Missão Cumprida. A história completa da primeira missão espacial brasileira.

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Este livro é um registro histórico precioso, escrito por quem viveu cada momento de uma história fascinante, cheia de reviravoltas, emoções, intrigas, dificuldades, superação e sucesso. Com uma narração rica e cativante, o astronauta brasileiro revela fatos inéditos, compartilhando suas ideias e sensações durante todos os eventos que envolveram os bastidores, a preparação, a execução, as polêmicas e os impactos da primeira missão espacial tripulada da história do Brasil.

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MISSÃO CUMPRIDAA História Completa da

Primeira Missão Espacial Brasileira

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MISSÃO CUMPRIDAA História Completa da

Primeira Missão Espacial Brasileira

Astronauta

Marcos Pontes

1a EdiçãoSão Paulo

2011

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Copyright © 2011 por Marcos Pontes

Editora ExEcutiva

Christiane G. Corrêa

diagramação

Luiz A. Silva

Todos os direitos reservados àChris McHilliard Editora Ltda.Rua Mandissununga 19505619-010 - São Paulo - SP(11) [email protected]

rEvisão

Jeane Liciani

capa

Eduardo M. Mariño

produção Editorial

Chris McHilliard Editora Ltda.

Pontes, Marcos

Missão Cumprida: A história completa da primeira Missão Espacial Brasileira / astronauta, Marcos Pontes. - - 1. ed. - - São Paulo : Chris McHilliard, 2011.

560 p.

ISBN: 978-85-64213-01-2

1. Astronautas - Brasil - Autobiografia 2. Exploração espacial (Astronáutica) - Brasil -História 3. Pontes, Marcos 4. Voos espaciaisI. Título.

CDD - 629.450092698

Índices para catálogo sistemático:

1. Brasil : Astronautas : Autobiografia :Conquista do espaço : Astronáutica : História

629.450092698

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

11 - 02347

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Este livro é dedicado a todos os brasileiros que realmente

vestiram a camisa verde e amarelo, ousaram sonhar mais alto, apoiaram, aplaudiram e se orgulharam da Primeira Missão Espacial Tripulada Brasileira.

A vitória é sua!

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Agradecimentos

Ao longo da história que você está prestes a conhecer, passei por grandes desafios e muitos momentos difíceis. Em todos eles, contei com o apoio e a ajuda incondi-cional de centenas de pessoas maravilhosas que estenderam a mão e lutaram ao meu lado; cada um em seu tempo, cada um do seu modo. Sem elas, nada disso seria possí-vel. Que todos se sintam representados pelos nomes abaixo, apresentados em ordem cronológica de participação nos eventos desta história:

Rosa Maria PontesLuiz Carlos Pontes

Professora ZilaiOswaldo e Helena CanovaMarcílio e Hercília Pontes

Professor Antônio Izzo FilhoMaj. Av. Oswaldo

Cap. Av. ReisCap. Av. Paiva Vidual

Fátima, Fábio e Ana PontesCel. Av. Paulo Cezar

Ten. Int. CalheirosProfessor Carl Hermann WeissProfessor Antônio Lacaz Netto

Maj. Eng. SilvinoProfessor Alfred Cooper

Lt. Marcia SononCap. Joseph Horab

Susan HorabDuane Ross

Astronauta Garrett ReismanAstronauta Leland Melvin

Astronauta John GlennDr. Philip SteuberCel. Av. Robinson

Sidney e ConceiçãoAmaralChristiane Corrêa

Roberto PilottoMark HersheyPetrônio Souza

Dr. Raimundo MussiAstronauta Charles Precourt

Marivaldo Brito Roberto Tadano

Ten. Brig. Bambini Dep. Gilberto KassabDep. Francisco RodriguesDep. Maurício RebeloDep. Aroldo CedrazEmbaixador PimentelFlávia PassosProfessor Marcelo SouzaProfessor Roberto SpadaVice-Presidente José AlencarMinistro Eduardo CamposTen. Brig. BuenoDr. Sérgio GaudenziMartha HummanLoiva CalderonCel. Med. LutiisPresidente Luiz Inácio Lula da SilvaAstronauta Leopold EyhartsDra. Svetlana GorbachovaAstronauta Jeffrey WilliamsCosmonauta Pavel VinogradovAstronauta Bill McArthurCosmonauta Valery TokarevCosmonauta Valery KorzunCel. Av. KrügerMaestro Adilson GodoyAnousheh AnsariSalvador NogueiraNorival e Maria Olinda CorrêaProfessor Sérgio MascarenhasProfessor Fernando CatalanoMarcos Wesley RibeiroAntônio Carlos GimenezDr. Carlos Ganem

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Aos heróis que partiram

“Contempla os céus em que mundos inumeráveis nos falam da união sem adeus e ouvirás a voz deles no próprio coração a dizer-te que não caminharam na

direção da noite, mas sim ao encontro de um novo despertar.”

Seus ideais vivem nos nossos corações.

Vergílio e Zuleika Pontes Patricia Robertson

David BrownIlan RamonLaurel Clark

Kalpana ChawlaMichael Anderson

Rick HusbandWillie McCool

Eduardo Dorneles BarcelosAmintas Rocha Brito

Antonio Sergio CezariniCarlos Alberto Pedrini

Cesar Costalonga VarejãoDaniel Faria Gonçalves

Eliseu Reinaldo Moraes VieiraGil Cesar Baptista Marques

Gines Ananias GarciaJonas Barbosa FilhoJosé Aparecido PinheiroJosé Eduardo de AlmeidaJosé Eduardo Pereira IIJosé Pedro Claro Peres da SilvaLuis Primon de AraújoMario Cesar de Freitas LevyMassanobu ShimabukuroMauricio Biella de Souza ValleRoberto Tadashi SeguchiRodolfo Donizetti de OliveiraSidney Aparecido de MoraesWalter Pereira JuniorBasílio BaranoffLourival Ferreira CalixtoRegina França

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Prefácio

Esta obra traz em si, o gene do sonho. O primeiro, o de Alberto Santos Dumont, inventor contumaz, criador do

avião e, ele próprio, piloto do primeiro voo, que há mais de cem anos, com o 14BIS, cruzou os céus de Paris. O outro, materializado pelo sonho do menino do interior que olhava o céu, cobiçando-o como uma parte de seu ser. Marcos Pontes, desde menino, dedica-se a ajudar sua família, conjugando os estudos em escola pública e o trabalho nas horas restantes, de modo a cumprir o ideal de tornar-se militar e piloto da Força Aérea Brasileira.

Aproveita as inscrições abertas pela Agência Espacial Brasileira (AEB), em 1998, para fazer frente à futura demanda do Brasil por astronautas, no Projeto da Estação Espacial Internacional (ISS). Inscreve-se no concurso e sai vence-dor. Por esse motivo, Marcos abre mão da carreira militar, pela qual entregara o esforço de sua juventude, em razão das características pacífica e civil que, em todo mundo, são atribuídas às funções dos astronautas. Isso vai ligá-lo inexoravelmente à figura do pai da aviação, uma vez que o centenário do voo de Dumont será comemorado com a missão que tem esse nome e que o levará a tornar-se o primeiro brasileiro a ganhar o espaço sideral, em 2006.

Dumont e Pontes têm em comum, além do gosto pelo céu, a entrega abnegada e determinada a conquistar metas e desafios. Para isso, não medem esforços que incluem: a mudança para outros países, a distância da família, o convívio com o inusitado e a necessidade de adaptação ao clima, ao modo de vida e aos idiomas. Marcos viu, ao tempo da sua missão – sete anos após sua seleção como astronauta – que deveria, em tempo recorde, cinco meses, adaptar-se ao idioma russo, para atender ao novo transportador contratado pela AEB, com sua congênere russa, a Roskosmos. Esse modo afirmativo de lutar por suas conquistas une e consagra esses dois brasileiros.

Hoje, ao completar cinco anos da Missão Centenário e do voo do pri-meiro astronauta brasileiro, como está o País frente às nações que atuam no espaço sideral? Pouca gente sabe que o Brasil foi o quarto país do mundo a abraçar a ideia de explorá-lo e como poucas nações, exibe uma formidável vocação para esta ambição.

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Isto por ter habilitação para praticar a missão espacial completa: sítios de lançamento, veículos lançadores e de sondagem, cargas úteis sofisticadas, com destaque para satélites, parque industrial capaz, tudo apoiado em estrutura de recursos humanos formada em nossas próprias instituições e apta para atuar em programas espaciais de nossos fortes competidores.

Além disso, se tomarmos alguns aspectos, tais como: a extensa área terri-torial à qual se soma a zona economicamente explorável do Atlântico (Ama-zônia Azul); uma população próxima de 200 milhões de habitantes e um Pro-duto Interno Bruto (PIB) superior a US$ 1,5 trilhão, tem-se a convicção de que o Brasil não pode abrir mão do seu projeto espacial. Os três países, além do nosso, que exibem estes predicados são potências espaciais da atualidade. Este foi o objetivo estratégico perseguido, insistentemente, pela AEB durante os últimos anos.

