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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA CURSO DE HISTÓRIA MIRIAN REJANE SILVA SOEIRO PROJETO VIVA: IMPLICAÇÕES PARA UMA POLÍTICA CULTURAL NO MARANHÃO São Luís 2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA

CURSO DE HISTÓRIA

MIRIAN REJANE SILVA SOEIRO

PROJETO VIVA: IMPLICAÇÕES PARA UMA POLÍTICA

CULTURAL NO MARANHÃO

São Luís

2009

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MIRIAN REJANE SILVA SOEIRO

PROJETO VIVA: IMPLICAÇÕES PARA UMA POLÍTICA

CULTURAL NO MARANHÃO

Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciado em História. Orientador: Profo Dro Paulo Roberto Rios Ribeiro.

São Luís

2009

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MIRIAN REJANE SILVA SOEIRO

PROJETO VIVA: IMPLICAÇÕES PARA UMA POLÍTICA

CULTURAL NO MARANHÃO

Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, para obtenção do grau de Licenciado em História.

Aprovado em: _______/_______/_______

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________

Profo Dro Paulo Roberto Rios Ribeiro (Orientador) Faculdade São Luís

_________________________________________________

1o Examinador

_________________________________________________

2o Examinador

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Dedico este trabalho à minha amada família, por sua dedicação e carinho, e em especial a minha mãe por seu amor e ajuda constantes nessa jornada e a minha filha, motivo de toda minha luta.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu poderoso Deus, que me deu a sabedoria necessária e possível

em toda minha jornada acadêmica e em especial para o desenvolvimento deste

modesto trabalho monográfico.

Ao meu querido Mestre, amigo professor-orientador Paulo Rios, sem o

qual esse trabalho certamente seria impossível, por acreditar em mim, quando nem

eu mesma acreditava que conseguiria e que, carinhosamente, aceitou a orientação e

correção deste trabalho monográfico na hora que eu mais precisava.

À minha mãe Maria José, a mais guerreira, bondosa e companheira que

esteve ao meu lado nos momentos mais improváveis e mais impossíveis e ao meu

pai Raimundo Soeiro, que me proveu financeiramente tantos anos na Uema.

À minha filha amada Eduarda, razão da minha vida e da minha luta.

À minha irmã Regina, por acreditar em mim e em minha capacidade e

pelo seu sempre terno amor incondicional.

À minha irmã Fátima, pelo seu amor e preocupação, à minha irmã

Elizabeth, minha inspiração de inteligência e bom gosto intelectual.

Ao meu irmão Samuel, que sempre me socorreu quando a tecnologia

insistia em me desafiar.

À minha cunhada Rose, que sempre torceu pelo meu sucesso profissional

e pessoal e pelas suas palavras sempre amigas.

Aos meus sobrinhos queridos: Alexandre, que é antes de tudo um amigo;

minha “cachinhos dourados” Diana; minha fofinha Larissa Rafaelle; e ao meu mais

novo e lindo Rafael Ângelo.

Aos meus fiéis amigos, a minha eterna amiga amada Clara Regma, por sua

ajuda e amor constantes que me deram a força suficiente de suportar os dias de

desânimo na Uema, o melhor presente que o curso de História me proporcionou; a

Mércia, fiel irmã e confidente, que sempre me deu apoio; ao meu amado amigo

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Raimundo João, que sempre me confortou com suas palavras de carinho e

confiança; a Roberta, pelo apoio e amizade; a Adroaldo, querido amigo que me

instigou a trabalhar com esse tema e pelo carinho; minha nova amiga Bárbara, que,

quando batia o desespero e o desânimo, além de me animar, me endereçava

constantes orações; a amiga Aline Penha, pela preocupação; a Fernando Castro,

que me ajudou muito no começo da graduação; a Domingas Gastão, pelo carinho e

por cuidar da minha filha quando precisava me ausentar a trabalho; a Félix Castro,

pela confiança, carinho e apoio; e a meu amigo Romildo, que me ajudou a

compreender áreas do conhecimento que minhas dificuldades com os números me

impossibilitavam.

A todos os professores e alunos do Curso de Graduação de História da

Universidade Estadual do Maranhão pela longa convivência em busca do

conhecimento, em especial: a Alan Pacheco e sua esposa Helidacy, pelos conselhos

de não abandonar o curso, valeu a pena; a Fábio Monteiro, pela ajuda e confiança

nos momentos de dificuldades; a Adriana Ziérer pelo incentivo amigo; e aos

secretários Roberta, pelas muitas informações, e Márcio, pela paciência de longos

anos.

Aos entrevistados, que pacientemente responderam às minhas

inquietações, às pessoas do Arquivo Público pela boa vontade e a todos da

Biblioteca Pública Benedito Leite, pela ajuda.

A todos que direta e indiretamente contribuíram para a realização desta

pesquisa científica.

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RESUMO

O presente trabalho monográfico tem como objetivo analisar o papel do “Projeto

Viva” (1984/1985), para as políticas culturais no Maranhão na década de 1980.

Mediante a análise do contexto histórico em que se situaram as mudanças políticas,

sociais e culturais, oriundas de um recente processo de abertura política. Procurou-

se problematizar a inserção do Projeto Viva no cenário político, social e cultural

maranhense e sua tentativa de criação de um mercado cultural, que possibilitasse a

comercialização de bens materiais e simbólicos advindos de produtos culturais no

Estado. Nesse sentido, o Projeto Viva e o Festival Viva foram importantes para a

ampliação ou início da discussão da necessidade de políticas públicas voltadas para

a valorização de bens culturais, visto que a década de 1980 foi o momento de

consolidação das indústrias culturais no Brasil. Entretanto, tal iniciativa esbarrou na

falta de continuidade do projeto como fomentador desse movimento de valorização

cultural. A tentativa de criação de políticas públicas voltadas à cultura, buscando

uma autonomia para esta e para quem vive dela, é empreitada ainda a ser

construída.

Palavras Chave: Projeto Viva. Cultura. Mercado cultural. Indústria cultural.

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ABSTRACT

This monographic study has as a goal to analyze the role of “Projeto Viva”

(1984/1985), for cultural policies in Maranhão in the 1980. By examining the historical

context in which stood the political changes, social and cultural, from a recent

process of political opening. We sought to question the inclusion of the political scene

in “Projeto Viva”, social and cultural Maranhão and its attempt to create a cultural

market, which allow the marketing of material and symbolic cultural products coming

from the state. Accordingly, the “Projeto Viva” and “Festival Viva” were important to

expand or start the discussion of the need for public policies for recovering cultural

property since the 1980 was the time of consolidation of cultural industries in Brazil.

However, this initiative stumbles in the lack of continuity of the project as a developer

of this cultural movement. The attempt to create public policies for culture, seeking an

autonomy for this and for those who lives of it, work is still being built.

Keywords: Projeto Viva. Culture. Cultural market. Cultural industry.

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LISTA DE SIGLAS

ABI − Associação Brasileira de Imprensa.

Alumar − Consórcio de Alumínio do Maranhão.

ARENA − Aliança Renovadora Nacional.

BEM − Banco do Estado do Maranhão.

MEC − Ministério da Educação e Cultura.

MDB − Movimento Democrático Brasileiro.

OAB − Ordem dos Advogados do Brasil.

OPEP − Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

PMDB − Partido do Movimento Democrático Brasileiro.

PDS − Partido Democrático Social.

PDT − Partido Democrático Trabalhista.

PT − Partido dos Trabalhadores.

PP − Partido Progressista.

PIB − Produto Interno Bruto.

Sedel − Secretaria de Desportos e Lazer.

SIOGE − Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado.

UFMA − Universidade Federal do Maranhão.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10

2 O “PROJETO VIVA” NO CONTEXTO HISTÓRICO DOS ANOS 80 ............ 13

2.1 O contexto político e o “Projeto Viva” no Maranhão ............................ 25

2.2 A importância histórica, política, social e cultural do “Projeto Viva”

no Maranhão ...................................................................................................

28

2.3 Estruturação do Festival Viva de música maranhense ........................ 34

3 PROJETO VIVA: UMA POLÍTICA ESTATAL DE CRIAÇÃO DE UM

MERCADO CULTURAL NO MARANHÃO ......................................................

39

3.1 A indústria cultural como conceito e realidade histórica ..................... 45

3.2 Projeto Viva: implicações para uma política cultural no Maranhão ..... 49

4 MEMÓRIAS DO PROJETO VIVA: O PROJETO NA VOZ DOS SEUS

PROTAGONISTAS ..........................................................................................

61

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 77

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 80

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1 INTRODUÇÃO

A cultura e suas implicações são preocupação constante do ser humano,

na tentativa de compreensão do espaço e do momento em que está inscrito.

Portanto, seus conceitos e usos são de fundamental importância, na medida em que

se quer construir sentidos e associá-los a outros valores que não o de uso, como o

valor de troca, por exemplo. Para tanto, é necessário compreender suas raízes

históricas e as discussões acerca de seus significados e de sua utilização na

sociedade contemporânea.

No Maranhão, essa dimensão da cultura merece destaque, pois a partir da

década de 1980, buscou-se vincular a cultura a projetos governamentais, sem

contudo dar um suporte e aparato legal para seu desenvolvimento enquanto bem

simbólico e material.

Nessa perspectiva, esta pesquisa buscou compreender a importância de

um projeto governamental como forma de agregação das manifestações culturais

variadas e tentativas de desenvolver no Maranhão uma infra-estrutura capaz de dar

suporte para a implantação e desenvolvimento de um mercado de bens culturais nos

moldes de uma indústria cultural.

Desta forma, o objetivo do presente estudo é compreender a atuação do

Projeto Viva para as políticas públicas no Maranhão, na tentativa de criação de um

mercado cultural e a valorização da cultura, bem como na de um mercado para a

música maranhense, ampliação e divulgação desse segmento cultural, que deu

maior visibilidade ao Projeto Viva, por meio do Festival Viva.

Originalmente, o tema objetivo da pesquisa era o Festival Viva, como um

esforço de criação de uma identidade cultural no Maranhão. Entretanto, com o início

das pesquisas, as fontes nos levaram a descobertas significativas, visto que não

havia somente o Festival Viva, pois este fazia parte de um projeto chamado Projeto

Viva. Portanto, as próprias fontes, tanto escritas como orais, nos remeteram a outras

problemáticas, como a própria concepção do Projeto Viva: O que foi? Qual a sua

finalidade? Era um projeto governamental? Qual a sua relevância para o cenário

cultural maranhense em pleno processo de abertura política no país? Qual a sua

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relação com as indústrias culturais? Essas e outras questões nos levaram ao

desenvolvimento de outro tema, diferente do original, por entender que a música se

constituiu como uma vertente de um projeto, que embora sendo a melhor assistida,

talvez por permitir melhor e mais rápido retorno de mídia, e por ser o mais visível e

que perpassou o tempo, não foi a única manifestação artística enfocada dentro do

Projeto Viva, foi um dos seus segmentos.

Contudo, percebeu-se a necessidade de compreender o cenário político

cultural da década de 1980, a partir do Projeto Viva e sua importância na

fomentação da discussão acerca da cultura enquanto área de responsabilidade

governamental.

Para tanto, foi feito o levantamento das fontes nos dois jornais de maior

circulação no período, e que davam melhor destaque para a Cultura: O Imparcial e o

Estado do Maranhão, nos anos de 1982 a 1985, com maior recorrência ao primeiro.

Além disso, adentramos na história oral, por meio de entrevistas, para

compreendermos o Projeto a partir do olhar de seus protagonistas.

Além disso, fez-se uma revisão bibliográfica acerca do tema, bem como

dos tópicos a ele relacionados, para nos dar sustentação teórica. Buscou-se, ainda,

compreender o momento político, social, econômico e cultural da década de 1980 no

Maranhão e analisar o Projeto Viva a partir dos jornais, das entrevistas e da

discussão de elementos conceituais como cultura, indústria cultural, mercado cultural

entre outros.

Assim, a monografia ficou dividida em três capítulos.

No capítulo 1, buscou-se contextualizar o Projeto Viva em âmbito nacional

e local dos anos 80, relacionando-o ao momento histórico em que estava se

inserindo, momento de abertura política do país, consolidação das indústrias

culturais e maior debate acerca da cultura.

No capítulo 2, procurou-se compreender, a partir de um referencial teórico,

a importância do Projeto Viva para as políticas públicas no Estado e a tentativa de

implantação de um mercado cultural no Maranhão na década de 1980.

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No capítulo 3, o intuito de compreensão do Projeto Viva deu-se com o

auxílio da memória de alguns dos personagens que estiveram diretamente ligados a

ele em algum momento, seja na consecução do Projeto Viva em si ou durante o

Festival Viva. Trata-se de um capítulo memorialístico.

Com isso, pretendeu-se iniciar um debate sobre as políticas culturais no

início da década de 1980 e compreender a inexistência de iniciativas permanentes

no que concerne à cultura, e trazer à luz um objeto de estudo até então relegado ao

esquecimento.

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2 O “PROJETO VIVA” NO CONTEXTO HISTÓRICO DOS ANOS 80

O “Projeto Viva”1 situou-se na década de 1980, quando da “abertura

política” do país, dirigida pelo último presidente vinculado à Ditadura Militar, o

General João Figueiredo2, momento este direcionado pela crise econômica, pelas

mudanças sociais e políticas iniciadas na década de 1970 e desenvolvidas ao longo

dos anos 80, como por exemplo, o início da distensão política do país, até medidas

de características mais democráticas, como as eleições diretas para governadores

do início da década de 1980, bem como as mobilizações em torno das eleições

diretas para Presidente da República que seriam realizadas em 1985, e tantas

outras, que foram fruto dessas mudanças que ocorriam desde a década de 1970.

Entretanto, para a compreensão das crises e mudanças que determinarão

a década de 1980, é necessário discorrer em linhas gerais sobre alguns

acontecimentos da década de 1970, que serão importantes no curso do processo de

transição para o regime democrático, a fim de situar o “Projeto Viva” em meio à

efervescência social e política dos anos 80.

Em 1973, houve o embargo de fornecimento de petróleo para os Estados

Unidos e Europa, pelas nações árabes, membros da Organização dos Países

Exportadores de Petróleo (OPEP), em represália ao apoio dos Estados Unidos e

países da Europa, principalmente a Holanda por ser considerada como o país mais

favorável a Israel, quanto à ocupação dos territórios palestinos por Israel

(FARES, 2007).

Após esse embargo, a OPEP estabeleceu cotas de produção, além da

elevação dos preços do barril de petróleo. Essas medidas causaram uma recessão

internacional, tanto nos países diretamente afetados, Estados Unidos e países da

Europa, quanto em países de economia ligada à economia internacional, como é o

caso do Brasil.

1“Projeto Viva” (1984-1985), projeto do Governo Estadual que valorizava as diversas manifestações artísticas de várias localidades do Estado, com apresentações em praça pública que culminou com o Festival Viva e a gravação do LP das 10 melhores músicas escolhidas. 2João Baptista Figueiredo (1979-1985), último presidente militar, responsável pelo processo de “Abertura Política” do País.

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No Brasil, a crise do petróleo foi um dos fatores que influenciaram a

deflagração de uma crise do modelo econômico do regime autoritário, modelo

baseado na substituição de importações, e no crescimento econômico do país. O

país, durante o “milagre econômico”3, viveu momentos de euforia, de crescimento do

Produto Interno Bruto (PIB), e de expansão do consumo de bens duráveis, o que

permitiu que a crise não afetasse imediatamente e de maneira acentuada o Brasil e

as classes médias beneficiadas pela política econômica adotada.

Em 1974, quando o general Ernesto Geisel4 iniciou seu governo, o

mercado internacional já sentia os efeitos da recessão econômica. No Brasil, a crise

econômica coincidiu com o início do seu governo, e foi gerada pela dívida adotada

pelos governos militares, e que continuou a crescer vertiginosamente, com a crise do

petróleo e a forma como o governo agiu diante do problema.

Mesmo com a crise do petróleo afetando todo o mercado exterior, do qual

o Brasil era dependente para fazer seus empréstimos, o então presidente resolveu

ignorar a crise e investir num projeto ousado e caro aos cofres públicos, e que já se

mostrara desgastado: o de substituição de importações. Todavia, essa nova fase do

plano econômico visava implantar indústrias de bens de capital e insumos pesados.

Com essa finalidade, Geisel criou o II Plano Nacional de Desenvolvimento,

para prover bases para a indústria e, portanto, reduzir o grau de dependência

externa. Para tanto, programou uma série de medidas que, além de aumentar a

dívida externa, devido aos empréstimos, ainda adotou políticas de arrocho salarial

para a classe popular, repressão social e reformas tributárias em benefício do

governo. Essas foram algumas medidas do governo Geisel que trouxeram vários

problemas aos governos posteriores, principalmente na tentativa de controle da

inflação e pagamento dos juros da dívida externa.

Logo após a sua posse, Geisel, em 1974, iniciou também o processo de

distensão “lenta e gradual”, permitindo a realização de eleições legislativas. Porém,

3“Milagre Econômico” (1968-1973), período caracterizado pela aceleração do crescimento econômico do Brasil, baseado em medidas para atrair investimentos internacionais e criar as bases de sustentação da industrialização do país, cortando gastos públicos, aumentado a carga tributária, contração de créditos e controle salarial. Política que beneficiou a classe média e o grande capital. 4Presidente militar (1974-1979), responsável pela distensão “lenta, segura e gradual” do país.

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não contava com a vitória tão acentuada do partido de oposição, o MDB5. Em 1976,

quando percebe o crescimento da oposição, decide promulgar a Lei Falcão, que

proibiu o debate político nos meios de comunicação. Embora em 1975, tenha

suspendido parcialmente a censura aos meios de comunicação.

Mesmo com tais medidas que levariam à liberalização do regime, a

chamada linha dura6 intensifica a repressão em São Paulo, como forma de protestar

contra as medidas adotadas por Geisel. O Presidente-General resolve demitir o

General D’Ávila Melo e diminuir os excessos da linha dura. Mas a citada distensão

“lenta, segura e gradual” surgia como tentativa de manter o controle sobre o

processo político e a sucessão presidencial de 1979.

Outra ação desenvolvida para conter o avanço da oposição e evitar sua

vitória nas eleições de 1978 foi o “Pacote de Abril” de 1977, que tinha como medidas

as eleições indiretas para governadores, as eleições indiretas para um terço dos

senadores, “foram também modificados os critérios que regulamentavam o número

de deputados federais e a escolha dos delegados municipais junto ao Colégio

Eleitoral. As restrições à propaganda, adotadas para as eleições municipais, foram

estendidas para todas as eleições que envolvessem o voto popular”. (Alves apud

Carvalho, 2005). Essas medidas deixaram a população cada vez mais descontente,

o que levou à reorganização dos movimentos sociais na década de 1970.

Não obstante todos os problemas, Geisel ainda tem um domínio sobre o

país e contorna os problemas e as oposições em torno do candidato escolhido por

ele para substituí-lo na presidência da República. Em 1979, o General João Baptista

Figueiredo sucedeu Geisel, e iniciou efetivamente a “abertura política” do país, mas

levando em consideração os objetivos formulados por seu antecessor, de promover

o controle do processo político e das eleições estaduais de 1982.

5O MDB, partido de oposição à ARENA partido declaradamente governista, essa oposição na verdade seria representativa, mas por não haver outros partidos durante o governo, a população se identificou com o MDB, mas este, a partir de 1974, iniciaria uma posição mais firme como oposição, que após a reforma partidária de 1979 iria se tornar PMDB. 6A linha dura era termo que designava as vertentes mais conservadoras do regime, e que estavam ligados com os momentos de maior repressão e tortura. Faziam parte dessa corrente Costa e Silva (1967-1969) e Emílio Garrastazu Médice (1969-1972), considerado o período de maior repressão do Regime militar.

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Em 1979, já na administração de Figueiredo, o Congresso aprovou a

anistia, que embora com as limitações próprias do período e do regime que o

sustentava, permitiu a reintegração dos exilados (políticos artistas, ativistas de

esquerda e todo aquele considerado subversivo pelo regime autoritário) ao país e à

vida pública. Tal aspecto é bastante instigante, ao se perceber que a “abertura

política” do país foi uma manobra militar que buscou o apoio social, principalmente,

no governo Figueiredo, a fim de consolidar sua liderança (ARTURI, 2001).

Embora manifestações sociais organizadas perdurassem por todo o

período militar, mesmo com todo o esquema de repressão em torno do regime e se

intensificassem no final da década de 70 no governo Figueiredo, com as greves do

ABC paulista e com o novo sindicalismo que surgia, de certa maneira o Partido dos

Trabalhadores (PT) é produto original, segundo SILVA (1994, p. 12), com

posicionamentos mais radicais do que os demais partidos.

