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MINISTÉRIO DA SAÚDEFUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
CENTRO DE PESQUISA AGGEU MAGALHÃESDEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA
RESIDÊNCIA MULTIDISCIPLINAR EM SAÚDE COLETIVA
Alessandro Cezar Rito de Cerqueira
PERFIL DA MORBIDADE FILARIAL EM ÁREA ENDÊMICA NO DISTRITO
SANITÁRIO III – RECIFE, PE.
Recife2006
ALESSANDRO CEZAR RITO DE CERQUEIRA
PERFIL DA MORBIDADE FILARIAL EM ÁREA ENDÊMICA NO DISTRITO
SANITÁRIO III – RECIFE, PE
Recife
Monografia apresentada ao Departamento de Saúde Coletiva -NESC- do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães -CPqAM/FIOCRUZ/MS- como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação lato sensu de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Cynthia Braga
2006
ALESSANDRO CEZAR RITO DE CERQUEIRA
PERFIL DA MORBIDADE FILARIAL EM ÁREA ENDÊMICA NO DISTRITO SANITÁRIO III – RECIFE, PE.
Monografia apresentada ao Departamento de Saúde Coletiva -NESC- do Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães -CPqAM/FIOCRUZ/MS- como requisito parcial à obtenção do título de Especialista no Curso de Pós-Graduação lato sensu de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva.
Orientadora: _____________________________________________________Profª. Drª. Maria Cynthia Braga – Pesquisadora CPqAM/FIOCRUZ/MS
Debatedora: _____________________________________________________Mônica Maria Crespo de Farias – Gerente de Território DS III/SMS/ RECIFE
Recife2006
AGRADECIMENTOS
A orientadora pelo encorajamento e ensinamentos, durante a realização deste
trabalho.
A família pelo apoio irrestrito à minha realização profissional e pela compreensão
nos momentos de ausência.
A debatedora Mônica Crespo pelo acolhimento, contribuições e suporte logístico na
elaboração deste trabalho.
A equipe do Distrito Sanitário III que participaram diretamente do inquérito pela
valorosa colaboração na realização desta pesquisa.
A Flaudiano e Constantino pelo suporte técnico e científico de extrema importância
na elaboração deste trabalho.
A minha turma da Residência pelos ensinamentos e apoio incondicional em todas as
situações vivenciadas durante nosso curso.
Ao CPqAM e SES-PE pelos incentivos que me foram concedidos durante o curso,
deixando expresso o meu reconhecimento pelo Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde Coletiva.
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo descrever o perfil clínico-epidemiológico e a
distribuição geográfica dos casos morbidade filarial em uma área endêmica do
Distrito Sanitário III da cidade do Recife. O estudo foi descritivo, observacional de
corte transversal. Foram utilizados dados do inquérito sobre morbidade filarial
referida realizados pelos agentes comunitários de saúde no período de outubro a
dezembro de 2005, que envolveu uma população de 15.374 moradores residentes
nas áreas de cobertura das unidades de saúde da família Santa Tereza, Córrego da
Bica e Boa Vista. Os resultados mostraram uma prevalência global de 0,7%, no qual
não foram identificadas diferenças significativas entre os sexos quanto à morbidade.
As áreas adscritas das unidades de saúde do Córrego da Bica e da Boa Vista
apresentaram prevalências maiores que da USF de Santa Tereza. Para as
prevalências nas faixas etárias, houve uma maior concentração a partir do grupo de
20 a 39 anos. Foi observado que à medida que a faixa etária crescia a prevalência
aumentava sucessivamente. Entre as manifestações clínicas, a hidrocele foi a
característica que apresentou a maior prevalência (0,5%), seguida da erisipela com
0,3%. A elefantíase foi a que apresentou a menor prevalência (0,04%), dentre os
relatos, porém concentrou todos os casos em mulheres e nos grupos etários a partir
do 40 anos. Nenhum caso sugestivo de quilúria foi identificado. No que diz respeito à
distribuição espacial dos casos, constatou-se uma maior concentração de morbidade
filarial nas áreas das USF’s Córrego da Bica e Boa Vista, principalmente ao longo
das margens do rio Morno, sugestivo de que a fonte hídrica seja um dos importantes
fatores ambientais, para a transmissão, onde há condições inadequadas de
saneamento ambiental. A morbidade filarial referida, na área de estudo, é um
problema de saúde de baixa magnitude. No entanto, as USF devem estar
organizadas no sentido de prestar assistência e acompanhar os casos identificados
no levantamento, prevenindo a evolução para as formas mais graves, além do mais,
deve também estar atentas para as identificações de casos novos, refletindo sobre o
processo contextual epidemiológico da filariose nas suas áreas de abrangências.
ABSTRACT
This research has like objective to describe the clinical-epidemiologic profile and the
geografic distribution of filariasis morbidity in an endemical area of Sanity District III
in Recife. The Study was descritive, observational with transverse cut. The used data
was from inquiry about filariasis morbidity above-mentioned, done for health
community agents during the period between october and december of 2005,
involving a population of 15.374 residents of the areas saw for the family health
unities Santa Teresa, Córrego da Bica and Boa Vista. The results showed a global
prevalency of 0,7%, without significative differences between the genders about the
morbidity. The areas submited to health unities of Córrego da Bica and Boavista
presented higher prevalencies than the family health unity of Santa Tereza. About
the prevalencies in age groups, there was a bigger concentration in the 20-39 years
old group. It was also noticed a successive increase of the prevalency with the rise of
age. Among clinical manifestations, hydroceles was the characteristic with higher
prevalency (0,5%), followed for erisipela (0,3%). Elephantiasis presented the fewer
prevalency (0,04%), howover all of cases was concentrated in female gender and
age groups above 40 years old. It wasn’t identified any case that suggests chyluria.
About spacial distribution of cases, the study showed a higgher concentration of
filariasis morbidity at the Family Health Unities of Córrego da Bica and Boa Vista,
mainly along of the marges of the Morno river, who proposes that water source is
one of the most important environmental factores. The filariasis morbidity above-
mentioned, at the studed area, is a health problem of low importance. Nevertheless,
the Family Health Unities must be organized to give assistence and to observe the
identified cases from the survey and to prevent the evolution to more severe forms.
