MITOS E VERDADES NO USO DE PLANTAS MEDICINAIS · obras sobre medicina e plantas medicinais e...

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MITOS E VERDADES NO USO DE PLANTAS MEDICINAIS

EM UMA COMUNIDADE ESCOLAR

Isolde Teresa Hansel1

Marcos Augusto Moraes Arcoverde2

RESUMO

Este artigo apresenta os resultados do estudo realizado durante o desenvolvimento do projeto de intervenção pedagógica do PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná, levado à prática no Colégio Estadual Marechal Arthur da Costa e Silva – Ensino Fundamental e Médio, localizado no município de Medianeira, PR. A intenção foi ampliar as discussões sobre o uso de plantas medicinais pela comunidade escolar, confrontando as visões científica e popular sobre o uso de substâncias consideradas de efeito farmacológico. Para tanto foi selecionada um turma de 8º ano do Ensino Fundamental para investigar o uso terapêutico de plantas medicinais tanto pelos alunos quanto por seus familiares. A partir das informações levantadas os estudantes organizaram os dados, confeccionaram exsicata com plantas medicinais mais utilizadas e discutiram o que é mito e o que é verdade no que se refere ao uso de plantas medicinais.

Palavras chaves: fitoterápicos, cultura popular, ciência

INTRODUÇÃO

O PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná

abre oportunidade de aperfeiçoamento e reflexão por meio do retorno dos

professores da Rede Estadual de Ensino às IES (Instituição de Ensino Superior) o

que contribui para que a pesquisa educacional aproxime-me mais da realidade do

professor, da escola e da sala de aula. Como parte deste processo inicialmente foi

elaborado um projeto de intervenção pedagógica no Colégio Estadual Marechal

Arthur da Costa e Silva – Ensino Fundamental e Médio, localizado no município de

Medianeira, PR. Esse Projeto foi implantando no período de fevereiro a julho de

2013 e trouxe à discussão do uso de plantas medicinais na escola e na comunidade

1 Professora da Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná, Medianeira, Paraná

2 Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campos Foz do Iguaçu, Paraná

escolar, confrontando as discussões entre as visões científica e popular sobre o uso

de substâncias consideradas de efeito farmacológico.

A seguir apresentaremos as considerações sobre os resultados desta

intervenção pedagógica, que possibilitou o desenvolvimento de um estudo no âmbito

escolar sobre o uso de plantas medicinais ampliando a reflexão e divulgação do uso

orientado deste tipo de produto, pois entre tantos saberes que circulam a escola os

conhecimentos sobre as plantas medicinais merece destaque, pois pela falta de

subsídios e pela carga de conhecimento popular este assunto ainda está entre os

que recebem maior apreciação negativa. Isso decorre por vários fatores de ordem

cultural, ideológica e social. Cabe a escola, portanto, buscar incluir o conhecimento

popular de forma que o mesmo esteja integrado com o currículo formal.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Pensar a escola como um meio transformador exige dos educadores uma

postura de enfrentamento da realidade na busca de encontrar nesta realidade

elementos significativos para que a escola tenha importância perante seus alunos e

comunidade escolar.

Segundo Paro (2010) os métodos e procedimentos do ensino na escola

básica pública devem envolver um contexto que articule diversos segmentos,

Os método e procedimentos do ensino precisam pautar-se nas contribuições científicas da Psicologia, da Biologia, da Antropologia, da Sociologia, das ciências humanas de modo geral e em todo conhecimento produzido sobre como se dá o desenvolvimento do homem em termos biopsíquicos e sociais desde o momento em que nasce até a maturidade. (PARO, 2010, p. 30)

Ao admitir a possibilidade de construir estratégias para que a escola envolva

de fato a vida de seus alunos e as pessoas da comunidade que estão com ela

intimamente ligadas, este projeto, segue numa perspectiva histórico-crítica, com uma

postura que envolve as orientações de Gaparin (2011),

Esta postura implica trabalhar os conteúdos de forma contextualizada em todas as áreas do conhecimento humano. Isso possibilita evidenciar aos alunos que os conteúdos são sempre uma produção histórica de como os homens conduzem sua vida nas relações sociais de trabalho em cada modo de produção. Consequentemente, os conteúdos reúnem dimensões conceituais, científicas, históricas, econômicas, ideológicas, políticas,

culturais, educacionais que devem ser explicitadas e apreendidas no processo ensino-aprendizagem. (GASPARIN, 2011, p. 2)