Surge o PT em 1979. Sua importância decorre do processo de organização política das classes trabalhadoras, o que lhe dá uma raiz societária. Inegavelmente, ele representou um marco histórico de caráter político para as classes trabalhadoras. Apresentava uma proposta de representação autônoma, organizada em torno da articulação de setores do moderno operariado industrial e dos movimentos populares e comprometida explicitamente com suas lutas. Rompeu com os padrões de organização partidária existente no país, colocou em cena política os trabalhadores, para além das reivindicações de cunho corporativista, constituiu uma alternativa de opção político-partidária para os trabalhadores com base na sua organização social, marcando a diferença em relação aos partidos políticos de orientação populista.

Dessa maneira, é importante para o governo buscar base de apoio nas

camadas médias e populares, para, assim, tentar controlar o processo político desse

período. Portanto, assim como no governo anterior, Figueiredo busca certa

aceitação e controle dos movimentos sociais, o que no seu governo não foi possível.

Outro aspecto que merece destaque é a reforma partidária, que foi

realizada em 1979, aprovando a lei que permitiu a organização de novos partidos

políticos e o fim do bipartidarismo que esteve presente em grande parte da trajetória

política dos governos militares (KINZO, 2001).

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Essas medidas tinham duas finalidades: por um lado, continuar o

processo de abertura política, mas controlada pelos militares, e de outro,

desorganizar as oposições e em contrapartida seus eleitores, o que de certo modo

ocorreu com a vinculação de votos em 1982. Como explica KINZO (2001, p. 6):

Em 1979 já na administração Figueiredo, o Congresso aprovou a anistia [...] uma nova lei partidária pôs fim ao bipartidarismo compulsório criado em 1966, levando à criação de novos partidos. A reforma partidária representou um importante avanço no processo de liberalização, mas também foi uma estratégia do governo para dividir a oposição [...] entre os fatores a serem controlados estava a sucessão presidencial em 1985, que deveria possibilitar o restabelecimento do governo civil. Tratava-se de garantir não apenas que o próximo presidente fosse eleito via Colégio Eleitoral, mas também a maioria governista no Colégio Eleitoral.

Durante o período anterior à abertura, os trabalhadores, as camadas

médias e setores progressistas da Igreja se identificaram com o MDB, pois viram no

partido a única fonte de contestação possível. Mas com a reforma partidária, houve a

reorganização dos partidos sob nova legenda, como é o caso do PDS, antiga

ARENA, tendo como líder o então senador José Sarney, governista e o PMDB,

antigo MDB, tendo como principal expoente Ulysses Guimarães7 e o surgimento de

novos partidos de oposição, como o Partido Democrático Trabalhista (PDT), formado

por Leonel Brizola8, e o PT liderado por Luís Inácio da Silva (SILVA, 1994).

Partido esse, que nasceu a partir das novas organizações sindicais dos

trabalhadores do ABC paulista, maior parque industrial do país e que, para garantir

representação política, organizou-se em torno dos trabalhadores, com um discurso

voltado de fato para as camadas populares.

Outro fator importante foi a crise econômica, com taxas inflacionárias

elevadas, com o aumento da dívida externa, que levou Figueiredo a adotar uma

7Ulysses Silveira Guimarães (1916-1992) foi um político que participou de todas as campanhas pelo retorno do país à democracia, inclusive a luta pela anistia ampla, geral e irrestrita. Com o fim do bipartidarismo (1979), o MDB converteu-se em Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), do qual seria presidente nacional. Liderou novas campanhas pela redemocratização, como a das eleições diretas. 8Leonel de Moura Brizola ingressou na carreira política em 1945, pelo partido PTB; em 1947, pelo mesmo partido, tornou-se Deputado Estadual pelo Rio Grande do Sul; em 1951, liderou o PTB; em 1952, foi nomeado Secretário de Obras do Governador Ernesto Dornelles; em 1954, foi Deputado Federal; em 1955, foi eleito Governador do Rio Grande do Sul; e, em 1979, fundou o partido PDT de oposição ao governo.

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postura econômica diferente do governo anterior. Adota uma política econômica de

contenção de gastos públicos e diminuição de pedidos de empréstimos estrangeiros,

o que causa uma queda na economia, o consequente desemprego e as tentativas

frequentes de planos de estabilização da economia. Esse será um desafio dos

governos seguintes, pós-ditadura.

Com a extinção do Ato Institucional nº. 5, em janeiro de 1979, iniciou-se a

possibilidade de contestação. As músicas começaram a marcar presença relativa

com seu teor de protesto contra as arbitrariedades do regime. Essa reabertura

gradual do direito de manifestar, por meio da arte, as idéias contra o regime é lenta,

mas será fundamental no processo da campanha para as “diretas já”, que terá

participação de grande parte da classe artística brasileira, e que será alvo de

posterior discussão (MELO, 1985).

Foi nesse contexto de mudanças, das mais diversas ordens, que ocorreu

em 1982 as primeiras eleições diretas para governadores estaduais. Mesmo sem as

eleições diretas para presidente, os governadores estaduais foram escolhidos por

voto direto, nas eleições que se realizaram em 15 de Novembro de 1982 e que foi

amplamente divulgada pelos principais meios de comunicação de massa do país.

Essas eleições estavam bastante disputadas, pois todos os partidos de

oposição tinham seus candidatos em vários estados brasileiros. As eleições, até

então, eram as menos controladas desde o início do regime, fato que deixou

otimistas as oposições e extremamente preocupados o governo e o seu partido, o

Partido Democrático Social (PDS). Contudo, o governo federal, representado pelo

Presidente Figueiredo, buscará em modificações eleitorais a forma de não permitir

que o partido do governo, o PDS, tivesse perdas substanciais.

Uma das medidas adotadas por Figueiredo foi um novo “Pacote Eleitoral”

na tentativa de modificar o quadro político favorável às oposições (JORNAL O

IMPARCIAL, 03/01/1982, p. 13).

No dia 25, porém, Figueiredo decide encerrar o diálogo com as oposições e avisa que enviará ao Congresso um pacote eleitoral, comparável àqueles criados pelo presidente Geisel, ainda durante a vigência do AI-5. São essas as imposições do novo pacote eleitoral do governo a ser votado até no máximo dia 6 de Janeiro: Vinculação total dos votos em todos os níveis (de

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vereador, a senador e governador), o que quer dizer que os votos devem ser dados a candidatos do mesmo partido, obrigatoriamente de todos os partidos apresentarem candidatos próprios para todos os cargos em disputa. Manutenção dos casos de inelegibilidades (o que exclui as candidaturas dos ex-dirigentes sindicais processados), [...] em resposta os partidos de oposição voltam a discutir a possibilidade de incorporação. Os primeiros a defender a idéia são o PP e o PMDB.

A vinculação de votos era uma tentativa do governo de desestabilizar os

partidos de oposição em torno dos seus candidatos, pois os partidos menores não

teriam condições de lançar candidaturas a todos os cargos em disputa, sem estar

coligados a outros partidos e, dessa maneira, obrigou partidos como o Partido

Progressista (PP) de Tancredo Neves a se incorporar ao PMDB (JORNAL O

IMPARCIAL, 09/01/1982, p. 2).

Com a vinculação total de votos, inverteu-se a equação política. As oposições que até aqui tinham todas as condições de elegerem em torno de treze a catorze dos 22 governadores, agora passaram a outro extremo. Isto é, o governo e o seu partido apresentavam-se agora como os grandes favoritos do pleito, no próximo ano.

Outra forma de dar apoio aos candidatos do PDS, pelo governo

Figueiredo, foi a realização de viagens a diversos estados, como forma de apoio a

candidaturas do partido governista, o PDS, que preparou sua campanha eleitoral, e

como bandeira a ser utilizada e defendida, a redemocratização (JORNAL O

IMPARCIAL, 19/01/1982, p. 4).

Apesar de todas as tentativas de legislar a favor do ideal militar, de

controle sobre o processo político, o governo de Figueiredo não conseguiu reverter

totalmente a expressiva vitória das oposições em 15 de Novembro de 1982, apesar

do pacote eleitoral de novembro, as viagens de apoio aos candidatos do PDS, o

cenário político começou a mudar, ainda com o governo obtendo maioria no

Congresso e no Colégio Eleitoral.

As oposições começaram a ter poder sobre as decisões governistas,

embora de forma ainda restrita, por não ser maioria no Congresso, mas de acordo

com ARTURI (2001, p. 19) “o governo teve que administrar o país negociando

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diretamente com poderosos governadores da oposição e fazer face ao crescente

desgaste político”.

É importante notar, ainda, que com as eleições de 1982, as oposições se

sentem mais seguras, quanto à irreversibilidade do processo de transição política.

Dessa maneira, as oposições, com o apoio da sociedade civil, que desde a década

de 1970 começou a se reorganizar como força de ação e reivindicando melhores

condições de vida, organizar-se-ão ainda mais, na década de 1980, a partir da

significativa ação política dos movimentos populares.

Diante desse quadro dinâmico politicamente, com os trabalhadores

buscando a consciência de agentes políticos, capazes de lutar por conquistas de

melhores condições de vida, e com a reorganização dos setores sociais na vida

política, surge um movimento iniciado pelas oposições e com amplo apoio da

sociedade civil, que mobilizou centenas de pessoas em favor do mesmo objetivo, as

eleições diretas para Presidente da República de 1985, que ficou conhecido como

“Diretas Já”, que visava acabar imediatamente com as eleições indiretas, via Colégio

Eleitoral (VIANNA, 2008).

A mobilização pelas “Diretas Já” foi um dos momentos marcantes do fim

do regime militar iniciado em 1964 e trouxe de volta às ruas o povo, em grandes

comícios que ocorreram nas principais cidades do país e se iniciaram em 1983 e

tomou maiores proporções em 1984 no comício de 25 de Janeiro de 1984

(RODRIGUES, 2003).

A campanha para as eleições diretas para Presidente da República de

1985 dispunha de amplo apoio popular para a aprovação da Emenda Dante de

Oliveira, que tinha como proposta as eleições diretas para Presidente da República e

ocorreram em várias cidades do país, como São Paulo, Olinda, Rio de Janeiro, São

Luís, Teresina, Porto Alegre, Bauru, Salvador, João Pessoa, Santos, Maceió,

Macapá, Belém, Recife, Manaus, Osasco, Rio Branco e Belo Horizonte, com ampla

divulgação em diversos meios de comunicação de massa, tais como televisão,

jornais e emissoras de rádio.

A Rede Globo de Televisão tentou destituir dos comícios das diretas toda

sua importância, consolidando em suas programações apenas mensagens de

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otimismo e desenvolvimento, nem sequer noticiando um dos comícios mais

importantes em prol da redemocratização, que foi o de 12 de Janeiro em Curitiba.

Segundo MELO (1985, p. 15), “Para a Globo dos anos 70, espelho fiel do regime,

não existiam conflitos sociais, repressão ou pobreza.”

Essas campanhas em prol das eleições diretas para presidência de 1985

mobilizaram artistas que iam aos comícios cantar músicas que passaram a compor

os programas de rádio, tais como a música de Geraldo Vandré, “Para não dizer que

não falei das flores”; Chico Buarque, com a música “Vai levando”; e cantoras como

Simone e Fafá de Belém. Todos cantavam o anseio popular, o fim da ditadura, e

milhares de pessoas compareciam aos comícios em todo o país (VIANNA, 2008).

Outro fato importante referente às “Diretas Já”, foi o grande apoio recebido

de várias rádios do Brasil, que executavam as músicas cantadas nos comícios pelos

citados compositores e acompanhados pelas multidões, o que demonstrou o caráter

de vontade popular, e dos demais setores ligados às classes médias urbanas,

concentrando em torno da votação a favor das diretas, uma ampla e irrestrita

tentativa de, por meio da mobilização popular, ser vitoriosos na votação da Emenda

Dante de Oliveira.

As diretas foram responsáveis por uma euforia cultural, no sentido de dar

substrato a vários sentimentos de liberdade que seriam transformados em

composições-denúncia, para colocar para fora o sentimento nacional “engasgado na

garganta” dos compositores e do povo, que cantam e vivem o mesmo cotidiano

repressor. Por essa razão, é oportuno analisar tal processo a partir da música

“Vai Passar” (1984) de Francis Hime9 e Chico Buarque, para melhor descrever a

ansiedade e alegria popular de grande parte da classe artística, em torno da tão

sonhada democracia. Música que rememora todo um momento político recrudescido

pela violência da ditadura, mas que, enfim, vislumbra a vitória suprema da

democracia (RODRIGUES, 2003).

A primeira estrofe sinaliza a felicidade de uma situação que vai acabar, no

mesmo local onde houve situações felizes, “Vai passar nessa avenida um samba

popular, cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar, ao lembrar

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que aqui passaram sambas imortais, [...] que aqui sambaram nossos ancestrais”.

Houve também situações de vergonha e dor para o país “Que aqui sangraram

nossos pés, num tempo página infeliz na nossa história passagem desbotada na

memória das nossas novas gerações, dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem

perceber que era subtraída em tenebrosas transações.”

E em referência ao período da ditadura militar, denunciando a situação

econômica, os empréstimos, o aumento da dívida externa e não resolvendo os

problemos do Brasil, mas agravando mais a situação e que para as novas gerações

é desconhecido “passagem desbotada na memória das nossas novas gerações.”

Fala ainda da situação das pessoas que não concordavam com a ditadura

e que por serem contra o regime, ou eram presas ou tinham que fugir para outros

países, sob o slogan “Brasil: ame-o ou deixe-o”, ou se protegiam da polícia atirando

pedras contra armas de guerra ou protestando “Seus filhos erravam cegos pelo

continente, levavam pedras feito penitentes”, mas já se contempla a mudança que

se inicia lenta, mas que toma força como uma enorme movimentação em prol da

liberdade política, as “Diretas Já”, “E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria

fugaz, uma ofegante epidemia que se chamava carnaval, o carnaval, o carnaval”

onde os governos militares vão passar e em tom de ironia exclama: “Vai passar,

palmas pra ala dos barões famintos, o bloco dos napoleões retintos, e os pigmeus

do boulevard”.

Enfim, o momento que o povo espera ansioso, sua euforia, a felicidade da

nação ao ver que aqueles governos estão ruindo com todo seu aparelho de Estado

já carcomido por suas próprias contradições “Meus Deus, vem olhar, vem ver de

perto uma cidade a cantar a evolução da liberdade até o dia clarear, ai que vida boa,

ô lerê”, em suma, “O estandarte do sanatório geral vai passar.”

Como podemos observar, a música trata as “Diretas Já” como algo que de

fato vai mudar a situação do país de maneira imediata, restabelecer a liberdade da

nação e é considerado pelo autor como “O Carnaval”, uma festa em que toda a

nação participaria com o início da movimentação pró-diretas.

9Francis Hime é um compositor, arranjador, pianista e cantor brasileiro. Possui formação em composição, regência, harmonia e arranjo.

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As oposições PMDB, PT, PTB e PDT iniciaram o movimento em favor das

“Diretas Já”, que foi aglutinando vários simpatizantes e colaboradores, como os

movimentos estudantis, alas progressivas da Igreja, a Ordem dos Advogados do

Brasil (OAB), Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a sociedade civil de um

modo geral. Foi criado um Comitê pró-diretas para organizar e conclamar o povo.

Segundo o jornal o Imparcial, 1984,p.3: “O PMDB e demais partidos e entidades

democráticas como a OAB, ABI, Igreja, acham que só através de uma mobilização a

nível Nacional fará com que o governo mude de posicionamento.”

A importância do Comitê em prol das Diretas foi bastante significativa para no

maranhão, pois houve uma expressiva participação popular nos comícios e

movimentos realizados para as eleições diretas para presidente. “O Comitê Pró-

Eleições Diretas formado pelos partidos de oposição e entidades civis, promoverão

uma passeata pelas praias de São Luís com um cortejo de mais de cem carros e

entrega de panfletos.” (JORNAL O IMPARCIAL, 09/02/1984, p. 3). Cid Carvalho, no

período, deputado do PMDB declara: “É necessário que o país seja sacudido para

que seja reconhecida a legitimidade da Nação como força de mobilização em

torno dos seus ideais.” (JORNAL O IMPARCIAL, 13/01/1984, p. 3).

O movimento pelas diretas define como sendo a “Reordenação jurídica do

Estado com convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte” (JORNAL O

IMPARCIAL, 22/01/1984, p. 3). O que pode ser observado é que toda a sociedade

estava engajada para mudar a situação do país.

As mobilizações pelas diretas continuaram por todo o período até a

votação da Emenda, que foi realizada no dia 25 de abril de 1984. No dia 16 de abril

de 1984, foi realizado, em São Paulo, um dos maiores comícios no Anhangabaú.

Até em Brasília, onde estavam proibidos, organizavam-se comícios. Com muita

vitalidade, o povo aguardava os resultados da votação (VIANNA, 2008).

Entretanto, a Emenda não foi aprovada pelo Congresso, mesmo com

todo o clamor social, noticiando os jornais que “Figueiredo descarta eleições Diretas

Já” (JORNAL O IMPARCIAL, 16/02/1984a, p. 1). Assim, houve um sentimento

generalizado de frustração, pois esforços de toda ordem tinham sido realizados

para a vitória da Emenda.

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Segundo ARTURI (2001, p. 19) o importante a se perceber “é que,

mesmo unidas as oposições ainda eram minoria no Congresso, sem força para

desafiar o governo”.

Para mudar a situação, haveria a necessidade de grande mobilização da

sociedade civil, ou um rearranjo das forças políticas, aliadas a setores

conservadores em maior número da oposição, no caso a ala moderada do PMDB,

que aliás durante as diretas já estava se articulando em torno de um plano

alternativo. Caso as diretas não dessem certo, uma candidatura da oposição para

fazer frente ao candidato indicado do governo seria uma saída possível.

Contudo, era necessário um candidato que tivesse uma postura

moderada, consoante SILVA (1994, p. 15), “que não ameaçasse os militares com

revanchismo, ou o capital nacional e estrangeiro com mudanças rápidas e radicais.

Tancredo Neves reunia as condições de um candidato moderado”. Para que essa

candidatura fosse possível, seria necessário conquistar a confiança de dissidentes

do governo e seu apoio no Colégio Eleitoral, essa possibilidade ocorreu quando

políticos do PDS não concordaram com o candidato indicado do governo nomeado

na convenção do partido.

As negociações entre os dissidentes e o PMDB levaram o partido de

oposição a aceitar como vice-presidente de Tancredo Neves, o senador José Sarney

em troca do apoio dos dissidentes. Foi formada a Aliança Democrática e a

candidatura de Tancredo Neves foi lançada.

O PT foi contrário à participação no processo indireto das eleições e

por não ter poder de voto decisivo, decidiu não participar da escolha do presidente,

demonstrando uma identidade própria e bem definida como de esquerda

(KINZO, 2001, p. 7).

Mas, apesar do rearranjo político e de ter Sarney na vice candidatura, que

fora contra a Emenda Dante de Oliveira, para realização das eleições diretas,

Tancredo Neves consistia na esperança da população em restabelecer a

democracia no Brasil, e era identificado com o movimento das Diretas. O próprio

slogan de sua campanha mostrava essa identificação: “Muda Brasil, Tancredo Já”

(KINZO, 2001).

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Em 15 de Janeiro de 1985, Tancredo foi eleito, porém não chegou a

assumir a Presidência. Adoeceu, foi submetido a várias cirurgias, não resistiu e

faleceu em 21 de Abril de 1985, o que levou o vice presidente José Sarney ao poder.

A morte de Tancredo Neves despertou uma forte comoção social, pois o povo o

elegera como político que mudaria o país (VIANNA, 2008).

2.1 O contexto político e o “Projeto Viva” no Maranhão

O Maranhão situou-se em meio ao processo que ocorreu em âmbito

nacional de crise econômica, disputas em torno das eleições de 1982 para

governadores e a campanha das “Diretas Já”. Tais acontecimentos influenciaram

o curso das eleições e acontecimentos políticos no Maranhão.

Os candidatos de todos os partidos iniciaram suas campanhas. Foram

candidatos: Luiz Rocha (PDS), Renato Archer (PMDB), Reginaldo Telles (PDT) e

Oswaldo Furtado (PT). Entretanto, em 1982, o PMDB ainda agregava grande apoio

popular, o que notabilizou uma rivalidade maior entre o partido do governo, PDS, e o

PMDB.

O PDS nacional lançou a campanha e o lema seguido pelo partido

“como bandeira, ele pretende usar a redemocratização” (JORNAL O IMPARCIAL,

19/01/1982, p. 4).

A campanha política de Luiz Rocha foi pautada na crise econômica e nas

promessas de crescimento econômico, incremento industrial, como afirma ROCHA

(1987, p. 51) em entrevista, quando foi indagado sobre suas prioridades de sua

plataforma de governo, caso eleito.

