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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE EFEITOS DA ÁGUA DE COCO HIPERTÔNICA E SINVASTATINA NO TRATAMENTO DA SEPSE E CHOQUE HIPOVOLÊMICO EM RATOS VANESSA DE FÁTIMA LIMA DE PAIVA MEDEIROS NATAL/RN JULHO DE 2017

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

EFEITOS DA ÁGUA DE COCO HIPERTÔNICA E SINVASTATINA NO

TRATAMENTO DA SEPSE E CHOQUE HIPOVOLÊMICO EM RATOS

VANESSA DE FÁTIMA LIMA DE PAIVA MEDEIROS

NATAL/RN JULHO DE 2017

VANESSA DE FÁTIMA LIMA DE PAIVA MEDEIROS

EFEITOS DA ÁGUA DE COCO HIPERTÔNICA E SINVASTATINA NO

TRATAMENTO DA SEPSE E CHOQUE HIPOVOLÊMICO EM RATOS

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do título de Doutor em Ciências da Saúde. Orientador: Prof. Dr. Aldo da Cunha Medeiros

NATAL/RN 2017

Medeiros, Vanessa de Fátima Lima de Paiva.

Efeitos da água de coco hipertônica e sinvastatina no tratamento da sepse e

choque hipovolêmico em ratos / Vanessa de Fátima Lima de Paiva Medeiros. - Natal, 2017.

54f.: il.

Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Centro

de Ciências da Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Aldo da Cunha Medeiros.

1. Sepse - Tese. 2. Choque hipovolêmico - Tese. 3. Sinvastatina - Tese. 4.

Água de coco - Tese. 5. Tratamento - Tese. I. Medeiros, Aldo da Cunha. II.

Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 616.94

iii

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

Coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde:

Prof. Dr. Eryvaldo Sócrates Tabosa do Egito

iv

VANESSA DE FÁTIMA LIMA DE PAIVA MEDEIROS

EFEITOS DA ÁGUA DE COCO HIPERTÔNICA E SINVASTATINA NO

TRATAMENTO DA SEPSE E CHOQUE HIPOVOLÊMICO EM RATOS

Aprovada em 28 / 07 / 2017

Banca examinadora

Presidente da Banca: Prof. Dr. Aldo da Cunha Medeiros

Membros da Banca:

Profa. Dra. Rejane Andrade de Carvalho - UFRN

Prof. Dr. Geraldo Barroso Cavalcanti Júnior – UFRN

Dr. Robson de Macedo Filho – Membro externo – IRN

Profa. Dra. Deborah de Melo Magalhães Padilha Membro externo – UnP

v

DEDICATÓRIA

a Fernanda Luíza, meu amor maior, minha continuidade.

vi

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me permitir continuar a enfrentar desafios e realizar sonhos;

À minha família, por todo apoio e amor incondicional;

À minha filha, Fernanda Luíza, que sem saber, é a minha maior incentivadora;

Ao Prof. Dr. Aldo da Cunha Medeiros, meu orientador e amigo. Muito obrigada

por tudo. Eternamente grata;

Ao amigo Italo Medeiros pela parceria;

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela oportunidade e

aprendizado;

A todos os colegas e colaboradores que direta ou indiretamente contribuíram

para a conclusão deste trabalho.

vii

RESUMO

Reanimação e tratamento de choque e sepse são controversos e desafiadores.

O objetivo deste estudo foi examinar os efeitos da água de coco + NaCl 3% +

sinvastatina na reanimação em modelo murino de sepse abdominal e choque

hemorrágico. Ratos Wistar machos adultos foram submetidos a sepse por

ligadura e punção do ceco e choque hemorrágico, e divididos em quatro

grupos de reposição hidroeletrolítica. 1. solução salina 0,9%; 2. água de coco +

NaCl 3%; 3. água de coco + NaCl 3% + sinvastatina (microemulsão) 10 mg / Kg

i.v; 4. Água de coco não modificada. Escore clínico, histologia e fluorescência

do pulmão foram avaliados neste estudo. Dosagem sérica das citocinas TNF-α,

IL-1β e contagem de leucócitos foram determinados. O tratamento com água

de coco + NaCl 3% + sinvastatina resultou em resultados significativamente

melhores de sobrevivência, análises bioquímicas e histopatologia quando

comparando com os animais submetidos aos tratamentos água de coco + NaCl

3% e água de coco não modificada. Em conclusão, a ressuscitação com água

de coco com Nacl 3% + sinvastatina teve efeito benéfico significativo sobre a

redução dos níveis de citocinas e na atenuação de lesões pulmonares em

modelo de sepse abdominal e choque hemorrágico. Também foi demonstrado

que o tratamento com água de coco com Nacl 3% + simvastatina atuou

positivamente na função do fígado e dos rins, e no escore clínico.

Palavras-chave: Choque hemorrágico. Sepse. Ressuscitação. Sinvastatina.

Água de coco. Ratos.

viii

ABSTRACT

Resuscitation and treatment of shock and sepsis are controversial and

challenging. The aim of this study was to examine the effects of coconut water

+ Nacl 3%+ simvastatin in resuscitation in a murine model of sepsis and

hemorrhagic shock. In methods, adult male Wistar rats were subjected to sepsis

by cecal ligation and puncture and hemorrhagic shock assigned to four fluid

replenishment groups. Animals received 1. saline 0,9%; 2. coconut water (CW)

+ NaCl 3%; 3. coconut water + NaCl 3% + simvastatin (microemulsion)10

mg/Kg i.v; 4. Coconut water. Clinical score was determined and lung tissue was

assessed for inflammation. Serum cytokines TNF-α, IL-1 β and leucocytes were

measured. The results of this study indicated that coconut water+NaCl 3%+

simvastatin decreased significantly serum cytokines, survival, biochemical

analysis and lung histopathological testing when compared to saline,

water+NaCl 3% and coconut water. In conclusion, resuscitation with coconut water

with Nacl 3%+simvastatin had a significant beneficial effect on downregulating

cytokines and decreasing lung injury in a rat model of abdominal sepsis and

hemorrhagic shock. We also demonstrated that coconut water with Nacl

3%+simvastatin administration clearly made liver and kidney function better and

improved clinical score.

Key words: Shock, Hemorrhagic. Sepsis. Resuscitation. Simvastatin. Foods

Containing Coconut. Rats.

ix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FMOS .....................................................Falência múltipla de órgãos e sistemas

HMG-CoA .............................................. 3-Hidroxi-3-metil-glutaril-CoenzimaA redutase

PAM .............................................................................................Pressão arterial média

CEUA ...................................................................Comissão de ética no uso de animais

TNF-α ............................................................................. Fator de Necrose tumoral alfa

IL-1β ..................................................................................................Interleucina-1 beta

ELISA ................................................................ Enzyme-Linked Immunosorbent Assay

PCR ……………………………………......................................………Proteína-C reativa

ALT ……….............................................................……………Alanina-aminotransferase

AST …………….............................................……………….Aspartato-aminotransferase

AC ............................................................................................................. Água de coco

IS ......................................................................................................Intensidade do sinal

LPC .......................................................................................Ligadura e punção do ceco

ICV .......................................................................................................Indocianina verde

x

SUMÁRIO

RESUMO ..................................................................................................................... vii

ABSTRACT ................................................................................................................ viii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ....................................................................... ix

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 11

2. OBJETIVOS ........................................................................................................ 14

2.1. OBJETIVO GERAL ....................................................................................... 14

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 14

3. JUSTIFICATIVA ................................................................................................... 15

4. MÉTODOS .......................................................................................................... 16

4.1. CHOQUE HEMORRÁGICO .......................................................................... 16

4.2. SEPSE ABDOMINAL E DELINEAMENTO DOS GRUPOS DE ESTUDO ..... 16

4.3. REPOSIÇÃO VOLÊMICA ............................................................................. 17

4.4. ESCORE CLÍNICO ....................................................................................... 17

4.5. EXAMES LABORATORIAIS ......................................................................... 18

4.6. IMAGENS DE FLUORESCÊNCIA PULMONAR (EX VIVO). ......................... 18

4.7. AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA DE LESÃO PULMONAR................................. 19

4.8. ANÁLISE ESTATÍSTICA............................................................................... 20

5. ARTIGO PRODUZIDO (Artigo objetivo da tese) .................................................. 21

6. COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES/CONCLUSÕES ............................ 45

7. REFERÊNCIAS ................................................................................................... 49

11

1. INTRODUÇÃO

A sepse é uma afecção cuja fisiopatologia está ligada a um

desequilíbrio entre substâncias anti-inflamatórias e proinflamatórias que irão

mediar uma resposta aos danos causados aos tecidos orgânicos1. O processo

infeccioso da sepse abdominal é desencadeado basicamente por bactérias

gram-negativas e anaeróbias2.