Ainda segundo Gasparin (2011, p. 3) “este fazer pedagógico é uma forma que

permite compreender os conhecimentos em suas múltiplas faces dentro do todo

social”. A partir deste contexto podemos trazer para a realidade da escola temas que

fazem parte de seu cotidiano e que por fatores diversos acabam sendo

negligenciados pela rotina diária. Um destes temas é, sem sombra de dúvidas, a

abordagem do ensino de ciências no ensino fundamental a partir das discussões

sobre o uso de plantas medicinais, uma vez que já fora constatado que o uso de

plantas para tratamento de doenças é uma tradição milenar.

Carvalho (2004) considera que, por planta medicinal, pode-se considerar toda

planta, que administrada sob qualquer forma e por alguma via ao home ou animal,

exerce algum tipo de ação farmacológica sobre este.

Ainda de acordo com Carvalho (2004),

O uso da flora no tratamento de diversas enfermidades é conhecido desde a mais remota antiguidade. Na origem da história, quando, pouco a pouco, o saber popular emerge das trevas, a utilização de vegetais, como forma de curar ou evitar doenças, passa a ser objeto de interesse. As mais antigas obras sobre medicina e plantas medicinais e plantas medicinais surgiram na China e no Egito (CARVALHO, 2004, p. 14).

Da mesma forma Eldin e Dunford (2001), comentam a respeito da tradição do

uso de plantas medicinais,

Todas as antigas civilizações têm suas próprias referências históricas às plantas medicinais. Nos documentos mais antigos, a fitoterapia está ligada à magia e é vista muitas vezes como “um presente dos deuses”, que permite aos seres humanos vencer os maléficos da Terra. (EDIN E DUNFORD, 2001, p. 07)

No Brasil, há menção do uso de plantas medicinais bem antes do

descobrimento pelos europeus. Segundo Duniau (2003) todos os historiadores

afirmam que havia poucas doenças entre os índios do Brasil na época do

descobrimento. As inúmeras cartas escritas pelos jesuítas relatam que os índios

eram bastante saudáveis. Para Carvalho (2004) há no Brasil um verdadeiro império

vegetal, no qual existe cera de 120 mil espécies de plantas superiores, e vários

vegetais já tiveram importante papel, sendo utilizados pelos indígenas, como

remédio para seus males ou como veneno e contra veneno em suas guerras e

caçadas.

As plantas também sempre fizeram parte da vida dos africanos,

especialmente em rituais de Candomblé. De acordo com Duniau (2003),

Os vegetais fazem parte de todos os rituais do culto, de todas as cerimônias, de todos os processos de iniciação e de todos os tratamentos. O reino vegetal pertence a Òsányin (Ossaim), orixá da mata, senhor das ervas e dos remédios. (DUNIAU, 2003, p. 49)

Segundo Carvalho (2004), Hipócrates (460-361 a.C.), considerado o pai da

medicina, é quem traçou bases teóricas que nos ajudam a compreender melhor o

uso de plantas medicinais.

Hipócrates anunciou dois axiomas que aceitaram como fundamentais na arte de curar. O primeiro especificava natura medicatriz interpres et menister (o organismo cura a doença, o médico não é mais do que o seu intérprete, auxiliando-o). O segundo refere-se à aplicação dos medicamentos e era expresso por duas leis: imila similibus curantur (semelhante cura semelhante) e contraria contradis curantur (contrário leva a cura). Dessas duas leis nasceram dois sistemas terapêuticos: homeopatia e alopatia (CARVALHO, 2004, p. 13).

