísticas mas inclusive
pela presença no Brasil de equipamentos
c de técnicos sov iéticos que virão prestar
assistência técnica as empresas Pauline-
tro e Coalbra (C ompanhia Coque e Al-
cool da Madeira). Mais do que isto, po-
tem. o namoro Brasil-URSS poderá re-
sultar na formação de "dobradinhas"
entre empresas dos dois países para
atuar em terceiros países — como An-
gola. Etiópia, Moçambique — nas áreas
de consultoria e dc engenharia civil, com
tis soviéticos entrando com o financia-
mento e fornecimento de equipamentos e
as empresas brasileiras se encarregando
da execução das obras. Os primeiros en-
tendimentos concretos nesse sentido to-
ram realizados pelos empresários brasi-
leiros que integravam a comitiva de Del-
lin e deverão prosseguir nos próximosmeses.
A colaboração entre os dois países no
campo econômico poderá ser ainda mais
estreitada com a provável participação
soviética no projeto Carajás ao lado de
afl a^l 1^^ "*" "¦''
t^T^h ¦ am «áe * **^^^*~ -«sjv.
¦ (P** Ám tWl***- -4| 'v Jbr
algumas das mais conhecidas corpora-
ções multinacionais do mundo capitalis-
ta. A proposta partiu dos próprios sovié-
ticos, que até apresentaram um esquema
preliminar, pelo qual financiariam a
aquisição dos equipamentos necessários
para a exploração de determinados mi-
nerais e como pagamento receberiam
parte da produção resultante destes in-
vestimentos.
Para o governo brasileiro a ampliação
das relações comerciais com a URSS re-
presentará um novo alento ao modelo
econômico em vigor — ao significar a
abertura de uma nova fonte de emprés-
timos e de um novo mercado para as ex-
portações, fatores essenciais em esforço
governamental para evitar o estrangula-
mento das contas externas do país.
Em termos estritamente comerciais, es-
ta nova etapa nas relações entre os dois
países resultará numa sensível diminui-
ção no crônico déficit dos soviéticos em
suas transações com o Brasil — esta. porsinal, foi uma das principais exigências
feitas por Moscou ao longo das conversa-
ções com Brasília.
Embora o governo tenha investido mais
de 300 bilhões de rublos (um rublo vale
um pouco menos que uni dólar) no setor
agrário nos últimos dez anos — 0 que re-
presente 2.3% armais do que na década
anterior —, a'produção agrícola da
URSS cresceu apenas 123.7% de 1970 a
1980 — enquanto a produção industrial,
com menos cuidados, cresceu 167% no
mesmo período. Segundo revelou Leonid
Brejnev no relatório ao XXVI Congresso
do PCUS, em fevereiro passado, em três
anos nos últimos cinco a produção agri-
cola do país foi desfavorável. Pior ainda,
em conseqüência de problemas climáti-
cos, as perspectivas da próxima safra não
são muito alentadoras. Por tudo isto e
também para evitar novas surpresas com
o boicote econômico determinado peloex-presidente Carter em 1979 em repre-
sália a invasão do Afeganistão, a amplia-
ção e diversificação dos fornecedores dc
alimentos tornou-se uma das preocupa-
ções primordiais da política externa so-
viética. Por estas razões, a proposta do
Palácio do Planalto de intensificação do
intercâmbio entre os dois países teve res-
sonância imediata no Kremlin. Afinal,
juntou-se a fome com a vontade de co-
mer.
Ver matéria uO crescimento da
IRSS na A. Latina" na página 15.
Brasil-URSS: as multis também ganhamAo contrário dos déficits insistente-
mente alardeados pela imprensa ociden
tal, as estatísticas do Ministério do Co-
mércio Exterior da URSS revelam que o
país tem alcançado pequenos superávits
em suas transações comerciais com o res-
to do mundo nos últimos anos. No ano
passado, para um nível total de comércio
de 94.1 bilhões de rublos (valor que cor-
responde, na cotação atual, a 70.5 bi-
lhões de dólares), o saldo foi de 5.2 bi-
lhões de rublos. A maior parte desse su-
perávit foi obtido nas transações com os
países socialistas, com os quais a URSS
teve um superávit de 3.2 bilhões (expor-
tações de 26.9 bilhões e importações de
23.7 bilhões, sempre em rublos).
Com os países "capitalistas desenvolvi-
dos", conforme a classificação do minis-
terio soviético, as transações praticamen-
te se equilibraram (exportações de 15.9
bilhões e importações de 15.7 bilhões),
enquanto com os países "capitalistas em
desenvolvimento" a URSS alcançou um
razoável superávit em comparação com o
volume total do intercâmbio — para
compras no valor de 5.1 hilhões de ru-
blos, venderam 6.9 bilhões para esse bio-
oo,Fm decorrência do boicote promovido
pelo ex-presidente Jimmy Carter no final
de 1979. o nível do comércio com os Es-
tados unidos naturalmente caiu —de 2.3
bilhões de rublos em 1979 para apenas
1.5 bilhões no ano passado, o que redu-
ziu o déficit da URSS com os americanos
para 1.2 bilhões (contra 2,2 bilhões no
ano anterior). O boicote em nada influiu
no comércio com Cuba. que aumentou
apenas 100 milhões de rublos em 1980.
com a diferença que em 1979 o investi-câmbio entre os dois países foi pratica-mente equilibrado, enquanto no ano pas-sado foi desfavorável para os cubanos em310 milhões de dólares (exportações so-viéticas de 2.3 bilhões e importações de2.0 bilhões).
As estatísticas mostram, claramente,
que a Argentina foi o principal benefi-ciado pelo boicote: De 1979 para 1980 ointercâmbio Argentina-URSS aumentou
quase 500% saltando de 214 milhões derublos em 1979 para 1.193 milhões noano passado. De 264 milhões registradosem 1979. o superávit argentino aumen-tou na mesma escalada, atingindo 1.132milhões de rublos em 1980. Nesse mesmo
período o comércio com o Brasil aumen-tou pouco mais de 50%. passando para275 milhões de rublos em 1980
10MOVIMENTO — 20 a 26/7/81
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j FMAMJ J ASONDJ FMAMmaW **» A» . ,,, _.,_„_ 7(J„
A quida aulirada do nívil de emprego industrial tm Sào Paulo: a uma-da roisla rxiiine - moslra o (TWt inlo do imprimo mis a miv dc jamiro dc IVKOu maiodi- 1981. que cai dc ? 2.6", para - 7»
QUEM PAGA PELA CRISE?Sobre as costas largas dos
dos trabalhadores, o regime mipequenos, em particular,itar joga todo o peso de sua crise.
Os números são assustadores:
O nível geral da produção na indús-
tria brasileira —medido pelo IBGE —
caiu 1 ,7% nos cinco primeiros meses de
81. quando comparados a 80; é a pri-
meira queda na produção industrial do
país cm mais de 10 anos;
de acordo com o índice da revista
Exame, o nível geral do emprego in-
dustrial em São Paulo, o grande centre
econômico do país. está — em majo —
7% abaixo do nível do mesmo mês nc
ano anterior (veja o gráfico acima); a
queda na oferta de empregos na produ-
cio em São Paulo é muito pior: o nível
de maio de 81 é 73.6% inferior ao de
maio de 80.
• subemprego se alastra, pratica-
mente dobrou em todas as áreas metro-
politanas do país nas quais existem
pesquisas do IBGE: o número dos que
trabalham mais de 40 horas semanais e
recebem menos de um salário mínimo
se elevou de 8.03 para 13,19% em São
Paulo; 5.56 para 12.53% em Belo Hon-
zonte; e de 12.91 para 19.33% em Sal-
vador. por exemplo.
Para quem insiste em negar o desem-
prego, os fatos sào arrasadores Um
exemplo:
no Rio. dia 27 dc maio. mais de 30
mil pessoas correram a Rede Ferrovia-
ria Federal em busca dc 352 vagas para
salários de 14 a 23 mil cruzeiros;
O governo anuncia que esta situação
perdurará por dois ou tres anos. Até
empresários, no entanto, acreditam que
as dificuldades se agravarão; há. inclu-
sive, os que vêem a iminência de uma
deterioração profunda da situação so-
ciai. porque a crise ainda estaria longe
úo "fundo
pOÇO".
•'Mesmo que o governo mantenha a
crise nos níveis atuais ou seja. impeça
falências em massa e mantenha a atual
oferta de empregos, o quadro é sinistro:
o próprio governo sabe que não basta
manter os empregos atuais — é preciso
criar 1.5 milhão de novos empregos por
ano para acomodar a massa dos jovens
e mulheres que vêm se incorporar
anualmente á força de trabalho.
Mas se a crise pode ter um rumo mais
ou menos grave, a depender de alguns
fatores, o plano do governo militar para
combatê-la. por mais que se diga outra
coisa, consiste, basicamente, em jogar o
seu peso sobre as costas largas dos tra-
balhadores.
O desemprego, nas cidades e no cam-
po é a forma mais visível de transte-
rir os custos sociais da crise daqueles
que a criaram para as famílias dos po-
bres e pequenos, em geral. O desempre
go. porém, não é a última arma do re-
gime. nessa política. Qualquer observa-
dor mais atento \ê que o governo esta
buscando ganhai forças para eliminai
o reajuste semestral cos 10% adicionais
sobre 0 IN PC para a faixa dos que ga-
nham dc 1 fl 3 salários; WW sucessivos
pronunciamentos, ministros de Estado,
líderes empresariais c mesmo lideram
ças sindicais pclegas e trabalhadores
confundidos vêm apontando o reajuste
e os 10°.. como os responsáveis pela
atual onda de desemprego. Os benefí-
cios modestos que o reajuste semestral
e a nova fórmula salarial proporciona-ram aos trabalhadores de mais baixos
salários formam pois o próximo prato
que o governo militar pretende aboca-
nhar para ganhar forças e resolver a
crise a seu favor. E isso é mais do que
esperado: esse*, benefícios já foram
apontados pelos banqueiros internado-
nais como obstáculos no caminho da
solução recessiva que o governo vem
dando a crise; a recessão é a única saí-
da que o regime tem. porque ela lhe
permite reduzir o consumo interno e
aumentar a quantidade de excedentes
exportáveis.
Para jogar os prejuízos do modelo so-
bre os de baixo, o governo tem ainda
um impressionante rol de artifícios: são
subsídios, impostos, serviços e recursos
sob seu controle que são manipulados
com vistas a favorecer os monopólios
estrangeiros e nacionais e desfavorecer
os trabalhadores e os pequenos e mé-
dios proprietários. Alguns exemplos: as
estatísticas do custo dc vida. que corri-
gem os salários di>s trabalhadores, vêm
senoo manipuladas, denuncia-se; o
grupo Antunes recebeu juros subsidia-
dos para pagar a crise do projeto Jari.
do multimilíonário Ludwig; o ministro
do Planejamento mandou elevar o pre-
ço da gasolina e do diesel — e portanto.o úo Transporte, dos alimentos etc —.
sem que tivesse havido aumento do
petróleo, só para o governo conseguir
300 bilhões de cruzeiros a fim dc levar
adiante a sua política de novos subsí-
dios á exportação e aos monopólios em
dificuldades e retirada dos subsídios
para o pão. leite. etc.
Diante disso, que têm a dizer os tra-
balhadores? Mesmo sem uma visão cia-
ra de todas essas políticas c manobras,
os trabalhadores resistem e reclamam.
Os mais conscientes sabem que preci-sam aproveitar a oportunidade paramostrar á grande massa os resultados
práticos do modelo econômico-social e
político que sempre denunciaram.
Esse trabalho de Movimento procura,como passo inicial para ajudar os tra-
balhadores nesta tarefa, apresentar as
variadas formas de resistência à crise
que vem surgindo muitas vezes espon-
taticamente em vários cantos do país.Nas quatro páginas seguintes se podever que os trabalhadores têm costas lar-
gas para suportar o peso da crise, mas
que também têm cabeça firme e braços
fortes para organizar-se c lutar para jo-
gá-la sobre a cabeça dos que a criaram.
. .11
MOV IMI \l(> 2(^26 7.81
Sob o fogo do desempregoMuitas lutas, mas tambem vacilaçôcs
entre os trabalhadores ao enfrentar
cara a cara a crise do desemprego
Ford: umanova tática
grevistaAgora as reivindicaçõessão outras: readmissão
e estabilidade
Depois da Scania Vabis. a Ford de
São Bernardo do Campo foi uma das
primeiras fábricas a aderir á greve
decretada em 1978. que rompeu com o
longo silêncio imposto h classe operária
pela ditadura militar.
Assim como naquele ano, na
segunda-feira retrasada, dia 6 de julho.
os operários da Ford entraram na
fábrica, marcaram o cartão de ponto,
foram para junto de suas máquinas
mas não as ligaram. Ao invés de
salário, como em 78, os operários
reivindicavam a readmissão de 450
companheiros demitidos na sexta-feira
passada e a estabilidade no emprego.
Nessa mesma sexta-feira, a Ford
telefonou ao sindieato comunicando as
demissões. Poucas horas depois a
diretoria cassada se reuniria com um
ir!v,>o de operários da Ford, que
ti unicamente se reúne já há algum
tempo, e a deeisão de agir
imediatamente foi tomada naquele
mesmo dia.
Uma nova tática grevista eomeçaria
a ser colocada em prática. A proposta
de Lula e sua diretoria era driblar a lei,
que fatalmente julgaria a greve ilegal,
retornando ao trabalho mas mantendo
uma operação tartaruga antes que isso
acontecesse. A greve seria retomada
sucessivamente até que a empresa
negociasse as readmissões.
Durante toda a semana em que
durou a greve, eram realizadas assem-
Meias de manhã eedo e a tarde quando
são trocados os turnos. No tereeiro dia
é formada uma eomissão de 14
operários, eleitos demoeratieamente
pelos seus setores de trabalho, para
negociar diretamente eom a diretoria
da fábriea. Ao mesmo tempo a Ford
recorre a Justiça do lrabalho para que
decrete a ilegalidade da greve. Esta
marca uma reunião conciliatória no
quinto dia de greve. Diante dos
resultados negativos da reunião o
Tribunal Regional do Trabalho marca
o julgamento da greve para terça-feira,
dia 14. às 13 horas.
Durante a primeira semana da greve
surgiram propostas de retorno ao
trabalho sem que nenhuma conquista
tivesse sido obtida. Alguns avaliavam
também que caso o movimento não se
estendesse a outras fábricas, os
trabalhadores da Ford seriam fatal-
mente derrotados. A comissão dos 14
realiza durante dois dias passeatas
dentro da empresa, dirigindo-se aos
diretores da Ford para que venham
negociar com eles.
Um dia antes de ser julgada a greve.
na segunda-feira.dia 13. tentando
evitar a decretação de sua ilegalidade e
aceitando a proposta da empresa de
negociar apenas quando as máquinas
voltassem a trabalhar, os operários
decidem cm assembléia voltar ao
trabalho.
Nesse dia a empresa oferece 120 dias
de estabilidade para todos, reconheci-
mento da comissão dos 14. e o
desconto dos dias parados em quatro
parcelas. Essa proposta é apresentada
à assembléia da terça de manhã, dia
14. e recusada por todos já que não
apresentava a perspectiva de readmis-
são das pessoas demitidas. Com as
máquinas paradas, a comissão dos 14
percorreu a empresa discutindo eom
todos os trabalhadores as propostas da
empresa, que durante o dia sofreu uma
nova redação, garantindo a todos as
propostas já feitas, mas deixando uma
porta aberta para que a readmissão dos
450 fosse discutida posteriormente. Ãs
13 horas dessa terça-feira, o Tribunal
Regional do Trabalho, por 15 votos a 2
declara a greve ilegal, decretando
retorno imediato ao trabalho e
acabando com a ilusão daqueles que
acreditavam em outro resultado. As
16:30 horas nova assembvléia é realiza-
da eom a presença dos 9.5(X) emprega-
dos da empresa, que decidem aceitar a
proposta por ela formulada, pois como
di/ia Lula: "todos
ali conhecem muito
bem o que significa a ilegalidade do
movimento**.
Para quem considera que mais vale
um pássaro na mão que dois voando
o desfecho da greve foi uma vitória. Se
a perspectiva era de novas demissões
para breve, essa hipótese pode ter sido
afastada não só pela Ford. Todos já
sabem que esse é o primeiro passo para
as demissões em massa.
Fiat, Rio: oserros da heróica
resistênciaO mais longo movimento
grevista acabou isolado
politicamente42 dias de greve, o mais longo
movimentos des últimos tempos — um
dia a mais que São Bernardo em 1980
— foi a heróica resistência contra o
desemprego dos operários da fábrica de
caminhões Fiat-Diesel. no distrito de
Xerém, Duque de Caxias, no Rio de
Janeiro. A reivindicação era a
readmissão de 250 demitidos e
estabilidade no emprego por 1 ano. O
resultado, muito pequeno: estabilida-
de de 4 meses; bolsas de estudo para
parte dos demitidos;parcelamento do
desconto dos dias parados. De resto,
derrotas: o próprio desconto dos dias
parados; 49 novos demitidos por "justa
causa", entre os quais 11 membros do
comando grevista, estáveis por serem
membros da Comissão Sindical.
A causa da derrota da greve nos seus
objetivos econômicos, deveu-se a vários
fatores. Em primeiro lugar a
solidariedade da classe patronal, que
uniu as federações das indústrias do
Rio e São Paulo e o Sindicato dos
Fabricantes de Automóveis. Para os
patrões, qualquer concessão no caso da
Fiat abriria perigoso precedente num
momento de crise. De outro lado. a
repressão policial e a intransigência
governamental, embora a Justiça do
Trabalho tenha vacilado em seu
tratamento da greve. De início decla-
ivh ., legal. Depois, ao julgar o mérito
das reivindicações, negou-as todas,
considerando-as ilegais.
Mas no campo popular, é que a greve
enfrentou maiores dificuldades: não
conseguiu romper o isolamento político
a que foi lançada desde o início. Pata
isto contribuíram nào só erros de
comando, mas principalmente a
postura do Sindicato dos Metalúrgicos
do Rio. A diretoria do Sindicato não
queria a greve, mesmo porque não a
liderava. Não promoveu uma efetiva
solidariedade entre a categoria,
inclusive não tentou ampliá-la para
outras empresas onde também havia
demissões. Imprimiu uma orientação
jurídica equivocada no entender do
comando grevista e. ao fim. assinou o
acordo sem passar por uma assembléia
dos trabalhadores da fábrica, que o
rejeitaram. Assim, em certa medida
endossou a demissão do comando
grevista, que tinha estabilidade. Finda
a greve, provocou diversos incidentes,
expulsando o Comando da sede do
Sindicato e da subsede de Xerém e,
com base nos incidentes, promove
agora a expulsão dos membros do
comando grevista do quadro social do
Sindicato.
Da parte do comando a luta se
desdobra em dois campos: de um lado
a resistência contra a expulsão do
sindicato e. de outro, a continuidade da
luta contra o desemprego. Como saldo,
criaram a ACAM — Associação
Cultural de Apoio Mútuo — como
órgão independente dos trabalhadores,
que. a exemplo de São Bernardo,
pretende ser um Fundo de Greve
permanente; ajuizaram ação trabalhis-
ta no caso dos útlimos 49 demitidos por"justa
causa", objetivando derrubá-la
e. assim tentar o retorno do comando
à fábrica; preparam a próxima
assembléia dos trabalhadores da Fiat
para aprovação da minuta do dissídio
coletivo, cuja data base é a 1.° de
agosto.Como saldo positivo, o comando
grevista destaca a grande unidade e a
combatividade dos trabalhadores em
todo o transcorrer da greve. E. além
disso, o fato de terem aberto o caminho
de resistência contra o desemprego
através da greve. Mas é lato também
que o movimento sindical metalúrgico
no Rio de Janeiro dividiu-se mais. Além
disso, grande parte dos ativistas da
oposição — não só os da Fiat — estão
desempregados, sem maiores condi-
ções. portanto, de um trabalho efetivo
no seio da categoria, no momento em
que o desemprego atinge outras
empresas, em particular, o setor da
construção naval.
zaniní, Rio:os saláriosrestaurados
Pressão dos engenheirosacaba com reduçãode jornada e salário
A Zanini-Foster Weeler do Rio de
Janeiro, empresa de consultoria
especializada nos ramos de engenharia
química e petroquímica, foi daquelas
que aplicaram a redução da jornada de
trabalho e conseqüente redução salarial
de seu quadro de 240 funcionários na
mais completa surdina. Dia 20 de
fevereiro, uma sexta-feira, em circular"A Todos os Funcionários", comuni-
cou que a partir da segunda-feira
seguinte, dia 23, reduziria em 10% a
jornada de trabalho e os salários.