Como Marcos Pontes, é importante que saibamos persistir na adversida-de. Ora, o Programa Espacial Brasileiro parou por muito tempo, sofreu com atrasos, com o não cumprimento das metas orçamentárias, a não formação das equipes e o retardo do parque industrial em tornar ativa a cooperação técnica entre firmas nacionais e estrangeiras. Tornou-se alvo fácil às aquisi-ções que ocorreram, sobretudo nos últimos 20 anos. Tudo isto fruto de uma visão governamental que não foi capaz de atribuir prioridade ao programa em questão, deixando-o fenecer ante países que sequer dispunham de acervo material e intelectual para praticar ações e intervenções no segmento espacial. Parte desses fatos pode ser percebida pela narração dos eventos da participação brasileira no Programa da ISS, segundo a perspectiva do astronauta Marcos Pontes.

Entender o protagonismo do nosso país no segmento espacial nos dá a convicção de que a política espacial tem que ser tratada como estratégica, de Estado e não de governo, ou submetida às práticas político-partidárias.

O Brasil não poderá permitir mais atrasos no nosso Programa Espacial se quisermos nos compreender, formar, pesquisar, ensinar, diagnosticar e operar nossos desígnios, tornando-nos elos de conexão e entendimento à distância, com legítima habilitação cidadã, civil, pacífica e desenvolvida.

O esforço de uma vida dedicada à conquista dos ares e do espaço side-ral coloca o astronauta brasileiro, Marcos Pontes, como um herói verdadeiro do nosso povo, das nossas crianças, que nele enxergam um ser especial, um exemplo de ousadia e luta, que se consumou no sucesso das experimentações levadas a cabo no ambiente de microgravidade da ISS, o que reafirma o espí-rito inovador de Dumont, que ele homenageou em seu lavor, exibindo o seu chapéu símbolo e desfraldando a bandeira nacional.

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Hoje, ainda à disposição do Programa Espacial Brasileiro como nosso único astronauta profissional, Marcos Pontes cumpre uma missão de grande relevância para o futuro do programa: divulgar a ciência, motivar jovens pelas carreiras de tecnologia e formar recursos humanos para ocuparem as posições técnicas essenciais para o desenvolvimento dos projetos do setor.

Parabéns, Marcos Pontes!

A você, a gratidão do povo brasileiro.

Dr. Carlos GanemPresidente da Agência Espacial Brasileira

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“A verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens,

mas ter novos olhos.” Provérbio chinês

PRÓLOGO Entre a Terra e o Universo

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Prólogo

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A calma paisagem segue seu caminho. A escuridão da noite chega depressa e deixa para trás os reflexos amarelos do pôr do sol, pintados sobre o fundo azul e branco. Penso nos meus filhos. Decido começar a escrever; quero deixar registradas as emoções que vivi, as lições que aprendi, as técnicas que usei; quero dizer que “é possível!”. Enquanto isso, assisto ao espetáculo da na-tureza com o rosto colado na pequena janela fria da espaçonave. Lá embaixo, a Terra é a visão que acalma a mente inquieta, os pensamentos incessantes que oscilam entre tantas coisas que agora parecem sem nenhum significado.

“Afinal, o que é realmente importante nessa vida?”Penso nisso e lembro como tive de caminhar duro por muitos anos, antes

que pudesse flutuar. Por mais que digam o contrário, não existem atalhos para o sucesso. Em alguns momentos, confesso, achei que o sonho pudesse ruir. Mas jamais esmoreci. E agora estou convencido de que, se você realmente trabalhar e acreditar, tudo é possível!

Este livro tem a missão de transmitir a todos as experiências que vivi. É a história de como o primeiro astronauta brasileiro chegou ao espaço

e de como um país em desenvolvimento ousou tentar criar um programa tripulado, a despeito de todas as dificuldades. Ela envolve política, relações internacionais e o papel sempre presente da mídia, para o bem ou para o mal. Mas, acima de tudo, envolve pessoas.

Estamos falando de uma narrativa de muitos anos, cheia de reviravoltas, conflitos e confusões; tudo sob a minha perspectiva dos eventos. Assim, os capítulos deste livro refletem meus pensamentos e emoções perante as infor-mações que eu tinha em cada situação. Tudo isso é parte da minha experiência de vida. Se eu não a contar, quem o fará?

Também compreendo a função desta narrativa como registro histórico. É especialmente importante que ela seja contada, sem maquiagem, com o verde, o amarelo e todos os tons de cinza que ela possui, para evitar que os mesmos erros cometidos ao longo desse caminho sejam repetidos.

Agora, prepare-se! Venha comigo nesta longa jornada; veja o que eu vi, sinta o que senti e, depois, julgue pela sua própria consciência. Para mim, a missão nunca estaria, de fato, completa sem este relato. Se este livro chegou às suas mãos, finalmente posso considerá-la cumprida.

A bordo da Estação Espacial Internacional, não há muito tempo livre para escrever, mas sigo vertendo minhas reflexões. Os pensamentos de um astro-nauta quando está no espaço são, ao mesmo tempo, simples e complicados. Para manter a concentração, nos apoiamos em checklists e tarefas bastante específicas, que eliminam qualquer hipótese de divagação.

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Missão Cumprida

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Em compensação, nos poucos momentos livres que temos, a tendência é simplesmente se deixar levar pela sobrecarga que uma viagem espacial pro-porciona a todos os sentidos. É o que me proponho a fazer agora, por alguns minutos.

Esvazio a mente e concentro minha atenção na essência do momento. O começo da jornada até aqui foi turbulento. Duzentas toneladas de com-

bustível impulsionaram nossa determinação. Calor, vibração, fogo ardente. O coração acelerou. O desejo incontrolável dominou o medo. A paixão

pela superação. A atração pelo desconhecido, por conhecer os limites, por deixá-los para trás.

O sonho venceu a razão. As mãos se juntaram fortemente na incerteza do futuro, na força da união, no prazer de um segundo de felicidade infinita. Ins-tante que poucos conheceram realmente. O momento máximo, tão esperado, tão sublime.

A contagem ecoou em cada segundo. Partimos, juntos, rumo às estrelas. Nossos corpos sentiram a tensão da jornada, cada segundo de prazer e risco. A satisfação confortou. Sensações inesquecíveis. Inexplicáveis.

A luz do sol invadiu e espalhou o calor da vida pela pequena janela. Eu te vi de verdade pela primeira vez.

Terra, minha terra!Olhei para todo o teu esplendor. Imagem magnífica. Instante único. Me-

mória para sempre. Tuas cores, teu brilho, tua beleza inigualável, oásis neste imenso Universo. União instantânea. Amor à primeira vista!

Sim, eu te amo! E certamente o mundo seria bem diferente se todos pu-dessem ver e sentir tudo isso, dialogar com esse “ser” grandioso. Tua visão nos inspira, faz pensar no que somos, para que somos, para onde vamos.

Acariciei teu rosto, contornando tuas curvas aveludadas, cobertas por essa aura brilhante, pelo teu ar protetor que nos dá a vida.

Aqui, desta pequena janela, por tantas noites curtas dormi, admirando tua beleza. Sonhei tanto contigo, sonhei tanto com esse momento e, finalmente, aqui estamos nós, distantes, e mais juntos do que jamais estivemos. Dança-mos juntos, giramos, acima das nuvens.

A cada noventa minutos, a luz do sol começa a definir teus horizontes. Ilu-mina teu contorno com um arco colorido de luzes: negro, vermelho, laranja, amarelo, cinza, branco, azul, violeta, negro. Como mágica, ele se transforma em uma coroa coberta de estrelas cintilantes e um diamante de luz no seu centro. Mais um nascer do sol!

Sinto-me pequeno. Minha vida física talvez seja muito curta.

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Prólogo

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Olho novamente para as estrelas. Olho para ti. Penso no que significa tudo isso. Penso em Deus. Percebo que somos parte de cada parte. Uma fração de tudo. Mais do que isso, na verdade nós somos tudo isso. Paradoxo dessa vida, tão grande e, ao mesmo tempo, tão pequena, tão insignificante. Somos parte de todo esse infinito maravilhoso. Natureza, Universo, Energia, Deus, qualquer que seja o nome. Eu sou parte do todo! Então, a certeza que conso-la toma conta da alma inquieta. Se somos parte deste Universo, eu não sou pequeno.

Interpreto, assim, a essência de ser criado à imagem do todo. Nós não somos insignificantes. Nós somos o significado.

Sinto a paz me invadir com a confiança dessa revelação. Gostaria de poder tocá-la, dizer-te que agora compreendi tudo, mas não posso, daqui, distante, fechado nesta espaçonave.

Porém, posso ver teus horizontes mais distantes iluminados por raios de sol, enquanto eles – aqueles que vivem colados a ti e que, neste instante, tocam teus mares e sentem teu cheiro – não podem enxergar nada além dos seus curtos horizontes egoístas. Eles veem apenas os seus próprios interesses. E assim, míopes pela insanidade, cortam tua pele linda, causam feridas difíceis de cicatrizar. Poluem teu ar e te sufocam, enquanto choras em rios sem vida.