Padecemos da falta de recursos próprios que suportem os investimentos necessários à geração de novos empregos, ao incremento da renda “per capita”, enfim, à aceleração do nosso crescimento econômico-social. Dois caminhos básicos têm que ser tomados concomitantemente. De um lado, a intensificação da cooperação financeira do Governo Federal, através de todos os órgãos e entidades. De outro lado, o nosso Governo se lançará em campanha motivadora da participação do capital privado, no processo do desenvolvimento estadual. A época, aliás, é muito propícia, quando o programa grande Carajás encontra as condições favoráveis à implantação de projetos industriais, agrícolas, pecuários e agroindustriais. Destaco a cultura como um dos setores sobre os quais recairão, com mais intensidade, as atenções do governo.

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Na fala do candidato, é notório como a crise econômica da década de

1980 se faz sentir em todas as regiões do país a ponto de ter-se tornado plataforma

de governo. Além dessa característica, Luiz Rocha tem um discurso alinhado com a

proposta do PDS nacional, pois ao longo de sua campanha fala sobre o processo de

redemocratização e afirma que governará com a ajuda do povo, e para isso, irá

elaborar o Plano de Metas, onde “trata-se de um documento sistematizador de

informações devidamente quantificadas, capaz de conduzir a ação até o nível de

projeto específicos comprometidos com a realidade” (JORNAL O IMPARCIAL,

19/10/1982, p. 3). Esse Plano de Metas será formulado em seminários específicos

para cada área, com pessoas a ela relacionadas e com a comunidade. Segundo

Luiz Rocha, foi a forma de compreender as reais necessidades da população.

Durante sua campanha, afirmou que seu governo sustentar-se-ia na

participação popular (JORNAL O IMPARCIAL, 21/11/1982, p. 3):

Seu governo será voltado para a promoção social, o fortalecimento do setor de produção de alimentos, a geração de novos empregos, melhorias no setor de saneamento básico e levar habitação a zona rural a fim de impedir ainda o maior êxodo para as cidades. Tendo como prioridades o setor primário [...] disse ainda que o povo terá participação na escolha de seus auxiliares através de 15 Seminários que está realizando para a definição do seu Plano de Metas de Governo com a participação de todos os segmentos da sociedade.

Outro fator importante é a relação de apadrinhamento político dos

candidatos do PMDB e do PDS. De um lado, Figueiredo e Ulysses Guimarães, de

outro, o que determina ainda um caráter plebiscitário a essas eleições, mesmo

existindo vários outros candidatos, os jornais enfatizam a disputa de maneira

mais acentuada entre os dois candidatos, tanto é que depois da apuração dos votos,

o jornal O Imparcial publica uma tabela onde coloca os resultados e o número de

votos recebidos apenas pelos dois candidatos em todo o Maranhão (JORNAL O

IMPARCIAL, 19/11/1982, p. 1).

Tanto o presidente Figueiredo como Ulysses Guimarães vieram prestar

apoio aos candidatos e incrementar suas campanhas políticas. No dia 22 de

setembro, João Figueiredo desembarca em São Luís, em apoio ao candidato do

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PDS, Luiz Rocha, e em discurso aos correligionários do Maranhão, argumenta

(JORNAL O IMPARCIAL, 23/09/1982, p. 3):

No que diz respeito a campanha eleitoral, devo dizer [...] que estou absolutamente calmo. Primeiro pela experiência que os senhores tem de conversar com o eleitorado [...]. As dificuldades de ordem econômica porque atravessa a Nação e que trazem como consequência a inflação, o resultante aumento do custo de vida.

Além desse apoio, Figueiredo havia nacionalmente lançado um “pacote

eleitoral”, que ficou conhecido como “pacote de Novembro”, que vinculava os votos,

ou seja, cada partido tinha obrigação de ter candidatos para todos os cargos

oferecidos, o que ajudava ao PDS, partido melhor organizado, em maioria no

Colégio Eleitoral, e que em muito beneficiava na campanha do candidato Luiz Rocha

(JORNAL O IMPARCIAL, 07/01/1982, p. 2).

Todavia, o PMDB também promove uma campanha aguerrida, Ulysses

Guimarães vem ao Maranhão e implementa sua campanha na capital e nos

principais municípios de São Luís, pois o PMDB lançou candidatos em 26 municípios

do Maranhão (JORNAL O IMPARCIAL, 04/11/1982, p. 2).

As eleições para governador no Maranhão foram bastante divulgadas com

passeatas, comícios e forte apelo popular, mas em 15 de novembro de 1982, houve

a votação e o resultado esperado pelos governistas foi confirmado. Em 19 de

novembro de 1982, Luiz Rocha vence as eleições, cujo resultado foi noticiado nos

principais meios de comunicação.

Em 1983, Luiz Rocha assume o governo, com seu “Plano de Metas” e

tenta em 1984 implementar uma reforma governamental, sem sucesso. Outro fato

notório no Maranhão em 1984 foi à mobilização em favor das “Diretas Já”. Houve

ampla aceitação popular. O comício foi realizado na Praça Deodoro, onde há anos o

governo tinha proibido manifestações oposicionistas.

O Comício, a exemplo do quadro nacional, também mobilizou no

Maranhão a sociedade civil e contou com o apoio das oposições e seus principais

líderes que foram responsáveis pela efervescência do movimento, estando

presentes: Ulysses Guimarães, Luis Inácio da Silva, vários setores da sociedade,

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setores progressistas da Igreja, sindicatos e movimentos estudantis, com ampla

cobertura dos meios de comunicação.

O apoio das camadas populares no Maranhão foi significativo, em torno

de 10 mil pessoas, que compareceram ao comício realizado na praça Deodoro em

São Luís; mas as divergências dentro das oposições acabaram enfraquecendo, ante

a opinião pública, o movimento das “Diretas Já” (JORNAL O IMPARCIAL,

16/02/1984b, p. 3).

É em meio a esse rico processo político que ocorreu o Projeto Viva um

projeto voltado para a cultura popular, e que teve início em 3 de agosto de 1984,

culminando em um Festival com a gravação do LP composto pelas 10 melhores

músicas.

2.2 A importância histórica, política, social e cultural do “Projeto Viva” no

Maranhão

O Maranhão também viveu a efervescência da década de 1980, eleições

governamentais de 1982, Campanha das “Diretas Já” e todo aquele cenário de

mudanças políticas em torno das transições democrática e econômica que afetava

todo o país.

Contudo, também houve a valorização no âmbito cultural, a partir da

realização de várias atividades e do surgimento de alguns movimentos culturais,

como Os Festivais de Coros, no teatro Arthur Azevedo, Bailes na cidade.

Em 1982, houve um grande Festival de Verão em homenagem ao

aniversário de São Luís, realizado pelas Rádio e Televisão Ribamar e FM Mirante,

com o apoio da Prefeitura Municipal de São Luís e Secretaria de Desportos e Lazer

(Sedel), com transmissão ao vivo para todo o Brasil por meio do Programa “Boa

Noite Brasil”, de Flávio Cavalcanti, da Rede Bandeirantes de Televisão, realizado

inicialmente no Ginásio Costa Rodrigues e posteriormente na Praça Deodoro, tanto

em razão de o espaço físico ser maior, quanto pelo fácil acesso (JORNAL O

IMPARCIAL, 05/09/1982, p. 23).

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Além disso, a Praça Deodoro era palco do Carnaval, tendo sido

revitalizada em 1982 em função dessa festa popular. É em meio a essa esfera de

mudanças e encenação de uma nova conjuntura política, econômica, social e

cultural que se inseriu o “Projeto Viva”, realizado em 1984 e 1985, precedido

também pelas Metas de Governo de Luiz Rocha10, que, embora não estivesse nas

suas prioridades nem uma proposta clara nesse sentido, pensou em reativar o papel

da cultura em seu governo, e para isso estabeleceu diretrizes que apontavam para a

realização de projetos voltados para a cultura, diretrizes essas estabelecidas em seu

“Seminário de Cultura”, que eram cadernos elaborados com especialistas das áreas

discutidas em seminários que conforme Luiz Rocha contava com a participação da

comunidade, mediante seus representantes.

Em 3 de agosto de 1984, o governo do Estado do Maranhão, por meio da

Sedel, elaborou um projeto denominado “Projeto Viva”, cujas pretensões eram,

conforme Nan Souza, Secretário de Desportos e Lazer: “O Projeto Viva é uma

iniciativa do governo do Estado por entender que a comunidade tem direito de

participar de toda ação governamental (JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO,

04/08/84, p. 1).

O “Projeto Viva” teve duração de um ano (03/08/1984 a 27/07/1985) e

suas principais atividades foram: show com apresentação do LP em dezembro do

mesmo ano e reuniu artistas de diversas partes do Maranhão tais como Fauzi

Beydeoun, César Teixeira, César Nascimento, Gabriel Melônio, Jorge Tadeu,

Gerude, Zé Américo, Zé Pereira, Roberto Brandão, Zeca Baleiro, Rosa Reis, Luís

Bulcão entre outros.

O “Projeto Viva” iniciou-se com uma proposta de integrar a comunidade

no governo por meio do lazer, como foi dito preliminarmente. Eram realizadas

exposições com os objetos confeccionados no Maranhão por artistas da terra,

vendiam-se em estandes comidas típicas, bem como eram realizadas apresentações

das manifestações consideradas ligadas à tradição maranhense, vindos de outros

municípios do Estado. Tais apresentações eram: mímica, dança e shows, sendo

10Governador do Estado do Maranhão (1982-1984), 1º. Governador escolhido por voto direto após a Ditadura Militar.

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que posteriormente surgiu a proposta do Festival Viva, trazendo maior visibilidade ao

projeto.

Desenvolvendo-se num contexto histórico bastante rico, como já

mencionado, o processo de abertura política no Brasil refletiu diretamente no

Maranhão, com a eleição de Luiz Rocha para governador do Estado, governo este

que possibilitou sua realização. Entretanto, faz-se necessário compreender a sua

relevância no contexto das reformas políticas realizadas pelo governo e sua

importância para manutenção da Sedel.

O “Projeto Viva” foi um projeto político, que buscou suas bases de

legitimação na Cultura, com um apelo popular significativo. Foi realizado em agosto

de 1984 pela Sedel, abrangendo São Luís e alguns municípios do Maranhão e seu

gestor foi o Secretário Eleotério Nan Souza.

Conforme Nan Souza, o projeto tinha como finalidade (JORNAL O

IMPARCIAL, 03/08/1984, p. 7):

Reunir a comunidade por meio da música, de exposições de trabalhos artísticos e artesanais, ajudando a comercializar esses produtos, vendendo ou comprando as coisas típicas do Maranhão e respeitando enfim as nossas tradições culturais. Constituindo-se numa proposta sócio-educativa e cultural do governo do Estado, o Projeto destina-se principalmente a criar um espaço para todo aquele que faz ou aprecia as manifestações culturais e artísticas do Maranhão.

O período de lançamento do Projeto foi precedido de certa agitação

política no Maranhão, pois Luiz Rocha, então governador do Estado, decidiu fazer

modificações na estrutura estatal, implementando uma reforma administrativa, que

resultaria na extinção de algumas secretarias11, dentre elas a de Desportos e Lazer,

como declara Orlando Medeiros, Secretário-Chefe do Gabinete Civil do Governo

(JORNAL O IMPARCIAL, 05/01/1984a, p. 1):

11No Maranhão existiam a Secretaria de Cultura, que tinha como secretário Joaquim Itapari Filho e a Secretaria de Desportos e Lazer, tendo Nan Sousa como secretário. Em nota ao Jornal O Imparcial, uma fonte do governo afirma que há conflitos entre interesses de algumas secretarias, conforme o destacado “a existência de uma secretaria de educação, uma de Cultura e uma de Desportos e Lazer, que a nível federal vinculam todas elas, suas finalidades ao Ministério da Educação e da Cultura.” (JORNAL O IMPARCIAL, 05/01/1984b, p. 1). Ou seja, as atribuições de cada secretaria coincidiam, visto que o Ministério da Educação e Cultura (MEC) abrangem essas três secretarias, não havendo a necessidade de três secretarias somente da de Educação e Cultura.

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As alterações consistem, basicamente, no remanejamento de três secretarias e na criação de duas secretarias [...]. Com a nova estrutura a ser implantada pelo governador Luiz Rocha, serão extintas as secretarias de Desportos e Lazer, que será anexada como departamento à Secretaria de Educação.

Essas reformas trariam mudanças em diversas áreas, pois aqueles que

antes eram titulares das secretarias perderiam seus postos ou seriam absorvidos por

outros órgãos, passando a ser secretários extraordinários.

Tais medidas, embora divulgadas em jornais da época como O Imparcial e

Jornal Pequeno, não foram efetivadas. O governador não conseguiu cumprir as

reformas que desejava, provavelmente pela falta de apoio político que o impedia de

realizar algumas das suas metas. O próprio Governador chegou a dizer (JORNAL O

Imparcial, 11/01/1984, p. 3):

Até 31 de Dezembro tentei conduzir a administração do Estado dando maior ênfase aos aspectos meramente administrativos, ficando o político em plano inferior. A partir daquela data resolvi inverter a situação e passar a administrar com estreita participação do poder político esperando que dessa forma seja melhor compreendido e melhor ajudado.

Todavia, apesar da indefinição do Estado mediante as reformas de

extinção de algumas secretarias e criação de outras, continuou executando suas

várias atividades, como Semana da Criança no Parque do Bom Menino, promoveu

recreação em municípios do Estado, colônia de férias nos bairros, Projeto Lazer

Orientado.

Com atuação em diversos bairros de São Luís, notadamente os mais

periféricos, e paralelamente àquelas iniciativas surge o “Projeto Viva”, que busca

orientar as manifestações culturais e artísticas para o desenvolvimento de um

mercado de bens simbólicos, ou seja, tornar essas manifestações comercializáveis,

atrativas para o público, de modo que pudesse futuramente ser criado um mercado

de bens culturais para o Maranhão.

Conforme Nan Souza, tudo se iniciou pelo nome do projeto, que para ele

era uma forma de não permitir a morte da secretaria da qual estava à frente. Por isso

o nome “Projeto Viva”.

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Para desenvolver essa idéia, a Sedel buscou o apoio do Governo do

Estado e da iniciativa privada para sua realização. Empresas como Armazém

Paraíba, Norte Sul, Cerma e o Banco do Estado do Maranhão (BEM)12 deram o

apoio financeiro de que precisava. O secretário Nan Souza relata que o BEM

financiou a compra do equipamento de som.

Outro ponto importante está relacionado às atribuições da Sedel, visto que

esta era um órgão de Esportes, portanto, promover uma iniciativa voltada de forma

clara para a Cultura fugia das competências desta. Assim, conforme entrevista de

Nan Souza, havia duras críticas a esse respeito e um esforço para permitir a

aprovação do Projeto, sem contudo prejudicar as funções da Secretaria de Cultura.

A secretaria não era específica, não tinha atribuição com a política cultural do Estado, mas tinha com a juventude que era de desportos e lazer, e aí nós nos encontramos nessa dialética, de lazer cultural, encontramos todo o caminho para admitir que tinha intimidade para fazer, porque isso foi muito questionado: o que era que uma secretaria de desportos e lazer tinha a ver com cultura? Com música? A gente trabalhava exatamente com a sociologia. Olha isso é o ser integral [...]. Então a gente criava em função dos questionamentos, a gente ia encontrando formas de explicar pra não arrestar com os órgãos específicos13.

Desse modo, o “Projeto Viva” foi iniciado e constituído de duas etapas. A

primeira, referente a diversas apresentações como recital de poesias, espetáculo de

dança, apresentação de cantores e compositores, peças teatrais, venda de comida

típica, artesanato maranhense, capoeira, Tambor de Crioula etc. seria realizada

uma vez por mês no interior do Estado e semanalmente em bairros como Anjo da

Guarda, Liberdade, Cohama, Praça Deodoro, Bairro de Fátima, entre outros. A

segunda etapa consistiu na realização de um Festival de Música e deu maior

destaque ao Projeto, ficando conhecido como Festival Viva. (JORNAL O

IMPARCIAL, 03/08/1984, p. 7).

O “Projeto Viva” foi lançado oficialmente em 03 de agosto de 1984,

numa festa na principal praça pública de São Luís no centro da cidade, a Praça

Deodoro, que contou com a presença do Governador Luiz Rocha, tendo sido

12Norte Sul, Cerma e o Banco do Estado do Maranhão são empresas que já não existem mais. As duas primeiras eram de iniciativa privada, e o último foi privatizado para o Banco Bradesco. 13Entrevista realizada com o ex-deputado Eleotério Nan Souza, em 27 de Julho de 2007.

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realizadas várias manifestações, para um público de cerca de cinco mil pessoas

(JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, 04/08/1984, p. 2).

A Sedel, mediante o patrocínio do Banco do Estado do Maranhão (BEM)

possuía uma estrutura de som adequada para as apresentações, e montou

um Conjunto Musical que ficou conhecido como “Banda Viva”, e antes das

apresentações realizava um trabalho de estudo do local onde seria a apresentação e

catalogava as manifestações e os artistas daquela localidade, com a finalidade de

abrir espaço para novos talentos, conforme afirma Nan Souza.

Essa espécie de seleção não ocorria apenas em São Luís, mas nos municípios onde o “Viva” se apresentaria, de modo a conhecer as manifestações culturais locais, das mais diversas, desde a música, a culinária, teatro, já que o projeto tinha como filosofia a valorização das raízes culturais em toda sua dimensão14.

É interessante notar que a noção de cultura que o projeto trabalhou não

se voltou apenas para a cultura de São Luís, como aquela que se estende a todo o

Maranhão, mas sim uma cultura local, ou seja, preocupando-se com as atividades

culturais e artísticas de cada região, resguardadas as devidas proporções e

singularidades.

O “Projeto Viva” montou a “Banda Viva” que era composta de 28 músicos.

Fazia apresentações mediante contrato, e o dinheiro arrecadado seria para os

gastos do projeto, conforme Nan Souza. Além disso, era responsável pela estrutura

musical para as apresentações relativas especificamente ao “Projeto Viva”,

apresentava-se ainda como o carnaval de São Luís, Baile dos artistas15 etc.

Desse modo eram desenvolvidas as atividades programadas às sextas-

feiras em bairros da capital e uma vez por mês em uma cidade do interior. A última

apresentação do ano de 1984 foi no dia 28 de dezembro. O Projeto Viva contabilizou

ao todo 18 apresentações neste ano, atingindo um público de cerca de 90 mil

pessoas (JORNAL O IMPARCIAL, 10/03/1985, p. 2).

14 Ibid. 15Baile dos artistas era uma festa realizada pelo artista Pierre Cardoso, com o objetivo de prestar homenagens a artistas da terra e buscavam trazer artistas de telenovelas para prestigiar o evento.

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A segunda fase do Projeto foi a realização do “Festival Viva”, concebido

em reunião para avaliação do Projeto: “O retorno dos festivais como forma de

divulgar a música maranhense e a gravação de um disco com artistas que

participaram do Projeto Viva foram sugestões apresentadas durante a reunião de

avaliação do projeto no Parque do Bom Menino” (JORNAL O IMPARCIAL,

14/09/1984, p. 5). Porém, o referido Festival foi realizado apenas em 1985 e se

constituiu como uma espécie de mediador da música maranhense, bem como dos

produtos dessa cultura, como artesanatos, comidas típicas e a promoção de

atividades culturais.

Com o Festival, foi possível conseguir uma série de parcerias com a

imprensa de algumas rádios de São Luís, e assim divulgando o trabalho que estava

sendo empreendido, bem como dos jornais que divulgavam o evento, as empresas

que investiram no Projeto como um todo. Além disso, o Festival contaria com a

presença de pessoas famosas nacionalmente, com a finalidade de divulgação dos

compositores maranhenses a nível nacional.

O “Festival Viva” seria a conclusão de um trabalho realizado ao longo de

um ano e meio, com um sucesso relativo, conforme o titular da Sedel. Assim,

“divulgar a música maranhense e oportunizar o conhecimento e a descoberta de

novos autores e compositores são os objetivos do primeiro Festival Viva de música

popular” (JORNAL O IMPARCIAL, 16/04/1985, p. 7).

2.3 Estruturação do Festival Viva de música maranhense

O Festival teve início em 1985 e ocorreu uma espécie de conclusão do

Projeto. Houve as inscrições de candidatos, que se iniciaram do dia 02 de abril até o

dia 26 do mesmo mês, tendo sido prorrogadas até o dia 03 de maio de 1985 e eram

feitas no Ginásio Costa Rodrigues, onde seria realizado o Festival (JORNAL O

IMPARCIAL, 30/04/1985, p. 2).

As inscrições foram bastante divulgadas em vários meios de comunicação

de massa, como rádios e jornais, o acesso era permitido a todos dentro do território

nacional, desde que cumprissem alguns requisitos importantes: que a música fosse

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inédita, escrita em português, que as letras fossem entregues em três cópias

datilografadas, a gravação da letra e música em fita K-7 com som de base e audível.