Alegava dificuldades financeiras, a crise
por que passa o país e pedia"compreensão".
O fato ficaria talvez para sempre em
silêncio não fosse a grita dos operários
da Volks contra tentativa de medida
idêntica. Com a luta da Volks nos
jornais, funcionários da Zaniní
tomaram conhecimento de seus direitos
e procuraram o Sindicato dos
Engenheiros. Segundo esclarece Jorge
Bittar. presidente do Sindicato, a
primeira medida foi a denúncia
pública, caracterizando o descumpri-
mento da lei n.° 492V65, que limita os
casos de redução salarial apenas por 3
meses, desde que haja concordância
prévia dos trabalhadores e em face de
grave crise econômica. A segunda
medida foi a convocação de uma mesa
redonda na DRT, já incorporando
também os sindicatos dos Químicos e
dos Desenhistas.
Neste ínterim, a Zaniní restaurou a
jornada e os salários, mas não teve
como negar a convocação de uma
assembléia realizada na própria
empresa, quando os funcionários a
denotaram, por 167 votos a 52. Obtida
a primeira vitória — restauração dos
salários — resta o pagamento das dife-
renças descontadas, o que a empresa vem
negando sob a alegação de que teria de
haver reposição das horas não trabalha-
Acordosquase sempredesfavoráveisEm Minas, jornalistasevitam demissões comempréstimo à empresa
A partir de fins de 1980 e início desteano, quando a crise econômica começaa se manifestar eom mais força,diversas empresas do setor industrial eoutras tentam acordos que implicam aredução da jornada de trabalho e
conseqüente redução salarial. Algunsdestes acordos, inclusive, reduzem
apenas o salário, mantida a mesma
jornada de trabalho. Uma parte deles
já expirou, enquanto outros estão
se encerrando em dias próximos. Em ca-
da situação, uma tática dos trabalha-
dotes, mas que sempre um baixo índice
de mobilização, especialmente nos açor-
dos assinados no interior do Estado de S.
Paulo.Estado de Minas. Em agosto de 80.
a direção do jornal anunciou unia lista
de 18 jornalistas que seriam demitidosa lim de reduzir em 320 mil cruzeiros a
folha de pagamentos da empresa, queestava sofrendo grave crise. O Sindicato
foi apanhado de surpresa, apesar de
saber da crise dos "Diários
Associa-
dos", diz Paulo Lott, seu presidente. Foi
convocada uma reunião onde todos,
meio atônitos, não sabiam bem como
reagir. Mas o "listão"
não estava
fechado e. assim, todos se considera-
vam demitidos, o que facilitou a união,
segundo explica Lott. Obtida uma"trégua"
junto à direção da empresa,
foi pensada uma outra forma quereduzisse a folha de pagamentos em 320
mil cruzeiros, sem demissões. A
fórmula veio do Washington, presidente da Federação dos Jornalistas: 7% do
MOMMIMO -20 a 26 7 81
INPC de outubro, de todo o pessoal,
daria aquele montante, que ficaria a
título de empréstimo, a ser devolvido
um ano depois. A direção da empresa
aceitou. A resistência maior deu-se na
categoria: os jornalistas do Estado de
Minas queriam o acordo para garantirseu emprego; os colegas das outras
redações argumentavam eom a ameaça
ao próprio movimento sindical e à
categoria. Duas assembléias levaram
finalmente à aprovação do acordo que.
ainda hoje. prestes a encerrar-se. nào
tem uma avaliação definitiva por parte
de Paulo Lott.
• Belgo Mineira. O desaquecimento da
economia afetou grandemente o setor
siderúrgico. A partir de janeiro a Belgo
teve uma acentuada queda nas
encomendas e tentou reduzir a jornada
de trabalho e os salários. Mas a
resistência dos trabalhadores não se fez
esperar, preparados que estavam para
enfrentar a crise. O combativo
Sindicato de João Monlevade deu início
à mobilização, seguida pelos trabalha-
dores de Contagem e Sabará. cidades
onde a Belgo possui outras unidades de
produção. A resistência inicial fez a
empresa recuar para uma nova
proposta: eliminação da antecipação
salarial (espécie de reajuste trimestral
conquistado pelos trabalhadores de
Belgo há 3 anos) de julho, cerca de
18%, pelo prazo de 3 meses. Em
contrapartida, nenhuma demissão.
Assembléias realizadas pelos 3
sindicatos em maio aceitaram a
proposta, com uma diferença: enquan-
to os sindicatos de Belo Horizonte e
Contagem e o de Sabará aceitaram o
cancelamento definitivo da antecipação
trimestral, o de João Monlevade
aceitou o cancelamento da antecipação
apenas temporariamente, o que acabou
prevalecendo para todas as unidades da
empresa. O acordo vigora até setembro,
quando o espectro do desemprego ou da
redução da jornada voltará a rondar os
operários da Belgo. já que a crise no setor
está longe de ser resolvida.
• Companhia Brasileira de Tratores -
São Carlos - SP. O Sindicato
metalúrgico local, celebrou um
contrato de redução da jornada de
trabalho e conseqüente redução salarial
por três meses, o qual venceu em
junho. A empresa empenhou-se na
renovação do contrato, mas desta vez
os trabalhadores a rejeitaram. A
posição do presidente do Sindicato.
Antônio Cabeça Filho, que havia
apoiado o acordo da primeira vez,
agora conclamou os trabalhadores a
não renová-lo e a "seguir o exemplo da
Fiat", preparando uma greve. Mas não
mobilizou os trabalhadores para isso.
Conseqüência: a 30 de junho 216
operários foram demitidos, o que veio
aumentar o exército dos desemprega-
dos na cidade, onde só a própria CBT
já havia demitid > 850 trabalhadores em
fevereiro, antes da assinatura do
contrato de redução da jornada de
trabalho. Em São Carlos houve ainda
redução de jornada e dos salários na
fábrica de plásticos Carainale. A soma
de diversos artifícios usados pela
empresa fez eom que a redução salarial
atingisse quase 45%!• Ford e Volks Taubaté SP: Com 5
mil demitidos desde janeiro na base
territorial do Sindicato (Taubaté e
Pindamonhangaba). o que representa
quase 25% da categoria, os
metalúrgicos enfrentaram dois grandes
problemas que afetaram a indústria
«automobilística. No caso da Volks a
fábrica de Taubaté aprovou a discussão
da jornada no plebiscito realizado em
abril e que vigora até 30 de julho
próximo. O boato é de que a Volks
demitirá então 1.100 operários,
chegando praticamente a desativar a
fábrica de Taubaté. Oiante disso os
trabalhadores já iniciaram a mobiliza-
ção. Avisaram ao Sindicato — e
contam com seu apoio — que entrarão
em greve se houver demissão e jáconvocaram uma assembléia que estava
previsa para a última sexta-feira, dia
18. a fim de marcarem um caminho de
resistência, previamente.No caso da Ford. a ameaça de
demissão de 500 a b(X) operários
comunicada dia 2 de julho pelaempresa à direção áo Sindicato, levou a
uma imediata mobilização dos
trabalhadores que paralisaram a
fábrica, por 45 minutos já no dia 3. A
empresa recuou e limitou as demissões
a 192 trabalhadors. eom possibilidadede readmissão de alguns deles.
São José: águae luz para os
desempregados(3 sindicato procura
novas formas de lula c
já te/ ale forrós
Só nos últimos 10 dias foram para a
rua 400 operários da General Motors
de Sào José dos Campos, aumentando
drasticamente o número de desempre-
gados na região, já por volta de 4 ou 5
mil metalúrgicos. Não foi dada qual-
quer resposta efetiva a esta situação.
Mesmo assim, como diz José Luis Gon-
çalves, secretário do Sindicato dos Me-
talúrgicos. as expectativas de uma pa-
ralisaçào futura são boas, porque os
trabalhadores estão se conscientizando
de que "não
lhes resta outra saída se-
não a greve."A nova — e jovem
— diretoria do
Sindicato está basicamente preocupada
em recuperar o desgaste da entidade,
há muitos anos afastada dos trabalha-
dores. "Não temos informações de que
haverá novas demissões", diz José Luis,
2o- anos: "mas
o grande problema é a
rotatividade. Nós temos cálculos mos-
trando que nos últimos meses as em-
presas estão constantemente demitindo
e readmitindo.""Estamos tentando trabalhar com os
desempregados, fazendo reuniões para
debater o que é a GM e tentando criar
um fundo de desemprego como o de
São Bernardo do Campo, independente
do sindicato." Mas os resultados ainda
são modestos. Assim mesmo, as reu-
ni5es _ qUe se estendem também à vi-
zinha Caçapava contam com a presen-
ça de até 60 operários. Foi realizado
um Forró e está sendo programada uma
feijoada. E enquanto a mobilização não
possibilita a realização de greve, o sin-
dicato vai elaborando novas perspeeti-
,\as para resolver de todas as formas
¦possíveis a situação dos desemprega-
dos: fazer shows para o fundo desem-
prego e pressionar a Prefeitura, a Ide-
tropaulo e a Sabesp para não cobrar
impostos nem cortar luz e água dos de-
sctnpregados.
Tupi: oscompromissos
do governoA solução oficial para a
Tupi foi provisória;só 10% eslào empregados
1.33o* desempregados há mais de ano,
foi o saldo deixado pelo fechamento das
TVs Tupi de São Paulo (°30). Rio (329)
e Fortaleza (80). Mas diferentemente
dos demais setores de trabalhadores, o
caso da Tupi. que envolve o Condt.ní-
nio dos Associados e a formação de
novas redes de canais de televisão, teve
unia solução, pelo menos parcial l tem-
porária. A luta e a mobilização dos
funeionários — radialistas, artistas e
técnicos — na defesa de seu direito ao
trabalho, levou o governo a dois com-
promissos: primeiro, condicionar a
concessão das novas redes a absorção
dc pelo menos 80% do pessoal da Tupi:
¦• segundo, efetuar o pagamento dos
salários, através de financiamento pela
Caixa Econômica Federal, que é repas-
sado para os Sindicatos de Radialistas
respectivos. O pagamento é efetuado na
base da faixa salarial de cada funcio-
nário. de modo qur os que menos per-
eebiam. recebem I()()".» do salário e os
situados em níveis mais elevados, até o
mínimo de 40"... garantidos os reajustes
semestrais c *• índice de produtividade.O acordo no entanto lindou em leve-
reiro. Koprazoc-stabclcctdo no Edital de
I ieitaç Sodas novas redes (que foram ga-nlias pelos grupos Bloch e Sílvio Santos),
se encerrou, sem que os grupos quises-sem assinar os contratos, na medida em I
quenãoccssaraniosdireitos trabalhistas
dosluncionáriosdaTupi. lstoémantém-
se o v incido empregatíeio eom o Condo-
niinio Associado, e as novas redes re-
eusam-se a sucedê-lo nos encargos. Só
aceitam absorver 80"o do pessoal desde
que eles venham eomo novos funciona-
rios. eom a situação trabalhista resol-
viila.
0 impasse ainda perdura. Depois de
muita pressão, segundo l.uciano Fuser.
presidente áo Sindicato dos Radialistas
áo Rio de Janeiro. O governo resolveu
pagar os três meses seguintes — março,
abril e maio — mas a partir dai náo há
solução. O que os Sindicatos estão en-
caminhando agora, é o ajuixamento dc
ações trabalhistas para rescisão do con-
trato de trabalho eom a Tupi e conse-
quente reccbimentodosaldodos salários
edemais direitos trabalhistas e. a partirdai. abrir caminho para novo contrato
(le trabalho eom as novas redes. In-
quanto isso. a classe permanece mobi-
li/ada. Segundo Lueianó. pelo menos
duas assembléias são realizadas a cada
semana pelos funcionários da I upi-Rio.
eom o comparecimento médio de 180
trabalhadores, o que representa mais
de 50" i. áo total. Os funcionários conti*
nuam comparecendo diariamente às
instalações da empresa e vêem. a cada
dia. novos equipamentos serem retira-
dos por credores da ex-Tupi. De ini-
cio. mesmo depois de cessada a trans-
missão da emissora, ainda funcionava
um setor de gravações, o que quasesempre possibilitava tirar
"'algum vale",
coisa aliás comum na vida dos funciona-
rios da ex-1 upi. acostumados a esta"forma
de pagamento" durante anos.
Agora a situação se agrava mais. en-
quanto nfto se instalam as novas redes.
Dos 329 funeionários desempregados,
apenas uns 10% conseguiram novo em-
prego. Mesmo porque, esclarece Lúcia-
uo. o mercado de trabalho no setor édos
mais restritos. Resta a Globo, o grandemonopólio dos meios de comunicação,
que possui cerca de 4 mil funeionários
no Rio. Mas também tem demitido
muito, no velho esquema da rotativida-
de. O Sindicato tem homologado cerca
de 200 demissões por mês.
Outro aspecto que reduz drástica-
mente Q mercado de trabalho no setor,
segundo Lueiano Fuser. é a filosofia de
redes. Se a Globo no Rio e São Paulo
\ emprega um grande número de fun-
cionários. RO resto do país a maioria
das estações são meras repetidoras, sem
haver atividade de produção de progra-mas locais. Artistas, jornalistas, radia-
listas e técnicos afluem ao mercado de
trabalho áo Ccntro-Sul, já por sua vez
saturado. Agora, com a instalação das
novas redes, espera-se urna certa am-
pliação do mercado de trabalho, ao
menos no Rio e São Paulo, onde as
mesmas estarão sediadas.
Ribeirão Preto:Proálcool
modera a criseDesemprego nas pequenas
e excesso de irabalhoem grandes empresas
O reflexo da crise econômica na re-
gião de Ribeirão Preto (cujo Sindicato
dos Metalúrgicos tem base territorial
que í.or?n-*e os municípios cireunvizi-
nhos), é contraditório: de um lado. um
grande número de pequenas empresas
(menos de 100 operários) estão à beira
da falência (como a Espagnol e a Oui-
rino-Fofonof), outras fecharam ou se
transferiram da cidade (como a
BEC-W e a Belmonte) e outras ainda
reduziram a jornada (como a Tubo-
mix): doutro lado. as empresas médias
e grandes, em sua maioria situadas em
Sertãozinho, fabricantes de equipa-
mentos para a agroindústria do açúcar
e do álcool, estão trabalhando a pleno
emprego, inclusive se utilizando farta-
mente de horas extras.
O caso mais expressivo de tentativa
de redução dos salários e da jornada
deu-se com a metalúrgica JUMIL, em
Batatais, onde os operários rejeitaram
a proposta de redução por »604 votos
contrários, havendo 425 favoráveis. Se-
guiram a orientação do Sindicato, cuja
diretoria de oposição, rccém-eleita, de-
pois de 20 anos d-" domínio pelego, é
presidida por Amorno Guerreio. O as-
pecto particularmente importante da
vitória da oposição HO Sindicato dos
Metalúrgicos de Ribeirão Preto é o que
o cx-viee-presidente do Sindicato é o
atual presidente da Federação, Argeu
Egídio dos Santos, que. assim, sem
mandato sindical, terá de deixar a pre-
sidência da Federação no próximo ano.
Em Batatais lugar onde a crise se
manifesta com eerta intensidade, há
uma particularidade que torna a vida
dos trabalhadores mais difícil. Em ge
ral os trabalhadores possuem duas car-
teiras de trabalho, uma para a indus^
tria e outra para a lavoura. Cada uma é
utilizada 6 meses ao ano, já que a rota-
tiv idade, na indústria é muito grande e
no período de safra da cana há grande
procura de mão-de-obra.
volta Redonda: odesemprego que
loi contidoMobili/açâo popular muda
plano de demissões daCia. Siderúrgica Nacional
Volta Redonda foi um dos poucos
lugares nos últimos tempos em que as
ameaças de demissão em massa de tra
balhadores nào se concretizaram, pelo
menos nos níveis em que se esperava na
cidade em fins de maio, quando a
Companhia Siderúrgica Nacional
(CSN) parecia decidida a interromper
suas obras de extensão e colocar na rua
500 operários de imediato.
A mudança de planos ocorreu após
MOMMKNTO-- 20 a 26 7 Kl
/-__H__r__-í_____-PJ
um ensaiç geral de mobilização contra
M demissões, indo desde uma série dereuniões programadas pelos vários sin-licatos envolvidos (principalmente o
doa metalúrgicos, engenheiros e traba-1 íadores da construção civil), uma ma-
ifestação de protesto promovida pelasI omunidades Eclesiais de Base (CEBs)
< a criação de uma comissão contra odesemprego.
Para o momento isso bastou, garante0 presidente do Sindicato dos Metalúr-
kícos, Waldemar Lustosa, satisfeito por• >oder dizer que as demissões não foram
além do normal". Ele informa que háuuas semanas a CSN recebeu uma ver-ba especial de CrS 23 bilhões para con-tinuar tocando as obras de expansão
e evitar novas demissões.
Mas as reuniões intersindicais, após
um primeiro e único encontro, "perde-
ram sua razão de ser", explica Lustosa,
um velho sindicalista há mais de 15
anos à frente do sindicato e que enfren-
ta uma forte oposição. Isso não querdizer que a CSN não venha despedindo
gente. Segundo os números do sindica-
to, de dezembro a junho passado, foram
para a rua 159 operários da CSN, mais
291 demitidos em acordo com o sindi-
cato, enquanto outras metalúrgicas de-
mitiram 761 trabalhadores, principal-mente as empresas Wilson Martins,
Barbará e Saudade.
Lustosa anuncia que na semana pas-sada seriam retomadas as reuniões en-
tre os sindicatos que têm filiados em si-
derúrgicas, com o objetivo de estudar
formas de luta contra o desemprego. A
oposição sindical, convidada para estes
encontros, acredita também que é ur-
gente reiniciar as reuniões intersindi-
cais para acompanhar a situação fia
CSN. Seu trabalho neste sentido foi in-
terrompido pela campanha salarial na
CSN, que significou ainda o fim do seu
trabalho conjunto com o sindicato.
Res1 j'n as Comunidades Eclesiais de
Base, com forte atuação na região, cuja
manifestaç;"'•¦< em maio foi um dos fa-
tores-chave pi :i a mudança de planosda CSN. Da J. ulira é uma das prin-cipais lidere* das CEBs, e membro do
Partido dos Trabalhadores, assim co-
mo os seus filhos e o marido José Emi-
dio, por sua vez dirigente mais desta-
cado da oposição sindical e presidentedo PT local. Em sua casa simples num
dos bairros de Volta Redonda ela expli-
ca como foi tomada a iniciativa de luta
contra o desemprego:— Nós vimos que os peões iam ser
mandados embora e ninguém estava
fazendo nada. Porque esses peões não
são operários da própria CSN, mas das
empreiteiras que fazem a expansão.
Eles não são daqui e se fossem despedi-
dos iam embora e ia ficar por isso mes-
mo...Então nós decidimos fazer a ma-
nif estação.A manifestação contou com 500 par-
ticipantes, número expressivo parauma cidade como Volta Redonda.
Volkswagen:como se chegou
ao NÃO!
Vacilação diantede ameaças, mas os
trabalhadores recusam
Ao recusarem a redução da jornadade trabalho e a conseqüente reduçãodos salários como forma de evitar novasdemissões, proposta feita pela diretoriada empresa, os operários da Volkswa-
gen de Sâo Bernardo do Campo deram
uma clara demonstração de que não
estavam dispostos a arcar com o ônus
imposto pela crise econômica que o
país enfrenta. O plebiscito em que 16
mil trabalhadores disseram nio às
pressões da empresa (7 mil votaram
sim) foi realizado nos dias 15 e 16 de
abril, poucos dias após a assinatura de
um novo acordo salarial que nenhuma
conquista significativa trouxe para os
trabalhadores do ABC.