Mesmo assim, é claro o amor que tens por teus filhos. Com a paciência e o carinho das mães. Por certo, às vezes explodes em curtos momentos de tor-menta, mostrando tua força para ensinar sobre a urgência do destino.

Sim, eu te amo!Descobri isso enquanto estava aqui, distante de ti, longe do teu ar que me

dá energia para viver.Terra, linda, esplêndida, maravilhosa.Terra, carinhosa.Terra, mãe!E no azul cintilante de teu brilho oceânico, enxergo o azul dos olhos de

minha mãe. É impossível impedir que tudo se misture. O pequeno e o grande, a parte e o todo.

De súbito, um cheiro de infância invade meus pulmões. Lembranças feli-zes e pueris de uma cidade no interior do São Paulo.

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Meu pai: Vergílio Pontes

Minha mãe: Zuleika Navarro Pontes

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RAÍZES DE UM SONHODe Bauru a Monterey

PARTEI

“Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é

sempre o desejo de vencer.” Mahatma Gandhi

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Raízes de um sonho

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Capítulo 1Minhas primeiras lembranças de vida começam na rua

Comendador Leite, número 1-23. Dentro da casa, o barulho das crianças brincando na calçada era ouvido facilmente, testemunho da tranquilidade que Bauru possuía, nada diferente de tantas outras cidades do interior de São Paulo. Faço força para tentar resgatar minhas memórias mais antigas. Mas o que volta é, na melhor das hipóteses, inconclusivo. Alguns sons, imagens con-fusas em uma cabecinha ainda tentando reconhecer e se organizar.

Minha irmã, Rosa Maria, cuidava de mim enquanto meus pais trabalha-vam fora. Acho que cuida até hoje, de certa forma.

Fecho os olhos e tento recordar alguma coisa daquela época. Lembro-me das madeiras do chão da sala. Sempre enceradas e brilhando. Cera, aliás, que se acumulava entre as pranchas e que me ajudavam a fixar alguns animais de papel que eu, cuidadosamente, recortava. Elefantes, cavalos, coelhos, criavam vida própria na minha imaginação. Em certo momento, lembro-me de outro lugar, um chão coberto de palha de arroz e muita gente, muitas mesas.

Pego o telefone e ligo para minha irmã. Ela me diz que houve uma festa de casamento da nossa vizinha do outro lado da rua. Havia muita gente, muitas mesas e palha de arroz no chão.

“Então é possível lembrar!”– E cheiro de madeira, por que me recordo disso? – pergunto.– Certamente vindo da serraria que havia no prédio logo atrás da nossa

casa. Você devia ter uns cinco anos.“Uau, estamos voltando no tempo.” Encorajado pelo sucesso, tento me con-

centrar mais e mais na direção do passado.– A memória é azul, mas não na parte de baixo. Parece uma construção.Ela fica em silêncio por uns instantes e diz:– A janela! Você está se lembrando do seu quarto quando você era bebê.

Seu berço ficava de frente para a janela e se podia ver o céu e um pedaço do muro! Você passava horas, tranquilo, apenas olhando para aquela janela... olhando para o céu.

Senti uma sensação estranha ao ouvir aquilo. “Será que, se eu fizer força suficiente, consigo me lembrar de coisas ainda mais antigas? Talvez até de antes do nascimento?” Tentei um pouco mais, mas nada parecia fazer sentido. Talvez necessitasse de maior concentração, ou “autorização especial”, para isso.

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Este livro possui 560 páginas de emoção, aventu-ra, fatos inéditos, bastidores, reflexões e fotos distri-buídas em oito partes:

I. Raízes de um sonhoII. A seleção de AstronautasIII. O curso de AstronautasIV. O Brasil será expulso da ISS?V. O treinamento na RússiaVI. A preparação no CazaquistãoVII. Entre a Terra e as estrelasVII. Críticas, resultados e impactos da missão

Anexo 1 - A Estação Espacial InternacionalAnexo 2 - Os experimentos brasileirosAnexo 3 - Entrevistas Ministro Sérgio Rezende Deputado Sérgio Gaudenzi Presidente da Agência Espacial Carlos Ganem Ten. Brigadeiro do Ar Ségio Bambini Maj. Brigadeiro do Ar Telles Ribeiro Professores Cientistas Jornalistas Estudantes

Leia a seguir um trecho da Parte VII sobre o voo espacial...

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PARTEVII

ENTRE A TERRA E AS ESTRELAS

O dia em que a bandeira do Brasil chegou ao espaço pela primeira vez

nas mãos de um brasileiro

“Siga confiante na direção dos seus sonhos. Viva a vida que você imaginou.”

Henry David Thoreau

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Entre a Terra e as estrelas

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Capítulo 58Em poucos minutos, o dia virou noite. Ainda eram 5 horas da

tarde, mas o eclipse solar transformou todas as cores do Cazaquistão em tons de sépia e cinza. Pensativo, eu observava a variação de cenário pela janela do meu quarto; olhos perdidos no horizonte empoeirado e monótono do deserto.

Batidas na porta do quarto. Meu coração disparou. Corri para atender. Eram apenas Jeff e Pavel: – Marcos, venha ver, está quase completo!

Minha cabeça estava em outro lugar. Era 29 de março, véspera da nossa decolagem para o espaço, mas o que ocupava, realmente, meus pensamentos naquele instante era o esperado encontro com minha família. Fátima, Fábio e Ana foram para o Cazaquistão para assistir ao lançamento.

Devido ao treinamento na Rússia, eu não os via há muito tempo. Assim, a coordenação da missão agendou um encontro, segundo eles, uma “despedi-da”, que ocorreria entre cinco e cinco e meia naquele dia. Apenas meia hora para vê-los, e eles estavam atrasados. “O que vou dizer? Será que estão prepa-rados para as possibilidades? Como abordar isso? Melhor não. O que vou dizer?”

– Vamos lá, Marcos! Você vai acabar perdendo a chance de ver isso! – Pa-vel insistiu. É bem provável que tenha notado minha tensão e procurava uma maneira de me distrair.

– OK. Vamos! Enquanto observava o fenômeno projetado em uma tela improvisada no

outro quarto, minha atenção estava na porta aberta para o corredor. Alguém deveria avisar quando eles chegassem. De fato, alguns instantes depois, uma enfermeira anunciou:

– Marcos, sua família o aguarda ao lado da sala de imprensa.Saí rapidamente pelo corredor em direção às escadas. Estávamos no pri-

meiro andar. Desci saltando os degraus. Na pressa, esqueci no meu quarto a carta que pretendia dar a eles, para que abrissem apenas depois do lançamen-to. Entrei na sala e logo depois a enfermeira chegou, posicionando-se à porta e observando o relógio com frequência.

– Pai, como você está magro – observou Ana.– Isso é normal nessa fase final de preparação. Em voo perderemos ainda

mais peso. Depois do pouso eu voltarei ao normal... E vocês? Como estão? Estão bem hospedados? Alguém estará acompanhando vocês amanhã para o lançamento?

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– Nós estamos bem – disse Fátima. – Os russos estão dando todo o apoio. O pessoal da AEB também está no mesmo hotel e Lutiis se encontrou com a gente hoje pela manhã. Ele ficará conosco durante o lançamento.

Aquilo me deu certa tranquilidade. Pelo menos estavam com um velho conhecido, e médico, em caso de algo não funcionar como deveria no dia seguinte. As imagens dos familiares em choque durante a explosão do ôni-bus espacial Challenger, em 1986, foram repetidas inúmeras vezes em minha mente, enquanto aguardava aquela visita, olhando pela janela do quarto.

– Pintei esse quadro, em comemoração à missão – disse Ana.– Puxa! Obrigado! Você está cada vez melhor nas artes!

– Não precisa ficar com ele agora – ela continuou. – Eu guardo e entre-go quando você voltar. Trouxe apenas para você ver.

– Tá certo. Ficou muito legal!E a conversa continuou assim, em

assuntos gerais, sem abordar assuntos muitos específicos do voo e seus ris-

cos, com um frio de despedida no estômago, um nó na garganta e uma grande saudade antecipada.

Fábio, como é típico do seu jeito, não falou muito. Ficou sentado na mi-nha frente, e seus olhos expressaram o que ele tinha a dizer. A situação era difícil. Ao mesmo tempo, eu queria que aqueles 30 minutos durassem um segundo e, ao mesmo tempo, uma eternidade.

A enfermeira avisou: – Marcos, o tempo acabou. Precisamos começar a preparação.Olhei bem para os olhos de cada um deles, Fátima, Fábio e Ana. Tínha-

mos, todos, uma lágrima represada. Um abraço apertado, demorado, sentido. As lágrimas se soltaram.

– Até a volta! – eu disse. – Fiquem com Deus. Nunca se esqueçam Dele, em nenhum momento da vida. Tudo tem uma razão de ser. Nunca deixem de acreditar que os planos Dele são sempre os melhores.