Além disso, era necessário que a letra viesse com autorização prévia quanto à

liberação do seu conteúdo pela Censura Federal, além dos documentos pessoais e

o pagamento da taxa de Cr$ 10 mil, que seria utilizada para arcar com os gastos do

Festival. Além dos concorrentes de São Luís, alguns municípios do Estado também

participaram (JORNAL O IMPARCIAL, 16/04/1985, p. 7).

As etapas do Festival consistiam em inscrição das músicas, onde cada

compositor poderia inscrever até duas músicas, que passariam por uma triagem,

visto que houve uma média de 420 composições inscritas. Deste montante seriam

escolhidas as 60 melhores músicas.

Entretanto, nem todas as músicas que estivessem na gravação

participariam. Havia um corpo de jurados especializados em música para fazer uma

seleção das músicas que seriam classificadas para o Festival, uma espécie de

eliminatória e triagem.

A comissão organizadora do Festival Viva, juntamente com os jurados

submeterá a julgamento prévio as músicas gravadas em fita K-7, a título de primeira

eliminatória e classificará as sessenta melhores músicas (JORNAL O IMPARCIAL,

30/04/1985, p. 2).

A escolha das 60 melhores músicas seria definida na fase classificatória,

e não houve divulgação dos critérios utilizados, mas fora realizada por profissionais

da música conforme anunciado. As músicas aprovadas avançariam para a segunda

fase, as eliminatórias. Haveria quatro etapas eliminatórias, participando de cada

uma 15 canções que concorreriam a 5 vagas por fase (JORNAL O IMPARCIAL,

10/05/1985, p. 16).

Para avaliar as músicas em cada eliminatória, haveria 20 membros do

cenário artístico e cultural do Maranhão, e convidados escolhidos pela Sedel. Os

membros escolhidos pelo povo foram os disque-jóqueis16 das diversas rádios de São

16Eram os tocadores de discos (DJ) e foram: Fernando Cota (Mirante), Robson Júnior (Educadora), Serra Neto (São Luís), Fernando Leite (Difusora), Lima Coelho (Ribamar), Raimundo Coutinha (Timbira).

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Luís. Os critérios17 utilizados seriam: melhor música, melhor letra, melhor intérprete e

melhor arranjo.

As eliminatórias foram realizadas nos dias 24 de maio, 07 e 21 de junho e

05 de julho, a semifinal no dia 12 e 19 de julho e a final no dia 26 de julho. A

premiação foi constituída de prêmios para os três primeiros lugares, melhor pesquisa

regional, que foi a música com temas sobre o Maranhão e havia ainda melhor

intérprete (JORNAL O IMPARCIAL, 16/04/1985, p. 7).

O Secretário de Desportos e Lazer, Nan Souza, informa aos três primeiros classificados no Festival, serão atribuídos respectivamente, Cr$ 5 milhões, Cr$ 3 milhões e Cr$ 1 milhão, ao primeiro, segundo e terceiro vencedores. A comissão julgadora atribuirá em caráter especial, um prêmio pesquisa, para o melhor tema regional, apresentado no festival, correspondente a Cr$ 1,5 milhão. Também será conferido um prêmio ao melhor intérprete do Festival.

A primeira eliminatória contou com a participação do cantor e compositor

nacional Belchior, que fez um show especial com a Banda Viva e os músicos que

o acompanharam. A segunda e terceira eliminatórias estavam cotadas como

praticamente certas, respectivamente: Dom & Ravel18, Fagner e ou Dominguinhos e

finalmente na quarta e última eliminatória houve a participação especial de

Osvaldinho do Acordeon, que toca os gêneros de forró e xaxado.

A estrutura física montada foi a ampliação da Banda transformada em

Orquestra sob a regência do maestro Nonato. Os votos seriam apurados por meio

de sistema de computação no ginásio Costa Rodrigues e a acústica melhorada por

técnicos para garantir a boa equalização do som.

Em cada eliminatória eram escolhidas cinco músicas para, ao fim,

contarem vinte músicas que disputariam a grande final. Das vinte músicas que

disputariam a final, apenas dez seriam classificadas. Estas dez gravariam um

long-play, ou seja, um vinil no Rio de Janeiro na gravadora Transamérica e voltariam

a São Luís para o lançamento do LP, as cópias seriam divididas em partes iguais

17Pontuação correspondente a cada critério: melhor música 0 a 10, melhor letra 0 a 10, melhor intérprete 0 a 5 e melhor arranjo 0 a 5. 18Dom & Ravel era uma dupla brasileira cearense que surgiu na década de 1960.

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aos participantes que comercializariam como melhor lhes conviesse (JORNAL O

IMPARCIAL, 29/03/1985, p. 2).

Ao término do Festival a composição vencedora foi “Oração Latina” de

César Teixeira e interpretada por Gabriel Melônio e Cláudio Pinheiro, que se tornou

canção de protesto em manifestações politizadas no Maranhão e a história de sua

origem remonta a trajetória política dos anos da censura no Brasil, pois foi vetada

para utilização pública, comenta César Teixeira. “É o tema de uma peça teatral

escrita a muitos anos, do grupo ‘Quilombo’, chamada ‘Preto Fugido’. O grupo Teatral

era do Anjo da Guarda, foi num tempo negro da censura (...). Em 1976, a peça foi

enviada para Brasília, sendo vetada.” (JORNAL O IMPARCIAL, 22/12/1985, p. 2).

A vitória dessa música engajada reflete bem o período em que o projeto

se inicia e como isso se reflete no artista nacional e regional que eram os jurados e

escolheram uma música de protesto muito parecida com as canções que embalaram

os comícios das “Diretas Já” por todo o país. A vitória dessa canção demarca que a

produção cultural em todo país reflete aspectos do momento de transição que está

se vivendo.

A letra da música é instigante, e este tipo de composição-denúncia é fruto

desse momento específico da situação política no período de 1984, ou melhor, em

todo o período de abertura política no país, como podemos perceber na letra.

“Oração Latina” Esta nova oração É uma canção de vida Pelo sangue da ferida no chão Que não cicatrizará Nem tampouco deixará De abrir a rosa em nosso coração. E diga “sim” a quem nos quer abraçar. Mas se for pra enganar diga “não”. Ê êia com as bandeiras nas ruas ninguém pode nos calar. E quem nos ajudará A não ser própria gente, pois hoje não se consente esperar... Somente a Rosa e o punhal, Somente o punhal e rosa, Poderão fazer a luz do sol brilhar E diga “sim” a quem nos quer acolher Mas se for pra nos prender diga “não” Ê êia ninguém vai ser torturado com vontade de lutar.

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A música revela essa maciça participação popular na vida política e a

ruptura com muitas ditaduras na América Latina, e mostra a convicção de mudança

na força da ação popular. Importante notar ainda a importância da vitória dessa

música, na medida em que o Festival, embora aceitando músicas a nível nacional,

dará maior ênfase a composições maranhenses, e a vitória dessa música demonstra

que as mudanças, embora pequenas, eram significativas.

É importante pensar ainda o Projeto a partir da relação do Estado com a

Cultura, pois estas iniciativas de compreensão e valorização da cultura não são

tentativas novas, mas são utilizadas desde a década de 60. Naquele contexto

buscou- se forjar a identidade da nação através do aspecto cultural, embora aqui o

estudo não esteja na dimensão da identidade, está pautado na utilização da cultura

para se criar um comércio capaz de dar vazão a todas as manifestações culturais.

Entretanto, algo importante a ressaltar: o conceito de cultura que o Projeto

utiliza não se pauta somente na cultura ludovicense, mas busca a diversidade de

outras regiões do Maranhão. Além disso, a importância do Projeto independente da

sua finalidade financeira foi buscar incentivos para a cultura, dando suporte para que

se começasse a pensar em políticas sérias de incentivo à cultura dentro de toda sua

diversidade.

Na mesma perspectiva, o Projeto foi importante à medida que buscou criar

um espaço para que os artistas pudessem expor seus trabalhos, no intuito também

de criar uma ponte entre o regional, mas interligando-o ao nacional.

Contudo, a cultura no Maranhão sempre foi utilizada muito mais como

suporte do discurso político, do que tentativa séria de criar políticas públicas voltadas

ao artista local, e que embora atendendo interesses do Estado, permitisse a plena

realização das atividades profissionais dos artistas. Muitos desses artistas buscam

manter-se por meio da arte, e, neste sentido, têm que buscar em outras localidades

a possibilidade de viver de arte, pois os que aqui permanecem acabam tendo uma

atuação restrita no campo cultural com relação ao cenário nacional.

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3 PROJETO VIVA: UMA POLÍTICA ESTATAL DE CRIAÇÃO DE UM MERCADO

CULTURAL NO MARANHÃO

A década de 1980 foi um período de mudanças significativas no cenário

político, social e econômico do Maranhão. Entretanto, outro aspecto começa a

delinear-se no governo de Luiz Rocha, uma pequena, mas existente, preocupação

com a cultura maranhense. Ao assumir o governo em 1983, Luiz Rocha promoveu

através de suas assessorias o mapeamento da situação do Estado para consolidar

seu plano de ação e as metas do seu governo. Para cada setor, criou seminários

com participantes da área estudada, setores de órgãos públicos e da iniciativa

privada e com parcela representativa da comunidade.

Não foi diferente com a Cultura, e segundo o Plano de Metas foi realizado

o Seminário de Cultura19, para avaliar as manifestações culturais presentes no

Estado, conhecer a situação no que concerne às políticas públicas voltadas para

este setor, à produção de bens culturais, à distribuição desses bens, formação de

recursos humanos, relação entre a cultura e educação, preservação de bens

culturais.

O que é importante notar nesse contexto é a busca de novas

possibilidades no campo institucional. Isto, ainda que as metas não tenham sido

plenamente desenvolvidas ao longo do mandato20, e que o mapeamento da situação

vigente no estado, nesse setor,não tenha contemplado o planejamento que deveria

ser uma condição para aqueles que iniciam um mandato, é importante compreender

que houve um modo novo de encarar a cultura nesse momento.

19O seminário de Cultura era um documento produzido a partir de um Plano de Metas, uma espécie de plano de governo, que colhia informações acerca daquele setor, sua situação atual, sugestões de ações, recomendações, através de uma equipe competente para cada área econômica, administrativa, social etc, com o intuito de conduzir as ações do governo para essas áreas. No caso do setor cultural, foi desenvolvido o Plano de Metas, Seminário de cultura, onde continha no documento a situação atual do Estado para a área cultural, levantamento dos órgãos que atuavam nessa área naquele momento entre outros, e havia para cada setor sugestões de iniciativas a serem desenvolvidas para sanar os problemas existentes e aperfeiçoar o que já houvesse de bom e foi realizado por várias pessoas que atuavam na área cultural. 20O Plano de Metas foi desenvolvido antecipadamente ao governo de Luiz Rocha, o governador venceu as eleições diretas para governador de 1982 e tomou posse em 1983, com duração de 4 anos, e já havia desenvolvido os planos de meta, que ainda durante as eleições, ele divulgou que iniciaria os Planos de metas “Luiz Rocha traça metas do Governo” (JORNAL O IMPARCIAL, 19/10/1982, p. 3).

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O Seminário de Cultura tinha metas norteadas pelo governo do Estado:

Em consonância com o governador eleito, Luiz Rocha, de estabelecer as metas de seu governo dentro de um processo participativo e descentralizado o Seminário do Sistema Cultura que abrange, basicamente, os setores de Ação Institucional, Consumo de Bens Culturais, Formação de Recursos Humanos, Integração entre Cultura e Educação, Manifestações Populares, Preservação de Bens Culturais, e Produção de Bens Culturais [...]. Acerca desses setores, foram debatidos os diversos temas, indicados pela comissão setorial, bem como outros escolhidos pelos grupos de trabalho, relativos aos vários segmentos que compõem os citados setores. O seminário contou com a participação de dirigentes e representantes de Órgãos Federais, Estaduais, Municipais e Entidades de Classe, tendo alcançado os objetivos que se propôs.21

É importante perceber nesse panorama o esboço inicial da preocupação

com uma área da sociedade relegada ao esquecimento, ou pelo menos

desatendida. No entanto, não afirmamos que não houvesse uma preocupação com

o folclore, com algumas manifestações da cultura popular, por parte de estudiosos,

ou pessoas ligadas a essas manifestações, mas refere-se aqui à preocupação com a

cultura popular. Esta, inclusive, vista como uma área social, que é diversa e que tem

potencial de desenvolvimento pleno no estado, e que nesse momento passa a ser

encarada como uma zona de responsabilidade do Governo.

Além disso, o “Seminário de Cultura” fez um delineamento da situação

cultural na esfera institucional, para melhor gerir as ações do Estado. Mas, não se

pode incorrer no erro de afirmar que, com o governo de Luiz Rocha, a Cultura se

desenvolveu em todas as suas áreas, que houve a dinamização de recursos

provenientes do Estado, que tenha sido responsável por modificá-la

substancialmente, pois essa análise seria precipitada.

O que se busca compreender é que nesse momento da década de 1980,

esta preocupação começa a ser estimulada, talvez devido ao debate nacional sobre

a implantação das indústrias culturais, que vem sendo fortalecido desde a década de

1960. Além disso, a busca de mercados capazes de acolher esse novo mercado de

bens culturais, onde a música se tornou um grande representante com a

consolidação das indústrias fonográficas em áreas mais desenvolvidas do país.

21Plano de Metas, Seminário de Cultura, Relatório, 1983.

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Partindo dessa análise, observamos algumas características importantes

pensadas dentro do Seminário de Cultura que merece uma apreciação, visto que a

partir dessa discussão, podemos compreender o “Projeto Viva” numa concepção

estatal, embora tenha sido constantemente identificado com o deputado Nan Souza,

à época secretário da Sedel como gestor do projeto.

Durante a pesquisa e as entrevistas, o que podemos notar é que em

muitos momentos, o “Projeto Viva” é muito mais associado à figura de Nan Souza,

do que a uma iniciativa do governo do Estado. Mesmo que não fique claro em

algumas vezes, ressalte-se que a iniciativa era governamental, pois partiu da Sedel,

que era um setor do Estado. Entretanto, os personagens e a própria mídia associam

a realização do Projeto como um esforço maior do secretário e da equipe por ele

escolhida, como a secretária do Projeto Nazaré Jansen, produtora de eventos, Gigi,

responsável pelo Teatro, Oberdan, músico da Banda Viva, dentre outros.

“Viva. Enfim a cidade viverá instantes de reencontro com o fazer cultural

adormecido e moribundo. Nan Souza é o responsável por essa sacudidela e vai

provar que Lazer não é malandragem.” (JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO,

28/07/1984, p.11).

A cantora maranhense Rosa Reis22, em seu discurso, descreve que:

“Eu vi muito mais na época, um empenho do Nan que tava à frente da coisa, ser

realizada, que realmente acabou produzindo tudo.”

O primeiro ponto a ser discutido refere-se à tentativa governamental, por

meio do Seminário em determinar qual a responsabilidade institucional junto à

cultura, qual a ação e participação efetiva do poder público, no tocante ao seu apoio

à criação, ao consumo e distribuição dos bens culturais. Da mesma forma, também

havia a preocupação com os recursos e a distribuição dos mesmos para atender à

necessidade de fruição dos bens culturais pela sociedade. Nesses tópicos alguns

aspectos trabalhados foram importantes para compreendermos o tipo de ação

institucional que se buscou para o Estado.

22Entrevista concedida por Rosa Reis no dia 04/02/2009.

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O papel do Seminário naquele momento foi fazer um mapeamento da

situação em cada área trabalhada, evidenciar as falhas em cada esfera e sugerir

propostas de ação compatíveis com a intenção do poder público, que a priori era

revitalizar as políticas voltadas para a cultura. Para isso, sugeriu o fortalecimento dos

órgãos específicos da Cultura, mediante implantação de recursos humanos

capacitados e suporte de equipamentos necessários à execução de projetos

culturais. Assim, buscou-se, ao menos no papel, um intercâmbio com a Universidade

Federal do Maranhão (UFMA), para oferecer cursos de extensão na área, ou seja, o

primeiro ponto foi criar condições de atuação na área cultural por órgãos já

existentes e mesmo aqueles que embora não fossem específicos tivessem ligação

e alguma atuação na esfera cultural.

Ao se analisar as questões desenvolvidas pelo Seminário de Cultura, é

bastante significativo refletir que estas iniciativas tenham sido um arcabouço, ao

menos teórico, para implantação de uma política cultural para o Maranhão. Foram

discutidas em vários tópicos do Seminário as melhores maneiras de consolidar as

bases para o desenvolvimento de uma cultura forte, diversificada, conhecida de toda

a sociedade e valorizada por esta. Afinal, uma característica marcante que se

observa no trabalho é a tentativa de criar uma identificação entre a cultura e a

sociedade maranhense para, dessa maneira, proporcionar a “defesa da identidade

cultural maranhense” (Relatório, 1983, p. 8).

Outro aspecto importante a ser considerado é a preocupação com a

diversidade, com a formação de recursos humanos capacitados para essa área, a

busca de profissionalização dos agentes culturais e a valorização de cada esfera

dentro da cultura maranhense. Além disso, outra preocupação dentro do Seminário

é a de promover a identificação da população com essa diversidade no âmbito da

cultura e envolver a comunidade, marcadamente a que tem menos acesso aos bens

culturais; como se observa:

Projetos para periferia e interior, tanto para a valorização de sua cultura, quanto a ampliação de bens culturais, mecanismos de alimentação do diálogo entre os órgãos governamentais e sociedade, aproveitamento da TV e rádio estaduais e outros meios de comunicação, espaço de mostragem: galeria, teatro,orientação conceitual pelos órgãos culturais a órgãos de outras áreas quando atuantes na cultural. Definir uma política cultural para o Maranhão, capaz de absorver a pluralidade de

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manifestações e interesses culturais e integrar os diversos órgãos sob uma linha de ação não dispersiva23.

Relevante salientar, ainda, a preocupação com a atuação dos meios de

comunicação de massa para sua utilização a serviço dos projetos culturais que

viessem a ser desenvolvidos. Essa prática não é de todo nova, embora recente no

Brasil com a consolidação na década de 1960 da rede de telecomunicações. Estes

eram voltados para a Cultura, além de outros fins.

No entanto, é importante destacar que as ações relacionadas à Cultura

devem ser percebidas como elementos de um processo político, reconhecendo que

a cultura também é uma esfera de poder, e que a ela deve ser dada uma atenção, a

fim de desenvolver um governo sólido, com apoio em todas as suas áreas de

atuação. Exemplo disso foram os seminários realizados nas diversas áreas, como na

agricultura, cultura, desportos e lazer, saúde pública, justiça, segurança etc.

O Seminário de Cultura pode ser percebido como instrumento de reflexão

para aquele momento, pois será realizado por equipes de especialistas na área, por

representantes da comunidade. O evento trabalhou temas que demonstram a

preocupação da sociedade maranhense com tais valores, a discussão sobre verbas

a serem destinadas à Cultura e a relação entre Educação e Cultura são pontos que

receberam destaque.

Outro fator importante discutido foi a criação de espaços onde houvesse

maior socialização entre a sociedade e os artistas locais. Tais espaços estão

relacionados à realização de shows, com acesso facilitado a toda população,

divulgação pelos meios de comunicação de massa da cultura maranhense, a

realização de feiras de livros, preocupação com a culinária, manifestações

folclóricas, possibilitar condições de produção, de distribuição de bens culturais e a

valorização e suporte para condições de trabalho a esses artistas.

No seu início, o governo concluiu ser importante a construção de uma

infra-estrutura, desde a consolidação das instituições culturais já existentes até a

distribuição desses bens, a criação de condições para efetivar um mercado cultural e

a valorização dessas manifestações e da cultura como um todo. Algumas medidas

23Relatório. Plano de Metas. Seminário de Cultura, 1983.

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para a realização de determinadas metas foram iniciadas, mas sem amplo

desenvolvimento ao longo do período, como o fundo cultural (JORNAL O ESTADO

DO MARANHÃO, 26/07/1984, p. 11):

O governador Luiz Rocha tem dedicado, desde o início da sua administração, uma atenção especial à cultura maranhense. Além de dotar a secretaria de cultura de melhores meios para desenvolver suas atividades, inclusive melhorando a Escola de Música, criou recentemente a Fundação Cultural do Sertão Joça Rego, com sede em Balsas e destinada a estimular as atividades culturais daquela região. Agora o governador vem de criar o fundo de Desenvolvimento Cultural, uma velha aspiração da cultura maranhense e uma permanente reivindicação de todas as secretarias de cultura do país. Com seu ato, Luiz Rocha fez do Maranhão o primeiro Estado Brasileiro a ter um fundo destinado ao desenvolvimento da cultura, o que sem dúvida representa uma grande conquista para a cultura de nossa terra.