Moreover, the Family Health Unities must be attentive to recognize new cases,
reflecting about the epidemiological context process of filariasis at its range areas.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 - Equipes e microáreas integrantes da pesquisa.......................................27
Figura 1 - Áreas e limites das Unidades de Saúde da Família de abrangência do
estudo. DS III, Recife, 2005.....................................................................................25
Figura 2 - Prevalência de morbidade filarial segundo grupo etário por sexo. DS III,
Recife, 2005...............................................................................................................33
Figura 3 - Distribuição geográfica da morbidade filarial (2005) e dos casos
positivos de filariose (2004) nas áreas de abrangências do estudo. DS III,
Recife, 2005...............................................................................................................35
Figura 4 - Distribuição geográfica da morbidade filarial (2005) e de casos positivos
de filariose (2004) da USF-Boa Vista. DS III, Recife, 2005................................36
Figura 5 – Distribuição dos casos de morbidade filarial e estimador de intensidade
(Kernel) na área de estudo. DS III, Recife, 2005.................................................36
Figura 6 – Distribuição dos casos de microfilaremia e estimador de intensidade
(Kernel) na área de estudo. DS III, Recife, 2004.................................................37
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Prevalência de Morbidade Filarial Segundo Sexo. DS III, Recife, 2005....31
Tabela 2 - Prevalência de Morbidade Filarial Segundo Área da USF. DS III, Recife,
2005..................................................................................................................................31
Tabela 3 - Prevalência de Morbidade Filarial Segundo Grupo Etário. DS III, Recife,
2005..................................................................................................................................32
Tabela 4 - Manifestações Clínicas de Filariose Segundo o Grupo Etário. DS III,
Recife, 2005....................................................................................................................34
Tabela 5 – Freqüência de Casos de Morbidade Filarial Segundo a Distância da Rede
de Drenagem..................................................................................................................37
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ACS Agente Comunitário de Saúde
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
CNS Conselho Nacional de Saúde
DEC Dietilcarbamazina
DNERu Departamento Nacional de Endemias Rurais
DS Distrito Sanitário
DS III Distrito Sanitário III
ESF Equipe de Saúde da Família
FNS Fundação Nacional de Saúde
GPS Global Positioning System
OMS Organización Mundial de la Salud
PNEFL Plano Nacional de Eliminação da Filariose Linfática
PSF Programa de Saúde da Família
RMR Região Metropolitana do Recife
RPA Região Político-Administrativa
SUCAM Superintendência de Campanhas de Saúde Pública
USF Unidade de Saúde da Família
WHO World Health Organization
ZEIS Zonas Especiais de Interesse Social
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10
1.1 A filariose no Brasil e no mundo......................................................................11
1.2 A situação da filariose em Recife e região metropolitana.............................14
1.3 Ciclo biológico, transmissão e formas clínicas da filariose linfática bancroftiana.............................................................................................................18
2 OBJETIVOS...........................................................................................................22
2.1 Geral....................................................................................................................23
2.2 Específicos.........................................................................................................23
3 METODOLOGIA.....................................................................................................24
3.1 Tipo de estudo...................................................................................................25
3.2 Caracterização da área de estudo e população..............................................25
3.3 Fonte e coleta dos dados..................................................................................27
3.4 Variáveis de estudo...........................................................................................28
3.5 Análise e apresentação dos dados..................................................................28
3.6 Considerações éticas........................................................................................29
4 RESULTADOS.......................................................................................................30
4.1 Inquérito de Morbidade filarial..........................................................................31
4.2 Espacialização da morbidade filarial...............................................................35
5 DISCUSSÃO..........................................................................................................38
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................42
RECOMENDAÇÕES.................................................................................................44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................45
ANEXO......................................................................................................................50
1 INTRODUÇÃO
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 11Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
1.1 A filariose no Brasil e no mundo
A filariose linfática constitui um problema de saúde pública em mais de 80
países. Estima-se que em torno de 120 milhões de pessoas estejam infectadas e
mais de 40 milhões possuam sérias desfigurações e incapacidades decorrentes da
doença. Um terço das pessoas infectadas vivem na Índia, um terço estão na África e
o restante está no sul da Ásia, no Pacífico e nas Américas. Em áreas tropicais e
subtropicais onde a filariose está bem estabelecida, a prevalência da infecção
continua aumentando. A primeira causa está no aumento rápido e não planejado das
cidades, o qual cria numerosas condições para sua transmissão (WHO, 2000).
Nas Américas, cerca de 6,5 milhões de pessoas vivem em áreas onde a
transmissão da doença é ativa. Existem, atualmente, focos da endemia nas
Guianas, Brasil, República Dominicana, Costa Rica, Haiti, Suriname e Trinidad
Tobago sendo o Brasil e o Haiti os principais focos da doença nas Américas (WHO,
1992).
A filariose bancroftiana é causada pelo helminto Wuchereria bancrofti,
especificamente no Brasil, e transmitida pelo vetor Culex quinquefasciatus.
Representa um importante problema sanitário, sendo sua importância justificada
tanto pelo número de casos como pela morbidade associada ao dano linfático
(MEDEIROS et al, 2003).
No Brasil, os primeiros relatos da doença são do século XIX, quando Otto
Wucherer, em 1868, identificou as microfilárias, embriões até então desconhecidos,
na urina hematoquilúrica de pacientes em Salvador (WUCHERER, 1868). No
entanto, os primeiros estudos sistematizados a respeito da distribuição e prevalência
da bancroftose foram realizados em Belém no Pará na década de 1940. A partir daí
o governo federal realizou levantamento epidemiológico na década de 1950 e iniciou
o programa de combate à filariose (ROCHA; FONTES, 1998).
A campanha de combate à filariose iniciada pelo Ministério da Educação e
Saúde, em 1951, apresentava três eixos de ações principais: o levantamento da sua
distribuição geográfica no país, o combate à filariose bancroftiana e o
desenvolvimento de pesquisas epidemiológicas e de prevenção. Foram efetuados
Introdução
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 12Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
inquéritos epidemiológicos em 538 localidades, sendo encontrados portadores de
microfilaremia em 89 das mesmas. No entanto, em apenas 11 localidades ficou
comprovada a transmissão ativa, estando Recife em Pernambuco e Belém no Pará
como importantes focos de transmissão além de Castro Alves na Bahia,
Florianópolis e Barra de Laguna em Santa Catarina e Ponta Grossa no Paraná
(RACHOU, 1957).
Com os inquéritos realizados, foram iniciadas, ainda na década de 1950, as
ações de controle da bancroftose, empreendidas pelo Departamento Nacional de
Endemias Rurais (DNERu) e, depois de 1970, pela Superintendência de Campanhas
de Saúde Pública (SUCAM). Este programa tinha como meta erradicar ou controlar
a bancroftose nas áreas endêmicas, tratando os indivíduos parasitados com o
medicamento dietilcarbamazina (DEC), combatendo quimicamente as formas
adultas e larvárias dos insetos vetores e eliminando os criadouros de mosquitos
através de obras de saneamento (FRANCO & SILVA-LIMA, 1967).
Quase todos os focos de transmissão ativa foram considerados extintos pelo
Ministério da Saúde, que considerava como áreas endêmicas no Brasil somente as
cidades de Belém (PA) e Recife (PE). De fato, os dados do ministério mostravam
que o Programa Nacional de Controle da Bancroftose levou a uma apreciável,
progressiva e sistemática queda nas taxas de microfilaremia, devido ao tratamento
das fontes de infecção (BRASIL, 1985).
Em Belém, o índice de indivíduos microfilarêmicos regrediu de 9,8% em 1951
para 0,2% em 1983 e, posteriormente, para 0,03%, em 1990. Em Recife, o índice de
microfilarêmicos apresentou uma redução de 6,9%, em 1954, para 1,5% em 1983, e
0,7%, em 1984. Esses dados levaram o Ministério da Saúde a concluir, em 1985,
que a endemia vinha sendo controlada de forma satisfatória no País, e que a doença
tinha atingido nível de baixa endemicidade, não mais apresentando a gravidade de
que se revestia no passado (BRASIL, 1985).
Após a década de 1950 nenhum outro levantamento epidemiológico global no
Brasil foi realizado para redesenhar o mapa de distribuição geográfica da filariose
linfática, sendo os dados disponíveis provenientes de inquéritos isolados. Com
exceção de Recife (PE), Belém (PA), Maceió (AL), Ponta Grossa (SC) e Barra de
Introdução
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 13Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Laguna (SC), em nenhum outro foco antigo foi feita uma reavaliação recente da
situação da parasitose (ROCHA; FONTES, 1998).
Em Maceió, na década de 1950, foram detectados 0,3% da população
microfilarêmica. Na década de 1990, novos estudos mostraram a ocorrência da
transmissão natural da filariose na área urbana da cidade, com enfoque para dois
bairros do centro de Maceió. Na população de escolares examinados, 0,6%
apresentavam microfilaremia, sendo 80% dos casos provenientes dos bairros de
Jacintinho e Feitosa. Para a população geral examinada, a prevalência encontrada
foi semelhante a do grupo de escolares, com destaque para os bairros de Jacintinho
com 1,1% e Feitosa com 5,70% de microfilarêmicos, mostrando assim, índices
superiores aos encontrados na década de 1950 (FONTES et al, 1994).