– Pai, vá em paz e realize o nosso sonho. Nós amamos você.Saímos da sala e eles partiram pelo corredor do hospital acompanhados

pela enfermeira. Enquanto caminhavam, fiquei ali, parado na escada, obser-vando... “Deus, cuide bem deles. Permita que sejam muito felizes, sempre!”

Hora de cumprir a missão; empunhar as armas e o escudo; tocar a terra, olhar para o céu, para o horizonte, e seguir o destino.

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Entre a Terra e as estrelas

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Capítulo 59– O plano é o seguinte: agora vamos jantar, depois dormir até 11

horas, acordar e começar o protocolo de preparação para a decolagem – disse Pavel. – Alguma dúvida?

Ninguém tinha dúvidas naquele momento. Depois de todo o treinamen-to, sabíamos bem como fazer e o que fazer a cada minuto de envolvimento na missão.

O jantar foi leve, assim como as conversas entre os membros das duas tri-pulações juntas à mesa, nós e os backups, Sergei Volkov, Michael Fincke and Fyodor Yurchikhin. Diferente do que ocorria no Cazaquistão, em todos os dias dessa fase final, naquela noite, após o jantar, não teríamos o treinamento fisiológico (entenda-se cadeira giratória e cama inclinada).

Saímos do refeitório diretamente para os quartos. No caminho, o médico do centro fez as pesagens finais e eu fui o último.

– Marcos, que coisa estranha, você está pesando 75,2 quilos. Deixe-me ver de novo. Saia da balança para eu checar se está zerada.

Saí da balança e perguntei: – Quanto estava ontem? – Estava 76,5 quilos. E isso estava de acordo com a sequência de medidas

diárias. Ou seja, ontem você estava mesmo com 76,5 quilos. Agora, como é que, de ontem para hoje, sumiu 1,3 quilo?... Humm... É, está zerada e as condições de pesagem são as mesmas. Suba aí de novo.

Subi na balança novamente. O peso se repetiu: 75,2 quilos.– Estranho – disse o médico. – Mas é isso mesmo. De alguma forma, você

perdeu 1,3 quilo em um dia. Fez alguma coisa diferente?– Não, nada. Quero dizer... Sabe o que é? É que pedi para um dos meus

anjos da guarda ficar de plantão aqui na Terra – disse, brincando sobre aquela medida “misteriosa”.

O médico sorriu, anotou o valor, e eu segui para a sala dos computadores no terceiro piso. Queria dar uma olhada nos e-mails pela última vez “na Terra” antes de dormir. Aliás, ainda nem eram 7 horas da noite e eu não sentia sono algum.

Conectei minha conta do correio eletrônico e procurei por mensagens de familiares e conhecidos entre os milhares de e-mails recebidos naquele dia.

No período que antecedeu ao voo, a média que eu recebia era de sete mil por dia.

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A visitação na minha página pessoal (www.marcospontes.com.br) era tanta que o servidor teve que expandir o limite de transferência várias vezes, para evitar que a webpage entrasse em colapso.

Entre as mensagens positivas de brasileiros que amam o nosso país, é cla-ro que havia algumas poucas negativas, de críticos anônimos, falando que a missão era um desperdício, que eu seria candidato a senador, que eu era um aproveitador e outras coisas sem o menor cabimento. É triste, mas essas coisas existem. Já eram subprodutos do sucesso que eu ainda nem tinha obtido na missão.

Em todo caso, todos nós sabemos que “críticas” desse tipo são expressões da covardia. Concebidas na imaginação, elas são feitas de opinião, medo e palavras escritas no conforto de uma sala e, na maioria das vezes, na segurança do anonimato. Grandes conquistas, por outro lado, são expressões da coragem na vida real. São feitas de fatos, suor e sacrifício no “campo de batalha”. E era isso que eu tinha em minha frente – uma grande conquista!

Achei um e-mail da Chris. Ela comentava que no Brasil a expectativa para o lançamento era enorme. Estava um alvoroço. Naquela noite, todos os seus amigos iriam se reunir em São Paulo para assistir ao evento ao vivo, projetado em um telão instalado em um restaurante. “Que legal!”, pensei. “Eu queria estar com o pessoal. Ops! Mas hoje EU sou o evento! Humm... engraçada essa sen-sação”. Sorri e continuei divagando: “Eu queria mesmo é ver uma bandeira em cada casa. Seria bom se todos tivessem orgulho do nosso país e fizessem a sua parte.”

Vale ressaltar que havia uma diferença de nove horas entre o horário do Cazaquistão e do Brasil. Isto é, 7 horas da noite no Cazaquistão correspondia a 10 horas da manhã em São Paulo. Portanto, minha decolagem, prevista para acontecer às 8 horas da manhã do dia 30 de março, no Cazaquistão, ocorreria às 11 horas da noite do dia 29 de março, no Brasil.

Com um “bip” do sistema, voltei à realidade olhando para a tela do com-putador. Respondi à mensagem da Chris e de algumas outras pessoas. Estava ficando “tarde”. “Preciso tentar dormir algumas horas. A madrugada será inten-sa.”

Voltei para meu quarto, apaguei as luzes e deitei. Virei de um lado para outro por longos 15 minutos. Não havia como dormir. Levantei, acendi a luz de cabeceira, peguei meu gravador digital, que estava sobre o criado-mudo, e gravei algumas mensagens para familiares, amigos e para a Força Aérea. Que-ria deixar aquele momento registrado, falar do que eu sentia; precisava com-partilhar a emoção que havia dentro de mim. Depois disso, deitei e adormeci tranquilo... por pouco tempo. Uma “surpresa desagradável”, não mencionada no treinamento, ainda me aguardava naquela noite.

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Capítulo 60Eram exatamente 11 horas da noite quando um dos médicos

me acordou.– Marcos! Marcos! Está na hora. Precisamos começar o protocolo.Acordei, ainda tentando entender o que estava acontecendo. Acho que

estava entrando naquele momento de sono profundo.– Protocolo? Sim, o protocolo. OK! Vou me preparar.– Levante-se e vá ao banheiro. A primeira coisa que temos a fazer é uma

lavagem intestinal.– Lavagem intestinal. Isso é necessário?– Não é obrigatório, mas todos fazem. São dois dias na Soyuz antes de

chegar à ISS e você sabe como as condições do “banheiro” do veículo são precárias.

Aquele procedimento “não previsto” era bastante desagradável. É óbvio que eu não gostava nem um pouco da ideia. Contudo, conhecendo bem o sistema do veículo, tinha que admitir que seria uma boa solução. De fato, eu já havia decidido que só usaria o sistema de coleta de dejetos da Soyuz para urinar (“número 2”, só quando chegasse na ISS). A lavagem intestinal certa-mente ajudaria nesse plano.

– Humm... tá certo. Vamos fazer. Então, mesmo contrariado, aquele foi o primeiro procedimento da prepa-

ração. Que desagradável!Depois da lavagem intestinal e um bom banho, tivemos uma reunião no

quarto de Pavel. Era um momento informal, mas revestido de tom solene – uma das muitas tradições que precedem a um lançamento russo. Além das duas tripulações, lá estavam todos os médicos e instrutores envolvidos na fase final da preparação no Cazaquistão.

Foi um momento de agradecimentos, brindes e desejos de boa sorte. Re-cebemos presentes, autografamos fotos, fizemos discursos e, justamente no meio da minha fala, eis que chega a cosmonauta Valentina Tereshkova. Por alguns instantes, fiquei sem fala, literalmente! Ela estava ali! “Eu não acredito! É ela mesma?”

A primeira mulher do Planeta Terra a ir ao espaço, amiga de Yuri Gagarin, ex-mulher do famoso cosmonauta Andrian Nikolayev, política importante da antiga União Soviética, estava ali, em pessoa, na minha frente!

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Nascida em 6 de março de 1937, Valentina decolou em 16 de junho de 1963 (ano em que nasci), a bordo da espaçonave Vostok 6, e realizou 48 órbitas, totalizando 70 horas e 50 mi-nutos no espaço. Quando ela entrou no quarto, todos nós, que sabemos bem o que signifi-cam suas realizações, prestamos

respeito àquela bonita senhora de pequena compleição e enormes feitos na vida. De modo geral, astronautas e cosmonautas são muito prestigiados nos países mais desenvolvidos. Mas, muito além disso, Valentina Tereshkova é um ícone da história da humanidade.

Minha surpresa foi ainda maior (e melhor) quando ela se dirigiu a mim, apertou minha mão e disse:

– Parabéns! Que você tenha um ótimo voo. Você é o primeiro cosmonauta de uma grande nação, um país que admiro muito, o Brasil. Eu não poderia deixar de vir aqui e cumprimentá-lo.

Aquele foi um momento muito especial para mim. A reunião foi curta. Terminou em menos de 30 minutos. Cada um foi

para o seu quarto para continuar os procedimentos de preparação. Fui ins-truído a tomar um banho detalhado com sabão e xampu fornecidos espe-cialmente para aquela atividade. Depois, ainda molhado, passei um tipo de “gel desinfetante” no corpo todo. O produto transparente evaporava muito rápido. Parecia álcool em gel, mas o cheiro era diferente. A partir daquele momento, nossos contatos físicos, como apertos de mão, abraços e beijos, ficaram restritos.