Mesmo com o avanço crescente no tratamento da sepse, esta ainda é

uma grande causa de mortes em unidades de terapia intensiva, principalmente

em pacientes politraumatizados, em usos de cateteres, ventilação mecânica,

dependentes de esteroides e portadores de pneumonia3. Tal fato deve-se à

grande chance do quadro clínico evoluir para um choque séptico em que é

frequente ocorrer falência de múltiplos órgãos e sistemas (FMOS)3,4. Apesar do

tratamento intensivo com reanimação agressiva, controle de pressão arterial e

oferta adequada de oxigênio, pacientes com sepse muitas vezes persistem

apresentando sinais de hipoperfusão tecidual, o que pode levar à acidose e,

finalmente, FMOS5-10. Investigadores têm demonstrado em modelos em ratos

que a sepse é caracterizada pela diminuição da velocidade do fluxo da

microcirculação, aumento da heterogeneidade de fluxo, aumento de estase

vascular e diminuição da densidade de capilares perfundidos11-14. As arteríolas,

vasos capilares e vênulas da microcirculação funcionam como um complexo

integrado para funções homeostáticas, hemostáticas e imunes. A sepse resulta

em disfunção de todos estes sistemas via desregulação do controle vasomotor,

lesão endotelial, ativação da coagulação, e distúrbio nas funções dos

leucócitos15-17.

Em resumo, a sepse provoca mudanças no ambiente microvascular,

muitas das quais mediadas pela ativação e disfunção das células endoteliais. O

resultado final comum desses efeitos é a diminuição do transporte de oxigênio

para as células que, se não corrigidos, podem levar à FMOS e morte18-22.

Trabalhos relevantes têm estudado a composição da água de coco.

Santoso et al23 descreveram informações detalhadas sobre a presença de

vitaminas, açúcares, ácidos orgânicos, ácidos graxos, aminoácidos, eletrólitos

e minerais na água de coco (Cocus nucifera L.). Aleixo et al24 determinaram o

12

conteúdo de selênio na água de coco, usando a espectrometria de absorção

atômica. Uma característica relevante da água de coco é sua capacidade

antioxidante, exercida em parte pelo selênio25-27. Elementos traço e metais em

pequenas dosagens foram determinados na água de coco, com potencial para

uso na hidratação por via intravenosa e para substituir ou complementar

soluções de nutrição parenteral28,29. A água de coco pode servir como solução

para hidratação intravenosa, se outra solução não estiver disponível, conforme

demonstrado por Campbell-Falck et al, que relataram um caso bem sucedido

de hidratação intravenosa nas Ilhas Salomon e descreveram seu uso por essa

via desde a II Guerra Mundial30. A composição eletrolítica da água de coco com

6 meses da retirada do fruto assemelha-se mais à do líquido intracelular do que

à do extracelular, e consiste principalmente de potássio, cálcio, magnésio e

cloro. O sódio é encontrado em concentração bem mais baixa do que no

plasma humano e dos mamíferos em geral31. A infusão da água de coco por via

intravenosa não interfere com os mecanismos de hemostasia32,33.

As estatinas inibem a 3-Hidroxi-3-metil-glutaril-CoenzimaA

redutase (HMG-CoA redutase), e foram estudadas inicialmente no tratamento

das dislipidemias e da aterosclerose, uma doença inflamatória do endotélio

vascular, cuja patogênese tem muitas semelhanças com a patogênese da

sepse34,35. As estatinas exercem múltiplos efeitos em várias células, através de

vários mecanismos. Esses efeitos, denominados pleiotrópicos, têm sido

descritos como antiinflamatórios e imunomoduladores, e modificam as

interações entre o endotélio e os leucócitos, alterando as respostas dessas

células36,37. Adicionalmente, as estatinas modulam a sinalização das células

inflamatórias, repercutindo na redução da liberação de citocinas e de proteínas

da fase aguda da sepse36,38, além de exercerem importantes efeitos

antioxidantes por vários mecanismos39.

Trauma acompanhado de choque hemorrágico é a terceira causa de

morte no mundo e principal causa de óbitos em pessoas com idade abaixo de

45 anos40-42. Nesses casos, um grande volume de solução salina isotônica é

atualmente o tratamento padrão para o choque por hipovolemia43. Devido à sua

eficácia limitada, diferentes tipos de soluções de reposição volêmica têm sido

avaliados nos últimos anos, no sentido de garantir melhor expansão plasmática

13

para os pacientes. Nos anos 80 surgiu estudo que demonstrou que solução

salina hipertônica 7,5% melhorou significativamente os parâmetros

hemodinâmicos dos pacientes chocados, mesmo quando infundidos pequenos

volumes44. Durante os anos seguintes, outros estudos mostraram que as

soluções hipertônicas faziam aumentar significativamente a pressão arterial45 e

o débito cardíaco, revertendo o choque hipovolêmico sem comprometer a

função cardiopulmonar46,47. Por outro lado, também é sabido que a reposição

do volume plasmático com soluções isotônicas pode induzir a hemodiluição,

que é bem tolerada pelos pacientes hígidos. Os efeitos imediatos podem

depender da duração e intensidade do sangramento. Pacientes

frequentemente chegam às salas de emergência hemodiluídos devido à perda

de grande volume de sangue. A possível influência desse estado de

hemodiluição sobre a resposta do paciente ao tratamento ou a evolução de

pacientes não está bem esclarecido. Além disso, o sangramento contínuo

nesses pacientes requer tratamento adicional, frequentemente cirúrgico47. A

reposição de volume e a solução ideal nesta situação não estão bem

estabelecidas, persistindo controvérsias.

Com o presente protocolo foi estudada a ação da reposição volêmica

com solução de água de coco modificada associada à sinvastatina por via

venosa, em ratos submetidos a duplo desafio: sepse e choque hemorrágico.

São situações comuns e graves na prática clínica diária, que continuam com

alta morbidade e mortalidade nos dias atuais.

14

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Este trabalho tem o objetivo de examinar se a sinvastatina atua

sinergicamente com água de coco hipertônica na reposição volêmica e na

evolução da sepse abdominal associada ao choque hemorrágico em ratos.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar a sobrevida e escores clínicos dos animais;

Comparar a reposição volêmica com água de coco a 3% de sódio

com a solução salina 0,9%;

Avaliar o uso concomitante da sinvastatina intravenosa (i.v.) com

a reposição volêmica;

Comparar dados laboratoriais entre os grupos.

15

3. JUSTIFICATIVA

Pelo exposto, o choque hemorrágico é muito frequente, grave e induz

respostas inflamatórias sistêmicas e danos a uma série de órgãos, através de

vários mecanismos. Até os dias atuais, não há uma solução de reposição da

volemia que atenda satisfatoriamente o tratamento do choque por perda

sanguínea, especialmente quando associado à sepse. Os efeitos das

estratégias de ressuscitação na resposta inflamatória ao choque e sepse não

são bem conhecidos atualmente. Há algumas evidências recentes de que o

plasma fresco pode ter efeito anti-apoptótico nas células endoteliais, que o

sangue total fresco infundido precocemente tem efeito no controle da liberação

de citocinas, e que soluções hipertônicas têm ação importante na redução da

mortalidade do choque e da sepse. São achados clínicos e experimentais que

têm demonstrado resultados ora satisfatórios, ora deletérios, demonstrando

que a controvérsia persiste.

Justifica-se o protocolo experimental aqui proposto, através do qual foi

testado o uso da sinvastatina i.v. (de efeitos anti-inflamatórios e

imunomoduladores) associado à água de coco, que foi utilizada na II Guerra

Mundial para hidratação i.v. A partir de então, nenhum trabalho com

metodologia bem estruturada foi publicado na literatura a respeito da reposição

volêmica com água de coco em indivíduos chocados. A água de coco tem sido

estudada especialmente quanto à sua composição, para uso oral, sabendo-se

do seu teor em eletrólitos, aminoácidos, lipídeos, glicídeos, antioxidantes, pH

ácido, etc. É grande o potencial da água de coco para uma série de aplicações

na Medicina, de modo que se torna conveniente investir em estudo da sua

utilização para reposição volêmica em casos de choque séptico. Será testada a

hipótese de que a reposição volêmica com água de coco modificada com 3%

de sódio, associada à sinvastatina i.v. contribui para diminuir a produção de

citocinas proinflamatórias, reduzir a lesão de órgãos vitais e prolongar a

sobrevida de ratos em modelo de choque e sepse.