Há mais de quatro décadas Belém é considerada o maior foco da bancroftose
da região amazônica e um dos mais importantes do Brasil. Em 1952,
aproximadamente um quinto da sua população era microfilarêmica, estimando-se
em 2500 os casos de elefantíase. A partir daí foi deflagrada a campanha de controle,
sendo abandonada mais tarde pela ineficácia no combate ao vetor e o alto custo dos
inseticidas. Ainda assim, a campanha foi bem sucedida, com a redução na
incidência da doença. Hoje a erradicação é a meta com a adoção de novos métodos
de combate ao vetor, tais como o emprego de bolinhas de poliestireno nas fossas
sépticas, privadas estanques não-inundáveis e o controle biológico nos criadouros
naturais, acompanhados de um incremento de obras de saneamento (FRAIHA-
NETO, 1993).
É objetivo da Organização Mundial de Saúde (OMS) a erradicação da
bancroftose nas Américas, uma vez que a OMS inclui a filariose linfática entre as
doenças potencialmente erradicáveis (WHO, 1994). Pra concretizar este objetivo, foi
recomendada, em resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a criação de
um comitê técnico, pela Fundação Nacional de Saúde (FNS), para implantação e
acompanhamento do Plano Nacional de Eliminação da Filariose Linfática (BRASIL,
1996).
O conhecimento da situação atual da bancroftose no Brasil é de fundamental
importância para a implementação de um programa conjunto para a eliminação
Introdução
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 14Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
dessa endemia, envolvendo o Ministério da Saúde e órgãos de Saúde Pública
regionais. O sucesso do Plano poderá interromper a transmissão da parasitose,
evitando a expansão do número de indivíduos microfilarêmicos e,
conseqüentemente, o aparecimento de quadros de morbidade como elefantíase,
hidrocele, quilúria e outras formas clínicas que poderão surgir se medidas de
controle não forem implementadas (ROCHA; FONTES, 1998).
1.2 A situação da filariose em Recife e região metropolitana
Na cidade do Recife a urbanização desordenada vem produzindo espaços
intra-urbanos desiguais. Ela tem um impacto na qualidade de vida dos residentes em
áreas insalubres e desprovidas de serviços de infra-estrutura urbana. Associam-se a
esta organização social os condicionantes de sua situação geográfica.Cortada por
rios e canais e construída, em boa parte, às custas de aterro, Recife está sujeita a
alagamentos periódicos. Além disso, o vetor da filariose prolifera, preferencialmente,
em água estagnada e poluída, portanto, associadas a condições precárias de
saneamento. É nas favelas, em geral superpovoadas, onde a presença de terrenos
alagados e fossas abertas produzem as condições adequadas para os criadouros do
vetor capaz de manter a transmissão da parasitose (ALBUQUERQUE, 1993).
Considerada área endêmica pelo Ministério da Saúde desde a década de
1950, Recife foi apontada como um dos principais focos do país, mantendo esta
situação até os dias de hoje. Persiste como problema de saúde pública atingindo
populações dos municípios da Região Metropolitana do Recife (RMR), tais como
Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes. (REGIS et al, 1996; MACIEL et al
1999).
A endemia expandiu-se por várias áreas de desenvolvimento urbano
inadequado acometendo outros municípios da região metropolitana do Recife
(RMR). BONFIM et al (2003), realizando inquérito epidemiológico no distrito de
Cavaleiro, município de Jaboatão dos Guararapes e BRAGA et al (2001), utilizando
uma estratégia de intervenção guiada pela identificação de “espaços de risco”, no
município de Olinda, encontraram indícios da manutenção e expansão da filariose
Introdução
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 15Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
na RMR. Em Jaboatão a taxa de prevalência encontrada foi de 2,2%, para o distrito,
com ampla distribuição na localidade (11 bairros dos 12 examinados). Em Olinda o
inquérito parasitológico mostrou a prevalência de microfilaremia de 1,3%, sendo que
85,7% dos casos de filariose registrados situaram-se nos dois estratos de mais alto
risco de transmissão ambiental.
O município de moreno, integrante da RMR, foi analisado como território de
expansão da doença. Os resultados mostraram que este município apresenta todos
os componentes para que possa ocorrer a transmissão desta enfermidade: a
presença do vetor, de indivíduos microfilarêmicos e de indivíduos suceptíveis (2,6%
dos entrevistados relataram queixas correlatas com filariose). Dois indivíduos
microfilarêmicos foram identificados de uma análise de 2.513 amostras de sangue.
Esses migraram de área endêmica, em outro município, para áreas que não se tem
registro de transmissão ativa (MEDEIROS et al, 2004).
Maciel e outros (1994) realizaram estudo comparativo da filariose na RMR
selecionando dois bairros do Recife (Santo Amaro e Campo Grande) e dois bairros
de Olinda (Sapucaia e Salgadinho). De maneira global, as taxas de infecção em
Recife foram de 13,5%, enquanto que em Olinda foram de 12,3%. Em relação aos
índices microfilarêmicos, os picos nos bairros estudados de Recife e Olinda foram às
faixas etárias de 20-29 anos e 30-39 anos, respectivamente, apesar de a média
verificada a partir dos 10 anos ter sido 14%. Os autores concluem que a endemia
apresenta níveis endêmicos do passado, em Santo Amaro no ano de 1952 (9,7%) e
em 1991 (13,5%), e os dados descritos alertam para uma reavaliação das
campanhas de controle realizadas pela Fundação Nacional de Saúde (FNS).
Em relação à evolução dos índices microfilarêmicos para o município do
Recife como um todo, na década de 1980, a partir da busca ativa e da demanda aos
postos de notificação (busca passiva), observou-se um aumento no percentual de
positividade a partir de 1988. Os dados mostram que o percentual de positivos por
busca ativa foi em 1981 de 1,7% e em 1991 de 3,5%. Para a busca passiva, os
microfilarêmicos no Recife foram em 1981 de 2,7% e em 1991 de 3,7%
(ALBUQUERQUE, 1993).
Introdução
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 16Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Braga e outros (1997), após levantamento do perfil epidemiológico em duas
comunidades do Recife no ano de 1991, em crianças entre 5 e 14 anos, encontrou
uma prevalência de microfilaremia geral de 6,4%. Nos grupos etários de 5 a 9 e 10 a
14 anos a prevalência foi de 4,6% e 8,3% respectivamente. Esses resultados
revelam que quantos mais elevados os níveis de prevalência de microfilaremia na
comunidade, mais precoce e intensa é a exposição à filariose na população
pediátrica.
Esses dados mostram que os trabalhos de controle, efetuados
institucionalmente, devem ter contribuído para alguma redução da densidade
parasitária, porém, não asseguraram a diminuição da prevalência, nem a delimitação
da área geográfica da endemia, que já se estende por novas áreas na região
metropolitana do Recife. Diante disso, pode-se concluir que as campanhas de
controle realizadas pela SUCAM no passado devem ser reavaliadas em áreas de
alta endemicidade, pois, ao que parece, não alcançaram o objetivo de interromper a
transmissão da parasitose (ROCHA; FONTES, 1998).
A partir daí, em 1995 foi criado no Brasil o Plano Nacional de Eliminação da
Filariose Linfática (PNEFL) e em 1997 o mesmo foi revisto e atualizado. Este
programa tem como objetivo geral a eliminação da filariose linfática no território
brasileiro, seguindo as diretrizes da OMS. Especificamente o PNEFL busca
interromper a transmissão da doença nos focos endêmicos através de quimioterapia
e do controle do vetor, esgotar as fontes de infecção e prover assistência integral
para aqueles que são portadores da doença (RECIFE, 2000).
Com o objetivo de reavaliar as áreas endêmicas, foi realizado um inquérito
durante os anos de 1999 e 2000, para estudar a prevalência da filariose por
microrregião. Nesse estudo, bairros do Distrito sanitário II apresentaram a maior
prevalência no município (RECIFE, 2005a).
Diante do quadro problemático desta doença no âmbito da saúde pública na
cidade do Recife, a atual direção municipal desde a sua primeira gestão (2001 –
2004) elegeu o controle da filariose linfática como uma de suas prioridades no
campo da saúde. Em um seminário realizado com a presença de técnicos da
Secretaria Municipal de Saúde, representantes do Ministério da Saúde e
Introdução
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 17Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Organização Pan-americana de Saúde foram definidas, baseadas nos planos
nacionais e estaduais de eliminação da filariose, as principais diretrizes do Programa
de Controle da Filariose, também denominado XÔ FILARIOSE, a ser desenvolvido
no município (RECIFE, 2002a).
