Mito e Psicanalise

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    o mito tem m ar cado sua pr esen9a em diver sas teorias psicanali ticas e em conhe cimento s afins, se considerarmos aPsic ologia Analitica de Jung. No e ntanto , restr ingiremos 0 campode nossa pesqu isa a teor ia de Freud , verificando sobretudo de que

    f orma 0 mito tem contribuido para a elabora9aO de importantescon ceitos da teoria psicanal itica freudiana .

    De inicio, abordaremos 0 mito tentando ve -Io em s uaconCeP9aOoriginal, ou seja, examinando seu significado e 0 pa pel

    pOI' ele desempenhado nas mais divers as culturas em que seuapa recimento teve lugar e a posterior subversao de seu c onceito

    prim itivo, face as severa s criticas que the san dirigidas com 0

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    o sentido de fic~ao que 0 nome adquiriu nacivilizayao ocidental e uma heranya do pensamento gr ego, comoesclarece r emos mais adi ante .

    Embora 0 m ito nao se ja uma exclusividade da culturahelenica , a Grecia se apr esentou como um terr eno fertil pa r a seuaparecimento aos borbotoe s e em exu berancia. 0 mito esta presente na s mais diver s as manife stayoes do espirito grego :religiao, artes pl asticas, literatu r a e ate na Filosofia , onde araciona lidade se revela em sua magnitude.

    Etn610gos e historiadores das religioes tem de scobertoque os mitos dos mai s diversos po vos: grego s, egipcios , judeus, babilonios , hindus, polinesios , australianos , amerindios,apresentam tematicas bastante semelhantes , inclusive em riquez ade detalhes , embo ra essas culturas se distanciem no espayo e n otempo' .

    Nao obstante a civilizayao grega ter-se destaca d o com

    seus mitos, com 0 surgimento da Filosofia , ap6s os temposhomericos, 0 mito vai sofrer duros golpes. Pas sa a ser contrapost oao logos, da mesma manei r a que a fantasia se opoe a razao.Enquanto 0 logos se orienta pela racion alidade, segundo as leis da16gica, 0 mito se apresenta como 0 irraciona l, aproximando-semais da alte.

    Os pre-socraticos , em nome do logos , da razao,tentaram desmitizar ou dessacralizar 0 mito. Xen6fanes foi 0 primeiro a critical ' os contelldos miticos expostos pOI ' Homero eHesiodo no que se referem as divindades. Como diz Mircea

    Eliade "0 surto do racionalismo jonico coincide com uma critic acada vez mais corrosiva da mitologia 'classica ', tal como e iavinha e x pressa nas obras de Homero e Hesiodo . Se em todas aslinguas eu r Qpeias [ sic] 0 vocabulo 'mito ' denota uma 'ficyao' , e porque os gregos assim 0 proclamaram ha ja vinte e cinc o2 .seculos" .

    Con tudo , a cr itica dos pr e-socniticos nao era pr opr iamente aos m itos m as a c

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    ~ assim nao e , a historia anda a merce do mito " 11. A mitologiaqao e uma simples coletanea de mitos . "Do ponto de vistan . b'dtimologico , mitologi a e 0 estudo dos mltos , conce 1 os comoe 12 . I .his tor ia ver dadeira " . Contudo , por ser a mlto ogla umalingua gem do passado seu relato e simbolico .

    Aristoteles , na M etaf isica , reconhece que ha no mi toum elemento de divina verdade 8 . Vernant , apos analisar 0discurso filoso f ico grego em to r no do mito as sim se ex pressa:" Na perspecti va d e Aristotel es, reconhecer que ha no mito ur nelemento de divin a verdade e dizer que ele prefigu r a a Filosof ia.Da mesma forma , 0 modo de fala r infantil prepara a linguagem do

    adulto e so tern sentido em relas;ao a es sa. 0 mito seria u maespecie de esbos ;o do discurso racional [. ..] 0 balbucio do 16gos,,9.Desde as prime iras decadas do secu lo XX, varias

    ciencias, como a Etnologia , Filologia , Sociologia , Lingliistica, ePsicologia , tem se voltado pa ra a mitologia tra zendo no vas luze s.Como conseqliencia de estudos realizados nessas areas deconhecimento , 0 mito deixou de ser considerado uma fic;ao e passa a distinguir -se da lenda , da fabula , da alegor ia.

