Minha família, a Maçonaria - Capítulo 2

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CAPÍTULO 2EU TE BATIZO, ALBERTO

Albert Léopold Clément Marie Meinrad tinha 34 anos quando ascendeu, em 1909, ao trono da Bélgica como o terceiro rei daquele país. Adotando o nome de Alberto I, ele sucedeu o pai, Leopoldo II, no trono belga, posto de nobreza e autoridade que exigiria dele uma força e vigor notáveis a partir de 1914, quando eclodiu a Primeira Grande Guerra.

Alberto I, Rei da Bélgica, que inspir-ou o nome de Alberto Mansur / Fonte:

Biblioteca Nacional dos EUA.

Após os acontecimentos que le-varam à formação das Tríplices Entente e Aliada, a Alemanha exigiu, naquele ano, livre passagem do exército alemão através do território belga rumo à França. Essa au-toritária solicitação, que desconsiderava a soberania da Bélgica, mereceu do rei Alberto I uma resposta igualmente dura e determinada. “Eu governo uma nação, e não uma estrada”, teria dito o monarca, re-jeitando o pedido e ocasionando, de forma imediata, uma declaração de guerra da Ale-manha contra a sua pátria. Durante meses, Alberto I comandou pessoalmente seu exército numa memo-rável resistência até que a França e o Reino Unido estivessem prontos para a batalha. Prosseguiu conduzindo o Grupo Flanders,

formado por divisões belgas, britânicas e francesas contra as forças alemãs até o fim da Guerra, se consagrando como um dos maiores heróis do histórico con-flito.

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Anos depois, o monarca organizou uma viagem ao Brasil para participar de uma importante exposição. O ano era 1922, e foi cenário de acontecimentos significativos na história do Brasil. Em fevereiro, gigantes do movimento artístico e intelectual brasileiro como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Tarcila do Amaral e muitos outros organizaram a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, chocando o país com uma nova forma de se fazer arte, um olhar diferente para o mundo. Era o conservadorismo nacional começando a receber, por influência das correntes modernistas da europa, um flerte com o futuro. No Rio de Janeiro, eclodia em julho de 1922 o episódio relembrado como os “18 do Forte”, quando militares iniciaram a primeira revolta do movimento te-nentista no país em favor do Marechal Hermes da Fonseca, que mantinha atritos com o Presidente da República. No dia seis de setembro de 1922, a letra do Hino Nacional brasileiro, composta por Osório Duque Estrada, foi oficializada pelo presidente Epitácio Pessoa para ser cantada até os dias de hoje pelos corações patrióticos e em todas as reuniões dos Capítulos da Ordem DeMolay. Mas é no dia sete de setembro de 1922 que esta história efetivamente começa. Naquela data, o rei Alberto I participava, juntamente com representantes da Argentina, México, Noruega, Japão e outros países, da inauguração da Ex-posição Internacional de 1922, em comemoração ao primeiro centenário da Inde-pendência do Brasil. Cem anos antes, às margens do rio Ipiranga, Dom Pedro I proclamaria o país como uma nação soberana e independente, eclodindo o seu vitorioso e histórico grito de liberdade que inspiraria a vida de grandes brasileiros: “Inde-pendência ou morte”. De novo, por coincidência ou predestinação, os ardis do destino garantiram essa data de celebração da liberdade como o momento certo para vir ao mundo, na pequena Vargem Alegre, o primeiro menino da família de Antônio Nehmetalla Mansur. Ao dar a luz ao seu filho naquele dia, Ramza já sabia como chamá-lo. Desde alguns meses antes, ela e o marido cogitaram alguns nomes tanto mascu-linos como femininos, já que não lhes era possível saber naquela época o sexo da criança antes de seu nascimento. Os tradicionais nomes árabes, obviamente,

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foram cogitados: Abdalah, Salim, Fuad e outros. Mas foi a notícia da visita do rei Alberto I da Bélgica, amplamente propagada em todo o país, que mexeu com o imaginário da mãe. Ela, que sofrera no coração as consequências daquele conflito histórico, tinha motivos para admirar o herói que enfrentou de cabeça erguida os exércitos inimigos para defender seu povo. Poucos sabem que, um ano após o nascimento do filho, Ramza, como fervorosa cristã maronita, decidiu batizá-lo. Aquela mulher forte e vivaz sabia, no entanto, que a cerimônia em que seu menino seria apresentado à religião e a Deus deveria ser especial. Tomando a estrada, ela o levou para a cidade paulista de Aparecida, onde duzentos anos antes, em 1717, um milagre fez com que pes-cadores tirassem do rio Paraíba uma imagem enegrecida de Maria, a mãe de Jesus Cristo. Nossa Senhora da Conceição Aparecida, como foi chamada, ainda olhava pelos fiéis que se dirigiam à sua basílica, na época muito pequena e modesta em comparação com o esplendor de sua nova casa nos dias de hoje. Certamente, a padroeira do Brasil olhou também para a criança trazida por uma mulher li-banesa, enquanto o padre, ungindo sua pequena cabeça com água da pia batismal, dizia: “Eu te batizo, Alberto, em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Chegara ao mundo o pequeno Alberto Mansur, portador de um nome heróico, herdeiro da determinação libanesa e da habilidade dos antigos Fenícios, que ofereceria anos mais tarde a esperança para o congraçamento da família ma-çônica no Brasil.

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