Através dos dados do inquérito de 1999 e 2000, foram classificados os bairros
segundo nível de endemicidade (alta - microfilaremia > 10%, média - entre 5 e 10%,
baixa - < 5% e transmissão não identificada). Além do critério de endemicidade, um
outro critério adotado pelo Programa de Saúde Ambiental (PSA) também
classificava os bairros segundo risco sócio ambiental. Com esses dois critérios
foram classificadas as áreas em 5 graus de prioridades para ações de controle e
prevenção da filariose. Os bairros de prioridade 1 são os que apresentam alta
endemicidade ou com média endemicidade, quando contíguos à área de alta
endemicidade e estavam localizadas no DS II (RECIFE, 2002a).
Com esta ordem de prioridade ficou definido realizar as intervenções nos
bairros de prioridade 1, Água Fria e Alto de Santa Terezinha. Foram iniciadas as
ações de controle da doença para estes dois bairros, que incluem: tratamento em
massa destas áreas selecionadas, controle do vetor, vigilância epidemiológica,
diagnóstico, tratamento da população em estágios avançado da doença,
capacitação e treinamento de técnicos em saúde, educação, comunicação e
reestruturação do laboratório.
À medida que o programa foi consolidado no Distrito Sanitário II (DS II), houve
intensificação da detecção de casos nos outros distritos. No período de 2001 a 2003,
observou-se uma tendência crescente dos Coeficientes de Detecção: 12,50 por
100.000 habitantes em 2001, para 61,14 por 100.000 habitantes em 2003,
representando elevação de 389,12%. Os bairros de Água Fria, Dois Unidos e
Campo Grande no DS II, Passarinho e Nova Descoberta no DS III figuram entre os
que possuem os maiores números de casos (RECIFE, 2005a).
Em 2003, começou o tratamento em massa da população no DS II nas áreas
de prioridade 1, onde já vinham sendo desenvolvidas ações de controle do vetor.
Inicialmente foram tratados com Dietilcarbamazina (DEC) 20.000 habitantes, em
2004 e 2005, 40.000 foram tratados. Áreas do DS III cobertas pelo Programa de
Introdução
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 18Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Saúde da Família (PSF) localizadas nos bairros de Passarinho e Brejo de Beberibe
foram incluídas a partir de 2005 tratando aproximadamente 16.000 moradores. O
bairro de Passarinho considerado área de prioridade 2, ou seja, média endemicidade
e alto risco sócio-ambiental, fora incluído pela identificação significativa de casos na
faixa etária de 10 a 14 anos, além do número de casos identificados nos postos de
vigilância passiva e sua proximidade com os bairros de prioridade 1.
1.3 Ciclo biológico, transmissão e formas clínicas da filariose linfática bancroftiana
O ciclo de transmissão tem início quando o inseto vetor pica uma pessoa
parasitada e ingere as microfilárias misturadas ao sangue, que irão se transformar
em larvas infectantes no organismo do inseto em um período de 7 a 21 dias (WHO,
2000). Ao picar outra pessoa, as larvas infectantes (L3) que se acumulam na
probóscide do inseto penetram através do orifício da picada, ganham a corrente
sangüínea e se dirigem aos vasos linfáticos, onde se desenvolvem e se transformam
em parasitos adultos machos e fêmeas. Após o acasalamento, a fêmea produz as
chamadas microfilárias, que circulam, na maior parte do dia, na circulação pulmonar
e são liberadas no período noturno para a corrente sangüínea periférica, em geral,
no mesmo período em que o inseto vetor tem a sua atividade alimentar (RECIFE,
2002b).
A oviposição e o desenvolvimento das formas aquáticas do Culex
quinquefasciatus ocorrem em coleções de água estagnada, preferencialmente
naquelas com forte carga orgânica, tais como fossas, tanques, barreiros, valetas e
canaletas obstruídas e outros habitats tipicamente criados pela ocupação humana
inadequada do espaço urbano. Apesar de tudo isso, o mecanismo de transmissão
da filariose é considerado ineficiente, requerendo exposição intensa e prolongada ao
vetor (REGIS et al, 1996).
Não existem reservatórios animais da infecção, que só parece ocorrer, em
face desses obstáculos, em áreas onde há uma alta densidade de vetores
infectados. Por esta razão, a presença de condições favoráveis à proliferação de
criadouros do vetor nos ambientes domiciliar e peridomiciliar parece ser uma das
circunstâncias mediadoras da relação existente entre condições de vida nos
Introdução
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 19Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
espaços urbanos periféricos e a persistência da filariose endêmica
(ALBUQUERQUE, 1993).
A filariose bancroftiana é caracterizada por um amplo espectro clínico
associado à presença dos parasitos adultos ou microfilárias e varia desde a
presença de indivíduos sem doença clínica aparente (portador assintomático) até
manifestações relacionadas com inflamação aguda linfática e também patologia
linfática crônica (OMS, 1998). Enquanto os vermes adultos causam lesão
primariamente no vaso linfático, as microfilárias são imputadas como responsáveis
pela produção de manifestações extralinfáticas da filariose bancroftiana (DREYER;
NORÕES, 2001).
Na filariose bancroftiana, a aparência dos principais sinais crônicos –
hidrocele, quilúria, linfedema e elefantíase – podem variar de uma área a outra. As
mais freqüentes são a hidrocele e a tumefação dos testículos, seguidos de
elefantíase de toda a extremidade inferior, escroto, todo o braço, vulva e mama, por
ordem decrescente (OMS, 1988).
Esta doença, na maioria das manifestações, causa edema nas pernas ou
braços, nas genitálias e seios. Dependendo da endemicidade da área, 10-50% dos
homens e acima de 10% das mulheres podem apresentar alguma manifestação. Os
estigmas psicológico e social associados com os aspectos da doença são imensos.
Além disso, o mais comum é que normalmente mantém-se oculto o dano interno
causado pela filariose aos rins e sistema linfático (WHO, 2000). Através do uso da
ultra-sonografia, pôde-se observar também que 80% dos indivíduos microfilarêmicos
do sexo masculino, sem qualquer queixa urológica, têm parasitos nos vasos
linfáticos de localização intra-escrotal (DREYER; NORÕES, 1997).
Os sintomas estigmatizantes da doença crônica geralmente surgem nos
adultos, e nos homens mais que nas mulheres. Estima-se que 15 milhões de
pessoas possuem linfedema das extremidades vivendo em áreas endêmicas, no
mundo. A estimativa é de que existam cerca de 29 milhões de homens com
manifestações clínicas urogenitais conseqüentes à doença bancroftiana, que
incluem hidrocele, quilocele, linfedema de bolsa escrotal e pênis e linfoescroto
(DREYER; DREYER; NORÕES, 2002).
Introdução
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 20Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
A hidrocele é a forma mais comum de filariose bancroftiana crônica e em
parte da África é predominante. Ela tem afetado acima de 70% dos homens na costa
da Tanzânia e 60% na costa do Quênia atingido-os com idade de até 70 anos. Na
Índia, 45% dos homens, tem hidrocele acometendo-os até a idade de 60 anos,
porém também são vistos na totalidade das doenças crônicas, do linfedema à
elefantíase (MELROSE, 2004).
A elefantíase é relativamente incomum no continente africano e a maioria dos
casos é encontrado em áreas com intensa transmissão. A primeira evidência da
eminência de elefantíase é a persistência do linfedema. A formação de úlceras e
fissuras são a porta de acesso para bactérias e fungos, o qual tem sido demonstrado
como importante exemplo da patogênese da elefantíase (MELROSE, 2004).