Ao complementar as informações sobre homeopatia e alopatia, Carvalho

(2004) afirma que,

Homeopatia é um sistema de tratamento de doenças por meio de medicamentos capazes de produzir, em indivíduos sadios, sintomas semelhantes aos da doença que está sendo tratada e, alopata é um outro sistema da medicina que combate às doenças por meios contrários a elas, procurando combate as causas. Os medicamentos empregados nestes dois sistemas recebem, respectivamente, o nome de homeopáticos e alopáticos. (Carvalho, 2004, p. 13)

Eldin e Dunford (2001) aprofundam a importância de Hipócrates, afirmando

que coube a ele dar, naquela época, um caráter individual do uso das plantas

medicinais para cada paciente. Segundo esses autores Hipócrates,

Concebeu um regime de tratamento à base de plantas medicinais, usando um total de 400 espécies. Além dos remédios de plantas medicinais, empregava exercícios e dietas especiais, cada uma adaptando-se aos sintomas particulares do paciente, o que era conhecido como seu conceito de physis. Essa abordagem individual é a marca registrada da fitoterapia atual. (Eldin e Dunford (2001, p. 8)

A fitoterapia, portanto, é a terapêutica caracterizada pelo uso de plantas

medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas. A palavra Fitoterapia une dois

radicais gregos: “phyton”, que significa planta, e “therapia”, tratamento. (BRASIL,

2006). Carvalho (2004, p. 14) define a “fitoterapia como sendo um ramo da ciência

médica alopata que utiliza plantas, drogas vegetais e preparados, delas obtidos,

para o tratamento de enfermidades”. Para Eldin e Dunford (2001, p. 01), fitoterapia

pode ser definida como “o estudo e a aplicação dos efeitos terapêuticos de drogas

vegetais e derivados dentro de um contexto holístico”.

Já Franceschini Filho (2004) considera que,

De todos os métodos da medicina natural, a fitoterapia é, sem dúvida, o mais antigo. Desde que começaram a aparecer as doenças os homens trataram de combatê-las como melhor sabiam, e a natureza foi o primeiro remédio e a primeira farmácia a que o homem recorreu. (FRANCESCHINI FILHO, p. 13)

Já Duniau (2003), destaca que

A vulgarização do uso de plantas medicinais indígenas se intensificou durante a colonização portuguesa e gerou no século XVIII intenso e lucrativo comércio entre Brasil e Portugal, transformando-se num dos alicerces da fitoterapia popular atual. (DUNIAU, 2003, p. 35)

Como vimos, mesmo que em certos momentos históricos tenha havido mais

ou menos prestígio, o uso dos fitoterápicos continua a vigorar. Para Eldin e Dunford

(2001) a fitoterapia é tão antiga quanto à história da humanidade, com a

documentação muito bem estudada, independente do contexto, é importante

conhecer os conceitos que envolvem o seu uso. Carvalho (2004) elencou conceitos

e definições importantes que nos ajuda no estudo da fitoterapia,

Planta medicinal é a planta selecionada e utilizada popularmente como remédio no tratamento de doenças. Produto fitoterápico é todo medicamento tecnicamente obtido e elaborado, empregando-se exclusivamente matérias-primas vegetais com finalidade profilática, curativa ou para fins de diagnóstico, como benefício para o usuário. É o produto final acabado, embalado e rotulado. Matéria-prima vegetal é a planta fresca, ou droga vegetal ou preparado fitoterápico intermediário empregado na fabricação de produto fitoterápico. Preparado fitoterápico intermediário é o produto vegetal obtido de plantas frescas e de drogas vegetais e utilizado na preparação do produto fitoterápico. Princípio ativo é uma substância ou um grupo delas, quimicamente caracterizadas, cuja ação farmacológica é conhecida e responsável, total ou parcialmente, pelos efeitos terapêuticos do produto fitoterápico. Fámaco é uma substância química, droga, insumo farmacêutico ou matéria prima empregada para modifica ou explorar sistemas fisiológicos dos estados patológicos em benefício da pessoa à qual se administra (apud FARM. BRAS. IV, 1988) e produto natural é toda e qualquer substância produzida pelo vegetal durante o seu metabolismo secundário. (Carvalho, 2004, p. 15-16)

Houve, portanto, nos últimos anos uma organização dos conceitos de forma

que “o conjunto de dados a respeito das plantas foi sendo passado por diversas

gerações e melhorando cada vez mais através da incorporação de novas ervas e

técnicas de utilização” (FRANCESCHINI FILHO, 2003, p. 13).

