MiniManual do JornalisMo HuManizado · PDF filesim, racismo no país, mas 95,7% negaram...

download MiniManual do JornalisMo HuManizado · PDF filesim, racismo no país, mas 95,7% negaram ter algum preconceito em relação a pessoas negras. Como resultado, na imprensa ... homem branco

If you can't read please download the document

Transcript of MiniManual do JornalisMo HuManizado · PDF filesim, racismo no país, mas 95,7% negaram...

  • MiniManual do JornalisMo HuManizado

    Parte III:

    Racismo

  • 3

    Minimanual do Jornalismo HumanizadoParte III: Racismo

    24 de outubro de 2016thinkolga.com

    ONG ThiNk OlGa laNa maNual ONliNe,

    em fOrmaTO pOckeT, cOm cONjuNTO

    de reGras bsicas para eviTar errOs

    clssicOs Na abOrdaGem de NOTcias

    relaciONadas a GrupOs miNOrizadOs.

    divididO em ciNcO parTes, O miNimaNual

    de jOrNalismO humaNizadO Traz exemplOs

    prTicOs e direTOs para jOrNalisTas

    e veculOs de cOmuNicaO que

    desejam limpar O cONTedO ediTOrial

    que prOduzem de precONceiTOs

    e vises limiTadas da sOciedade.

    thinkolga.com

  • 4 5

    Esta terceira parte sobre pessoas negras e foi desenvolvida pela ONG Think Olga em parceria com a Cojira/SP (Comisso de Jornalistas pela Igualdade Racial do Sindicato dos Jornalistas do Estado de So Paulo) e com a equipe do Blogueiras Negras. Tambm foram entrevistadas as jornalistas e mulheres negras Juliana Gonalves e Patrcia Gonalves, alm da ativista negra Aline Ramos, sobre a maneira como a imprensa retrata as mulheres negras.

    Parte iii: racisMo

  • 6 7

    introduodesigualdade social. No conjunto dos 10% mais pobres do Pas, 70% so negros, enquanto que, nos 10% mais ricos, somente 15% o so, segundo o IBGE. Vale lembrar que Brasil foi o pas que mais traficou pessoas escravizadas. Calcula-se que cerca de 20% de todas as pessoas traficadas do continente africano foram trazidas para o Brasil (cerca de 5 milhes de pessoas, quantidade muito superior ao nmero dos EUA, de 400 mil). Ao mesmo tempo, h uma resistncia em reconhecer o problema no Brasil. Segundo uma histrica pesquisa do Datafolha sobre racismo cordial, realizada em 1995, 90% dos brasileiros acreditam que h, sim, racismo no pas, mas 95,7% negaram ter algum preconceito em relao a pessoas negras.

    Como resultado, na imprensa a populao negra continua aparecendo nos antigos papis

    de criminosas, vtimas da violncia e da pobreza e mulata tipo exportao enquanto pautas que importam para os grupos do chamado Movimento Negro, como sade da populao negra, relaes entre raa e gnero e ensino da histria e da cultura africana e afro-brasileira (conforme citado na Lei Federal 10.639/03) aparecem em menos de 2% das notcias, segundo a pesquisa Imprensa e Racismo, realizada entre 2007 e 2010 pela ANDI Comunicao e Direitos. De acordo com o estudo, no noticirio sobre violncia que possvel verificar uma das negligncias mais srias da cobertura jornalstica, que a desvinculao entre violncia fsica praticada contra a populao negra e o debate sobre seu contexto de produo, que a violncia simblica. Quando a imprensa fala de violncia fsica, no questiona se houve racismo, mesmo que as estatsticas apontem que

    De acordo com o ltimo Censo do IBGE (2010), cerca de 52% da populao composta de pessoas negras englobando as autodeclaradas pretas e as autodeclaradas pardas. Se analisados os nmeros de negros como fontes de reportagens, apresentadores, reprteres, editores ou mesmo personagens de matrias variadas que vo alm da situao de violncia, ser possvel perceber uma enorme lacuna pessoas negras esto longe de representar a metade desses papis na imprensa. A forma como elas so retratadas nos jornais, revistas, sites e programas televisivos extremamente estereotipada negativamente, reforando um imaginrio racista e invisibilizando os diferentes papis que ocupam na sociedade.

    H vrios fatores por trs disso, como consequncias da escravizao, do racismo e da

    a maior vtima de homicdio no Brasil o jovem negro: apenas 3,2% das reportagens que falam de assassinato se referem ao tema racial.

    A violncia simblica diz respeito a agresses que muitas vezes passam despercebidas e envolvem invisibilizao de certos grupos, reforo de esteretipos negativos e falta de representatividade. Neste manual, apresentamos casos de reportagens em que esses erros foram cometidos com explicaes e recomendaes. Acreditamos que o jornalismo tem a capacidade de legitimar discursos e prticas paralelamente transmisso de notcias e ocupa um papel fundamental na transformao da cultura de um pas. Por isso, pretendemos oferecer ferramentas bsicas a jornalistas para que exterminem preconceitos e pratiquem um jornalismo mais plural, justo e humano.

  • 8 9

    1 terMos adequados

    Ao se referir a pessoas negras, no use termos como morena, mulata ou de cor. Descreva a pessoa como ela : negra. A negritude abrange uma gama ampla de tonalidades e traos - e no ofensa chamar algum de negro(a).

    A dificuldade em apontar algum como negro(a) sintomtica do racismo na sociedade brasileira: para alguns, soa mais elogioso chamar de moreno(a). Na prtica, usar esses termos funciona como uma tentativa de embranquecer e/ou evitar reconhecer que negras e negros existem e esto ocupando variados papis na sociedade.