    A conceps ;ao de mito para os estudiosos ***, nos

    tem pos atuais, e , pOlianto , identica a das sociedades arcaicas on d eele comes ;ou a existir . Segundo Mircea Eliade, 0 mito e 0 rela tod e uma h istoria verdadeira, ocolTida em epoc as pr imordiais, e mque determinada realidade teve seu inicio com a i!lterferencia dosdeuses lO Ele expressa uma realidade humana. E a nalTas;ao deuma crias ;ao, ou dizendo melhor, a representas ;ao de umarealidade que pas sou a e xistir; e urn passado que se faz p r esente.Para Eudoro de Souza **** a mitologia fala da historia do home me do mundo: "Sem sabe-Io, sem querer sabe-Io , por julgar sab er

    8 VERNA NT, Jean-Pi ene. Op. cit. p. 188.9 Id . Ibid . p. 188. Par a os nao es peciali stas , 0 termo continu a a tel' a conotayao de ficyao,

    ilusao.10 ELIAD E, Mir cea. Op. cit. p. 12.FiI6sofo e helenist a d e natur alid ad e portu guesa. Lecionou em uni ver sidades

    brasileir as desd e sua vind a para 0 Bra sil, em 1953, vindo a f alec er em1987. Entre suas obr as destacam -se: Dioni sio em Cre t a e out ro s ensaios,

    Mit olog ia, H ist oria e M ito. Entre as t raduy oes d estacamos: Poetica d eAr ist6teles (comentada) , As Bacant es d e Eur ipedes, os pre-socrirticos.

    108 R e vista P e r spectiv a Filos6fica - Volume VI - n 1 2- Jul. -Dez . /, 1999

    Qual e, enfim , a relas;ao entre 0 mito e a Psica nalise?Do fim do seculo XIX para 0 inicio do seculo XX, epoca em quese iniciava a construs ;ao da Teoria Psicanalitica , ocorrera mimp Oliantes descobelias arqueologicas que contribuiram par ~ por em evi den cia a mitologia , transformando-a em pes;a essenclal aser inc1uida na bagagem cultural de todos aqueles que sevolt avam para 0 que se convencionou chamar d~ "humani d a~es".A ar queologia foi urn dos passatempos predl1etos d~ pat daPsica nalise que colecionava com afii pequenos ob]eto s daantig liidade grega, romana e egipcia. ,., . ,

    A preocupas;ao de Freud pela pre -hlstona , prende-s e aintrin seca relas;ao que ele acredita e xistir entre os primordios dahuma nidade e a pre-historia do homem, enquanto individuo . EmTotem e Tabu , fala de seu interesse pel a vida mental dosselvag ens por ver nela 0 retrato de urn primitivo estagio de . noss odesenv olvimento. Apoiando-se nesse pressuposto, asslm s eex pressa: "Se essa premissa for cOlTeta , uma comparas;ao en tr~ a' psico logia dos po vos natu r ais ', tal como nos ensina a etn olo.g~a,com a psicologia do neurotico, como se nos t ern tornado familIar por o bra da psicanali se, podera nos revelar numerosos pontos de

    d~ . ,,1 3conc or anCla .

    11 A pud BASTOS, Fernando . M it o e F ilo so f ia. p. 35-36 .1 2 BRAN DAo, Junito d e Souza. M it ologia grega . p. 38. v. 1.

    ~ FREU D, S. Tot em y tabtl. p. 11.Re vista P e r spectiva F ilos 6f ic a - Volum e V I - n 1 2- J ul .-Dez . /

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    Em A Int erp re ta r;ao dos Sonhos, estabelece u maligayao entre 0 simbolismo do son ho e do mito ao dizer que " 0simbolismo onirico nos leva muito alem do sonho ; nao e

    propriedade dele , mas esta de i gual maneira pr esente narepresenta yao dos contos tradicionais , mitos e lendas , nos chist ese no folklor e. Permite-nos rastrear as vinculayoes intemas dosonho com est as produ yoes ,,14. Par a ele , 0 mito e uma d asexperiencias mais profundas da a lma humana. Apresenta u malinguagem rica em significado , embora nao clara , precisando s er decifrada , pois e ex pr essa em simbolos . Como 0 sonho , 0 mitoencerra dois conteudos: 0 manifesto e 0 latente . 0 manifesto e 0que e narrado , mas dito de forma distorcida , sem sen tidoaparente. 0 latente e 0 que se acha oculto, escondido nasimbologia , susceptivel de interpretayao .