Carvalho (2004) lembra que mesmo com a rica tradição, sobretudo a partir

dos conhecimentos dos indígenas e afro-brasileiros, as plantas medicinais perderam

a importância e passaram a ser utilizadas somente como terapia alternativa no

Brasil. O autor propõe que aprendamos a reconhecer a fitoterapia como alternativa

viável,

No estágio atual da farmacologia não cabe substituir pelas plantas medicinais, os remédios eficientes de que se dispõem para o tratamento de muitas doenças. Mas deve-se reconhecer que, em número nada desprezível de casos, a fitoterapia tem vantagens inegáveis e, em outros, pode ser uma terapia alternativa e/ou complementar. Tem-se que reconhecer, também, que um dos aspectos particularmente interessante da pesquisa fundamental (no campo da farmacologia e da química das plantas medicinais) é o lapso relativamente curto que separa esta pesquisa de base da aplicação prática, economizando custos. (CARVALHO, 2004, p. 15)

Da mesma forma Franceschini Filho (2003) aponta a importância do uso dos

fitoterápicos,

Com o alto custo dos remédios e a baixa condição de vida de 80% da população mundial, as plantas terapêuticas voltaram a ser um importante aliado nos tratamentos de saúde. A Organização Mundial de Saúde, reconhecendo essa realidade lançou em 1972, um incentivo à chamada Medicina Tradicional, em que a Fitoterapia é uma das práticas mais importantes. (FRANCESCHINI FILHO, 2003, p. 14).

Ao citar também a Organização Mundial da Saúde, Carvalho (2004) comenta

o alto índice do uso da medicina tradicional e aponta que em muitos casos a melhor

opção seria a “droga vegetal”,

É estimada pela Organização Mundial de Saúde que aproximadamente 88% da população de países em desenvolvimento fazem uso da medicina tradicional, principalmente extratos de plantas, como primeira opção. A droga vegetal é um produto muito melhor tolerado pelo organismo do que as substâncias sintéticas, muito mais econômico, podendo beneficiar um número bem maior de pacientes. (CARVALHO, 2004, p. 41).

Duniau (2003) também confirma os benefícios da medicina popular. Segundo

a autora em muitos casos, a ciência moderna vem comprovando as virtudes

“mágico-curativas” do passado. “Parece que os antigos possuíam, de fato, sérios

conhecimentos a respeito das propriedades terapêuticas das ervas-remédio que

utilizavam” (DUNIAU, 2003, p. 21).

Ainda de acordo com Duniau (2003)

Medicina convencional e medicina popular se entrelaçam em muitos momentos, excluem mutuamente em certos casos e, em outros, tudo indica que coabitam de forma relativamente pacífica. (...) Apesar destes ingredientes nem sempre estarem misturados, o resultado desta poção mágica parece adequar-se às necessidades da população, caracterizada pela mestiçagem racial e cultura, nem sempre assumida, mas que permeia o inconsciente coletivo do povo na vida cotidiana e, portanto, também na busca pela saúde. (DUNIAU, 2003, p. 21).

Esta característica pluricultural da sociedade brasileira favorece a

disseminação de conceitos hábitos e costumes. O uso das plantas medicinais

avançou muito em decorrência dessa caracterização eclética e da facilidade de

encontrarmos as plantas, bem como pelo misticismo que envolve cura e religião.

Segundo Duniau (2003)

As plantas são geralmente utilizadas em forma de chá, com a planta fresca e inteira – o que diminui em muito a sua toxicidade – ou em garrafada, aparentemente uma criação brasileira. A garrafada é uma associação de várias plantas com produtos animais ou mineiras, imersos em aguardente ou vinho branco, que fica enterrada por algum tempo antes de estar pronta para o uso. (DUNIAU, p. 54).

É importante ressaltar que é exatamente pelo grande número de

possibilidades de uso e pela crença no poder de profilaxia e cura das plantas que há

um crescimento significativo na aplicação de fitoterápicos. Duniau (2003), comenta