Diante dos conhecimentos acumulados, pode-se sugerir que a manifestação
clínica, direta ou indiretamente relacionada à infecção filarial, depende da
localização do verme adulto, e essa, por sua vez, depende do sexo do indivíduo
infectado. Isso é explicado pela localização mais habitual do parasito adulto: nas
mulheres, membros inferiores, superiores e mamas; no homem, linfáticos do cordão
espermático constituem a localização mais freqüente para vermes adultos, o que
justifica a ocorrência de hidrocele como manifestação clínica prevalente na
população masculina (DREYER; DREYER, 2000).
Como a grande maioria dos estudos está voltada à investigação
parasitológica de microfilarêmicos para a detecção de áreas endêmicas da doença,
perde-se a oportunidade de realizar verificações clínicas rápidas a partir da rede de
atenção primária à saúde, mais precisamente do Programa Saúde da Família (PSF),
que poderiam recomendar ações de investigação em localidades onde os
sintomáticos crônicos são encontrados e onde existem poucas informações sobre a
doença.
Sobre isso, Dreyer e Coelho (1997) sugerem que inquéritos “clínicos rápidos”
seriam opções para se determinar a ocorrência e talvez até se estimar a prevalência
da infecção em uma dada região, utilizando procedimentos tais como: levantamento
retrospectivo de prontuários clínicos de hospitais de referência ou exames físicos, na
comunidade, poderiam ser opções factíveis para muitas regiões.
Introdução
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 21Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
O primeiro inquérito de morbidade filarial em Recife foi realizado em 1991 por
Braga e colaboradores (BRAGA et al, 1997). No Distrito Sanitário III, campo desta
pesquisa, não há informações sobre os sintomáticos crônicos que possam subsidiar
alguma intervenção na área. Considerando a incipiência de análises utilizando os
aspectos crônicos da doença, esta pesquisa propõe a realização de um estudo com
o intuito de descrever a magnitude da morbidade crônica referida pela filariose,
situando-a como forma de caracterização da área, em complemento ao inquérito
parasitológico, muito utilizado em investigações desta doença. Espera-se assim,
gerar informações que possam contribuir para o aprimoramento das ações de
controle da doença.
Introdução
2 OBJETIVOS
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 23Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
2.1 Geral
Descrever o perfil clínico-epidemiológico da morbidade filarial em uma área
endêmica do Distrito Sanitário III da cidade do Recife, no período de outubro a
dezembro de 2005.
2.2 Específicos
- Determinar a prevalência de morbidade filarial por área de abrangência
das unidades de saúde da família, segundo sexo e idade.
- Descrever o tipo e a freqüência das manifestações clínicas, segundo sexo
e idade.
- Descrever a distribuição geográfica dos casos de morbidade filarial e
microfilaremia identificados.
Objetivos
3 METODOLOGIA
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 25Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
3.1 Tipo de estudo
Trata-se de estudo do tipo descritivo, observacional de corte transversal.
3.2 Caracterização da área de estudo e população
A Secretaria de Saúde do Município do Recife é dividida em 06 (seis) Distritos
Sanitários (DS), que correspondem às seis Regiões Político-Administrativas (RPA).
O DS III foi o primeiro a ser implantado em 1994, reconhecendo-se a sua
importância no contexto urbano e a força das suas organizações comunitárias que
estruturam a vida política e social de uma parte da cidade que se costuma chamar
de “Grande Casa Amarela” (RECIFE, 2004).
O território do DS III envolvido na pesquisa engloba as áreas de cobertura das
unidades de saúde da família (USF) Santa Tereza, Córrego da Bica e Boa Vista que
estão localizadas entre os bairros de Passarinho, Brejo de Beberibe e Brejo da
Guabiraba.
Figura 1 - Áreas e limites das Unidades de Saúde da Família de abrangência do estudo. DS III, Recife, 2005.
Metodologia
Passarinho
Guabiraba
Brejo da Guabiraba
Nova Descoberta
Brejo de Beberibe
Dois Unidos
3
2
4
1
I
II
Legenda:
Área adscrita da USF- Santa Tereza
Área adscrita da USF- Córrego da Bica
Área adscrita da USF- Boa Vista
Limites de bairros
Limites de USF
Limites de ESF
1 ESF Córrego da Bica 1
2 ESF Córrego da Bica 2
3 ESF Córrego da Bica 3
4 ESF Córrego da Bica 4
I ESF Boa Vista I
II ESF Boa Vista II
N
EW
S
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 26Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
As unidades localizam-se ao norte do Distrito Sanitário. A área de
abrangência da USF Santa Tereza está totalmente inserida no bairro de Passarinho
que se encontra próximo à bacia do Rio Morno sendo cortada por diversos córregos.
A referida área é formada por terrenos de morros e destaca-se como área verde,
existindo espaços não ocupados e assentamentos populares. Em 2000, os
responsáveis pelo domicílio com renda de até 1 salário mínimo chegavam a 36,64%
(RECIFE, 2005b).
As áreas das USF’s do Córrego da Bica e Boa Vista possuem características
semelhantes. A maior parte, das suas áreas de cobertura, está localizada nos
bairros de Passarinho e Brejo de Beberibe. Localizam-se na bacia do Rio Morno,
estando em sua maior parte em área de morro. Tem baixa qualidade ambiental e
carência de infra-estrutura, assim como Santa Tereza. O principal rio desta região se
depara com inúmeros problemas, está assoreado, apresenta pontos onde a água
não escoa totalmente, está obstruída por lixo ou vegetação que impedem o fluxo
normal da água, e muitas vezes recebem drenos de fossas sépticas. Todos os
moradores de Brejo de Beberibe que são atendidos pelo Programa de Saúde da
Família (PSF) moram em áreas de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) e
outras áreas pobres. Em 2000, a média de anos de estudo dos responsáveis pelo
domicílio era de aproximadamente 5 anos. (RECIFE, 2005b).
A população de estudo constou de 15.374 pessoas residentes na área de
cobertura das três USF’s, dos quais 51,70% do sexo feminino e 48,30% do sexo
masculino. Foram integrantes do tratamento em massa com DEC, como etapa
componente do Programa de Controle da Filariose, em 2005. As áreas incluídas
classificadas como de prioridade 2, segundo o mesmo programa, são consideradas
de média endemicidade e alto risco ambiental (RECIFE, 2002a).
As equipes de saúde da família (ESF) e microáreas envolvidas no tratamento
e que fizeram parte da pesquisa estão descritas no quadro 1.
Metodologia
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 27Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Quadro 1 - Equipes e microáreas integrantes da pesquisaUSF Equipe Microáreas População
Santa Tereza Santa Tereza 01, 02, 03, 04, 05 e 06. 2.578
Córrego da Bica
Córrego da Bica I 01, 03, 04, 05, 06 e 07.
8.435Córrego da Bica II 01, 02, 03, 04, 05 e 06.
Córrego da Bica III 01, 02, 03, 04, 05 e 06.
Boa VistaBoa Vista I 01, 02, 03, 04, 05 e 06.
4.361Boa Vista II 01, 02 e 06.
Total 15.374
A equipe Córrego da Bica IV não participou do tratamento em massa e não foi
calculado a sua prevalência por não possuir a população cadastrada. Contudo, a
equipe realizou o inquérito de morbidade e sua área foi incluída na descrição
geográfica dos casos.
3.3 Fonte e coleta dos dados
O levantamento foi realizado por agentes comunitários de saúde (ACS) que
foram previamente capacitados, pelos responsáveis técnicos do Programa de
Controle da Filariose da Secretaria de Saúde do Recife. O treinamento foi composto
por aulas expositivas onde foram discutidos as características de cada sinal e
sintoma relacionados à doença filarial. Os ACS trabalharam a forma de aproximação
com os moradores e a identificação dos casos sugestivos da doença com o auxílio
de fotografias concluindo com o preenchimento de uma planilha, em cada visita,
referente ao inquérito (ANEXO). Este levantamento foi realizado no período
correspondente de outubro a dezembro de 2005.