    J o termo mulata, ostensivamente usado durante o carnaval, vem do termo em latim mulus, que significa mula. Trata-se do animal resultante do cruzamento entre o cavalo e a mula e passou a ser aplicado filha do homem branco com a mulher negra, colocando a mulher negra como pessoa de segunda categoria. Da mesma forma, as mulatas so tratadas como um objeto, um souvenir brasileiro a servio dos turistas.

    A mulata, que tambm desfila no carnaval pela Viradouro, revela seus segredinhos para manter o corpo escultural

    http://www.futebolinterior.com.br/futebol/Gatas-fi/noticias/2016-07/musa-do-botafoGo-Kelly-Quintanilha-exibe-corpao-na-praia:-muito-samba

    Mulatas representam as mulheres africanas em desfile da Imprio da Tijuca

    https://Globoplay.Globo.com/v/2398056/

    http://www.futebolinterior.com.br/futebol/Gatas-FI/noticias/2016-07/Musa-do-Botafogo-Kelly-Quintanilha-exibe-corpao-na-praia:-muito-sambahttp://www.futebolinterior.com.br/futebol/Gatas-FI/noticias/2016-07/Musa-do-Botafogo-Kelly-Quintanilha-exibe-corpao-na-praia:-muito-sambahttps://globoplay.globo.com/v/2398056/

  • 10 11

    2 risque exPresses racistas do vocabulrio

    Essas expresses reforam que no somos ningum, somos safados, nunca vamos ter protagonismo. Quando as pessoas brancas se sentem vontade para nos colocar nesse lugar, mesmo que sejam amigas, nada vai mudar. Se a pessoa no liga, por que eu vou ligar? Por que me preocupar com a linguagem que eu uso?, questiona a jornalista e mulher negra, Patrcia Gonalves.

    Para a equipe do candidato, a pgina utilizava-se de m-f, de preconceito e de inverdades sobre o candidato, denegrindo a sua imagem.

    http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/Geral/noticia/2016/10/assessoria-de-udo-dohler-publica-nota-oficial-sobre-suspensao-do-facebooK-7739687.html

    Inveja branca! Bruna Marquezine tieta meninos do One Direction

    http://revistaQuem.Globo.com/popQuem/noticia/2014/05/inveja-branca-bruna-marQuezine-tieta-meninos-da-one-direction.html

    Marcelo Santos acusa Juninho de tentar denegrir sua imagem em Cariacica

    http://www.folhavitoria.com.br/politica/bloGs/bastidores/2016/10/marcelo-santos-acusa-juninho-de-tentar-deneGrir-sua-imaGem-em-cariacica/

    Algumas expresses racistas foram to naturalizadas que passam despercebidas no dia a dia. Como consequncia, acabam aparecendo na imprensa e tendo sua naturalidade reforada. Por isso, evite-as ao mximo, tanto na vida privada quanto no trabalho. Algumas delas so: mercado negro, denegrir, cabelo ruim/ cabelo bom, beleza extica, da cor do pecado e inveja branca.

    Denegrir significa tornar negro, mas a palavra interpretada como difamar, como se ser negro fosse algo difamatrio ou vergonhoso. Mercado negro diz respeito ao que ilegal, associando a negritude a aes ilcitas e/ou criminosas. Cabelo ruim, obviamente, a negao da esttica negra, associando cabelos afro negatividade.

    Inveja branca usada como a inveja que no faz mal, mais uma vez ligando a cor preta negatividade. Da cor do pecado era para soar elogioso, mas, em uma sociedade altamente influenciada pela religio, como a brasileira, pecar ainda algo negativo e fortemente associado ao descontrole, associando os negros, mais uma vez, incivilidade.

    http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2016/10/assessoria-de-udo-dohler-publica-nota-oficial-sobre-suspensao-do-facebook-7739687.htmlhttp://anoticia.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2016/10/assessoria-de-udo-dohler-publica-nota-oficial-sobre-suspensao-do-facebook-7739687.htmlhttp://revistaquem.globo.com/Popquem/noticia/2014/05/inveja-branca-bruna-marquezine-tieta-meninos-da-one-direction.htmlhttp://www.folhavitoria.com.br/politica/blogs/bastidores/2016/10/marcelo-santos-acusa-juninho-de-tentar-denegrir-sua-imagem-em-cariacica/http://www.folhavitoria.com.br/politica/blogs/bastidores/2016/10/marcelo-santos-acusa-juninho-de-tentar-denegrir-sua-imagem-em-cariacica/

  • 12 13

    3 no associe negros a aniMais

    Parece bvio, mas continua passando batido. A associao de pessoas negras a macacos, jaulas ou qualquer ao ou objeto considerado animalesco extremamente racista. Durante o perodo escravista, pessoas negras foram sequestradas, presas, torturadas, traficadas e vendidas como animais. Associar negros a macacos ou qualquer animal a prova de que os resqucios desse perodo so muito fortes na nossa cultura.

    Fora da jaula, direto aos braos do povo brasileiroRafaela Silva supera erro em Londres e insultos racistas com grande atuao...

    https://www.facebooK.com/africadna/photos/a.299715136759305.77861.278535572210595/1213335332063943/?type=3&theater

    4 esteretiPos negativosAs mulheres negras e seus corpos so frequentemente representados atravs de esteretipos que criam e reforam imaginrios negativos. Um clssico a mulata tipo exportao, j comentado anteriormente, que ancorado no esteretipo da mulher negra hiperssexualizada. H sempre uma jogada, uma perg