que,

Em cada esquina há uma loja de “produtos naturais”, com prateleiras repletas de cápsulas e tinturas de plantas medicinais, algumas conhecidas e de eficácia comprovada, outras apresentadas como as “últimas novidades”. E tudo isso evolui em surtos de modismos, sendo que alguns medicamentos ficam e outros passam.(...) O “chazinho da vovó”, que não fazia mal – ao contrário – pois era usado com parcimônia, pode hoje, infelizmente, tornar-se fonte de sérios problemas iatrogênicos, na medida em que foi “industrializado” e passou a ser oferecido ao consumo sem critério nem discriminação. (...) Partindo do princípio do “chazinho” que “se não fizer bem, mal não vai fazer”, parte da população que tem por tradição se automedicar, devora toneladas de produtos, cuja procedência, manipulação, interações medicamentosas e contraindicações, desconhecem totalmente. E isto acontece com a cumplicidade da indústria farmacêutica que, embora tenha a obrigação ética de informar, nem sempre o faz, certamente porque a compulsão do consumo é uma fonte de lucro que se quer preservar a qualquer custo, inclusive o da saúde. (DUNIAU, 2003, p. 57).

Se a escola busca possibilidades para que haja uma leitura crítica da

realidade, o trabalho a partir das reflexões sobre o uso de plantas medicinais pode

ser significativo, pois parte de um tema específico para chegarmos a uma realidade

global, que é a busca pela melhoria da qualidade de vida. Gasparin (2011, p. 06),

que é tarefa da escola “possibilitar aos educandos a compreensão da essência dos

conteúdos a serem estudados, a fim de que sejam estabelecidas as ligações

internas específicas desses conteúdos com a realidade global, com a totalidade da

pratica social e histórica”. Dessa forma acreditamos que a prática proposta por este

projeto ganha maior vigor quando interligamos aspectos teóricos com a vida do

aluno.

METODOLOGIA

Este ensaio teórico é oriundo de um projeto de implementação, o qual foi

colocado em prática no primeiro semestre de 2013, quando houve momento de

sensibilização da comunidade escolar com apresentação do projeto para

professores, funcionários e direção do colégio. Este momento foi organizado durante

a Semana Pedagógica realizada no início do ano letivo.

Em seguida, o projeto foi apresentado aos estudantes, de forma geral e, em

especial, com um maior número de detalhes para a turma selecionada como público

alvo para a implementação do projeto. Este público foi formado por uma turma de 8º

ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Marechal Arthur da Costa e Silva –

Ensino Fundamental e Médio, Medianeira, PR.

A atividade seguinte contemplou uma exposição oral sobre o projeto e seu

tema permitindo a aproximação dos participantes com o assunto. Após essa

exposição, os estudantes responderam um questionário com perguntas abertas e

fechadas a respeito do uso de fitoterápicos (Questionário 1). Em seguida, os

estudantes receberam um novo questionário para ser respondido com os familiares

e devolvido em data futura marcada para o segundo encontro (Questionário 2).

No segundo encontro, os estudantes apresentaram o que responderam no

questionário 2 com a ajuda de seus familiares e ao final também foram recolhidos

para tabulação. Com as informações coletadas dos questionários respondidos pelos

alunos e por membros da comunidade houve possibilidade de elaborar um

diagnóstico sobre o uso de plantas medicinais na comunidade escolar, que embora

seja uma amostragem pequena, pode representar de forma geral qual a atitude das

pessoas em relação ao uso deste tipo de substância.

A partir das informações obtidas, os alunos, com orientação docente, fizeram

a manipulação dos dados construindo gráficos para uma melhor visualização dos

dados. Este trabalho foi realizado no laboratório de informática e contou com a

colaboração de professores de Matemática e Arte, compreendendo um trabalho

multidisciplinar.

Paralelamente a realização desta etapa de tratamento dos dados, os

estudantes receberam informações sobre o uso de plantas medicinais por meio de

palestras e também sobre como se procede à construção de uma exsicata3. A

palestra teve como tema uma rápida apresentação de diversas plantas medicinais,

suas propriedades, utilidades, como preparar os chás, como conservá-las e até

como plantá-las. Após a palestra foram servidos alguns chás (preparados pelas

cozinheiras do Colégio utilizando plantas pesquisadas pelos próprios alunos durante

o projeto).

Complementando as informações discutidas na escola, os estudantes

realizaram visita ao Centro Yanten4, onde observaram in loco como é realizado o

plantio e cultivo de dezenas de espécies de plantas medicinais.

O Projeto contemplou também a elaboração de painel para divulgação das

principais plantas medicinais pesquisadas pelos alunos, reunidas em forma de

exsicatas que ficaram a disposição para observação de toda comunidade escolar.