16

4. MÉTODOS

Este protocolo foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética para

Uso de Animais (CEUA) institucional, protocolo 36/2014. O cuidado na

utilização dos animais seguiu as normas vigentes da Legislação Brasileira para

o uso científico de animais (Lei nº 11.794/2008). O estudo foi realizado nas

dependências do Núcleo de Cirurgia Experimental-UFRN. Foi utilizado modelo

animal de choque hemorrágico e sepse abdominal para a avaliação de

possíveis efeitos da associação de sinvastatina e água de coco hipertônica na

reposição volêmica em ratos Wistar, jovens machos, com peso variando entre

250 e 300g. Ficaram em jejum alimentar de 12 horas e hídrico de 3 horas antes

de serem submetidos à anestesia para a realização do experimento. Foram

anestesiados com uma mistura composta por cetamina (70 mg/kg) e xilazina

(10 mg/kg), administrados por via intramuscular e re-administrados

periodicamente se necessário, até o término dos experimentos.

4.1. CHOQUE HEMORRÁGICO

Após a estabilização da anestesia, a monitorização foi instalada. A veia

e artéria femoral contralateral foram dissecadas para a realização e

monitorização da perda volêmica e sua reposição. Cânulas de silicone calibre

24F foram introduzidas na artéria femoral para monitorização da pressão

arterial média e na veia femoral para drenagem sanguínea e reposição

volêmica. Após um período de estabilização para os grupos de animais, o

sangue foi drenado pela veia femoral até a pressão arterial média (PAM)

estabilizar em 35 mmHg, sendo anotado o volume de sangue retirado de cada

animal para cálculo da reposição volêmica. A PAM foi monitorada através de

Equipamento para Medição de Pressão Arterial Invasivo (SP, Brazil). O quadro

de choque hemorrágico foi mantido por um período de 60 minutos.

4.2. SEPSE ABDOMINAL E DELINEAMENTO DOS GRUPOS DE ESTUDO

Completados 60 minutos de choque, com os animais anestesiados, foi

feita laparotomia mediana, ligadura e punção do ceco. Após este período, os

animais receberam a reposição volêmica por via intravenosa ao longo de 10

17

minutos. O volume de reposição foi igual ao dobro do volume sanguíneo

perdido. Para cada solução infundida para reposição volêmica houve um grupo

de animais, totalizando 4 grupos (n=8/grupo), segundo o seguinte

delineamento: 1) reposição com solução salina 0,9%; 2) reposição com água

de coco + NaCl 3%; 3) reposição com água de coco + NaCl 3% de sódio +

sinvastatina (microemulsão) 5 mg/Kg i.v.; 4) reposição com água de coco não

modificada. Durante o período de choque, indução da sepse e reposição

volêmica, os animais foram mantidos em microambiente aquecido a 37ºC

(placa aquecedora Insight, São Paulo, Brasil) e anestesiados até o final do

experimento.

4.3. REPOSIÇÃO VOLÊMICA

A água de coco foi obtida de espécimes de coco (Cocus nucifera L.) de

6 meses (período desde a inflorescência até a colheita dos frutos), com técnica

estéril, retirada do coco imediatamente antes da administração dos animais e

devidamente modificada até atingir o nível de NaCl 3%, através da introdução

de volume de NaCl 10% previamente calculado para atingir esta concentração.

Foi determinado o pH da água de coco, com pHâmetro (Micronal, São Paulo,

Brasil), em média pH 5,8; o pH foi previamente reajustado para o valor 7,4 com

utilização de bicarbonato de sódio 10% gota a gota. Tanto o pH, quanto o

conteúdo de NaCl para 3%, foram ajustados imediatamente antes da infusão

intravenosa. Foi utilizada solução salina 0,9% de procedência B. Braun, Rio de

Janeiro, Brasil. Todas as soluções foram infundidas através de bomba de

infusão (B. Braun, Rio de Janeiro, Brasil), calculando-se o volume usado

sempre durante 10 min., em velocidade de infusão constante. Durante a

infusão todas as soluções foram aquecidas a 36,5ºC.

4.4. ESCORE CLÍNICO

O escore clínico dos ratos foi determinado após seis e 18 horas da

reanimação, os demais exames, após 18 horas. Estes intervalos de tempo e a

análise dos escores foram escolhidos com base em trabalho anterior54. A

pontuação consistiu em analisar os seguintes parâmetros: 1- presença de

piloerecção, 2- frequência respiratória alterada, 3- alteração fecal, 4-

18

lacrimejamento/alterações da pálpebra, 5-contração do abdome, 6- falta de

resistência ao segurar, 7- mudança na temperatura corporal, 8- resposta de

alerta (escapar após o toque), 9-exploração do ambiente, e 10- atividade

locomotora comprometida. Para cada parâmetro foi atribuído 1 ponto, e na

ausência do parâmetro analisado, nenhum ponto. Em seguida, os pontos foram

calculados para cada rato. Uma pontuação de 0 indicou que o animal não

apresentava qualquer alteração clínica; uma pontuação entre 1 e 3 indicou

sepse leve, entre 4 e 7 indicou sepse moderada e entre 8 e 10 indicou sepse

grave.

4.5. EXAMES LABORATORIAIS

Os animais sobreviventes após 18 hs de observação foram novamente

anestesiados e submetidos à coleta de sangue por punção cardíaca para

dosagens. O soro foi separado através de centrifugação a 3000rpm e estocado

a -40ºC para posterior dosagem. Os níveis séricos de fator de necrose tumoral

alfa (TNF-α) e Interleucina 1-beta (IL-1β) foram determinados usando ensaio

quantitativo com kits ELISA, de acordo com as recomendações do fabricante.

(PeproTech, USA). Foram determinados aspartato-aminotransferase (AST),

alanina-aminotransferase (ALT), uréia, creatinina, proteína C-reativa (PCR) e

leucograma. Uréia e creatinina como indicadores de função renal e filtração

glomerular. A PCR foi dosada pelo método da nefelometria.

4.6. IMAGENS DE FLUORESCÊNCIA PULMONAR (EX VIVO).

Com os ratos ainda anestesiados, imediatamente após a coleta de

sangue foi feita a injeção de indocianina verde (ICV) 10mg/Kg (Ophthalmos,

São Paulo Brasil) pela veia femoral. Dez minutos após a injeção, os pulmões e

a traqueia foram removidos, chegando à eutanásia dos animais. As imagens

ópticas foram obtidas usando o equipamento InVivo FX para fluorescência

(Carestream Molecular Imaging, USA). Filtros de excitação e de emissão foram

fixados em 710 nm e 700 nm, respectivamente. Os pulmões foram colocados

na câmara de imagem do equipamento. Um protocolo de imagenologia (tempo

de exposição de 20 segundos, binning 2x2, f-stop 2.8, campo de visão 120 mm,

e plano focal 10 mm) foi mantido para todos os exames, e as imagens foram

19

feitas comparando os grupos. As imagens ópticas do estudo ex vivo foram

avaliadas qualitativamente através da avaliação da presença ou ausência de

fluorescência na região dos pulmões inflamados, comparando apenas o grupo

água de coco + Na 3% + sinvastatina com a fluorescência do grupo tratado

com solução salina 0,9%. A análise quantitativa dos exames pulmonares foi

realizada por medição da intensidade de sinal de fluorescência (IS) dos

pulmões, utilizando o software Kodak Molecular 5.0. Uma região de interesse

criada por uma ferramenta automatizada foi determinada em torno do órgão. As

intensidades de sinal de interesse foram expressas como fluorescência

arbitrária em pixels. Fluorescências em tons de cinza foram coloridas via

software do equipamento para fins quantificação, de acordo com uma escala

de cores definida com os maiores e menores níveis de intensidade de

fluorescência média (vermelho - intensidade máxima e roxo intensidade

luminosa mínima, respectivamente). Os alvos eram foco séptico e inflamação

nos pulmões.