As ações institucionais por parte do Estado que viabilizassem uma política

pública voltada às ações culturais foram quase inexistentes, o que se perpetuou em

seu governo, sendo denunciado no seu próprio Plano de Metas para a cultura, que a

cultura vive de subsídios, sem uma política pública capaz de atender de modo

significativo às suas necessidades: “No orçamento estadual a parcela destinada ao

sistema cultural é insuficiente face às necessidades do setor, o que é agravado pela

ausência de legislação fiscal de incentivos a investimentos na área cultural a nível

estadual e municipal”24

Embora as ações do governo no plano cultural não tenham se realizado

em uma legislação com atribuições claras, repasse de recursos públicos definidos,

ações voltadas de modo significativo para promover o acesso aos bens culturais por

toda população, profissionalização dos agentes culturais de modo a proporcionar

aos mesmos uma autonomia de trabalho, essa iniciativa fomentou projetos nas

áreas culturais.

Foi a partir de secretarias ligadas direta ou indiretamente à Cultura como

foi o caso da Sedel, que inicialmente produziu o projeto “Setembro na Praça”,

realizado em 1983, que atendeu um grande público e trabalhou o lazer e a cultura e

que posteriormente propiciou as bases de criação do “Projeto Viva”, que será um

catalisador dos vários matizes da cultura maranhense e por meio dele percebe-se a

24Plano de Metas, Seminário de Cultura, Relatório, 1983.

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tentativa clara de criação de bens culturais, a divulgação, a circulação desses bens

fora e dentro do Estado, com destaque para a música maranhense que ocorreu no

período de 1984 e 1985 (JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, 28/07/1984, p.11).

Essa discussão faz-se necessária a fim de que se possa compreender o

“Projeto Viva” dentro de uma política governamental, situada na década de 1980,

mais especificamente em 1984 e 1985. Esta política, embora não tenha sido efetiva

no desenvolvimento de políticas públicas e institucionais, estimulou debate sobre a

cultura maranhense, sua diversidade e as possibilidades que dela advêm, caso haja

uma ação sólida por parte do governo, da sociedade e do poder privado.

Entretanto, antes de apresentar características sobre o “Projeto Viva” e

suas implicações para a política cultural maranhense, é imprescindível que se faça

uma interpretação dos conceitos pertinentes, para melhor apreender o significado e

a utilização no contexto que estamos estudando, e não incorrer em anacronismos,

tampouco distorções da realidade.

3.1 A indústria cultural como conceito e realidade histórica

Pretende-se compreender o Projeto Viva a partir de alguns conceitos já

estabelecidos e amplamente discutidos, mas que merecem ser mais bem estudados

e interpretados no sentido de dar suporte à discussão conceitual sugerida para o

presente capítulo. Para atingir tais objetivos, é preciso relativizar alguns sentidos já

consagrados por grandes autores, como é o caso do conceito de Indústria Cultural,

formulado por ADORNO; HORKHEIMER (1985), dentre outros.

Diante do que foi exposto, BARACHO; REIS (2008, p. 2) definem cultura

como:

[...] um sistema de comunicação uma vez que as manifestações culturais propiciam e criam uma rede de trocas de bens simbólicos, tanto por intermédio do mercado quanto das relações cotidianas e comunitárias. Ou seja, a cultura vista como um processo pelo qual os indivíduos de uma mesma sociedade se comunicam e interagem.

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46

Nesse aspecto, a cultura se define como expressão da construção social

de sentido dos modelos de vida que os povos adotam em sua trajetória, a cultura

realiza-se mediante um movimento permanente de mutação. É, assim, um processo

em permanente evolução, diverso e rico, o desenvolvimento de um grupo social, de

uma nação, de uma comunidade, fruto do esforço coletivo pelo aprimoramento de

valores espirituais e materiais (BARACHO; REIS, 2008, p. 2).

Portanto, a cultura é vista sob dois aspectos, como um local onde a

sociedade interage por meio de valores e os transforma em bens simbólicos, pelo

intermédio das relações, tanto de mercado como cotidiana, como um processo fruto

da construção humana em sociedade, que cria modos de agir, de viver, de estar no

mundo e de representá-lo.

A cultura é vista como um sistema no qual ela seja valorizada tanto por

seu sentido em si, como pelo valor que dela pode-se obter com políticas culturais

que lhe reconheçam portadora de possibilidade de geração de renda, emprego, de

um mercado de bens simbólicos, ao mesmo tempo valorizando-a e possibilitando a

sua dinamização dentro da sociedade.

Outro conceito relacionado é o de “política cultural”, segundo COELHO

(2004) apud NASCIMENTO (2007, p. 1) como um “Programa de intervenções

realizadas pelo Estado, instituições civis, entidades privadas ou grupos comunitários

com o objetivo de satisfazer as necessidades culturais da população e promover o

desenvolvimento de suas representações simbólicas.”

Em sentido estrito, esse conceito nos remete à atuação do Estado, bem

como de instituições privadas ou outros grupos, muito embora se saiba que, via de

regra, no Brasil, o Estado seja o principal responsável por iniciativas na economia e

na cultura, em geral. O Estado implementa essas ações no sentido de criar as

condições ou a infra-estrutura que possibilite grandes projetos nessas áreas. Nesse

momento, no Maranhão a exemplo do Brasil, a infra-estrutura necessária para a

realização de um projeto na área cultural será de iniciativa do Estado, pelo menos

dando as bases para a realização de um projeto cultural.

Outras considerações relativas à indústria cultural e à cultura de massas

são apresentadas a partir de diferentes conceitos formulados. Começa-se a

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compreender a partir do conceito de ADORNO; HORKHEIMER (1985) que estes

teóricos são os primeiros a utilizar o termo “indústria cultural”, e que produzem uma

análise importante desse fenômeno, mesmo que de um ponto de vista negativo e

tecendo duras críticas.

A indústria cultural serve como arcabouço ideológico que sustenta o

consumo, prometendo algo inatingível, destituindo o consumidor de um cotidiano

maçante, mas dando-lhe, paradoxalmente, o mesmo cotidiano, porém com ares

reformulados, fílmicos (ADORNO; HORKHEIMER, 1985).

Nesse sentido, a indústria cultural é tida como a indústria do

entretenimento, que padroniza produtos culturais e os produz em série, para uma

grande massa alienada e destituída de crítica, meros receptores de uma cultura

dominante.

O que se busca ao explicitar o conceito formulado por esses teóricos é

demonstrar que, embora o conceito estabelecido seja passível de críticas, a partir

dele entende-se que é um fenômeno complexo, que não pode ser transplantado tal

qual concebido na década de 1940, durante um regime totalitário25, e em condições

sócio-econômicas totalmente diversas.

No entanto, destaca-se a possibilidade de se fazer uma reflexão desse

conceito no Brasil e de que maneira foi implantada uma indústria com moldes

culturais no Brasil, com a instalação de meios de comunicação que deram suporte

técnico para a expansão de determinados produtos como a música e a publicidade.

Tal expansão tem sua importância para a consolidação dessa indústria no cenário

nacional, mas, como analisa VIANA (2002), a concepção adorniana negligencia

dois aspectos importantes na sua teoria, a primeira delas refere-se à recepção da

indústria cultural e o outro à não percepção de suas contradições.

25Regimes totalitários na compreensão de Hanna Arendt define-se como regimes de governo que “eliminam totalmente a liberdade, a espontaneidade através do condicionamento e da massificação”, estão fundados essencialmente no terror e que foi originado pela perda da autoridade ocorrida no século XX, e que é entendida como “contraposição à coerção pela força como a persuasão através de argumentos” (OLIVEIRA, 2006, p. 3) e com a crise dessa autoridade, houve a possibilidade de ascensão desses regimes. Para Hanna Arendt, regimes totalitários são representados somente pelo Nazismo na Alemanha e stalinismo na URSS.

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As pessoas não funcionam como meros receptáculos dos produtos e

mensagens emitidos pela indústria cultural. Muito embora essas mensagens sejam

bem elaboradas e transmitidas pelas redes de comunicação de massa, os indivíduos

têm sua própria interpretação. Cada classe re-significa as mensagens conforme a

sua vivência e seus valores, a partir de sua consciência do condicionamento dos

seus modos de vida (VIANA, 2002).

Outro aspecto consiste na contradição da própria indústria cultural. A

propaganda ideológica feita pelos detentores dos meios de comunicação muitas

vezes é intencional, mas nem sempre. Além disso, há uma grande diferença entre a

ideologia pregada pelos meios de comunicação de massa e a realidade concreta.

Desta forma, ao mesmo tempo em que a propaganda reforça valores burgueses dos

detentores do poder, exacerba o descontentamento daqueles que não podem fazer

parte desse consumo (VIANA, 2002).

As indústrias culturais não podem de modo absoluto controlar o sistema

cultural da sociedade, pois também elas estão sujeitas a adequar-se a demandas

culturais produzidas pela própria sociedade. Este foi o caso da instituição da MPB,

que na década de 1960 foi considerada algo nocivo, e que na década de 1970

mudou-se esse significado para algo de bom gosto e consumo (VIANA, 2002).

O que se pretende ao analisar esses dois autores é propor uma análise

relativizada acerca do fenômeno da indústria cultural, percebendo que, embora ela

tenha um poder de criar um público abrangente que muitas vezes não prima pela

qualidade e sim pelo entretenimento alienado, ela também pode ser considerada

como processo de circulação de conhecimentos. Pode, ainda, ser apreendida como

um processo de mão dupla, que possibilita acesso a uma maior gama de indivíduos,

que recebem e re-significam as mensagens e produtos recebidos, e que possibilita

também por meio de suas lacunas uma forma de resistência e de criação de

significados e símbolos culturais que favoreçam a sociedade como um todo na

fruição de bens culturais.

O conceito de cultura de massas ainda é complexo e cheio de implicações

teórico-metodológicas. Porém, compreendemos a partir do conceito de uma cultura

contemporânea, traçada a partir das mudanças tecnológicas, culturais, econômicas

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que desenvolvem gostos e estímulos diversos e que é feita para as massas e pelas

massas, não num movimento de exclusão, mas de correlações (COELHO, 2007).

Feitas essas sucintas considerações, será possível refletir acerca do

“Projeto Viva” a partir da imbricação dos principais elementos norteadores desse

processo. Na realidade histórico-concreta que é o Maranhão, a presente abordagem

será importante no sentido de propor uma discussão pautada no mercado cultural e

a inserção de produtos culturais materiais e imateriais na rota regional e nacional.

Percebe-se que embora não tendo um desenvolvimento em outros governos, o que,

aliás, é muito comum no Maranhão, o “Projeto Viva” contribuiu de forma significativa

para dinamizar as atividades culturais em São Luís e no interior, de modo a

possibilitar tanto a realização de eventos culturais como a própria comercialização

de produtos regionais, como comidas típicas, artesanato e música (JORNAL O

IMPARCIAL, 15/09/1984, p. 5).

3.2 Projeto Viva: implicações para uma política cultural no Maranhão

O “Projeto Viva” foi definido nos jornais como uma “proposta sócio-

educativa e cultural”, que foi executada como iniciativa do Estado e desenvolvida

pela Secretaria de Desportos e Lazer. Porém, foi fruto de experiências anteriores

com menor amplitude que foram bem aceitas no estado, como o Festival de Verão

em homenagem a São Luís que foi produzido pela rádio e televisão Ribamar e pela

Rádio Mirante, com o apoio da Sedel (JORNAL O IMPARCIAL, 05/09/1982, p. 23):

“Com 12 músicas classificadas, nas duas primeiras eliminatórias, o 1º. Festival de

Verão da música popular maranhense, promovido em São Luís pela Rádio e

Televisão Ribamar, com o apoio da prefeitura municipal de São Luís, e Sedel.”

Outro evento realizado pela Sedel que influenciou na criação do

Projeto Viva foi o “Setembro na Praça”, projeto que trabalhou lazer e cultura e

que teve ampla adesão da população (JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO,

28/07/1984, p. 11).

Viva. Enfim a cidade viverá instantes de reencontros com o fazer cultural adormecido e moribundo. Nan Souza será o responsável por essa sacudidura e vai provar que lazer não é malandragem. Partindo do

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“setembro na praça”, acontecido no ano passado, o secretário de Desportos e Lazer montou o Projeto Viva um dos programas mais ousados, que vai despertar os talentos encasulados e revelar gênios adormecidos. Músicos, pintores, dançarinos e dançarinas, compositores, escritores, sapateadores, escultores, todos estão sendo convocados para participar do Projeto Viva, que poderá ter várias conotações. O secretário Nan Souza instala na próxima sexta-feira oficialmente, o Viva do corrente ano. Que vai acionar toda cidade, do coração do largo do Carmo até o povoado mais escondido da zona rural da Ilha de São Luís.

O que se observa com os fragmentos de jornais acima destacados é que

havia uma relativa mobilização com projetos voltados para a cultura e para o lazer,

mesmo antes do governo de Luiz Rocha, pois o festival de verão foi realizado no ano

de 1982. Entretanto, o que fica claro é que esses eventos eram realizados conforme

datas comemorativas ou como uma realização sem maiores ambições ou

desenvolvimento, como o Festival de Verão, que fora concebido principalmente por

ocasião do aniversário de 370 anos de São Luís, o que caracterizou a diferença do

“Projeto Viva” (JORNAL O IMPARCIAL, 05/09/1982, p. 23).

A reportagem supra nos fornece alguns elementos importantes para a

compreensão do Projeto. Tal iniciativa governamental fomentou a descoberta de

novos talentos em São Luís, que não abordou apenas um tipo de atividade cultural,

mas que agregou diversas atividades culturais, e não esteve restrito apenas ao

centro de São Luís, mas também foi realizado na zona rural e em cidades do interior

do Estado.

Os aspectos aqui salientados referem-se a características do “Projeto

Viva”. Contudo, faz-se necessário ampliar essa compreensão. O “Projeto Viva”

foi uma iniciativa do governo do Estado, que embora não estando em sua

plataforma político-administrativa definiu suas bases com o Seminário de Cultura,

que possibilitariam a realização do Projeto na proporção que tomou. Se for traçado

um paralelo entre o “Projeto Viva” e sua execução com as metas determinadas pelo

Seminário, pode-se verificar a sua correlação. Analisando o quadro abaixo,

observamos algumas ações desenvolvidas em 1984 e 1985 pelo Projeto, e ações

sugeridas pelo Seminário de Cultura que de alguma maneira tem aspectos

concernentes, ou seja, o Projeto foi desenvolvido com base em ações práticas como

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o “Setembro na Praça”26 e em algumas disposições encontradas no Seminário, ou

pelo menos apresentam-se de modo convergente.

Seminário de Cultura Projeto Viva

1. Formas de apoio à criação contemporânea.

1. O Projeto buscava novos talentos e tentou fazer o cadastramento desses artistas para apoiá-los em suas atividades (JORNAL O IMPARCIAL, 09/06/1985).

2. Projetos para periferia e interior, tanto para a valorização de sua cultura quanto ampliação de acesso aos bens culturais.

2. Foi partindo do pressuposto de que a população deve ter oportunidade de lazer, indistintamente, procurando apreciar as manifestações que refletem a cultura maranhense, que o Governo do Estado do Maranhão, com a Secretaria de Desportos e Lazer criou o Projeto Viva, essa é uma proposta sócio-educativo-cultural, levada aos bairros da cidade e do interior (JORNAL O IMPARCIAL, 24/11/1984).

3. Aproveitamento da TV e rádios estaduais e outros meios de comunicação.

3. O Projeto foi amplamente divulgado em rádios, jornais e canais de Tv.

4. Criar programas musicais apre-sentando cantores maranhenses.

4. O Projeto culminou com o Festival Viva de música maranhense.

5. Abrir maiores espaços à produção cultural do artista maranhense.

5. O Projeto Viva criou espaços para apresentações culturais, exposições artísticas, venda de comidas típicas, artesanato etc.

6. Utilizar mais efetivamente os jornais como instrumento da formação de clientela consumidora dos bens culturais.

6. O Projeto tinha no rádio um grande suporte para o Projeto, não só para o comparecimento do público, mas também como consumidores dos bens culturais materiais e simbólicos.

7. Processar de forma descen-tralizada a política cultural a ser desenvolvida, de forma que a secretaria de cultura não seja a única animadora das ações culturais.

7. O Projeto Viva não foi desenvolvido pela Secretaria de Cultura (não foi encontrada durante a pesquisa nenhuma menção nesse sentido) mas sim desenvolvido pela Sedel.

Para além dessa análise, avançando na discussão, o que pretendemos

questionar é que o governo institui as bases para criação de um projeto baseado

no mercado cultural, a priori, mediante uma política cultural relativa à cultura alheia

ao mercado cultural, conforme explica COELHO (1997, p. 296):

26 Ibid.

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[...] que são aquelas que representam os modos culturais que de alguma forma não se inserem no mercado tal como é caracterizado. São as políticas de apoio aos grupos folclóricos, aos grupos de cultura popular em geral, amadores, à difusão do patrimônio histórico.

Com isso, intentava-se consolidar um patrimônio cultural, despertar a

valorização da cultura em âmbito regional e desenvolver posteriormente políticas

ligadas ao mercado cultural. Políticas tais que implicavam apoio à produção,

distribuição e o consumo da cultura, que é realizado pela iniciativa privada e diz

respeito a políticas culturais relativas ao mercado e que se inspiram na lógica de

mercado. Neste sentido, tais políticas beneficiariam as modalidades culturais que

garantissem maior amplitude de retorno institucional, financeiro ou de mídia

(COELHO, 1997), mas que no caso maranhense foi de iniciativa do Estado, com

certo apoio do setor privado.

O “Projeto Viva”, na acepção da imprensa maranhense, foi definido como

(JORNAL O IMPARCIAL, 24/11/1984, p. 2):

Uma proposta sócio-educativa e cultural, levada aos bairros da capital e cidades do interior, onde ressalta a música maranhense, o folclore, a poesia, a dança, o cinema, o artesanato, o canto, encenações diversas, exposições de arte popular, de pinturas, gravuras, fotografias, venda de livros culturais maranhenses, de comidas típicas, comemorações cívicas, e homenagens a personalidades brasileiras, e da terra, projeções de filmes e slides educativos, enfim procura a valorização e qualquer trabalho enquadrado na proposta.

O que inferimos desta citação é que o “Projeto Viva” foi uma proposta que

buscou conciliar alguns aspectos preconizados pelo próprio Seminário de Cultura. A

associação entre Cultura e Educação foi a forma encontrada pelo projeto para a

realização de espetáculos que contassem com a presença de várias manifestações

culturais de São Luís e de outras localidades.

Quando um governo pensa em implementar um Projeto cultural, uma das

preocupações deve estar ligada ao acesso e à democratização dos bens culturais.

Assim, não obstante as problemáticas relativas ao acesso físico e intelectual, o

“Projeto Viva” tentou articular tais questões realizando seus eventos nas localidades

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mais diversas do Estado, no intuito de possibilitar maior contato entre a sociedade e

os bens culturais disponíveis naquele momento (BORACHO; REIS, 2008).

O Projeto não buscou apenas estimular o comparecimento do público às

apresentações, mas também motivar a criatividade e o desenvolvimento artístico e

as aptidões de artistas anônimos27. Uma das finalidades do Projeto era encontrar

novos talentos, ou seja, visava-se tanto a valorização das manifestações tradicionais

(bumba-meu-boi, tambor de crioula dentre outras apresentações) como o apoio às

criações contemporâneas, como teatro, mímica, dança, recital de poesia, dentre

outras (JORNAL O IMPARCIAL, 24/11/1984, p. 2):

Depois dessa apresentação 19 outras aconteceram, (...) atingindo um público médio de 5 mil pessoas por local sempre mantendo a proposta de divulgar o trabalho dos artistas que atuam a mais tempo e fomentar o despertar de novos talentos em quaisquer das atividades desenvolvidas pelo Projeto.

Com o “Projeto Viva”, “que é antes de tudo o despertar da comunidade

maranhense, para que tenhamos amor às mesmas tradições” (JORNAL O

IMPARCIAL, 04/08/1984, p. 1), busca-se criar uma identificação regional com aquilo

que é típico do Maranhão, para, dessa maneira, criar as bases para o

desenvolvimento de um mercado desses bens que serão produzidos aqui,

consumidos regionalmente de maneira fortalecida e quem sabe exportados

para outras localidades. Tal potencialidade será mostrada nos dias marcados do

Projeto com: “show de artistas maranhenses, capoeira, tambor de mina, exposição

de pintura, venda de artesanato e comida típica” (JORNAL O IMPARCIAL,

15/09/1984, p. 5).

O “Projeto Viva” tentou agregar uma vasta gama de manifestações

populares do Maranhão, em uma iniciativa única, selecionando aquilo que mais se

adequasse a uma lógica de mercado, e buscou consolidar uma classe artística,

que embora ainda não fosse profissionalizada, pudesse tornar-se capaz de buscar,

a partir do “Viva”, os meios para essa profissionalização.

27Refere-se aos artistas que no meio não eram conhecidos, eram descobertos no ato do cadastramento das manifestações culturais e dos artistas da localidade que tinham a oportunidade de se apresentar nos intervalos das apresentações principais.