    Semelha ntemente ao inconsciente, 0 mito e il6gico e

    irra cional. Freqtientemente , Freud serve-se de personage nsmitol6gicos ao se referir a atitudes e motivayoes que procedem d oinconsciente e que se regem por sua 16gica paradoxa! .

    As fontes miticas a que Freud recorre , ao longo de s uavasta obra, sac da s mais diversas procedencias: greco-roma na,

    judaico-cri sta, totemismo , mitologias medievais e da renasceny a,entre outra s. Anzieu , em seu artigo Freu d et la m ytholog ie,observa que " 0 inventar io integ r al das r eferencias mitol6gicas naobra de Freud e sua classificayao sistematica esta por ser feita, ,15.

    A presentaremo s dois mitos grego s: 0 mito deNa r ciso e 0 mito de Edipo que sac con siderado s, por te6ricos da psicanaIise , os mais importantes pilare s da teo r ia fr eudiana.Ve r ificaremos como Freud estabelece uma pon te entre essesrelatos arcaicos e a Teoria Psicanalitica .

    1 4 Id . La I nt erpr et acion d e los S uenos (segund a parte). v. V . p. 667.

    15 Apud LEPASTI ER , S. Au x Sour ces d es Myt hes. In: Mythes etPsychanalyse. p. 4.

    11 0 R evis ta P e rspecti va F ilo s 6f ica - Volume VI - n 1 2 - Jul . -Dez . /199~

    Como acontece com os mitos gr egos , 0 mito deNa rciso apres enta mais de uma versao. Apresenta-Io-emos comoe narrado por Ovidio no Livro ill das Matamorfo ses.

    Narciso (Narkissos) nao e uma palavra grega.Pr ovavelmente pro cede da ilha de Creta. Ra uma aproximayao

    com nark e que em grego significa ento r pecimento. Nllrciso, filho do rio Cefiso e da ninfa Liriope eraextremClmente belo. Sm mne sabendo que a competiyao com osdeuses, em beleza, levava a uma puniyao, preocupa-se e vaiconsul tar 0 adivinho Tiresias para saber quantos anos viveria seu belo filho. A resposta do profeta grego foi que Narciso viveriamuitos anos desde que nao contemplasse sua imagem.

    Jovens de tod a a Grecia aproximavam-se de Nar ciso atraidas par sua rara beleza , mas ele mostra va-se

    im passive!. Vma ninfa denominada Eco apaixonou-se per didamente por ele e 0 seguiu pela floresta. Narciso a repeliufria mente e afastou-se. Eco isolou-se em imensa solidao e por deixar de se alimentar comeyou a definhar ate transfarmar-se emum rochedo que passou a repetir as ul timas pala vr as d a fala das pessoas (eco) .

    Revoltadas co m tanta insensibilidade , as ninfasclamara m por vingan ya a Nemesis que, de imediato, condenou

    Nar ciso a amar um amor impossive! . Vm dia , aproximou-se

    sedent o de uma f onte d e agua limpid a e ao deb r uyar-se para matar

    Re vis ta Pe r s pectiva Fi los6 .f ica - Vo lu m e V I - n 1 2- Jul .-D ez . / 11 1

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    a sede contemp10u-se no espe1ho das aguas. Apaixonado pe 1a propria im agem , nao mais conse guiu da1i se retirar . Ao procurarem seu corpo , encontraram apenas uma de1icada fl or amare1a com 0 c entro circundado de peta las brancas 16 .