Os casos de morbidade foram espacializados tendo como referência a
residência do indivíduo, registrado no inquérito, e foi realizado no primeiro trimestre
de 2006. Os locais foram mapeados por meio do uso de aparelho GPS (Global
Positioning System), que é parte do sistema de posicionamento global, o qual nos dá
as coordenadas de latitude e longitude do ponto especificado. Com isso, houve a
possibilidade de visualizarmos a distribuição geográfica da ocorrência de morbidade
filarial.
Metodologia
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 28Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Foram utilizados também registros de casos de microfilaremia identificados
nas áreas de estudo por meio da vigilância passiva (mini postos) no ano de 2004.
3.4 Variáveis de estudo
3.4.1 Variável dependente
Morbidade filarial: casos de morbidade referidos e/ou identificados através de
entrevista realizada pelos ACS.
Para fins deste estudo, morbidade filarial inclui pessoas com hidrocele,
linfedema, elefantíase de membros e órgãos genitais, erisipela ou com história
sugestiva de quilúria.
3.4.2 Variável independente
Sexo – masculino e feminino.
Idade – entre 0 e 95 anos, categorizados em faixas etárias correspondentes a
menores de 10, 10-14, 15-19, 20-39, 40-49, 50-59, 60 anos e mais.
Local – áreas de abrangência das unidades de saúde da família localizadas
nos bairros de Passarinho, Brejo de Beberibe e Brejo de Guabiraba.
3.5 Análise e apresentação dos dados
Os dados populacionais e do inquérito foram digitados utilizando o aplicativo
Epi Info 6.04d, sendo compilados, processados e criticados utilizando aplicativos
como Microsoft Excel 2001, Epi Info 2002 for windows e Terraview versão 3.1.3.
Estes foram úteis como ferramenta estatística e como apresentação das
informações em formas de mapas temáticos para melhor compreensão e análise.
Para a visualização da distribuição geográfica, foram acrescentados às
análises, os casos positivos de filariose, realizados por meio do exame da gota
espessa, no ano de 2004, pois os casos de 2005 ainda não haviam sido encerrados.
Metodologia
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 29Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Realizou-se o cálculo da prevalência, segundo área do PSF, referente ao
percentual de casos de morbidade referida, dentre a população cadastrada com
vistas ao tratamento em massa.
A partir destes dados foram descritas a freqüência e tipo das principais
manifestações clínicas da morbidade filarial por sexo e idade, estando apresentadas
em forma de tabelas.
A análise estatística procedeu-se estimando a razão de prevalência e seus
respectivos intervalos de confiança, teste Qui-Quadrado e o valor p para a
associação entre sexo e área de abrangência das USF’s. Para analisar a distribuição
espacial dos eventos, estimou-se a intensidade pontual do processo em toda a
região de estudo (Kernel Estimation).
3.6 Considerações éticas
Os dados coletados, processados e analisados foram tratados, casos
envolvam pessoas e/ou instituições, com rigor ético e moral. Porém, como condição
ética essencial deste trabalho é priorização nos avanços tecnológicos do serviço e,
conseqüentemente, a finalidade de melhoria da qualidade de vida da população,
portanto não eximindo de publicar, como resultados e hipóteses finais, falhas de
execução do processo de resolutividade dos problemas de saúde.
O Comitê de Pesquisa Ética (CEP) do Centro de Pesquisa de Aggeu
Magalhães apreciou e aprovou sem mais retificações a execução e publicação deste
trabalho, enquadrando-o nas condutas éticas da pesquisa científica de acordo com o
Código de Ética, resolução CNS 196/96 e complementares, aprovada em 06 de
fevereiro de 2006, com registro nº. 68/05.
Metodologia
4 RESULTADOS
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 31Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
4.1 Inquérito de Morbidade filarial
Dos 15.374 moradores participantes do estudo foram identificados 112 casos
suspeitos de morbidade filarial, obtendo-se uma prevalência global de 0,7%. Entre
os 7.949 moradores do sexo feminino foram registrados 60 casos (0,8%), enquanto
que entre os 7.425 do sexo masculino foram registrados 52 casos (0,7%), não se
tendo encontrado diferença estatística entre os sexos quanto à morbidade (2 = 0,09;
p= 0,76) (tabela 1).
Tabela 1 - Prevalência de Morbidade Filarial Segundo Sexo. DS III, Recife, 2005.
USFMorbidade Filarial Razão de
Prevalência IC de 95%*População Residente casos %
Masculino 7.425 52 0,7 1,00** -Feminino 7.949 60 0,8 0,93 0,64-1,34
Total 15.374 112 0,7 - -2 = 0,09; p= 0,76Nota: *IC de 95% = Intervalo de Confiança de 95%. ** Nível de referência
Com relação às áreas de abrangência das unidades de saúde, Santa Tereza
apresentou a menor prevalência, com o registro de 06 casos de morbidade (0,2%).
O Córrego da Bica e Boa Vista apresentaram 70 e 36 casos, respectivamente,
ambas com prevalência de morbidade filarial semelhantes (0,8%). Quando se
comparou a prevalência do Córrego da Bica e Boa Vista em relação à prevalência
de Santa Tereza, constatou-se que a mesma foi 3 vezes e meia maior, tendo esta
diferença sido estatisticamente significante (p< 0,005) (tabela 2).
Tabela 2 - Prevalência de Morbidade Filarial Segundo Área da USF. DS III, Recife, 2005.
USFMorbidade Filarial Razão de
Prevalência IC de 95%*População Residente casos %
Santa Tereza 2.578 06 0,2 1,00** -
Córrego da Bica 8.435 70 0,8 3,54 1,54-8,15
Boa Vista 4.361 36 0,8 3,53 1,49-8,36Total 15.374 112 0,7 - -
2 (2 graus de liberdade)= 10,42; p< 0,005Nota: *IC de 95% = Intervalo de Confiança de 95%. ** Nível de referência
Resultados
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 32Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
A distribuição dos casos ocorreu em praticamente todas as faixas etárias. O
grupo mais acometido foi o de 60 anos e mais com 38 casos e uma prevalência de
4,6%. Nos menores de 10 anos não foram encontrados casos, iniciando o relato a
partir do grupo de 10-14 anos com 01 caso e prevalência de 0,1%, o qual ocorreu
em um adolescente de 13 anos de idade do sexo masculino. Os casos
apresentaram os maiores registros a partir da faixa de adultos jovens 20 a 39 anos
(tabela 3).
Tabela 3 - Prevalência de Morbidade Filarial Segundo Grupo Etário. DS III, Recife, 2005.
Grupo Etário
Morbidade Filarial
População
ResidenteCasos %
< 10 anos 3.188 - -
10 – 14 1659 01 0,1
15 – 19 1593 02 0,1
20 – 39 5561 27 0,5
40 – 49 1624 24 1,5
50 – 59 916 20 2,2
60 e mais 830 38 4,6
A figura 2 mostra a evolução dos casos de morbidade segundo faixa etária e
sexo, onde podemos observar um acréscimo progressivo dos relatos com o avanço
da idade. Nos grupos de 10 a 14 anos e 15 a 19 anos apenas o sexo masculino
apresentou relatos. Em ambos os sexos houve elevação da morbidade a partir do
grupo dos 20 a 39 anos, atingindo seu pico no grupo com mais de 60 anos.
Resultados
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 33Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Figura 2 - Prevalência de morbidade filarial segundo grupo etário por sexo. DS III, Recife, 2005.
Entre as manifestações clínicas, a hidrocele foi a que apresentou a maior
prevalência 0,5% dentre os casos relatados. Pouco mais da metade dos 40 casos
(21) foram referidos na faixa etária de 20 a 39 anos com prevalência de 0,8%, porém
o grupo etário com maior percentual estava acima dos 60 anos com 1,3%. A
erisipela, com 48 casos e prevalência de 0,3% foi a segunda mais relatada, sendo
que mais da metade destes casos (27) e o maior percentual 3,3% encontram-se na
faixa etária com mais de 60 anos. O sexo feminino representou 85,4% dos casos de
erisipela. Dentre as manifestações registradas nesta pesquisa, a elefantíase foi a
que apresentou a menor prevalência (0,04%), tendo concentrado todos os casos a
partir do grupo dos 40 anos e apenas em mulheres. Do total de casos de linfedema
76,9% foram relatados por mulheres e 23,1% por homens. Nenhum caso sugestivo
de quilúria foi identificado na população estudada (tabela 4).