4.7. AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA DE LESÃO PULMONAR.

Os pulmões foram retirados e imersos em formalina tamponada 10%

durante 48 horas, sendo em seguida embebidos em parafina. Seções de 4µm

foram coradas com hematoxilina e eosina. A arquitetura pulmonar foi avaliada

por microscopia óptica com microscópio BX50 equipado com câmera digital

DS30 (Olympus, Japan). Duas secções aleatórias de tecido de quatro

diferentes pulmões em cada grupo foram examinadas por um investigador sem

conhecimento prévio dos grupos.

Os escores de lesão pulmonar foram quantificados de acordo com os

critérios usados por Matute-Bello et al, que estabelecem valores totais entre 0 e

1 (Tabela 1)48.

20

Tabela 1 – Sistema de avaliação de lesão pulmonar (adaptado de Matute-Bello at al)48.

Parâmetro Escore por campo

0 1 2

A. Neutrófilos no espaço alveolar Nenhum 1-5 >5

B. Neutrófilos no espaço intersticial Nenhum 1-5 >5

C. Membranas hialinas (presença) Nenhum 1 >1

D. Debris proteináceos enchendo os espaços aéreos

Nenhum 1 >1

E. Espessamento do septo alveolar Nenhum 2x – 4x >4x

s ore A 1 C

n ero e a pos 1

4.8. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados foram armazenados e analisados estatisticamente através do

software SPSS 17.0 e GraphPad Prism® 7.00 for Windows, GraphPad

Software, La Jolla, Califórnia, EUA, (www.graphpad.com). Os resultados dos

parâmetros analisados foram confrontados estatisticamente empregando-se o

método de comparações múltiplas, pela análise de variância (ANOVA) com

medidas repetidas, seguido dos testes de Student, e de Tukey para

comparação entre grupos. Os resultados foram considerados estatisticamente

significativos quando p<0,05.

21

5. ARTIGO PRODUZIDO (Artigo objetivo da tese)

EFFECTS OF HYPERTONIC COCONUT WATER AND SIMVASTATIN IN THE

TREATMENT OF SEPSIS AND HEMORRHAGIC SHOCK IN RATS

Foi publicado originalmente em Inglês no periódico Acta Cirúrgica Brasileira

que possui fator de impacto 0,58 e Qualis B3 da CAPES para a área Medicina

II.

EFEITOS DA ÁGUA DE COCO HIPERTÔNICA E SINVASTATINA NO

TRATAMENTO DA SEPSE E CHOQUE HEMORRÁGICO EM RATOS1

Vanessa de Fátima Lima Paiva MedeirosI, Ítalo Medeiros AzevedoI, Marília Daniela Ferreira CarvalhoI, Eryvaldo Sócrates Tabosa EgitoII, Aldo Cunha MedeirosIII DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-865020160120000008 IAlunos do doutorado, Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal-RN, Brasil. Aquisição e interpretação dos dados, procedimentos técnicos, preparação do manuscrito. IIProfessor titular, Departmento de Farmácia, UFRN, Natal-RN, Brasil. Bolsista CNPq/PQ.1D. Análise e interpretação de dados, procedimentos técnicos, revisão crítica. IIIProfessor titular, Chefe do Núcleo de Cirurgia Experimental, UFRN, Natal-RN, Brasil. Bolsista CNPq/PQ.2. Concepção, delineamento, responsável pelo conteúdo científico e intelectual do estudo; análise e interpretação dos dados; revisão crítica.

__________________________________________________________

RESUMO

Objetivo: Reanimação e tratamento de choque e sepse são controversos e

desafiadores. O objetivo deste estudo foi examinar os efeitos da água de coco

+ NaCl 3% + sinvastatina na reanimação em modelo murino de sepse e choque

hemorrágico. Métodos: Ratos Wistar machos adultos foram submetidos a

sepse por ligadura e punção do ceco e choque hemorrágico, divididos em

quatro grupos de reposição hidroeletrolítica. 1. solução salina 0,9%; 2. água de

coco + NaCl 3%; 3. água de coco + NaCl 3% + sinvastatina (microemulsão) 10

mg / Kg i.v; 4. água de coco não modificada. Escore clínico, histologia e

fluorescência do pulmão foram avaliados para estudar inflamação. Citocinas

séricas e leucócitos foram determinados. Resultados: O tratamento com água

de coco + NaCl 3%+ sinvastatina resultou em resultados significativamente

melhores de sobrevivência, análises bioquímicas e histopatologia comparando

com os animais submetidos aos outros tratamentos. Conclusão: Em

22

conclusão, a água de coco + simvastatina exerceu efeitos moduladores no

choque e sepse através de reduzindo níveis de citocinas proinflamatórias, além

de redução de lesões pulmonares, dados bioquímicos e atividade dos

neutrófilos. Também ficou demonstrado que a administração de água de coco

com Nacl 3% + simvastatina, influenciou positivamente na função do fígado e

dos rins e melhorou o escore clínico dos animais.

Palavras chave: Sepse. Choque hemorrágico. Citocinas. Ressuscitação.

Coco. Água. Ratos.

_______________________________________________________________

ABSTRACT

Purpose: Resuscitation and treatment of shock and sepsis are controversial

and challenging. The aim of this study was to examine the effects of coconut

water + Nacl 3%+ simvastatin in resuscitation in a murine model of sepsis and

hemorrhagic shock. Methods: Adult male Wistar rats were subjected to sepsis

by cecal ligation and puncture and hemorrhagic shock assigned to four fluid

replenishment groups. Animals received 1. saline 0,9%; 2. coconut water (CW)

+ NaCl 3%; 3. coconut water + NaCl 3% + simvastatin (microemulsion) 10

mg/Kg i.v; 4. Natural coconut water. Clinical score and lung tissue was

assessed for inflammation. Serum cytokines TNF-α, IL-1 β and leucocytes were

determined. Results: The results of this study indicated that coconut

water+NaCl 3%+ simvastatin decreased significantly serum cytokines, Survival,

biochemical analysis and lung histopathological testing when compared to

saline and other treatments.. Conclusion: In conclusion, coconut water Na 3%

+ simvastatin positively affected shock and sepsis rats through a mechanism

associated with downregulation of cytokines, in addition to other well-known

effects such as decreased lung injury, biochemical data and neutrophil activity.

We also demonstrated that coconut water with Nacl 3%+simvastatin

administration clearly made liver and kidney function better and improved

clinical score.

Key words: Sepsis. Hemorrhagic shock. Cytokines. Resuscitation. Water.

Coconut. Rats.

_______________________________________________________________

23

INTRODUÇÃO

A fisiopatologia da sepse está relacionada a um desequilíbrio entre

substâncias anti-inflamatórias e pró-inflamatórias, que irá mediar a resposta

para o dano dos tecidos corporais1. Apesar do tratamento intensivo com

ressuscitação agressiva, controle da pressão arterial e fornecimento adequado

de oxigênio, pacientes com sepse frequentemente persistem mostrando sinais

de hipoperfusão tecidual, o que pode levar à acidose e, eventualmente, à

falência de múltiplos órgãos2-4. Pesquisadores mostraram que a sepse é

caracterizada pela diminuição da velocidade de fluxo microcirculatório,

aumento da heterogeneidade desse fluxo, aumento estase vascular e

diminuição do número de capilares perfundidos5,6. A falha no fluxo sanguíneo

na microcirculação resulta em shunts de sangue para os tecidos, levando ao

déficit de oxigênio necessário para o metabolismo celular normal7,8.

Mediadores inflamatórios sistêmicos e endotoxinas alteram as conexões

intracelulares e os sinais utilizados pelas células endoteliais, atuando como um

sistema unificado. Essa interrupção pode resultar em alteração na distribuição

do fluxo sanguíneo nos tecidos9.

O choque hemorrágico e consequente hipoperfusão tecidual levam a

uma redução da oxigenação celular, acidose metabólica e hipotermia10. A

redução do suprimento de O2 provoca aumento do metabolismo anaeróbico e

redução dos níveis de ATP e cálcio intracelular, que promovem mudanças

significativas na função celular, estimulando a liberação de citocinas pró-

inflamatórias. Estas, por sua vez, podem alterar a função imunológica de

macrófagos e linfócitos, causando imunossupressão e aumento do risco de

infecção11.

Alguns trabalhos que estudaram a composição da água de coco (AC).