    o nome narcisismo j a havia sido empregado ante sda teoria freudiana. Segundo Elisabeth Roudinesco e Mich elPIon, autores do Dici onario de Psicanali se, 0 termo narcisism ofoi empregado pela primeira vez em 1887 pelo psicologo franc esAlfred Binet, ao descrever uma forma de fetichismo que consis teem tomar a si me smo como objeto sexual . No ana seguinte, 0ingles Havelock Ellis 0 utiliza para descrever urn comportamen to

    per verso relacionado ao m ito de Narciso. Posteriormente, 0cr iminologista Paul Nacke , comentando um artigo de Elli s,introduz 0 termo na lingua alema. E a este que Freud to maemprestado 0 vocabulo (narzissmus) para incorpo r a-Io a s ua

    teoria. De fato, segundo nos informa Peter Ga y,"originalmente , 0 termo narcisismo era aplicado a um a perversao : os nar cisistas saD desviados que so conseguem obt er satisfa

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    ---amor po r si e 0 amor por ou tr os tinha m a mesma nat urez adiferindo apenas em seu objeto. Isto suger ia a existencia d e Ul11alibido do ego e uma libido do objeto .

    Assim e que 0 ego , nessas r eformula yoes, assUl11eimportante dimensao : nao e tao somente 0 reserv atorio da libido ,mas tambem ele proprio passa a ser libidinizado , ou seja o bjetoda libido. Como ressalta Peter Gay , " 0 ego pode se escolhe r, e defato se escolhe como objeto eroti co, tanto quanta escolhe outros.[.. .]0 tipo narcisista , sob a influ encia da libido do ego, ama 0 queele e, 0 que foi out r ora, 0 que gostaria de ser , ou a pessoa que foi parte de seu proprio ser" 19.

    Freud constatou que essas implicayoes narcisic as naoeram exclusivas do perverso ou do homosse xual . Admi tia quetodos nos , de alguma maneira possuimos, em maior ou menor grau, certos trayos de na r cisismo e cita, por exemplo a cr ianya eos povos primitivos com seus pensamentos magicos , onipotentes.Outro exemplo e 0 de muitas mulheres , especialmente se f orem belas, que "so amam , a rigor, a si mesmas , com inte nsidadesemelhante a do homem que as ama . Sua necessidade nao se saciaamand a, senao sendo amadas, e se prendem ao hom em queatende essa necessidade,,20. Exemplifica ainda: "Seconsiderarmos a atitude de pais afetuosos p ara com seus f ilhos ,teremos de distingui-Ia como re vivescencia e reprodu yao donarcisismo proprio , de ha muito abandonado . [...] Prevalec e uma

    compulsao a atribuir ao filho toda classe de perfeiyoes ( para aqual u r n observador desapaixonado nao descobriu motivo algum)e a encob r ir e esq uecer todos os seus defeitos ,,21. Espe ram dofilho qu e realize todos os sonhos que nao puderam eles p ro priosrealizar.

    Outros conce itos fundamentais, r elacionados a teoriafreudian a do narcisismo , poder iam ser ex postos como : narc isis nt O

    19 GAY , Peter . Op. cit. p. 315.20 FR EU D, S. I ntroduc cion del narcisismo. Obras Com pletas . v. X IV. p. 85-

    86.2 1 Id . Ibid. p. 87-88 . --;11 4 Re vis ta Perspectiv a Fi lo s6 f ica - Volum e V I - n 12 - Jul .-Dez . 9J$;- ---- - --- - --------- - ----- -

    prim ario, narcisismo secundario , ego ideal, ideal do e go.Tod avia , a borda- Ios aqui fugiria ao pr o posito de n osso es tudo .

    2. 2 .2 - 0 Mito de Ed ip o

    Ha varias versoes do mit o de Edipo narr adas por

    esc ritores gregos como Homer o, Esqui lo, Eur i ped es, entre outros.Freud utiliza a versao de SOfocles que e urna

    tran sposiyao do mito para 0 teatr o com 0 titulo d e Edipo Rei .Edipo e filh o de Jocasta e de Laio, rei d e Tebas . Laio

    ama rr ou os pes d a cr ianya e 0 abandonou no monte Citer ao. Logodepois, E d ipo foi encontrad o e adotado na corte d e Cor into comof ilho do re i Pol ibo e Mer ope que nao tinham descende ntes.