Resultados
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 34Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Tabela 4 - Manifestações Clínicas de Filariose Segundo o Grupo Etário. DS III, Recife, 2005.
Morbidade filarial
Grupo Etário
< 10 10-14 15-19 20-39 40-49 50-59 60 e mais Total
N* casos % N casos % N casos % N casos % N casos % N casos % N casos % N casos %
Hidrocele** 1511 - - 854 - - 778 02 0,3 2644 21 0,8 761 07 0,9 427 04 0,9 448 06 1,3 7425 40 0,5
Linfedema 3188 - - 1659 01 0,1 1593 - - 5561 03 0,1 1624 11 0,7 916 04 0,4 830 07 0,8 15374 26 0,2
Elefantíase 3188 - - 1659 - - 1593 - - 5561 - - 1624 02 0,1 916 03 0,3 830 01 0,1 15374 06 0,04
erisipela 3188 - - 1659 - - 1593 - - 5561 03 0,1 1624 09 0,6 916 09 01 830 27 3,3 15374 48 0,3
Quilúria 3188 - - 1659 - - 1593 - - 5561 - - 1624 - - 916 - - 830 - - 15374 - -
Nota: *N = População residente. ** Apenas a população masculina foi utilizada para os cálculos desta morbidade.
Resultados
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 35Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
4.2 Espacialização da morbidade filarial
A distribuição geográfica dos eventos de morbidade e microfilaremia mostra a
ocorrência de casos por toda a área de estudo com um agrupamento ao centro do
território de análise. Com vistas a um maior detalhamento do perfil de distribuição
dos casos de filariose, apresenta-se a área de cobertura da USF Boa Vista onde se
constata uma maior concentração dos eventos à margem do rio Morno. A
distribuição da morbidade filarial está de acordo com a distribuição espacial dos
casos de microfilaremia (figuras 3 e 4).
Figura 3 - Distribuição geográfica da morbidade filarial (2005) e dos casos positivos de filariose (2004) nas áreas de abrangências do estudo. DS III, Recife, 2005.
Resultados
N
EW
S
Legenda:
Limites das USF
Limites das ESF
Morbidade filarial
Microfilaremia
Drenagem
*
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 36Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Figura 4 - Distribuição geográfica da morbidade filarial (2005) e de casos positivos de filariose (2004) da USF-Boa Vista. DS III, Recife, 2005.
Ao visualizar o padrão de distribuição de pontos da morbidade, constatou-se
uma maior concentração nas áreas de cobertura das ESF’s Córrego da Bica II, e
Boa Vista I em área limite com a Boa Vista II (figura 5). Contudo, a maior densidade
de casos de microfilaremia ocorreu na área da ESF Córrego da Bica III (figura 6).
Figura 5 – Distribuição dos casos de morbidade filarial e estimador de intensidade
(Kernel) na área de estudo. DS III, Recife, 2005.
Resultados
Limites de USF’sLimites de ESF’sCasos de morbidade filarial
Legenda:
Limites das USF
Limites das ESF
Morbidade filarial
Microfilaremia
Drenagem
*
N
EW
S
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 37Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Figura 6 – Distribuição dos casos de microfilaremia e estimador de intensidade
(Kernel) na área de estudo. DS III, Recife, 2004.
A rede de drenagem na área de estudo é bastante ramificada e todos os
moradores se localizam a pelo menos 130 metros de algum ponto desta rede.
Todavia, ao se medir a distância dos casos de morbidade filarial e o sistema de
drenagem, constatou-se que 89,1% destes eventos estavam a uma distância
máxima de 50 metros da rede de drenagem (tabela 5).
Tabela 5 – Freqüência de Casos de Morbidade Filarial Segundo a Distância da Rede de Drenagem.
Morbidade
filarial
Distância da rede de drenagem(em metros)
30 40 50 60 130
casos 96 118 122 132 137
% 70,1 86,1 89,1 96,4 100Nota: Total de casos de morbidade filarial =137
Além deste, foi avaliado a distância entre os casos de microfilaremia e os de
morbidade. Observou-se que a grande maioria dos relatos de morbidade (97,8%)
encontrava-se a, pelo menos, 170 metros de um caso positivo.
Resultados
Limites de USF’sLimites de ESF’sCasos de microfilaremia
5 DISCUSSÃO
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 39Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
A filariose linfática, causada pela Wuchereria bancrofti, ocorre em indivíduos
de todas as idades e ambos os sexos, mas predomina naqueles de baixo nível
socioeconômico devido às precárias residências, baixos níveis de saneamento entre
outros (OTTESEN et al, 1997). Estima-se que 120 milhões de pessoas estejam
infectadas no mundo, dentre elas 40 milhões possuem sinais visíveis e
incapacidades da doença (WHO, 2000). Calcula-se que cerca de 10 a 15% dos
indivíduos infectados irão evoluir para a cronicidade (WHO, 1994; DREYER;
NORÕES, 1997).
Os dados do presente estudo demonstram que a prevalência global (0,7%) foi
considerada baixa. Este perfil está de acordo com o encontrado por diversos
estudos, onde levantamentos em outras áreas de endemicidade de bancroftose
verificaram que os sinais crônicos geralmente afetam uma pequena proporção de
indivíduos infectados (OMS, 1988; BONFIM et al, 2003; MELROSE, 2004).
Albuquerque e cols (1995) realizando estudos em duas áreas de alta endemicidade
do Recife encontraram uma prevalência global da doença aguda e crônica em 6,3% da população, considerando relativamente baixa a prevalência da doença. Um outro inquérito realizado por Bonfim e cols (2003) no Distrito de
Cavaleiro, município de Jaboatão dos Guararapes, mostraram que dos 213 casos de
microfilaremia encontrados 13 (6,1%) relataram queixas de manifestação clínica.
Medeiros e cols (2004), realizando inquérito de morbidade filarial referida no
município de Moreno, encontrou uma prevalência de 2,6%.
A análise específica para o sexo mostrou que a prevalência foi baixa em
ambos os grupos e não foi encontrada diferença estatisticamente significante quanto
à morbidade referida. Contudo, na maioria das áreas endêmicas, por razões ainda
não esclarecidas, há uma menor proporção de casos de microfilaremia e doença
filarial na população feminina, quando comparado à masculina, após os 15 anos de
idade. Estima-se que a prevalência no mundo de homens com microfilaremia e
doença filarial chegue a 3,18% e nas mulheres 1,95% (WHO, 1994). Isto corrobora
com achados de Albuquerque e outros (1995) que analisando as áreas do Coque e
Mustardinha, encontraram diferença significativa com uma prevalência de doença
filarial maior nos homens do que nas mulheres, para as duas áreas. Este fato pode
ser explicado por uma maior exposição do sexo masculino ao vetor.Discussão
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 40Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
O fato de não encontrarem diferença pode ser sugerido, possivelmente, pela
subestimação da identificação dos casos de hidrocele, que é a principal causa de
morbidade nos homens, por uma questão cultural ou pessoal de não relatarem a
doença.
Com relação à idade, os dados do inquérito mostram que o primeiro relato
surgiu na faixa etária de 10 a 14 anos, em um adolescente de 13 anos de idade, não
havendo casos em crianças com idades inferiores a esta. Da mesma forma houve
uma concentração dos casos a partir do grupo de 20 a 39 anos com o aumento
progressivo da prevalência nas faixas subseqüentes. Isto se deve as características
da doença que se manifestam após longo tempo de desenvolvimento da doença.
Esse acréscimo gradual na morbidade em relação à idade está de acordo com o
encontrado na literatura (ALBUQUERQUE et al, 1995; OMS, 1988; DREYER;
NORÕES; FIGUEREDO-SILVA, 2000).