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O “Projeto Viva” situou-se no período de consolidação das indústrias

culturais no Brasil (COELHO, 2007), momento em que os meios de comunicação de

massa estão consolidados e do qual o Maranhão participa, de certa maneira, ainda

que timidamente. O “Projeto Viva” foi um projeto estatal, situado no período de

abertura política do país, idealizado e executado pela Secretaria de Desportos e

Lazer, na pessoa do então secretário Nan Souza e que abrangeu vários campos da

cultura maranhense (JORNAL O ESTADO DO MARANHÃO, 04/08/1984, p.1).

O “Projeto Viva” tentou dar suporte a várias manifestações culturais,

não se restringindo a um tipo de manifestação específica e objetivou consolidar

um público consumidor para seus produtos materiais: comidas típicas, artesanato e

simbólicos, música, exposições etc.

O “Projeto Viva” orientou-se segundo a lógica da oferta, apoiou a

produção cultural, incentivou as iniciativas dos artistas locais e criou infra-estrutura

adequada para a realização dos eventos por ele estabelecidos. Além disso,

organizou-se no sentido de formar um público que desse suporte às apresentações

e consumisse os bens oferecidos por ele.

Quando se afirma que o “Projeto Viva” trabalhou no sentido de formar

público para esses bens, não significa que não houvesse um público para a música

ou o teatro. No entanto, considera-se o “Viva” como um projeto que ampliou o

público já existente e possibilitou uma maior integração desse público com maior

diversidade de bens ligados à cultura maranhense.

Outro ponto a ser discutido refere-se à importância do “Projeto Viva” como

uma tentativa estatal de criação de um mercado cultural para o Maranhão, que está

evidenciada na articulação com empresas privadas, para o patrocínio do Projeto,

como afirma Nan Souza:

Mas eu usei pela primeira vez o que hoje é Lei Rouanet; eu usei sem nem alguém falar naquela época; a minha credibilidade me levou às empresas que bancaram toda a aquisição do equipamento e foi bancado pela Norte Sul, Cerma, Armazém Paraíba, o Bem (Banco do Estado do Maranhão) e outras mais. Eram os patrocinadores28.

28Entrevista realizada com o ex-deputado Eleotério Nan Souza, em 27 de Julho de 2007.

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O importante a ser notado é que a indústria de bens culturais no Brasil foi

pautada exatamente na iniciativa do Estado (FONSECA, 2003), preparando toda a

infra-estrutura necessária, permitindo que as empresas privadas se beneficiassem

dessa estrutura e o Estado também tivesse seu controle sobre algumas atividades e

seu lucro. Por conseguinte, no caso do Maranhão, uma possibilidade levantada

quanto a esse ponto é que as empresas privadas viram a possibilidade de ter seu

nome vinculado a um Projeto Cultural, inspirado na lógica de mercado, beneficiando-

se do retorno de propaganda que desfrutariam, visto que o Projeto foi amplamente

divulgado nos principais meios de comunicação de massa do Estado.

O “Projeto Viva” foi também, de certa forma, um projeto itinerante, que

buscou incentivar a democratização da cultura, descentralização das manifestações

culturais ludovicenses, visando também conhecer a diversidade cultural do Estado.

Além disso, como já mencionado, o projeto oferecia possibilidades de maior

fortalecimento de marcas de empresas privadas que estivessem vinculadas ao

projeto e possibilitaria também uma ampliação do público.

Esse propósito foi limitado, visto que, para BORACHO; REIS (2008, p. 07)

“mais importante que a circulação dos produtos culturais a partir dos centros

irradiadores de cultura é a circulação que ocorre nos dois sentidos, de forma que as

cidades possam ser ao mesmo tempo produtoras e receptoras.” Neste sentido, o

Projeto foi limitado por não fomentar esse fluxo maior entre os municípios e o centro

irradiador que era São Luís.

Naquele período, a proposta do “Projeto Viva” era conhecer o que se tem

de melhor dentro da esfera de bens culturais, e fazer desses bens mercadorias, que

bem fundamentadas em políticas públicas e com apoio de empresas privadas

possam dar vazão a esses produtos.

Entretanto, para conseguir esse objetivo, foi necessário um elemento

fundamental: uma mídia capaz de tornar o Projeto Viva algo conhecido pela

sociedade, que conseguisse chamar atenção do público. Como as rádios no

Maranhão já tinham um forte papel nesse período, elas foram fundamentais para a

divulgação do evento, rádios ligadas ao governo, como a rádio Mirante, além dos

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principais jornais da época, o Estado do Maranhão, e o Imparcial, de onde

encontramos as fontes utilizadas nesse trabalho.

O que se percebe é que a articulação do Estado com a mídia local foi

fundamental para a divulgação do “Projeto Viva” em si, e posteriormente na

divulgação do Festival Viva, que foi o responsável pela maioria das memórias sobre

o “Projeto Viva”. Além disso, por ser uma espécie de projeto itinerante, era capaz de

descentralizar os produtos culturais e descobrir novos talentos.

Outro aspecto que contribuiu muito para a divulgação do “Projeto Viva” foi

a constituição da Banda Viva, que era convidada a marcar presença em muitos

eventos sociais no Maranhão, como baile dos artistas, carnaval etc.

Para as pessoas relacionadas ao Projeto, que participaram direta ou

indiretamente, o “Projeto Viva” possibilitou maior visibilidade para o setor da cultura.

O Viva” foi uma espécie de “vitrine” para o artista, foi ele quem buscou dinamizar o

processo cultural, orientando-o de modo a converter seus esforços para a realização

de grande evento que pudesse propiciar a criação desses bens, sua distribuição e

sua circulação. Para isso, as metas do governo visavam exatamente capacitar

recursos humanos, no intuito de criar redes de comunicação entre cultura, economia

e agentes culturais.

A finalidade de comercialização de produtos maranhenses e a tentativa

de valorização do que é produzido na terra é clara na visão de Nan Souza. Para o

ex-secretário da Sedel, era possível valorizar “nossas tradições culturais”, fortalecer

o mercado interno, profissionalizar as pessoas ligadas à cultura e à economia,

bem como “comercializar” esses produtos, pois para ele o Maranhão tem uma

diversidade cultural capaz de dar suporte a um mercado forte e de qualidade como

deixa claro (JORNAL O IMPARCIAL, 03/08/1984, p. 7):

O Projeto Viva tem a finalidade de reunir a comunidade por meio da música, de exposições de trabalhos artísticos e artesanais, ajudando a comercializar esses produtos, vendendo ou comprando as coisas típicas do Maranhão, e respeitando enfim, as nossas tradições culturais.

O “Projeto Viva” foi constituído de dois momentos, o primeiro deles se

iniciou em 1983 e foi executado na primeira metade de 1984. O Projeto tinha ações

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conjuntas voltadas para muitas áreas, como shows de músicas maranhenses e

diversos tipos de apresentações e de manifestações culturais, como já explicitado

anteriormente. No segundo momento, foi realizado o Festival Viva, que permitiu uma

ampla visibilidade do projeto, lançou novos cantores e compositores, valorizou a

música, revitalizou o meio musical e reinaugurou um movimento que ocorreu em fins

da década de 1960 e início da década de 1970 no Brasil, e que por aqui também

tivera os seus, a Era dos Festivais de Música.29

Cabe agora uma reflexão mais acurada acerca da música dentro de um

contexto político, econômico e social determinado pelo processo de abertura política

e a relação com a Indústria Cultural.

Quando se fala em Festival de música nos anos 80 e relaciona-se à

Indústria Cultural, a primeira idéia que se tem é de trabalhar com a perspectiva da

dualidade, que é uma discussão já bastante suscitada no meio acadêmico. No

entanto, buscou-se compreender a música a partir da sua função social, mas

também como bem simbólico que no começo da década de 1980 começou a se

inserir em uma lógica de mercado, mas que não será destituída de seus significados

e significantes. Na realidade, o que se percebe é que, apesar de aspectos inegáveis

como a alienação por parte dos meios de comunicação que reproduz padrões e cria

comportamentos, a música também será um espaço de contestação, reflexo da

década de 80 (BALLINGER, 2008).

Nesse contexto, no Maranhão, embora a criação de uma vitrine comercial

para a cultura seja um dos focos do projeto, a música terá seu caráter contestador,

bem como seu caráter artístico e simbólico. Isto, mesmo que a música desejasse ser

reconhecida como arte, buscou visibilidade na esfera social, e nem por isso perdeu

sua função social dentro do quadro político, prova disso nesse momento específico

é a premiação em primeiro lugar da música “Oração Latina” que será tema para

movimentos sociais ao longo de décadas.

A música é uma expressão de sentimentos, desejos, atitudes e

características da própria sociedade, que demonstram formas de comportamento,

de agir, de pensar de uma determinada classe social, que se torna um elo que liga e

29A Era dos Festivais, refere-se ao período que vai do final da década de 1960, mas especificamente

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evoca a coletividade e suas inter-relações. A canção, em vários momentos, assumiu

um papel de fundamental importância no cenário nacional, e na década de 1960

essa música assume um papel de cunho político-ideológico muito forte, e que por

causa da repressão militar, especialmente depois do AI-5, vai ser fortemente vigiada

(NAPOLITANO, 2008).

Na década de 1980, no entanto, assume um destaque de contestação

por um lado e de criação estética. Mas o que é notório é que essa análise não se

aplica a toda música desse período. Essa música será intitulada de Música Popular

Brasileira (MPB), ou as que não se enquadravam nessa sigla, mas em músicas de

protesto que vinham da classe média.

O importante a frisar é que o contexto musical da década de 1980 é

tanto de consolidação de músicas contestatórias, devido ao clima de democracia

que começava a se esboçar, como também de consolidação das indústrias culturais,

que viram nessa música uma possibilidade para o mercado.

Enquanto o cinema e o teatro brasileiros, como um todo, não conseguiam

formar um público “fixo”, mais amplo, a música popular consolidava sua vocação de

“popularidade”, articulando reminiscências da cultura política nacional – popular

com a nova cultura de consumo vigente após a “era do milagre econômico”, entre

os anos de 1968 e 1973. Ou seja, não se exclui a qualidade da música ao

processo de rearticulação de uma nova forma de inserção no mercado fonográfico

(NAPOLITANO, 2008).

O Festival foi esclarecedor na medida em que compreende, a partir de

uma política estatal e do processo de uma indústria cultural no Brasil, a música

popular, que não se excluía do processo de rearticulação com a Indústria cultural.

Ao contrário, servia como faixa de prestígio de muitas gravadoras, que lucravam

com a estabilidade de um público fixo, o que não anulava sua qualidade.

Na década de 1980, no Maranhão, o Festival seguiu essa linha de

composições, das quais algumas tratavam da situação do país, como a vencedora,

outras retratavam o amor à terra, as belezas e outras eram toadas de bumba-meu-

1968, ao começo da década de 1970, período que existiram Festivais de Música televisivos.

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boi. Entretanto, a música vencedora refletiu bem o momento político vivenciado,

Oração Latina de César Teixeira.

Outro aspecto importante refere-se ao convite a vários jurados conhecidos

nacionalmente, estabelecidos desde a década de 1970, como Belchior e Oswaldinho

do Acordeom, para, além de servir como atração, agir como propagadores do evento

em outros estados. A escolha de disque-jóqueis representantes de cada rádio serviu

como divulgador do projeto, sendo esta uma forma simples de que o projeto

estivesse vinculado aos meios de comunicação de massa.

O festival revestiu-se de duas funções, o que permitiu maior visibilidade do

projeto como um todo, rearticulou os artistas em torno do Festival, agregou os meios

tecnológicos para prover uma rede de suporte à profissionalização dos artistas que

se destacassem, permitindo que se criassem as condições dos agentes culturais

produzirem no Estado e dos artistas profissionalizarem-se, a exemplo do que ocorria

em outras localidades brasileiras. O Festival foi realizado ainda sob as lentes da

censura, as músicas deveriam passar por um setor da Polícia Federal, para que

fossem aprovadas pelos censores e deveriam ser inéditas.

Além disso, a descontinuidade das ações públicas é uma problemática

que no Maranhão acarreta grande dificuldade nas políticas públicas do Estado.

Talvez essas tenham sido algumas das características que impossibilitaram a

implantação de um mercado cultural no Maranhão, devido principalmente à

fragilidade de suas instituições.

O que se percebe, além dessas características intrínsecas, é que embora

o Estado tenha oferecido as bases para a composição de uma política cultural, o

Projeto acabou sendo uma iniciativa da Sedel, que tentou obter bases de apoio nos

elementos marcadamente característicos da indústria cultural vigente no Brasil, com

sua composição contraditória, como iniciativa privada, apoio do Estado, utilização de

meios de comunicação de massa, formação de público entre outros, mas que não

buscou definir e executar políticas públicas claras, a nível legislativo, permitindo uma

consolidação das estruturas capazes de dar suporte tecnológico, humano e

condições de trabalho para a classe artística, estabelecendo bases para a captação

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de recursos, e para que os próprios agentes fossem autônomos e a partir de

condições legais e recursos disponíveis, viessem a se desenvolver plenamente.

No entanto, o Projeto aparece, como é comum no Estado, como uma ação

que embora tentasse articular vários setores da área da cultura, acabou se tornando

uma iniciativa isolada que buscou criar bases de produção, distribuição e consumo

de bens culturais e que esbarrou em falta de continuidade de políticas públicas, e,

com o fim do governo de Luiz Rocha, houve uma ruptura com o início do processo

de instalação de um mercado de bens simbólicos e culturais no Maranhão na

década de 1980.

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4 MEMÓRIAS DO PROJETO VIVA: O PROJETO NA VOZ DOS SEUS

PROTAGONISTAS

A memória coletiva de um grupo representa determinados fatos, acontecimentos, situações; no entanto, reelabora-os constantemente. Tanto o grupo como o indivíduo operam estas transformações. [...] A história enquanto representação do real se refaz, se reformula, a partir de novas perguntas realizadas pelo historiador ou mesmo da descoberta de outros documentos ou fontes. Nessa senda, a grande dificuldade de aliar as fontes históricas tradicionais ao depoimento oral é que, em princípio, a fonte da memória é constitutivamente distinta da fonte histórica pela dimensão do próprio efeito que os fatos, acontecimentos ou situações desencadeiam. A memória coletiva ou individual, ao reelaborar o real, adquire uma dimensão centrada em uma construção imaginária e nos efeitos que essa representação provoca social e individualmente (MONTENEGRO, 1992, p. 19, 20, apud RIBEIRO, 2001).

Discutimos, até este ponto, o “Projeto Viva” a partir de vários aspectos:

no que tange à sua contextualização no processo histórico nacional e local, foram

narradas sua origem e organização intrínsecas, e foi feita sua análise como um

projeto que tentou articular a cultura a um mercado cultural no Maranhão. O

presente capítulo visa, por meio da memória de alguns dos personagens30, retratar o

“Projeto Viva” como acontecimento relevante retido na memória individual e coletiva.

Nos últimos anos, uma atenção especial tem sido dada à História Oral,

como importante fonte histórica, que associada à documentação tem uma grande

relevância para a pesquisa. Entretanto, ela se caracteriza por uma metodologia

própria, o que torna difícil a sua utilização, pois há possibilidade de contradições dos

dados colhidos, além da re-significação de cada personagem a partir de sua vivência

e de suas representações.

O “Projeto Viva” revestiu-se de significados, a partir da vivência de cada

personagem e de sua relação com o projeto, de suas interpretações pessoais desse

movimento cultural no Maranhão, bem como da representação coletiva acerca do

projeto.

30O critério de escolha dos entrevistados deu-se mediante contato estabelecido e disponibilidade daqueles.

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Nan Souza31, que foi o Secretário da Sedel, Secretaria responsável pela

idealização e execução do “Projeto Viva”, explica como este foi concebido:

Eu fiz o Projeto Viva, eu já fazia lazer de rua, lazer cultural com Gigi lá no Anjo da Guarda, e por conta disso eu somei essa sementezinha e, vindo de Brasília pra cá, depois já de falar com a ministra, ela disse: ‘Não, essa secretaria não pode morrer. A juventude precisa dessa secretaria’. Eu peguei a secretaria. Não pode morrer, se não pode morrer, vive. Aí o projeto saiu já com essa tirada minha, com a constatação da ministra Ester Figueiredo. Eu escrevi o projeto no avião, eu cheguei e chamei o Fernando Piloto o Ivan Selmo era o meu assessor que já morreu, eu disse gente eu preciso dizer que a secretaria não morreu, preciso estruturar um negócio, tanto é que o governo não entrou basicamente além do cargo que eu tava ocupando, e da estrutura que eu otimizei, mas eu usei pela primeira vez o que hoje é Lei Rouanet eu usei sem alguém falar naquela época; a minha credibilidade me levou as empresas que bancaram toda a aquisição do equipamento que era o maior equipamento do Brasil na época.

Conforme o secretário Nan Souza, a iniciativa de criação do “Projeto Viva”

foi resultante de um diálogo sobre a extinção das secretarias, mantido com a

ministra de Educação e Desporto, pastas que, na época, eram unidas. Assim que

Luiz Rocha assumiu o governo, ele implementou uma série de medidas como a

extinção de muitas secretarias de Governo e a incorporação de outras em uma só.

Inicialmente, divulgou-se a extinção das secretarias em jornais como O Imparcial,

O Estado do Maranhão e o Jornal Pequeno, saindo pouco tempo depois uma

reportagem explicando a questão (JORNAL O IMPARCIAL, 07/01/1984, p. 3):

A secretaria de Desportos e Lazer (Sedel) terá sua estrutura administrativa absorvida pela secretaria de Educação, ficando seu titular, deputado Nan Souza, no cargo de secretário extraordinário para assuntos do governo, recentemente criada pelo governador Luiz Rocha.

Entretanto, apesar do período de indecisão, nenhuma medida quanto à

extinção das secretarias de maneira definitiva foi noticiada pelos jornais. Quanto ao

fato da preocupação da ministra Éster Figueiredo, durante a pesquisa nenhum tipo

de menção nesse sentido foi encontrada nos jornais pesquisados.

Como foi anteriormente colocado, o “Projeto Viva” ocorre na década de

1980, mais especificamente em 1983, em um contexto de abertura política do país,

onde havia uma grande movimentação cultural, principalmente por causa da

31Entrevista realizada com o ex-deputado Eleotério Nan Souza, em 27 de Julho de 2007.

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reorganização política do país, o que criava um clima de contestação e de criação.

Obras artísticas que haviam sido proibidas estavam se tornando conhecidas, ou

seja, era um período de reorganização também cultural.

No Maranhão, conforme Robson Júnior, disque-jóquei da rádio Mirante

FM na época e jurado do Festival Viva, naquele período também havia uma grande

movimentação em função da iniciativa privada, por parte do incentivo da Alumar32.

A Alumar é uma empresa de produção de alumínio que se instalou nesse

período no Maranhão, e, como forma de marketing cultural, incentivou a produção

musical especificamente, destinando dinheiro para a gravação de discos de artistas

e em segundo lugar a própria articulação dos artistas no Maranhão, não só na

música, mas na poesia e teatro. Quem explica melhor esse contexto da década de

80 é Robson Júnior33:

É nesse período que a Alumar através de um assessor de comunicação, que resolveu investir uma parte no marketing da empresa, não só comprou para o Aldenora Belo um gerador de corrente, ele começou a investir nos artistas maranhenses, houve um ano na década de 80 que foram gravados mais de 34 discos, sobre a qualidade não se fala, muita gente questionou, muita gente gravou, todo mundo gravou, era bumba-boi, o Papete foi o que melhor aproveitou esse filão, o Papete fez vários discos. Então naquele período, houve um estímulo de dinheiro mesmo, de produção desse material, pra produção naquela época, então a Alumar ela é muito importante, na fomentação com dinheiro para essas produções, foi uma época também em que os estúdios começam a se multiplicar, com a digitalização dos estúdios, que é outro processo; aquilo fomentou uma produção maior, porque antes era o maestro Nonato dono do único estúdio de gravação que a gente tinha aqui, num estilo antigo, era uma produção cara, com a digitalização dos estúdios, tudo foi ficando mais barato e isso facilitou também a própria produção das músicas. Paralelamente a este fato, tem que registrar aqui; então pra situar essa história a gente precisa também compreender um movimento que aconteceu naquela época, que foi o Guarnicê, que é com Joaquim Haikel, juntamente com Roberto Felix, que hoje tem produtora, Celso Borges poeta e primeiro coordenador da Mirante FM, Cláudio Faria, Dulce Brito, tu vai encontrar um monte desses caras que eram jovens ainda e que tinham um Guarnicê, que era um folhetim de poesia mensal na época de Joaquim, aquilo tava relacionado intimamente com música também, muitos deles também eram autores de música como o Celso que também compunha como o próprio Joaquim Haikel que fomentava filme e cinema. Então aquele movimento cultural naquele momento não é um fato isolado só na música, passa também pelos poetas na época que passa também pela academia dos párias, então essa turma

32É o Consórcio de Alumínio do Maranhão (Alumar), um dos maiores complexos de produção de alumínio primário e alumina do mundo. Inaugurado em Julho de 1984, é formado pelas empresas Alcoa, RioTintoAlcan e BHP Billiton, e desempenha um papel importante no Maranhão. 33Entrevista realizada com Robson Júnior, em 12/01/2009.