    Certo dia , d urante urn b anq uete na corte , ur n dosconviva s, a pos tomar bastante vinho, fala-Ihe a respe ito d e suaadoyao, deixando seus pais indig nados com tam anho insulto .Inconf or mado , Edip o reso lve ir, as escon d id as, a Delfos consu ltar a sacerdotiza q ue, s em tirar -lhe a d uvida, e x pulsa-o d o templo,d izend o-Ihe que ele estava condenad o a matar seu pai e ad espos ar a pro pr ia mae.

    Teme ndo 0 cumprim ento do or aculo, decidea bandonar a cor te na intenyao de ficar 0 mais l onge po ssivel deseu s pais. Mas j a distante de Corint o, d epara-se c om uma

    carr uagem cujo di r igente 0 o briga a sair d a estr ada par a d ar -lhe passagem . Vma fo r te d iscussao sur ge en tr e os dois e, Edipo, aoser agr ed ido, tira a vid a d o chefe d a comitiva (que e Laio) e deseu s coma ndados.

    Resolve entao ir para Te bas e en contr a a cid ade asvoltas com urn monstr o d e nome Esf inge q ue devor ava a todosaque les que na o decifravam 0 enigma por e le propo sto. Ao ser desa fiado , Edipo c onsegue interp r etar 0 enigma e 0 monstrovendo-se derrotado j oga-se num preci picio .

    Como urn her oi, Edip o e aclamad o pelos teb anos ,torn ando-se rei e casando-se com J ocasta c om q uem tern quatrofilhos.

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    Rev ista Perspectiva Filos6 f ica - Volume VI - n 12- Jul. -Dez. / 115 99

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    Apos algum tempo, novo f lagelo abate -se sobreTebas, tendo como causa 0 fa!o de a cidad e ter se tornado a br igodo assassino de rei Laio. Edipo o r d ena pro ntament e que seiniciem as investigayoes , e, dessa forma, d escobre com grandedor que ele mesmo ha via assassinado 0 prop r io pai. Sob rev eio atnigica verdade: 0 oraculo foi con fir mado . 0 rei Edipo e parric ida

    e incestuoso. Jocasta sui cida-se e Edipo s e pune ras gando os01h os22.

    Em 1897 oco r rer em do is fatos muito imp011antes paraa Teoria Psicanalitica. Em 21 de setembro , Freud escreve a seuamigo F liess dizendo que nao ac r edita va mais na sua neuro tica,isto e , em sua teoria d as neuroses. Essa te oria pretendia exp licar q ue a origem d as neuroses estava relacionada a urn trauma sex ualocorrido na in fancia . No inicio de sua pnitica clinica , muito s deseus paci entes davam a entender que tinham sofrido algum ti pode seduyao por palavras , ou gestos e ate mesmo a tentado s exual por parte dos pais, causando-Ihes pavor . Esta cena de seduya o talcomo foi descrita, da ria margem a que t odos os pais fo ssemconsiderados perver sos.

    Menos de urn mes depo is, em 15 de ou tub ro, escrevenovamente a Fliess : "Descobri , tambem em meu proprio cas o, 0fenomeno d e me apaixona r por mam ae e ter ciume de pap ai, eagora considero urn acontecime nto uni versal do inicio da in f iincia[...] , se assim for , podemos entende r 0 poder de atraya o doOed i pus Rex , ,23. Freud faz essa descoberta atra ves de sua auto-anali se. 0 que tem os entao? A cri anya opondo-se ao proge nitor do mesmo sexo e intensificando seus layos com 0 do se xo oposto.o pai da Psicanalis e f az r ef eren cia ao mito , mas a expre ssaocomplexo de Edipo so vai a parecer em 1910 , no artigo: Urn Tip o Espec ial de Esc olha d e Objeto Fe it a pelos Horn ens.