A visita ao Centro Yanten e a pesquisa informal possibilitaram que os

estudantes conhecessem pessoas e entidades na cidade de Medianeira que

trabalham profissionalmente com a cultura, manipulação, ou uso de plantas

medicinais.

Como resultado desta atividade, os estudantes passaram a divulgar

informações sobre o uso correto de plantas medicinais, além de conhecer as

principais vantagens de se usar plantas medicinais, quais as maneiras corretas de

uso, bem como em que condições estas plantas podem provocar algum dano à

saúde.

3 Exsicata é amostra de planta prensada seca fixada em uma cartolina ou papel resistente

acompanhadas de uma etiqueta ou rótulo contendo informações sobre o vegetal e o local de coleta, para fins de estudo botânico. 4 O Centro Popular de Saúde Yanten, localizado em Medianeira – PR, surgiu na década de 1980, época de ascensão das Comunidades Eclesiais de Base, Movimentos Sociais, Clubes de Mães e Movimento Popular de Mulheres do Paraná. O nome “Yanten” faz uma referência às comunidades indígenas, pelo uso tradicional e milenar das plantas medicinais para a saúde dos seus povos e também numa visão holística.

Complementando as atividades, houve a apresentação aos estudantes, de

uma amostra da planta “Ginkgo biloba”, cujo exemplar foi a primeira manifestação de

vida após a bomba atômica de Hiroshima na região afetada. De acordo com a

palestrante, profissional que desenvolve atividades junto ao laboratório que manipula

plantas medicinais no município de Medianeira, esta planta é considerada sagrada

no Japão.

Esta última atividade culminou com o fechamento do projeto. Para tanto foi

organizado um dia de atividades envolvendo toda a comunidade escolar, inclusive

os pais dos estudantes envolvidos. Na oportunidade, os estudantes apresentaram

informações sobre plantas medicinais para os colegas da escola e também para os

pais. Além disso, houve exposição de cartazes e materiais produzidos durante todo

o projeto. Para concluir, houve um coquetel de confraternização com chás

preparados pelas cozinheiras da escola com a utilização de plantas medicinais e

pratos típicos da região como bolos, bolachas, doces e salgados que utilizam em

sua receita alguma planta medicinal. Foi uma forma de envolvimento com a

comunidade escolar e uma possibilidade de demonstrar aos estudantes o alcance

de seu trabalho teórico, que foi estendido para além dos muros da escola,

integrando escola, família e comunidade.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Ao realizar um levantamento sobre o conhecimento e uso das plantas

medicinais pelos estudantes e seus familiares, foi possível apontar alguns dados

importantes sobre o uso das plantas medicinais por uma comunidade escolar. É de

se considerar que cada comunidade ou região tem suas especificidades em relação

ao conhecimento, manipulação e uso de fitoterápicos, mas, de forma geral, a

pesquisa abre espaço para duas reflexões importantes. Primeiramente, os

estudantes e seus familiares, de fato, utilizam plantas medicinais com frequência,

mas desconhecem suas reais propriedades; segundo, os estudantes se interessam

mais pela aprendizagem quando as atividades estão relacionadas diretamente ao

seu cotidiano. Nesse sentido, podemos afirmar que a atividade foi muito importante

para aprofundar o processo de ensino aprendizagem da disciplina de Ciências.

Na comunidade trabalhada, os resultados apontaram que 100% dos

estudantes ou familiares conhecem plantas medicinais e que 65% possuem em casa

alguma planta medicinal na horta ou no jardim. Entre os pesquisados cerca de 93%

afirmaram que utilizam as plantas medicinais em forma de chás por infusão e

apenas 7% utilizam por meio de compressas. Ao responderem a questão sobre para

quais fins a família utiliza as plantas medicinais, mais da metade dos participantes

informaram que as usam para dores de cabeça (33%) e gripe (25%). A outra metade

dos entrevistados usam as plantas para combater febre (15%), vômito (10%),

diarreia (7%), cólicas (5%) e ferimentos (5%).