Coloquei o macacão higienizado e me juntei ao grupo que já aguardava no corredor do hospital. Antes de sairmos dali, assinamos as portas dos res-pectivos quartos.

– Você sabe se isso sempre é feito assim? – perguntei a Jeff.Ele respondeu, cochichando ao meu ouvido, que aquela era uma tradição

que iniciou na época de Gagarin e que, com certeza, não seria a última da-quela noite.

Portas autografadas, prosseguimos para a saída principal do prédio. Mas o caminho não seria sem paradas.

Um grupo bem diferente nos aguardava no hall das escadas: sacerdotes da Igreja Ortodoxa Russa.

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Vestidos em trajes negros tradicio-nais, que destacavam os grandes crucifi-xos pendurados ao pescoço e suas barbas compridas, eles nos benzeram com água benta e fizeram orações das quais, mesmo confiante no meu “russo ainda jovem”, não entendi sequer uma palavra. Per-guntei discretamente a um dos médicos presentes: – O que estão dizendo? Não consigo entender nada. É russo?

– As preces são de boa sorte e sucesso na jornada que se inicia. Eu também não consigo entender tudo o que dizem. Estão orando em russo antigo.

De qualquer forma, muito além das palavras, acredito que a cerimônia expressava o desejo sincero de todas aquelas pessoas que tanto nos ajudaram a nos preparar bem para a missão. “Sucesso na jornada” – tenho certeza que era isso o que pensavam, principalmente quando nos colocavam sob os mais terríveis testes e condições, pois sabiam que cada uma daquelas dificuldades era parte essencial do nosso desenvolvimento operacional. Foram médicos, enfermeiros, instrutores, engenheiros, técnicos, tradutores e tantos outros membros da equipe de preparação; do servente de serviços gerais (como o seu Vergílio) no Profilactori até o diretor do centro. Foram centenas de profissio-nais dedicados que ajudaram a pavimentar o nosso caminho branco para o espaço na Cidade das Estrelas e no Cazaquistão. São pessoas pelas quais sen-tirei eterna gratidão. Depois da benção, seguimos em procissão para fora do prédio; os sacerdotes iam à frente, levando uma grande cruz de metal.

Era uma situação bem diferente da que eu havia sonhado tantas vezes depois de acompanhar as tripulações que deixavam o alojamento no Kennedy Space Center para os procedimentos de lançamento. Ali, ao caminhar naquele cortejo, tudo parecia “surreal”, e eu sentia dificuldades em acreditar que aquilo estava de fato acontecendo, que eu estava a caminho de uma espaçonave para realizar, depois de tantas dificuldades, a tão esperada missão espacial.

Do lado de fora do prédio havia uma multidão de pessoas e máqui-nas fotográficas. Fazia frio.

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Nosso grupo passou em di-reção ao ônibus; apressado pelos médicos que estavam preocupa-dos com qualquer chance de con-taminação.

Pela janela do ônibus, pro-curava por rostos conhecidos na multidão. Encontrei alguns. Fi-quei feliz. Acenei com a mão.

Encontrei também uma ban-deira do Brasil agitada em meio a toda aquela gente. Fiquei ainda mais feliz. Acenei com o coração.

O ônibus partiu para o laboratório de preparação e teste dos trajes de lançamento, o Sokol. Eram vários quilômetros por uma estrada pouco ilumi-nada no meio do deserto. Já havíamos feito aquele caminho no treinamento das últimas semanas, mas naquela madrugada tudo tinha um toque especial. Até a distância parecia maior, permitindo que saboreássemos cada minuto do evento. Sergei quebrou nosso silêncio contemplativo:

– Precisamos registrar isso. Onde estão as máquinas fotográficas? Depois de várias fotos, o médico infectologista, que coordenava grande

parte do protocolo de preparação, pediu a atenção de todos e disse que tinha uma surpresa para nós. O sistema de vídeo do veículo foi ativado e assistimos às mensagens gravadas pela mulher e pela filha de Pavel. Depois foi a vez da família de Jeff falar. Finalmente, chegou a minha vez. Eu estava ansioso. Era uma mensagem gravada pelo presidente da AEB. Gostei, é claro; mas confesso que ficou a vontade de ouvir alguma coisa dos meus familiares também.

Chegamos ao laboratório no horário previsto e seguimos para a sala onde ficavam nossas cabines de preparação. Porém, antes de instalar os sensores de batimento cardíaco e colocar as roupas de baixo do Sokol (fralda e macacão

de malha), eu precisava fazer algo es-sencial: fui ao banheiro e eliminei até a última gota da bexiga. Todos fizeram o mesmo!

Os médicos instalaram os sensores e fizeram os últimos exames antes da decolagem. Testes simples, como ob-servação do ouvido, pressão sanguínea e um eletrocardiograma para verifica-ção do sistema.

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Nesse instante, perguntaram se eu queria tomar o medicamento previsto para reduzir a sensação de náuseas, comum para a maioria dos astronautas, novatos e veteranos, no início da adaptação fisiológica ao espaço.

Eu disse que preferia não tomar. – Você tem certeza? – Tenho. Nunca passei mal em nenhum voo, mesmo como piloto de pro-

vas, nos parafusos invertidos durante testes de aeronaves. Tenho boa resistên-cia e não gosto de tomar remédios.

– A maioria usa esse medicamento. – Eu não quero... Olha, vamos fazer o seguinte: eu levo comigo, no bolso

do macacão. Se sentir qualquer coisa, eu uso.– OK! Aqui está. Tem um injetável e dois supositórios.– Sem problemas. Obrigado.Tudo resolvido, começamos a vestir o Sokol. Um cosmonauta por vez,

sempre acompanhado de perto pelos técnicos especialistas no traje. Primeiro foi Pavel. Eu já tinha colocado e tirado aquele macacão centenas de vezes durante o treinamento. Mesmo assim, observava com atenção o que estavam fazendo, procurando relembrar os pontos importantes do procedimento. Eu tinha que fazer de forma perfeita. Na minha vez, tudo ocorreu como o previs-to. O traje entrou como uma luva. A função do Sokol é proteger o tripulante no caso de despressurização da cápsula e em evento de fogo e, por essa razão, sua camada externa é de tecido anti-inflamável. Na superfície da Terra, vive-mos em uma atmosfera composta principalmente de oxigênio e nitrogênio. Precisamos de oxigênio para viver e os fluidos e sistemas do nosso corpo são adaptados para uma pressão atmosférica de aproximadamente 760 mmHg. À medida que subimos, a pressão atmosférica diminui (fica mais rarefeita). Nos-so corpo consegue compensar a baixa pressão parcial de oxigênio até altitudes em torno de 16 mil pés. Para voos acima dessas altitudes, precisamos usar máscaras de oxigênio ou estarmos em aviões com cabine pressurizada. Por exemplo, grandes aeronaves comerciais são pressurizadas e voam acima de 35 mil pés; já nos jatos militares de caça, que são semipressurizados pelo risco da despressurização explosiva no caso de serem atingidos por um tiro, são usadas máscaras de oxigênio. As máscaras resolvem o problema da respiração, mas quando se atinge a altitude de 62 mil pés, a pressão atmosférica é de apenas 47 mmHg, que corresponde à pressão na qual a água entraria em ebulição na temperatura do corpo (37 graus centígrados). Portanto, para evitar que os fluidos do nosso corpo sejam alterados (“fervam”), para voos acima de 50 mil pés, nossos macacões e os trajes de atividades extraveiculares (EMU e Orlan), usados para trabalhos externos nos veículos no espaço, são pressurizados.

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O interior da cápsula Soyuz é pressurizado com oxigênio puro. Contudo, durante as operações do veículo, existe o risco de despressurização, em especial na decolagem, nas operações de acoplamento no espaço, no desacoplamento e na reentrada, o que seria fatal. Portanto, antes de começar quaisquer dessas fases, colocamos o Sokol, que é pressurizável. Em seu interior, há uma camada emborrachada interna capaz de evitar vazamento do oxigênio bombeado pelo veículo. Assim, é importante que o fechamento e a vedação dessa camada se-jam muito bem feitos quando o vestimos. Além disso, existe um procedimen-to de teste que sempre é realizado: depois de estarmos vestidos por completo, com luvas e capacete fechado, o traje é conectado ao sistema de pressurização (no laboratório ou na cápsula), a válvula reguladora é ajustada para levá-lo até a pressão nominal e é observada qualquer queda de pressão (o que indicaria vazamento) no manômetro localizado no braço esquerdo do equipamento. Se houver um vazamento, deve-se verificar o travamento da viseira do capacete, das luvas e da camada interna emborrachada, que é vedada da maneira mais simples possível: com três elásticos fortemente enrolados ao redor do excesso do tecido interno da abertura de entrada, que fica na barriga do traje. É admi-rável a criatividade das soluções usadas nos eficientes sistemas russos! Quando terminamos de vestir nossos trajes, caminhamos juntos para uma sala, onde havia muita gente, mas do outro lado do vidro protetor.