Santoso et al.12 descreveram a presença de vitaminas, açúcares, ácidos

orgânicos, ácidos graxos, aminoácidos, minerais e eletrólitos na água do coco

(Cocus nucifera L.). Aleixo et al13 determinaram o seu teor de selênio utilizando

a espectrometria de absorção atômica. Outra característica importante da AC é

a sua capacidade antioxidante14-16. Elementos traço e metais em pequenas

doses foram determinados, levando a acreditar que a AC tem potencial de uso

24

como soluções de hidratação intravenosa ou nutrição parenteral suplementar17.

Campbell-Falck et al.18 relataram um caso bem sucedido de hidratação

intravenosa nas Ilhas Salomão e descreveram seu uso para este fim durante a

II Guerra Mundial.

A composição eletrolítica da AC aos 6 meses assemelha-se aos meios

intracelular e extracelular e consiste principalmente em potássio, cálcio,

magnésio e cloro. O sódio é encontrado em uma concentração muito menor do

que no plasma humano19. Embora a AC já tenha sido descrita como solução

viável para ressuscitação, relatos do seu uso intravenoso são escassos20,21. Há

evidências de que não interfere nos mecanismos de hemostasia22.

As estatinas inibem a HMG-CoA redutase e têm sido intensamente

estudadas para a prevenção da aterosclerose, doença inflamatória do endotélio

vascular, cuja patogênese tem semelhanças com a patogênese da sepse23.

Embora os efeitos das estatinas tenham sido inicialmente designados apenas

para tratar os altos níveis de colesterol, muitos outros benefícios vieram a ser

considerados e estudados. As estatinas exercem múltiplos efeitos em várias

células, através de diversos mecanismos. Estes efeitos pleiotrópicos foram

descritos como antiinflamatórios, modificando as interações entre o endotélio e

leucócitos24,25. Além disso, as estatinas modulam a sinalização das células

inflamatórias, que por sua vez reduzem a liberação de citocinas e proteínas da

fase aguda da sepse26 e exercem outros importantes efeitos antioxidantes27.

A solução ideal para a reposição de volume em situações de sepse

associada ao choque hemorrágico ainda não está bem estabelecida. Neste

protocolo estudamos os efeitos de uma solução de AC modificada, combinada

com sinvastatina intravenosa, para reposição de volume sanguíneo em ratos

submetidos a um duplo desafio: sepsis e choque hemorrágico. Esta situação é

comum e muito grave na prática cirúrgica, especialmente no trauma, com alta

morbidade e mortalidade. Este estudo teve como objetivo examinar os efeitos

da AC hipertônica combinada com sinvastatina, como fluido de ressuscitação

em modelo de choque hemorrágico e sepse abdominal em ratos.

25

MÉTODOS

Este protocolo foi submetido e aprovado pela Comissão de Ética para

Uso de Animais (CEUA) da UFRN, sob o protocolo 36-2014. O cuidado na

utilização dos animais seguiu as normas vigentes da Legislação Brasileira para

o uso científico de animais (Lei nº 11.794/2008). O estudo foi realizado nas

dependências do Núcleo de Cirurgia Experimental-UFRN. Foi utilizado modelo

animal de choque hemorrágico e sepse abdominal para a avaliação de

possíveis efeitos da associação de sinvastatina e água de coco hipertônica na

reposição volêmica em ratos Wistar jovens, com peso variando entre 250 e 300

g. Ficaram em jejum alimentar de 12 horas e hídrico de 3 horas antes de serem

submetidos à anestesia para a realização do experimento. Foram anestesiados

com uma mistura composta por cetamina (70 mg/kg) e xilazina (10 mg/kg),

administrados por via intramuscular e re-administrados periodicamente se

necessário, até o término dos experimentos.

Choque Hipovolêmico

Após a estabilização da anestesia, a monitorização foi instalada. A veia e

artéria femoral contralateral foram dissecadas para a realização e

monitorização da perda volêmica e sua reposição. Cânulas de silicone calibre

24F foram introduzidas na artéria femoral para monitorização da pressão

arterial média (PAM) e na veia femoral para drenagem sanguínea e reposição

volêmica. Após um período de estabilização para os grupos de animais, o

sangue foi drenado pela veia femoral até a PAM estabilizar em de 35 mmHg,

sendo anotado o volume de sangue retirado de cada um deles para cálculo da

reposição volêmica. A PAM foi monitorada através do Medidor de Pressão

Arterial Invasivo (Insight, Ribeirão Preto, SP, Brazil). O quadro de choque

hemorrágico foi mantido por um período de 60 minutos.

Sepse Abdominal e Delineamento dos Grupos de Estudo

Completados 60 minutos de choque, com os animais anestesiados, foi

feita laparotomia mediana, ligadura e punção do ceco. Após este período, os

animais receberam a reposição volêmica por via intravenosa ao longo de 10

26

minutos. O volume de reposição foi igual ao dobro do volume sanguíneo

perdido. Para cada solução infundida para reposição volêmica houve um grupo

de animais, totalizando 4 grupos (n=8/grupo): 1) reposição com solução salina

0,9%; 2) reposição com água de coco + NaCl 3%, 3) reposição com água de

coco + NaCl 3% de sódio + sinvastatina (microemulsão) 5 mg/Kg i.v; 4)

reposição com água de coco normal. Durante o período de choque e reposição

volêmica, os animais foram mantidos em microambiente aquecido a 37ºC

(placa aquecedora Insight, São Paulo, Brasil) e anestesiados até o final do

experimento.

Reposição Volêmica

A água de coco foi obtida de espécimes de coco (Cocus nucifera L.) de 6

meses (período desde a inflorescência até a colheita dos frutos), com técnica

estéril, retirada do coco imediatamente antes da administração nos animais e

devidamente modificada até atingir o nível de NaCl 3%. Foi determinado o pH

da água de coco, com pHâmetro (Micronal, São Paulo, Brasil), em média 5,8; o

pH foi previamente reajustado para o valor 7,4 com utilização de bicarbonato

de sódio 10%, bem como o conteúdo de NaCl para 3%, imediatamente antes

da infusão intravenosa. Foi utilizada solução salina 0,9% de procedência B.

Braun, Rio de Janeiro, Brasil. Todas as soluções foram infundidas através de

bomba de infusão (B. Braun, Rio de Janeiro, Brasil), calculando-se o volume

usado sempre durante 10 min., em velocidade de infusão constante. Durante a

infusão todas as soluções foram aquecidas a 36,5ºC. O protocolo experimental

incluiu avaliação de parâmetros clínicos, de exames séricos, hematológicos, de

imagem e sobrevida, 18 horas após a ressuscitação volêmica.

Escore Clínico

O escore clínico de todos os animais foi examinado após seis e 18

horas da reanimação, sendo os demais exames realizados apenas após 18

horas. Os intervalos de tempo para análise foram escolhidos com base em

estudo anterior28. A pontuação do escore consistiu em analisar os seguintes

parâmetros: 1- presença de piloerecção, 2- frequência respiratória alterada, 3-

alteração fecal, 4-lacrimejamento/alterações da pálpebra, 5-contração do

27

abdome, 6- falta de resistência ao segurar, 7- mudança na temperatura

corporal, 8- resposta de alerta (escapar após o toque), 9-exploração do

ambiente, e 10- atividade locomotora comprometida. Para cada parâmetro foi

atribuído 1 ponto, e na ausência do parâmetro analisado, nenhum ponto. Em

seguida, os pontos foram calculados para cada rato. Uma pontuação de 0

indicou que o animal não apresentava qualquer alteração clínica; uma

pontuação entre 1 e 3 indicou sepse leve, entre 4 e 7 indicou sepse moderada

e entre 8 e 10 indicou sepse grave.

Exames Laboratoriais

Os animais sobreviventes após 18 hs de observação foram novamente

anestesiados e submetidos à coleta de sangue por via intracardíaca para

dosagens. O soro foi separado através de centrifugação a 3000rpm e estocado

a -40ºC para posterior dosagem. Os níveis séricos de TNF-α e IL-1β fora

determinados usando ensaio quantitativo com kits ELISA, de acordo com as

recomendações do fabricante (PeproTech, USA). Foram determinados

aspartato-aminotransferase (AST), alanina-aminotransferase (ALT), uréia,

creatinina, proteína C-reativa (PCR) e leucograma. Ureia e creatinina como

indicadores de função renal e filtração glomerular. A PCR foi dosada pelo

método da nefelometria.

Imagens de fluorescência pulmonar.