GRÁFICO 1 – PORCENTAGEM DO USO DAS PLANTAS MEDICINAIS PELAS FAMÍLIAS PESQUISADAS

0

5

10

15

20

25

30

35

Fonte: Questionário aplicado aos estudantes e familiares

33%

25%

15%

10%

7%5% 5%

Dor de cabeça

Gripe

Febre

Vômito

Ferimentos

Diarréia

Cólicas

Quando perguntados se conheciam alguma contra indicações das plantas

medicinais por eles utilizadas, cerca de 88% responderam que não e que

geralmente utilizam as plantas medicinais com fins terapêuticos com variações

distintas, ou seja, uma mesma planta medicinal é utilizada para vários sintomas ou

problemas de saúde.

GRÁFICO 2 – PORCENTAGEM DA FREQUÊNCIA DE USO DAS PLANTAS

MEDICINAIS PELAS FAMÍLIAS

Ao analisar as informações depois de responderem perguntas semelhantes a

seus familiares, os estudantes perceberam que mesmo diante de tanta

modernidade, as pessoas, de forma geral continuam repetindo tradições milenares e

fazem uso de plantas medicinais. Diante desta constatação houve espaço para

reflexão sobre como a sociedade encara o que é novo e o que é velho, o que é

moderno e o que é antigo.

Em síntese, o levantamento das informações constantes nos questionários e

na discussão com os estudantes, apontam os principais elementos sobre o uso das

plantas medicinais no ambiente familiar, o que proporcionou a discussão e

construção de gráficos para uma melhor visualização das informações e construção

de conhecimento e habilidade por partes dos estudantes que puderam trabalhar

essas informações de outra forma, ou seja, com o olhar da matemática e da

informática.

Nesse momento, para a realização dos gráficos com os alunos, o trabalho foi

realizado no laboratório de informática e contou com a colaboração de professores

de outras disciplinas, como Arte e Matemática, possibilitando um trabalho

multidisciplinar. A exposição dos resultados demonstrou que, mais do que possa

parecer, as pessoas recorrem ao uso de plantas medicinais em muitos momentos de

sua vida e esta prática é uma postura cultural que passa de geração em geração,

mas que com o avanço da medicina e da indústria farmacêutica, tem perdido espaço

para os medicamentos industrializados.

Segundo Spethamann (2004, p. 17), “com o apoio de médicos e cientistas, o

tratamento à base de plantas medicinais, alcançaram importantes vitórias sobre as

doenças modernas”. Para o autor o homem vive cercado de remédios naturais e não

sabe. Ele diz que a natureza riquíssima de plantas medicinais sempre proporcionou

oportunidade para fazer suas experiências, e estas se perpetuaram através da

tradição oral até o nosso tempo.

Portanto, se, de fato, queremos uma escola onde haja uma leitura crítica da

realidade, este trabalho a partir das reflexões sobre o uso de plantas medicinais, se

transforma em uma oportunidade de fazer com a que a escola seja capaz de,

“possibilitar aos educandos a compreensão da essência dos conteúdos a serem

estudados, a fim de que sejam estabelecidas as ligações internas específicas

desses conteúdos com a realidade global, com a totalidade da pratica social e

histórica” (GASPARIN, 2011, p. 06).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento das atividades promoveu o confronto de teoria e prática

proporcionando reflexão sobre o uso das plantas medicinais como uma alternativa

viável para o tratamento de muitos problemas de saúde. Ao revelar que boa parte

dos integrantes da comunidade escolar desconhecem os reais efeitos das plantas

medicinais, o projeto permite analisar alternativas para melhor orientar estudantes a

partir das características de sua própria comunidade. Como as pessoas utilizam

significativamente as plantas medicinais podemos propor atividades para que, a

partir da escola, a comunidade escolar conheça suas propriedades medicinais, bem

como suas contraindicações.

Além disso, a discussão sobre o que a comunidade escolar conhece e/ou

desconhece a respeito do uso e aplicação de plantas medicinais foi de grande valia

para entender essa prática na comunidade pesquisada e com isso aprimorar as

metodologias de ensino de ciências. Essa discussão possibilitou também trazer,

para o ambiente de sala de aula, os saberes tradicionais que povoam o imaginário

social, de forma que os estudantes do ensino fundamental discutissem o que é mito

e o que é verdade quando se trata do uso dessas plantas.

Por estes motivos entendemos que o projeto de implementação foi importante

à medida que possibilitou discutir assuntos pertinentes à realidade social dos alunos

e tratar teoricamente da aplicação de atividades de aprendizagem voltadas a

valorização da cultura popular.