Esse episódio teve diversos lances e
controvertidos e muita polêmica surgiu
sobre quem é o responsável pela crise e
quem deve pagar por ela. Mas o mais
surpreendente foi o fato de que, apesar
de estar ameaçando de demissão os
trabalhadores caso não aceitassem o
acordo, a Volks parece ter-se intimida-
do diante da recusa dos funcionários, já
que nenhuma demissão em grande es-
cala foi efetuada pela empresa. Mesmo
reduzindo em mais da metade sua pro-dução e vendendo três vezes menos do
que vendia há um ano atrás.
A proposta da redução da jornada e
do salário foi usada depois que a Volks
tinha criado uma "Comissão
de Repre-
sentantes de Fábrica" tirada do bolso
do colete da empresa e negada pela li-
derança sindical de São Bernardo, que
serviria de testa de ferro para os golpes
que a fábrica iria aplicar em seus fun-
cionário. No início aplicar em seus fun-
cionários. No início de dezembro do
aro passado, a Volks reduz seu quadrode funcionários em São 3ernardo de 40
para 30 mil (as versões oficiais deram
no máximo 4 mil demissões) com a ob-
de Representantes". À diretoria cassa-
da do sindicato também engoliu essas
demissões, mesmo porque estava total-
mente desarticulada, e a estrutura do
Fundo de Greve onde ela estava aloja-
da, não permitia a sustentação de ummovimento que suspendesse essas de-
missões.
QAuando a proposta da Volkswagen
foi colocada para seus funcionários,
eles já tinham por trás de si uma expe-
riência de total descrédito em tudo
aquilo que a empresa propunha. Além
disso, a redução dos salários também
não era admitida por uma boa parcelados funcionários dos escritórios. Eles
foram chamados dias antes do plebis-cito ser realizada para uma conversa
com a "Comissão
de Representantes",
que havia feito a proposta sob orienta-
ção da direção da empresa, no Volks-
wagen Clube. Ali, a "Comissão"
apre-
sentou a necessidade de todos votarem
a favor do acordo, mostrando as difi-
culdades que a empresa vivia. Diante
da argumentação dos "Representam
tes", os mensalistas apresentaram di-
versos balanços da empresa mostrando
os investimentos que a Volkswagen vem
fazendo no setor de investimentos de
capital, onde oslucros são maiores quea própria venda de automóveis e na
compra de imensos alqueires de terra
no norte do Brasil. Eles pediram tam-
bém que, ao invés de reduzir seus sala-
rios, a empresa deveria primeiro cortar
as regalias que desfrutam os gerentes,
que recebem semestralmente um carro
novo, uma farta quota semanal de ga-solina grátis, e aqueles que chedgam da
Alemanha são hospedados em verda-
deiras mansões com todas as despesas
pagas pela firma.
A ex-diretoria do sindicato e junta
governativa, num primeiro momento,
vacilaram diante das ameaças da em-
presa em demitir mais 10 mil funciona-
rios caso o acordo não fosse efetuado,
assinado com ela um protocolo de in-
tenções que passava aos trabalhadores
da Volks as responsabilidades de qual-
quer decisão. Ou seja, lavaram as
mãos. Coube aos remanescentes da Co-
missão de Salários, formada em 1980,
indicar uma perspectiva de luta contra
esse arrocho salarial disfarçado. Foram
eles que fizeram a ex-diretoria perceber
que aceitar aquele acordo seria o mes-
mo que "abaixar
as calças para os pa-tròes". segundo suas próprias palavras.
Multas lormas deresistência ã crise
Desde organizações de lutacontra o desemprego
à realização de greves
Nas últimas páginas situamos um
grande número de casos em que o go-verno e os patrões procuraram descar-
regar o ônus da crise econômica sobre
as costas dos trabalhadores, na medida
mesma em que se deu um agravamento
da crise, abrindo um nítido quadro re-
cessivo, a partir dos primeiros meses de
1981. As respostas dos trabalhadores
variaram. Em alguns casos a resistência
foi nenhuma; noutros, ela chegou a ser
heróica, como no caso da Fiat do Rio de
Janeiro.
Dois tipos maiores de problemas fo-
ram enfrentados pelos trabalhadores:
1) a redução da jornada de trabalho e
conseqüente redução salarial e 2) o de-semprego. Em cada caso também va-
riaram as formas de resistência.
Afora o caso dos jornalistas do Estado
de Minas, cuja redução salarial, sem
correspondente redução da jornada de
trabalho se deu em meados do ano de
80, a grande maioria dos casos que re-
gistramos se deram nos primeiros me-
ses de 81, atingindo empresas do ramo
industrial metalúrgico, principalmente.Na maioria deles os patrões consegui-ram impor a redução salarial sem que ostrabalhadores esboçassem maior resis-tência. Muitas vezes, inclusive, desço-nheciam a lei n° 4923/65 que especificaos casos em que a redução da jornada detrabalho se torna legal, mas sempre a
partir de uma prévia concordância dostrabalhadores, e pelo prazo não superiora 3 meses. Mas quando a tentativa de re-dução se deu contra os trabalhadores da
Volkswagen, no último mês de abril(empresa que já haviademitido quase 10mil operários no início do ano) cmeçou
uma grande resistência. E a recusa dosoperários da Volks, no plebiscito de 15e 16 de abril, abriu caminho para ostrabalhadores de outras empresas, nãosó no sentido da resistência e luta, co-mo até no esclarecimento de seus direi-
tos segundo a lei. A partir de então en-contramos vários casos de recusa dos
trabalhadores em aceitarem diminui-
ção da jornada e dos salários, o quemostra o valor da vanguarda operária
de São Bernardo.
No caso do desemprego, a questão seencaminha num mesmo sentido. O casoda Fiat, no Rio de Janeiro, onde os em-
presários entram em greve a partir deIo de maio reivindicando a readmissãode 250 demitidos e a estabilidade noemprego por um ano, também abre umcaminho de resistência. Novas tentati-vas de demissões em massa encontramresistência de greve, como nos casosmais recentes das unidades da Ford emSão Bernardo do Campo e em Taubaté.Noutros casos, como em Volta Redon-da, a mobilização popular, incluindoameaça de greve, faz sustar a ameaçade um número maior de demissões e aliberação de verbas, por parte do gover-no (23 milhões), para a continuidade daexpansão da Companhia SiderúrgicaNacional (CSN).
Por outro lado, discute-se amplamen-
te nos meios oposicionistas a forma de
os trabalhadores resistirem, dando
uma alternativa mais global no sentido
de impedir que recebam o impacto da
crise. De um lado um bloco de pro-postas reclama do governo a retomada
das obras públicas em larga escala, a
ampliação e o barateamento do crédito,
a adoção de leis de amparo aos desem-
pregados e do seguro desemprego;
exemplo disso é a própria constituição
de uma Comissão Parlamentar de In-
quérito, no Congresso Nacional, presi-dida pelo Senador Franco Montoro
(PMDB-SP), a "CPI
do Desemprego".
De outro lado, se apresenta o caminho
de mobilização de vários tipos, a cria-
ção de organizações de luta contra o
desemprego e a realização de greves.Para avaliar a tática a empregar du-
rante a crise, os trabalhadores precisamse esforçar, ao mesmo tempo, paracompreender as causas da crise, sua ex-
tensão e possibilidades.Parece afastada, neste sentido, espe-
cialmente para as lideranças, a idéia de
que a crise não existe, que é uma in-
venção do governo e empresários. Isto é
um fato positivo: os trabalhadores nada
ganhariam se prevalecesse a idéia de
negar uma gritante realidade.
O problema atual é mais o de saber
quais as saídas que a crise apresenta e
como os trabalhadores podem altera-
Ias a seu favor. Nesse sentido, muitos
dos exemplos de resistência ativa apre-
sentados nesta reportagem já demons-
traram claramente que os planos eco-
nômicos do regime poden^ ser alterados
a partir da mobilização popular; e isso
vai ficar ainda mais viável no períodoeleitoral, em cpe o governo e os políti-cos que o apoiam terão necessidade detazer concessões aos trabalhadores com
vistas a ganhar seus votos.
A maior dificuldade, no momento,
consiste porém em saber até que pontoesse regime pode fazer concessões no
seu modelo econômico. Os que defen-
dem que a solução é basicamente ele
adotar um grande plano de obras euma política de emprego não estão ten-do grande sucesso. A repercussão daCPI do desemprego é quase nula, a des-
peito dos bons dados e denúncias quecolidiu, (o senador Montoro, por exem-
pio, distribuiu nota mostrando que aVolks lucra muito mais — 1.000% amais — com atividades financeiras es-
peculativas do que com a produção).A causa disso parece óbvia: o regime,
a menos que seja forçado por grandesmovimentos de massa, não pode alterar
a sua política recessiva, de contenção
da economia interna para aumentar asexportações e pagar a dívida. A cadadia que passa, mais banqueiros inter-nacionais vêm elogiá-lo pela recessão
que pôs em prática após ter tentadomanter o crescimento econômico em 80e ter sfáo penalizado com grandesameaças pelos banqueiros. Assim, elenão fará grandes obras nem empregarámuita gente. Não porque não quer, mas
porque não pode.
A reportagem è*** trabalha toi feito panJo** Am****** em Mina* Gerafc; Joeé Car-loa Ray, Flavio Diegaei e Mário Serapfcoe, eaSto MN e Roberto Mirte, ao Rio de Janelro. O texto da iatredacto é to Reinado Rodri-gaea Pereira e o fiaal de Roberto Martins.
14MOVIMENTO - 20 u 26/7 81
vvm
BRASIL/URSS
O crescimentoda URSS
na A. LatinaAo contrário dos déficits insistente-
mente alardeados pela imprensa ociden-
tal. as estatísticas do ministério de Co-
mércio Exterior da URSS revelam que o
país tem alcançado pequenos superávit:-
em suas transações comerciais com o res-
to do mundo nos últimos anos. No ano
passado, para um nível total de comércio
de 94,1 bilhões de rublos (valor que cor-
responde, na cotação atual, a 70,5 bi-
lhões de dólares), o saldo foi de 5.2 bi-
lhões de rublos. A maior parte desse su-
perávit foi obtido nas transações com os
países socialistas, com os quais a URSS
teve um superávit de 3.2 bilhões (expor-
tações de 2b.9 bilhões e importações dc
23.7 bilhões, sempre em rublos).
Com os países "capitalistas desenvol-
vidos", conforme a classificação do mi-
nistério soviético, as transações pratica-
mente se equilibraram (exportações de
15.9 bilhões e importações de 15.7 bi-
lhões). enquanto com os países "capita-
listas em desenvolvimento" a URSS ai-
cançou um razoável superávit em com-
paração com o volume total do intereâm-
bio — para compras no valor de 5.1 bi-
lhões de rublos, venderam 6.9 bilhões
para esse bloco.
Em decorrência do boicote promovido
pelo ex-presidente Jimmy Carter no final
de 1979. o nível total do comércio com os
Estados Unidos naturalmente caiu — de
2.3 bilhões de rublos em 1979 para apenas
1,5 bilhão no ano passado, o que re-
duziu o déficit da URSS com os america-
nos para 1,2 bilhâ (contra 2,2 bilhões
no ano anterior). O boicote em nada
influiu no comércio com Cuba, que
aumentou apenas 100 milhões de rublos
em 1980, com a diferença que em 1979 o
intercâmbio entre os dois países foi pra-
ticamente equilibrado, enquanto no ano
passado foi desfavorável para os cubanos
em 310 milhões de dólares (exportações
soviéticas de 2.3 bilhões e importações de
2.0 bilhões).
As estatísticas mostram, claramente,
que a Argentina foi o principal beneti-
ciada pelo boicote. De 1979 para 1980 o
intercâmbio Argentina-URSS aumentou
quase 500"/,,. saltando de 214 milhões de
rublos em 1979 para 1.193 milhões no
ano passado. De 264 milhões registrados
em 1979. o superávit argentino aumen-
tou na mesma escalada, atingindo 1.132
milhões de rublos em 1980. Nesse mesmo
período o comércio com o Brasil aumen-
tou pouco mais de 50%. passando para
275 milhões de rublos em 1980 — nível
que. de qualquer forma, manteve o Bra-
sil como o terceiro parceiro dos soviéticos
na América Latina, embora muito atrás de
Cuba e da Argentina.
Revelam ainda as estatísticas que o
outrora intenso comercial URSS-Peru
não conseguiu sobreviver ao desapareci-
mento do regime do falecido general Al-
varado. Enquanto as transações da união
soviética com os principais países do
continente cresceram a taxas espantosas
nos dois últimos anos. as suas operações
com o Peru declinaram acentuadamente
ano a ano, caindo em 1980 para apenas
13.3 bilhões de rublos — nível abaixo do
comércio dos soviéticos com o México,
Uruguai. Panamá. Colômbia e a Bolívia.
Surpreendentemente, a Bolívia do gene-
ral Garcia Meza aparece como o quarto
parceiro da URSS na América Latina,
embora as transações entre os dois países
ainda se situem na modesta faixa de*30
milhões de rublos
Éí_\
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m ^ACUC/Vv- )í___x __r s^_
__T V'"^^^^*^^
Planalto recua sob pressão efogo de "general café"
Quase todo poder de fogo que o "general
café" acumulou durante os longos anos em
que era o carro-chefe da economia brasileira
foi aberto na semana retrasada contra o
mais alto comando da política monetária
brasileira, forçando Delfim Netto e Ernane
Galvêas a um importante recuo político.^
Depois de mais de 35 dias de negociações
para a fixação do preço de garantia do café.
o impasse parecia intransponível. Os
produtores queriam, a partir de 1.° de
junho, 13 mil cruzeiros. Como o governo
compra todo o excedente da safra — que
esse ano será de aproximadamente oito
milhões de sacas- o preço proposto pelos
produtores levaria a um rombo sem
precedentes no orçamento monetário do
governo, que seria forçado, entre outros
recursos, a emitir mais dinheiro. Quando os
ministros da área monetária fecharam
questão em torno de um preço de apenas
CrS 9.455,00, o "general café" convocou sua
artilharia pesada: governadores de todos os
Estados produtores de café, o ex-governa-
dor de São Paulo Abreu Sodré — chamado
às pressas de uma viagem à Europa —
representando pelo menos 200 mil
fazendeiros produtores, aos quais estão
ligados perto de quatro milhões de
empregados e colonos.
Os eafeicultores contavam com o
ministro da Indústria e do Comércio, Ca-
milo Penna. Mas este não teve a firmeza
esperada frente ao ministro Delfim Netto e
Ernane Galvèas, e aceitou o preço de Cr$
9.455,00 e ainda por cima com entrada em
vigor somente em outubro. Com o
aparecimento em cena do ex-governador
Abreu Sodré e do governador Ney Braga, a
tática mudou: o vice-presidente Aureliano
Chaves e o chefe da Casa Civil, o general
Golbery, foram pressionados diretamente
com uma arma definitiva: as eleições de
1982. O Conselho Nacional do Café,
presidido por Sodré, ameaçou veladamente
se mobilizar para "colocar
gente nossa no
Congresso". Isso ia amargar definitivamen-
te o café para oPDS. que tem em áreas
rurais o seu mais forte curral eleitoral.
Assim, o ministro Camilo Penna, que nas
útimas semanas já havia sofrido duas
importantes derrotas para Delfim — no caso
da aprovação de um projeto da Bayer e na
disputa pelo aumento dos recursos para o
Proálcool — se viu com boa re' * _arda
teve sua proposta intermediária a; ovada:
preço do café será de Cr$ 10.000 ^0 a saca
com vigência a partir de outubro. Essa
solução permitirá também arrenizar o
estouro no orçamento monetánr pois o
atual preço, de Cr$ 7.300.00 se-a mantido
até outubro, forçando o produtor a manter o
estoque, sem que até lá o IBC tenha de
comprar muito café. Para amenizar a
manutenção do estoque, o Banco do Brasil
financiará uma parte da estocagem e
comercialização. Desse modo, o -ombo no
orçamento será de "apenas" uns 25 ou 30
bilhões de cruzeiros acima do que já estava
previsto para a compra da safra excedente.
O que è um preço nada desprezível para
alguns milhões de votos a mais no PDS em
1982.
Já os previdenciários do INAMPS, que
estão sendo acusados de provocar rombo
de 80 milhões no orçamento — com suas
aposentadorias, doenças, acidentes do
trabalho — parece que não contam com tal
poder de fogo e de pressão e vão am? _.ar
cortes de benefícios e convênios ..
Octávio í enna
SENSAÇÃO DE ROUBO
Os mais de 30 milhões de participantes
do PIS/Pasep vão se sentir roubados: o
Banco do Brasil informou que vai
remunerar o saldo das contas depositadas
em 86,7% relativos a correção monetária e
juros, para o período entre julho de 1980 e
junho de 1981. No mesmo período a
inflação foi de 118,3%.
CARAJÁS SEM CONSULTA
Os cientistas brasileiros, que se ressen-
tem do governo ter realizado um acordo
atômico com a Alemanha sem consultas
amplas, estão agora contrariados com
a política mineral, feita também sem
consultas, e especialmente com o projeto
Carajás. Uma discussão sobre Carajás
reuniu duas mil pessoas na reunião da
SBPC em Salvador, e no final uma moção
aprovada em Assembléia Geral repudiou o
projeto, criando ainda uma comissão de
cientistas para estudar o assunto, e as
conseqüências da sua implantação.
exterior. Primeiro, as taxas de juros
internacionais (o prime americano e o
libor europeu) mostram tendência altista.
O Citybank aumentou ..ua taxa meio ponto
(passando a 29,2) na semana atrasada,
numa elevação que pode ser seguida por
outros bancos. Com isso fica menor o
diferencial entre juros externos e internos.
Outro imprevisto: com os altos custos do
dinheiro no mercado interno, a procura
de empréstimos e financiamentos caiu e,
consequentemente, os bancos estão
oferecendo juros mais baixos. Segundo o
presidente da Federação Nacional de
Associações de Bancos, Pedro Conde, as
taxas caíram perto de 20 pontos
percentuais nos últimos troa meses.
Dois imprevistos que podem atrapalhar
a estratégia governamental de manter alta
a taxa de juros no país, de modo a
incentivar a busca de empréstimos no
A Nicarágua, que considera o Brasil"uma nação profundamente amiga",
deverá solicitar brevemente ao ltamaraty
um aumento de crédito de 25 para 55
milhões de dólares. A investida brasileira
na área parece recompensadòra: o
embaixador Ernesto Gutierrez disse que c
Brasil poderá ser convidado a participar da
prospecção petrolífera no pais já nas
próximas semanas. O Brasil participará
também da implantação de destilarias de
álcool na Nicarágua. Há também
propostas para que o Brasil participe na
procura de ouro, pois apenas cinco das 26
minas do país estão em funcionamento.
LANÇADOR FRANCÊSO anúncio de que em agosto será
decidido o futuro do programa do satélite
doméstico brasileiro causou preocupação
em São José dos Campos, onde desde
1964 vem se pesquisando um veiculo
lançador de satélites brasileiro. E que o
ministro das comunicações, Haroldo de
Mattos deixou em aberto a possibilidade
de comprar .um lançador francês, o
foguete Ariane. O programa nacional
desenvolvido em São José dos Campos só
permitirá o teste de foguetes com
capacidade de colocação de cargas em
órbita (ou de bombas em outros locais)
em 1988. Já a compra do lançador Ariane
permitirá ao Brasil imediata capacidade
de lançar o que quer que seja em muito
menos tempo .
GENEROSIDADE DEMAIS
Os empresários cearenses estào revof-
tados com uma decisão do Banco do
Nordeste, toda a verba para o setor avicola
do Estado foi liberada para apenas uma
empresa, justamente a maior do Ceará e a
que teve um lucro liquido de 132 milhões
de cruzeiros no ano cassado. As
condições de financiamento também sào
generosíssimas: dois anos para pagamen-
to, mais um ano de carência, a juros —
imaginem — de 12% ao ano.