Os dados sugerem que na área estudada, a transmissão deva ser mais baixa,
pois não foi encontrado caso na população pediátrica. A transmissão é menor do
que nos relatos de Braga e cols (1997), cuja prevalência da doença filarial aguda e
crônica foi de 1,7% e Albuquerque e cols (1995) com prevalência de 6,3%. Há a
possibilidade de terem surgido esses relatos pelas áreas, Coque e Mustardinha,
serem de alta endemicidade e prevalência próxima a 10%. Estes estudos sugerem
que por ser uma área de alta transmissão, mais precoce é o surgimento das
manifestações. A estratégia adotada (morbidade referida) talvez não tenha sido
sensível para a identificação de casos na população padiátrica.
No que se refere ao tipo de morbidade filarial, a hidrocele foi a forma clínica
mais freqüente seguida da erisipela. A elefantíase foi relativamente incomum na
descrição, tendo sido identificado apenas 6 casos. Isto é confirmado pelos
levantamentos de Medeiros e cols (2004) e Bonfim e cols (2003). Para Albuquerque
e cols (1995) e a OMS (1994) o linfedema e a hidrocele são as manifestações mais
freqüentes. Na Índia, a hidrocele é bastante comum. Em partes da África ela é
predominante, enquanto que a elefantíase é relativamente incomum na África e a
maioria dos achados são em áreas com a maior intensidade de transmissão
(MELROSE, 2004).
Discussão
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 41Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
A maioria dos estudos mostra que a hidrocele é a doença mais comum
relacionada à filariose linfática. Dessa forma, é possível obter confiabilidade e
estimativas válidas no dimensionamento da transmissão usando a prevalência de
hidrocele como um indicador diagnóstico, podendo ser usado para predizer a
prevalência e a intensidade da infecção (GYAPONG et al, 1998).
Devemos levar em consideração também a quantidade de relatos de
erisipela, nesta pesquisa, pois o grande fator implicado na progressão não
espontânea do volume dos membros com linfedema é a ocorrência de surtos de
infecção, como erisipelas. As infecções lesam adicionalmente o sistema linfático,
reduzindo ainda mais a capacidade de transporte (ANDRADE, 2003).
No que diz respeito à distribuição espacial dos casos, constatou-se uma maior
concentração de morbidade filarial nas áreas das USF’s Córrego da Bica e Boa
Vista, principalmente ao longo das margens do rio Morno. Além disso, 89,1% dos
casos de morbidade filarial se localizaram a uma distância de 50 metros da rede de
drenagem. Estes achados corroboram com os de Braga e cols (2001) o qual verificou que 80,4% de microfilarêmicos no município de Olinda estavam situados à distância de, pelo menos, 200 metros da fonte hídrica. Isto sugere
que a fonte hídrica seja um dos importantes fatores ambientais, para a transmissão,
onde há condições inadequadas de saneamento ambiental.
Sendo assim, uma análise do processo de transmissão deve incluir aspectos relacionados a certas condições ambientais, tais como a proximidade de cursos de água (como canais ou rios), proximidade dos criadouros de vetores, tipo de solo, declividade do relevo, além de características comportamentais e biológicas dos indivíduos e da biologia do vetor (BRAGA et al, 2001).
Esta análise indica que ações de melhoria ambiental incluindo drenagem e limpeza de canais e do rio Morno e obras de saneamento, tudo isso associado ao tratamento em massa são a garantia do sucesso do programa evitando assim que ocorra o recrudescimento da doença.
Discussão
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 43Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
A morbidade filarial, na área de estudo, é um problema de saúde de baixa
magnitude e indica intensidade de transmissão não tão elevada. Contudo, as USF
devem estar organizadas no sentido de prestar assistência e acompanhar os casos
identificados no levantamento, prevenindo a evolução para as formas mais graves,
além de refletir sobre o processo contextual epidemiológico da filariose nas suas
áreas de abrangências.
Embora os resultados de morbidade filarial tenham mostrado prevalência
menor que 1%, as áreas do Córrego da Bica e Boa Vista apresentaram a
intensidade da doença maior que em Santa Tereza.
Não houve relatos de morbidade na população pediátrica, o que sugere uma
magnitude menor de transmissão na área ou menor capacidade de detecção por
meio de levantamentos feito pelos ACS através da morbidade referida. Os casos
evoluíram com o acréscimo da idade, isto mostra as características da doença em
se desenvolver após longo tempo da infecção.
A hidrocele foi a forma clínica mais relatada, sendo o maior volume de casos
em idade reprodutiva, mesmo considerando a prevalência maior em indivíduos
acima dos 60 anos. Assim, utilizando a prevalência de hidrocele possuímos mais um
indicador diagnóstico para predizer a intensidade da infecção.
A erisipela foi a segunda manifestação relatada, tornando-se necessária a
investigação da etiologia filarial nos casos de linfedema em áreas de risco ambiental.
No que se refere à distribuição espacial, observou-se uma maior ocorrência
de casos de morbidade filarial e microfilaremia próximos à rede de drenagem. Isto
demonstra a importância da manutenção de boas condições ambientais para evitar a
proliferação do mosquito vetor e conseqüentemente diminuir a transmissão da
doença.
Ressaltamos que o uso do GPS e programas de geoprocessamento podem
ser um bom instrumento para o planejamento epidemiológico. É um procedimento de
baixo custo relativo e pode ser um indicador indireto de transmissão além de permitir
o mapeamento de áreas.
Considerações Finais
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 44Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
RECOMENDAÇÕES
Fortalecer as ações de combate ao vetor.
Pactuar com a EMLURB e órgãos afins, a limpeza e manutenção dos
córregos e margens do rio Morno e intensificação da coleta de lixo, garantindo
essas ações mesmo com o término do tratamento em massa.
Intensificar as ações de educação em saúde de forma direta junto à
população e de forma indireta em capacitações dos profissionais de saúde
que trabalham na área.
Diagnóstico e tratamento adequado dos portadores de manifestações
crônicas.
Ampliação do tratamento em massa para áreas próximas às realizadas
atualmente com o intuito de formar uma zona de barreira visando garantir
uma zona de proteção para as áreas de prioridade ao combate da doença.
Realização de inquéritos clínicos rápidos com o intuito de gerar informações
que possam contribuir para o aprimoramento das ações de controle da
doença.
Recomendações
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 45Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
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Referências Bibliográficas
ANEXO
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 51Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Anexo A – Modelo da planilha
PREFEITURA DO RECIFE PROGRAMA DE CONTROLE DA FILARIOSESECRETARIA DE SAÚDE INQUÉRITO DE MORBIDADE FILARIALDISTRITO SANITÁRIO III
PSF _________________________ EQUIPE _________________________ACS ________________________ MICROÁREA ____________________
N° Família Endereço nome sexo idade TIPO DE MANIFESTAÇÃO
Erisipele Linfedema Elefantíase Hidrocele Quilúria
Referências Bibliográficas
CERQUEIRA, Alessandro Cezar Rito de 52Perfil da Morbidade Filarial em Área Endêmica do Distrito Sanitário III, Recife - PE
Anexo A – Modelo da planilhaROTEIRO DE INVESTIGAÇÃO DA DOENÇA FILARIALPARA AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE
Perguntas:Perguntar a respeito de alguns problemas que a pessoa pode ter quando está com filariose.
Alguém da família tem algum tipo de inchaço
Erisipela, Linfedema ou ElefantíaseAo perguntar, observe se a pessoa apresenta linfedema ou inchaço em algum membro (perna ou braço)
1. Vem tendo problema de inchação em alguma outra parte do corpo?Ex: Pênis Escroto Mama Órgão genital da mulher
HIDROCELE2. O Sr. apresenta algum problema de inchação no escroto (saco, testículos)?
QUILÚRIA3. Alguém se queixa de urina leitosa (esbranquiçada ou cor de leite)?
Referências Bibliográficas