Ao mesmo tempo a intervenção foi valiosa porque percebemos mudanças na

rotina escolar, e, sobretudo na posição de docente pesquisador, já que a atividade

abre espaços para busca de novas informações e permite aos alunos construir seu

próprio objetivo de estudo, consentindo que os mesmos tenham maior interesse

pelos assuntos escolares.

Por fim, acreditamos que o projeto de intervenção pode ser reaplicado em

outras realidades escolares, visto que as plantas medicinais estão associadas a um

uso popular, porém fazem parte de diferentes culturas, tanto eruditas como

populares. Contudo devem ser discutidos também os efeitos colaterais

cientificamente comprovados, bastando, portanto, que haja maior interesse em

trabalhar o assunto na escola e por consequência na comunidade.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, José Carlos Tavares. Fitoterápicos anti-inflamatórios: aspectos químicos, farmacológicos e aplicações terapêuticas. Ribeirão Preto: Tecmedd, 2004

DIRETRIZES CURRICULARES DO ESTADO DO PARANÁ, PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS. SEED: Curitiba, 2008

DUNIAU, Marie-Christine Monique. Plantas medicinais: da magia à ciência. Rio de Janeiro: Brasport, 2003

ELDIN, Sue & DUNFORD, Andrew. Fitoterapia na atenção primária à saúde. Trad. Dinah de Abreu Azevedo. São Paulo: Manole, 2001

FRANCESCHINI FILHO, Sérgio. Plantas terapêuticas. São Paulo: Andrei Editora, 2004

GAPARIN, João Luiz Gasparin. Uma didática para a pedagogia histórico-crítica. 5 ed. Campinas: Autores Associados, 2011

KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica: teoria da ciência e prática da pesquisa. 15 ed. Petrópolis: Vozes, 1999

MORI, Nerli Nonato Ribeiro. Metodologia da Pesquisa. Eduem: Maringá, 2010

PARO, Vitor. Educação como exercício do poder: crítica ao senso comum em educação. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2010

ANEXOS

Anexo 1 – Questionário 1 com os alunos

1) Você conhece alguma planta medicinal

( ) sim ( ) não

2) Na sua casa tem alguma planta medicinal na horta ou no jardim.

( ) sim ( ) não

Quais____________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

3) Como você e sua família utilizam as plantas medicinais.

( ) Chá ( ) Compressa ( ) Infusão

( ) Outro, quais____________________________________________________

_______________________________________________________________

4) Para quais fins a sua família utiliza as plantas medicinais.

( ) Dor de cabeça ( ) Febre ( ) Gripe ( ) Vomito

( ) Diarréia ( ) Cólicas menstruais

( ) Outro, quais ___________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

5) Você conhece as contra indicações das plantas medicinais.

( ) sim ( ) não

6) Quantas vezes na sua família utilizam as plantas medicinais com fins

terapêuticos.

( ) Uma vez ao dia

( ) Uma vez por semana

( ) Uma vez por mês

( ) Dois dias na semana

( ) Nunca

( ) Outro _________________________________________________________

_________________________________________________________________

ANEXO 2 – Questionário 2 com familiares

Roteiro de pesquisa para os estudantes realizarem com os familiares

1) Na sua casa tem alguma planta medicinal na horta ou no jardim.

( ) sim ( ) não

Quais_____________________________________________________________

_________________________________________________________________

2) Como você e sua família utilizam as plantas medicinais.

( ) Chá ( ) Compressa

( ) Infusão

( ) Outro, quais _________________________________________________

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3) Para quais fins a sua família utiliza as plantas medicinais.

( ) Dor de cabeça ( ) Febre

( ) Gripe ( ) Vomito

( ) Diarreia ( ) Cólicas menstruais

( ) Outro, quais ____________________________________________________

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4) Você conhece as contra indicações das plantas medicinais.

( ) sim ( ) não

Quais? ___________________________________________________________

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5) Quantas vezes na sua família utilizam as plantas medicinais com fins

terapêuticos.

( ) Uma vez ao dia

( ) Uma vez por semana

( ) Uma vez por mês

( ) Dois dias na semana

( ) Nunca

( ) Outro _________________________________________________________