MOV IMF NTO — 20 a 26 7/81^--C
^V^^lfe"-^^^'
mmmm .-.»¦¦¦ «I» il *».-»
- , 1
Mo< mento— Quais as perspectivas so-
ciais i-oliticas dos I IA e do mundo
com novcmo Rcagan, que executa
drásr v cortes financeiros nos progra-mas .tis c prevê um orçamento de 200
bilfn . lc dólares para ns militares?
Chomsky — A tática da administração
Reagui tlõvc soar familiar para os leito-
res hi ileiros. Vocês iá viveram várias
dess. nedidas de incentivos aos nego-
cios custo do empobrecimento do
pov. Reagan está "brasilianizando" a
«om n ia americana. Seu programa é
senu ! nte ao instalado pelos generaisnos til nos anos. desde t<4. O programadom co de Reagan é um ataque aos
padi ile vida da vasta maioria da
nopi o para transferir recursos aos
ricos i também uni aumento subsian-
ciai • >etor estatal da economia.
Mov emento — Quando você fala em
'bra mizaçào" da economia america-
na. u ' possível que intencionalmente
AS pi, . ladores e pesquisadores tenham
usado - llrasil como uma cobaia, paraver se dava certo, examinar os problemase depois aplicar aqui com os devidos
ajustes''
Chomsky — Surpreendentemente,
acho aue sini.Paul Samuelson.econoniis-
ta muito inteligente e longe dc ser um ra-
dical. fa unia palestra na Academia de
Artes e Ciências de Boston algumas se-
manas atrás, discutindo as perspectivasda economia americana. No fim deu sua
própria previsão. Ele disse que esperava
estar errado, mas acha que o futuro não
será moldado conforme os países escan-
dina\os. e sim conforme a Argentina co
Brasil 0 desenvolvimento da economia
ocidental será o que ele chamou de "fas-
cismo capitalista". Acho que nâo é uma
previsão desarra/oada. Nao creio que os
EUA ¦tascistas-capitalistas" carreguem
a brutalidade e o terrorismo estatal ocor-
rido na América Latina, porque os EUA
s3o mais ricos e têm uma burguesia mais
bem estabelecida — mas tudo está sendo
feito hoje nos EUA para destruir o nível
de vida da classe média, dos pobres e dos
trabalhadores. Os sindicatos estão sendo
destruídos aqui. 0 que nào vem da inicia-
tiva estatal como no Brasil, mas vem da
iniciativa privada, das mesmas forças
que estão operando lá e cá. De fato, o
sistema já declarara guerra de classe
contra os pobres e trabalhadores. O or-
çamento de Reagan nao passa de uma
declaração estatal de guerra. A guerra
aos pobres, declarada há anos no Brasil,
foi agora declarada também nos Estados
Unidos.
Movimento — No modelo econômico
brasileiro há grandes companhias mui-
tinacionais. grandes empresários, na
maioria estrangeiros ou financiados por
estrangeiros hoje (hoje até os latifundiá-
rios e us oligarcas são dependentes dos
estrangeiros): há os generais que escu-
tam as "sugestões" vindas do hemisfério
Norte, e sobretudo dos EUA. Qual será
a organização das forças que dominam o
planejamento do governo Reagan. ho-
mem que obviamente ê "ator"
escolhido
como testa-de-ferro para implementar os
planos?
Chomsky — Haverá grandes diferen-
ças. Nos EUA nào creio que os militares
tenham uni papel maior. Aqui. os milita-
res estão a serviço do Estado, o que é
fundamentalmente diferente do Brasil,
onde o Estado está a serviço dos milita-
res. Aqui são as classes empresariais que
têm o poder, e as mesmas multinacionais
que dominam parte substancial da eco-
noniia brasileira, é claro, têm suas bases
exatamente aqui. Obviamente, os
EUA não são uni país dependente como
éo Brasil. Portanto, ao fazer a analogia,
temos que distinguir as diferenças. Uma
delas é que não haverá golpe militar, e
nao haverá terror militar-estatal-policial.
a nào ser que grandes modificações se-
jam perpetradas nos EUA.
"lm_u____S _______l____a___K_ ""
¦E m\
NOAM CHOMSKY:A FÁBRICA
DE CRISES DO
GOVERNO REAGANEscritor, lingüista e professor
do Instituto dc Tecnologia de
Massachussetts, Noam Chomsky
é muito respeitado nos EUA por
sua crítica ativista a Washington
e às grandes corporações multi-
nacionais. Durante a guerra do
Vietnã, ele foi às ruas para pro-
testar contra "a subversão e os
assassinatos do imperialismo
americano". Seu livro "Banhos
de Sangue" (1976) denuncia os
massacres promovidos pelosEUA cm diversos países onde in-
tervieram militarmente "em
nome da liberdade e da demo-
cracia".Em parceria com Edward Her-
man professor de Economia da
Universidade da Pensilvânia,
Chomsky escreveu seu mais re-
cente livro, "The Washington
Connection and Third World
Fascism" (As Ligações dc Wa-
shington com o Fascismo no Ter-
cciro Mundo), onde denuncia
que, entre 1960 e 1969, onze go-vernos democraticamente eleitos
foram substituídos por ditaduras
militares sob o patrocínio ameri-
cano.Chomsky também criticou a
política dos Estados Unidos na
República Dominicana, as amea-
ças a Cuba, a intromissão na Ni-
carágua, e condena atualmente a
ajuda militar americana a El Sal-
vador.Em entrevista exclusiva a Mo-
vimento, Chomsky fala sobre as
estratégias doméstica e interna-
cional do imperialismo america-
no no governo Reagan. Na poli-tica interna, ele acha que, com
seu orçamento, Reagan (umRobin Hood ao contrário: tira
dos pobres para dar à grande em-
presa) está "brasilianizando" a
economia americana. Por outro
lado, considera o momento poli-tico no país bastante complexo, e
não ousa prever avanços nem
para o lado da democracia nem
do fascismo. Para ele, "a única
esperança é a organização popu-lar".
No campo internacional,
Chomsky ilustra os esquemas de
agressão e intervenção dos EUA,
mostrando os interesses dos
monopólios no fomento de guer-ras e crises. Neste aspecto, ele faz
também uma surpreendente re-
velação: a próxima ação do De-
partamento de Estado americano
poderá ser a publicação de outro"livro branco", acusando a Igre-
ja da América Latina de "forne-
cer armas a terroristas".
16MOVIMENTO — 20 a 26/7/81
16 W \*Ja. t**Jm - - K> * *>***' * ' »>
VI
* .
¦"**•
Movimento — Os militares da América
Latina vêm treinar nos EUA desde 60,
como foi dito em seu livro. Os militares
nossos, portanto, são altamente influen*
ciados pelos daqui. O que representam
os militares nos EUA?
Chomsky — Consideram-se os repre-
sentantes do poder econômico norte-
americano. Se você lê os relatórios con-
juntos dos chefes militares, por exemplo,
são ainda mais óbvios do que os produzi-dos pelos dirigentes de empresas. Mas éimportante dizer que nos EUA os milita-
res não são uma força independente dacomunidade de negócios. São controla-
dos. O orçamento do Pentágono não
cresceu porque os militares estão mais
fortes. Cresceu porque é um subsídio à
grande indústria.
Não apenas a população dos EUA não
aceita o golpe militar, como tampouco o
poder empresarial o aceitaria. Mesmo no
Brasil, os empresários só recorrem ao
golpe como último recurso. Os empresa-rios sempre querem o Estado para supri-
mir a população, para fazer guerras no
exterior, e para criar uma infra-estrutura
boa para seus negócios. Não querem o
Estado como competidor. Indústrias es-
tatais nacionalizadas sob o controle dos
generais, como no Brasil, são uma amea-
ça para os negócios privados e as corpo-
raçóes multinacionais. E esse foi um
resultado não desejado dos golpes mili-
tares. Certamente o poder econômico
jamais apoiaria um governo militar inde-
pendente. Só apoia os militares que
lhe
obedecem. Por isso Rockefeller foi à Ar-
gentina. logo após o golpe militar, e
disse: "Este
é um país que realmente
entende a natureza da livre empresa".
Ele achou ótimo o golpe porque não afe-
tou seu poder, nem compete com ele.
Movimento — O programa Reagan êconservador?
Chomsky — De nenhum modo. ÍL um
forte programa de capitalismo de Esta-
do. ou pode-se mesmo dizer protofas-cista, que expande o setor estatal do
programa econômico no estilo habitual
da economia de Estado, iesenvolvendo
um mercado garantido para produzir e
subsidiar a produção de alta tecnologia,
ou seja, produção militar. O componente
principal dos 200 milhões de dólares do
orçamento militar é fornecer estímulo
para a economia industrial através da
criação de um mercado garantido peloEstado. Isso será pago pelo empobreci-
mento das massas.
Movimento — Este programa, que tem
despertado tanto protesto, como será im-
plementado? Como Reagan cumprirá
a promessa de "renascimento" do econo-
mia dos EUA?
Chomsky — Só há poucos meios de
implementar um programa que cobra ao
pobre os incentivos aos ricos. Um deles
foi usado pelo próprio Brasil: terrorismo
estatal e repressão. Outro modo, já queos EUA não estão preparados para esta
opção, é a criação de um estado de mobi-
lização nacional através da contínua
criação de confrontações domésticas com
crises internacionais. Numa situação de
crise, as tendências chauvinistas podemser canalizadas, e isso ajuda a construção
de uma situação mais dócil, de uma
população pronta a ceitar o sofrimento e
a apertar os cintos da forma necessária
para alcançar os objetivos militares mais
altos — o que se traduz por aumento da
aparelhagem militar. Isso significa mili-
tarização da economia, e é por isso que a
política externa durante a administração
Reagan tem sido de confrontação. Estão
desesperadamentetentandoencontráras-suntos sobre os quais possam declararuma crise nacional.
Movimento — Você pode exemplifi-
car?
Chomskv — Vejamos a diferença entre
as administrações Carter e Reagan, no
que se refere à política relativa a El
Salvador. Carter tratou o assunto como
americano/latino-americano. Reagantentou transformá-lo numa
"crise inter-
nacional". Daí surgiu aquele white paper(livro branco) que quis pôr todo o paísem alerta porque
"os russos querem
tomar a América Central", como disse-ram os porta-vozes de Washington. Olivro branco e outras medidas foramtentativas de criar uma crise doméstica einternacional. Não funcionou. O efeitointernacional da propaganda foi nulo naEuropa. O general Walters foi desen-corajado no Brasil e teve que chegarescondido no México, porque temiam
grandes manifestações populares deapoio a El Salvador. Os emissários deReagan voltaram com as mãos vazias e
não obtiveram apoio dos governos quecontataram. A
"tomada da América
Central" não vendeu. Mas o esforço de
propaganda continua.
Movimento — O que significa o usocontínuo do termo
"terror" pelo governo
Reagan?
Chomsky — É outro meio de fabricarcrises internacionais para mobilizar aopinião nacional.
"Terrorismo interna-
cional" é a atual tentativa. Não funciona
tampouco, mas o governo tem que con-nuar tentando criar situações de crises
confrontacionais e crises internacionaisem parte para finalidades domésticaspara mobilizar a população a aceitar
os custos muito severos que virão com o
programa econômico protofascista de
Reagan.
Movimento — E qual é a finalidadeinternacional dessa busca de crises?
••Oprogra*ma
tia administração
Reagan é uma'brasilianização'
da economia
americana * *
Chomskv — Eles querem encontrar um
modo de compelir os aliados a converter
suas economias em produção mili-
tar, de forma que os EUA não percamrecursos em produzir para o bloco euro-
peu. E se os europeus e os americanos
estiverem produzindo armas, as crises
regionais fornecerão o campo onde esse"renascimento" da economia industrial
terá mercado. Além disso, queremos nos
assegurar de que os aliados não tomarão
iniciativas independentes, por exemplo,
no Oriente Médio. Isso vai requerer de
nós — que não temos mais a arma do
poderio econômico total, como tivemos
após a 2a guerra mundial, e com a qualos EUA costumavam controlar os aliados
europeus —, isso vai requerer algum tipo
de arma, e os EUA ainda são mais avan-
çados em armas militares do que qual-
quer outro Estado. Portanto, a criação
de uma grande erise internacional,
ou de contínuas crises internacionais,
forçará a Europa e o Japão a se abri-
garem novamente sob o guarda-chuvamilitar americano, mas para isso eles
terão que comprar a "filosofia
de crises"
da administração Reagan, ou seja, incen-
tivar o complexo industrial dos EUA.
Movimento — Durante toda a crise do
Irã. o governo Carter parecia envolvido
numa propaganda que se atribuiu a sua
tentativa de se reeleger.Chomsky — É possível, mas é interes-
sante ver o que mais aconteceu. Em
dezembro de 1978, ou seja, um ano antesdas
"crises" do Irã e do Afeganistão, o
governo Carter anunciou um imenso au-mento do orçamento militar e cortou oorçamento dos programas sociais. Quan-do chegaram as
"crises" iraniana e afe-
gane, pela mesma razão da administração
Reagan (a revitalização do complexo eco-
nômico norte-americano), Carter cons-
truiu um estado de histeria intencional.
Ele pode ter pesando que serviria a seus
propósitos de reeleição. Estava servindo
ãs finalidades almejadas pela comunida-de econômica, também. Acho que essadiretiva vem ocorrendo desde os anos 70.
•• O orçamento doPentágono cresceu
porque é um
subsídio para a
grande indústria
militar 9 9
Movimento — Quais foram as crises
do início dos anos 70?
Chomsky — Elas não tinham nomeentào, mas são nitidamente duas crisesnos EUA. Uma delas agora se chama a"síndrome
do Vietnã" — termo usado
para referir-se ao fato de que uma partesubstancial da população não desejavaapoiar e pagar os custos da agressão,intervencionismo e subversão militar dosEUA no Vietnã. A outra crise foi cha-mada de
"crise da democracia". A Co-
missão Trilateral escreveu um livro im-
portante a respeito, no qual o termo se
refere ao fato de que camadas da popula-ção que haviam sido previamente margi-nalizadas e apassivadas começaram a seorganizar em ação política. Os gruposétnicos (não-saxões) e os pobres, tradicio-nalmente apáticos e passivos, começa-ram a envolver-se no sistema político.Como isso não pode ser tolerado, é claro,entào a Trilateral batizou-o de
"crise de
democracia". Nao há erise de democra-cia nenhuma; o que existe é o povo ten-tando se envolver na democracia.
Movimento — Vamos examinar me-
lhor as reconstruções da "benevolência"
e da ideologia imperial americanas? A
política de direitos humanos de Carter
foi parte do retorno da "benevolência"?
Chomsky — Vamos examinar o pro-grama de direitos humanos da adminis-tração Carter. Grande parte dele veio doesforço de sobrepor-se à síndrome doVietnã. Toda potência imperial teve quese dar um sentido de missão. Quando osconquistadores espanhóis vieram para ohemisfério ocidental conduzindo o geno-cídio. fizeram-no
"para a glória de
Deus". Quando os britânicos destruíram
a Índia, foi para dar-lhe o "benefício
da
cultura do homem branco". Quando os
franceses reduziram a Indochina à escra-
vidão e à destruição, foi "uma
missão
civilizatória". Quando os EUA assassi-ram 200 mil pessoas nas Filipinas numa
guerra de conquista, o presidenteMcKinley disse:
"Vamos elevar e cristia-
nizar a população".Desde a Ia e a 2a guerras mundiais, os
EUA estão engajados em programas wil-
sonianos de "autodeterminação"
e "li-
berdade", enquanto usam a CIA, o exér-
cito e elites regionais corruptas paradominar um país após outro no Terceiro
Mundo. Todos os países imperialistas
criaram estas ilusões, que são cruciais pa-ra mobilizar suas próprias populações.
Movimento — O caminho está prepara-do para um novo surto imperial?
Chomsky — Está sendo trabalhado in-tensamente. Sei que a intelügentzia ofi-ciai já está convencida. Se tiveram su-cesso junto à população não sabemos. O
programa dos direitos humanos foi umafarsa transparente para ganhar a aprova-
ção popular à "benevolência"
do Estado,
Também digo que houve benefícios cola-
terais ao programa de direitos humanos.
Muitos na América Latina, tendo reco-
nhecido o cinismo de tudo. inteligen-
temente aproveitaram os benefícios. E o
programa deu margem ao surgimento de
gente seriamente interessada em direitos
humanos, nos EUA e por todo o Terceiro
Mundo. A Igreja Católica da América
Latina, que é uma aliada no respeito
fundamental à integridade humana, teve
uma margem mais ampla para respirar e
trabalhar durante o compromisso retóri-
ci-» do presidente Carter com os direitos
humanos.Movimento— Você vê como duráveis ou
concretos os resultados dessa retórica?
Chomsy — Os efeitos materiais, con-
cretos foram pequeníssimos. Por exem
pio, o Chile, que sofreu sanções durante
o governo Carter — não porque eram
assassinos dedicados, mas porque come-
teram o erro de vir ensangüentar as ruas
de Washington (NR — o assassinato de
Letelier), pois antes estavam assassinan-
do tranqüilamente em Santiago sem queCarter se comovesse. De qualquer modo.
um mês após as sanções anunciadas porCarter, a Câmara de Comércio Ameri-
cana junto com a Embaixada American.-
no Chile realizaram um programa quidescrevia as
"condições privilegiadas à\.
salários baixos e grande força de traba
lho" no Chile, atraindo os investimento^
americanos para aquele país "estável"
E, de fato. os investimentos correram ai
Chile, com seu total apoio à ditadur.,
militar chilena. O período de "reconstru
ção da benevolência" acabou com Rei
gan. que está desmantelando o show
certo de que terminou o que chamam di
síndrome do Vietnã. Os benefícios cola
terais também estão sendo desmantela-
dos.
íí A guerra aos
pobres* declara*!u
há anos no Brasil,
foi agora
declarada também
nos EUA 99
Movimento — Que margem haverá pa-
ra esses benefícios?
Chomsky — A margem que sirva à
política de confrontação. A linha de Rea-
gan é que devemos nos opor aos regimes
totalitários e apoiar os regimes autoritá-
rios. Isso nada tem que ver com tortura etratamento das populações. O critério é
muito simples: governos totalitários têm
economia socialista; governos autoritá-
rios permitem liberdade para as opera-
ções econômicas americanas, e portantosão OK. Se não permitem essas opera-
ções econômicas estrangeiras, os gover-nos podem ser um paraíso na terra paraseus povos, mas ainda serão totalitários.
Esse é o critério que conduz a políticaexterna atual dos EUA.
Movimento — Qual é o papel das orga-
nizaçòes de base nos EUA? Elas se mobi-
lizam aos milhares em minutos!
Chomsky — os EUA têm imenso nume-
ro de organizações populares. São um
país, de certo mode, muito democrático,
onde elas se desenvo-veram muito rápido e
o efeito disto é haver uma capacidade de
mobilização rápida da opinião realmente
popular (e não o que se chama opinião
pública). Vejamos com El Salvador: ai-
gumas semanas após o anúncio de Carter.
e posteriormente de Reagan, do envolvi-mento dos EU A em El Salvador— feito cm
plena transição de governos, em janeiro—,em
poucas semanas centenas de orga
MOVIMKNTO - 20 a 26/7/81 17
_
ni/açocs populares no país trabalhavam
para tentar bloquear a intervenção dos
EUA. Houve centenas de "teach-inns"
(encontros educativos), demonstrações,
ações de todos os tipos, publicidade; sur-
giram oficinas dc informação por todo o
pais, e isto criou nm impacto semelhante
ao do protesto contra a guerra do Vietnã,
mas muito mais ágil e veloz. Demorou dez
anos para haver conscientização no caso
do Vietnã, e apenas poucos meses no de El
Salvador.
Movimento — Que extensão têm as or-
ganizações populares, e que solidez'.
Chomskv — Há uma imensa variedade
dc organizações populares, organizações
de base. comunidades de desenvolvimen-
to de bairros, grupos de pesquisa a nível
popular, grupos de discussão etc. Não
têm âmbito nacional, por isso são poucovisíveis. Mas quando se diz que a década
de 70 foi de isolamento, não é verdade.