    22 BRAN DAo, Junito d e Souza. Op. cit. v. II I. p . 233-286 .23 A COR R ESPON DE NCIA Com pleta de Sigmund Freud p ara Wilhelm

    Fliess 1887-1904. p. 273.116 Revista Perspectiva Fi los6 f ica - Vo lum e VI - n 1 2 - Jul .- Dez . /

    1992.-

    Em 1897 , Fr eud nao identificava ainda c omocom por tamento sexual , essa descoberta do acontecimentounive rsal no inicio da in fanc ia. Ela diz respeito a sentimentosam bivalentes de am or e od io da crianya voltados para as figuras

    pare ntais. Seu livro T res Ensaios So bre a T eor ia d a S exualidad e ,onde e d esenvolvida a teoria d e uma sexualidade infantil , so foi

    escr ito em 1905 , passando posterio r mente por importantesIllod if icayoes. Em 1923 , ele vai ac r escentar nessa ob r a a fasefalica. E nessa fase que se insta la a vivencia do conflito quer ece be 0 nome do heroi grego .

    Vimos na narrayao que Edipo se a f asta de C orinto para nao se conc r etizar 0 or aculo , isto e, matar 0 pai e casar-secom a mae. Julg ava que Polibo e Merope eram seus verda deiros

    pais. Ele nao sabia 0 que estava fazendo quan d o mat ou Lai o ecasou -se com Jocas ta. A semelhanya de Edi po, a crianya v ivencia

    uma an gllstia e culp a inconsciente por seus d ese jos amor oso s ehostis e m relayao aos pais.

    Ainda na carta a F liess de 15 d e outubr o d e 1897 ,escr eve: "Cada pes soa da plateia foi , urn dia, ur n Edi po em potenci al na fantasia, e cada u m recua , horr orizad o, diante d ar ealizaya o de son ho ali transp lantado para a r ealid ad e, com tod a acarga de recalcament o que separa seu estad o infantil do seuestado a tual ,,24 .

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    24A COR R ESPO NDE NCIA Completa de Sigmund Freud para Wi lhelm

    ------ Elies s, 1887-1904, p. 273.

    ; gev ista P er s pec tiva Filos6f ica - Volume VI - n 1 2 - Jul .-Dez . / 11 7--.:: .29-- - -- - ----- -- - ---- ----- -

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    A CORR ESPOND E NCIA Completa de Sigmund Freud par aWilh elm Fliess (1887 -1904) . R io d e Jane"iro: Imago , 1986,503 p.

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    BASTOS, Liana Albernaz de Melo. Eu-Corpando: 0 ego e 0corpo em Freud . Sao Paulo : Editora Escuti, 1998 , 200 p.

    BRANDAO, Junito de Souza. Mitologia Grega. 7 ed. Petropol is:Vozes, 1997 , v. I, II e III .

    CENTRE CULTUREL INTERNA TIONAL DE CERIS Y.

    Mythes et PsychanaLyse . Paris: Arnaud Dupin & Ser gePerrot Editeurs, 1997 ,251 p.

    ELIADE, Mircea. Aspectos do Mito . Lisboa: Edic;6es 70 , 1989,174 p.

    FREUD, S. La Interpretacion de LosSueiios. (segunda par te),(1900-1901). Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1994, 747 p. (Obr as Completas v. V).

    ---. Totem y tabu y otras obras (1913-1914). Buen osAires : Amorrortu Editores, 1994, 278 p. (Obras Completa s v.XIII ).

    ---- . Introduccion del Narcisismo (1914-1916). Bue nosAir es: Amorrortu Editores , 1995 ,389 p. (Obras Completas v.XIV) .

    GAY , Peter . Freud : Uma vida para 0 nosso tempo. Sao Paul o:Companhia das Letras , 1997, 719 p .

    GOLDGR UB, Franklin. Mito e Fantasia - 0 imgimirio segun doLevi-Straus s e Fr eud. S ao Paulo : Atica , 1995 ,223 p.

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    Gulbenkian , 1987 ,513 p.

    R lCOEUR , Paul . 0 Conflito das Interpreta~oes - Ensaios deHer meneutica. Porto - Portugal: Res-Editora, 1988,487 p.

    VER NA NT, Jean -Pier r e. Mito e Sociedade na Grecia Chissica.2 ed. Rio de Ja neir o: Jose Olympio , 1999 ,221 p.

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    R evi sta P erspectiv a Fi los6f ica - Volume VI -n 1 2- Jul .-Dez. / 119- -1 2 2 9- - - --- ------ -- - -------