Minha família estava lá. Fomos recebidos com grande aplauso. Sentindo--me como um peixe no aquário, sentamos para nossa última entrevista antes da decolagem. A tripulação reserva nos acompanhou durante todo o processo,

mas não vestiram os trajes. É interessante ressaltar o sentimen-

to de companheirismo que existe entre todos os astronautas e cosmonautas. Al-guém poderia pensar que o reserva iria “torcer” para algo não funcionar para que, assim, ele tivesse a chance de voar. Isso não acontece. Os reservas são ami-gos que conhecem tudo sobre a missão

e nos dão muita força, ajudam a vencer as dificuldades a cada passo do ca-minho. Embora minha missão fosse a mais curta, a maioria das perguntas da entrevista foi dirigida a mim. É natural que, por ser o primeiro astronauta de um país, são geradas curiosidades em torno da história de vida, das atividades do dia a dia e das expectativas pessoais e profissionais. Enquanto respondia às perguntas da imprensa internacional, já vestido para a decolagem, pensava como estariam se sentindo meu pai e meus irmãos lá na minha querida Bauru.

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Lembrei-me de cada pessoa que torceu e lutou para que a missão aconte-cesse; para ver o verde e o amarelo no espaço. “Como eles estarão agora? Orgu-lhosos, felizes, satisfeitos? Ah, se eu pudesse abraçar cada um deles agora.”

Depois da entrevista, completamos o fechamento dos trajes (luvas e viseira do capacete) e, um a um, realizamos o teste de pressurização. “Tudo pronto agora”, pensei.

Colocamos as botas de borracha para proteção do traje, ligamos nosso sistema de ventilação individual portátil e saímos do prédio.

Tínhamos que participar da cerimônia oficial de lançamento, antes de embarcar no ônibus que nos levaria para a espaçonave.

A banda tocava uma marcha militar e uma multidão nos aguardava. Caminhamos entre cordões de isolamento. Eram muitos flashes, assovios,

palmas, desejos de boa sorte, gritos, muitas vozes.

Entre tantas pessoas, vi Fátima e as crianças. Estavam felizes, sor-ridentes, com os olhos cheios de lágrimas. Acenei e me esforcei para engolir o nó na garganta.

Foi a última vez que os vi antes da missão.

Também vi minha amiga Anousheh, que ainda treinava como reserva da missão de setembro (a próxima missão). Ela tinha uma máquina fotográfica na mão, um largo sorriso no rosto e os olhos brilhantes de felicidade e emoção.

Olhei diretamente para ela e, sem emitir nenhum som, apenas movimen-tando os lábios, disse para ela:

– Você estará no próximo voo.Não sei porque disse aquilo. Mas foi o que veio, e de forma muito clara,

em minha mente no momento que a vi. Não sei se ela entendeu minhas “palavras sem som”; apenas sorriu mais

ainda. Lado a lado, Pavel, Jeff e eu assumimos nossa posição na solenidade e

fizemos a apresentação formal, no estilo militar, aos diretores do programa:– Tripulação da Soyuz TMA-8 pronta para realizar a missão! – disse Pavel.– Tripulação da Soyuz TMA-8 autorizada a assumir a missão. Que vocês

tenham sucesso!Mais uma vez entramos no ônibus, agora nos trajes espaciais. O trajeto do laboratório para o foguete seria uma viagem com uma parada

na tradição aeroespacial.

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Capítulo 61É muito difícil descrever o que eu senti ao ver, mesmo à distân-

cia, aquele foguete pronto para a decolagem. Ainda não havia amanhecido. Nuvens brancas de vapor estavam ao redor de toda a estrutura. As luzes dos holofotes que iluminavam o veículo destacavam o movimento dos vapores

e transformavam o cenário em um trecho de sonho; um sonho entre as nuvens, como aqueles que eu tinha quando menino.

Agora tudo aquilo era parte da realidade e, à me-dida que o ônibus pros-seguia por aquela estrada escura, eu me aproximava cada vez mais da realização.

De repente, o ônibus parou. E ainda estávamos distantes da área de lançamento.

– OK, pessoal! Vamos descer e cumprir a tradição – disse Pavel, já cami-nhando em direção à porta. – Deixem os ventiladores aí e me acompanhem.

“Que estranho! O que será isso?”Fora do ônibus, Pavel e Jeff começaram a abrir os zíperes e desfazer a ve-

dação dos seus trajes. O médico notou minha cara de interrogação e disse:– Vá em frente. Essa é uma tradição que vem dos tempos de Gagarin. É a

sua última chance esvaziar a bexiga antes de entrar no foguete. E lá fui eu, cumprir a tradição, diga-se de passagem, muito bem-vinda

naquela hora. Enquanto urinava na roda do ônibus, podia ver o foguete iluminado, ago-

ra não muito distante, soltando “vapor pelas ventas”, como um dragão da mitologia pronto para encarar a batalha.

Mais uma vez, a situação, como um todo, parecia algo completamente fora da realidade. “Será que estou sonhando? Humm... estou fazendo xixi. Será que vou acordar todo molhado?”

Eu pensava naquilo e ria sozinho.

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Já recompostos nos trajes e em dia com a tradição, prosseguimos a jornada. Ao che-garmos na plataforma de lançamento, pude admirar de perto a beleza e o tamanho do veículo.

Pessoas ainda caminhavam pela estrutura de suporte verde e amarelo (não poderia dei-xar de ressaltar esse ponto!) trabalhando nos últimos detalhes para a ativação dos sistemas.

Derivado de mísseis intercontinentais R-7, a Soyuz está em operação desde a dé-cada de 1960. São aproximadamente 49 metros de altura e mais de 300 toneladas de estrutura, carga e combustível líquido.

É uma visão impressionante. Ainda mais quando você está prestes a entrar em uma espaçonave no topo do monstro! Um pen-samento surgiu em minha mente: “Nunca vi uma decolagem da Soyuz pessoalmente. Na minha primeira oportunidade, estarei den-tro dela.” Aquilo era estranho. Na verdade, aquela ainda continua sendo a única decola-gem da Soyuz que pude “assistir” em pessoa.

Na caminhada final para a escada metá-lica que nos levaria do elevador até a cápsu-la, seríamos acompanhados por autoridades; uma para cada membro da tripulação. No meu caso foi diferente. Comecei a caminha-da acompanhado pelo presidente da empresa ENERGIA, mas Valentina Tereshkova logo assumiu o seu lugar e me levou até o foguete. Fiquei extremamente honrado!

Subimos os degraus com cuidado para não tropeçar com nossas botas de borracha. No topo da escada, paramos para o último aceno. Meu coração batia forte. A satisfação era enorme: “Sim! Conseguimos!”

Mas ainda havia muitas emoções a serem vividas naquele dia.

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Capítulo 62O elevador apertado parou no “último andar” com um solavan-

co. Aberto, na minha frente, estava o hatch (escotilha) de entrada da espaço-nave.

Dei alguns passos em sua direção, desconectei o ventilador do traje, re-tirei as botas de proteção e entrei no veículo, conforme o treinamento. Um dos técnicos de suporte recolheu as botas, o ventilador e me ajudou a entrar. A escotilha dá acesso ao interior do B.O., que é o módulo de habitação da espaçonave. O volume é pequeno, apenas cinco metros cúbicos. Ali estavam, todos embalados e amarrados, os experimentos a serem levados para a ISS, incluindo os oito de instituições de pesquisas brasileiras, roupas extras, água, comida para os dois dias de viagem até o encontro com a estação, assim como vários dos sistemas do veículo, principalmente os associados à manutenção de vida, como pressurização e banheiro.

O diâmetro interno é pequeno, pouco mais de dois metros. Um dos expe-rimentos da Agência Espacial Europeia (ESA) dominava o cenário, ocupando toda a área do “divã” (um tipo de assento fixado na parede do módulo).

Uma vez no B.O., o próximo passo era passar pela escotilha de transfe-rência e ocupar meu assento na cápsula. Essa passagem é bastante estreita (80 centímetros de diâmetro). Com todo o equipamento extra fixado na parede da cápsula, atrás das cadeiras, vestido com o Sokol, e tendo que tomar ex-tremo cuidado para não danificar nenhum sistema, a escotilha fica “muito” apertada. A dica é fazer cada movimento de forma calma, lenta e coordenada. Pensar antes de agir. Eu seria o primeiro a entrar.

Com cautela, sentei no beiral da escotilha, voltado para a parte de trás da cápsula (contrária aos painéis), apoiei as duas mãos nas laterais e me pendurei no centro da abertura. Fui deixando o corpo descer gradualmente (condicio-nar os tríceps em barras paralelas ajuda a fazer esse movimento). Continuei até que meus pés tocaram o assento central da cápsula, o do comandante. Depois, protegendo os equipamentos da parte frontal do traje, virei o corpo de modo a ficar de frente para o painel de controle. É um movimento difícil em razão da protuberância que existe na parte de cima do hatch. Nessa nova posição, mais uma vez fui descendo o corpo bem devagar, alterando a posição das mãos, mas sempre segurando no beiral da escotilha, até conseguir ficar agachado e sentar na cadeira central da cápsula.