Organização foi o que aconteceu portodo o país, e isto se traduz em ação
novamente agora. As organizações de
base nos EUA têm mais dinâmica do queem outros países, mas por outro lado não
têm forma política relacionada com
partidos. Efetivamente, ainda há desor-
ganização nelas, mas as coisas reverbe-
ram por todos os lados. Os EUA são um
r*. ís de paradoxos: muito despolitizado
de um"lado, muito vibrante do outro. E
se por um lado aqui temos a intelligen-
tzia de "visciras" e os meios de comuni-
cação "'comprando" a filosofia simplista
dos propagandistas. por outro lado há
uma democracia populanevibranteeom-
parada á de outras sociedades. Se há
pouca tolerância para debates no topo,
há muito debate nas bases.
Movimento — Você prevê explosõesviolentas para o futuro nos EUA?
Chomsky —Nem se trata de prevê-lasEm Boston há ruas bloqueadas por poli-ciais e bombeiros que perderam os em-
pregos, e nfto permitem que ninguém
passe, usando suas mangueiras e seus
cassetetes. Há pobres que perderam o
emprego e jovens rascistas que se opõem
com violüncia á integração racial. Isso
está ocorrendo antes do impacto do pro-
grama econômico de Reagan. Acho que
haverá ainda agora mais desenvolvimen-
tos impresivíveis que poderão ter três
expressões, se as bases se engajarem na
ação direta. Poderá haver uma mudança
construtiva para uma ordem realmente
democrática c centralizada; poderá ha-
ver a transformação das massas na base
para o fascismo; ou ainda uma violência
caótica crescente que o poder centrali-
/ado tentará transformar num estopim
para impor a ordem fascista.
Movimento — Qual dos três você acha
mais provável?Chomsky — Acho mais desejável o
primeiro, e creio que a intelllgentzia su-
Ix-stima o critério popular. Mas não sei
prever. Acho que a Maioria Moral podeser unia base potencial para o movimen-
io fascista. É um movimento antifeminiv
:a. oposto â liberdade individual, de cias-
,c média baixa culturalmente muito co-
^rvadora e repressiva, queimando livros
nas bibliotecas, etc.
Movimento — E o papel das Igrejas?
Chomsky — Acho que as igrejas, tanto
católica como protestantes, terão um pa-
j>el muito importante e muito ético a
desempenhar, e é importante destacar
que tanto na América Latina como nos
Estados Unidos os ramos principais das
igrejas se tornaram muito mais liberais, e
por vezes até radicais na defesa da inte-
gi idade e dos direitos do ser humano. As
igrejas são aliadas do progresso sociaL
Movimento Você prevê um período
v. de ataques a Igreja?
Chomsky — A Igreja católica e outras
. Igrejas sào o coração da constituição dos
direitos humanos — como é lógico que
sejam —, e coisas muito importantes
poderão ocorrer em breve. O Departa-
mentode Estado aparentemente está pro-duzindo um outro
"livro branco" sobre a
América Latina. Não apareceu, mas há
vazamentos de notícias informando quto próximo livro branco será
uma tentativa de atacar o «coraçfto d<
apoio aos direitos humanos, na Igreja.
Movimento — O que diz esse novo livro
branco?
Chomsky — Não 6 completamente cia-
ro. mas em grande extensão a Igreja de
El Salvador será acusada dc ter permitido que fundos da Igreja chegassem ás
mãos da guerrilha. Isso é uma coisa queimagino seja correta, que a Igreja ajude
as organizações de base de El Salvador a
lutar para defender-se do governo mais
brutal e indesejado que surgiu na longa
história de torturas e assassinatos da
América Latina. É concebível que partedesse dinheiro tenha sido utilizado na
compra de armas. O Departamento de
Estado mostrará alguma evidência disso,
e acusará a Igreja de apoiar o "terro-
rismo".
iiO Departamento
de Estado faráum campanha para
vinculara Igrejaao terrorismo
internacional J J
Movimento — Que impacto terá essa
acusação?
Chomsky — Acho que não irão longe
com mais esta propaganda de "terroris-
mo internacional" e com esta tentativa
dc lutar contra a Igreja. Se você lê o
Wall Street Journal verá que os sandi-
nistas. os movimentos de libertação da
América Central e da Africa são cha-
mados dc terroristas. Qualquer pessoa
que queira se libertar do controle dos
EUA ou da "fé
americana "
é. por ex-
tensão, terrorista. Estou certo de quedistorcerão os fatos numa campanha ma
ciça para vincular a Igreja ao "terroris-
mo internacional". O documento já está
preparado em Washington, segundo fon
tes de confiança. A questão é queWashington está hesitando em liberá-lo.
Só o fará se for para encobrir outra?
ações mais controvertidas, como aumen-
tar a ajuda militar a El Salvador.
Movimento — Há razão para o temor
de que tudo vá piorar, se você é habitante
do Terceiro Mundo? O que aconselharia,
por exemplo, um brasileiro, um latino-
americano a fazer?
Chomsky — Não existe mágica, você
sabe. Só existe esperança na organização
popular. O indivíduo isolado nunca poderesistir. Será destruído pelo poder con-
centrado. Mas as organizações populares
podem resistir, e ás vezes resistem. Vão
sofrer, certamente, receberão alguns gol-
pes da violência estatal. A questão é;
estarão bastante enraizadas para resistir
e tentar destruir o poder concentrado, e
aprimorar a economia em be-
nefício harmônico de mais gente, na
nação e na comunidade internacional?
O problema que você enfrenta num
país como o Brasil, que é dependente de
uma potência como os EUA. é uma
barreira dupla. Num país como os EUA
há só um processo. Tudo é importante. O
movimento sindical é importante. A
Igreja é importante. As organizações po-
pulares sào fundamentais. O apoioà luta
em outros países também é fundamental.
HOVO PLANO MARSHALLA adoção de um
'Plano Marshall", nos
moldes da antiga "Aliança
para o Progres-
so", poderá ser um dos instrumentos do
governo Ronald Reagan para impedir o
crescimento dos movimentos populares
na América Latina. A informação è do
deputado Arnaldo Schmitt (PP/SC), que
recentemente visitou os Estados Unidos,
juntamente com outros parlamentares,a
convite do "American Council of Young
Leaders". Schmitt resume a politica de
Reagan para a América Latina em seis
pontos: 1) Continuar com o isolamento de
cuba; 2) defesa da ditadura de El Salvador;
3) defesa do Atlântico Sul; 4) fim da
politica dos direitos humanos (por sinal,
anunciado na semana passada pelo Depar-
tamento de Estado, embora com a oposi-
ção dos parlamentares do Partidp Demo-
crata. O deputado Tom Harkyn. de lowa,
autor do projeto que criou a poHtica 4os
direitos humanos prometeu mobilizar a
opinião pública do pais contra a deciiâo
do governo); 5) adoção de uma politica
especial para cada pais; e 6) criação do"Plano Marshall", para ser implantado
principalmente em El Salvador e nos pai-
ses da América Central.
Todos esses pontos foram discutidos
pelo deputado Arnaldo Schmitt em reu-
niões realizadas no Departamento de Esta-
do. O único entrave para a imediata
implementação do-novo "Plano Marshall"
sena a falta de recursos financeiros, se-
gundo assegurou a Schmitt o embaixador
dos Estado Unidos na ONU para Assun-
tos Econômicos e Sociais. José Sorzano.
um cubano naturalizado. O deputado cata-
nnense esteve também com o diretor do
Conselho Interamericano de Segurança,
Roger A. Reed. Segundo Schmitt. Roger
Reed esteve recentemente em São Paulo
para participar de uma reunião da cúpula
, da TFP, tendo estranhado a "pouca impor-"
tância politica da entidade no Brasil".
0 CAMBOJA EM DEBATERealizou-se na semana passad.i a Con-
ferència Internacional sobre o Camboja,
com a ausência dos principais interessa-
dos. A União Soviética, e seu bloco, o
Vietnã e o Camboja boicotaram a reunião.
Os paises da Assean — Associação das
Nações do Sudoeste da Ásia (Indonésia,
Malásia Filipinas. Cmgapura e Tailândia1
apresentaram um plano.absorvido pela
ONU e por boa parte dos não-alinhados.
que prevê o desarmamento de todas as
facções em luta no Camboja, a retirada
das tropas vietnamitas e o envio de uma
força de paz da ONU, abrindo um proces-
so que culmine na convocação de eleições,
o boicotedosrussosevietnamitas colocou-
os como alvo de duros ataques dos Estados
Unidos e da China. Esta sustenta que"qualquer soiução para o Camboja só será
possível depois da retirada dos 200 mil
vietnamitas do pais", e anunciou sua deci-
são de fornecer armas aos grupos que se
opõem ao aiual governo cambojano.
esctever; e!es se tornam depressivos e nào
encontram ajuda na familia, poja #«__*
fcaior parte vivem apenas com um de seus
pais. Perambulam pelas ruas. entendiam-
se, e são continuamente agredidos pela
policia, que os prende sem motivos, so-
bretudo se são negms. Sim, eu entendo a
raiva deles. Hoje, L.ancos e negros sen-
tem a mesma frustração. É preciso reco-
nhecer que alguns quebram vitrinas para
roubar apenas para "tirar um sarro". De-
pois, há os sklnheads (NR - militantes da
Frente Nacional, neonazista) que não pa-
ram de atacar os negros. Eles crêem que o
negros e os indianos tomam seus empre-
gos" Estas palavras de Alison. um rapaz
inglês, branco, de Brixton (Londres) refle-
tem bem o atual estado de espirito dos
jovens na Grã-Bretanha. É nesse contex-
Io que se desenvolvem os distúrbios que¦sacodem 30 das principais cidades ingle-
sas. Atualmente, em cada quatro jovens
britânicos, mais de um està desemprega-
do. O melhor exemplo disso è o bairro de
Toxteth, em Liverpool. A taxa de desem-
prego na cidade è de 17% em Toxteth ela
salta para 40%; 60% entre os negros e
90% entre os jovens de 16 a 18 anos.
Liverpool è um caso extremo: là o desem-
prego atinge hoje três milhões de pes-
soas, ou seja 12% da população ativa.
DISTÚRBIOS EM BERLIMA crise econômica è geral, e seus refle-
xos não estão explodindo somente na
Inglaterra. Também na Alemanha, em Ber-
lim Ocidental, ocorreram diversos distúr-
bios na semana passada com manifestam
tes. principalmente jovens, protestando
contra o aumento dos preços dos aluguéis
e pela ocupação das casas nào habitadas.
A falta de habitações tem provocado a
ocupação de edifícios e constantes cho-'quês
com a policia. Segundo o jornal Dle
Welt, militares americanos, peritos em
atividades contra-revolucionárias, esta-
riam participando da repressão aos jovens
Morreu na semana passada o militante
do IRA, Martin Hurson, a sexta vitima da
intolerância do governo inglês diante da
greve Oe fome reatizada por prisioneiros do
IRA (Exército Republicano Irlandês) para
reivindicar o status de presospolK-cos. O
governo da República da. Manda Orlanda
do Sut) pedi» aos Estados Unidos paraintervir, convencendo a primeira-ministraMargaret Thatctier a abrir conversações
diretas com os grevistas, que estão dis-
postos a negociar.
CONGRESSO DO POUPAo que parece, o IX Congresso do PC
Polonês (POUP) nêo trará grandes modifi-
cações para o pais, especialmente
no que se refere à dependência com rela-:ção
à União Soviética. A forma da votação
escolhida para a eleição do nove Comitê
Central favoreceu a posição dos "duros"
(pró-soviéticos). Em seu discuto Stanis-
lawKania — cujapermanénciana secretaria
geral estava em jogo — se apressou em
dar garantias á URSS de que tudo correrá
dentro dos limites. Por outro lado, o PC
tcheco posicionou-se claramente pela in-
tervenção soviética na Polônia "para
de-
fender as conauistas do sorJatismo"
SOVIÉTICOS NA SÍRIAUm dado novo no tabuleiro das forças
em conflito no Oriente Médio: milhares de
fuzileiros navais soviéticos participaramna semana passada de manobras confun-
tas com forças sírias. Os soviéticos afir-
mam que desejam apenas "defender a
'síria das ameaças de Israel, amm nenhuma
idéia agressiva". As manobras são parte de
um tratado de amizade e cooperação fir-
mado entre Oamasco e Moscou ao ano
passado. Exceção feita aô Afeganistão,
trata-se da primeira vez oue tropas russas
reafteam atividades _fp um pais fora dobloco soviètieoi^
"Muitos jovens abandon-arom a escola
porque o que ela ensina não lhes kttar«a-
sa, e os professores nào os eatimuiam.
Eres vèa» 4ue mesme oa qae «ontinuam
não arranjam emprego. Então-_*_* EB per*
gyht«ain; fra qtsp' W-s^inà ?w^ «aafee**
' ¦':- -*
•--• ' ¦'*•> é*
I -flfi
ACHBESILnMMBMAEm 1980, o f*NB de El Salvador acusou
uma baixa de 10% em relação e i*VB» Oainvestimentos priwatoe foram re_u_fdos a
zero, e os públicos ficaram 50% abaixo
das previsões. Com a queda do preço doeaifc saaprincipal fonle d»dMtnçiit* dedivisa*, sue» sxportaçftÉ* deserto cair i»>-mmmtil^&íni»^^
-. precisara* apptüiftAr t*o_ _Éta_o est -iBeaaâato*'
. ¦ rtae. Ogoventoespsra<qg»Miao FMi _ EKx. Baneo MUitdi tt.
mfit~-t "ir
ltMOVIMENTO— 20 a 2ft/7/S1
CULTURA
DANÇA
Patrícia Stokoe:A dança deve ser
ensinada na escola"A dança é um patrimônio de todos os se-
res humanos e não só dos bailarinos, por isso
deve ser ensinada nas escolas públicas e não
em estúdios particulares. Ela não é um luxo
para uma elite, mas uma necessidade de base
para um povo são". Quem fala assim é argen-
tina Patrícia Stokoe, um dos maiores nomes
da atualidade naquilo que, à falta de uma de-
nominação mais adequada, se convencionou
chamar "expressão corporal". Com 62 anos
de idade, mas exibindo uma jovialidade fisica
e intelectual extraordinária.que ela mesma re-
conhece com uma ponta de orgulho, Patricia
esteve em São Paulo, na semana passada, pa-
ra ministrar um curso rápido.
Seu médoto de trabalho corporal é fruto de
uma longa aprendizagem em várias discipli-
nas: "comecei em Londres, em 1938, estudan-
dodança clássica. Mais tarde, tomei contato
com diferentes correntes da dança contempo-
rânea. Em 1948, conheci Moshe Feldenkrais e,
então, comecei a me interessar pelas novas
disciplinas corporais. Todas as outras disci-
plinas me ensinavam passos e movimentos
baseados na cópia de um modelo. Com Fei-
denkrais, pela primeira vez, aprendi a desen-
volver a percepção de meu próprio corpo"
Ainda na Inglaterra, Patricia teve contato
comaescoladeRudolf Laban.umdos pais da
dança contemporânea, que. segundo suas pa-
lavras, a impulsionou no caminho da "educa-
ção pela arte e não só para a arte". Outra gran-
de influência foi a da escola de "eutonia" de
Gerda Alexander. A esse contato direto com
alguns dos maiores "monstros sagrados" das
novas técnicas de abordagem corporal, Patrl-
cia acrescentou ainda estudos de anatomia
funcional, psicologia, música, história da dan-
ça etc.
Sua concepção é a de que todo o ser numa-
no pode dançar, sem necessariamente corres-
ponder a um modelo, criado e imposto pela
sociedade: "da mesma maneira que um bebê,
quando nasce, tem a possibilidade de poder
andar e falar, também tem a possibilidade de
cantar e dançar. Mas isso não è reconhecido
nem valorizado por nossa sociedade; tende-se
a relegar o tesouro da dança ao bailarino, miti-
fica-se e mistifica-se a dança, tornando-a eh-
tista; cria-se a imagem de um modelo perfeito
que serve para inibir e não desenvolver a dan
ça de cada ser humano. Porém o verdadeiro
espirito da dança é chegar a traduzir a vida in-
terior do ser humano, sua afetividade, pensa-
mentos e sentiments em movimento, repouso
e expressão em geral do próprio corpo". Den-
tro de seu trabalho de expressão corporal, Pa-
tricia desenvolveu um método de "senso-per-
cepção", que busca um desenvolvimento dos
sentidos humanos tanto em relação à realida-
de exterior como em relação à sua própria na-
tureza interior, através de três técnicas (do
movimento, da comunicação e da criativida-
de) e empregando quatro grandes estímulos
(a fala, a música e todo som organizado, as ar-
tes plásticas e a utilização de objetos auxilia-
res).
Patrícia considera que uma pessoa como
ela tem a obrigação de passar adiante os seus
conhecimentos e não fazer deles um simples"objeto de consumo pessoal", por isso divide
o seu tempo entre a formação de novos pro-
fessores de expressão corporal e a prepara-
çáo de um grupo de pessoas que leva a ex-
pressão corporal ao palco, como espetáculo
Ela considera muito importante o trabalho
com esse grupo, pois "somente ao mostrar o
produto se compreende melhor o para onde
vamos do processo".
(José Tadeu Arantes)
7
-Wm* te-Patrícia Stokoe
A 8.a APREENSÃO DO PASQUIM
Humor sem conciliação"Eles
podem mentir, mas nós não pode-
mos rir", desabafou o cartunista Ziraldo quan-
do soube que fora recolhida a edição do Pas-
quim, cuja capa satirizava a apresentação do
IPM do Riocentro. Esta foi a oitava apreensão
sofrida pelo jornal e a segunda nestes tempos
de abertura política.
Desde as explosões no Riocentro, o Pas-
quim adotou uma posição editorial de não ad-
mitir a farsa que estava se desenhando. Em
sucessivas colunas assinadas pelo seu edi-
tor, Alberto Dines, o jornal repudiou as expli-
cações oficiais de maneira incisiva. As char-
ges seguiram a mesma linha A primeira capa
era o desenho de um Puma destruído, com a
explicação de que fora "projetado
pela mes-
ma equipe que executou o resgate dos reféns
do Irã".
O espelho retrovisor refletia "os
bons
tempos de Mediei"
'«¦RPOVl ¦*^W*',''ÍÍ__E-»__________l_F-* , _LJ~**~*^*^mmmWmmmT* iÍ^___________> *&
t^^ifc^jEaaylB ____}' <*__r>_a______p^^' ^^!*|______e'. *%. ___¦ __c _#_».¦
M__l___________-^^^^^ ¦ *t* tmmW' 1"1_^_yJ^>v * -'•' ^_L ?¦«. -a
___F «»___i r^^^^B ._______»^m\ v^_B ______.
Apesar deste posicionamento, o Pa$»
quim escapou à primeira retaliação das auto-
ridades, que mandaram recolher, logo após c
30 de abril, os jornais Movimento, Tribuna
Operária e Hora do Povo. Para Alberto Dines,
a apreensão do número passado significa
que as autoridades resolveram prejudicar
quem estava faltando Mas o recolhimento
não foi irrestrito. Apenas algumas bancas e
uma distribuidora receberam a visita de agen-
tes da Policia Federal. De acordo com Dines.
esta nova tática, apesar de muito menos tra-
balhosa, consegue impor o mesmo prejuízo
ao jornal. Afinal, com o anúncio de que houve
repressão, os jornaleiros podem alegar tran
quilamente que seus jornais foram recolhi-
dos, pois os policiais não deixam recibo.
O próprio Pasquim não recebeu nenhuma co-
municação, nenhum bilhete ou telefonema, o
que dificulta inclusive a possibilidade de um
recurso â Justiça.