Imediatamente após a coleta de sangue, com os animais ainda

anestesiados, foi feita injeção i.v. de indocianina verde (ICV) 10mg/Kg,

(Ophthalmos, São Paulo Brasil). Dez minutos após a injeção, os pulmões e a

traqueia foram retiratos, atingindo a eutanásia dos ratos. As imagens ópticas

foram obtidas usando o equipamento InVivo FX para fluorescência (Carestream

Molecular Imaging, USA). Filtros de excitação e de emissão foram fixados em

710 nm e 700 nm, respectivamente. Os pulmões foram colocados na câmara

de imagem do equipamento. Um protocolo de imagenologia (tempo de

exposição de 20 segundos, binning 2x2, f-stop 2.8, campo de visão 120 mm, e

plano focal 10 mm) foi mantido para todos os exames, e as imagens foram

feitas comparando grupos. As imagens ópticas do estudo ex vivo foram

avaliadas qualitativamente através da avaliação da presença ou ausência de

28

fluorescência na região dos pulmões inflamados, comparando apenas o grupo

CW + Na 3% + sinvastatina com a fluorescência do grupo tratado com solução

salina 0,9%. A análise quantitativa dos exames pulmonares foi realizada por

medição da intensidade de sinal de fluorescência (SI) dos pulmões, utilizando o

software Kodak Molecular 5.0.

Uma região de interesse criada por uma ferramenta automatizada foi

determinada em torno do órgão. As intensidades de sinal de interesse foram

expressas como fluorescência arbitrária em pixels. Fluorescência em tons de

cinza foram coloridos via software para fins de quantificação de acordo com

uma escala de cores definida com os maiores e menores níveis de intensidade

de fluorescência média (vermelho - intensidade máxima e roxo intensidade

luminosa mínima, respectivamente). Os alvos eram foco séptico e inflamação

nos pulmões.

Avaliação Histológica de Lesão Pulmonar

Os pulmões foram retirados e imersos em formalina tamponada 10%

durante 48 horas, sendo em seguida embebidos em parafina. Seções de 4µm

foram corados com hematoxilina e eosina. A arquitetura pulmonar foi avaliada

por microscopia óptica com microscópio BX50 equipado com câmera digital

DS30 (Olympus, Japan). Duas secções de tecido aleatórias de quatro

diferentes pulmões em cada grupo foram examinadas por um investigador sem

conhecimento prévio dos grupos.

Os escores de lesão pulmonar foram quantificados de acordo com os

critérios usados por Matute-Bello et al, que estabelecem valores totais entre 0 e

1 (Tabela 1)29.

29

Tabela 1 – Sistema de avaliação de lesão pulmonar (adaptado de Matute-Bello

at al). De acordo com a American Thoracic Society29.

Parâmetro Escore por campo

0 1 2

a.Neutrófilos no espaço alveolar Nenhum 1-5 >5

b. Neutrófilos no espaço intersticial Nenhum 1-5 >5

c. Membranas hialinas Nenhum 1 >1

d. Debris proteináceos enchendo os

espaços aéreos

Nenhum 1 >1

e. Espessamento do septo alveolar Nenhum 2x – 4x >4x

Escore = [(20 x A) + (14 x B) + (7 x C) + (7 x D) + (2 x E)]/(número de campos

x 100)

Análise Estatística

Os dados foram armazenados e analisados estatisticamente através do

software SPSS 17.0 and GraphPad Prism® 7.00 for Windows, GraphPad

Software, La Jolla, Califórnia, EUA, www.graphpad.com. Os resultados dos

parâmetros analisados foram confrontados estatisticamente empregando-se o

método de comparações múltiplas, pela análise de variância (ANOVA) com

medidas repetidas, seguido dos testes de Tukey ou do teste t de Student para

comparação entre grupos. Os resultados foram considerados estatisticamente

significativos quando p<0,05.

RESULTADOS

Um rato do grupo salina morreu durante os experimentos. Todos os

outros animais sobreviveram. A administração de água de coco + NaCl 3% +

sinvastatina evitou diversas reações clínicas adversas após a indução da

sepse. Para investigar esses efeitos, avaliamos o efeito da associação de água

de coco + NaCl 3% + sinvastatina na da sepse/choque, usando escores

clínicos. Seis horas após a LPC, os ratos apresentaram sinais clínicos

evidentes de sepse, e a maioria dos animais do grupo sepse teve sepse grave.

A associação de água de coco + NaCl 3% + sinvastatina reduziu o escore

30

clínico 18 horas após LPC, melhorando o estado clínico desses animais (As

médias destes dados estão resumidos na Fig. 1)

S a line 0

,9%

CW

+ Na 3 %

CW

+ Na 3 %

+ S imv a s ta

tin CW

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

1 0

Cli

nic

al

sc

ore

24

h a

fte

r

M i ld S e p s is

M o d e ra te S e p s is

S e v e re S e p s is

***# #

Figura 1 – Resultados da pontuação clínica dos animais, segundo os grupos de tratamentos. *p<0,05 quando comparado com CW+Na3%+sinvastatina; **p<0,01 quando comparado com CW+Na3%+sinvastatina; ##p<0,01 quando comparado com CW+Na3%+sinvastatina.

Os níveis séricos das citocinas inflamatórias TNF-α e IL-1β fora

medidos em todos os grupos. Os valores encontrados foram menores nos

animais do grupo tratado com água de coco + NaCl3%, associada a

sinvastatina. Embora todos os grupos tenham mostraram uma diferença

significativa (p<0,05) em comparação com o grupo cujos animais foram

tratados com solução salina, os melhores resultados foram encontrados nos

animais com reposição volêmica através de água de coco + NaCl 3%,

associada a sinvastatina (Tabela 2). Mais estudos nesta área são necessários

para decifrar o mecanismo dessa questão em particular.

31

Tabela 2 – Dosagem de interleucinas nos animais submetidos a choque hipovolêmico e sepse abdominal.

Citocinas Grupos Reposição

TNF (pg/ml) IL-1 (pg/ml)

Salina 0,9% 545.5±36ab 174.9±16a

AC Na3% 364.8±42ab 86.2±12a

ACNa3%S 181.7±16.1b 48.1±8a

AC 210.1±14.5a 70.3±5a

*Média Desvio Padrão. (1) Medidas seguidas de mesma letra diferem entre si significativamente ao nível de 5% de probabilidade pelo teste t de Tukey. AC, água de coco. TNF, fator de necrose tumoral; IL, interleucina.

Quanto às dosagens bioquímicas, o tratamento dos animais com a

associação água de coco com Na3% e sinvastatina, teve os mais baixos níveis

de proteína C-reativa, AST, ALT, uréia e creatinina, com diferenças

estatisticamente significativas, comparando com os demais grupos (tabela 3).

O mesmo ocorreu com a leucometria, onde os valores de leucócitos

totais e neutrófilos dos animais tratados com água de coco + Na3%, associada

a sinvastatina, mostraram-se significativamente abaixo dos valores dos demais

grupos. Entretanto, como se observa na tabela 4, o percentual de eosinófilos foi

significativamente mais elevado nos ratos tratados com esta associação

(p<0,05).

32

Tabela 3 – Dosagens bioquímicas nos animais submetidos a choque hipovolêmico e sepse abdominal.

Bioquímica Grupos Reposição

Proteína C-reativa (mg/dl)

AST (mg/dl)

ALT (mg/dl)

Uréia (mg/dl)

Creatinina (mg/dl)

Salina 0,9% 9.40 2.2ab

55,2±6,2ab 62,5±4,9a 76,8±4,9ab 3,78±0,5ab

AC Na3% 4.72 0.39a

39,5±9,3a 39,3±5,7a 47,1±3,4a 2,64±0,6a

ACNa3%S 2.72 0.46ab

32,1±2,4ab 26,5±2,6a 35,3±2,9ab 1,36±0,2ab

AC 4.45 0.57b

42,1±7,4b 36,5±2,6a 45,3±4,0b 2,86±0,3b

*Média Desvio Padrão. (1) Medidas comparativas entre grupos, seguidas de mesma letra, diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. AC – água de coco; Na – sódio; S – sinvastatina; AST – aspartato aminotransferase; ALT – alanina aminotransferase.

Tabela 4 – Leucometria total, neutrófilos, linfócitos e eosinófilos nos animais submetidos a choque hipovolêmico e sepse abdominal.

Leucócitos Grupos Reposição

Leucócitos/µL) Neutrófilos (%) Eosinófilos(%)

Saline 0,9% 12.46 1.26ab 77.37 6.4ab 0.39 0.4a

AC Na3% 8.72 0.39a 54.50 7.0a 4.57 0.5a

ACNa3%S 6.68 0.56a 47.17 6.6ab 5.41 0.6a

AC 8.32 0.53b 57.10 8.5b 3.68 0.7a

*Média Desvio Padrão. (1) Medidas seguidas de mesma letra diferem entre si significativamente ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. AC – água de coco.