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Quando sentei na cadeira do comandante, respirei aliviado. O Sokol pos-sui válvulas, conexões e mangueiras instaladas em sua parte frontal. Já na parte de trás, o maior cuidado deve ser com a viseira recolhida do capacete, que fica atrás da cabeça. Toda essa técnica cuidadosa para a entrada é justificada para evitar danos ao equipamento do traje e da espaçonave.

Já dentro da cápsula, agora só faltava “arrastar” meu corpo para o meu lugar na cabine de comando, o da direita. Antes, verifiquei o estado do meu assento e posicionei os cintos adequadamente; então, eu me desloquei para o lado, movendo os pés, depois as pernas e, então, o tronco que se encaixou perfeitamente na estrutura feita sob medida.

Assim que cheguei ao meu assento, olhei para o painel e vi Fátima e as crianças sorrindo para mim. A foto ainda estava lá. Depois, conectei as man-gueiras e os cabos de comunicação do meu Sokol e liguei a ventilação do meu traje. O ar circulou dentro da roupa: “Ah... que alívio!” Sem os ventiladores conectados aos trajes, e com todo o esforço físico da entrada na cápsula, a temperatura dentro daquele macacão “vai para o espaço” antes de nós.

Mais confortável, agora era preciso fazer a amarração, isto é, afivelar e ajustar todos os cintos que nos prendem firmemente ao assento. Antes, po-rém, puxei a parte de trás do meu traje, evitando que ficasse qualquer dobra de tecido nas costas, o que se tornaria muito incômodo e dolorido depois de horas de espera deitado antes e depois da decolagem, ainda com o agravante do aumento da aceleração da subida.

Embora o interior da Soyuz fosse pequeno, ainda mais com todo o equipa-mento preso às suas paredes internas, eu me sentia muito à vontade amarrado ao meu assento. Uma pessoa sem treinamento talvez se sentisse claustrofóbica. Para mim, entretanto, aquele pequeno espaço era muito reconfortante. Sou um piloto e ali estava eu, no “meu mundo”, longe de todas as fotos, perguntas, conflitos, políticas e pressões. Era eu, a máquina e a missão apenas.

Passei as mãos sobre o revestimento do meu lado da cápsula. É como se pudesse “falar” com aquele dragão poderoso chamado “união” (Soyuz signifi-ca união). Agora éramos um só ser, e logo partiríamos dali; iríamos cumprir o nosso destino e alçar os ares.

Jeff colocou a cabeça na escotilha de transferência e perguntou:– Marcos! Tudo tranquilo? Posso descer?– Vá em frente! Por aqui, tudo normal – respondi.Logo em seguida vi suas pernas balançando pela escotilha da cápsula. Du-

rante sua entrada, procurei ajudá-lo, monitorando qualquer interferência do seu traje com os equipamentos da espaçonave, e evitando que ele sentasse sobre as mangueiras de pressurização do seu macacão.

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Ao chegar a seu assento, o da esquer-da, depois de realizar os mesmos movi-mentos que fiz durante minha entrada, ele também estava suado, vermelho e res-pirando rapidamente.

– Jeff, conecte sua mangueira de ven-tilação que eu aciono o sistema – disse, tentando aliviar o seu desconforto.

Assim que o ar fluiu pelo macacão, pude ver a satisfação em seu rosto.– Obrigado, Marcos!Logo em seguida veio Pavel, executando quase o mesmo procedimento –

antes de afivelar seus cintos e conectar-se ao sistema de refrigeração, ele se des-pediu do pessoal de suporte, agradeceu a ajuda, fechou a escotilha e pendurou seu “ursinho branco” de plástico no topo do painel. Pavel é natural de uma região da Rússia onde existem ursos brancos. Assim, ele adotou esse animal como mascote para a missão.

Ainda segurando o ursinho nas mãos e antes de se ajustar no assento, ele se virou para mim, sorriu timidamente e disse:

– Meu amiguinho aqui é para dar sorte.Depois, verificou os nossos cintos e conexões (meus e de Jeff) e completou

os seus procedimentos de entrada. Com os três devidamente amarrados e co-nectados em seus assentos, a grande aventura estava prestes a começar.

Capítulo 63Ainda faltava mais de duas horas para a decolagem. Em coorde-

nação com o controle de lançamento, executamos todos os procedimentos de acionamento e verificação dos sistemas de forma precisa e cadenciada. Tudo dentro do previsto. A atividade fez com que as duas horas “voassem”. O B.O. foi pressurizado com oxigênio. Realizamos todos os testes de vedação das es-cotilhas e dos trajes. Agora restavam alguns poucos testes sincronizados com o controle e aguardar...

Uma anomalia no teste do sistema de comunicação quebrou a tranquili-dade. “Será que teremos que adiar?” Pesquisamos a pane com ajuda do contro-le. Resolveram o problema por lá e tudo voltou ao normal, praticamente sem causar atraso na cronologia dos eventos para a contagem final.

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Os últimos minutos de espera foram longos e intensos.

Com o efeito de distorção temporal, é como se estivéssemos sob influência de uma enorme mas-sa, ou viajando próximos à velocidade da luz.

O tempo demora a passar. Ouço música clássica pelo sistema de comuni-

cação (cortesia do controle). Lembro-me dos lu-gares que vivi, as experiências que tive, as pessoas que conheci. As caminhadas com seu Vergílio, os conselhos de dona Zuleika, locomotivas, nuvens, uniformes, aviões, livros, minha esposa dizendo “sim”, o nascimento do meu filho, o sorriso da minha filha, o abraço dos amigos, toda uma vida, rapidamente, em flashes, imagens, vozes e saudades.

O coração bate forte. Uma mistura de realização, satisfação e ansiedade. Estou prestes a cumprir meu dever com meu país, de uma forma ou de outra.

Se tudo correr bem, eu levarei a bandeira do Brasil ao espaço, entregarei a mensagem a Garcia.

Se algo errado acontecer, ainda assim serei a inspiração para o sucesso de milhões de jovens brasileiros que não nasceram em “berço de ouro”. Pela edu-cação e determinação É POSSÍVEL!

Os sistemas se ajustam. Duzentas toneladas de combustível prontas para acender sob as nossas costas. O veículo balança. O dragão chacoalha as asas. Ruídos pelas estruturas.

Na cápsula, todo preso em posição “quase-fetal” durante a longa espera, já não consigo sentir meus pés. O formigamento nas pernas é um sintoma comum, talvez provocado pela circulação sanguínea restrita pelas costuras da

parte de trás do joelho do maca-cão na posição de decolagem.

De tempos em tempos, o medo mostra sua cara.

Ele é uma emoção natural e um velho companheiro de quem labuta nas carreiras operacionais de piloto de combate e astronau-ta.

Olho para a bandeira e penso: “Eu não estou sozinho!”

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Sobre o Autor

Marcos Pontes nasceu em Bauru, São Paulo, em 11 de março de 1963.

Começou a trabalhar aos 14 anos como eletricista aprendiz na Rede Ferroviária Federal para ajudar em casa e pagar pelos seus estudos.

Entrou na Força Aérea em 1981. Como militar, além de funções administrativas, foi instrutor, líder de esquadri-lha de caça e piloto de testes. Tem mais de 2 mil horas de voo em 25 tipos de aeronave, incluindo F-15 Eagle, F-16 Falcon, F-18 Hornet e MIG-29 Ful-crum. Possui mais de 20 anos de experiência em prevenção e investigação de acidentes aeronáuticos.

É engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáu-tica (ITA) e mestre em Engenharia de Sistemas pela Naval Postgraduate Scho-ol, Califórnia, Estados Unidos.

Suas funções militares foram encerradas em 1998, quando foi selecionado por concurso público, realizado pela Agência Espacial Brasileira, para repre-sentar o Brasil na NASA na função de astronauta, que é carreira civil.

Na NASA, o engenheiro Marcos Pontes trabalhou no gerenciamento de projetos, na verificação de softwares e procedimentos operacionais da Estação Espacial Internacional (ISS), na atualização dos painéis e displays dos ônibus espaciais, na investigação do acidente da espaçonave Columbia, no desenvol-vimento das interfaces de controle do Módulo da Acomodação da Centrífuga da ISS e no projeto e testes de integração do Módulo Laboratório Japonês (KIBO) da ISS, em Tsukuba, Japão.

Em março de 2006, Pontes realizou a primeira missão espacial tripulada da história do Brasil, a Missão Centenário: permaneceu no espaço por dez dias e tornou-se o primeiro astronauta brasileiro.

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Missão Cumprida

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Ele também é o primeiro astronauta profissional de nacionalidade única de um país do hemisfério sul.

Como astronauta especialista de missão, suas funções a bordo da Estação Espacial Internacional incluíam a montagem, manutenção e configuração de sistemas, além da execução de experimentos científicos do Brasil e de outros países participantes do programa.

Entre mais de 6 bilhões de habitantes da Terra, menos de 600 chegaram ao espaço.