¦»:. _J_-_----------»--i^e---^»^^^^a---_^^
a tmlmira fi.ty ita SltW.: cmtlrit o fufttttirrffa
OS GAYS NA SBPC FUTEBOL E POLÍTICA
Os homossexuais finalmente começam a
ter chances de ser respeitados e não mais
marginalizados na sociedade brasileira. A
aprovação de uma moção peia Assembléia
Geral da SBPC tomando "oposição enérgica
a todas as leis e códigos que rotulam o ho-
mossexualismo como patologia" foi um
grande passo que. se nào permite acabar
com a discriminação, pelo menos significou
uma espécie de autocrítica da comunidade
cientifica. Dos sete mil participantes da
SBPC. pelo menos quatro mil assinaram um
abaixo-assinado pedindo a exclusão do para-
grafo 302 do Código do INAMPS aue consi-
dera o homossexuahsmo como "desvio de
personalidade e transtorno sexuai Embora
a discussão do homossexualismo tenha sido
incluída na programação oficial da SBPC. o
ponto alto foi a realização de um ato público
com a presença de mais de mil pessoas, pe-
los grupos gay de vários estados brasilei-
ros. O ato foi para protestar contra as amea-
ças de morte feitas através de uma carta
anônima a Mana Brandão, secretaria regio
nal da SBPC, caso os homossexuais parti-
cipassem da reunião."
PINTURA DE PRESOSO chamado
"criminoso comum" ainda é
visto por uma grande parcela das pessoas de
modo estereotipado, como um ser brutal, m-
capaz de qualquer sensibilidade. Isto apesar
de terem sido "criminosos comuns" alguns
artistas extraordinários,comoFrançoisVillon
mendigo, arruaceiro, ladrão e assassino do
século XV, que foi um dos maiores poetas da
língua francesa, ou o nosso contemporâneo
Jean Genet. A exposição de pinturas de de-
tentos da Penitenciária do Estado, que està
ocorrendo no Museu de Arte de São Paulo,
contribui para desfazer esse preconceito. Em
meio a alguns quadros ingênuos, há traba-
Ihos da maior qualidade, como os de Fran-
cisco Costa Rocha. José Borges e Gerson de
Oliveira
Em entrevista ao Pasquim da semana pae-
sada. Reinaldo, jogador do Atlético Mineiro,
denunciou que está sendo criada uma onda
de boatos contra ele. visando atingi-lo por
causa de suas posições políticas de oposi-
ção. Os boatos o acusam de homossexualis-
mo, bebedeiras e escândalos com mulheres,
e já prevêem sua exclusão da Seleção Brasi-
leira. e até sua rescisão de contrato com o
Atlético. Na entrevista. Reinaldo diz que nâo
vai reforçar o preconceito, tentando prcvar
que nào é homossexual, apesar de sabpr que"o mundo do futebol segue e prega o mora-
lismo burguês, machista, careta" t o que dfi
não ser um jogador de futebol bonzinho e
ainda identificar-se com a oposição.
A FEIRA DE IDÉIAS
Uma feira foi o que deu o toque de desce
tração e cor aos debates da SBPC. Uma feir;
onde se vendia de tudo: do mingau de mMh
à cerveja, ao vinho e à batida: doe posters ú*
Cne Guevara ao inocente Cannos de Char-
Chaplin-.daliteraturaclassicai arxistae .< -
cumentosaepartidoscon-.ooPCdoB. P*_b
eMR-8alivrosdidáticosedest-xologia, das
camisetas, pulseiras e perfume, caseiros ai
artesanato africano e indígena. Uma fei-a d€
idéias e comportamento Ess^ 'oi o quatí'
â parte da reunião da SBPC em Salvador ©n
de aconteceu tudo que deseja uma soeieda
de que aspira à democracia Ao lado do deo*
te sério dos graves problemas nacionais r -
hzado nas salas, ocorreu a mamfestaçài
cultura e comportamento de uma juventuc..
que aos poucos procura assumir seus pro
prios compromissos contra aí ideologi». ios
que mandam hà mais de 17 anos no país
Apesar das tentativas dos jornais conserva»
dores de dar uma visão de "bagunç; ' f* "fes
tividade" ao que ocorria pelos corredores da
SBPC. a feira ê que se constituiu no qrande
e colorido destaque do encontro
_4'^f^:jHw^^^^Éfe ¦ <»_ t'•***?£ *'* ^^^^j^SjSfiÉfc^cgtt^^w,. ' -•'¦'w. *"K****m*** *'
Che. i instrui c< h.iftlin mi I eir.t dc lUvia*
V>
CIÊNCIAS SOCIAIS
Trabalhadoresdiscutemdemocracia
OS TRABALHADORES E OS PARTIDOS.
Ricardo Maranhão. Editora Semente. São
_ulo 1981.
"Sen oliti: • não há salvação", afirma um
der sir cal. Esta peqt.^na frase talvez .inte*
¦ized" • ma nr.orosa o conjunto das entrevia*
as organizadas por R.^ardo Maranhão, em
seu recente livro.
34 lideres sindicais de Sào Paulo. Rio de Ja-
neiro 8 Minas G»^rais — escolhidos, como es-
clareoe o Autor, em virtude da efetiva m.iitân-
cia que 'ém na vida sindical e política — deba-
tem e analisam os partidos políticos e a quês-
tão da democracia no Brasil atual (alguns dos
temas abordados: avaliação do papel desem-
penhado pelo extinto MDB: o PMDB e os tra-
balhadores as razões do surgimento do PT.
as tarefas atuais do PT e do PMDB: a relação
sindicato, partido, os partidos existentes na
ilegalidade; a frente de oposições; a Consti-
tuinte ,i questão do socialismo). Através des-
ta entrevista . pode-se perceber com muita ni-
tidez o avanço político e ideológico dos tra-
balhadores na abordagem e na compreensão
dos problemas que não apenas lhes dizem di-
retamente respeito como também daqueles
que implicam a transformação da sociedade
brasileira.
O conjunto destes depoimentos — como
nào poderia deixar de acontecer dentro de um
regime de precarlssimas liberdades políticas
e sociais-revela as enormes dificuldades que
no Brasil enfrenta a classe operária na organi-
zação de entidades que pretendem efetiva-
mente contribuir para a construção de uma
sociedade verdadeiramente democrática e so-
cialista: seja no combate ao apoliticismo das
grandes massas populares provocado pelo re-
gime militar, seja na resistência às permanen-•.
tas violências e casuismos dirigidos contra as
^"aposições e lideranças políticas mais conse-
quentes nestes últimos 17 anos.
Apesar deste quadro sombrio e sufocante,
há muita esperança em todos estas entrevis-
tas. Com lucidez e de forma destemida, a qua--
se totalidade destes depoimentos reconnece
que nã há "salvação" fora da ação política Tu-
do passa pela política. Mais do que isso: a po-
litica. na visão destes lideres, nâo é privilégio
das chamadas elites nem provem necessária-
mente do Estado. Ela emana da sociedade —
das lutas e dos conflitos que a perpassam Na
formula direta e muito expressiva de um dos
lideres sindicais: "Nós
temos que ter condi-
çôes de meter a colher no processo de deci-
são política''.
Tal é o interesse que este pequeno livro
provoca que é preciso confessar — hà uma
certa frustração por parte do leitor quando.
em seu capitulo final ("Os problemas da de-
mocracia"). importantes questões atuais são
discutidas por um reduzido número de partici-
pantes e em poucas páginas Nossa expecta-
tiva. aguçada pela própria leitura deste livro.
era a de que os trabalhadores falassem mais
ainda (C.N.T.)
Errata
Na resenha (Movimento n° 312) sobre a co-
leçào História Popular (publicada pelo Centro
Editorial Latino Americano), dois títulos de li-
vros saíram errados Os títulos corretos são:
Os Tempos Dramáticos da Mulher Brasileira
de Irede Cardoso e Paraguai. Nossa Guerra
contra esse Soldado de León Pomer Além
disso, a frase (Lápide será minha ausência
sobre este pobre povo que terá de continuar
respirando sobre *.la sem ter morrido por não
ter podido nascer") nâo é citação de León Po-
mer e sim de Roa Bastos no livro Eu. o Supre-
mo
..£-~-u
HISTÓRIA POPULAR
A face do povo na
história brasileriaUm revisionismo da versão oficiosa
REBELIÕES DA SENZALA - QUILOMBOS.
INSURREIÇÕES, GUEflRILHAS, Clovis Moura,
Livraria Editora Ciências Humanas, São
Paulo, 1981, 284 p.
Ao contrário do que dizem os ideólogos das
classes dominantes, a luta de classes não è
uma planta exótica em nosso pais Ela existe
como em todas as sociedades divididas
em classes — desde os primórdios de nossa
organização social, e seu fulcro principal foi,
durante quase quatro séculos da nossa histó-
ria, a luta entre senhores e escravos, como
mostra Rebeliões da Senzala, de Clovis Mou-
ra, cuja primeira edição, em 1959. marcou um
aprofundamento no processo de revisão da
história do Brasil, iniciado décadas antes.
Cada classe social conta sempre a história
de acordo com seus próprios interesses e
suas conveniências Varnhagen, nosso "pai
da História", sistematizou uma historiografia
das oligarquias, contando a história da con-
quista e colonização portuguesa do Brasil de
acordo com a visão da classe senhorial que
dominou o cenário político e econômico do
Império.
A versão oficiosa da história do Brasil, cris-
talizada em sua obra. provocou polêmica des-
de seu aparecimento. Muitos historiadores
encaminharam suas pesquisas em outros ru-
mos, lançando os primeiros germes do revi-
sionismo histórico. Correspondendo de certa
maneira aos interesses das camadas urbanas
nascente burguesia industrial, pequena
burguesia, os funcionários, etc.. — a preocu-
pação desses historiadores estava longe dos
palácios e casas grandes. Com uma evidente
ENSAIOS
Visando o
próprioumbigo
consciência nacional, eles procuraram conhe*
cer o pais, seu potencial, seu povo, o sertão,
procuraram resgatar para a história heróis
com o Beckman. Tiradentes. Frei Caneca, Fe-
lipe dos Santos e muitos outros, que eram ex-
pressão da lut? das camadas urbanas em de-
fesa de seus interesses.
Com raízes nos trabalhos desses historia-
dores, o revisionismo histórico desabrochou
na metade de nosso século, produzindo uma
historiografia onde a participação popular na
construção do JÉMpn um papel de destaque,
embora subordr#aao: o povo aparece em mui-
to episódios, liderado por personagens da in-
fância da burguesia brasileira.
Rebeliões da Senzala tem um significado
importante neste quadro. Nele. pela primeira
vez de forma sistemática, a luta do povo apa-
rece com sua face própria, como a luta dos es-
cravos negros pela liberdade
A tese tradicional do pacifismo do povo bra-
sileiro é definitivamente descartada. Aqueles
que acreditam na conciliação como saida para
as crises nacionais poderão conhecer com
detalhes o que esse tipo de política significou
para as camadas populares: na Belaiada, por
exemplo, as elites acertaram suas diferenças
através de uma anistia, para reprimir juntas os
escravos e camponeses rebelados do interior
do Maranhão.
Fruto da redemocratização do pais depois
do Estado Novo — Clovis iniciou suas pesqui-
sas em 1948 —. Rebeliões da Senzala leva o
revisionismo histórico até sua formulação
mais radical, e o resultado è uma história radi-
calmente contra as classes dominantes. É um
ponto de partida fundamental para quem qui-
ser conhecer a história do Brasil sob a ótica
de seu povo e de suas lutas. (José Carlos Ruy)
EDITORAÇÃO
Debate agora no Brasil
DEBATE n 38, Editora Gralfitti, SP. 42 pàgs.,
CrS 160,00
Depois de dez anos de atividades e trinta e
sete números publicados no exterior, a revista
Debate começa a ser editada e distribuída no
pais Seja bem-vinda!
O teor das matérias è de orientação marxis-
ta e procura respeitar um certo pluralismo
ideológico Entre seus antigos colaboradores
podem ser citados alguns nomes mais conne-
cidos como Carlos Marighella, Carlos Moura,
Jean Marc van der Weld, Mário Alves e Mi-
guel Arraes. No n° 38, figuram artigos de Dar-
cy Albuguerque (a situação do negro no Bra-
sil); Natàlia Prado (o movimento feminista); e
do deputado estadual Raymundo de Oliveira
(PMDB-RJ) sobre a atual conjuntura políticaAparecem ainda três notas relativas às
"Teses
do Coletivo Nacional de Dirigentes Comunis-
tas para a luta pela Legalidade do PCB", porP.Alves. A.Silva e D.Albuquerque.
"COMO SE COLOCA A DIREITA NO PO
DER" (Vol. 1 e 2), Paulo Schilling, Global Edi-
«ora, São Paulo, 1979 e 1981.
Escrito durante os anos de 1964 a 1966.
"Como se coloca a direita no poder" é
'fun-
damentalmente um livro de memórias". Nes-
tas duas obras, o ex-"delegado político" de
Brizola na Guanabara e ex-coordenador do"Grupo
dos Onze" nos oferece um conjunto
de ensaios que expressam com muita hones-
tidade a perspectiva política e ideológica dos
(autodenominados) "nacionalistas revolucio-
nàrios" — agrupados em torno de Brizola e do
semanário Panfleto — nos anos que precede-
ram o golpe militar de 1964.
Como todos os escritos produzidos no "ca-
lor da hora" — no caso presente, no clima de
exílio onde se amarga dolorosamente a der-
rota —. estamos aqui diante de um livro "deli-
beradamente polêmico e agressivo'7 Polêmi-
co, por exemplo, com aqueles ensaístas que
nos dias de hoje ainda fazem a apologética do
governo Goulart ao mesmo tempo que deixam
de enxergar as mudanças na trajetória politica
do ex-"nacionalista revolucionário" Brizola.
Uma das principais teses deste livro consis-
te em demonstrar que — ao contrário do po-
pulista progressista que teria sido Vargas —
Goulart foi "o
mais eficiente agente das cias-
ses dominantes e do imperialismo na conten-
ção do avanço popular". Na verdade, para o
A.. Goulart foi o grande responsável pela to-
mada do poder por parte da direita.
O autor também polemiza com o PCB: para
Paulo Schilling, ao amalgamar o marxismo
com o positivismo e com o "revisionismo
so-
viético". este partido se transformou em au-
têntico "Partido
da Ordem e da Tranqüilida-
de". Pretendendo contribuir para umaautocr.
tica dentro da "esquerda
revolucionária", este
livro erpõe ainda uma outra tese altamente
controvertida: "o
êxito de 1o abril deve-se
mais aos erros clamorosos da esquerda, que
aos acertos da direita".
A natureza apaixonada deste livro é igual*
mente responsável pelos seus méritos e de-
feitos. Estes aparecem, particularmente,
quando o Autor — ao buscar justificar o "na-
cionalismo revolucionário" — interpreta e
analisa a história politica brasileira a partir de
1930. Citemos apenas duas dessas simplistas
e equivocadas interpretações: a do caráter"eminentemente
popular" da "Revolução
de
1930" (em suas próprias palavras: "foi
o povo...
quem liquidou a república oligárquica"); de
outro lado, ao defender o "nacionalismo
de
Vargas" e ao destacar os "enormes
benefi*
cios" do "Estado
paternalista" (sic), ao mes-
mo tempo, todavia, P.Schilling nunca enfatiza
suficientemente os aspectos repressivos e os
efeitos desmobilizadores da legislação traba-
Ihista bem como a permanente coerção a que
estiveram sujeitas as classes trabalhadoras e
populares e suas organizações políticas du-
rante todo o primeiro governo Vargas (1930-
1945).
O titulo deste livro não sintetiza rigorosa-
mente o seu conteúdo efetivo: Quem espera
nele encontrar uma contribuição para a com-
preensão da ação politica e da perspectiva
ideológica da direita brasileira nos anos 60,
certamente vai se frustrar. Embora agregue,
no final do volume 2, alguns documentos so-
bre a participação norte-americana no golpemilitar de 64, estamos basicamente diante de
um depoimento sobre as atividades políticas
de setores das esquerdas brasileiras. Com ex-
ceção de um capítulo dedicado às Forças Ar-
madas. poucas são as referências à efetiva (e
eficaz) atuação dos políticos e das múltiplas
organizações direitistas na articulação do"movimento
de 64". Ao falar da direita, não
conseguem as esquerdas deixar de visar o
seu próprio umbigo?
(CaioN.de Toledo)
20MOVIMENTO - 20 a 26/7/81
•
CARTâSABERTAS
TRIBUNA LIVRE TRIBUNA! IVRE
O superficial em César %£»Dc Salvador, Marco c Valdelio analisam a entrevista de Ruy César
ameaçadosRuy César, primeiro presidente da UNE re-
construída, concedeu uma longa entrevista a
Movimento (n° 312), em que defende posições
e uma concepção de caráter geral de que dis-
cordamos profundamente. Ruy teve um papel
muito grande no movimento estudantil brasi-
leiro, vindo dai o espaço que conquistou na
imprensa, o direito de se fazer ouvir com a má-
xima atenção E é exatamente pelo peso que
suas opiniões têm no pais, pelo respeito que
merecidamente o cerca, que uma entrevista
como essa precisa ser analisada atenta e rigo-
rosamente. Por esses motivos, e ainda pela
amizade que lhe temos, decidimos fazer aqui
uma firme critica daquelas posições e con-
cepção.
Respondendo a "o
que está pensando hoje
o Ruy César pós-UNE (...) na politica". Ruy ini-
cia a entrevista com a defesa da necessidade
do "trabalho
nas instituições capitalistas" pa-
ra "transformar essa sociedade". E jà nesse
começo vemos um grande vazio e um velho
erro.
O vazio: Ruy nada diz, em momento algum,
sobre o que pensa da situação vivida hoje pe-
lo pais. A crise econômica brasileira é grave e
vai se aprofundar ainda mais. Essa gravidade
é multiplicada por ser essa crise parte da crise
vivida peio capitalismo, mundial, não só no
plano econômico, mas também político, ideo-
lógico, cultural e mesmo militar Como conse-
qúència da crise, e ao mesmo tempo aprofun-
dando-a, a classe dominante está dividida
quanto acomoenf rentà-la, e sobretudo come
derrotar a classe operária e o coniunto dos tra-
balhadores. Por sua vez. embora esbarrando
em suas próprias deficiências, o movimento
operàrio-popular tende a uma progressiva ra-
dicalização e poütizaçào.
É nesse quadro que o ex-presidente da UNE
orupou duas páginas de Movimento — para
nada dizer sobre aquilo que é o centro da vida
ur-z -al. decisivo para os destinos das cias-
se-i e .amadas sociais que reúnem milhões
de seres humanos. Ao invés disso. Ruy prefe-
re adotar a postura de uma pessoa alheia ao
rn-.o popular, com seu olho critico voltado
e .1 iivamentesobreaesquerda.Assimlimita-
da e parical. sua visão o leva a cair seguida-
mente no unilateralismo. O que chega a apro-
ximà-lo. em uma questão fundamental, do re-
formismo.
Mas as criticas políticas de Ruy não ficam
ai. Ele afirma corretamente que "uma
organi-
zação que tenha uma prática interna autorita
ria agirá assim também com a massa", e que
essa é de longe a atitude predominante nas
tendências estudantis. A seguir, porém, ge-
neralizadetalformaaacusação de manipula-
çãoeaparelhismoparatodaaesquerda.emto
dos osnomentos que acaba por ignorar a
grande diversidade (em intensidade e quali-
dade) na ocorrência desses erros nas corren-
tes populares no pais, além de deixar na som-
bra os muitos esforços que /êm sendo fejtos
para entender e superar essas deformações,
sem abandonar o rigor na análise e a firmeza
na ação.
A superficialidade de suas observações,
presente em quase toda a entrevista, marca
também sua opinião sobre o PT "Atrair
deter
minados setores populares" foi a única das"vantagens
(do PT) em relação aos outros par-
tidos de oposição" que Ruy menciona. Não
tendo feito qualquer indicação sobre a situa-
ção e as tarefas e necessidades do movimen-
to operário e popular na conjuntura politica,
ele não nos permite saber o porquê de sua op-
ção pelo PT.