33

Figura 2 – Comparação entre grupos A expressão do marcador de fluorescência foi mais intensa após injeção i.v. da indocianina verde nos animais tratados com salina (A,B,C) quando comparado com os ratos do grupo tratado com água de coco +NaCl3% + sinvastatina (D,E,F). A intensidade dos finais de fluorescência foi mais pronunciada no pulmão direito.

Tabela 5 – Intensidade do sinal de fluorescência após injeção intravenosa de indocianina verde (10 mg/kg).

Grupos

Intensidade do sinal

Salina 0,9% 230±12.1a

AC Na3% S 117±8.3a

*Média Desvio Padrão. (1) Medidas comparativas entre grupos, seguidas de mesma letra, diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste t. AC – água de coco; S – sinvastatina.

A intensidade do sinal (IS) de fluorescência dos pulmões foi medida nos

animais dos grupos salina e água de coco NaCl3% + simvastatina. As imagens

foram significativamente mais intensas nos pulmões dos animais do grupo

salina em comparação com os animais do grupo água de coco NaCl3% +

sinvastatina, como demonstrado na figura 2. A Tabela 5 mostra que os

correspondentes dados quantitativos da intensidade dos sinais fluorescentes

dos pulmões dos animais do grupo salina foram significativamente mais

elevados, em comparação com o grupo água de coco NaCl3% + sinvastatina

A B C

D F E

34

10 minutos após a injecção intravenosa de 10 mg / kg de indometacina verde

(p<0,05).

Análise histopatológica

Como mostrado na Figura 3, alterações histopatológicas e lesões

pulmonares foram evidentes nos tecidos dos pulmões de ratos após indução de

sepse por LPC e choque hemorrágico. A análise por microscopia ótica de

tecidos pulmonares de animais tratados com solução salina a 0,9%

apresentaram espessamento do septo alveolar com aumento da celularidade.

Estes animais desenvolveram aumento no número de neutrófilos,

mononucleares e células intersticiais no septo alveolar. Edema alveolar esteve

também presente nos pulmões deste grupo. No grupo de animais tratados com

água de coco + NaCl3% + sinvastatina ficou evidente que o dano histológico e

a infiltração de leucócitos foram significativamente menores. Não houve um

aumento do número de neutrófilos no septo alveolar, e de edema nos espaços

alveolares (Figura 3), resultando em escore histopatológico significativamente

menor do que nos grupos salina e água de coco (AC). Os escores

histopatológicos referentes a todos os grupos estudados estão resumidos na

Tabela 6.

35

Figura 3 – Seleção de imagens representativas coradas em hematoxilina e eosina da histopatologia de pulmões de ratos tratados com salina (A, B) ou com água de coco + NaCl 3% + sinvastatina (C, D). Número significativamente maior de neutrófilos, mononucleares e células intersticiais nos espaços alveolar e intersticial, espessamento do septo alveolar e aumento de celularidade em A, B, comparado com C,D. Aumento 200X.

Tabela 6 – Escores histopatológicos.

Grupos Escores

Salina 0,9% 0.78±0.04ab

AC Na3% 0.30±0.02b

AC Na3%S 0.23±0.01a

AC 0.51±0.04ab

*Média Desvio Padrão. (1) Medidas comparativas entre grupos, seguidas de mesma letra, diferem significativamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey. AC, água de coco; Na, sódio; S, sinvastatina.

A B

C D

36

DISCUSSÃO

Está bem estabelecido que o choque hemorrágico causa danos aos

tecidos e aumenta a hipóxia e a atividade pro-inflamatória. Uma ressuscitação

rápida com fluidos adequados é essencial para minimizar esses danos e

melhorar a perfusão tecidual. O presente estudo examinou uma alternativa

para reduzir o dano causado pela hipovolemia usando água de coco normal e

modificada com Na 3%, que mostrou resultados positivos em comparação com

a ressuscitação com solução salina a 0,9%. No presente estudo, comparamos

os efeitos de solução salina 0,9%, água de coco modificada (Na 3%) e água de

coco + Na 3%+ simvastatina e água de coco normal, em parâmetros

laboratoriais como citocinas séricas, dosagens bioquímicas e contagem de

leucócitos, em modelo experimental de choque hemorrágico associado com

sepse abdominal. Modelos experimentais de sepse e choque hemorrágico têm

sido estudados isoladamente em outros estudos30-32.

Do ponto de vista molecular, a água de coco demonstrou ter efeito na

regulação da resposta inflamatória através da expressão sérica de TNF-a e IL-

1β. Isto é parti ular ente importante, uma vez que não existem estudos até

agora, considerando o papel da água de coco i.v na resposta de citocinas após

indução de choque e sepse simultâneos. A este respeito portanto, esta é a

primeira vez que foi demonstrada uma resposta da associação do tratamento

i.v. com sinvastatina adicionada à água de coco em choque hemorrágico +

sepse. No presente trabalho a resposta das citocinas TNF-α e IL-1β foi

significativamente menor do que nos controles.

O TNF-α é onsi erado o principal agente inflamatório em casos de

choque hemorrágico e desempenha um papel crucial na liberação de outras

citocinas pró-infamatórias (IL-1β, IL-6), levando a excesso de inflamação e

autodestruição celular33. Farias et al.34 demonstraram uma redução

estatisticamente significativa na expressão de citocinas pró-inflamatórias em

ratos chocados, tratados por reposição sanguínea com água de coco, em

comparação com solução salina e sangue fresco. No presente estudo,

demonstramos que o tratamento de ratos com sepse e choque hemorrágico

com água de coco modificada com sódio 3% + sinvastatina reduziu

37

significativamente os níveis de citocinas séricas, parâmetros bioquímicos e

leucócitos periféricos. Essa redução foi maior do que após tratamentos com

outros fluidos de reposição volêmica.

A sinvastatina tem mostrado efeitos imunomoduladores independentes

da ação de redução significativa da hiperlipidemia, finalidade original para a

qual esta droga foi inicialmente desenvolvida35. Esses efeitos, denominados

pleiotrópicos, incluem ação anti-inflamatória36, melhora na função endotelial e

microvascular, na isquemia/reperfusão37 e na sepse38. Com todas essas

propriedades, a sinvastatina atuou sinergicamente com a AC para melhorar os

parâmetros estudados em ratos com choque hemorrágico e sepse simultânea.

Neste estudo, usamos sinvastatina sob a forma de microemulsão intravenosa,

com base no fato de que esta apresentação, desenvolvida no Laboratório de

Sistemas Dispersos da UFRN, tem partículas em escala nanométrica, com

potencial para uso i.v. sem efeitos adversos. Os resultados obtidos neste

estudo com a infusão i.v. de AC provavelmente estão relacionados às suas

propriedades físico-químicas. Alguns estudos têm demonstrado evidências

científicas de uso de água de coco na prática médica, justificada pelo seu

conteúdo de açúcares, vitaminas, minerais, aminoácidos, ácidos orgânicos e

ácidos graxos39. Além disso, a AC tem uma quantidade significativa de

antioxidantes14,15 que protegem o organismo contra o estresse oxidativo, no

presente modelo representado pela hipóxia inerente ao choque hemorrágico16.

A indocianina verde (ICV) tem sido amplamente utilizada por décadas na

oftalmologia para imagens de retina e na cardiologia para estudo do débito

cardíaco. A ICV tem um bem documentado perfil de uso com segurança40,41.

No presente estudo utilizamos uma dose mais elevada de ICV para roedores

comparado com o descrito para pacientes, com o objetivo de compensar a

meia-vida curta no sangue de ratos (1,5 - 2,3 min) em comparação com

pacientes (3-4 min) 42,43. A dose utilizada de ICV proporcionou um contraste

prolongado e permitiu imagens fluorescentes em pulmões sem Injeção de dose

adicional.