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que fez o Guarnicê eles fazem a academia dos párias, os párias são realmente esses autores que faziam uma poesia um pouco maluca.

De acordo com Robson Júnior, havia uma grande movimentação cultural,

porém o que se infere desse momento é que ocorriam ações isoladas, tanto pelos

artistas locais quanto pela iniciativa privada, não existindo uma organização das

manifestações culturais articuladas num só movimento. Para Brandão34 que

participou do Festival Viva como intérprete da música Luarada:

Foi um momento de efervescência, os próprios meios de comunicação a gente começou a ter mais acesso naquele momento, eu acho, porque nós tínhamos uma televisão apenas, depois a TV Ribamar se instalou também, e a gente começou a ter acesso a mais coisas, e de certa forma era o período da abertura política, vem ali naquele momento, os anos 80; não tão forte a efervescência. Nos anos 70 a efervescência cultural foi exatamente por conta da repressão da ditadura isso provocou os artistas, eles eram mais provocados a fazer. Os anos 80 pega isso, enfim isso refletiu também aqui no Maranhão, é o início das produções fonográficas, e na música a gente vê que houve uma grande divulgação, aqui se começa a produzir discos, muitos compositores, começa a valorização dos shows em teatro, shows em praça pública.

O que se observa é que ocorria um processo de estruturação das

manifestações culturais, de shows, começam as gravações de discos, movimento

no Teatro, mas não havia ações conjuntas, convergentes, no sentido de agregar

manifestações tão diversas.

Para Rogério do Maranhão35, que participou do Festival Viva e interpretou

a música Alcântara, era um período muito bom para a produção local. Embora,

segundo ele, não morasse nesse momento aqui, relata que vinha muito a trabalho e

o clima de produção nas mais diversas áreas era bastante significativo:

Nessa época na década de 80 ela foi maravilhosa não só aqui como em todo o Brasil, que nessa época surgiu o disco independente e abriu as fronteiras do mundo, pra que a música independente surgisse, e obviamente aqui começaram a criar espaço, a ter espaço, a ter nome, porque antigamente era aquela coisa periférica, mas quando eu chegava aqui ao Maranhão eu sempre ouvia falar, de um ou de outro compositor que estava fazendo um trabalho e grupos e era realmente uma época muito promissora no nível cultural, época dos festivais, teve o Festival Viva. Na época do Expoema não era misturada com músicas de fora, era uma coisa

34Entrevista concedida por Roberto Brandão, em 13/01/2009. 35Entrevista concedida por Rogério do Maranhão, em 04/01/2009.

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muito mais daqui, vinha um ou outro artista de fora como atração, mas as coisas eram muito mais abertas para o artista daqui, então era uma coisa muito mais efervescente, muito mais verdadeira a nível cultural em todos os aspectos.

Nesse contexto, observa-se que o “Projeto Viva” ocorreu num momento

de muitas mudanças políticas, mas também de boa produção artística, quantitativa e

qualitativamente. Portanto, não surge como um movimento “messiânico para a

cultura” ou como um “salvador da cultura”, mas como um Projeto que avaliou a

situação cultural no Estado e buscou agregar esses movimentos em torno de um

único projeto, colocando a sociedade ludovicense e de outras cidades do Estado

como um público que consumisse aqueles produtos. O que o “Projeto Viva” tem de

diferenciador com relação aos outros eventos é que buscou bases de apoio tanto no

governo, já que partiu de uma secretaria do governo do Estado, quanto na iniciativa

privada. Além disso, tentou conciliar diversas manifestações culturais em um mesmo

evento, promovendo a ampla divulgação na cidade e fora dela, em outros municípios

como Arari, Codó e Timbiras. Foi uma espécie de Projeto Itinerante, o que

possibilitou maior divulgação das atividades realizadas pelos artistas, tanto de São

Luís como de outras localidades.

Para melhor caracterizar o “Projeto Viva”, Nan Souza faz algumas

considerações:

O Projeto Viva não era um Projeto de eventos, mas era também um projeto de resgate de construção; a última etapa foi o Festival a gente fazia em cada domingo, a cada domingo num bairro e um domingo no mês no interior e toda sexta-feira na Praça Deodoro e começou com 200 pessoas e a gente já botava 20 e 30 mil pessoas lá nas sextas-feiras se tornou um momento não só de passagem. As pessoas já faziam a programação da sexta fixando na Deodoro, criou-se o Projeto Viva, dentro do Projeto Viva a banda Viva que era o que tinha de melhor o pessoal remanescente do velho Nonato, Oberdan, Walber, Fernando Rodrigues, todo esse povo.

O “Viva”, como projeto, tinha uma política, uma finalidade tanto para seu

mentor, Nan Souza, quanto para seus participantes. Contou para a sua realização

com funcionários da Sedel, envolveu radialistas, na fase do Festival, os disque-

jóqueis, como eram conhecidos, foram convidados para fazer parte do corpo de

jurados, do apresentador do projeto, então contou com uma grande equipe para seu

desenvolvimento. Percebe-se, ainda, a preocupação em realizar os eventos do

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Projeto em áreas populosas da cidade, uma forma de proporcionar, no dizer de Nan

Souza, “lazer cultural” para áreas tão diversas, como a Cohab, São Francisco, Bairro

de Fátima e proporcionar público para as apresentações.

Fato importante a ser mencionado é que o “Projeto Viva” realizava suas

apresentações nas sextas-feiras na Praça Deodoro, local mais movimentado da

cidade, por onde circulavam diversas pessoas dos mais variados estratos sociais,

por ser o centro comercial de São Luís. Às sextas-feiras, as pessoas passavam por

ali e tinham contato com a movimentação cultural gerada pelo projeto e suas

atividades, fazendo com que o projeto fosse conhecido e bem aceito para uma

grande parte da população ludovicense. Nesse sentido, Nan Souza continua

descrevendo o Projeto:

Porque a cada apresentação do Viva tinha necessariamente as barracas com culinária local, com artesanato, com pintor ao vivo, com mímico, que foi o Gilson, com todo mundo que sabia fazer alguma coisa na comunidade, é que é precursora a Nazareth é uma delas, aí o pessoal ia na frente, tanto pro interior quanto paras os bairros onde ia acontecer o Viva, o próximo dia onde vai ser? É Cohab a gente pesquisava quem eram as pessoas que faziam as coisas com talento ou sem talento, quem cantava, quem dublava, quem enfim, aí o talento se manifestava e a turma toda ia, a turma é a Jorge Tadeu, Gabriel, essa turma que hoje está fazendo sucesso, esse é o ponto histórico, que ia e já começava a levar sua galera, a turma começou a fazer platéia, era Cláudio Pinheiro, era Gabriel Melônio, já ia também o Godão que acompanhava o pessoal da Madre Deus que já tinha aquela turma toda.

Conforme tal descrição pelo secretário, percebemos as atividades

desenvolvidas pelo “Projeto Viva”, e como essas possuíam um caráter de agregar

valores aos produtos apresentados, a fim de que pudessem ser comercializados,

era uma grande feira cultural, faziam-se espetáculos com artistas locais e artistas

descobertos no próprio bairro ou cidade para onde o projeto iria. Essa era ainda uma

forma de estimular a comunidade a estar presente na realização desses eventos.

Eventos esses que encontravam no “Projeto Viva” uma razão de ser, e

tinham um tempo determinado, etapas a serem cumpridas, mas também um caráter

de comercializar esses bens produzidos naquele momento, tanto materiais como

simbólicos, e torná-los produtos apreciados de um público que se fazia diversificado

em função da realização dos eventos do Projeto em várias localidades do Estado.

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Na tarefa de melhor compreender o “Projeto Viva”, recorremos a outras

memórias. Ivison Lima36, que era o apresentador do Projeto, assegura que o “Projeto

Viva” tinha como objetivo central a descoberta de novos talentos:

Esse projeto foi elaborado pelo Nan Souza que era o secretário da época e idealizado pelo governador Luiz Rocha, que foi governador nesse período, a cultura era, especificamente, o objetivo era descobrir talentos e a gente fazia isso num bairro e uma vez por mês numa cidade sorteada do interior, sorteada ou as maiores cidades melhor dizendo, então a gente fazia três semanas aqui em São Luís e o último domingo sempre era no interior, e a política era justamente essa, descobrir novos talentos, foi sempre uma preocupação do então governador Luiz Rocha descobrir novos talentos voltados à educação, à música, poderia ser capoeira, poderia ser qualquer coisa desde o momento que fosse um talento cultural.

Na fala de Ivison Lima, considera-se um ponto de discussão relevante,

além de sua narração em si acerca do “Projeto Viva”, o fato de ele apontá-lo como

um projeto governamental, com uma preocupação voltada para a cultura, embora

exista certa discussão a esse respeito, visto que o próprio Nan Souza afirma que

além do cargo ocupado por ele e a estrutura básica, o governador Luiz Rocha não

tinha uma maior preocupação na execução do projeto.

Não obstante, os jornais da época noticiaram a preocupação do

então Governador com a cultura. Para Oberdan, Rosa Reis e Roberto Brandão,

porém, a preocupação com a cultura ficava muito mais a encargo daqueles que

respondiam pelas pastas das secretarias, restando muito a ser feito pelo governo

no sentido de dar suporte na área cultural, o que infelizmente não se observava,

pelo menos não em termos práticos.

Para Nazaré Jansen37, o “Projeto Viva” se revestia de duas possibilidades,

tendo sido um Projeto cultural, mas de dimensões políticas, como esclarece:

As políticas públicas elas ainda não tinham a proporção que tem hoje, era mais assim a questão do paternalismo, eu lembro que na questão do Bumba-meu-boi a Maratur dava canutilho pedaço de veludo. No governo de Luiz Rocha, Nan Souza ele teve uma idéia que foi um Projeto que foi o Projeto Viva que ele sim, ele abriu leques, criou perspectivas, ele realmente começou a pensar numa política para a área cultural. Foi mais na questão da música quando ele criou o Projeto Viva, ele era mais abrangente pegava em

36Entrevista concedida por Ivison Lima, em 04/02/2009. 37Entrevista concedida por Nazaré Jansen, em 19/02/2009.

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toda área mais o que mais permaneceu foi a questão da música, teatro teve alguma coisa, na poesia, mas na música foi o que realmente tornou-se o carro chefe do Projeto, ele não ficou aqui na cidade ele foi pra vários interiores, lá tinha uma equipe boa, tinha um sistema de som muito bom e desse movimento saiu o Festival Viva que foi a grande referência que nós temos hoje foi na área da música da cultura, nós temos muitos músicos, cantores, intérpretes, compositores e muitos vieram daí, veio do Viva; quando veio Gabriel, Cláudio Pinheiro, que estavam começando. Com o Projeto Viva a gente abriu muitas perspectivas foi quando essas pessoas passaram a evoluir, foi quando surgiu Rita Ribeiro e pra mim foi uma fase muito importante, porque pra mim foi quando se começou a ver de uma maneira mais séria e com mais compromisso a questão da cultura popular. A princípio o Projeto Viva pra mim era político, (...) era uma questão política, atingia a área política, Nan era secretário era político, era uma política também para ganhar o eleitorado, votos, porque mercado eu não vi. O mercado que foi aberto para os participantes foi naturalmente, eu não vi essa visão do mercado, eu vi mais essa coisa política, assim, vamos fazer um trabalho pra ter um lucro mais na frente. Quando eu te disse que não teve essa questão pra cultura, o principal projeto ser para a cultura, porque o Projeto Viva era abrangente tinha música, poesia, teatro, e ele não progrediu porque ele foi pelo caminho mais fácil, o que mais agrada o público é música então os promotores do projeto deixaram de mão as outras coisas e se fincaram na música porque o retorno era mais rápido. Com relação a cadastramento e os municípios. Em alguns municípios já não era uma questão cultural, de se pegar o mercado, de fazer um levantamento do potencial do município. Esse cadastramento foi muito falho, na verdade eu vi poucos artistas usufruir desse momento, pra mim foi falho, não atingiu os objetivos, de incentivar o pessoal, inclusive a questão cultural nos municípios, eu não vi nada, a não ser que seja uma coisa muito restrita. Esses eventos eram realizados na cidade, nos municípios quase não houve. Tanto prova que até hoje, a gente vê a deficiência que a gente tem nos municípios.

Para Oberdan38, componente da Banda Viva que foi importante segmento

dentro do Projeto, o trabalho do “Projeto Viva” foi:

Descobrir valor colocá-lo em órbita, divulgar o trabalho dele, consolidar esse trabalho, abrindo espaço na cidade e hoje a gente perdeu isso, esse era o objetivo do Projeto Viva, e além fronteira tanto que nós fizemos até um disco, tinha o disco do Projeto Viva, havia os festivais, foi a grande peneira também, dos festivais, grandes músicos, quer dizer pessoas que estão tocando hoje em dia, muitos deles passaram pelo Projeto Viva, a gente deve muito isso a Nan Souza também, ele foi um grande patrono do Projeto Viva, o caso de Nan Souza, Nan Souza criou o Projeto Viva mentalizou, saiu atrás de patrocinador porque não tinha, aí vamos no comércio, a equipe mais de 50, a equipe era mais de 50 pessoas trabalhando, entre músicos, pessoal de palco, iluminação, mas toda a estrutura de retaguarda, então essas pessoas caíam nos relações públicas no comércio pedindo ajuda, porque o governo em si não era sensível, o governo do Luiz Rocha não era sensível, se fosse sensível ele dizia, eu banco, a sensibilidade dele era pra política. Como eu vou entrar num projeto do governo, uma instituição, o comércio vai entrar no projeto do governo, não pode o projeto do governo é soberano, é ele, o governo é ele quem banca, é ele que gerencia, não tinha isso, abriu as portas e disse vou

38Entrevista concedida por Oberdan, em 09/02/2009.

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te dar isso te vira, dava lá um tanto, só que a estrutura era muito maior, nós tínhamos equipamentos grandes, os postes, nós tivemos naquela época, se você chegasse olhava aquela parafernália de som que só se vê em grandes shows, em mega show a gente tinha tudo isso, comprado com ajuda da Cemar, na época o Fernando Sarney deu uma força muito grande, mas era tudo assim, eu te ajudo nisso aqui, é o que eu posso te ajudar, eram patrocinadores, aí ia para lojas e mais lojas do comércio pedir o resto, quando se tratava de um projeto do governo do Estado quando eles não entediam isso, esse era o grande pecado.

Conforme o autor, embora houvesse certo incentivo do governo, não era o

suficiente para desenvolver estratégias de ação para determinados setores, com as

verbas liberadas. Porém, dentro do Seminário de Cultura, uma das propostas para

execução de projetos ligados à cultura seria a criação de um fundo que não fosse

somente do governo do Estado, mas que buscasse ainda a presença e participação

de outras empresas, mediante patrocínio ou até mesmo parcerias.

Definir uma política integrada e racional de captação de recursos para a área cultural; propor ao Sesc, Sesi, Senai, e congêneres a co-participação em projetos culturais, geridos pelos órgãos públicos, e financiados por aqueles organismos e abertos a esses associados, conforme já ocorre em diversos Estados, Acre, Ceará, São Paulo, Rio etc.39

Na concepção de Robson Júnior, o “Projeto Viva” tinha uma dimensão

política muito importante por se tratar de um projeto que acontecia em plena

abertura política do país e que abria espaço para diversas manifestações dentro da

área cultural, que segundo ele é libertária, o que dava uma dimensão do processo

de redemocratização do país, culminando com um Festival, onde venceu uma

música de ideologia totalmente contestadora e libertária. Além disso, o Projeto abria

novas possibilidades para o campo cultural.

Mas eu pensava que no início era uma coisa mais de Projeto musical, não era, depois que eu fui entender, eu tinha uma amiga muito querida que era produtora, a Nazaré, então a Nazaré era assim, o Nan deu muita sorte, primeiro que tinha a Nazaré, que era uma pessoa sempre envolvida com movimento, com teatro, sabe com um monte de manifestação. Até situando historicamente é muito importante porque a gente vivia um momento de mordaça e de repente um projeto de uma secretaria de desporto abre todo um leque de possibilidades que vai desembocar numa música que é uma música panfletária, quer dizer então o ápice de tudo isso além da fomentação no interior, que eu achei assim uma coisa maluca, de um projeto naquela época, naquele momento ainda de indecisões, quem manda e quem não manda, um ranço ainda de ditadura e você passa a

39Plano de Metas, Seminário de Cultura, Relatório 1983.

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liberar cultura que você sabe que cultura é uma coisa absolutamente libertária, então você vai com um projeto desse para o interior. Eu assim como um profissional que tava começando em rádio, aquilo pra mim, primeiro foi uma honra participar de um projeto desse, porque era o primeiro projeto digamos assim, era um primeiro rebento pós ditadura. E o Maranhão de uma tradição antiga de Festivais, mas para aquilo ali ganhar um formato de uma estrutura de uma banda, de uma estrutura de produção para viajar, gente parecia o Bye Bye Brasil, de você levar, parece que você levava uma caravana,eu acho que era uma coisa absolutamente inusitada, Eu pessoalmente acho que foi algo muito importante, culturalmente falando, porque o Projeto Viva que desencadeia no Festival, então o Festival é a última janela, nós tivemos eu acho quatro ou cinco eliminatórias, até que chegássemos a final, foram eu acho que 5 eliminatórias, então essas 5 eliminatórias chamaram a atenção da mídia, elas foram pra jornal, havia uma mídia muito forte no rádio, televisão, que desencadeou num processo na gravação de um vinil que foi feito no Rio de Janeiro.Então pra concluir, esse é o Projeto, talvez nem as pessoas que fizeram tivessem a dimensão, do que ele representava naquele momento,era o desabrochar de uma possibilidade, uma cultura e tendo como um gran finale a história do Festival Viva e por uma coincidência, a música que vai pra lá conta exatamente um desaguar que é a canção de um cara que era militante contra a ditadura que era o César Teixeira, assim como tem o Geraldo Vandré, “Pra não dizer que não falei das flores”, nós temos também a nossa, e a nossa música de protesto é exatamente aquela que venceu Festival.

Outro aspecto bastante citado refere-se à divulgação do “Projeto Viva”,

pois é clara a relação que existiu entre os meios de comunicação e a sua

divulgação, conforme esclarece Ivison Lima:

O Projeto Viva, pelo fato de ser do governo do Estado, evidentemente que a secretaria de comunicação é que tinha o dever de divulgar e a secretaria divulgava nas emissoras de rádio e televisão e dois dias antes através de carros de som, sempre passando pelos bairros escolhidos, quando era no bairro passava dois, três dias os carros de som anunciando; quando era no interior passava a semana inteira lá, o prefeito anunciando em carros de som e tudo mais, ou o prefeito ou os próprios membros ligados ao governo do Estado nessa área de cultura, nessa área ligada à secretaria de comunicação também.

Robson Júnior acrescenta:

Sim, eles tinham uma divulgação, uma mídia pra isso, jornal, pra rádio, mídia gravada mesmo, uma mídia específica, tinham esportes (gravações que vão para o ar de 30 segundos, são chamadas) anunciando: Festival Viva mais uma eliminatória, eles tinham tudo isso. Elas veiculavam nas rádios, havia peças em jornal do próprio governo, na própria produção havia uma verba pra aquilo, então eles tinham a verba não só pra produção, como também para divulgação do Projeto. Havia páginas de jornal, matérias feitas principalmente na semana, quando chegavam na semana, falava, nesse final de semana mais uma eliminatória do Projeto Viva, falava das músicas, havia essa cobertura, uma mídia paga, aí que eu volto de

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novo, no caso da mirante, nós éramos dois representantes, éramos eu e o Celso Borges por exemplo.

Havia, portanto, uma preocupação do “Projeto Viva” com a divulgação,

pois a partir dela conheciam-se os artistas, as músicas e as atividades do projeto,

bem como se garantia a ampla participação popular, tanto de espectadores como

de consumidores do artesanato, das comidas típicas e da produção musical

desenvolvida naquela época.

Promovia-se uma divulgação em vários meios de comunicação, como

rádio, televisão e jornais de maior circulação na cidade que tinham pautas para o

setor cultural, como O Imparcial e o Estado do Maranhão.