Após a realização da Missão Centenário, a exemplo do que foi feito com seus companheiros internacionais de missão, Pontes foi dispensado com hon-ras do serviço ativo militar para dar continuidade às funções civis da carreira de astronauta em cargos de maior influência político-administrativa.

Na reserva militar, caso seja de interesse do Brasil, Marcos Pontes pode ser designado pelo Governo para assumir funções ou cargos na administração pública, incluindo no Programa Espacial ou na estrutura militar, como o Co-mando da Aeronáutica ou no Ministério da Defesa.

Atualmente Marcos Pontes:

• é astronauta da ativa, à disposição do Programa Espacial Brasileiro, em Houston, Texas, Estados Unidos, para a execução de voos espaciais e para eventuais contatos técnicos com outras agências espaciais e insti-tuições representadas na NASA Johnson Space Center;

• é professor e pesquisador convidado da Universidade de São Paulo, USP, em São Carlos, São Paulo;

• é presidente da MP Engenharia e Eventos;• é consultor e gerente de projetos;• é coach especialista em performance, treinamento e desenvolvimento

pessoal;• é palestrante e ministra treinamentos e cursos para empresas e institui-

ções no Brasil e no exterior;• é embaixador mundial do WorldSkills International para a promoção

da educação profissional;• é embaixador no Brasil da FIRST Foundation (For Inspiration and

Recognition of Science and Technology) para promoção da ciência e tecnolo-gia na educação;

• é presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes para a educação, ciência e tecnologia.

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Leia também o primeiro livro do

Astronauta Marcos Pontes

www.mchilliard.com.br

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Missão Cumprida

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É POSSÍVEL!Como Transformar Seus Sonhos Em Realidade.

Qual é o seu sonho?

Esse livro mudará a sua vida!

Ele o levará por uma jornada inesquecível.

Você viajará lado a lado com o primeiro astronauta brasileiro, o professor Marcos Pontes, através de todos os cenários e estágios da conquista do seu sonho.

Compartilhar ideias e caminhar para a realização pessoal acompanhado por um mentor com tamanha qualificação é um privilégio.

Além de sua inspiradora história de vida, cheia de desafios, superação e sucesso, Marcos Pontes usará toda a sua experiência como engenheiro e coach de desenvol-vimento pessoal para prepará-lo e conduzi-lo, passo a passo, desde a concepção da ideia, o planejamento e a execução das ações, até a realização do seu projeto de vida.

O Astronauta revelará seus segredos de sucesso por meio de lições preciosas sobre autoconhecimento, preparação pessoal, relacionamento, liderança e desenvolvimen-to profissional.

O texto, de leitura fácil e agradável, é recheado de exemplos reais da trajetória de conquistas do autor.

Concebido como uma combinação inteligente e completa de técnicas de auto-ajuda com a metodologia de gerenciamento de projetos, esse trabalho é singular e marcante na literatura de desenvolvimento pessoal.

Você terá em suas mãos um livro que é, ao mesmo tempo, motivador e prático.

É o complemento perfeito desta história que você acabou de ler.

Ele foi projetado para inspirar comportamentos de sucesso e ser operacional, isto é, apresentar procedimentos claros que dizem o que fazer, quando fazer e como fazer, servindo como uma excelente ferramenta de campo em todas as atividades.

Portanto, esse livro será de grande valia para empresários, executivos, gerentes, colaboradores, estudantes e todas as pessoas que visam realizar um objetivo definido e obter mais qualidade de vida, melhores relacionamentos, maior crescimento profis-sional e mais recursos financeiros.

Então, prepare-se! Despeça-se de tudo aquilo de que você não gosta em sua vida. Ao iniciar essa jor-

nada, ela nunca mais será a mesma.

Sim, você pode realizar todos os seus sonhos!

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1 Godspeed ...................................... 17Resumo Biográfico ...................................... 17Este livro mudará a sua vida ........................... 41A quem este livro se destina ........................... 45

2 As bases do sucesso ....................... 47Raízes e Influências na vida ............................ 47Gostar de si mesmo é essencial ........................ 52Princípios e valores ...................................... 55Sucesso e missão de vida ................................ 59

3 Proteja seus sonhos ......................... 65A importância de sonhar ............................... 65Tenha expectativa de sucesso, não de fracasso .... 79Conheça o processo de autoavaliação ................ 80A importância das palavras ............................. 82

4 Qual é o seu destino? ..................... 85Deixe o passado no passado .......................... 85Use o poder das necessidades ......................... 88Analise o mercado e faça escolhas inteligentes .... 90U SMART: Defina metas que funcionam ......... 96

5 Escolha o seu caminho .................. 99A importância do planejamento ..................... 99Sequência de planejamento ......................... 106Produtos do planejamento .......................... 118

6 Treinamento básico ............................. 119A importância do treinamento contínuo ....... 119A preparação do seu corpo .......................... 120A preparação emocional ............................. 129

7 Treinamento avançado ...............139O treinamento da mente ........................... 139A preparação espiritual .............................. 153

8 Caminhe sempre atento ..............161Os perigos da execução ............................. 161Indecisão, decepções e medo ...................... 162Procrastinação… ...................................... 173

9 Mãos à obra! ................................179A arte da execução .................................... 179Assuma 100% de responsabilidade ............... 179Autodisciplina: sim, você pode ter! ............... 182Trabalho em equipe e liderança .................... 192

10 No topo da execução ................199O gerenciamento de atividades .................... 199Por que gerenciar atividades? ....................... 201Conceitos básicos do gerenciamento ............. 205Um método de gerenciamento de atividades ... 208Como lidar com prioridades ....................... 213Dicas para ser mais eficiente ........................ 215O que fazer durante crises? ......................... 216Comemore cada meta alcançada .................. 217

11 Avalie seu progresso ..................219Caminhando com meu pai ......................... 219Vença o medo da avaliação ......................... 220A importância da avaliação ........................ 222Use conceitos da aviação no seu projeto ......... 223Como é um processo de avaliação e controle? .. 227

A lei da correspondência ...............................229A etapa de preparação ...................................231A etapa de avaliação ....................................239

12 Corrija a navegação .................. 247Como manter a posição na ala .......................247Analise as informações coletadas .....................248Discuta os resultados da análise das medidas ......251Planeje a correção dos erros ............................257Corrija seus erros .........................................260Erros comuns de controle ..............................264

13 Resista! .......................................... 267Do que é feito um vencedor ...........................267Qual é o seu nível atual de resiliência? ..............269Quando precisamos de resiliência? ...................270O controle e as emoções na resiliência ..............273As quatro competências da resiliência ..............275A capacidade de absorção ..............................275A capacidade de adaptação.............................281Vença as resistências ....................................290

14 Levante-se e vença! ..................... 293O sucesso vem logo após o último fracasso ........293A capacidade de superação .............................294Superando dificuldades e limitações pessoais ......306A capacidade de aprendizado ..........................308Aprenda continuamente com seus erros ............315Construa com as pedras que atirarem em você ...318

15 Pedras no caminho ...................... 321Resiliência no dia a dia .................................321Provocações ...............................................322Medo de rejeição ........................................323Críticas desqualificadas ................................325Competição ..............................................326Inveja ......................................................326Relacionamentos difíceis ..............................328Separação .................................................330Problemas financeiros ...................................332Vícios ......................................................332Problemas de saúde e sequelas. ........................334Morte .......................................................335Liderando seu time durante crises ...................338Preparado para o pior, espere pelo melhor .........340

16 Reflexões da jornada .................... 343Patriotismo ................................................343Pioneirismo ...............................................345Heroísmo .................................................346A última placa do caminho ...........................350

17 Bem-vindo ao sucesso! ................. 353O efêmero prazer da conquista .......................353Você chegou ao sucesso! E agora? ....................354O que realmente importa nesta vida? ...............356Aos pais e professores ...................................358Viva com paixão e entusiasmo ........................359Foi uma honra ter caminhado ao seu lado .........359

Referências bibliográficas ................. 362

Conteúdo do Livro “É POSSÍVEL! Como Transformar Seus Sonhos Em Realidade”

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Palestras, Treinamentos e Cursos

O autor ministra palestras, treinamentos e cursos corporativos nos seguin-tes temas:

MotivaçãoDesenvolvimento pessoal

Bases do sucessoDefinição de metas

PlanejamentoPreparação pessoal

Segredos da execução Gerenciamento de atividades

Liderança Trabalho em equipeMedo e ansiedade

Superação de desafiosResiliência

Qualidade de vidaGerenciamento de riscosSegurança operacional

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Contato

Para cursos, treinamentos, consultorias e palestras

com o autor:

Marcos Pontes Engenharia e Eventos Ltda.Telefone: 011.3773.8679

[email protected]

_____________________________________________

Para exemplares autografados e

descontos em quantidades maiores do que 100 livros– presentes, treinamentos, eventos, etc. –

Chris McHilliard EditoraTelefone: 011.3744.6141

Fax: 011.3772.4282Rua Mandissununga 195

05619-010 - São Paulo, [email protected]

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