Essaatitude, dealheamento à luta popular
e superficialidaae, a nosso ver tem um fundo
ideológico que fica claro no conjunto da en-
trevista. Para Ruy, "toda
transformação social
deve ter como fundo o homem". Mas de que"homem"
está ele falando9
A teoria marxista da revolução afasta-se as-
sim profundamente da visão de Ruy Mas
guarda também uma enorme distância da
"teoria" exposta por Duarte Pereira na sua cri-
tica à entrevista de Ruy. publicada na edição
seguinte de Movimento Para ele, "o
abe do
socialismo cientifico (..) ensina que (...) em ca-
da uma das etapas da revolução predomina a
realização básica de uma tarefa central: na pri-
meira etapa, a tarefa politica: na segunda eta-
pa. a tarefa econômico-social no domínio da
propriedade sobre os meios de produção: na
terceira etapa, a tarefa ideológica e cultural".
O mecamcismo presente nessa formulação è
aberrante. Uma revolução pode estabelecer a
propriedade estatal dos meios de produção,
sem que isso signifique parte da construção
do socialismo — propriedade estatal só è si-
nônimo de propriedade socialista quando o
proletariado, com o apoio de todos os expio-
rados do pais, detém o controle de fato do
aparelho de Estado, e mantém esse controle
em suas mãos. A propriedade socialista, sua
implantação e consolidação, pressupõe por-
tanto não apenas a "tarefa
econômico-social
no domínio da propriedade dos meios de pro-
dução", mas também, simultaneamente, o de-
sencadeamento de uma revolução no terreno
da ideologia e da cultura, instrumento indis-
pensável para assegurar o caráter proletário
do Estado. Decretar essas etapas, reduzir a
semelhante mecanismo a revolução proletá-
ria. postergando a revolução cultural, ê uma
postura teóricacuja função social è justificar
usurpação do poder por uma minoria de Ouro-
cratas e pseudo-comumstas em nome da
classe operária, è encobrir a substituição da
classe, pelo partido, processo que está na es-
sència da mais trágica derrota sofrida pelo
proletariado mundial: o alijamento dos ope-
rànos russos do poder pela burocracia, na
época de Stálin.
Na sua entrevista, Ruy acusa corretamente"a
maioria dos setores de esquerda no Brasil"
de "reproduzirem a ideologia burguesa em
nome daclasseoperária" quando classificam
apnoristicamente movimentos como o dos
negros, das mulheres, dos homossexuais.
Mas não vê a reproduçãoda ideologia burgue-
sae pequeno-burguesa por grande parte dos
quedefendemessesmovimentos.ouseja. os
que buscam orientá-los rumo ao mdividua-
lismo. à busca do prazer como ideal supre-
mo. à divisão do movimento popular pela con-
traposição de mulheres e homens, negros e
brancos, homcssexuais e heterossexuais.
Ruy acha que "os
exemplos de revolução
que conhecemos atravessam dificuldades
atualmente" e que. para se entender isso.
"existem alguns indícios a serem persegui-
dos". Em nossa opinião, pode-se afirmar que
a rigor nenhuma das revoluções realizadas
conseguiu até agora construir e manter o so-
cialismo no sentido marxista do termo, que
implica marchar decididamente para a eii-
minaçãodadivisãodasociedadeem classes.
E para se entender isso. e superar essa situa-
ção crítica, existem muito mais do que sim-
pies indícios. Hà uma larga experiência aeu-
mulada e uma teoria capaz de interpretar cien-
tificamente essa experiência e transformà-la
O que Ruy diz a respeito dessas questões,
mostra como é superficial seu domínio da teo-
ria. o que limita enormemente suas possibili-
dades de criticá-la e propor sua superação ou
modificação
Tudo que identificamos acima nas opiniões
e silêncios de Ruy mostra nitidamente uma
postura ideológica global, cujos traços essen-
ciais podem ser percebidos em boa parte da
esquerda, ou mesmo fora dela. especialmente
entre a de formação universitária.»
Ruy e o entrevistador cometem ainda um
outro erro grave: lançam-se à escolha de
quem levar para uma ilha deserta — Grande
Otelo ou João Amazonas. Laurence Olivier ou
Lênin etc. O aberrante está no mè«odo adota-
do para se fazer criticas que na verdade são
essencialmente políticas. As pessoas compa-
radas nas perguntas e respostas são na verda-
de incomparáveis. além de ser absurda a es-
colha necessariamente excludente a ser feita
entre elas -- e para que9 para gozar sua com-
panhia, parece O procedimento adotado des-
camba para o deboche e mais completa su-
perficialidade. quando nào leviandade
Por fim, queremos registrar nossa discor-
dância frente à evidente falsidade da afirma-
çãode Duarte de que Movimento teria se con-
vertido em "veiculo
privilegiado de certas cor-
-¦entes políticas". Todos os leitores do jornal
têm sempre a satis'ação de ver em suas pàai-
nas opmiões'diversiticadas sobre as mais di-
versas questões -- >nolusive as de Duarte Pe-
reira Em suma. com base na vida real, na si-
tuação concreta do mundo e da realidade bra-
sileira. e em seu desvendamento científico, c
necessário lutar por sua transformação. E oa-
ra essa tarefa, nem as posições de Ruy. nem
as Duarte, trazem, no essencial, uma contri
buição válida
Valdelio Santos Silva
(Ex-presidente do DCE-UFBa na gestão
1977/78. Atualmente, memb'9 do diretório es-
tadualdoPT-BA)
Marco Pereira
(Membro do Diretório Estadual dc PT. na
Bahia).
TRIBUNA LIVRE
Não aos discípulos de Gabeira
Justa e oportuna a análise que Duarte Perei-
ra faz da entrevista de Ruy César, nas páginas
de Movimento n° 313. Jà è tempo de desmisti-
ficar os que se iludiram com suas ilusões e fa-
zem, hoje. o prolongamento dos "marxistas
de Ipanema" e da "esquerda festiva", discipu-
los ideológicos do "Mestre" Gabeira.
É interessante notar que, historicamente, a
burouesia em si não suja as mãos: ela age
através da pequena burguesia, seja para ex-
piorar, reprimir ou confundir. E este papel au-
xiliarqueumaparteda pequena-burguesia irá
sempre desempenhar, porque, enquanto cias-
se, ela não tem um projeto para si.
É tal a ieviandade com que setores da pe-
quena-burguesia combatem a esquerda (leia-
se marxismo), que chegamos a ouvir afirmati
vas como esta: "Em
Marx, a parte econômica
esta certa, mas a politica esta errada"! E as-
sim vão, de pincelada em pincelada, destruin-
do verdades e construindo mitos.
Hà um fundo demagógico em tais pronun-
ciamentos. quando querem, para parecer"revolucionários modernos e compreensi-
vos", cooptar as minorias, e fazem um discur-
so cheio de lamentáveis equívocos, como
deixou bem claro a análise de Duarte.
Jà estamos enfrentando, a nível mundial, os
perigos da social democracia, e tais ataques
às bases de uma teoria e prática marxista-leni-
nistas so fazem servir como ponta de lança
para minando por dentro a formulação de
uma politica que sirva ao proletariado, ajudar
a implantar uma "nova
ordem" que mantenha
a dominação e exploração da burguesia serr
contudo causar qrandes traumas à pequena
nurguesia. sua linha auxiliar. (J.M.Brito).
Nós. moradores do Sitio Gurugi e Sitio Pari-
pe moramos em uma propriedade m 223
hectares, formada em 70 famílias, ro munlcl-
piodacidadedeConde Voltamos no.-.imente
aser ameaçados da mesma coisa qu« "osso-
fremos no passado, quando nós ma-damos
carta no dia 25 de outubro de 1979 para os jor-
nais. CONTAG. Federação dos Trabalhador*
Rurais e povo em geral Nenhuma : i vidên-
cia. e nós voltemos ser ameaçado *h novo.
quando que na outra vez o senhor João Gon-
çalves de Lima, nome que está na Escritura,
chegou querendo invadir nossas Éreas com
coqueiros, querendo fazer casa nas lavouras
dos moradores, projetando plantar cate debai-
xo dos nossos sítios que è mangueira roquei-
ro jaqueira, goiabeira. abacateiro ite, todos
feitos por nós. proibindo fazer casa doa mora-
dores que estavam caindo, devorando cajuei-
ros. mangabeiras Ele agora está começando
querer invadir os roçados e não deixa afincar
nenhum pau, para «a-er uma casa citando
com um projeto que è plantar cana Mesmo
assim ele falando que vai adquirir dinheiro do
Governo, porque se os moradores revOtt«r-ae
a destruir a cana. ele |oga a questão pera o go-
verno e fica de lado para o governo n-soiver.
que plantou com o dinheiro dele, e • • disse
que o governo pod^ brigar com os mói l lores.
Isso aconteceu sexta-feira dia 5 de ho de
61 quando ele veio acompanhado junto com
dois carros da Destilaria Tabu; conhe »mos
os fatos desta Destilaria de perto que é des-
truir casa de morador plantação de le ão. ro-
ça etc. Chegou no sitio Panpe na easa de um
morador, começou conversar com Ste estas
palavras, então junto com 7 homens todos ar-
mados com revólveres na porta deste dadào.
dizendo ele das áreas que os morador 'raba-
lhavam ele ia precisar da metade para Cantar
cana. quem tinha 2 ficava com 1... Cagando
em Gurugi ele talou que ia precisar das áreas
dos moradores que plantam gênero m> menti-
cio para plantar caria e vai fazer uma vila para»-
os moradores ficar então dentro de aervtÇO de-
le. Ele falou que vai trazer uma pes1- ><_ para
administrar o serviço dele porque quando fos-
se no fim de semana ia buscar o dinheiro do
pagamento do trabalhador, que os moradores
nào sabia onde ele morava. O senho; João
Gonçalves de Lima prometeu voltar no dia 10
do mesmo mês para percorrer as áreas que ia
plantar De que e que a gente vai viver se nf.o
pode plantar nada na vida e morando ia cerc -
do de cana o quintal Aí a qente tomamos a
decisão de procura' a justiça. Primeiro viemos
ao sindicato. Chegando ao sindicato falamos
com o presidente Então ele tomou a decisão
de ir à Federação Então ele disse à gente que
não precisava a gente ir à Federação, que ele
resolvia manutenção, foro em cartório ou de-
sapropriaçáo Mas o proprietário já disse que
nào aceitava foro para não dar problema pra
ele Quando que no dia 22 do mesmo més. fo-
ram 80 pessoas â Federação e o presidente
pediu para juntar o povo para tirar uma foto
para mandar para os órgãos comoetentps iun-
to com esta caria No dia 25 de junho, o
INCRA. tomando conhecimento pele jomel e
a Federação, chegou até nossas áreas 'oman-
do conhecimento como vinha ocorrendo e
corrigiu nosso trabalhos Mostramos um do-
cumento que nós adquirimos para te* i reaii-
dade de que ele Unha comprado ou nã e eles
anotaram alguma coisa Ficou bastanv admi-
rado com nossa plantação Chegou at<* a per-
guntar se nós trabalhava com o dinh<*»ro do
banco e nós falemos que nâo. tudo p feito
com nosso esforço na base de troca de dia.
Até agora nenhuma providência tomada.
Pedimos a Deus e as autoridades competem
tes que nos ajude para que nào falte gênero
alimentício para nós e para a cidade poraue a
gente está disposto a nào sair de lá porque
a qente nào tem pa-a onde ir. Queremo° uma
resposta imediata
Os moradores de Gurugi e Panpe
Conde. 30 de junho de 1981
MO\ IMK.NTO- 20 a 26 7 81^^^^^jÜ
flflll
«assine MOVIMENTOUM PATRIMÔNIO DA IMPRENSA LIVRE E .DOS SEUS LEITORES
V^lmÊ^^Ç\ECONOMIZE 50%!
\ i vô pode pagar em duas parcelassem acréscimo ou em 3 ou 4 parcelascom apenas 2,15% de juros w i mês.
FAÇA SUAS CONTAS!ANUAL i***m SEMESTRAL 0ft«M
Q]à vista 3. "300,00
QB 2 X 1.900,00 S à vista 2.000.00
ElsX 1.350.00 H 2X1.000,00
04X1.050,00 03X750,00
Prefiro a opção [_J
, Nome
I l*ntfunáo
I Endereço.i a<in<h>
Idade.
_CEP- .Estado.
pagàvel em Sâo Paulo,I Para lal estou enviando o cheque n° ,—_—. —-—
| em nome de Edição S/A. Editora de Livros. Jornais e Revistas. Rua *>,^ífe.**t^fuaM'
62** Sfti* Paulo SP, CEP 05415. Preço de assinatura no exterior: anual US5 100, semestral u*s> w.
Para a América Latina: anual - USS 85; semestral USS 40. Se a assinatura for feita na Europa, en-
I v.ar para Coma Postal CCP: 778-46 S M Simões Villaschi ou M. Torres - Paris - France.
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sil que denuncia as injustiças que sofrem os povos Indígenas. A
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nia - fone 224-0815 - BELO HORI-
ZONTE
TRIBUNA LIVRE
Sob o frio de SP, à
sombra da ditaduraResposta a Emiliano José
"Na realidade, a Bolsa da Valores está pa*ra a produção assim como a Qarota da Ipane
ma para o Pedro Pedreiro: se este último nte
pegar no batente de sol a sol em Ste Paulo,
a primeira nte poderá bronzear se calma-
mente, nesse mesmo sol, nas praias do Rio".
(Paulo Sandroni. O Que é Recessão,
Brasiliense, pág. 14).
O artigo de Emiliano exige alguns comen-
tàrios, mesmo que telegráficos.
1. Cabe, de inicio, ressaltar o tom em ge-ral amistoso da resposta de Emiliano. Mas
surge logo uma pergunta: por que a entrevis-
ta náo adotou o mesmo tom? Ruy pede res-
peito aos 50 anos de vida artística talentosa
e sofrida de Grande Otelo. Ninguém põe is-
so em dúvida. Mas os 50 anos de militân-
cia revolucionária de Amazonas também nâo
merecem respeito? E nâo foram Emiliano e
Ruy que faltaram ao respeito tanto a Grande
Otelo quanto a Amazonas ao inventarem es-
sa comparação mal-intencionada entre um
humorista e um revolucionário?
Em sua resposta, Emiliano nâo diz uma pa-
lavra sobre essa e outras comparações. Tam-
bém nâo esclarece sua critica de que a es-
querda, em bloco, seria "autoritária". Em con
trapartida, acusa-me de estar querendo, com
esses comentários, bloquear "qualquer dis-
cussâo". Nâo estou pretendendo impedir
qualquer critica a pequenos, médios ou gran-
des revolucionários, mas apenas exigindo
que, entre revolucionários e oposicionistas,
as criticas sejam sérias e amigáveis. Quem
nâo procede assim, nâo tem o direito de es-
tranhar o tom das respostas que receber.
2. E tratando-se de revolucionários, Emilia-
no e Ruy me acusam de tentar "apropriar-
me" da memória deles, para usá-la como "es-
cudo" etc. As referências que fiz a Fuchik,
Danielli e outros revolucionários, decorreram
de uma necessidade precisa: na entrevista,
de forma genérica e simplificadora, Ruy ha-
via afirmado que os revolucionários, sobre
tudo os grandes revolucionários, sâo homens
sombrios, que não sabem sorrir, trepar etc.
Aliás, em sua resposta. Emiliano voüa a in-
sistir na pretensa existência de um "mo-
delo de revolucionário constantemente car-
rancudo" etc. Era preciso mostrar com ai-
guns exemplos que essa imagem simplista
nào tem fundamento e só ajuda a propagan-
da burguesa contra os revolucionários
Havia ainda outro motivo para as referên
ciais precisas que fiz. E que. em 1972, Daniel-
li e eu combinamos providenciar uma nova
edição da obra de Fuchik, "Testamento sob
a Forca", justamente para mostrar que, mes
mo em tempos sombrios como os do nazis-
mo ou do governo Mediei, os revolu-
cionários podem manter sua serenidade e
uma alegria militante.
3 Mas alegria militante não significa, ne-
cessariamente, prazer corporal. Emiliano per-
gunta de onde tirei a idéia de que "Ruy
pro-
pôs unir politica e prazer sob a cadeia e a tor-
tura". Tirei da entrevista quando Emiliano pe-
de que Ruy "fale
um pouco mais da relação
entre a politica e o prazer" e ele responde:"Fico
sempre com os dois". Pretender unir
sempre politica e prazer é lançar uma afir-
mação insensata ou renunciar a uma politicarevolucionária. Só numa perspectiva social-democrática, reformista, pode-se tentar as-
sociar sempre militância politica e prazer cor-
poral. E não preciso repetir o caso extre-
mo da tortura. No livro brilhante que Emilia-
no e Oldack escreveram sobre Lamarca, en-
contram-se outros exemplos das privaçõesafetivas e sexuais que podem ser impostas
aos revolucionários que não renunciem a
seus ideais
4. Agora eu é que não sei de onde Emilia-
no tirou a idéia de que não reconheço a im-
portância e a especificidade de movimentos
como os das mulheres, dos negros, dos in-
dios etc. Para ficar em exemplos facilmente
comprováveis, os companheiros de .Movi-
mento sabem que, em várias oportunidades,
propus ou apoiei matérias sobre esses te-
mas, desde que sérias e multilaterais. O pri-
meiro "Ensaio Popular" que escrevi, em
1975, foi sobre o problema feminino. E pro-
pus e pautei inicialmente a edição especial
de Movimento sobre a mulher apreendida pe-
la censura.
Também nâo alimento o menor preconcei-
to contra homens e mulheres que tenham pre-
ferèncias homossexuais. Mas justamente
por isso acho que se deve fazer a eles as mes-
mas exigências que aos demais, tanto nas
questões politicas e ideológicas gerais, quan
to nas relações entre sexo e compromisso
afetivo e político. Nâo se combate a discrimi
nação sexual refugiando-se em guetos ou
exigindo privilégios.
As nossas divergências se situam, por-
tanto, em outros pontos. Primeiro, não acho
que esses movimentos sejam essencialmen-
te novos. Segundo, entendo que a efetiva so-
lução desses problemas específicos está su-
bordinada à solução do conflito básico de
nossa época, entre o capital e o trabalho. Ter-
ceiro, pelos motivos expostos, julgo neces-
sário manter-se, tamt>ém nessas questões,
um firme ponto de vista de classe,proletário,
pensando-se basicamente do ângulo das
massas operárias e camponesas e nâo con-
fundindo as soluções burguesas e p»squeno--burguesas com as soluções efetivamente re-
volucionárias e proletárias. A esse respeito,
as referências de Emiliano à "moral
proletà-
ria" continuam ambíguas, pois não se trata
apenas de construir uma "nova" sociedade e
uma "nova" moral, mas uma sociedade e
uma moral socialista, proletárias.
5 Também não defendo nenhuma concep-
ção de etapas revolucionárias "estanques"
ou que seja necessário "esperar
pela chega-
da do socialismo para começar a lutar pe-lo lúdico, pelo prazer das massas" Em meu
primeiro artigo, afirmei justamente o contra-
rio: que em todas as etapas existem tarefas
políticas, econômicas, culturais: que se trata
de fases de um processo revolucionário ba-
sicamente o mesmo e proletário; e que, ain-
da sob a dominação burguesa, é possível e
necessário conquistar vitórias parciais, tanto
econômicas, quanto politicas, culturais, se-
xuais. Também não acho que nem a vanguar-
da, nem as massas "se
eduquem em três eta-
pas"; as etapas não se distinguem do ponto
de vista da educação e organização, mas das
tarefas a cumprir.
Nossas divergências, portanto, são outras.
Existem ou não etapas caracterizadas poruma tarefa central? Na presente etapa, a luta
pelo poder é ou não a tarefa central, à qualas outras estão subordinadas e devem ser-
vir? E sendo assim, enquanto essa tarefa não
for cumprida, é ou não verdade que as de-
mais vitórias sâo limitadas e instáveis?
Haveria ainda muito mais que comentar,
como as opiniões atuais de Emiliano sobre o
PC Brasileiro e a URSS, ou sua tese de que,
para combater o imperialismo norte-america-
no, é preciso apoiar-se no social-imperialis-
mo soviético. A esse respeito, aliás, seria in-
teressante confrontar nossos pontos de
vista para ver quem está sendo capaz de pen-
sar dialeticamente e apreender o novo e quem
está se deixando levar pela lógica formal do
senso comum. Mas o espaço se esgotou.