O “Projeto Viva” teve dois momentos, o primeiro iniciado a partir de

atividades na área cultural, com o desenvolvimento de uma espécie de feira cultural,

onde havia a apresentação das mais variadas manifestações culturais e dos talentos

encontrados em cada localidade por onde o “Projeto Viva” seria realizado, mas

houve também o encerramento do Projeto com a realização de um grande Festival,

o Festival Viva, que foi responsável pela maior visibilidade do “Projeto Viva”, contou

com a participação de muitos artistas locais concorrendo, como Gabriel Melônio,

Cláudio Pinheiro, César Teixeira, Rosa Reis, Fauzi Beydeoun, Fátima Passarinho,

Rogério do Maranhão, César Nascimento, Roberto Brandão, Luís Bulcão, Zé

Pereira, Gerude, Jorge Thadeu, Inácio Pinheiro dentre outros, e atrações nacionais,

como Belchior e Osvaldinho do Acordeom.

O Festival representou para os artistas um momento de importância na

música maranhense, tanto como evento cultural que estimulou os artistas, como

fomentador do aparecimento de muitos nomes novos que surgiram e se fixaram

nesse cenário no Maranhão. Como explica melhor Gabriel Melônio40, intérprete em

parceria com Cláudio Pinheiro na música vencedora, “Oração Latina” composta por

César Teixeira:

O Festival Viva pra mim foi muito importante, porque veio num momento em que os compositores daqui estavam numa produção muito boa, e com vontade de divulgar isso, de mostrar isso, não só para o Estado, mas para todo o Brasil. E este Festival foi muito bem conduzido, foi muito bem

40Entrevista concedida por Gabriel Melônio, em 12/03/2008.

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divulgado. As eliminatórias eram no Ginásio Costa Rodrigues, havia uma platéia muito boa em todas as eliminatórias, vieram artistas de outros Estados. Pra mim foi muito bom porque eu sempre gostei de participar dos eventos da música maranhense, e não por ter vencido o Festival juntamente com Cláudio Pinheiro, vencemos com a música ‘Oração Latina’, e também do César Teixeira, mas também porque culminou com o aparecimento de vários nomes novos na música maranhense, o de Fátima Passarinho, Fauzi Beydeoun e quem estava em muita atividade aqui na época era Jorge Thadeu, Gerude, César Nascimento que participou com a música ‘Forrockiando’, foi muito interessante e o Inácio Pinheiro que é hoje um dos cantores do Bicho Terra.

Para Rosa Reis41, o Festival teve um valor estético-cultural, tentou criar

um público para a música maranhense e abrir um mercado para as composições do

Estado, que segundo ela estavam necessitando de maior divulgação. Contribuiu,

também, para estimular os artistas a produzir mais e a mostrar o trabalho musical

desenvolvido por eles. Declara:

O Viva foi em 1985, eu me lembro que antes essa coisa de Festival estava acontecendo, teve o Festival de Verão, eu me lembro que foi feito pela mirante, foi no Nhozinho Santos e aí essa coisa do Festival começou a mexer muito com os artistas, acho que contribuiu bastante para que a gente começasse a compor mais, a fazer mais shows em barzinhos que já começava os barzinhos fazendo show só de música, não só maranhense, fazia MPB mais já ia, como Beto Pereira, já mostrava um pouquinho do seu trabalho, então eu acho que o Viva contribuiu bastante para isso, pra esse desenvolvimento da música no Maranhão, pra esse crescimento, deu uma injeção nos artistas. Mas foi um momento extremamente bacana dentro da música do Maranhão, momento que foi muito positivo fez com que os artistas reconhecessem a importância do seu trabalho, os maranhenses começaram a chegar, a ir assistir a música do Maranhão, acho que a partir daí chegou esse processo de valorização da música no Maranhão.

Para Roberto Brandão42, o Festival teve uma importância grande, foi um

“divisor de águas” dentro da música maranhense:

Na música a gente vê que houve uma grande divulgação aqui quando se começa a produzir discos, muitos compositores, eles começam a valorizar os shows de teatro, os shows em praça pública, é justamente isso que aparece o Projeto Viva nesse momento que dá um suporte, pra essa produção, principalmente na música, ali naquele momento está surgindo César Nascimento, surgindo assim, se fortalecendo, Beto Pereira, César Nascimento, César Pereira que vem de um pouco antes, mas ali começa a se fortalecer, se firmar. Mas ali é um momento que todo mundo começa a ter uma abertura, possibilidade de mostrar a sua arte, então o Projeto Viva ele começa a possibilitar a gente levar isso para os bairros, levar para outros pontos, e termina com o Festival Viva que foi o grande marco, eu

41Entrevista concedida por Rosa Reis, em 04/02/2009. 42Entrevista concedida por Roberto Brandão, em 13/02/2009.

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digo o Festival Viva foi um divisor de águas na música maranhense, tem o que é antes dele e o que é depois dele, foram muitas e muitas pessoas reveladas nesse Festival, foi o primeiro disco feito com tratamento profissional, O disco do Festival Viva foi feito no Rio, num excelente estúdio, que foi o estúdio transamérica, foi uma boa direção com Zé Américo e excelentes músicos eram contratados lá pra tocar com as grandes estrelas, depois disso realmente a música toma um outro rumo.

Para Cláudio Pinheiro43, intérprete e vencedor juntamente com Gabriel

Melônio e César Teixeira do Festival com a canção “Oração Latina” o Festival

representou:

Até acompanhando a vocação que a música do Maranhão tem pela coisa dos Festivais, o Viva certamente não foi o primeiro, mas que nessa geração que a gente se inseria foi um momento marcante, de reafirmação de alguns nomes e também de revelação de alguns outros. No nosso caso, nós já vínhamos de um início de carreira solo como intérprete, como cantor, e nos colocamos no Festival já assim, não foi a nossa estréia, a gente já vinha de um trabalho já um pouco sedimentado, esse Festival é marcante, porque ele marcou um divisor de momentos na música, acaba sendo um referencial dessa música mais atual. Mas eu não quero responsabilizar o Projeto ou o Festival, por uma mudança. Foi importante porque soma, e mostra do ponto de vista da gravação do disco que se tornou um marco, uma preciosidade, no Maranhão o disco Viva é muito importante, muito procurado, e desse Festival, mas em particular na minha carreira quando a gente colocou a música que saiu até a vencedora do Festival que foi Oração Latina de César Teixeira, que eu e o Gabriel Melônio cantávamos juntos, essa música já veio pinçada de um show nosso, chamado beco das minas, foi para o Festival e se tornou um hino, nós nos víamos obrigados com muito prazer de apresentar essa música em todos os lugares que a gente passasse, isso foram anos.

O que se observa na fala de Cláudio Pinheiro é que, apesar da

importância do Projeto e do Festival, não se conseguiu uma mudança no cenário

cultural. Embora houvesse a tentativa de estabelecer um mercado capaz de

produzir, fazer circular no Maranhão, por meio dos shows no interior, do show que

os artistas quando estão no Rio de Janeiro fazem no circo voador, acabou não

consolidando esse mercado. Apesar da qualidade e da organização do Projeto, este

acabou se tornando mais uma iniciativa de um determinado governo, realizado por

uma secretaria, mas que não se consubstanciou em políticas públicas capazes de

dar um suporte contínuo àquelas manifestações culturais apresentadas.

A Banda Viva foi outro importante componente do Festival. Oberdan a

classifica como uma peça fundamental para a execução do Festival, pois era

43Entrevista concedida por Cláudio Pinheiro, em 10/02/2009.

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composta de músicos profissionais que vinham de um momento anterior, portanto

dava um suporte de qualidade musical para o evento.

Em primeiro lugar, num projeto que foi voltado para a cultura não podia deixar de existir música, e aí nós montamos uma banda já com a, quando acabou Nonato e seu conjunto, nós já tocávamos nos bares da vida e ele nos convidou e fundamos a banda para o Projeto, foi fundamental porque através dessa banda nós chegamos aos objetivos que seria a descoberta de valores, trazendo esses valores que estavam obscuros que não tinha oportunidade e a Banda Viva veio dar essa oportunidade dentro do Projeto Viva, nós acompanhávamos os artistas em shows, todo mundo até o trabalho da Banda em si, e que se transformou ao longo dos anos, em torno de 3 anos mais ou menos se transformou no grande point da cidade, a Banda Viva foi uma peça fundamental pois através delas, nós difundimos, nós descobrimos valores que tem hoje em São Luís.

A Banda Viva serviu como uma base para todas as apresentações

musicais, participando de shows na cidade, e com isso possibilitou maior divulgação

tanto do Projeto quanto do Festival que ocorreu em 1985.

Rosa Reis informa a importância da Banda para os artistas:

A formação era uma banda que veio a partir daí desses grupos que já existiam de conjunto, faziam festas, e aí formaram uma banda e essa banda acompanhava todo mundo, então todo mundo ia ensaiar com essa banda, teve certa preocupação com a qualidade, então vamos formar uma banda, com um pessoal mais experiente que já toca e vamos ensaiar com eles para que realmente a gente tenha condições de apresentar no dia o resultado interessante, fazer uma boa apresentação da sua música, e eu acho que foi muito importante.

O Festival culminou com a gravação de um LP que constava das

10 melhores composições que venceram o Festival e a música de melhor interprete:

Oração Latina, de César Teixeira; Alcântara, de Nato Araújo; Sabiá Mensageiro, de

Leôncio Rodrigues e Ana Tecia; Forrockiando, de César Nascimento; Luarada, de

Rogério de Araújo; Pirilampo Pereira, de Zé Pereira (Godão); O Paraíba, de Jorge

Thadeu e Gerude; Estrela do Mar, de Luís Bulcão; Em se resistir, de Tutuca e

Reynaldo Barros; Canto de Passarinho, de Moisés Pereira e Domingos Santos; e

Neguinha, de Fauzi Baydeoun.

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Nan Souza explica o desenvolvimento do Festival:

Uma característica então dentro do Projeto era fazer esse trabalho de sensibilização durante três anos, e lá no final depois de se cumprir mais ou menos as metas estabelecidas nós partimos para o Festival, Festival Viva. Então dentro das metas tinha o Festival Viva, o edital estabelecendo os critérios e a composição do Júri que foi um pessoal muito bom, era Nonato e seu conjunto, era aquele menino que morreu o Valdelino, é Mariccella e a cada eliminatória que tinha sido umas seis a oito eliminatórias vinha uma pessoa de fora, Belchior por exemplo, e eles faziam parte do Júri e faziam uma apresentação, Oswaldinho do Acordeon, que se tornou muito amigo e veio ainda aqui várias vezes. Terminado o Festival ganha, uma das vencedoras além das outras, venceu também “Neguinha” de Fauzi Baydeoun que é o regaee, que foi representado por ele e por Rosa Reis, e veio a pressão em cima de mim pra que o Reggae não fosse gravado, porque não era música maranhense, rapaz o pessoal principalmente quem achou que tinha direito de está lá nos dez, não aquela história toda, olha gente eu sou analfabeto em música mas eu consegui um júri que estabeleceu os critérios, se está dentro dos critérios eu não vou buscar DNA, e eu digo olha eu não vou mexer no resultado, eu não vou me desmoralizar porque o reggae não é maranhense, e foi classificada e vai ser gravado. E aí entra o governador muito solícito quando ele soube, ele começou a quebrar resistência, mas já tinha a estrutura toda montada é ônibus que eu consegui com uma empresa. Eu montei um ônibus pra pegar caixa pegar tudo, fazer as viagens. Agora quem é que vai para o Rio? Vai quem ganhou, mas deu 35 pessoas entre músicos e intérpretes e vocais e fomos gravar transamérica, e lá estava o Zé Américo produtor também da época, Camilo que depois foi pro Rio, e lá no Rio o Zé Américo nos ajudou muito, fez a produção total do disco e foi um disco que reconhecidamente uma produção, uma qualidade técnica singular.

Robson complementa:

O Fauzi forçou muita coisa, não havia um prêmio pra melhor intérprete, foi criado nos bastidores, o Fauzi fez tanto sucesso com “Neguinha” que a turma ficou constrangida, quer dizer já tinha votado, foi quase uma unanimidade a música de César Teixeira, quando terminou todo mundo ficou, o que a gente faz com a música do Fauzi, foi boa, criaram ali o prêmio para melhor intérprete para o Fauzi Beydeoun.

O Festival refletiu as condições sócio-políticas daquele momento,

processo de reabertura política do país, onde a música de contestação ainda velada,

sem acusações diretas contra o governo, falava da aflição e das angústias do povo

em não permitir as injustiças sociais. Contudo, temos também um misto de outras

temáticas, desde as músicas que cantam a terra até bumba-meu-boi, o que

demonstrou a diversidade não só musical, mas cultural, que tanto o Projeto como o

Festival representaram.

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Aspectos relevantes que são narrados a partir da memória de alguns

dos personagens que fizeram parte não apenas do “Projeto Viva”, mas do cenário

político, social e cultural da década de 1980, sem deixar de considerar a

re-significação constante da memória, sua reelaboração contínua e os aspectos que

concernem à sua dinâmica. Não obstante, entender o “Projeto Viva” a partir desses

personagens é dotar a pesquisa de significados intrínsecos a cada um, revelando

uma memória de si, levando-se em consideração que o homem é o produtor de sua

história.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que o “Projeto Viva” teve implicações políticas, econômicas e

sociais, exercendo influência nos setores artísticos ludovicenses. No entanto, seu

amadurecimento acabou não acontecendo, em virtude da falta de políticas culturais

mais abrangentes e pela ausência de uma produção legislativa que beneficiasse a

área cultural. Afinal, nenhum tipo de lei ou incremento à cultura foi desenvolvido na

esfera institucional no período estudado, como se fazia crer, mediante sua relação

mesmo que apenas teórica, com o Seminário de Cultura desenvolvido como metas

de governo durante o mandato de Luiz Rocha (1983 a 1987) e que tinha como

objetivo definir ações do governo para essa área.

Apesar de não desenvolver mudanças permanentes no quadro da política

cultural maranhense, foi fundamental para fomentar uma efervescência no período

da sua realização, incentivando a produção musical, teatral, apresentações de

música, dança, venda de artesanato e culinária. Com o Festival Viva, proporcionou-

se a consolidação de carreiras já existentes no plano musical, lançaram-se muitos

outros artistas e propiciou-se a divulgação da música maranhense como produto

simbólico e cultural de qualidade, que necessitava ser valorizado, bem como outras

manifestações da cultura popular.

É importante observar que apesar de a década de 1980 ser considerada

como o momento de consolidação das indústrias culturais no Brasil, o “Projeto Viva”

está inserido nesse contexto. No Maranhão, as condições para se instalar esse tipo

de mercado são muito complexas, em razão de a economia ser bastante periférica e

não possibilitar a instalação de uma infra-estrutura adequada. De outra forma, cabe

ainda uma análise diferenciada, de não haver por parte do poder público interesse

em efetivar políticas que possibilitem a criação de um mercado de bens simbólicos e

materiais, que viabilize a profissionalização e autonomia dos agentes culturais,

entendidos aqui como pessoas ligadas direta ou indiretamente à esfera cultural.

O “Projeto Viva” permitiu abrir as possibilidades para a efetivação dos

aspectos acima mencionados. Entretanto, devido às descontinuidades das políticas

empreendidas em governos posteriores, as ações que poderiam ser duradouras,

gerando renda para o Estado, acabaram por se tornar ações isoladas, que, embora

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tenham tido uma boa execução e aceitação, se tornaram ações de um determinado

período.

Analisaram-se, também, as representações acerca do projeto e a

construção dos discursos que revelam as várias interpretações e caminhos

percorridos pelo “Projeto Viva”. Para alguns, O “Projeto Viva” contribuiu de forma

significativa como tentativa de criação de um espaço de difusão da cultura

maranhense e a sua valorização na capital e outros municípios. Para estes, o

Projeto buscou conhecer e possibilitar um intercâmbio entre as manifestações

artísticas e culturais da capital e do interior, como uma espécie de projeto itinerante,

que propiciasse melhor acesso aos bens culturais e maior divulgação dos mesmos.

No entanto, outros personagens associam a realização do “Projeto Viva” a

uma proposta política, utilizando a cultura como uma possibilidade de aproximação

das elites com a população. Essa perspectiva ocorreu no “Projeto Viva” na ocasião

em que se deslocava para os interiores do Estado, pois em alguns momentos a

valorização da cultura e a busca de novos talentos não eram priorizadas, tanto que

inicialmente o “Projeto Viva” aglutinava várias esferas da cultura, o teatro, a poesia,

a mímica e a dança. Porém, no decorrer do Projeto, a música foi ganhando os

espaços, talvez por ser a que proporcionasse um maior retorno de propaganda, de

mídia ou por se tratar de um momento de expansão de um mercado fonográfico,

tanto a nível nacional quanto local.

O que se buscou com essa análise não foi somente mostrar a importância

de um novo objeto de estudo, mas tentar compreender a forma de relacionamento

entre a cultura e o Estado num momento de redemocratização e reorganização

política do país, período em que a economia está bastante desestabilizada e que

surge um novo debate acerca da cultura, ainda frágil, mas em vias de consolidação.

Oportuno frisar a forma como se estrutura o “Projeto Viva” a partir de

um plano de metas desenvolvido desde o início do governo, ou seja, houve a

preocupação em elaborar um plano de metas para a cultura e que de certa maneira

foi implementado por meio do “Projeto Viva”. Muito embora tais iniciativas,

repetimos, tenham esbarrado na falta de continuidade de políticas públicas. Tal

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realidade implicou tanto o final do “Projeto Viva” e das ações desenvolvidas por ele

quanto a impossibilidade de criar leis de incentivo à cultura.

Por fim, esclarecemos não ter sido nossa intenção fazer apologia ao

“Projeto Viva”, mesmo reconhecendo a sua importância. Objetivamos, por outra,

demonstrar suas implicações para a cultura local, bem como apontar as lacunas

existentes na sua consecução, seus não-ditos, suas ambiguidades e sugerir

novas possibilidades reflexivas no que concerne à política cultural da primeira

metade da década de 1980.

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JORNAL O IMPARCIAL. Figueiredo sente em novembro estocada de abril. São Luis: 03/01/1982.

JORNAL O IMPARCIAL. Vinculação de votos reverte expectativa eleitoral de 1982. São Luís: 09/01/1982.

JORNAL O IMPARCIAL, PDS prepara sua campanha eleitoral: como bandeira ele pretende usar a redemocratização. São Luís: 19/01/1982.

JORNAL O IMPARCIAL. Iniciada no Congresso a discussão do pacote. São Luís: 07/01/1982.

JORNAL O IMPARCIAL. Festival homenageia São Luís. São Luís: 05/09/1982.

JORNAL O IMPARCIAL. Figueiredo confia na vitória. São Luís: 23/09/1982.

JORNAL O IMPARCIAL. Luiz Rocha traça metas do governo. São Luís: 19/10/1982.

JORNAL O IMPARCIAL. Ulysses prevê vitória. São Luís: 4/11/1982.

JORNAL O IMPARCIAL. Rocha é o vencedor. São Luís: 19/11/1982.

JORNAL O IMPARCIAL. Luiz Rocha quer promoção social. São Luís: 21/11/1982.

JORNAL O IMPARCIAL. Secretarias supérfluas vão acabar. São Luís: 05/01/1984a.

JORNAL O IMPARCIAL. Reforma extinguirá algumas secretarias. São Luís: 05/01/1984b.

JORNAL O IMPARCIAL. Reforma governamental extingue Sedel e Secom. São Luís: 07/01/1984.

JORNAL O IMPARCIAL. Reforma do governo abre espaço para políticos. São Luís: 11/01/1984.

JORNAL O IMPARCIAL. São Luís: campanha pelas diretas traz Ulysses a São Luís. 13/01/1984.

JORNAL O IMPARCIAL. Secretarias continuam sem qualquer alteração. São Luís: 22/01/1984.

JORNAL O IMPARCIAL. Pro-diretas na praia. São Luís: 09/02/1984.

JORNAL O IMPARCIAL. Figueiredo descrata eleições diretas já. São Luís: 16/02/1984a.

JORNAL O IMPARCIAL. PMDB decepciona o povo. São Luís: 16/02/1984b.

JORNAL O IMPARCIAL. Governador lançará Projeto Viva. São Luís: 03/08/1984.

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JORNAL O IMPARCIAL. Projeto Viva será lançado para atender o povo. São Luís: 04/08/1984.

JORNAL O IMPARCIAL. Os festivais retornam com o Projeto Viva. São Luís: 14/09/1984.

JORNAL O IMPARCIAL. Projeto Viva será atração em Fátima. São Luís: 15/09/1984.

JORNAL O IMPARCIAL. Projeto Viva vai agora para recintos fechados. São Luís: 24/11/1984.

JORNAL O IMPARCIAL. Projeto Viva volta às atividades dia 28. São Luís: 10/03/1985.

JORNAL O IMPARCIAL. Começam as inscrições para o Festival Viva. São Luís: 29/03/1985.

JORNAL O IMPARCIAL. Festival Viva tentará descobrir compositores. São Luís: 16/04/1985.

JORNAL O IMPARCIAL. Festival Viva vai encerar inscrições. São Luís: 30/04/1985.

JORNAL O IMPARCIAL. Viva vai anunciar as músicas classificadas. São Luís: 10/05/1985.

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