Nossos resultados mostraram que os tecidos pulmonares inflamados e

normais diferiram significativamente da fluorescência dos controles. Com base

38

no comportamento da intensidade de fluorescência nos diferentes grupos de

ratos com sepse, é provável que a vasodilatação nos pulmões inflamados e

microvasos neoformados levaram a uma rápida entrada do agente de contraste

ICV nos tecidos pulmonares. A imagem de fluorescência é limitada a órgãos e

tecidos superficiais, porque a forte dispersão e a absorção de luz no tecido

biológico restringe a profundidade de penetração de fótons para alguns

milímetros. Como a fluorescência não foi detectável com o nosso equipamento

em pulmões de ratos in vivo, decidimos realizar imagens ex vivo e imagens

representativas foram obtidas e gravadas em pulmões afetados. Uma maneira

de melhorar ainda mais a especificidade deste método seria usar agentes de

contraste específicos para a doença em combinação com um marcador para

neovascularização.

Conclusão

A substituição do volume com água de coco modificada com Na 3%,

combinada com sinvastatina i.v. teve uma influência positiva no tratamento de

ratos com modelo de sepse + choque hemorrágico. Os achados podem ter

significativas implicações terapêuticas na área clínica e futuros estudos são

necessários para comprovação.

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6-73.

44

Correspondência:

Aldo Cunha Medeiros

Avenida Nilo Peçanha, 620

59012-300 Natal – RN Brasil

[email protected]

Recebido: 15 de agosto, 2016

Revisto: 17 de outubro, 2016

Aceito: 18 de novembro, 2016

Conflito de interesse: nenhum

Fonte de financiamento: CNPq (Grant 4449083/2014-4)

1.Pesquisa realizada no Núcleo de Cirurgia Experimental, Departamento de

Cirurgia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Brasil.

Parte de tese de doutorado, Programa de Pós-graduação em Ciências da

Saúde.

Orientador: Prof. Dr. Aldo Cunha Medeiros.

45

6. COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES/CONCLUSÕES

Os objetivos traçados durante o anteprojeto foram satisfatoriamente

atingidos durante a execução deste trabalho experimental. O modelo

desenhado correspondeu às expectativas, sendo capaz de produzir dados que

podem ser úteis para o tratamento de choque séptico. Apesar de terem sido

gerados em estudo de pesquisa básica em animais, podem ter implicações

clínicas futuras. A análise estatística dos dados obtidos mostrou-se adequada

como instrumento auxiliar na interpretação dos achados deste estudo.

Justificativa para o uso de solução de água de coco com cloreto de

sódio 3%:

Uma estratégia de ressuscitação de indivíduos com choque

hemorrágico com pequenos volumes de líquidos modula a resposta

inflamatória e diminui o dano aos órgãos vitais após o uso de solução salina

hipertônica43. Solução salina hipertônica a 3% fornece efeitos

imunomoduladores e metabólicos semelhantes aos observados com

concentrações de solução salina hipertônica 7,5%. A solução salina hipertônica

a 7,5% de NaCl tem sido amplamente estudada e tem mostrado vários

benefícios sobre o padrão de atendimento com solução salina convencional

0,9%. Além da melhoria significativa no fluxo sanguíneo sistêmico e

microcirculatório, pequeno volume de líquidos hipertônicos na reposição

volêmica atenua a marginação de neutrófilos, diminui a lesão pulmonar e a

translocação bacteriana, e reverte a disfunção imune celular que ocorre após

hemorragia em casos de choque43,44

Apesar dos potenciais efeitos salutares da solução salina hipertônica a

7.5% no tratamento do choque hemorrágico, esta solução não tem aprovação

para uso clínico nos Estados Unidos e Canadá, como também no nosso país.

Por outro lado, a solução salina hipertônica 3% (SSH 3%) é aprovada pelo

Food and Drug Administration-USA para terapia do choque e hiponatremia

grave. Além disso, tem sido utilizada com bons resultados no tratamento de

hipertensão intracraniana refratária em pacientes com traumatismo craniano50-

52.

46

Com base nestas observações, especulamos no nosso estudo se a

água de coco modificada com sódio 3% poderia ser eficaz na ressuscitação de

animais com choque hemorrágico. Neste estudo, nós avaliamos o potencial

hemodinâmico, metabólico e imunomodulador nos benefícios do tratamento de

ratos Wistar com SSH 3% + água de coco + sinvastatina. Este tratamento foi

comparado com solução salina convencional 0,9%, água de coco + SSH 3% e

água de coco não modificada. Além disso, procuramos determinar se havia

diferença entre os tratamentos acima descritos no comportamento clínico dos

animais. Ficou comprovado que o tratamento que associou SSH 3% + água de

coco + sinvastatina foi mais eficaz do que os demais do ponto de vista clínico,

imunológico e metabólico. Nossos resultados estão de acordo com os

observados em outros estudos, que não associaram a sinvastatina como

imunomoduladora53.

Com a realização de um estudo piloto, foi possível detectar algumas

imperfeições e fazer ajustes na metodologia, especialmente na realização dos

exames de imagem de fluorescência. Inicialmente foi tentado o exame in vivo,

porém, a capacidade de penetração da fluorescência através da parede

torácica mostrou-se limitada, tornando impossível a visualização dos pulmões

por este método. Consequentemente, os exames de fluorescência para testar o

grau de comprometimento pulmonar foram realizados ex vivo. A detecção

dessa variável só foi possível devido à realização do estudo piloto, reforçando a

sua importância em projetos experimentais dentro desta linha de pesquisa.

Deve-se ressaltar o esforço dispendido na realização deste trabalho e

da publicação gerada a partir dele, uma vez que o modelo experimental de

choque hipovolêmico requer perícia técnica para monitorizar e manter os

animais vivos durante o experimento. Destaca-se também a área técnica na

realização e interpretação dos exames de dosagens, histopatologia e

estatística, que foram fundamentais para o bom termo do trabalho.

Pesquisa por nós realizada nos bancos de dados do Pubmed, Web of

Sciences e Scielo apontou para a inexistência de trabalhos publicados com o

mesmo objetivo, utilizando a água de coco modificada ou não para uso

intravenoso, além da associação com sinvastatina intravenosa, especialmente

47

no modelo experimental de choque hemorrágico e sepse. Tal fato nos deixa

confiantes de que produzimos contribuição relevante para o estudo e

tratamento de problema grave como é o choque hemorrágico associado à

sepse, comum na prática clínica. Esse trabalho foi recentemente publicado,

documentando a originalidade do mesmo na nossa linha de pesquisa.

Esta pesquisa demonstra a real importância da Academia no sentido

de elaborar perguntas relevantes e procurar respondê-las nas bancadas dos

laboratórios da melhor maneira possível, apesar das limitações de recursos.

A experiência vivenciada no Curso de Doutorado foi de grande

importância para a aquisição de conhecimentos que puderam contribuir para o

desenvolvimento do estudo e de outros modelos experimentais em outras

pesquisas, bem como avançar nesse mesmo modelo, para a verificação de

outros resultados. Uma das maiores preocupações foi tentar evitar riscos,

buscando seguir rigorosamente o protocolo metodológico, dessa forma

permitindo a reprodutibilidade integral de nosso estudo pela comunidade

científica, objetivando estimular a obtenção de outros resultados que tragam

maiores contribuições ao meio acadêmico no tema choque e sepse.

Alguns aspectos do nosso trabalho são fontes de motivação para a

ampliação da investigação: incluir nos futuros trabalhos a repercussão do

tratamento em outros órgãos vitais, dar ênfase à imunohistoquímica, outros

marcadores bioquímicos e imunológicos para choque e sepse, bem como

exames de imagem no nível molecular.

O indiscutível crescimento intelectual daqueles que se acharam

envolvidos na execução deste trabalho, como é o meu caso, serviu de

recompensa ao esforço desprendido e atuou como norte, ampliando horizontes

para que esta linha de pesquisa se consolide ainda mais, vinculada ao Núcleo

de Cirurgia Experimental do Departamento de Cirurgia-UFRN e ao Programa

de Pós-graduação em Ciências da Saúde.

Durante o período de quatro anos foram publicados 05 artigos

científicos, em periódicos indexados, o que contribuiu para o enriquecimento

intelectual da autora do ponto de vista crítico e científico, correspondendo às

48

expectativas e tornando possível o cumprimento do cronograma previamente

estabelecido.

Conclui-se, então, que este trabalho contribuiu para evidenciar novos

conhecimentos a respeito da reposição volêmica e ressuscitação de ratos

Wistar no modelo experimental utilizado, com perspectivas do uso clínico de

soluções à base de água de coco modificada. Adicionalmente, o Programa de

Pós-Graduação de Ciências da Saúde cumpriu sua missão de contribuir

substancialmente com a formação da autora.

49

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ANEXOS

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