Saudações combativas (contra a ditadura,
sua "abertura sexual" e sua tentativa de uti-
lizar os equívocos da chamada "politica do
corpos para despolitizar segmentos impor-
tantes da intelectualidade progressista e da
juventude estudantil).
Duarte Pereira
22MOVIMENTO
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20 a 26/7 81
m**^%mnmumm*M^SMM^^*^*mmmmuuuummuu*uuuuwm
muito mais a ver com a arquitetura rio
que com a literatura propriamente dita.
Isto no aspecto formal. No aspecto te
mátieo. o simples abandono da lingua-
gem metafórica por uma linguagem ob-
jetiva, direta, já impõe um novo cami-
nho. Trata-se do problema de retratar o
nosso tempo de uma maneira perceptí
vei ao nosso tempo.
Movimento — Há aí uma influência
ela linguagem da imprensa, da televi-
são?Dias Gomes — Fm especial da tele-
visão.E evidente que os novos meios rie
comunicação impuseram um novo tipo
rie percepção ria realidade; o especta-
rior vem condicionado por uma nova
maneira de apreender o mundo e é claro
que nós temos que levar isso em conta,
se quisermos que o teatro sobreviva.
Movimento — Você acredita então
que. com "Campeões
do Mundo", supe-
rou a contradição, muito acirrada nos
anos 60, entre um teatro de tese, discursi-
vo, baseado quase que exclusivamente
na palavra, e um teatro experimental,
que se servia mais de recursos com a ex-
pressão corporal, a utilização do espaço
cênico etc?
Dias Gomes — Essa contraposição,
quando levada ao radicalismo, fica in-
teiramente furada, porque nem se pode
eliminar a palavra do palco, como cjue
riam alguns — porque a palavra e o
44 Há duas maneirasde combater o
sistema. De fora
para dentro, é
preciso armas.•i
'A mim tanto faz que o veículo seja
o teatro, pobreou rico, o cinema ou a televisão".
meio de expressão mais inteligente que
o homem criou até hoje — nem se pode
condenar o experimentalismo que bus-
que desenvolver a expressão corporal, o
aspecto visual do espetáculo.<J que predominou, nos anos 70. foi
um radicalismo dessa segunda forma.
Pretendeu-se banir a palavra do palco e
pretendeu-se fazer isso para se adaptar
ao regime, ao qual interessava, eviden-
temente, um teatro desse tipo. forma-
lista em sua essência, um teatro que
não questionasse coisa alguma, enfim,
um teatro que não incomodasse. Eu
não estou querendo dizer que as pes-
soas que se entregaram a esse tipo de
experiência estivessem a serviço do re-
gime ou fossem partidários do sistema.
Esse era o espaço que o sistema lhes
deixava e essas pessoas ocuparam esse
espaço. Não hà nenhum mal nisso; o
mal está em querer impor isso como um
dogma. De certo modo, "Campeões do
Mundo" é uma volta também à pala
vra. porque é uma peça-debate.
Movimento — __ como você vê as revi-
soes que vários artistas têm feito ulti-
mamente daquilo que produziram du-
rante os anos de maior repressão poli-
tica e que ficou conhecido como "cul
turu de resistência"? Eles parecem pro-
por agora uma arte menos engajada
politicamente.Dias Gomes— Fu não mudei; conti-
mio acreditando nas mesmas coisas que
acreditava. "Campeões do Mundo"
guarda, me parece, uma perfeita coe-
rência ideológica e temática com todo o
meu teatro anterior. Talvez haja ino-
vações formais, pela necessidade que
apontei de encontrar um novo caminho
ante novas condições, ante um novo
contexto social.
(Jue as pessoas se exorcisem. Mem
pra fora os seus demônios, laçam uma
revisão de sua atuação artística c poli-
tica. eu acho muito saudável e. dc certo
modo. também faço isso em "Cam-
peões do Mundo". Agora, não pretendo
cair na posição de negar tudo. rie achai
que os novos caminhos são o oposto rie
tudo o que se fez c de que a arte deve
adotar um total riescomprometimento
com a realidade.
Movimento— Numa outra entrevista,
publicada no jornal 0 Estado de S. Pau-
Io. você enfatizou que um dos méritos
de sua peça era o de apontar erros que
cometemos no passado, contribuindo,
dessa forma, para que eles sào voltem a
ser cometidos. Que erros foram esses?
Dias Gomes— A peça. apesar rie pre-tender ser um painel histórico, um mu-
ral dramático, rie rememorar fatos rie
nossa história recente, não é uma peçasobre o passado, mas sobre o presente.A pergunta que ela coloca é
"agora, o
que fazer?". Para isso. é preciso que a
gente saiba, pelo menos, o que não fa-
zer. já que é muito difícil apontar ca-
minhos e soluções e eu acho que esta
pão é a função do teatro. Teatro não
muda nada. nào transforma nada. ele
apenas pode levar o espectador à cons-
ciência ria necessidade de transformar
o mundo.
A peça focaliza a época ria luta ar-
macia, em que unia parte da esquerda
optou por esse caminho. Fala dc grupos
que se formaram, come* a ALN. o MR-8
a VAR-Palmares etc*, que tinham como
filosofia revolucionária a teoria do fo-
quismo. o foco guerrilheiro que. na
acepção riesses grupos, deveria levar o
pais a revolução. Esse lamentável equi-
voco conduziu o país a situações rira-
máticas que todos conhecem.
Movimento— Alguns militantes des-
sas organizações, que sobreviveram à
repressão do regime, fizeram denois
autocríticas em que reconhecem os er-
ros uue você aponta, mas argumentam
que cometeram esses erros na busca
de uma resposta revolucionária para
um erro anterior e maior, o do "reformis-
mo" do Partido Comunista Brasileira,
que teria sido, inclusive, parcialmenteresponsável pela derrota sofrida pelas
forças populares em 1964, na medida em
que alimentou ilusões que deixaram o
fetivo despreparado para resistir ao gol-
pe.
Dias Gomes— Essa pode ser uma ex-
plieação. Na verdade, o foquismo veio
ao Brasil de fora. Não se pode respon-
sabilizar o PC por isso. porque as teo-
rias de Régis Dcbray vieram ao Brasil
via Cuba. a partir rio congresso ria
OLAS (Organização Latino-Americana
rie Solidariedade), ao qual compareceu
Marighella.
No que diz respeito ao PC. é possível
que a teoria do foco tenha encontrado
terreno fácil de germinar onde o re-
formismo havia plantado uma protun-
ria insatisfação, uni imobilismo que ria-
va a sensação total rie impotência. Ele-
mentos como Marighella. por exemplo,
rie quem fui grande amigo, tiveram ate
um componente existencial, embora
nao fosse o fundamental, na sua opção
pela luta armada; o tempo que passava, a
idade que vinha e o Partido perdido em
riiscussões e testes que colocavam a re-
volução como uma coisa remota, para
os nossos netos. Mas essa explicação
vale apenas para os elementos que ra
cha ram dentro rio Partido e me pare-
ce que a grande maioria era constituída
por jovens, na faixa rios 20 anos. que4
nem haviam passado pelo Partido. Em•"Campeões rio Mundo", existem três
desses jovens, que. juntamente com um
demento mais velho, proveniente rio
PC. seqüestraram um embaixador.
Movimento — Na entrevista já citada.
você se referiu ao chamado "milagre
brasileiro" como uma quimera. Muitos
militantes ele esquerda fazem hoje uma
autocrítica desse ponto de vista, que,
segundo eles, os teria levado a suhes-
limar o eidversário. pois. ao atribuir o
milagre" a uma simples manobra pro-
pagandísiica. não avaliaram correta-
mente as mudanças que efetivamente
estavam ocorrendo no país e que per-
initiam ao regime militar sua base de
sustentação social.
Dias Gomes — Nós sempre subesti-
mamos muito. Em 1%4. por exemplo,
acreditava-se que o novo regime nao
duraria mais rio que alguns meses Não
se levou em conta que o inimigo havia
se preparado durante décadas. Se tor-
mos buscar funde* iu, raízes do golpe
dc b4. talvez tenhamos que recuar ale
mesmo ás revoluções rie 1922 e 1924. Se
fizermos também um levantamento rie
nomes, personagens, iremos encontra--
los já a partir rie I930, atuando no ce-
nário político nacional. Os generais de
M eram capitães e majores em 45. En-
Iim. o inimigo se preparou e se exer-
citou através rios anos. Isso tudo foi su-
bestimario.
44«0 foquismo veio
ao Brasil de
fora. Não se poderesponsabilizar o
PC por isso..."
Movimento — E o milagre?
Dias Gomes — Não houve o "mila-
gre". Houve uma mágica, que caiu por
terra quando a platéia descobriu como
c que o mágico fazia a mágica. Claro,
houve um desenvolvimento econômico.
mas a um preço que viria acarretar o
que hoje estamos pagando. A par de tu-
rio isso. procurou-se. através ria propa-
ganria. criar a imagem rie um país
grande, candidato a superpotência, que
absolutamente não correspondia á rea-
lidade. mas que servia sob mediria para
encobrir essa realidade, principalmentea realidade social, as atrocidades ás
custas rias quais o regime se mantinha.
Para isso. servia até a conquista rio tri-
campeonato rie futebol, embora, evi-
rientemente. os jogadores não tenham
nada a ver com isso. Mas. nada melhor
para vender o "milagre brasileiro" rio
que o campeonato mundial. E por isso
que eu faço. na peça. uma manipulação
histórica, fazendo coincidir o seqüestro
rio embaixador com o dia ria conquista
rio tricampeonato. Esse paradoxo serve
também para evidenciar, dramática-
mente, o isolamento dos seqüestradores
em relação ao próprio povo. Isto é. en-
quanto o povo comemorava nas ruas o
tricampeonato. um grupo jovem, tran-
cario numa casa. mantinha seqüestra-
rio um embaixador estrangeiro.
Movimento — Voltando um pouco á
sua visão de teatro. "Campeões
do
Mundo" pode ser caracterizada como
uma peça cara: eslá sendo encenada
por atores de primeira linha o própriocenário, embttra busque a funcumali-ilade e não t> luxo, certamente tião
custou barato. O que você pensa da
proposta, que iá chegou a ter muitos
defensores, de um "teatro
pobre"?
Dias Gomes — A gente só defende ex
teatro pobre quando não tem dinheiro.
Movimento — E a televisão? Você
int hulha na Rede Globo, escrevende,"O
Bem Amado", que aliás lem sido
um grande sucesso. Como vttcê encara
o fato de uma produção cultural que
pretendi' ser a nica em relação á reali-
dade estar sendo veiculada por uma•trande empresa capitalista comprome-
lida. ele certa forma, com a manuten
ção dessa mesma realidade?
Dias Gom'*s — Eu acho que. se o ar-
lista não é violentado nas suas idéias,
não constitui crime nenhum ele traba-
Ihar nesse ou naquele meio de divulga-
ção. seja ele pobre ou um vasto comple-
xo industrial. Eu sou um escritor; se
ninguém me diz o que eu devo escrever,
a mim tanto faz. que o veículo seja o
teatro, pobre ou rico. o cinema ou a te-
levisão.
Movimento — Mas isso não se deve a
você ser o Dias Gomes? Isto é. o fato de
você ser um escritor consagrado talvez
lhe dê uma liberdade de expressão de
que outros artistas menos famosos não
dispõem?
Dias Gomes — Sim. eu só posso falar
no meu caso pessoal. Se ninguém me
impõe mudar de idéia, se as idéias emi-
tidas são as minhas não há porque não
trabalhar na televisão. Eu acho até que.
quando se trabalha num terreno tido
como do sistema, se faz um trabalhe
politicamente positivo, porque se está
ocupando um espaço e minando o sis-
lema. Como você sabe. há duas ma-
neiras de combater o sistema, de tora
para dentro e de dentro rio próprio sis-
lema. De fora para dentro, é preciso
que você tenha armas...
Movimento — Em sentido figureidaou literal?
Dias Gomes — Em qualquer sentido
que você tome. Se você não tem essas
armas, só lhe resta uma solução: tomai
as armas do sistema c operar dentro rie-
le. f claro que o sistema não é bobo
nãe* vai deixar vckc* usar essas armas li-
vremente. ou pelo menos na mediria
que você desejaria.
Movimento— O Bem Amado" tem
sofrido algum tipo de restrição por par-ie da emissora?
Dias Gomes — Por parle da emissora
não. ele tem sido muito cortado pelaCensura Federal. E uma censura poli-liea. não moral, como o governo querlazer crer.
Movimento — Esse recrudescimento
da censura atingiu também os "Cam-
peões do Mundo"?
Dias Gomes — Quando a peça já es
lava em seu quinto mês rie exibição, no
Rio cie Janeiro, a censura impôs dois
cortes. Foi. aliás, o primeiro sintoma
desse recrudescimento. Agora, deve ter
entrado no Conselho Federal de Censu-
ra um oficio meu pedindo a liberação
riesses dois trechos. Pode ser que a si-
tuação melhore, que pare por aí. ou que
feche ainda mais. Isso ninguém pode
prever. Tudo depende do contexto poli*
tico, das bombas e dos IPMs.
23
MOVIMENTO - 20 a 26/7/8118 :.*--.;¦_ ot/:_mi/om
^^^^ mmmmmmmtmlmz:ÊMmm
FNTREVISTA COMO AUTOR DE"CAMPEÕES
DO MUNDO".Foi / limo pegar em armas contra a
ditadura militar, como ocorreu a partii
do fina los anos ô<>'' Havia, na época,
a possibilidade de se fazer uma oposi-
çâo coiitcqucntc M regime por outros
caminhos? A luta armada ajudou ou
atrapalhou o povo brasileiro em seu
processo de tomada de consciência po-
lítica c ile organização? Num momento
em que vários militantes de esquerda,
sobreviventes daquele período, avaliam
publicamente sua atuação revolucio-
uária nesse pa.ssado recente, Duts Go-
Mes leva ao palco estas perguntas.
Campeões do Mundo", concebida co-
mo um mural dramático sobre os 15
anos de história brasileira eompreen-
d idos entre 1963 e 1979, estreou na se-
• nana passada em São Paulo, no Teatro
Brigadeiro, depois de cinco meses de
sucesso no Rio de Janeiro.
Dentro de um cenano neutro e fun-
ional. que permite ifue várias açòes
ocorram simultaneamente, as cenas se
sucedem ou sc justapõem sem cronolo-
gia linear, aliei liando diálogos realistas
e construções alegóricas, momentos in*
tintos c movimentações de massa, o
presente c diferentes .amadas do pas-¦ado. uconsdiuídas em llash-back.
sJessa linguagem fragmentada, con-
lemporãnea. Dias Comes constrói um
quadro multilateral desses anos terri-
veis. em que o cerceamento de várias
possibilidades legais dc ação politica. a
tortura v o assassinato conviveram com
a idéia de uni "milagre
brasileiro e
com a euforia provocada pela conquista
da trutimpeonato mundial de futebol,
habilmente capitalizada pelo regime
O centro de gravidade da peça situa-
se em 1970, no auge do governo Mediei,
quando, por meio dc um recurso dra-
mático. Dias Gomes faz coindidir o
momento do seqüestro do embaixador
americano por um grupo engajado na
lata armada com a momento da vitória
definitiva da seleção brasileira de fu-
tebol nos campos do México.
Movimenta mviu Dias Gomes sobre
os "Ciimpcòes
do Mundo" c aqui estão
suas idéias para os interessados no de-
bate.
\1o\iineillo Conto f;io processo de
,,. ,.,, ,/o •(
, n/H-in s ilo Mundo'?
Dias Gomes — "( au peões do Mun-
" nasceu d necessidade pess» a! c\c
. ,/c - prop. uma rcflcsüo sobre as
!i,,r. in<as décadas de nossa história.
"Campeões do Mundoé a bi?sca de umanova linguagem
para un novo tempo.Sem metáforas".
foi escrita eu lc>~v>. n as já estava na
minha cabeça, conto proposta, dois ou
três ai'i s aui" - In a*, luiva. porem, quenão adiantava escreve la porque a cen-
sina não por itiria que ela fosse levada
acena In W"*9. eon a mal-chan ada'abertura",
percebi que era o mon ent o
ile \'e/i Ia.
A peça se bii »cia en pesquisas, en de-
\%\'w entos que eu recolhi. A maior par-le dos livros de n eu irias sobre aquele
período loi | ublicada depois, n as cu li
IHtli o que podia ler a respeito na
imprensa, en |0~u | vidcnlcn ente. há
uoi hén uu a contribuição dc n ii I a is
lória políiic./. de .Wanmdc n ilitância.
Apesar diss. 'Can
peites úo Mundo"
nâo c um ile| imento pessoal. I ii procm- ¦ < c colocai dc lora e propoi m ;i
discussão. Na« pretendo dar un uva-
di . p as dãl a-. cspecLulor coudiçi'cs de
Dias Gomes
põe pra foraseus demônios
A crítica ao
esquerdismo e ao
teatro formalista,submisso.
1 José Tadeu Arantes
m\We^ ™ BpSFUf''-f W^H BBMBÍmM
BWmBBmMí:* 'm WMW^
II vil PwK '
li H I . I : HPfWMm^' bI^H^I PI ^m
__\ MS^^^Msr^^MM Mm $* * _M _Wtv- ;W_\
W^*^^ emHp\_J_Wámvm*e m ——— ——
^B Bi mm ^M
_M_*_f_i__*M*c AtM __\
W ^mSÊÊtÊmjM ItW WÊ mWFíWk ^B B^
Sr "K*>W *WM ^^^Bm\ _w
9
-^^ A-^**~~
****' ' *Êm\**A
Dias
avaliar, de julgar, se possível, e che.uar
ás suas próprias conclusões.
I' claro quc o autor nunca pode ser to-
lahl ente isento, i evidenle que eu te-
nho uma visão de mundo e que.mesmo
que eu não queira, esta visão do mundo
acaba transparecendo em minha obra.
Entretanto, há uma preocupação de eli-
minar totalmente 0 nianiqueísmo, de
não transformar está página de nossa
história recente numa luta entre bons e
|i íuis. anjos e demônios.
Movimento — Como a peça se situa
¦rente às várias tendências da drama-
m fia brasilei ra?
Dias Gomes A peça pode ser vista
ei it n lin a retomada dc caminhos proi-
I* un a retomada m> sentido de
questionar a realidade brasileira, que
ei a o veio central da dramaturgia sur-
i;ida nos anos 50. M). Mas. ent outro
sentido, ela é a busca de uma nova lin-
lÜtagCU' para um novo tempo. Nós pas-
sao os 15 anos sob a ditadura, escre-
tendo con n et aforas, quc era a única
•< aneúa de conseguir dar um depoi-
p cnio. transmitiu um discurso sem que
Hc fosse proibido pela censura: nos ex-
pressan os lauto através de metáforas
que isso quase eUegoü a sei uma dclór-
p ;içào (|;i linguagem teatral. "Cam-
Mundo" é una peça sem na-
oras. Daí surge o problema de en-
u nirar uu a nova lingnagCm. de achar
iip iu vc cau inho. Não acredito que es-
le seja o único can inho. m.is. pelo me-
pt s, e im a proposta.
Itastean cme. no aspecto formal, a
peça pr» cura evidenciar a poesia da
c» nsiiuçàn dran ática. cir detrimento•< cvS.i literária tradicional, que ad-
d< s diúloui s. I ii acredito que a
I im;i i\,i ei iistiiição dramática é a
1.1 sui incente ao teatro. A poesia li-
ieiária é uu eu prestiiro tomado á li.e-
i;Oina Sen pie achei que o teatro lem
Continua na página 23
r/iuai^i^yiiâíWi'!1!1'1''1*!'
(Àomes: a retomada de caminhos proibidos¦,1._w,.,.,,,.,
\v>PnY^káv(- ¦ —, ¦¦ . ¦ <¦' ¦ >'."•* ——- —rui,,!,»,!,,., tV ¦¦¦
bmbmhm